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REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO

EDUCACIONAL NO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

Luana Suemi Fujita1- UEPG


Patrícia Correia de Paula Marcoccia2- UEPG
Karina Regalio Campagnolli3 - UEPG

Eixo – Formação de Professores


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O objetivo desse trabalho é apresentar algumas considerações com o intuito de promover a


reflexão sobre as contribuições proporcionadas pelas experiências vivenciadas durante o
estágio supervisionado da disciplina de Gestão Educacional, realizado pelos acadêmicos do
curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Assim como,
também estabelecer relações com o trabalho dos pedagogos das escolas, nas quais o estágio foi
realizado. Para tanto, utilizou-se do Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia
da UEPG, dos relatórios de Estágio em Gestão do ano de 2016 elaborados pelos acadêmicos -
também chamados de “diários de bordo”- bem como, do estudo de cunho qualitativo realizado
por meio de observações, questionários e intervenções dos licenciandos junto ao pedagogo e
aos professores que trabalham em uma escola municipal – Anos Iniciais do Ensino Fundamental
- na cidade de Ponta Grossa. Para fundamentar essa pesquisa, buscou-se as contribuições de
autores como Domingues (2014), Pimenta e Lima (2006), Pinto (2013), Santos (1998), entre
outros, para subsidiar esse estudo. As análises e reflexões realizadas permitem apontar que o
estágio em gestão está comprometido com a indissociabilidade entre teoria e prática, pois parte
do real, das condições de trabalho do pedagogo e dos professores, entremeadas pelas relações
entre todos os membros que fazem parte da comunidade escolar. Nesse sentido o estágio em
gestão possibilita uma formação profissional que, por meio da relação teoria-prática, revela aos
futuros pedagogos as condições de trabalho desses, suas atribuições e possibilidades de
intervenção diante do cenário de intensificação e burocratização do trabalho desses
profissionais.

Palavras-chave: Formação de Professores. Estágio Supervisionado em Gestão Educacional.


Licenciatura em Pedagogia.

1
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail:
Luana_1982@hotmail.com
2
Doutora em Educação. Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail:
pa.tyleo12@gmail.com
3
Acadêmica de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: karinaregalio@hotmail.com

ISSN 2176-1396
9005

Introdução

O objetivo deste estudo é apresentar uma reflexão sobre o estágio supervisionado em


Gestão Educacional realizado pelos acadêmicos do curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, como também estabelecer relação o trabalho dos
pedagogos.
O texto é oriundo do estágio supervisionado em gestão educacional realizado em uma
escola municipal localizada na cidade de Ponta Grossa –PR. Faz uso do instrumental de
abordagem qualitativa de pesquisa, tendo como técnicas de coleta de dados a observação e o
questionário.
A partir dos dados obtidos em trabalho de campo verificou-se que o estágio em gestão
no Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa está
comprometido com a indissociabilidade entre teoria e prática, pois parte do real, das condições
de trabalho do pedagogo e professores e a partir disso, aponta possibilidades à formação do
pedagogo à luz de uma teoria que impõe comprometimento com a realidade. Não obstante, o
estágio revelou que o trabalho dos pedagogos está altamente intensificado e burocratizado.
O texto está organizado em três partes, a saber: A primeira apresenta o Curso de
Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa com ênfase nas
modificações e finalidades, desde sua fundação até a atualidade. A segunda discute o estágio
em Gestão na perspectiva da indissociabilidade teoria-prática. A terceira apresenta as reflexões
sobre o estágio supervisionado em Gestão Educacional realizado pelos acadêmicos do curso de
Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, como também as
relações com o trabalho dos pedagogos.

O Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa

O Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa foi fundado no ano de


1962 e buscava atender às normativas de ensino vigentes, formando o professor para matérias
pedagógicas no Curso Normal. Em 1972, passou por modificações importantes em consonância
com a Reforma do Ensino Superior e também com a Resolução n° 2, de 12 de dezembro de
1969, a qual previu a reformulação curricular do Curso.
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Além da formação para o magistério de 2º Grau, foram instituídas as habilitações em


Supervisão Escolar, Administração Escolar e Orientação educacional. Este movimento
contribuiu para promover a formação de especialistas da educação e ficou vigente até 1989.
Em 1989 o Curso passou a ser ofertado em regime seriado anual com as seguintes
habilitações: Magistério das Séries Iniciais de 1° Grau, Magistério das Classes de Alfabetização
e Magistério para a Pré-Escola, ofertadas gradativamente a partir de 1990. (MAINARDES;
MASSON, 2009, p. 173).
Por sua vez, após a reformulação de 1989, o Curso passou a sinalizar a docência como
sendo seu foco central. Segundo Santos (1998, p. 85), sentiu-se a necessidade de formar “um
profissional mais crítico e mais completo no sentido de atender às exigências da prática docente,
voltando-se à formação para o Magistério”. Visto que o objetivo do Curso era
predominantemente formar os “especialistas”, ou seja, o Supervisor Escolar, o Orientador
Educacional e o Administrador Escolar, pois os estudantes estavam preocupados apenas com
sua formação enquanto especialistas, comprometendo a sua formação enquanto educador, no
sentido global do termo.
Novas disciplinas foram introduzidas no currículo, entre as quais se destacava a
disciplina de “Práxis Educativa”, a qual, conforme Santos (1998), teve por objetivo articular
teoria e prática.

No esforço de superar as críticas de separação entre as disciplinas (fundamentos da


educação, metodologia de ensino e estágio), de dissociação entre a universidade e a
realidade educativa e de fragilidade teórica dos estudantes diante das problemáticas que
emergiam do trabalho educativo, introduziu-se nas duas primeiras séries do Curso a
Disciplina de Práxis que objetivou articular, por meio de uma reflexão crítica e do
confronto persistente entre teoria e prática, o conjuntos de elementos e realidades
formativas: disciplinas da série, disciplinas do Curso, universidade e escola, realidade
educativa e formação inicial (NADAL, 2016, p. 3, apud SANTOS, 1998).

Outra modificação ocorrida nesse momento foi a suspensão temporária das habilitações
em Supervisão Escolar, Orientação Educacional e Administração Escolar. No entanto, foram
retomadas posteriormente em 1991 devido às demandas das redes de ensino e aos clamores dos
acadêmicos pela volta dessas habilitações, especialmente aqueles que haviam concluído o
Magistério. (MAINARDES; MASSON, 2009).
Papi (2005, p. 102) salienta que havia a “exigência de no mínimo dois anos de
experiência no magistério para cursar estas habilitações”, as quais permaneceram até o ano de
1996, quando o Curso passou por mais uma reformulação.
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De acordo com Mainardes e Masson (2009), concordando com Santos (1998), tal
reformulação foi necessária devido à necessidade da superação da segmentação entre teoria-
prática, tendo em vista as concepções fragmentadas, pragmáticas e racionalmente técnicas que
fundamentavam o Curso de Pedagogia da UEPG nesta época. Uma das principais mudanças
ocorridas pela reformulação de 1996 foi o fortalecimento da identidade da formação de
professores.
Nesse sentido, a partir de 1997, o Curso de Pedagogia da UEPG passou a ter duração de
quatro anos e a ofertar o Curso Licenciatura em Pedagogia e Habilitação Magistério das
Matérias Pedagógicas do 2º Grau, além de Habilitação Magistério das Séries Iniciais do 1º Grau.
Ofertava também as Habilitações de Orientação Educacional, Supervisão Escolar, Educação
Infantil, Educação de Jovens e Adultos e Educação Especial-Deficiência Mental, podendo ser
cursadas após a conclusão do mesmo, ou seja, no 5º ano do curso como formação complementar
(ANTONIACOMI, 2014, p.110).
Santos (1998) enfatiza que nesse momento ocorreram modificações importantes no
Curso, as quais priorizavam valorizar e fortalecer a competência teórica e técnica aliada ao
compromisso político e social, tendo em vista a ênfase na docência como base da formação do
educador articulada ao ensino da pesquisa e extensão.
Posteriormente, com o Decreto 3.276/99 houve uma diferenciação entre o Curso de
Pedagogia e o Normal Superior, o qual preconizava que a “formação em nível superior de
professores da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental deveria ser feita
exclusivamente em Cursos Normais Superiores” (MAINARDES; MASSON, 2009, p. 175).
O Curso de Pedagogia passou a ser designado “Licenciatura em Pedagogia -
Magistério para a Educação Básica e Habilitação em Administração, Supervisão e Orientação
Educacional”, ficando assim designado até o ano de 2003. Além disso, optou-se por aguardar
as determinações legais em transição, a fim de garantir a titulação aos acadêmicos que já
estavam inseridos no curso.
Neste período, segundo Nadal, Zaias e Marcoccia (2016, p. 4):

