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Conceito e princípios

da ética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir os conceitos relacionados à ética.


 Elencar os princípios que guiam a ética.
 Descrever a ética profissional.

Introdução
A ética já foi conceituada por diversos filósofos, e esse conceito evoluiu
até chegar nos dias atuais. Alguns princípios filosóficos foram postula-
dos como aspectos que guiam a ética individual, e entendê-los nos faz
compreender melhor o que é ser ético. Um aspecto importantíssimo da
ética é a ética profissional, que diz respeito à conduta do indivíduo no
seu ambiente de trabalho.
Neste capítulo, você verá os diversos conceitos relacionados à ética,
os principais princípios que a guiam e a importância da ética profissional
no dia a dia de trabalho.

Conceito de ética
A ética foi conceituada de maneiras diferentes por diversos autores. De acordo
com Moore (1975), ética pode ter duas origens possíveis, considerando que é
uma palavra originalmente grega. Assim, o autor afirma que, no grego, éthos
com o “e” curto é traduzida como costume, enquanto éthos com “e” longo,
apesar da mesma grafia, significa propriedade de caráter. O autor salienta que
a primeira conotação é a base para a tradução de moral, enquanto a segunda é
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a definição atual para ética. Para Clotet (1986), o objetivo principal da ética é
facilitar que as pessoas realizem a si mesmas. Para ele, a ética se ocupa com
a perfeição do ser humano.
Singer (1994), por outro lado, afirma que a ética talvez não seja apenas
humana, podendo estar presente em nossos ancestrais não humanos mais
próximos. Para esse autor, a ética é “[...] um conjunto de regras, princípios
ou maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as
ações de um grupo em particular (moralidade), ou é o estudo sistemático da
argumentação sobre como nós devemos agir (filosofia moral)” (SINGER,
1994, p. 4-6). Diante dessa colocação, devemos ficar atentos à diferenciação
entre ética e moral.
Antigamente, para os filósofos gregos e romanos, a vida ética se passava
como uma constante batalha entre os apetites e desejos de uma pessoa e a
sua razão. Para eles, o ser humano era visto como naturalmente passional,
de forma que a ética tinha o papel de educar a natureza das pessoas para que
seguissem a razão. Nesse sentido, uma pessoa passional era aquela que se
deixava levar por seus desejos, tornando-se escrava deles. Assim, para os
filósofos antigos, a ética se resumia em três aspectos principais: o raciona-
lismo, que diz respeito à necessidade de agir conforme a razão; o naturalismo,
o qual ressalta a importância de agir em conformidade com a natureza; e a
inseparabilidade da ética e da política, de forma que a conduta individual deve
estar de acordo com os valores da sociedade (CHAUÍ, 2000). Dessa maneira,
a ética era vista nessa época como a educação da natureza do indivíduo, de
forma a dominar seus impulsos e desejos, harmonizando o caráter individual
com os valores coletivos.
Ainda, na filosofia clássica, a ética era entendida como um campo mais
amplo, não se resumindo apenas à moral. Na época, a ética buscava o melhor
modo de viver e conviver, abrangendo campos que atualmente denominamos
antropologia, psicologia, sociologia, economia, entre outros. Entretanto, com
a maior especialização do conhecimento que veio com a revolução industrial,
esses campos passaram a ser áreas independentes. Com isso, uma definição
atual de ética é a especialidade da filosofia que estuda as normas morais das
sociedades humanas.
A ética também pode ser definida como “a ciência que estuda a conduta
humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de
vista do Bem e do Mal” (WALKER, 2015, p. 3). Além disso, para Marilena
Chauí (2000), a ética se origina de questões relativas aos costumes, bem como
da busca pela compreensão do caráter e senso de moral individual. Para ela, o
senso de moral é o modo como avaliamos situações baseados em justiça – no
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bom e no mau. Apesar de muitas vezes os princípios éticos serem a base da


formação das leis de uma sociedade, esses conceitos apresentam algumas di-
ferenças: o cumprimento de normas éticas não pode ser compelido pelo Estado
ou por outras pessoas, e a lei pode ser omissa em relação a aspectos éticos.

