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É relevante mencionar que, assim como no direito interno de diversos países, em que
emendas às Constituições são aprovadas no intuito de acompanhar as mudanças e
evoluções da sociedade que devem representar, protocolos podem e são adotados à
Convenção Europeia, os quais ampliam ou modificam o seu corpo normativo.
Atualmente, existem quatorze protocolos à Convenção, mas apenas treze foram
adotados, visto que o Protocolo n. 14, o qual dispõe sobre o sistema de controle da
Convenção, ainda não foi ratificado por todos os membros signatários, sendo este o
requisito para a sua entrada em vigor. [01]
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Ademais, o Protocolo n. 11 criou uma nova Corte Europeia, uma vez que esta substituiu
a Comissão e a antiga Corte, tornando-se o único órgão jurisdicional da Convenção
Europeia, objetivando fortalecer e agilizar o mecanismo de proteção dos direitos
contidos nesta, levando em consideração principalmente o crescente número de casos
submetidos ao Tribunal. Relevante é mencionar que o citado protocolo não extinguiu o
Comitê de Ministros, mas restringiu o seu campo de atividades, já que a decisão a
respeito da possível existência de violação da Convenção, em relatórios a ele
submetidos, foi suprimida, cabendo atualmente ao Comitê apenas a fiscalização do
cumprimento das sentenças proferidas pela atual Corte.
Entrevistador:A Lei das Assembléias afirma que a liberdade de reunião somente pode
ser restringida se uma demonstração envolver perigo à vida ou um grande perigo à
propriedade. Os organizadores da marcha escreveram algo a respeito no pedido que
demonstraria a existência de tal perigo?
(…)
2.1 APELAÇÕES
De acordo com os princípios especificados por lei, aquele cujos direitos ou cujas
liberdades constitucionais tenham sido transgredidos, terá direito a apelação perante o
Tribunal Constitucional para seu julgamento em conformidade com a Constituição ou
outro ato normativo, sobre o embasamento que uma corte ou órgão de administração
pública tenha proferido decisão final sobre suas liberdades ou seus direitos ou sobre
suas obrigações especificadas na Constituição.
Em seu julgado, a Corte expôs que a Lei de Tráfego é falha ao incluir no mesmo rol
diversos tipos de eventos, tais como assembléias e competições esportivas. O direito à
reunião, na argumentação apontada pelo egrégio tribunal, é um direito político
fundamental, não sendo passível de regulação semelhante àquela destinada aos outros
tipos de eventos. Outrossim, ao se admitir que as assembléias devam receber permissão
para serem realizadas, atendendo ao exposto na supracitada legislação, estar-se-ia
atribuindo um caráter comercial àquelas, o que se mostra inteiramente contrário ao
papel que o direito à reunião exerce nas atuais sociedades democráticas.
A Corte reconheceu, destarte, que houve uma falha do legislador na produção de tal ato
normativo. Por fim, concluiu que há uma incompatibilidade entre a referida Lei de
Tráfego polonesa com os ditames da Constituição referentes às reuniões, pelo fato de
aquela não abranger o termo "assembléias" em seu corpo normativo, segundo o seu
entendimento.
Entretanto, a Corte Europeia entendeu que, ainda que a marcha tenha ocorrido, a mesma
aconteceu de forma ilegal, tendo em vista a decisão do então prefeito de bani-la. Tal
atitude poderia ter ocasionado amedrontamento nos participantes, além da possibilidade
de ter contribuído em grande parte para a não-participação de outras pessoas,
infringindo manifestamente as liberdades de reunião e de expressão dos indivíduos,
caracterizando os demandantes efetivamente como vítimas.
Em segundo lugar, o Estado polonês, em suas objeções, declarou que a outra parte não
havia esgotado todas as instâncias de direito interno do país, porquanto estes não
recorreram à Suprema Corte Constitucional do país. Todavia, a Corte Europeia refutou
os presentes argumentos apresentados, esclarecendo que, pelo fato de as decisões de
segunda instância já terem invalidado as decisões anteriores e sido manifestadas após os
acontecimentos das assembléias, não haveria propósito fundado para os demandantes
ainda apelarem para a dita Corte Constitucional. Deste modo, a Corte Europeia
considerou que todas as medidas cabíveis a serem tomadas dentro do ordenamento
jurídico polonês pelos organizadores foram, de fato, executadas.