A oferta, pela própria Instituição, do Curso Normal Superior para também formar
professores das séries iniciais, fez com que a formação no curso de pedagogia passasse
a ser questionada pelos alunos, dada a duplicidade (por eles entendida como
similaridade) de instâncias formativas. Em 2000, diante da pressão, procedeu-se nova
alteração e a formação dos “especialistas” da educação voltou para corpo curricular,
agora integrada em torno de uma só disciplina ofertada na última série: Fundamentos
Teórico-Metodológicos de Supervisão Escolar, Administração Escolar e Orientação
Educacional, além do estágio em tal área.
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Em 2004, o Curso passou a ter como eixo central a docência, sendo denominado
Licenciatura em Pedagogia – Magistério para a Educação Básica. Simultaneamente a esse
acontecimento, ocorria a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais. Dessa forma, o
Curso de Licenciatura em Pedagogia da UEPG ficou marcado por conter diferentes concepções
com relação à sua identidade e à sua constituição.
Nesse momento, surgiram muitas discussões e dissensos a respeito da proposta, pois
de um lado havia aqueles que defendiam a docência como base nacional comum nos cursos de
Pedagogia e, por conseguinte, na formação do pedagogo. Em contrapartida, havia outro grupo
de pesquisadores que criticava a proposta. Este fato se expressa nas palavras de Libâneo e
Pimenta:

Defendemos, pois, a criação do curso de pedagogia, um curso que oferece formação


teórica, científica e técnica para interessados no aprofundamento da teoria e da
pesquisa pedagógica e no exercício de atividades pedagógicas específicas
(planejamento de políticas educacionais, gestão do sistema de ensino e das escolas,
assistência pedagógica-didática a professores e alunos, avaliação educacional,
pedagogia empresarial, animação cultural, produção e comunicação nas mídias etc.)
(LIBÂNEO; PIMENTA, 1999, p. 256).

Estes autores criticavam veemente a definição de que a docência seria a base nacional
comum na formação de educadores no país, pois consideravam que o Curso deveria dedicar-se
a:

[...] preparação de pesquisadores, planejadores, especialistas em avaliação, gestores


do sistema e da escola, coordenadores pedagógicos ou de ensino, comunicadores
especializados para atividades escolares e extraescolares, animadores culturais, de
especialistas em educação a distância, de educadores de adultos no campo da
formação continuada etc.” (LIBÂNEO; PIMENTA, 1999. p. 255).

