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TRIBO: QUAL É A SUA?

A PÓS-MODERNIDADE COMO PALCO PARA A FORMAÇÃO DE TRIBOS.

Janine Salvaro1

Resumo

O presente artigo visa discorrer sobre a importância do estudo dos


relacionamentos sociais do Homem, no momento atual, a pós-
modernidade. Tais relacionamentos contribuem na formação humana e
exercem influências, principalmente na formação de tribos, grupos ou
comunidades. Conjuntos que partilham de elementos em comum, mas
que como a sociedade, estão em constante evolução. A
fundamentação teórica foi baseada, principalmente, nos conceitos de
Maffesoli. Optou-se pela pesquisa bibliográfica. Tribo qual é a sua?
Identifica a existência de inúmeras na sociedade pós-moderna. O
desejo de estar em grupo e se sentir membro de alguma coisa mais
sólida induz ao Homem este sentido de partilha e convívio, até mesmo
pela partilha de signos, a citar a moda como exemplo.

Palavras-chave: Tribos. Maffesoli. Pós-modernidade.

INTRODUÇÃO

Balada, trabalho, futebol, família, grupo religioso, galera da faculdade [...]


As situações vividas com estes e demais grupos representam as relações do
indivíduo com seus semelhantes. O convívio com tais grupos não é padrão, pode ser
diário ou esporadicamente. A importância do estudo de tais relacionamentos é, além
do conhecimento do comportamento dos indivíduos (entenda-se consumidores), a
compreensão do movimento atual: a pós-modernidade, que é o palco para a
formação destas tribos, que acabam por proporcionar mudanças tanto para vida
individual quanto coletiva. (MAFFESOLI, 2005).

1
Acadêmica do 8° semestre do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e
Propaganda – da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, campus Tubarão. Atua no
SENAC de Criciúma no setor de Relações com o Mercado. E-mail: janinesalvaro@hotmail.com.
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Em princípio acredita-se que são “tribos” todos os grupos de convivência.


No entanto, Maffesoli (2005) esclarece que para se considerar “tribo” é necessária a
partilha de valores, através dos quais se caracteriza cada grupo para seus membros
e para quem os enxergam fora dele. Em princípio serão abordadas aqui
características da pós-modernidade e da formação de tribos para compreensão de
tal feito.

O PALCO CHAMADO PÓS-MODERNIDADE

A pós-modernidade, como terreno para a formação destas tribos, seria a


junção de valores arcaicos e tecnológicos, a expansão da tecnologia, e o
agrupamento dos homens. Maffesoli apud Paiva (2004, p. 35) considera que “o
Brasil se configura como um “laboratório da pós-modernidade”, onde se conjuga o
arcaico e o tecnológico, expressão dos sincretismos e hibridações, celeiro de
conexão das diversidades mais extremas”.
É após a Segunda Guerra Mundial que a humanidade toma consciência
de que ingressou numa nova época, e que não haveria mais a revolução da
sociedade, pois é a própria, que, com todas as suas divisões, encontra-se em
processo de desintegração (ROCHA, 2007). Ou seja, neste âmbito de mudanças,
até mesmo as relações consideradas mais estáveis acabariam por se fragilizar. Tal
fato percebe-se nas mudanças de grupos, as relações modificam-se e a
aproximação dos grupos, é feita por características em comum; como as
características estão em plena ebulição, é coerente que as tribos também mudem.
Rocha (2007, p.232) explana que “o perfil pós-moderno advém da consciência de
que sempre há lacunas, fragilidades e limites, e que como é formada por humanos,
há sempre a sua ambigüidade”. Humanos são complexos e tornam a sua
convivência complexa.
Santos apud Barros Filho (2006, p. 112) expõe que “na pós-modernidade,
matéria e espírito se esfumam em imagens, em dígitos num fluxo acelerado”. A
preocupação da imagem também pode ser relacionada ao consumo, em que, na
maioria das vezes não é decorrente de uma necessidade básica, mas sim de
sustentação de sua imagem perante a sociedade ou seu próprio grupo de referência.
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Outro aspecto da sociedade pós-moderna é a instabilidade das relações,


