Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
___________________________________________________________________________
No presente trabalho, será analisada, à luz dos elementos do Estado Federal Brasileiro,
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
que declarou a inconstitucionalidade da Lei n. 11.638, de 20/11/1989, do Estado do Ceará,
que “extinguia de todo espaço cearense a obrigatoriedade da hora de verão”.
A matéria presente na ADI 158 está relacionada ao tópico das competências atribuídas
a cada ente da Federação, a execução das funções que lhe foram concedidas e a precisa
correspondência de seus deveres. Esta ação diz respeito a uma lei presente na legislação
estadual do território do Ceará, na qual consta a regulamentação de assunto declarado
competência privativa da União Federal. A decisão judicial considerou a lei estadual
inconstitucional devido a legislação cearense estar ultrapassando as competências legais que
lhe foram delegadas.
A lei nº 11.638/1989 (editada pelo Estado do Ceará) vai além das aptidões
determinados a esta unidade federativa, já que a responsabilidade de legislar acerca dos
1
https://memoria.ebc.com.br/noticias/brasil/2012/10/de-onde-veio-o-horario-de-verao
horários não cabe ao estado do Ceará, como também à nenhum estado-membro, e nem ao
Distrito Federal, mas sim à União. Não há nenhuma referência a que os Estados ou
Municípios possam dispor diferentemente sobre o Horário Oficial nos seus territórios,
portanto não se encontra alguma previsão de competência comum entre a União e os Estados
para disporem acerca do Horário Oficial (Vide Art.23 da CF). Apesar disso, o Horário Oficial
é nacional, sendo um importante fator de integração das regiões, já que diz respeito ao
equilíbrio e desenvolvimento econômico do país, referindo-se à garantia do desenvolvimento
nacional, na qual é objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, e mesmo caso
não se verificasse a previsão competencional da União, essa matéria seria tida como implícita,
por necessária a atividade-fim da própria Constituição.
A Hora de Verão está presente na esfera que corresponde a “Hora Legal” e divisão do
território brasileiro em fusos horários, sendo regulamentada por legislação nacional e
vinculando-se aos sistemas oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito
nacional, previstos na Constituição Federal, Art. 21, XV, e Art. 22, XVIII.
O Art. 21 apresenta serviços com uma estratégia de muita importância para a nação, a
ponto de dizer que o raciocínio que envolve essas escolhas de competências segue o Princípio
da Predominância de Interesses. O que tem abrangência mais geral, tem lógica em estar nas
mãos da União, como os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de
âmbito nacional (Art. 21, XV), ficando reservado à esta a regulamentação da área.
Serviços como este são estratégicos, pois precisam de regras gerais e uniformes para
todo o Brasil, e não somente para estados específicos, já que necessita-se haver a prestação de
serviços adequados, com segurança e qualidade para todos os cidadãos.
2
de aplicar o horário de verão ou regulamentar os horários dos territórios brasileiros, é uma
responsabilidade que não compete a esta unidade, e sim a União, pois este artigo é dotado de
competências exclusivas.
3
“Federalismo é a forma de organização do Estado em que os entes federados são dotados de autonomia
administrativa, política, tributária e financeira e se aliam na criação de um governo central por meio de
um pacto federativo” (Introdução ao Federalismo e ao Federalismo Fiscal no Brasil, 2017, p.7).
De acordo com DALLARI (1986:7), o Estado Federal refletiu as ideias centrais das
lideranças das colônias inglesas na América. O termo federalismo, utilizado para designar o
regime do Estado Federal, por vezes é utilizado de forma imprecisa para qualificar uma
aliança de Estados.
Com relação ao aspecto da soberania do Estado federal, tem-se que apenas a ordem
nacional (a conjugação da União e dos Estados) é soberana, o que implica dizer que os
Estados-membros não o são, embora gozem de autonomia.
4
estabelece dispositivos que limitam essa autonomia, de modo a garantir a integração e
cooperação entre os Entes e principalmente a viabilização do funcionamento do Brasil como
um país.
Essa “divisão de tarefas” fica explicitada no Título III da Constituição Federal “Da
organização do Estado”. Nele, além de outras questões, são esclarecidas quais são as de
exclusividade da União e dos outros entes, bem como em que situação eles podem agir
conjunta ou concorrentemente.
Foi essa integração e cooperação nacional que a Lei cearense n. 11.638, de 1989 feriu.
Ao extinguir a obrigatoriedade da hora de verão (determinada pela União) dentro do Estado, o
Governo do Ceará abriu a possibilidade de que cada ente regional opte por seguir ou não a
determinação federal da vigência do horário de verão. Como bem pontuado pela
Procuradoria-Geral da República e depois lembrado pelo Ministro Marco Aurélio no acórdão
da ADI, a lei aprovada pelo Governo do Estado cearense, além de não estar de acordo com o
que estabelece a Constituição, ainda é uma causadora de transtornos sociais, mais fortemente
representado pelos servidores públicos federais que são obrigados a cumprirem o Decreto
presidencial do horário de verão, e de caos econômico, pois prejudica a integração das regiões
e, consequentemente, o equilíbrio e desenvolvimento do país.
O artigo 21, cujo caput é “Compete à União”, no seu inciso XV estabelece que
E o artigo 22, cujo caput é “compete privativamente à União legislar sobre:” no seu
inciso XVIII diz:
5
Portanto, fica esclarecido que a Constituição Federal garante a atuação exclusiva da
União no estabelecimento da hora legal em todas as regiões do país e que a lei cearense é
evidentemente inconstitucional. O Supremo Tribunal Federal, em vista das razões
apresentadas, declarou a inconstitucionalidade da lei de modo a restabelecer o respeito à Lei
Máxima brasileira e a garantia da integração entre as regiões brasileiras.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em: 15 de Set. de 2021.
_________ Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade nº158/CE. Distrito Federal.
Relator: Ministro Celso de Mello. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=748051977>. Acesso em: 15 de Set. de 2021.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Estado Federal - São Paulo : Editora Ática, 1986.
SARLET, Ingo Wolfgang. MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional – 10ª. ed – São Paulo : Saraiva Educação, 2021