Após analisar detidamente todas as provas oferecidas e ponderar acerca dos argumentos
apresentados por ambas as partes, a Corte Europeia de Direitos Humanos, em 03 de
maio de 2007, concluiu que houve violação por parte do governo polonês aos artigos
11, 13 e 14, correspondentes à liberdade de reunião e associação, à garantia do direito a
recurso efetivo e à proibição de discriminação, respectivamente.
2. O exercício deste direito só pode ser objeto de restrições que, sendo previstas na lei,
constituírem disposições necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança
nacional, a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime, a proteção da
saúde ou da moral, ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros. O presente
artigo não proíbe que sejam impostas restrições legítimas ao exercício destes direitos
aos membros das forças armadas, da polícia ou da administração do Estado.
O Tribunal Europeu também relembrou as decisões emitidas pela Junta Local e pela
Governadoria, no sentido de invalidarem as resoluções da Prefeitura de Varsóvia, pelo
fato de não terem apresentado embasamento legal. Ademais, o Tribunal também
aclamou o julgado proferido pela Corte Constitucional da Polônia, a qual declarou ser
inconstitucional a Seção 65 do Estatuto do Tráfego em Rodovias. Em sua
fundamentação, os juízes não se olvidaram de mencionar os valores do pluralismo, da
tolerância e da busca pela expansão de ideias. A democracia deve ser encarada como o
"pilar fundamental da ordem pública europeia", ao mesmo tempo em que o "pluralismo
e a tolerância são construídos em respeito à diversidade de identidades culturais, crenças
religiosas e ideais socioeconômicos". O Estado, ainda segundo a Corte, deve exercer a
função de "garantidor central de tais princípios [17]", por meio de obrigações positivas,
compatíveis com a Convenção Europeia.
Cabe também acrescer que, no caso em tela, as autoridades polonesas não eram
obrigadas por nenhuma lei daquele país a prover uma resposta à parte apelante em
tempo hábil, isto é, anterior à realização das manifestações, com o intuito de que esta
tivesse o seu direito a um remédio efetivo assegurado. Dessa forma, a Corte
acertadamente considerou que houve violação ao artigo 13 da Convenção.
Outrossim, a Corte afirmou, em suas fundamentações, que o dia em que se realiza uma
específica demonstração é de caráter crucial para a repercussão política e social de tal
evento perante a coletividade. Caso uma assembléia ocorra após o período para o qual
ela foi concebida, o impacto que ela causa dentro da sua esfera de debates é
consideravelmente reduzido. Conseqüentemente, o direito à assembléia também acaba
por se tornar inferiorizado diante de tal situação.
Por fim, ao analisar a suposta violação ao artigo 14 da Convenção, o Tribunal também
concluiu que esta foi realmente efetivada. A recusa conferida aos demandantes por parte
do prefeito de Varsóvia baseou-se principalmente no fato de aqueles não terem
submetido um "plano de organização de tráfego", como já ilustrado. No entanto,
conforme foi aferido pela Corte Europeia, tal documento não foi requisitado da mesma
forma aos organizadores das demais assembléias que ocorreram no dia 09 de junho de
2005, as quais tinham propósitos cristãos.
Não obstante, não se pode olvidar que apenas três das sete assembléias planejadas pelos
demandantes receberam permissão da Prefeitura para serem realizadas, ao passo que
todas as demais demonstrações previstas para aquele mesmo dia, organizadas por outros
grupos, ocorreram normalmente. É pertinente também relembrar que somente aquelas
referentes à discriminação da mulher foram permitidas pelas autoridades, não sendo
possível realizar as assembléias relativas à proteção dos direitos dos homossexuais e
minorias diversas.
A Corte também mencionou em seu julgado a polêmica entrevista concedida por Lech
Kaczynski a um jornal da Polônia, afirmando que, independentemente de qualquer
argumento utilizado na solicitação de permissão, a marcha e as assembléias organizadas
pelos demandantes não aconteceriam, por considerar que estas promoviam a apologia ao
homossexualismo. O Tribunal ponderou acerca dos motivos alegados pelas autoridades
polonesas para o dito banimento, porém não pôde relevar uma incontestável relação
entre a referida entrevista e a recusa de permissão.