a imprecisão das expectativas e a indeterminação do ser. Na pós-modernidade elas
apresentam-se como sendo menos precisas e menos definidas. Ainda há de se
relacionar a falta de compromisso dos indivíduos. Desta forma aparece o “estar” no
lugar de “ser”, a “ética do ficar com quantos apetecer” (BARROS FILHO, 2006).
Relaciona Cazeloto (2007, p. 66), que “se, durante todo o período moderno, a idéia
de “classe social” dominou o imaginário das relações e conflitos sociais, outras
formas de agrupamento vêm surgindo”. Ou seja, as tribos tradicionais já deixam de
existir e dão espaço as novas formas de interação advindas da pós-modernidade.
Barros Filho (2006, p. 104) expõe que “o homem pós-moderno é
programado e impossibilitado de causar alguma forma de revolução, reconhecem
outros, menos esperançosos”. Assim sendo, não existem os antigos militantes, os
homens não se envolvem, ou, no mais é apenas uma participação discreta e, de
propriamente expectador, platéia de sua própria existência.
Rocha (2007, p.232) acredita que até o conhecimento adquiriu um caráter
pós-moderno, com a revisão dos seus fundamentos:

Ingressamos não apenas em uma nova época da história, mas em um novo


sistema de pensamento. O triunfo da economia de mercado e o correlato
avanço das tecnologias de informação acarretam a ruína do principio
moderno, segundo o qual o sentido do saber seria a formação do individuo
e a emancipação da pessoa humana em relação aos poderes que, de
algum modo, a reprimem, e assim, a mantém agrilhoada.

Segundo Trivinho (apud Cazeloto, 2007, p. 67), os elementos da pós-


modernidade seriam estes: “entrelaçamento biopolítico entre política, economia e
cultura, ao romper com o paradigma dominante da constituição social desde o
mundo grego”. E, para esclarecimento quanto à origem da pós-modernidade, e o
que representa a modernidade, Barros Filho (2006, p.103) explana que “se a
modernidade se caracterizou pela tentativa de entender objetivamente os poderes
que formam o tecido social, em grandes recortes da realidade, a pós-modernidade,
por sua vez, denuncia os micropoderes capilares que a compõem”.

Nasce a pós-modernidade ou pós-modernismo. Símbolo de uma nova era.


Era do vazio. De um novo entendimento. De ‘revanche dos valores do sul’.
De retorno histórico e pendular ao predomínio do sensorial em detrimento
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do racional. De sensualismo pós-moderno. De explicações compreensivas e


fragmentadas. De reencanto. De excesso. De desperdício e, de
consumação. De muitos deuses. E da parte do diabo. De crepúsculo do
dever. De maior respeito à liquidez dos amores. Da natureza oscilante dos
afetos. Tudo rápido demais. Nascitura ainda sem nome. Um nome dado às
pressas. Um pós qualquer coisa. Para o que vem depois do que acaba de
acabar. Sem mais delongas. Sem preocupações com a própria substância.
Definição pelo outro. Apenas o que não é. Ou o que não é mais. O vivo pelo
morto. Denúncia do fluxo. Pleonasmo (BARROS FILHO, 2006, p. 103).

Complementa Bertoldi (2001) que não se pode imaginar a sociedade pós-


moderna sem a presença maciça de informações ou, ainda a comunicação de
massa na vida pessoal e social. Seria esta possibilidade de interação constante e
este número sem fim de informações recebidas diariamente que também contribuem
na construção do Homem.
Paiva (2004, p.33) esclarece que “Baudrillard mira a sociedade de
consumo, os objetos e as imagens, mostrando suas fraturas e desaparições,
fragmentos e disjunções, enquanto Maffesoli os percebe como elementos de coesão
social, laços simbólicos forjando estilos de comunicabilidade”. Abordagens diferentes
de uma mesma realidade: a pós-modernidade. Nada espantoso devido ao número
sem fim de mudanças que o Homem provoca em seu Ser.
Ainda segundo Bertoldi (2001) não se tem claramente o que significa a
pós-modernidade em nosso meio. Discorre o autor:

Alguns sugerem que a pós-modernidade representa um período de vida


social; a mudança de uma época para outra e ainda a interrupção da
modernidade, envolvendo a emergência de uma nova totalidade social, com
seus princípios organizadores próprios e distintos; outros vêem nela a ficção
de uma imaginação acadêmica fértil, de uma propaganda popular enganosa
ou de esperanças radicais frustradas. Torna-se, entretanto, pertinente e
relevante aprofundar essa idéia porque ela nos conscientiza para uma série
de questões importantes no que diz respeito às transformações
tecnológicas, envolvendo as telecomunicações e o poder da informática;
mutações nas relações de interesses políticos e o surgimento de
movimentos sociais, especialmente os relacionados com aspectos étnicos e
raciais, ecológicos e de competição entre os sexos; a globalização.

Barros Filho (2006, p. 111) é mais abrangente, afirma que “não basta
apenas inventar simplesmente novos termos, como pós-modernidade e outros”. É
necessário que se compreenda antes, quais as conseqüências da modernidade para
a sociedade, e não apenas permanecer no “achismo” e no “deixar rolar”, frases de
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efeito em grupos que se identificam com certa passividade da vida, há ainda alguns
que vivem como o refrão: “deixa a vida me levar, vida leva eu [...]”.

TRIBOS: O ESPETÁCULO EM ANDAMENTO

Ao longo da história, o Homem buscou viver em tribos, ali se reproduziam,


trabalhavam para conseguir alimento e protegiam-se. Esse foi o princípio básico de
sobrevivência dos primeiros grupos que posteriormente evoluíram para as primeiras
comunidades (BALDANZA, 2007). Dessa forma para certas pessoas e mesmo
historicamente, conviver com determinado grupo é uma questão de tradição.
Há, a partir de 1970, uma segmentação de público e diferenciação de
produtos e mensagens. Também com a realidade pós-moderna, as relações entre
grupos (tribos) são influenciadas, Rocha (2007) situa que muda também a relação
dos indivíduos com os objetos, na relação familiar e na trajetória dos grupos sociais.
Muda também a relação com seus signos de referência. Relacionando diretamente
ao consumo, Baudrillard apud Barros Filho (2006, p. 107) cita que “a marca pode
comportar uma série de signos. Constituir um “supersigno”. A mesma Mont Blanc
que significa sofisticação, também significa riqueza, sucesso etc. Simulacro,
portanto”.
Em síntese, as pessoas compram a marca e não os produtos: preferem a
imagem ao objeto, ou seja, a cópia do real. Barros (2006, p. 112) explana que “o
simulacro não é pura representação, embeleza o próprio real, o faz mais brilhante,
mais próximo daquilo que desejamos como real. O hambúrguer sem graça dá água
na boca na fotografia. A calça jeans se destaca na topografia discreta da modelo”. A
explicação também pode ser relacionada à moda: consumo de signos semelhantes
para se sentir um membro efetivo do grupo. Já Maia (2005, p. 78) supõe que “a
comunicação transforma-se em comunhão na efervescência das tribos urbanas, pelo
seu “fechamento” e, também, podemos afirmar, pela circulação de códigos e signos
que suscita”. Cada tribo constitui-se de signos, e esta partilha fomenta o
relacionamento.
Paiva (2004) ainda contextualiza que, para Maffesoli, as instituições
tradicionais perderam em relações, prejudicando a sua sintonia. Fato este
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perceptível nas tribos que a formam, por exemplo, os grupos escolares cada vez
mais dispersos, pois sofrem ameaça de amigos “on-line”, comunidades virtuais,
jogos em rede. As pessoas, ainda, substituem suas tribos e membros de referência,
é essa gama de valores que perpassa a tribo, pois a constitui, e, por sua vez, ao
indivíduo que, também, é formado pela tribo. Guareschi (2005, p.53) expõe que “[...]
somos na verdade, algo como uma soma total das relações que estabelecemos em
nossa vida”.
Em outros termos, o sentido de relação caracteriza-se por esta partilha de
valores, e, para tal Maffesoli (2000, p.21) complementa que “é a emoção que
cimenta o conjunto. Este pode ser composto por uma pluralidade de elementos, mas
tem sempre uma ambiência específica que os torna solidários uns com os outros”.
Todo o conjunto social possui algo em comum. A ponto de que o indivíduo se forma
a partir destas relações, por isso o indivíduo possuir esta multiplicidade de valores,
em conseqüência dos diversos grupos que participa (MAFFESOLI, 2005). Clooney
acrescenta que “as pessoas herdam suas características no convívio com o outro ao
invés de herdá-las através dos genes” (CLOONEY apud DEFLEUR E BALL-
ROKEACH, 1993, p. 50).
De acordo com tal realidade, Maffesoli (2005, p.18), esclarece que “as
tribos comungam de valores minúsculos e num balé sem fim, chocam-se, atraem-se
e repelem-se numa constelação de contornos mal definidos e totalmente fluídos”. O
constante afastamento e a solidão que sofrem os humanos é parte, reflexo desta
vida sem companhia total, sem segurança, e a busca pela sua plena felicidade. “É
este horror do vazio que leva os indivíduos a se agruparem, muitas vezes sem um
motivo ou identificação aparente” (MAFFESOLI, 2005, p. 20).
A infinidade de relações que um indivíduo possui representa na verdade a
diversidade de grupos com os quais integra (GUARESCHI 2005). A relação entre os
membros de determinado grupo ou tribo, pode ser potencializada através do
consumo (partilha de signos). Pois as informações, a comunicação e os hábitos de
consumo são particulares em cada um dos grupos. Maffesoli (2005, p. 24) esclarece
que “toda forma produtora de significação para um grupo determinado, pode ser
insignificante para outro”. São estas características que identificam o grupo para
seus membros e para os que o percebem fora dele.
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Numa visão mais crítica desta característica do mundo pós-moderno,


