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Marcelo e Rinaldo Barra

Herdeiros da música, dois irmãos cumprem seu destino

Do alto do 13º andar do Edifício Mirtes, na Rua 2 com a 9, no Centro de Goiânia, o menino
Marcelo Barra olhava com lágrimas nos olhos, inveja e decepção seu irmão três anos mais velho,
Rinaldo, atravessar a Rua 2, montado na bicicleta, carregando o violão para mais uma serenata pelas
ruas da capital. Rinaldo Barra não ia sozinho naquela metade dos anos 60. Carregava até 10 colegas
adolescentes cheios de hormônios em busca de agradar com música, amigas e namoradas atuais ou
pretendidas. Sentindo-se preso e desprezado, Marcelo Barra, o irmão menor, descia para o hall do
prédio e cantava, pois ali o som “corria”, parecia subir nas escadas, as paredes favoreciam a
acústica e dava até eco.
Com as serenatas de Rinaldo e Marcelo tocando no hall de entrada de seu edifício, temos na
segunda metade dos anos 60 todos os principais personagens deste livro fazendo a iniciação musical
no mesmo período, a segunda metade dos anos 60. De início em locais diferentes, Fernando Perillo
em Palmeiras, João Caetano na Cidade de Goiás e os Barra em Goiânia. A partir de 1970 todos
estariam na capital.
Cantar na família Barra era quase mandatório. Rinaldo, nascido em 27 de abril de 1956, e Marcelo,
de 18 de setembro de 1959, sabiam que os pais viviam entre canções desde namorados. José
Joaquim da Silva Barra, o seu Barra, de Uberaba, e Euny Velasco Barra, da Cidade de Goiás, eram
chamados de namoradinhos do Rádio. Conhecidos como Duo Tropical, cantaram na inauguração da
Rádio Brasil Central, em 1959, a segunda emissora de Goiânia, atrás apenas da Rádio Clube, de
1942. Mas antes mesmo de se conhecerem, seu Barra, então apenas chamado de Barra, já se
apresentava pela cidade de smoking e gravata borboleta pretas com o grupo Democratas do Samba.
Do lado da família de Barra havia ainda mais duas tias musicistas, Honorina, a Norica, e Luisa. A
primeira, cantora erudita que deixou a carreira para se casar, não sem antes ser corista do Coral da
Rádio Globo, no Rio de Janeiro, e de vencer concursos internacionais de canto. Junto com outra
goiana, Ely Camargo, formava a dupla As Goianinhas, citado no primeiro capítulo deste livro. Antes
delas, o avô paterno de Rinaldo e Marcelo, Francisco Consentino Barra, já tocava bandolim, com
certeza se lembrando de sua Consensa, na Calabria, a ensolarada ponta da bota no mapa que forma
a Itália, com suas montanhas encarpadas e aldeias antigas que parecem paradas no tempo.
A mãe de Rinaldo e Marcelo, dona Euny, tinha também uma família toda de artista, os Maia.
Uma tia materna, Lurdinha Maia, chegou a cantar nos cassinos recém-inaugurados de Las Vegas,
nos Estados Unidos e já era conhecida nos anos 50 como O Canarinho de Goiás. Cantora e
violinista, compunha desde os 16 anos, acompanhada de seu violão ou acordeão. Antes que os pais
de Marcelo se apresentassem na inauguração da Rádio Brasil Central ainda namorados, Lurdinha
soltava a voz na pioneira Rádio Clube.
Herdeiros desta tradição musical e crescendo entre notas ds canções, os irmãos Rinaldo e Marcelo
Barra acordavam nos domingos pela manhã com o pai tocando ao piano “La Violetera”, da
espanhola Sarita Montiel. Com quatro filhos — Rinaldo, Carmen Líria, Mara e Marcelo —, os
tempos de conjunto e da dupla de seu Barra com Euny ficaram para trás na rotina atribulada de
sustentar a família.
Os pais nunca abandaram a música, ainda que fosse apenas para tocar em casa. Até os natais tinham
de ser embalados em notas musicais. Em um deles, seu Barra e Euny promoveram uma espécie de
programa de calouros, baseado em um quadro de sucesso da época, “A Grande Chance”. Criado em
1967, era apresentado por Flávio Cavalcanti, que disputava com o também apresentador Chacrinha
quem era o maior showman da TV brasileira. Nomes que mais tarde brilhariam na música nacional
participaram de “A Grande Chance”, como Emílio Santiago e Alcione, Ninguém poderia imaginar
que cerca de 10 depois o mesmo Flávio Cavalcanti, ainda mandando ver na audiência, prestaria
reconhecimento nacional a Marcelo.
