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AMBIENTAIS
AULA 1
CONTEXTUALIZANDO
Imagine que você é um engenheiro que trabalha no desenvolvimento de
grandes projetos como a instalação de usinas hidrelétricas. Ao longo de sua
vida profissional, trabalhou em várias obras desse tipo e também participou de
estudos de impacto ambiental, bem como da redação de diversos relatórios de
impacto ambiental. Seu nome no mercado é muito bem reconhecido. Nesse
momento você depara com uma situação de grande dualidade, e está na
dúvida se aceita ou não o trabalho que lhe fora proposto, o qual está
relacionado à construção de uma grande barragem em uma área que envolve
terras indígenas e uma biodiversidade endêmica no local, onde há diversas
espécies ameaçadas de extinção. Você foi escolhido para realizar um estudo
de impacto ambiental, mas sabe que há grande pressão para que o
empreendimento seja construído. No entanto, você, mais do que ninguém,
devido a sua grande experiência profissional, também sabe que, da forma
como a empresa deseja implementar a obra, há grande riscos de rompimento
da barragem e perda de toda essa área de grande valor ambiental. Você já
tentou de várias formas convencer sobre a importância de revisão de alguns
itens do projeto, mas foi voto vencido.
Diante dessa situação, o que você faria? Assumiria o trabalho e aceitaria
todas as condições impostas pela empresa, sabendo que o projeto, mesmo
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com grandes falhas segundo a sua opinião, seria com certeza aprovado pelos
órgãos de fiscalização? Continuaria no projeto, porém lutaria até o final da
liberação dele para que as suas ressalvas fossem absorvidas ou desistiria
desse trabalho, para evitar problemas futuros que poderiam prejudicar sua vida
profissional?
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Concluindo, podemos definir que o risco é um atributo presente em
qualquer tipo de atividade da sociedade humana, laboral ou não, e que a
concretização do risco com as suas consequências dependerá das condições
ambientais nas quais ele existe e também do processo de conscientização das
pessoas envolvidas na referida atividade, fatores esses que podem reduzir as
probabilidades de efetivação do risco existente.
O risco trata de uma possibilidade do acontecimento, portanto, como
exemplo, uma pessoa que nunca oferece carona para ninguém, em hipótese
alguma, não corre o risco de um dia ser processada por lesões corporais
devido a um acidente ocorrido com o carro por ela guiada, pois nunca dá
carona para ninguém, dessa forma o risco não existe. Quando falamos de
risco, tratamos de um fato que tem possibilidade de ocorrer.
Quanto à ocorrência do risco, o que podemos dizer é que, se ele não
tem a certeza de ocorrência, mas está presente, devemos considerar que os
riscos têm incerteza de se concretizarem em qualquer situação. Portanto, se há
certeza absoluta de que o risco vai se concretizar, não estamos falando de
risco, pois o risco é algo que tem ocorrência de efetivação incerta. Como
exemplo, podemos considerar a seguinte situação: imagine uma pessoa que
quer cometer suicídio e para tal resolve tomar um medicamento de uso
controlado e acaba tendo de ser internada em estado grave; essa pessoa tinha
certeza da ocorrência desse fato, portanto não pode ser considerado um risco.
Agora imaginemos outra situação, uma enfermeira que está há mais de 24
horas trabalhando e precisou cobrir mais um plantão devido à ausência de
funcionários. Ela tem de realizar a medicação de mais de 30 pacientes em uma
UTI no período da madrugada; você acredita que existe algum risco de a
enfermeira administrar o medicamento errado ou em doses erradas? Nesse
caso, existe o risco, pois não há a certeza de que a enfermeira irá cometer
erros, mas podemos contar com essa possibilidade devido ao contexto da
situação.
Portanto, o risco deve ocorrer de forma acidental, não pode ser
provocado e, caso ocorra, da forma como deve ser, as suas consequências
devem ser mitigadas da melhor forma possível, visando ao menor número de
sequelas.
Os riscos podem ser classificados em voluntários e involuntários.
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a. Riscos voluntários – São riscos relacionados com as atividades
sobre os quais temos total consciência de que sua realização envolve, como
quando decidimos realizar um esporte, experimentar uma droga ilícita, comprar
uma arma de fogo. Os riscos nessas atividades são considerados voluntários,
pois assumimos a possibilidade, por exemplo, de ter uma lesão devido ao novo
esporte, adquirir um vício ou ainda sofrer um acidente doméstico com risco de
morte em nossa residência.
b. Riscos involuntários – São aqueles riscos relacionados a
ocorrências que não dependem de decisões que tenhamos tomado, eles
simplesmente estão presentes, podem estar relacionados a fatores da natureza
e a fatores ligados às atividades humanas, como as catástrofes ambientais
(tempestades, ciclones, chuvas de granizo) e a poluição ambiental (chuva
ácida, destruição da camada de ozônio), dentre outros.