Portanto, para estes autores o Curso de Pedagogia deveria assumir a formação de


especialistas, mas conforme Mainardes e Masson (2009), o Curso de Pedagogia, na verdade,
assumiria características de bacharelado.
A partir da implantação da Resolução CNE/CP nº 1/2006, a qual instituiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, o mesmo na UEPG passa a ser denominado
Curso de Licenciatura em Pedagogia – Magistério da Educação Básica e Gestão Educacional –
conforme já mencionado. Tendo como objetivo formar profissionais para a docência na
Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, pretendia-se formar
para as disciplinas pedagógicas do Ensino Médio e funções na gestão das instituições de ensino,
em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.
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Nesse sentido, o Curso de Pedagogia passou a definir a identidade do profissional que


pretendia formar, alicerçado na Docência da Educação Infantil, Ensino Fundamental dos Anos
Iniciais e na Gestão Educacional, tendo como eixo norteador a prática pedagógica, a pesquisa
e a gestão (ANTONIACOMI, 2014, p. 117).
De acordo com Nadal, Zaias e Marcoccia (2016, p. 4), foi um longo período de debates,
o que provocou a reformulação a partir das novas diretrizes legais.

Nesta, a inserção, desde a 1ª série, das disciplinas de Didática e metodologias de


ensino e de Gestão Educacional ao lado dos Fundamentos da Educação e demais
campos de conhecimento, representou um avanço efetivo em direção a uma maior
organicidade na proposta curricular, articulando já no início da formação as
identidades de pesquisador, docente da educação infantil, dos anos iniciais do ensino
fundamental e das disciplinas pedagógicas no ensino médio (magistério) e gestor.
Também podem ser identificados ganhos na busca pela construção de relações
teórico-práticas via ampliação do campo da prática educativa ao longo dos 4 anos do
Curso na forma de seminários que envolveram também as áreas de seminário das
disciplinas pedagógicas do ensino médio e de gestão educacional, constituindo um
eixo investigativo cuja finalização se deu pela elaboração de trabalho do Trabalho de
Conclusão de Curso (uma inserção deste currículo).

Apesar dos avanços, em 2009 foi realizada uma nova reformulação, passando a vigorar
no ano de 2013, e teve por finalidade a formação de docentes para atuar na Educação Básica,
nos níveis de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Podendo atuar ainda
nas funções da gestão na Educação Básica.
Contudo, o foco da formação é a docência, na perspectiva de uma formação que supere
a fragmentação do especialista, bem como a dicotomia teoria-prática, pesquisa e ensino e,
pensar e fazer.
Em síntese, o Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa passou
por importantes reformulações, as quais, de algum modo, visavam superar a dualidade
teoria/prática.
A área da Gestão sempre esteve presente na maior parte do tempo, mesmo tendo a
docência como eixo central, pois em se tratando do trabalho escolar, este sempre esteve voltado
para a orientação do processo ensino-aprendizagem, ainda que em alguns momentos houvesse
fragmentações quanto à formação do aluno de pedagogia.
Não obstante, compreende-se que a atual reformulação do Curso tem a finalidade de
capacitar, ao mesmo tempo, o aluno da pedagogia para a docência, para coordenar a prática
pedagógica, planejar e administrar o funcionamento da escola e orientar o desenvolvimento dos
alunos.
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Nesse sentido, o estágio em Gestão Educacional possibilita analisar como se


desenvolvem as ações pedagógicas em âmbito municipal e estadual, assim como perceber as
condições de trabalho e as relações de poder envolvidas nessas questões. Além disso, por meio
da concretização do estágio consegue-se vislumbrar a participação dos diversos atores escolares
em relação ao trabalho pedagógico, colaborando para o desenvolvimento do processo formativo
dos acadêmicos através de problematizações e intervenções. Assunto analisado a seguir.

