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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


INSTITUTO DE LINGUAGENS

ECCO/UFMT
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO − MESTRADO − EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

CIBERCULTURA: A SEGUNDA REALIDADE REGISTRADA NA PRIMEIRA

Disciplina: Tópicos de Cultura 1.


Professora Dra. Lucia Helena

Danilo Bertoloto

2010
Cibercultura: uma leitura semiótica.
Vivemos em um mundo onde o fluxo de informação é continuo devido
ao desenvolvimento das novas tecnologias telemáticas e esta
circulação responde pelo período que conhecemos como sociedade
informacional. Sabemos que para isso a concepção das cidades, e
atualmente a desmaterialização desta, tem sido primordial para que
chegássemos ao momento em que não vivemos sem conexão.
Conexão essa que nos subjetiva, nos instancia, que nos torna
contemporâneos. Contemporâneos a ponto de vivermos em um
mundo onde o virtual é mais essencial que o atual, ou seja, o não-
material.

André Lemos diz que: “Depois da modernidade que controlou,


manipulou e organizou o espaço físico, estamos diante de um
processo de desmaterialização (pós-moderna) do mundo. O
ciberespaço faz parte do processo de desmaterialização do espaço e
de instantaneidade temporal contemporâneo, após dois séculos de
industrialização moderna que insistiu na dominação física de energia
e de matérias e na compartimentalização do tempo. O ciberespaço é,
então, um operador meta-social (Benedikt), um espaço pós-tribal,
uma arena cultural criativa. Um universo de pura informação”. 1

Essa “arena cultural criativa”, esse “universo de pura informação” nos


proporciona um ambiente que é virtual, simulado, mágico, a
cibercultura, como diz André Lemos: “[...] podemos compreender a
cibercultura como a forma sociocultural que emerge da relação
simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de
base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das
telecomunicações com a informática na década de 70”.

Essas relações da sociedade e da cultura com as novas tecnologias


deflagraram um ambiente de fluxos, onde tudo circula: informações,
artes, técnicas e todos os textos culturais que comunicam e articulam
a subjetividade contemporânea. Como André Lemos cita: “A
cibercultura instaura um espaço de fluxos planetário de informações
binárias que trazem à tona uma nova problematização dos espaços
de lugar nas cidades contemporâneas”.

Esses espaços de fluxos ocorrem com total legalidade nas cidades,


onde o ser humano contemporâneo, desterritorializado, vive sob os
signos digitais como televisão digital, Google Earth, tecnologia de

1
Lemos, André. Cibercultura, Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Pag 128.
rastreamento GPRS e etc. Lemos ainda diz que “há diversos projetos
que visam articular esses espaços na cidade sob o nome genérico de
cibercidades. Todos têm como objetivo principal aproveitar o
potencial das novas tecnologias de informação e comunicação para,
em tese, reaquecer o espaço público, recuperar o interesse pelos
espaços concretos das cidades, criar novas formas de vínculo
comunitário, dinamizar a participação política e ajudar a população na
apropriação social dessas tecnologias.

As cidades contemporâneas já estão sob o signo do digital e basta


olharmos à nossa volta para constatarmos celulares, palms, televisão
por cabo e satélite, internet de banda larga e wireless, cartões
inteligentes, etc. Vivemos já na cibercidade, trazendo novas questões
na intersecção entre o lugar e o fluxo”.

Esse mesmo autor afirma que o ciberespaço é um não lugar, uma


segunda realidade, uma u-topia, “Assim sendo, o ciberespaço é um
não-lugar, uma u-topia onde devemos repensar a significação
sensorial de nossa civilização baseada em informações digitais,
cognitivas e imediatas. Ele é um espaço imaginário, um enorme
hipertexto planetário”. O ciberespaço está entre o linguístico e o
hiperlinguístico, entre as relações sociais e a cultura.

Segundo Norval Baitello Junior 2 “Cultura é, assim, linguagem, mundo


de signos, símbolos, índices, ícones, textos, narrativas, guindados
todos à condição de criaturas que dialogam, de igual para igual, com
seus criadores”. Ou seja, é a memória não-genética, é aquele
conjunto de informações que os grupos sociais acumulam e
transmitem por meio de diferentes manifestações do processo da
vida, como a religião, a arte, o direito (leis), formando um tecido, um
“continuum semiótico” 3 sobre o qual se estrutura o mecanismo das
relações cotidianas. A cultura é uma inteligência coletiva um sistema
de “proibições e prescrições” 4 que molda a dinâmica da vida social,
mas leva em consideração não só os aspectos do socius, mas todos
os fenômenos que incidem sobre a consciência coletiva.

Essa cultura vivida cotidianamente, atualizável, fluida, conectada é


instanciada em uma realidade que nos atravessa, uma realidade que
não depende de motivações fisiológicas, corporais, não depende da
natureza, essa cultura existe em um não-lugar, onde a imaginação, a

2
Júnior, Norval Baitello, Com sonhos, homem alcança a imortalidade. 1997
3
ARÀN, Pampa O. e BAREI, Sílvia. Texto/Memoria/Cultura: el pensamiento de Iuri
Lotman. 2ª ed. Córdoba: El Espejo Edições, 2006. p. 46.
4
ÀRAN, loc. cit.
mágica, a fantasia constrói seus textos e tece um rizoma semiosférico
capaz de nos ligar em fluxos de toda espécie de informação, mitos,
jogos, fantasias, parábolas, é a segunda realidade registrada na
primeira. É a cibercultura.

Somos conectados em primeira realidade, cabos de fibras ópticas,


satélites, computadores, notebooks, aparelhos de celular, objetos
concretos e necessários para se efetivar uma conexão e necessários
para transmissão de dados de diferentes subjetividades, entretanto o
conteúdo, as mensagens transmitidas são invisíveis, virtuais,
existindo em sentidos de potência, elencadas em um status de uma
nova dimensão.

É impossível vivermos a segunda realidade sem a estrutura da


primeira, os organismos tecnicistas responsáveis pela formação dos
primeiros ambientes digitais, hoje obsoletos, deixam claro que a
ligação entre o atual e o virtual, entre a primeira se a segunda
realidade está no campo da linguagem. Como diz Santaella (2003) 5
“Por isso mesmo, não devemos cair no equívoco de julgar que as
transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas
tecnologias e novos meios de comunicação e cultura. São, isto sim,
os tipos de signos que circulam nesses meios, os tipos de mensagens
e processos de comunicação que neles se engendram os verdadeiros
responsáveis não só por moldar o pensamento e a sensibilidade dos
seres humanos, mas também por propiciar o surgimento de novos
ambientes socioculturais”.

Referencias Bibliográficas

Lemos, André. Cibercultura, Tecnologia e vida social na cultura


contemporânea.

Júnior, Norval Baitello, Com sonhos, homem alcança a imortalidade.

ARÀN, Pampa O. e BAREI, Sílvia. Texto/Memoria/Cultura: el


pensamiento de Iuri Lotman. 2ª ed. Córdoba: El Espejo Edições,
2006.

Santaella, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do


pós-humano, 2003.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/teo/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3229/2493

5
Santaella, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano, 2003.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/teo/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3229/2
493

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