O processo de análise de risco é complexo e de grande
responsabilidade por parte dos emitentes de autorizações para início de
atividades, por exemplo. Trata-se de um processo complexo pelo fato de poder
salvar ou não vidas. Também envolve grande responsabilidade, pois o fato de
avaliar um local e autorizar o seu funcionamento não exime quem lavra a
autorização das responsabilidades legais associadas.
De um modo geral, um risco não é um item isolado de um processo. É
uma probabilidade de falha que decorre desde um projeto inadequado a uma
execução falha. Quando não se avaliam todas as circunstâncias do entorno de
um local onde são executadas as atividades, pode-se estar deixando de lado a
oportunidade de salvar vidas, preservar áreas de interesse socioambiental, por
exemplo. O risco pode ser entendido como uma falha casual de um
equipamento, a falta de cumprimento dos procedimentos de instalação e
montagem e de manutenção dele. O risco é um fato aleatório, possível, incerto,
futuro e que tende a causar perdas ou danos quando se materializa.
Em instalações industriais, muitas vezes realizam-se atividades em uma
área, sem ter conhecimento do que ocorre no entorno, e, nesse caso, uma
falha pode afetar a área em si e até levar a uma tragédia no entorno. Muitas
vezes, as análises de riscos envolvem somente a identificação dos riscos nos
locais onde ocorrerá a intervenção, sem se preocupar com uma análise
estruturada das regiões vizinhas.
Existe diferença entre risco e perigo?
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Sim, existe diferença!
Perigo é considerado algo que existe, algo que está presente naquela
situação. Como exemplo podemos citar a manipulação de produtos radioativos,
pois, se as devidas precauções não forem tomadas, a contaminação
certamente irá ocorrer, portanto nesse caso estamos tratando de perigo.
Risco está relacionado com uma possibilidade de ocorrência do
fenômeno em questão, portanto podemos considerar que ele pode ou não se
efetivar, e para que não ocorra devemos utilizar medidas de prevenção. Por
exemplo, se estamos em uma empresa em que os funcionários estão
descontentes com as condições de trabalho, existe o risco de que os
trabalhadores realizem manifestações, como uma greve. Os gestores deverão
se preocupar com medidas de melhoria das condições de trabalho a fim de que
as probabilidades do risco de efetivar sejam reduzidas, mas nunca poderão ser
extintas.
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- Condições ambientais adversas: clima, desmoronamentos, inundações,
entorno, raios, dentre outras.
- Condições de trabalho e execução: ritmo de trabalho imposto muito
intenso, processo de capacitação da equipe ineficiente, a qualidade da
supervisão realizada.
2. Identificar as causas associadas a cada perigo
Nessa etapa é realizada a verificação e o estudo criterioso de como e
em que situação ou situações ocorre a falha.
3. Avaliar o risco
Identificar os efeitos de cada evento indesejado sobre as pessoas, as
instalações, meio ambiente, qualidade, continuidade das operações da
atividade, dentre outros.
A tabela a seguir mostra um exemplo de como realizar uma Análise
Preliminar de Riscos:
Fonte: <https://manualdotrabalhoseguro.blogspot.com.br/2014/12/apr-eletricista.html>
Portanto, independentemente da atividade realizada, quando pensamos
em riscos, sempre devemos ter como postura única em qualquer ramo de
atividade a prevenção ou mesmo a eliminação dos riscos. Quando pensamos
em questões ambientais, todos os indivíduos relacionados com
implementações de grandes empreendimentos ou pequenos, que tenham
impactos maiores ou menores, devem estar sensibilizados para as
consequências de trabalhos realizados sem a devida sensibilização para a
prevenção de riscos tanto para a saúde das pessoas como para a preservação
do meio ambiente.
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TEMA 3 – AVALIAÇÃO DOS RISCOS
Um aspecto importante e que muitas vezes não é levado em
consideração é o fato de que a avaliação de um risco não deve ser realizada
exclusivamente pelo resultado da multiplicação da frequência de ocorrência ou
das falhas em um intervalo predeterminado de tempo, pela severidade das
perdas. A avaliação dos riscos deve ser realizada em todos os momentos e
etapas dos processos que envolvem qualquer tipo de atividade humana.