Princípios de ética
Na conduta ética, deve-se ter tanto senso moral e quanto consciência moral.
O senso moral diz respeito ao modo como avaliamos determinada situação
de acordo com princípios como justiça, admiração, etc. A consciência moral,
por outro lado, refere-se não apenas a sentimentos morais, mas também a
avaliações de conduta no momento da tomada de decisão, de forma a sermos
responsáveis pelas consequências de nossos atos (WALKER, 2015).
Assim, a ética é constituída tanto pelo sujeito moral como por valores
morais e virtudes éticas. Para um indivíduo ser um sujeito ético ou moral, de
acordo com Marilena Chauí (2000), ele deve seguir as seguintes condições:

 Possuir a consciência de si mesmo e dos outros, de forma a reconhecer


os outros como sujeitos éticos iguais a ele.
 Possuir vontade, ou seja, a capacidade de controlar seus desejos e im-
pulsos, guiando-os para uma conduta ética, e possuir a capacidade de
deliberar entre as alternativas possíveis.
 Ser responsável, de forma a se reconhecer como autor de suas ações e
saber das consequências delas para si mesmo e para os outros, além de
assumir as consequências de seus atos e responder por elas.
 Ser livre, admitindo-se como a causa interna de suas atitudes por não
estar submetido a poderes externos que o forcem a agir. Essa liberdade
diz respeito a dar a si mesmo as regras de conduta.

Ainda, outro aspecto que constitui o campo ético são os meios para que
o indivíduo realize os fins. Diante da perspectiva de alguns autores, os fins
justificam os meios; porém, na ética, essa afirmação não é necessariamente
correta. No campo da ética, nem todos os meios disponíveis são válidos ou
justificáveis para se alcançar determinado fim. Para Chauí (2000, p. 435),
“fins éticos exigem meios éticos”.
Outros aspectos da ética devem ser estudados, a fim de entender os prin-
cípios que guiam a ação ética. Neste capítulo, vamos abordar o dever, a razão
e os juízos de valor e juízos de fato.
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Dever
Com a disseminação do cristianismo, surgiu um novo aspecto na esfera ética: o
dever. Essa ideia, que veio como um caminho para a tomada de decisão frente
à divisão entre bem e mal, cria, no entanto, um novo problema. Se a ética está
presente naquele indivíduo livre, que encontra em sua consciência normas
morais de conduta, como o dever se encaixa, sendo este um fator externo ao
ser humano? Para Rousseau, as pessoas nascem com a consciência moral, como
uma voz da natureza, ao passo que o dever somente faz com que o indivíduo
recorde sua natureza original. Para ele, o dever é apenas aparentemente um
fator exterior, de forma que obedecer ao dever (como a lei divina) é obedecer
a si mesmo e a seus próprios sentimentos.
Nessa perspectiva, a razão é a responsável pela sociedade egoísta e perversa
(CHAUÍ, 2000). Por outro lado, Kant ressalta o poder da razão na ética, na
qual, em sua perspectiva, a bondade não é natural. Para ele, os seres humanos
são naturalmente egoístas e cruéis, de modo que necessitam do dever para se
tornarem seres morais. Assim, por esse ponto de vista, o dever não é apenas
um conjunto de conteúdos que definem as condutas corretas, como uma lista
de coisas que podem ou não ser feitas. Para ele, o dever é uma forma que vale
para todas as ações morais. Essa forma é imperativa, não admitindo hipóteses
ou condições, e sim valendo incondicionalmente para todas as circunstâncias de
ações morais (CHAUÍ, 2000). Logo, Kant define que o dever é um imperativo
categórico, que ordena incondicionalmente, como uma lei moral interior. De
acordo com Chauí (2000, p. 443), o imperativo categórico se exprime em uma
fórmula: “Age em conformidade apenas com a máxima que possas querer que
se torne uma lei universal”.