Na casa de seu Barra naquele 24 de dezembro dos anos 60, os calouros eram os membros da
família. Instrumentos não faltavam ali e nem conhecimento das canções. Quando terminou o
“show”, às 3 horas da madrugada, todos entraram no carro de seu Barra e saíram à rua para
esticarem a noite feliz com uma serenata, a primeira da vida do caçula Marcelo Barra.
Naqueles anos 60 seu Barra seguiu a magistratura e virou promotor de Justiça — mais tarde
chegaria a procurador. Com uma família grande, reclamava que o salário não dava para o sustento e
por isso pensava em novos negócios que dessem pra tocar junto com os processos e o Fórum.
Primeiro montou um restaurante de comida mineira, chamado Baroni, uma junção das sílabas de
Barra e Seroni, pois tinha como sócio o cirurgião Paulo Seronni, que abandonara a medicina para
ser produtor rural, profissão que deu tão certo que anos mais tarde ele chegaria à presidência da
Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg). O restaurante durou pouco.
Então, com dona Euny, seu Barra abriu um outro negócio promissor naquela época. Todas as
famílias quando conseguiam algum dinheirinho extra compravam máquinas fotográficas. Era o jeito
de registrarem cotidiano da casa, o crescimento dos filhos, as reuniões familiares, as viagens de
férias. Depois tinham de procurar um laboratório para “revelar” o filme de 12, 24 ou 36 “poses” e
“imprimir” as fotos em papel, o que exigia uma câmara escura e um processo que envolvia trabalhar
em um cubículo escuro com um fiapo de luz vermelha e banhos químicos para fixar a imagem no
papel. Em resumo, quase impossível de entender hoje no mundo das fotos digitas e
complicadíssimo na época.
Seu Barra enxergou aí o futuro e inaugurou o Foto Baroni, que revelava fotos em preto e branco.
Mais tarde evoluiu para Eletrofoto Baroni e chegou a comercializar aparelhos telefônicos. Entre
fotos reveladas, revelava-se cada vez mais que o dom musical revelara-se aos filhos. Antes de
completar 10 anos, Rinaldo Barra já era aluno de Marcos Fontenelle, cujo irmão Eurípedes era
talvez o principal professor de violão dos anos 60 e 70 em Goiânia. Não havia um músico que não o
conhecesse e nem um pai que não desejasse que seu filho aprendesse com ele os escassos acordes
de “Prece ao Vento” (Vento que balança as palhas do coqueiro / Vento que encrespa as ondas do mar
/ Vento que assanha os cabelos da morena / Me traz notícia de lá). A canção, imortalizada pelo Trio
Irakitan, responsável pelo sucesso de 10 entre 10 boleros naquela época, era a porta de entrada para
o curso de violão de Eurípedes Fontenelle.
Se Rinaldo tocava de forma natural aos sete anos, o caçula Marcelo já cantava. Aos nove aprendera
cavaquinho justamente porque era um instrumento pequeno, quase como se fosse feito para a
criança que ele era. Também foi aluno de Eurípedes Fontenelle (que nas horas vagas desenhava
estampas de camisetas para as confecções de Goiânia). Provavelmente Eurípedes viu alguma coisa a
mais naquele seu aluno precoce, pois aconselhou: “Marcelo, é melhor você parar de estudar. Passe
um tempo sozinho, vá tirar as músicas, depois você volta.”
O garoto ficou quatro anos “tirando” as canções, como se dizia na época. Primeiro as harmonias e
depois decorava as letras. Ele aprendeu violão, bandolim e só então voltou ao professor Eurípedes,
já praticamente sem precisar de aula alguma. Passava o dia inteiro com a porta do quarto fechada,
tocando, achando o tom, cantando. Os pais não se importavam. Pelo contrário, aproveitavam.
Quando chegava visita, chamavam o afinado menino Marcelo para cantar. “Meus pais se realizavam
na música do Marcelo”, diz Rinaldo,
A casa musical dos Barra era também o lar dos botafoguenses. Rinaldo, apaixonado por futebol (em
2019 ainda joga bola uma vez por semana), cresceu com o timaço carioca que tinha em seu elenco
Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Zito, Amarildo e Zagallo. Foi campeão carioca em 1961, 1962,
1967, 1968, bicampeão da Taça Rio-São Paulo (em 1961/1962), e da Taça do Brasil em 1968. Ao
lado do pai, os garotos ouviam o Botafogo jogar contra o Santos do Pelé.