No processo de avaliação de riscos, deve haver os seguintes passos:
a. Indicação qualitativa da probabilidade ou da frequência esperada de
ocorrência e das causas prováveis.
b. Estimativa da severidade associada aos efeitos esperados.
As experiências de gerentes de riscos são importantes e devem ser
levadas em consideração. Vale lembrar que o ser humano tem mostrado
grande influência, tanto na frequência quanto na severidade das ocorrências,
portanto, o processo de formação dos indivíduos é essencial para a mitigação
dos riscos, assim, equipes bem formadas e conscientes dos riscos tendem a
evitá-los.
Na maioria das avaliações, observa-se a atividade desenvolvida como
um todo, não se observam de perto as pequenas partes pelas quais o todo é
formado, e uma pequena falha em uma dessas partes pode levar ao
comprometimento do todo. Esse tipo de enfoque também dificulta a
identificação do local no qual a falha ocorreu.
Dessa forma, é muito importante que dentro de um processo de
avaliação de riscos os gestores envolvidos tenham total conhecimento das
atividades realizadas, desde as mais simples e elementares até as mais
complexas, e que os colaboradores envolvidos tenham consciência da
importância de indicar falhas nos processos, mesmo que sejam consideradas
mínimas, pois a soma de pequenas falhas pode levar a um efeito dominó, que
pode levar ao comprometimento de todo o sistema envolvido; nesse momento,
pode ocorrer a efetivação dos riscos mais graves, inclusive envolvendo a perda
de vidas humanas. Existem acidentes que podem ser considerados causadores
de acidentes, sendo assim, devemos ter especial atenção aos riscos que se
efetivam e que não causam lesões nos trabalhadores, pois, se esses forem
mitigados, graves acidentes deixarão de ocorrer.
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Na Tabela 2, temos listadas as categorias de frequência de ocorrência
de eventos de risco, importantes para pensar em planos de prevenção, ou seja,
de gerenciamento de riscos.
Tabela 2. Categorias de frequência para eventos de risco.
Fonte: <http://www.fepam.rs.gov.br/>
Para realizar o processo de gerenciamento de riscos de forma completa,
é necessário também identificar o grau de severidade dos eventos, para que,
em consonância com a frequência, possamos realizar uma previsão da
probabilidade de ocorrência destes, e diante disso traçar programas para a
prevenção deles, trabalhando sempre de forma integrada com todos os
indivíduos que fazem parte desse processo de ponta a ponta.
Na Tabela 3, estão categorizados os níveis de severidade dos eventos,
a fim de ajudar no processo de gerenciamento dos riscos envolvidos em
qualquer atividade em questão.
Tabela 3. Categorização dos níveis de severidade dos eventos.
Fonte: <http://www.cetesb.sp.gov.br/>
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Realizando a junção entre as frequências de ocorrência dos eventos
mais a severidade deles, podemos constituir uma matriz de classificação de
riscos, a qual deve fazer parte de qualquer processo de gerenciamento de
riscos (Tabela 4).
Tabela 4. Matriz de classificação de riscos.
Fonte: <http://alsconsultoria.net.br/analise-preliminar-de-perigos-app/>
Após a análise criteriosa das frequências de ocorrência e da severidade
dos eventos, podemos pensar agora no processo de mitigação ou de
eliminação dos riscos, devendo-se implantar medidas de compensação e
reparo. É necessário pensar nas causas considerando formas de reduzi-las ou
tratá-las e ainda tratar os efeitos, levando, consequentemente, a um processo
de proteção com severa redução dos danos.
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manutenção de vidas humanas e também a redução de impactos ao meio
ambiente resultantes de nossas atividades de produção, empreendimentos,
dentre muitas outras. Esses impactos podem ser avaliados de forma
quantitativa ou qualitativa, e essas informações serão utilizadas em processos
de mitigação de riscos, diminuindo a probabilidade de efetivação destes. Com
exemplo de ingerência nesse aspecto podemos citar o caso do rompimento da
barragem de dejetos na cidade de Mariana (MG), onde houve certamente
falhas graves relacionadas a esse processo de avaliação e gestão dos riscos
envolvidos; tal falta de cuidado levou ao maior desastre ambiental e social de
nosso país.
Tudo que possa impedir ou atenuar os impactos do cenário avaliado é
muito importante e essencial no julgamento. E dentro desse contexto devemos
dar destaque para o papel da salvaguarda.
O que é uma salvaguarda?
