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OMe ala ond acc TES CRU] TV ec RONAN oy Tue ed een TR) NCR GN woes} SOULE aye) Cn Cnt ay AUT SMe easr) POOR ole ru SECM oncom, NET Mer MM olessu etme Uc La 100) ie A + lle I ie eee en evangélicos nas ele O objetivo sera nao ser repetitivo, Colocar livros @ autores que ainda nao estao disponibilizados. Deixemos a preguiga de lado. Como diria 0 filosofo, "escaneio e publico no 4shared; logo existo Como dizem, alguns autores pesquisam anos, e merecem uma gralificago por tal zelo para com o conhecimento. Aqui vai minha gratificacao: MUITO OBRIGADO! Vou ler seu exemplar como forma de gratido por seu incrivel trabalho. "Ndo tenho ouro nem prata, mas tudo que tenho te dou': Muito obrigadoll!. A gratificacao pecuniaria deixe pra depois, visto que oS homens para pensar sua existéncia devem estar com as necessidades materiais satisfeitas, vocés nao precisam do dinheiro, Isso é um elemento acessdrio & existéncia! Ao comprar um livro, 0 autor recebe da editora uma micharia que nao daria nem para sobreviver. Ou seja, baixem, leiam e ndo paguem nada! Essa sera sua forma de gratificagao! ESCANEAR E PR Cr rac OSA Eee} Maria das Dores Campos Machado are Politica e Religido A participagdo dos evangélicos nas eleicées NI” FGV "moron ISBN 85-225-0571-3 Copyright © Maria das Dores Campos Machado Direitos desta ediglo reservados & EDITORA FGV Praia de Botafogo, 190 — 14° andar 22250-900 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil ‘Tels: 0800-21-77 — 21-2559-5543 Fax: 21-2559-5532 e-mail: editora@ fgvbr — pedidoseditora@fgv.br web site: wwweditora.fguibr Printed in Brazil Impresso no Bra “Todos os direitos reservados. A reprodugio no todo ou em parte, consttui violas2o do copyright torizada desta publicagio, no i n® 9.610/98). (Os conceitos emitidos neste lira sdo de intra responsabilidade da autora. 1 edigio— 2006 REVISAO DE ORIGINAIS: Maria Lucia Leto Velloso de Magalhiies REVISAO: Aleidis de Beltran e Fatima Caroni (Capa: aspectordesign FOTO DA CAPA: Sanja Gjenero (www.sxe.hu/index.phtml) Ficha catalogrifica elaborada pela Biblioteca ‘Mario Henrique Simonser/FGV ‘Machado, Maria das Dores Campos Politica ereligito: a partcipasto doe evangélicor nat eleigdes / Maria das Dores Campos Machado, — Rio de Jancio : Editora FGY, 2006. 180, Tri bibliografia. 1. Religitoe politica — Rio de Janeiro (Estado). Evangelismo — Rio de Janeiro (Estado). 3. Eleigdes — Parcipagto do cidadio — Rio de janeiro (Estado). I. Fundasto Gerulio Vargas. IL. Titulo. cpp — 32098153 Para Nicolas, Pedro e Liset ee Sumario Apresentagio 9 Introdugao 17 Parte |: Eleigdo de 2000 no municipio do Rio de Janeiro 25 1. A religiio como via de acesso a politica publica 27 De olho na tela e no piipito: que evangélicos se aventuram na politica? 31 Da votasio & confirmagio da forga politica da Turd 36 Evangélicos ¢ a cultura politica do estado 45 2. Mulheres, religido e politica institucional 49 “Mulher cidada: 0 slogan de uma pentecostal 50 “Eu sou PTcostal’: a articulagdo da religiio com a politica partidéria 57 Os miiltiplos usos da identidade religiosa 64 Parte Il: Eleicdo de 2002 no estado do Rio de Janeiro 67 3. O interesse dos “homens de Deus” pelo Congresso Nacional 69 Do projeto Nordeste ao Senado Federal 70 ‘Missio religiosa e “guerra politica” 73 A competicio religiosa ¢ seus desdobramentos no cenério politico 80 4, Evangélicos e catdlicos: intersegées da religiio com a politica 83 “O PSB de Deus deve superar 0 PT em militantes” 3 “Vou fundar uma religido e fazer uma hortinha no Nordeste” 90 As politicas sociais e os atritos entre catélicos ¢ evangélicos 93 5. Religio, politica e assistencialismo no estado do Rio de Janeiro 97 “Os escothidos de Deus" e dos eleitores fluminenses 99 Da lideranga religiosa & atuagio politico-partidéria 106 Priticas assistencialistas e criticas As politicas de complementagio da renda— 117 Existe um projeto politico hegeménico no campo evangélico? 120 6. Entre a Igreja, a familia, o partido e os eleitores 123 ‘Eu sou uma mulher politica” 123 As evangélicas na 7* Legislatura da Alerj: perfil e trajet6ria politica 128 A circulag3o ferninina nas redes institucionais 136 7. Religito ¢ ética no Congresso Nacional 143 © pillpito como trampolim para a politica. 147 Igreja ¢ partido na percepgio dos atores politicos. 