Mas nada era mais forte naquela casa do que a música e Marcelo logo se aprofundaria em uma ação
herdada de várias gerações: subir a imaculadamente branca igreja de Santa Bárbara, na Cidade de
Goiás, para cantar — João Caetano também fazia isso nos anos 60, em especial durante a Semana
Santa. Construída entre 1775 e 1780 com blocos de pedra-sabão e adobe, a igreja fica na margem
esquerda da estrada para quem vai à antiga capital partindo de Goiânia. Por ela se chega subindo
dezenas de degraus, o que descortina uma linda vista da cidade colonial tombada como Patrimônio
da Humanidade, com a Serra Dourada ao fundo. Um lugar romântico, iluminado, quase mágico, que
sempre atraiu religiosos, artistas, turistas, hippies e malucos de forma democrática.
Marcelo saía de Goiânia na sexta-feira depois da aula e voltava no domingo, sempre dormindo na
casa de algum conhecido. Não fumava, bebia e nem usava droga, apenas cantava. Subia a escadaria,
parava na porta da igreja com um grupo de amigos e soltava a voz até cansar. Não importava hora e
nem clima. Respirava-se música e paixão. Os namorados subiam os degraus e escreviam
declarações de amor nas pedras-sabão para as amadas. Vários romances nasceram ali. Para Marcelo,
não havia no mundo lugar melhor para estar do que fazendo parte daquela história e tradição.
Nessa época, Marcelo e Rinaldo já havia sido “capturados” pela música goiana e o cancioneiro
popular de tradição portuguesa que falava das coisas de Goiás e que só eram conhecidos por
“iniciados”, um grupo restrito de pessoas que fazia parte da cultura goiana — o mesmo caldo
cultural que formou João Caetano. Era um estilo que estava longe de ser popular e não chegava nem
nas rádios e nem aos ouvidos da imensa maioria da população. Quem tocavamas canções do povão,
como as da Jovem Guarda, era Fernando Perillo, nos bailes em Palmeiras de Goiás a partir de 1969.
Rinaldo estava um passo à frente do irmão menor, pois montara seu primeiro grupo musical, o
Presença, seguindo os passos do pai que tinha um conjunto nos tempos de solteiro. O jovem se
apresentava em festas e conhecia um pouco da tímida cena musical goianiense. Entretanto, ser
músico era apenas um hobby. Ambos imaginavam que para sobreviverem no mundo dos adultos
teriam de escolher outra coisa para fazer.
Mas os tempos ainda não eram de ser adultos e na primeira metade dos anos 70, Rinaldo Barra dá o
sinal verde e Marcelo entra no grupo Presença para tocar cavaquinho e se somar a Maria Cristina
Craveiro, a Kiki (que anos depois abriria a QG Pastéis), Ângela Barra, Luis Becker e Luis Fernando
Lobo, o Nando. Mas o irmão mais novo continuava proibido de ir nas serenatas de madrugada e
tinha de continuar com sua raiva e frustração no Edifício Mirtes.
Se não podia cantar nas serenatas, pelo menos Marcelo estava autorizado a assistir aos shows. E
Goiânia nos anos 70 vivia coalhado deles. Só Roberto Carlos veio mais de 10 vezes, trazido pelo
jornalista Arthur Rezende, o criador do Comunica-Som. Pense em qualquer grande nome da música
brasileira e pode apostar que eles estiveram na capital: Geraldo Vandré, Milton Nascimento,
Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânea, Rita Lee, Fagner, Beto Guedes… a lista é extensa e
extenuante.
Eles se apresentavam em locais como o Teatro Inacabado da Associação Goiana de Teatro (AGT),
na Avenida Anhanguera, ao lado do parque zoológico e da rodoviária (hoje Corpo de Bombeiros),
espaço dirigido por Otavinho Arantes e que nunca ficou pronto (nem por isso deixou de ser palco de
shows até à luz de velas). Ou no Teatro Goiânia e seu vizinho Jóquei Clube. Mais afastado do
Centro, o Clube Jaó, inaugurado na segunda metade dos anos 60, recebia músicos em seus dois
salões cobertos. Mas um novo espaço surgia para ser o principal palco da capital para receber os
artistas. Ao lado do Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, na Avenida Paranaíba, um anexo
arredondado cortava a paisagem ao lado onde até os anos 50 era o aeroporto de Goiânia. Chamado
de Ginásio de Esportes José de Assis, mas conhecido popularmente como Ginásio Rio Vermelho,
nascera para sediar eventos esportivos, como jogos de vôlei, futebol de salão e basquete. Mas nada
enchia tanto o lugar como os shows de música. As histórias dali são antológicas e merecem outro
livro.