Para qualquer atividade que seja desenvolvida haverá a necessidade da
utilização de um instrumento que ajude na manutenção da integridade física do
colaborador; há atividades que exigem um uso maior de equipamentos de
proteção, e outras, um número bastante reduzido. Esses equipamentos têm o
principal objetivo de proteger as pessoas envolvidas dos perigos presentes no
ambiente laboral.
Existem vários tipos de salvaguardas com o objetivo de manter as
pessoas envolvidas longe dos perigos que as atividades desenvolvidas
oferecem, também há vários manuais e certificados que devem ser respeitados
a fim de fornecer aos colaboradores equipamentos de proteção que realmente
cumpram esse objetivo de forma exemplar. Portanto, esses materiais devem
ser oferecidos de forma gratuita aos trabalhadores e sempre estar em boas
condições de uso; caso não estejam, devem ser imediatamente substituídos.
Além disso, aqueles de uso individual jamais deverão ser compartilhados com
colaboradores de outro turno, por exemplo.
Os equipamentos de salvaguarda podem ser divididos em dois grupos:
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de
Proteção Coletiva (EPCs). Os EPIs são aqueles considerados de uso exclusivo
para cada um dos trabalhadores, como: jalecos, luvas de procedimentos,
óculos, dentre outro. Já os EPCs são focados na proteção de um grupo de
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trabalhadores, como: sistema de ventilação forçada, sistema de
condicionamento de ar, dentre outros.
Portanto, quanto mais os gestores investirem na obtenção de EPIs e
EPCs de boa qualidade e em bom estado de uso, e exigirem o uso correto dos
colaboradores, menores serão as probabilidades de os riscos se concretizarem
por mais alto que seja o risco da atividade em questão. É de extrema
importância a realização de cursos de formação nos quais os colaboradores
sejam informados e sensibilizados para a necessidade do uso correto dos
diversos tipos de salvaguardas, para a manutenção de sua saúde e da saúde
coletiva dos colaboradores, bem como a fim de evitar danos graves ao
ambiente do entorno. Portanto, investimentos nos processos de prevenção são
muito lucrativos, pois reduzem bastante as probabilidades de graves acidentes.
Sendo assim, a disponibilização e o uso correto da salvaguarda nos
ambientes das atividades humanas têm papel fundamental na redução da
frequência e da severidade dos eventos de risco. Esses devem estar dentro
das normas regulamentadoras, para realizarem de maneira efetiva a proteção
para a qual estão designados. Os indivíduos envolvidos devem ser
sensibilizados para o uso e, além disso, o uso correto, para a prevenção de
riscos e de acidentes com consequências graves, inclusive para o entorno. Os
coordenadores e gerentes das diversas linhas de atividades devem ter
consciência também da importância em cobrar a utilização da salvaguarda
pessoal e coletiva, sempre objetivando a mitigação de riscos, pensando na
tolerância zero aos riscos em todos os ramos de atividades desenvolvidas em
nosso planeta.
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Sofremos ainda com erros do passado, assim não podemos deixar de
comentar sobre as mudanças climáticas bem visíveis, com grandes alterações
nos regimes climáticos de todas as regiões do mundo e como consequência
alterando o ciclo biológico de diversas espécies.
Precisamos de leis mais rígidas que rejam os comportamentos frente à
criação de impactos e riscos pelas atividades humanas e uma forma de
fiscalização mais eficiente, que cobre de maneira exaustiva a adequação das
atividades para a manutenção da qualidade de vida em nosso planeta. É
necessário que a mídia e os profissionais da educação estejam aliados a esse
propósito de sensibilização, pois, se não mudarmos a nossa forma de produção
e a maneira de consumo atual, não teremos mais recursos para o
desenvolvimento dessas atividades, e nesse momento acreditamos que daí
poderemos entender a real relação existente entre todos os componentes dos
ecossistemas.
FINALIZANDO
Nesta aula não apenas tivemos a oportunidade de entender o que é
risco e perigo, como identificar os riscos presentes em qualquer área de
atividade humana, como utilizar meios para mitigá-los, mas também pudemos
traçar um paralelo dos riscos de nossas atividades ao ambiente e à saúde do
planeta.
Vamos retomar a nossa situação problema? Nesse caso, que decisão
você tomaria? Assumiria o projeto e aceitaria todas as decisões da chefia,
mesmo sabendo dos riscos? Assumiria o projeto com o objetivo de modificá-lo
e evitar os riscos iminentes para a comunidade do entorno? Ou desistiria do
projeto para não ter problemas posteriores e, por via das dúvidas, “manchar” o
seu currículo?
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2002.
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evitando a prevenção. Tese Doutorado (versão preliminar). São Paulo, USP,
2000.
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