Razão
A ética pode se originar da religião e da razão. As religiões impõem valores
e comportamentos e, em função da diversidade de religiões existentes, as
normas éticas variam com cada religiosidade. A religião, portanto, possui
um valor importantíssimo na ética de uma sociedade. Por outro lado, a razão
como fonte de ética é mais universal, visto que ela está presente em todos os
seres humanos. Entretanto, existem aspectos da vida humana que estão fora
do alcance da razão, como a vida afetiva e a espiritualidade (WALKER, 2015).
Mesmo assim, a racionalidade é um fator essencial para a ação ética, já que agir
de acordo com padrões morais exige a tomada de decisão, a qual é realizada
por meio da razão. Ainda, para o estabelecimento de valores morais e éticos,
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é preciso que estes sejam lógicos para os indivíduos de uma sociedade; assim,
a moral pode ser debatida e argumentada racionalmente.
O racionalismo ético é a corrente filosófica que atribui um papel cen-
tral da razão na vida ética. Dentro dessa corrente, existem duas principais
vertentes: a intelectualista e a voluntarista (CHAUÍ, 2000). Para a primeira,
existe a identificação da razão com a inteligência, e a vida ética depende do
conhecimento. Nessa perspectiva, a ignorância é o motivo pelo qual fazemos
o mal ou nos desviamos do comportamento ético, e é dever do ser humano
fazer com que sua inteligência conheça os valores morais, para que ele possa
conduzir a vontade no momento de decisão. Assim, a conduta ética depende da
inteligência ou da razão, e sem esta a vontade não pode atuar (CHAUÍ, 2000).
Por outro lado, a vertente voluntarista vê a vontade como o principal ele-
mento da vida ética: nossas ações são dependentes da vontade, que pode
querer ou não o que a inteligência ordena. Nessa perspectiva, uma pessoa com
vontades boas é virtuosa, enquanto a pessoa com vontades más é viciosa. Dessa
forma, a vontade guia a inteligência no momento de uma escolha, podendo
essa vontade ser boa ou ruim. Assim, o dever tem o papel de educar a vontade
para que ela se torne boa. Para ambas as correntes, porém, os seres humanos
são naturalmente passionais; é papel da razão – seja ela como inteligência ou
como vontade – controlar esses impulsos para uma conduta moral.

Juízo de valor e juízo de fato


Esses dois conceitos muito falados no tema da ética dizem respeito a julga-
mentos sobre algo. Nesse contexto, juízos de fato são aqueles que se referem
às coisas como são e por que são; trata-se de colocações formadas com base
na realidade. Por outro lado, os juízos de valor são interpretações dos fatos,
avaliações sobre coisas, pessoas e situações. Dessa forma, um juízo de valor
pode ser um julgamento baseado em um sistema de valores e trata de questões
morais. Juízos morais de valor são normativos, de forma a ditar normas que
guiam nossos comportamentos e dizem o que é o bem e o mal. Eles indicam
os sentimentos e as intenções que devemos ter para uma conduta ética, além de
enunciar também os comportamentos moralmente incorretos (CHAUÍ, 2000).
De acordo com Max Weber, conforme revisado por Walker (2015), o ponto
de partida de uma ação são os juízos de valor, que podem ser diferentes para
cada pessoa. Para ele, o que é certo para um pode não ser certo para outro,
pois cada ser humano tem sua particularidade, a qual deve ser respeitada.
Em uma conotação positiva, o termo juízo de valor pode significar um
julgamento feito com base em um sistema de valores. Em uma acepção ne-
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gativa, por sua vez, a expressão pode ser usada no sentido de um julgamento
não objetivo, feito a partir de uma opinião pessoal, em vez de ser baseado na
razão (WALKER, 2015).

Veja neste link um artigo sobre ética sob a perspectiva


de Max Weber.

https://goo.gl/3j5iNh

Ética profissional
Uma área fundamental da ética é a sua aplicação na vida profissional das
pessoas. Assim, a ética profissional diz respeito a um conjunto de normas
e valores relacionados ao comportamento e relacionamento no ambiente de
trabalho, no qual a conduta ética se baseia em relações de qualidade com os
colegas, na contribuição de um bom funcionamento das rotinas de trabalho e
na formação da imagem da instituição.
Nesse sentido, são elaborados códigos de ética para cada profissão, que
buscam padronizar condutas de comportamento dos profissionais de cada
área. Os códigos de ética estabelecem condutas que criam a base da ética
de cada profissão, inclusive prevendo penas disciplinares àqueles que não
o obedecerem. Para isso, os Conselhos de cada profissão se encarregam da
fiscalização do cumprimento de seus respectivos códigos de ética. A impor-
tância desses códigos se dá também no sentido de preservar a integridade da
profissão, de forma a manter a confiança dos clientes e encorajar o público
a continuar buscando seus serviços. Além disso, o código de ética traz uma
segurança para o profissional que trabalha de maneira ética, visto que garante
que ele não vai ser prejudicado comercialmente por aqueles que têm princípios
éticos deturpados. Ainda, algumas organizações profissionais estabelecem
sua abordagem ética e o que é esperado de seus funcionários em termos de
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alguns componentes-chave, que geralmente incluem honestidade, integridade,