Marcelo vivia esse momento em que era fácil assistir a históricas apresentações artísticas. De sua
casa podia ir à pé a todos os citados, com exceção do Clune Jaó. Já adolescente, começou a
frequentá-los. Quando soube que o baiano Gilberto Gil viria para a cidade apresentar seu nati
clássico “Refazenda”, em 1975, o garoto de 15 anos pediu ao pai o ingresso. O Teatro Inacabado
viveu três horas de show, com os clássicos do disco (“Ela”, “Tenho Sede”, “Refazenda”, “Pai e
Mãe”, “Retiros Espirituais”, e “Lamento Sertanejo”) e outros da carreira de Gil, como “Expresso
222” e “Aquele Abraço”. Faziam três anos que o tropicalista Gil chegara do exílio em Londres,
expulso do país pela ditadura militar. Ou seja, já era um totem da nossa cultura. Junto com ele veio
um sanfoneiro baixinho, cabeça chata, que o baiano apresentava ao Brasil: Dominguinhos. Os dois
arrasaram nas músicas regionais do Nordeste, que tinham em comum falar das coisas e lugares onde
nasceram os artistas, o que foi um ponto de contato com o que Marcelo Barra e o irmão Rinaldo já
começavam a fazer.
Marcelo pirou: “Ali eu fiquei encantado e decidi viver de música.”
A decisão foi pavimentada por outra apresentação, dessa vez em um local inusitado, a então Escola
Técnica Federal de Goiás (atualmente Instituto Federal de Goiás, IFG), um prédio histórico
inaugurado pela União em 1942 para o Batismo Cultural de Goiânia, ao lado de um ampla mata às
margens do Córrego Botafogo (onde hoje está o Parque Mutirama). Ali nos anos 70 se apresentou
João Bosco, um músico que passava ao largo de todos os rótulos. Uns o achavam sambista, outros o
viam como parte da linha evolutiva da música popular brasileira, que havia desplugado do samba
tradicional e desaguado na bossa nova e no samba canção. E outros achavam que ele era tudo isso
misturado — e era mesmo. Com seu parceiro Aldir Blanc, que conhecera em 1970, emplacara uma
série de sucessos nos anos 70, como “Mestre Sala dos Mares”, “Falso Brilhante” e “O Bêbado e a
Equilibrista”, todas gravadas por Elis Regina.
O show de Goiânia foi um fracasso. Poucas pessoas compraram ingresso. Tão poucas que João as
chamou para se sentarem mais à frente e fez um espetáculo intimista e caloroso. Ao vê-lo tocar o
violão e ser tão gentil, Marcelo reiterou o que a apresentação de Gilberto Gil havia começado: “É
isso que eu quero fazer da vida.”
Os sonhos de Rinaldo e Marcelo, entretanto, ainda teriam de vencer a realidade de dois jovens
vivendo nos anos 70 em Goiânia e tendo de encontrar uma profissão no futuro que não fosse ser
artista. O negócio da família, o Foto Baroni, ia bem. Seu Barra deixara a telefonia de lado e
investira na revelação de fotos coloridas, então um negócio de elite, pois os filmes fotográficos
eram mais caros do que os preto e branco, e a revelação também custava mais. Mas quem queria
dava um jeito de pagar as fotos coloridas da família. O Baroni prosperou e abriu uma filial em
Brasília, cidade então com pouco mais de 10 anos de idade.
Todos os filhos entraram na empresa. Marcelo foi ser diretor financeiro e Rinaldo gerente de
laboratório. Ele saía de sua casa no Edifício Mirtes, atravessava duas esquinas até a empresa,
pegava os rolos de filmes, viajava de madrugada para Brasília, revelava as fotos e no dia seguinte
estava de volta. Resultado: fotos coloridas reveladas em 48 horas. Um espanto para a época. Mas
não abandonou a música.
Idem Marcelo, que em 1976 foi fazer intercâmbio nos Estados Unidos, uma ação comum entre a
alta classe média nos anos 70. Funcionava geralmente assim: uma família norte-americana
escolhida por um programa de intercâmbio (no caso de Marcelo o Youth for Understanding, que
existe ainda hoje) recebia um adolescente em casa. Em Goiânia, a responsável por todo o trâmite
era o Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU), a maior escola de inglês dos anos 70 no
Estado.