Estágio Supervisionado em Gestão Educacional como espaço de formação do aluno de


pedagogia

O estágio supervisionado em Gestão é compreendido como espaço interdisciplinar,


aliando saberes de diferentes disciplinas que compõem a matriz curricular com as situações
cotidianas do trabalho do pedagogo e da escola. Assim, essa inserção na escola visa o exercício
profissional do futuro pedagogo, isto é, no momento do estágio o futuro profissional da
educação tem a possibilidade vivenciar e desenvolver projetos inerentes ao trabalho do
pedagogo e do gestor escolar.
Por sua vez, a perspectiva com o estágio em gestão é que, ao experienciar as atividades
do pedagogo, o estudante de Pedagogia se envolva com as situações da realidade, do trabalho
do pedagogo e da dinâmica cotidiana escolar.
Esse processo formativo envolve troca/partilha de conhecimento e, ao mesmo tempo,
provoca tensões, pois são reveladas algumas contradições no âmbito da formação e valorização
profissional e das condições de trabalho dos pedagogos e docentes.
Nesse sentido, o processo de estágio problematiza uma necessidade emergente da
formação inicial que é superar a dualidade teoria/prática, provocando um enfrentamento dos
processos anacrônicos presentes nas instituições de ensino superior, muitas vezes, baseados na
transmissão do conhecimento, na técnica e na “cópia”. De acordo com Pimenta e Lima
(2005/2006, p. 6):

[..] o estágio se constitui como um campo de conhecimento, o que significa atribuir-


lhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática
instrumental. Enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos
cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas
educativas.

Se por um lado busca-se romper com uma prática instrumental, de outro é necessário
compreender a prática da vida, a qual não se faz sem instrumentação teórica, pois a teoria
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significa ter o conhecimento da estrutura e da dinâmica de um determinado objeto. Contudo,


considera-se que o grande desafio é perceber a teoria “não como práxis teórica, mas sim, como
atividade real, transformadora do mundo”, que impõe comprometimento com a realidade
(VÁZQUEZ, 2007, p. 112).
Compreender esta dimensão do estágio envolve conhecimento e compreensão das
finalidades que compõem o trabalho do pedagogo e do funcionamento da escola. Nesse
movimento, o estágio em gestão se coloca como uma oportunidade de aprendizagem da gestão
e do trabalho dos pedagogos, ou seja, da sua profissão e de construção da identidade
profissional. Portanto, é um espaço importante para problematizar diferentes realidades da
gestão escolar, alunos e organizações escolares.
Sendo assim, uma perspectiva do estágio em Gestão é a articulação do trabalho
pedagógico na docência com a gestão:

[...] pois ambos são indissociáveis na constituição de uma instituição democrática,


participativa [...]. [Além disso], torna-se dimensão essencial a fim de garantir aos
estudantes uma experiência reflexiva para essa dimensão da atuação do profissional
egresso do curso de pedagogia. (MALAVASI, ALMEIDA E CHALUH, 2010, p. 79-
80).

Outra perspectiva do estágio é considerá-lo enquanto processo de investigação, ou seja,


como pesquisa sobre a própria prática pedagógica. Lima (2008, p. 198) destaca a “necessidade
de investigar e analisar as atividades de Estágio/Prática de Ensino, considerando-as como um
dos importantes eixos dos cursos de formação de professores e como espaço propiciador da
reflexão”.
Nesse sentido, considera-se que o estágio em Gestão precisa ser compreendido a partir
da relação teoria-prática e de um processo criador de investigação, explicação e intervenção na
realidade com o objetivo de desenvolver uma formação crítica pedagógica com compromisso
social. Nessa direção, apresentam-se as reflexões desenvolvidas no estágio supervisionado em
Gestão na Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Reflexões sobre Estágio Supervisionado em Gestão Educacional na Universidade


Estadual de Ponta Grossa

A disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Gestão Educacional na Educação