indica Maffesoli (2005, p.8): “como pensar a pulsão que me leva a fazer como os
outros, a seguir a moda, a ser impulsionado por esse estranho instinto de
mimetismo”. São as reflexões que levam ao grupo partilhar emoções, fatos,
imagens. Esta relação, ao mesmo tempo, serve como referência para o
comportamento dos participantes. A partilha inclui o consumo de objetos
tecnológicos, a citar: celular, que cresce cada vez mais entre os jovens. Outro ponto
são as atualizações efêmeras da moda, e o consumo por parte de pessoas que
querem fazer parte do mundo. Para tal Baudrillard (2006, p. 95) relaciona que “o
consumo pode assim, por si só, substituir-se a todas as ideologias e acabar por
assumir a integração de toda a sociedade, como acontecia com os rituais
hierárquicos ou religiosos das sociedades primitivas”.
Há que se perceber o sentido “tribalista” da vida e das interações sociais,
que por sua vez asseguram a continuidade da vida humana, através da interação e
socialidade (PAIVA, 2004). A formação de tais grupos, e o seu convívio é de
maneira ampla, importante para a estabilidade e fortalecimento da sociedade atual.
Imagine se não existissem tribos ou grupos, todos seriam desconhecidos um ao
outro, os laços afetivos estariam desaparecendo, pois os relacionamentos e o desejo
de estarem em convívio são relacionados diretamente a presença de sentimentos:
amizade, colaboração, conflito [...].
Já uma visão contrária em relação à influência das tribos na formação de
um novo consumidor, aparece nas palavras de Zygmunt Bauman apud Barros Filho
(2006, p.105) onde “a sociedade pós-moderna envolve seus membros
primariamente em sua condição de consumidores, fazendo surgir, assim, um novo
tipo de consumidor. Aquele – idealizado pelos grupos de referência – há muito
deixou de existir”. Os relacionamentos são complexos, a sociedade é constante
processo de mudança e, com isso os humanos que a formam também. Quanto a
identidade do novo consumidor:

A identidade do novo consumidor é, agora, negociada nas complexas


interações sociais em que está envolvido. Multiplicaram-se as fachadas.
Num comércio incessante de representações, no qual a mesma pessoa
representa várias demandas, sem qualquer uniformidade ou padrão de
consumo. Muitos consumidores num só homem. Homem que, além de
múltiplo, é mutável. Máscaras em profusão, sobrepostas com agilidade.
Para necessidades sociais nunca tão explicitamente inéditas. Máscaras que
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objetivam novas personagens. Para si e para os outros. Personagens que


revelam um ator versátil. Que abrigam em seu interior infinitas imagens
sociais. Passageiras. Efêmeras. Fragmentos que não tardam em se
desfazer. Esse é consumidor em tempos pós-modernos: dilacerado e
perecível (BARROS FILHO, 2006, p. 105).

Tal concepção traz à tona, a dúvida: pode realmente as interações entre


as tribos que o individuo possui serem relevantes para a formação de suas
características? Na verdade, percebe-se que tal quantidade de máscaras utilizadas
pelo homem, pode ser relacionada a esta diversidade de tribos que participa.
Sempre buscando se adaptar para sentir-se querido e protegido no meio dos
semelhantes. Ao considerarmos esta ação (de usar máscaras) como prática de toda
a sociedade pós-moderna, tem-se, quem sabe, o único ponto em comum de todos
os indivíduos.
Já o autor Lipovetsky (2004), discorda, de que a sociedade tem tendência
à tribalização, para ele o indivíduo pós-moderno é excessivamente caricaturado com
uma versão sobre si mesmo. Na sua visão o indivíduo está centrado no seu
individualismo. Ainda afirma que “a necessidade de amor permanece a mesma,
microgrupos reconstituem-se, multiplicam-se as associações filantrópicas, mas
desaparecem as formas diretivas e coercitivas da sociabilidade” (2004, p. 21).
Maffesoli esclarece que M. Scheler e G. Simmel partilhavam igualmente esta visão
da unidade da vida (MAFFESOLI, 2000).
Esta crescente pluralidade de tribos presentes na sociedade, e a
variedade de perspectivas, de cada grupo, faz com que estes acabem se chocando
e cruzando, mostrando de fato a fragmentação do mundo (MAIA, 2005). Já
Lipovetsky (2004) tem uma concepção contrária, contextualiza que, em meio aos
estudos de tribo, clã ou comunidade, não há de forma alguma esgotamento do
individualismo para a supervalorização de tais conjuntos.
Maffesoli ainda relaciona a importância de grupos ou tribos que
compartilham um espaço físico, segundo ele “as emoções partilhadas e
consolidadas são vividas como fatos constituídos por e para as “tribos” que
inscreveram suas histórias neste lugar” (MAFFESOLI apud MAIA, 2005, p. 79). Na
cidade hoje, há diversos lugares de encontros, são ambientes diferentes onde
grupos de pessoas reúnem-se para a partilha de emoções. Tais emoções podem
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caracterizar-se como afinidades emocional ou festivo, ao invés de apenas racional e