No gelado inverno dos Estados Unidos, em janeiro de 1976, Marcelo desembarcou em Idaho, um
estado pequeno e sem muita projeção no Noroeste do país, onde 88% da população é branca, a
metade deles protestantes. Para os padrões do local, Marcelo não era branco, mas mestiço, um
eufemismo para negro. Ou seja, foi parar em um dos locais mais conservadores e caretas da terra do
Tio Sam. Chegou com um violão vermelho nas costas e no meio do ano letivo (que termina em
maio). Não sabia uma palavra de inglês e conheceu o que significava a palavra isolamento e
vulnerabilidade. Uma carta demorava mais de semana para chegar, o contato com a família em
Goiânia se resumia a uma ligação semanal do pai e não havia o que conversar (ou entender) com a
família norte-americana.
Os hábitos também eram diferentes e o garoto cantor brasileiro gerava curiosidade. Uma vez uma
visita perguntou se ele tomava banho todos. A mãe norte-americana respondeu: “Isso é até um
problema porque ele faz isso todos os dias e aqui em casa a gente tem uma regra de tomar dia sim,
dia não.” Até aí existia choque cultural: os banhos de Marcelo eram brasileiros, de chuveiro, 15
minutos. De suas duas irmãs norte-americanas, de banheira, duas horas cada uma.
O frio não o incomodava pois a família providenciou botas e casacos, e ele se preparara
psicologicamente ao desembarcar no auge do inverno, com 18 graus abaixo de zero. Na escola tinha
dificuldade em entender as regras do principal esporte local, o futebol americano — que não
entende até hoje — e que era obrigado a jogar. Foi salvo por Pelé, que chegara um ano antes para
jogar no Cosmos de Nova Iorque, em uma tentativa de popularizar o nosso futebol, ou soccer, nos
Estados Unidos. O rei estava no auge da fama em 1976 e a escola de Marcelo tinha uma turma de
futebol, onde ele deitava e rolava. Driblava todo mundo, fazia gols e levou o time do colégio a jogar
com outras escolas.
Além das matérias habituais do colégio, havia uma chamada Study Hall, onde o aluno podia
escolher o que fazer. E Marcelo preferiu, óbvio, a música. A banda da escola ensaiava ali e o goiano
entrou depois de mostrar sua interpretação de “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinícius de
Moraes. Em três meses estava com uma banda montada, ele como vocalista e líder. Seu professor de
música era o baixista, havia uma pianista e um baterista que chamava atenção por tocar samba com
as baquetas
O conjunto se chamava alguma coisa como Marcelo Barra Brazilian (ele não tem certeza) e
começaram a se apresentar nos finais de semana. Primeiro na escola, depois na vizinhança, mais
tarde até em pequenos auditórios de outros estados, como Washington e Oregon. Marcelo definia o
repertório, a sequência das canções e até matava algumas aulas. Cantava country music, John
Denver, músicas norte-americanas com letra em português e fazia uma versão matadora de “Garota
de Ipanema”, com direito a solo bossa nova no violão, metade em português e metade em inglês, na
versão gravada por Frank Sinatra e Antônio Carlos Jobim. Era o ponto alto dos shows daquele
garoto de 16 anos que tinha seu primeiro “enfrentamento” com o plateia, com o agravante de ser um
público que devia ser conquistado por um estrangeiro que cantava em uma língua estranha.
O pai norte-americano, sisudo e fechado como exige o Idaho, mudou com a formação do conjunto.
Orgulhoso, gostava quando ouvia que aquele rapaz da banda morava em sua casa. “O tratamento
comigo melhorou demais”, relembra Marcelo, mais de 40 anos depois.
Ganhando confiança, o músico em formação nunca mais seria o coadjuvante do irmão mais velho.
Voltou ao Brasil no meio do ano e retomou música e estudos. Marcelo teria ainda naquele ano de
1976 o que ninguém poderia imaginar nem nos mais otimistas dos sonhos: a vitória em um festival,
uma música do irmão gravada por uma grande cantora e a possibilidade de ser contratado por uma
das maiores gravadoras do país.

https://www.youtube.com/watch?v=NL9dxC9RvMc, em 23 de novembro de 2019


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em-serie-de-tv,70001725206, em 14 de janeiro de 2020

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