Básica I é parte integrante e indispensável do currículo do curso de Licenciatura em Pedagogia
da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Essa disciplina compõe a 3ª série do Curso e
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apresenta carga horária de 102 horas, distribuídas igualmente no campo de estágio e em aulas
presenciais.
Sendo assim, o estágio em Gestão na Educação Básica I constitui-se como uma
abordagem prática, mas não somente isso, pois utiliza-se também de fundamentos e conceitos
já trabalhados em outras disciplinas do curso, caracterizando-se assim, como disciplina
articuladora entre teoria-prática.
Tem por objetivo observar e acompanhar o trabalho do coordenador pedagógico dentro
de uma escola pública, bem como investigar como esse profissional desenvolve o trabalho
coletivo.
O estágio em Gestão possibilita ao acadêmico o desenvolvimento de habilidades
concernentes ao trabalho pedagógico, a partir da observação e da análise da atuação da equipe
pedagógica ao longo do período do estágio. Além disso, essa experiência extramuros da
universidade oportuniza ao graduando o resgate de conhecimentos adquiridos em outras
disciplinas do curso de Pedagogia, relacionando-as ao trabalho docente e também com a atuação
do coordenador pedagógico em direção ao alcance de uma educação de qualidade.
A disciplina em questão tem como propósito efetivar a articulação entre teoria e prática,
visto que as discussões acontecem durante as aulas em que são problematizadas a realidade do
trabalho dos coordenadores pedagógicos, a partir do que se passa no cotidiano deles. Dessa
forma, é possível realizar a relação entre os conhecimentos adquiridos ao longo do curso com
a prática do estágio.
O Estágio Curricular Supervisionado em Gestão na Educação Básica I possibilitou o
contato com uma instituição escolar pública no município de Ponta Grossa no Paraná. O
objetivo foi compreender o trabalho do pedagogo dentro da instituição escolar com ênfase no
trabalho coletivo.
Dessa forma, realizou-se uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa. Utilizaram-
se como instrumentos para a coleta de dados um diário de campo e questionários4, aplicados
aos professores e pedagogos da escola. Também foi realizada uma intervenção com os
professores da escola com a finalidade de apresentar e discutir os dados sobre o trabalho do
pedagogo e os momentos de organização do trabalho pedagógico coletivo.
A experiência do estágio na escola causou grande impacto e um misto de sensações,
diante de tantos desafios e limites que a equipe gestora enfrenta todos os dias. Percebeu-se que

4
Vale destacar que esse texto irá tratar somente das observações realizadas pelos acadêmicos e não abordará os
dados levantados no questionário, os quais se referem ao trabalho coletivo.
9013

o trabalho desse profissional está direcionado às questões pedagógicas de sala de aula, questões
burocráticas da escola, atendimento aos pais e alunos etc. Segundo Domingues (2014):

Coordenar o pedagógico pressupõe um profissional afinado com suas atribuições, com


capacidades de refletir criticamente sobre seu fazer, envolvido em desvelar na
formação docente as relações existentes entre a teoria e a prática e criar condições
para uma reflexão planejada, qualificada e organizada a partir das necessidades dos
educadores. (DOMINGUES, 2014, p.116).

Dentre as diversas atribuições cotidianas do pedagogo, muitas vezes seu trabalho


resume-se em resolver os problemas que surgem ao longo do dia, imprevistos e situações que
não necessitam de planejamento. Nesse sentido Umberto de Andrade Pinto (2013) nos traz:

[...] a intervenção do pedagogo escolar (do diretor, do coordenador pedagógico) nem


sempre é planificada. Ele mobiliza os saberes pedagógicos em situações educativas
nem sempre formais que surgem no dia a dia do cotidiano escolar. Embora participe
de situações educativas formais como, por exemplo, coordenar uma reunião --- que
permite uma intervenção mais planejada ---, o fato é que a maior parte das suas
intervenções educativas ocorre em situações menos formais. (PINTO, 2013, p. 79).