transparência, confidencialidade, respeito, etc.
Nessa perspectiva, surge o conceito de profissionalismo, que pode ser
definido como a conduta de um indivíduo no ambiente de trabalho (MCKAY,
2017). É importante ressaltar que essa característica não está relacionada
com o nível de qualificação necessária para exercer uma profissão; ela diz
respeito apenas ao indivíduo e a como ele se porta no seu dia a dia de trabalho.
Além disso, o profissionalismo também tem uma conotação de saber técnico
e de um fazer bem realizado, ao mesmo tempo em que o termo remete ao
comportamento ético em virtude do comprometimento com o trabalho e com
valores socialmente acordados.
Assim, de acordo com Machado ([200-?]), três principais aspectos formam
a base do profissionalismo: competência técnica, compromisso público e autor-
regulação. A competência técnica diz respeito ao saber fazer – a ausência dessa
característica indica uma falta de profissionalismo. Apesar disso, a competência
não é suficiente para caracterizar o perfil de um indivíduo em relação ao seu
profissionalismo. Aquele que é dito como profissional coloca sua competên-
cia técnica a serviço do bem público, assumindo responsabilidades além de
sua remuneração. O profissional, então, é comprometido com seus projetos
independentemente de seus interesses pessoais. Por fim, o profissionalismo
também envolve a autorregulação do exercício profissional, que diz respeito
ao cumprimento do código de ética da profissão. Assim, o profissional deve
agir de acordo com as normas éticas de sua profissão, independentemente
de seus interesses ou do interesse financeiro da empresa onde trabalha. Essa
autorregulação vem a ser, portanto, necessária para o verdadeiro compromisso
público de determinada profissão.
Dessa forma, a atuação ética de um profissional deve se basear em valores
previamente acordados, os quais possuem princípios que ultrapassam a busca
do lucro e do benefício pessoal. Ainda, os princípios que guiam a ética de
cada profissão devem ser levados em consideração pelo futuro profissional
antes mesmo de escolher a carreira que ele quer seguir, bem como durante sua
formação profissional. É importante lembrar que, ao se formar em um curso
superior, os alunos fazem um juramento, por meio do qual se comprometem
e aderem a um conjunto de regras estabelecidas para o exercício de sua pro-
fissão. Esses aspectos devem ser sempre lembrados para uma conduta ética
e profissional durante o exercício de uma profissão.
20 Conceito e princípios da ética

Para saber mais sobre a ética profissional, acesse o link:

https://goo.gl/BqS4J4

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.


CLOTET, J. Una introducción al tema de la ética. Psico, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p.
84-92, 1986.
MACHADO, N. J. Competência e profissionalismo: o lugar da ética. [200-?]. Disponível em:
<http://www.portal.educacao.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/
espaco-etica/WEBARTIGOS/competencia%20e%20profissionalismo%20-%20o%20
lugar%20da%20etica.pdf>. Acesso em: 24 out. 2017.
MCKAY, D. R. Professionalism in the workplace. 14 jul. 2017. Disponível em: <https://
www.thebalance.com/professionalism-526248>. Acesso em: 24 out. 2017.
MOORE, G.E. Ética é a investigação geral sobre aquilo que é bom. In: MOORE, G. E.
Princípios éticos. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 4.
SINGER, P. Ethics. Oxford: OUP, 1994.
WALKER, M. R. Disciplina Fundamentos da Ética. Santa Helena, PR: UTFPR, 2015.

Leituras recomendadas
CHENEY, G. et al. Just a job?: communication, ethics, and professional life. Oxford:
Oxford University Press, 2010.
GUIA DA CARREIRA. O que é ética profissional?. [201-?]. Disponível em: <http://www.
guiadacarreira.com.br/carreira/o-que-e-etica-profissional/>. Acesso em: 24 out. 2017.

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