154 Tensdes € negociagdes entre sujeitos coletivos ¢ individuais 162 Bibliografia 165 Siglas 175 Anexos 177 Anexo I: Legisladores evangélicos na Camara de Vereadores do Rio de Janeiro, por Igreja, migragZo interpartidéria c legislatura 177 Anexo Il: Evangélicos que representaram o Rio de Janciro no Congresso Nacional na Legislatura 2003-07, por Igreja, ‘migeaglo interpartidaria e fungio em 2005 178 Anexo III: Evangélicos eleitos em 2002 para a Alesj, por Igreja, iagGes partidarias e funcio em 2005 179 Apresentacao E.. livro € 0 resultado de dois projetos de investigasio cientifica im- plementados nos tiltimos cinco anos, Escola de Servigo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o intuito de estudar a participagio de atores reli~ Biosos evangélicos no cenitio politico do estado do Rio de Janeiro ¢ no Congresso Nacional. O primeiro projeto — “Pentecostais! e neopentecostais? na disputa po- lirica do Rio de Janeiro: interesses materiais e ideais em jogo” — foi desenvolvido entre agosto de 2000 e julho de 2002, ¢ contou com 0 apoio de bolsistas de ciasio cientifica do CNPq, Jé 0 segundo — “Religiéo e cultura politica: a parti- cipacdo dos evangélicos nas eleigdes de 2002 e o clientelismo politico no Rio de Jae neiro” — foi executado entre agosto de 2002 e julho de 2005 e, além das bolsas de iniclagio da Faper, recebeu auxilio financeiro e bolsas do CNPq. dos Unidos a os segmentos populares e negros, ea base 1 crenga de que 0 mesmo fenémeno ocorido fogo — poderia se ‘com 03 apéatolos tir entre os fis abrindo-Ihes a possibilidade do dese satismaticos, como cur, plosoalia e Ubertagto, eee outros. Ne ‘grejas Congregasio Crist do Brasil (1910) e Assembléia de Deus (191 408 segmentos desfavorecidos da populagio. E, tal como a mat cexpressaram a énfase no batismo, no Es Porém,o terme pentecostalismo sel et or un grande den (Machado, 1996:44-45), ssa classificagio tem sido empregads para caracterizar os grupos surgidos a parts da década de 1260 ae asiulam 2 conga no poder do Espirito Santo com valores da Teloga da Prosperdade € gue, por sua énfase no presente, teriam uma moral mais flexivel Ver Fresten [a ake pr Alexivel. Ver Freston (1993); M jus estranhas. Hoje, série de denominagées 10 administrativas distintas: a de 2000, circunscrita ao muni Rio de Janeiro, € a de 2002, relacionando as disputas pela presidéncia da Repablica, pelo governo es ¢ pelo Poder Legi icados atores politicos evangélicos nos processos majoritarios e propor- ais dos dois pleitos, este estudo $6 toca marginalmente na participagao de An- privilegiando as disputas em torno dos po- eres de base estadual, ou seja, competigdes relacionadas ao Executivo e & repre- sentagio parlamentar no e do estado do Rio de Janeiro. Cabe esclarecer ainda que, embora se compreenda a importincia dos estudos sobre a participagto do cidadio comum nos processos eleitorais,> « mesmo da in- fluencia da variével religidio no voto,4 o objetivo central das duas pesquisas apresen- tadas neste livro era investigar a porosidade das esferas religiosa e politica a partir das trajetdrias, discursos e atitudes dos atores com insergo na politica institucional do es- tado do Rio de Janeiro. Isso demandou um esforgo muito grande da equipe de pes- quisa, que tinha pouca familiaridade com as técnicas de investigacéo de processos cleitorais, mas que foi aprimorando seus procedimentos com Ieituras, participagio em debates c eventos cientificos, assim como no préprio enfrentamento dos desafios que iam se colocando ao longo dos cinco anos. Nesse sentido, a implementagio dos pro- jetos pode ser caracterizada por duas fases: uma primeira de identificagio dos atores religiosos em disputas eleitorais, suas comunidades confessionais, agremiagdes parti- arias e agenda politica, e uma segunda fase relacionada com a atuagio dos parla- mentares evangélicos durante o primeiro ano de seu mandato. © exame da participagao dos atores religiosos no proceso eleitoral exigiu io de diferentes estratégias, uma ver que a ide confessional rio esta entre as informagdes exigidas pelo Tribunal Regional Eleitoral no mo- mento do registro de candidaturas, nem € sempre utilizada pelos candidatos como al. De qualquer maneira, os perfis dos diferentes candidatos fo- c do Tribunal Superior Eleitoral, e analisado o quesito ocupagio para se verificar a existéncia de registros de pastores, missionérios ¢ bispos. No pe- ‘odo previsto pela legislasio brasileira para as campanhas na midia, gravaram-se todos os programas do Horirio Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) trans- mitidos & noite