funcional (PITTA, 2005, p. 87).
Evidencia-se o fato de que cada tribo tem um lugar específico de
encontro, por exemplo, o futebol no estádio, a família em alguma casa em comum, a
galera da faculdade na própria. Relaciona-se o fato de que quando transgridem o
ambiente que lhes é característico estão assumindo as relações que contemplam.
Pitta (2005, p.87) ainda evidencia que “a cidade noturna ou diurna é composta por
lugares que são investidos por grupos, tribos, que estão lá por causa de uma razão
emocional, de um sentimento que não tem nenhuma explicação racional.” Baldanza
contribui ao citar Buber (2007, p.22) expõe que “a verdadeira comunidade não nasce
do fato de que as pessoas têm sentimentos umas com as outras [...] ela nasce de
duas coisas: de estarem todos em relação viva e mútua com um centro vivo e de
estarem unidas umas às outras em relação viva e recíproca”.
Barros Filho (2006) explana que, em decorrência de tal ação não há única
atribuição para o indivíduo, e sim múltiplas. Haja vista que neste mesmo período,
quando tribos, famílias, etnias, gêneros, profissões e instituições apresentam suas
próprias formas de interação simbólica e representantes de seus papéis (havendo
também modificação nestes papéis), conforme tamanho do grupo.
Todavia, merece destaque que foi fundamental a influência da tecnologia
para a expansão destas tribos. Segundo Rocha (2007, p. 226) “o novo sistema de
comunicação baseado na tecnologia digital é o lastro dos conceitos de “economia
informacional global”, “cultura da virtualidade real” e, obviamente, o de “sociedade
em rede”. Baldanza (2007, p. 27) sintetiza que “a rede digital maximiza intercâmbios
entre produtores, receptores e emissores”. Tal ação permitiria aos usuários se
assumirem como atores, que podem produzir, pensar, analisar, debater, refletir.
O crescimento do acesso à internet, faz com que aumentem o número de
comunidades virtuais, exemplo disso é o orkut. Acrescenta Paiva (2004, p. 32) ao
citar Maffesoli, que: “as relações entre os homens e os objetos tecnológicos,
exprimem as extensões de seus afetos e sociabilidades. Para ele, os meios de
comunicação geram modos de comunidade e tribalização”. Assim, as comunidades
multiplicam-se e se espalham pela rede, que podem revelar, de fato, as preferências
do indivíduo.
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Cumpre esclarecer o sentido passageiro destas preferências, com a


mesma facilidade com que participam, deixam de participar. “A comunidade virtual
pode ser entendida como um conjunto de pessoas disponíveis para interesses em
comuns, [...] que podem estar em diferentes posições geográficas e temporárias”
(TARJA apud BALDANZA, 2007, p.28). Nem mesmo as relações virtuais ganham
caráter estável. É através das novas tecnologias que o sentido da presença, a
definição do próximo e do longínquo no espaço e no tempo e a definição do real e
do imaginário são transformadas (BALDANZA, 2007). Reinventam as relações, a
proximidade entre as pessoas, e, transformam a prática do convívio social em
favorecimento ao “estar conectado”: on line, por assim dizer.

CONCLUSÃO

A discussão do fenômeno tribal na pós-modernidade é um assunto


relativamente novo, tendo em vista, que a grande massa não percebe o movimento
que integra. Sociólogos, pesquisadores, elaboram conceitos e discorrem sobre o
tema. Há posições diversas: a valorização do individualismo ou a socialidade através
das relações. É evidente que estamos numa fase de constantes mudanças, verifica-
se na rapidez das informações e na pluralidade de valores que constituem o
indivíduo. O título deste artigo: tribo qual é a sua? Faz referência a uma tribo de
convívio principal, o que, provavelmente torna-se incoerente haja vista a fragilidade
de tais relacionamentos, exceto os relacionamentos por tradição: a família, por
exemplo. Supõe-se que o indivíduo está inserido em diversas tribos, e as procura
por simpatizarem com algumas características em comum, como tais características
individuais estão em constante ebulição, nada, mais previsível, que a migração de
uma tribo à outra.
Um estudo mais aprofundado no tema, com pesquisas de campo
poderiam contribuir na fundamentação do tema, no entanto, estudar
relacionamentos sociais é algo complexo, como foi discorrida, a constância dos
homens é refletido na sociedade e suas tribos. Considerando-se também a
expansão da tecnologia para criação de novas comunidades, o que, em certas
vezes, acabam por substituir as tribos presenciais. A balada, o time de futebol,
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galera da faculdade, e até a família são substituídos por amigos virtuais,


comunidades e os sites de relacionamento.
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REFERÊNCIAS

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