Se a maior parte das suas intervenções ocorre em situações menos formais, há outros
fatores que estão articulados a isso, como o grande volume de atividades burocráticas que
compete à equipe pedagógica. Sobre isso, Malavasi, Almeida e Chaluh (2010, p. 81) constatam
que geralmente:

Depara-se com um sistema burocrático paralisante e limitador de ações promotoras


de formação humana.[...]; a vida do professor, que, sem esperança na transformação,
deixa de exercitar a docência em sua plenitude; a vida dos gestores, que, pressionados
tanto pelos setores internos quanto externos da escola, cumprem apenas os
compromissos burocráticos que lhes são exigidos; a vida dos funcionários, que, não
sendo reconhecidos como segmento importante, apenas cumprem ordens de natureza
técnica, não participando do processo educativo da escola.

No entanto, em vários momentos percebeu-se ações em direção à superação dessas


formas “engessadas” de gerir os desafios da escola. E corroborando com essa observação,
Malavasi, Almeida e Chaluh (2010, p. 82) destacam que:

São essas experiências motivadoras e bem-sucedidas, muitas vezes pensadas e


executadas à revelia das esferas superiores, que nos levam a acreditar na possibilidade
de a escola fazer alguma diferença, dando aos que menos têm chances de sucesso ao
longo da vida.

A multiplicidade de funções do pedagogo esteve presente durante todo o processo do


estágio, chegando muitas vezes a secundarizar sua atividade fundamental que é o processo de
ensino-aprendizagem. Contudo, evidencia-se que há uma descaracterização do trabalho do
9014

pedagogo na escola devido às atividades corriqueiras, as múltiplas funções e o trabalho


burocrático. Sendo assim, fica claro que ocorre a fragmentação do acompanhamento do
processo ensino-aprendizagem.
Além disso, como membro da equipe gestora da escola, pensando na gestão
democrática e emancipatória, o pedagogo ainda necessita consolidar sua identidade
profissional. Haja visto que a incorporação da gestão aliada à docência de modo global é algo
relativamente recente na escola, ou seja, seus fundamentos foram desenvolvidos a partir da
Constituição Federal de 1988.
Sobre isso, Oliveira (2009, p. 84) explica que “a ideia de que o docente tenha também a
gestão na sua formação básica tem suas raízes neste contexto no Brasil e fundamentalmente se
ligou às lutas pela democratização no sistema escolar e contra a fragmentação do trabalho
pedagógico”.
Nesse sentido, percebe-se como essencial a tarefa do pedagogo em promover a reflexão
entre os membros que compõem a escola, pois como aponta Oliveira (2009, p. 86-87), “somente
assim este docente-gestor poderá se contrapor ao contexto burocratizado como é o da
administração pública, onde as atividades-fins (pedagógicas) tendem a ser soterradas pelas
atividades-meios (administrativas)”.
As observações realizadas durante o período do estágio em gestão facilitaram a
compreensão das complexas relações travadas no ambiente escolar, além de oportunizar
problematizações com os demais colegas da universidade, pois cada aluno trazia para o debate
suas angústias, impressões e, juntos, discutiam os movimentos que regem a escola e os desafios
enfrentados diariamente pelos membros que a compõem.
Sobre isso, Malavasi, Almeida e Chaluh (2010, p. 83) “também comentam que os
registros escritos e os debates contribuem de forma significativa para o aprendizado dos
acadêmicos”.
Além disso, a dinâmica das leituras, debates, reflexões, ponderações, troca de
experiências e de conhecimentos que ocorrem por meio das atividades próprias das disciplinas
de estágio, possibilitaram a ampliação do olhar do estudante sobre sua formação acadêmica.
Assim, de acordo com Lima (2008, p. 201) “entre o escrito e o vivido estão: cultura, relações
de trabalho, classe social, etnia, idade e campos de poder, [...]” e todas essas relações devem
ser consideradas quando o assunto é escola.
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Lima (2008, p. 200) destaca que o “olhar atento do estagiário aproveitará a oportunidade
de contato com a escola para descobrir valores, organização, funcionamento dela, bem como a
vida e o trabalho dos seus professores e gestores”.
Durante as atividades do estágio, consultaram-se inúmeras vezes o Projeto Político
Pedagógico (PPP) da escola para compreender a visão de mundo, de homem, de sociedade que
aquele coletivo da escola possuía, assim como, quais valores e conhecimentos o coletivo
almejava desenvolver com seus alunos.
Nesse sentido, buscou-se articular as observações sistematizadas realizadas na escola
através do acompanhamento das atividades do trabalho do pedagogo à reflexão dos textos
propostos pela disciplina, somados à análise dos documentos educacionais oficiais, com o
intuito de compreender a realidade educacional na qual nos inserimos como pesquisadoras,
pois:

O cruzamento de dados, feito entre o que a literatura pedagógica diz sobre a escola, o
que dizem os documentos oficiais e a realidade registrada nas observações e
entrevistas, oferece um importante estudo comparativo de compreensão reflexiva e de
crítica da realidade. (LIMA, 2008, p.202).

Esse movimento mencionado propiciou perceber que as demandas da equipe gestora


são inúmeras, o tempo é escasso, as cobranças surgem de todos os lados e, muitas vezes, os
sujeitos principais de todo esse processo – os alunos, ou melhor, a apropriação do conhecimento
pelos alunos – acaba ficando em segundo plano.
Sobre a assistência pedagógica, Paro (2012, p. 589) explica que:

A assistência aos educadores não se restringe à necessária existência de coordenadores


ou assistentes pedagógicos que prestam seu serviço na organização do trabalho
coletivo junto aos professores, mas se estende a todas as medidas do sistema de ensino
referentes a uma autêntica formação permanente em serviço, que privilegie não
apenas os aspectos técnicos, mas também a disseminação de uma visão
transformadora de educação.

Corrobora-se com Paro (2012), pois a formação dentro da escola numa perspectiva
crítica, realizada a partir da formação de um coletivo, proporciona a reflexão sobre a prática, o
estudo de temas pertinentes, o compartilhamento de experiências e ideias, analisa situações e
propõe soluções para as problemáticas que emergem dentro do contexto.
Nesse sentido, considera-se que o estágio em gestão possibilita o preparo para enfrentar
os desafios que podem vir a surgir durante a carreira profissional. Além disso, esse preparo se
torna muito mais significativo quando se parte do real, da experiência vivenciada na prática das
funções dos pedagogos, as quais são muitas.
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No entanto, embora as condições pedagógicas sejam adversas, ou seja, além da


intensificação e da burocratização das funções, ainda assim, espera-se que o pedagogo “dê
conta” das adversidades e junto ao coletivo da escola construa possibilidades de superação.

Considerações Finais

O propósito deste estudo foi apresentar algumas considerações sobre o estágio


supervisionado em Gestão Educacional do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, como também estabelecer relação com o trabalho dos
pedagogos observados na escola, na qual o estágio foi realizado.
A partir dos dados levantados no referido estágio, foi possível constatar que o mesmo
está comprometido com a indissociabilidade entre teoria e prática, pois parte do real, das
condições de trabalho do pedagogo e professores, sob a luz de uma teoria que possibilita
compreender a realidade em que estão inseridos e pensar outras possibilidades.
Nesse sentido, o estágio em Gestão possibilita uma formação profissional que, por meio
da relação teoria-prática, revela aos futuros pedagogos as condições de trabalho dos pedagogos,
suas atribuições e possibilidades de intervenção diante do cenário em que as condições objetivas
se apresentaram. Ou seja, o pedagogo assume muitas tarefas cotidianas e rotineiras, provocando
a descaracterização do trabalho pedagógico, bem como, excesso de atividades burocráticas por
meio do preenchimento de fichas, planilhas etc.
Por sua vez, compreende-se que, o fato dos estagiários identificarem e problematizarem
essas questões já sinaliza reflexões críticas em torno da sua própria formação e do trabalho do
pedagogo que podem proporcionar que novas possibilidades sejam encontradas com o intuito
de favorecer o sucesso do processo ensino-aprendizagem.

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