na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, foram realizadas varias APRESENTACAO visitas templos, comités cleitorais ¢ sedes de diret6rios regionais dos partidos po- icos, bem como clipping das noticias politicas dos jornais © Globo, Jornal do Bras ¢ Folha Universal. * Sate A literatura especializada assinala que, nas sociedades conte f has sociedades contemporiineas, a mi- dia em geral tem a fungio fundamental de intermediar a relagio dos cidadios co- ‘muns com a politica e que, justamente por isso, é muito importante trabalhar essa Sine nas anilises dos processos eleitorais. Para Bonelli (1996:85), a atuasao los jornais, por exemplo, “nao constitui apenas um meio de informasdo, mas trans- forma-se muitas vezes em fatos de campanha, sendo incorporada no discurso dos candidatos, que, dependendo da situagao, ora eriticam as reportagens produzidas pelos jornais, ora utilizam-se das mesmas, visando capitalizé-las politicamente em favor de suas candidaruras”. : mscamens Da mesma forma, os meios eletronicos sto percebid . sio percebidos como importantes ‘quadros de referéncias” ou “atalhos cognitivos eficientes” para orientar 2B opine sobre politica.° Para além dos telejornais e programas de debate, que aproximam o ladio comum da esfera pablica, o HGPE constitui um apreciivel canal de co- municasio dos candidatos ¢ agremiagGes partidérias com 0 eleitorado, servindo para nortear as q Assim, a ia aparece neste livro no 36 como fonte documental onde se buscam informagdes sobre as candidaturas, os eventos do periodo eleitoral, os resul- tados das urnas € 0 exereicio do mandato, mas também como um espago de cons ‘trugo de carreiras politicas e de embates de idéias ¢ interesses dos mais diversos atores coletivos ¢ individuais da sociedade brasileira. Por isso, simultaneamente A montagem do banco de dados com as informagses dos dois processos eleitorais, fo- ram coletadas todas as noticias sobre os atores religiosos neles envolvidos até julho de 2005, tanto na midia impressa de cariter secular, quanto no periédico semanal € de maior tiragem no universo evangélico — a Falha _ A partir desse esforgo inicial, foram confeccionadas listas pre candidatos evangélicos que deveriam ser acompanhados mais sistematicamente me~ diante buscas em sites, coleta de material de campanha nos comités ele nominagbes ¢ tentativas de entrevistas € importante esclarecer que identificar tais atores no & um desafio s6 issio religiosa dos candidatos no aparece no registro de candidatura, tatados alguns casos em que a conversio era mantida em sigilo, seja por- sisténcia aos cultos de suas respectivas Nesse por 2 que 0 candidato entendia que sua escolha espiritual tinha um cunho privado, seja Nessas situagdes, s6 mesmo a indiserigio de um trava vinculado. Esses casos serio informados ao leitor durante a and- lise do comportamento parlamentat. No caso das eleigées de 2002, as dif que, além do Executivo estadual, estava em Rio no Senado, na Camara Federal ¢ na Assembléia Legislativa, o que ampliou em ‘o mimero de candidaturas a serem monitoradas. Além disso, 0 acompanha- mento das candidaturas do interior do estado ficou prejudicado pela distincia geo- grifica das igrejas e dos comités eleitorais. A maior parte dos legisladores de con- sa identificada depois do pleito provinha justamente dos mut mais longinquos. De qualquer modo, uma vez identificados os lagos religiosos dos legisladores, procurou-se obter informagoes sobre sua trajetéria politica e a parti- cipagio da estrutura eclesidstica nos processos eleitorais de que pat Para acompanhar 0 exerci rante 2003, além do monitoramento da midia, adotaram-se os seguintes procedi- mentos: pesquisas nos sites da Camara de Vereadores, Assembléin Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Camara Federal e Senado, com o intuito de recolher dis- cursos, e projetos ¢ leis aprovados; observasio nos plenérios das diferentes instin- cias do Poder Legislativo; visitas a centros sociais ¢ entidades filantrépicas vincu- ladas aos candidatos € entrevistas com estes. Ao longo dos cinco anos, foram en- trevistados: quatto vereadores,® 19 deputados estaduais? e seis deputados federais.