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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Arqueologia e Antropologia

Licenciatura em Antropologia

Antropologia do Simbólico

Docente: Jonas Mahumana

Discente: Almiro Camilo

2° Ano/2° Semestre

Ficha de leitura

Referência bibliográfica

Auge, Marc; Dozon, Jean Pierre; Lallemand, Suzane; Michel-Jones, Françoise. 1992. A
construção do Mundo: Religião, representações, ideologia. Lisboa, Edições: 70.

Auge (1992) explica como é que o feiticeiro é entendido afirmando que fala-se muito dele mas
ninguém o vê, vencido, humilhado ou ainda transformado num cadáver manipulado onde explica
que, a teoria local associa a feitiçaria ao poder social e ao prestígio, a suspeita ao medo e medo
do respeito, sendo contrária ao discurso funcionalista que se contenta em reproduzir a ideologia e
em repetir as explicasses que constituem o sustentáculo das crenças que justifica.
Segundo o autor, a feitiçaria refere-se um conjunto de crenças estruturadas e partilhada por uma
dada população acerca da origem da infelicidade, da doença ou da morte, e o conjunto de
práticas de detecção, de terapia e de sanções que correspondem a estas crenças. O autor também
explica o comportamento atribuído aos feiticeiros afirmando que de uma forma geral trabalham
de noite, são canibais e praticam o incesto. Assim, as crenças na feitiçaria são um elemento
essencial para o funcionamento da ideologia e formam um conjunto coerente e necessário à
compreensão do acontecimento, as crenças na feitiçaria referem-se explicitamente às
representações da pessoa e do sistema social.

Relativamente a feitiçaria como um sistema o autor explica como é que as sociedades têm a
crença de existência de feitiçaria ou ausência de sociedade de feiticeiros afirmando que em certas
sociedades considera-se a existência de feiticeiro por segmento de linhagem, ao passo que
noutras a existência de sociedade feiticista assenta em princípios diferentes. De acordo com
autor, a existência dum ou de vários feiticeiros por segmentos de linhagem implica uma
repartição geográfica das forcas de agressão, e pode recair suspeitas sobre determinadas zonas.

O autor diz que as crenças na feitiçaria integram-se numa ideologia que as ultrapassa e a
aquisição ou transmissão do poder de feitiçaria é feita sobre as diversas modalidades variando de
sociedade para sociedade. Entretanto, para o autor a feitiçaria transmite-se hereditariedade ou
através do ensino e por outro lado trata-se dum dom inato, para outro, a feitiçaria assemelha-se a
uma doença contagiosa. Assim, das duas modalidades de aquisição de feitiçaria, por aquisição ou
herdada, só se avalia a qualidade do poder através dos feitos que produz.

Na concepção do autor, o poder de feiticeiro é ambíguo porque é maléfico ou benéfico e por


muitas vezes o poder feiticeiro e do contra-feiticeiro são apresentados como idênticos. Neste
sentido, as teorias locais revelaram maior riqueza e complexidade que as dos etnólogos porque
nunca demonstraram a distinção entre desgraças gerais e desgraças particulares. O carácter
voluntario e involuntário das acções apresenta-se como artificial e, os feiticeiros são
apresentados muitas vezes como seres condenados a desejar o mal, capazes de escolher para agir
e a vítima. A teoria da feitiçaria é também interpretativa, uma vez que enumera os factos
inseridos normalmente uma explicação pela feitiçaria.
Para o autor, as representações da feitiçaria formariam uma imagem dum mundo que inverte o
mundo real se fosse baseado nos argumentos do funcionalismo integral que não é nada
convincente. De acordo com autor, as explicações psicológicas ou culturalista interessa-se pela
feitiçaria como teoria por causa dos seus aspectos teóricos que parte do sistema social.

O autor conclui que a feitiçaria, tal como ideologia de que faz parte, dirige-se do singular-
universal e numa mesma sociedade, o feiticeiro é descrito como uma criatura invejosa, ciumenta,
miserável e desprezada e ao mesmo tempo como um ser triunfante, rico e forte e esta
ambiguidade do termo corresponde à ambivalência sociológica. Para o autor, as crenças na
feitiçaria funcionam assim, como outros elementos da ideologia, como ideologia do poder. A
feitiçaria pode ser entendida como sistema e como teoria nos critérios de análise, por um lado da
vida social e por outro lado, da vida individual.

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