*° ‘A organizacio do material seguiu a cronologia dos pleitos, mas foram intro- duzidas informagées para atualizar os dados apresentados nas duas partes em que se onganizam os textos produzidos em diferentes momentos das duas pesquisas. Na par- te I, analisou-se a importincia da dimensio religiosa no processo eleitoral ocorrido ‘em 2000 no municipio do Rio de Janeiro, Capital do estado que ocupa 0 quarto lugar lades foram bem maiores, uma vez puta a representagio do estado do fissio x de Castro, Alosio Fret ,, Andra Zito, Edna Rodrigues, Maria das Gracas Pereira Aparecida Pansset, Antonio |: Ferreira, Edson Alber- 1rackO 13 ‘em populagio evangélica no ranking das unidades federativas, essa cidade tem-s tacado também como cenétio de disputas dos grupos religiosos que enveredam cespaco da politica com o objetivo de ampliar a influéncia de suas respectivas de ‘minagoes na esfera pablica. A énfise na identidade confessional, assim como refe- réncias constantes a elementos religiosos por parte dos candidatos sugerem que 0 en- fajamento em comunidades religiosas tem favorecido 0 surgimento de novas lide~ rangas locais, mas atrelado a esse processo verifica-se o acirramento do corporativismo € do cilentelismo na cultura politica. Para discutir esses pontos, prvilegiou-se no prit gislativo no ple ‘ocupacional dos eleitos, ¢ discutiu-se 0 fortalecimento, naquele pleito, do pentecos- talismo, em especial da Igreja Universal do Reino de Deus (urd). Finalizando, exa- rminou-se 0 comportamento parlamentar dos evangélicos nos primeiros 18 meses de imandato na Camara Municipal do Rio de Janeiro, bem como a relacio com a estrutura eclesidstica que os apoiou. Como as mulheres representam mais da metade dos fd gélicos no estado ¢ havia uma pentecostal na disputa pelo Exec ‘minou-se, no segundo capitulo, a participagao das mulheres nos processos propor cional € majoritirio. Com varias candidaturas femii evangélicos parece também afinados com a preocupagio de est das mulheres na arena px E mais, quando se compara a p: a da vereanga, percebe-se que nao existem diferengas significa 05 € a sociedade inclusiva no que se refere & participagio das mulheres na ‘tucional. Para aprofundar essa discussio, analisaram-se as carreiras po- ticas ¢ as propostas das novas liderangas para o municipio e, mais especificamente, para a populacio feminina carioca. A parte II é composta por cinco capitulos relacionados com 0 proceso po~ 10 de 2002 & exercicio do poder politico por parte de atores evangélicos, (0. Inicia-se com o exame da participacio dos atores religiosos flu- ges para o Poder Legislativo na esfera federal. Em seguida, exa- laturas para a Camara dos Deputados, apresentando o perfil s6- cio-ocupacional, a distribuigio por denominagies religiosas ¢ agremiagdes partidé- tias, bem como os temas explorados nos programas do HGPE e na publicidade impressa, Nas consideragdes finais retomou-se a hipétese central da pesquisa, na tentativa de demonstrar que, embora se perceba uma tendéncia crescente de uti- lizagio do engajamento em atividades assistencialistas como recurso eleitoral, a per- tenga religiosa al recurso acionado pelos atores politicos desse segmento, minenses nas minam-se as can 4 No quarto capitulo, discutem-se os efeitos do fortalecimento da capacidade de influéncia dos evangélicos na esféra piblica, bem como do deslocamento de al- guns segmentos dessa tradigio religiosa em diregio a esquerda ¢, mais particular- mente, do Partido dos ‘Trabalhadores (PT), que, desde sua fundagio, teve o apoio ico, analisaram-se as diversas reagdes & forte presenga dos evangélicos no cenitio politico estadual, tecendo-se algumas consideragdes sobre as negociag3es dos diferentes atores is com 0 novo presidente da © quinto capitulo discute a presenga dos atores religiosos na disputa pela re- presentasio na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Seguindo o procedimento adotado para as candidaturas 20 Congresso Nacional, tragou-se um breve perfil dos a da participagio desses atores is € 0 engajamento em movimentos associativistas. Em seguida, analisaram-se as justificativas para a entrada na p itucional, os 508 de parentesco e 0 apoio das agremiagbes partidérias e religiosas as candidaturas. Foram discutidas ainda as posigdes dos evang rclagées entre os poderes Legislativo e Executivo, demonstrando que, a despeito das virios sio os parlamentares criticas aos programas Fome Zero ¢ Cheque-Cidack que adotam o estilo assistencialista de se fazer ps lo, que apre- tado do Rio de Janeiro ¢ tem por objetivo esclarecer os fatores que impulsionam as integrantes de comunidades religiosas sexistas para a participagao nas instituigdes as essencialmente masculinas. Nesse sentido, foram examinadas as estratégias adotadas pelas candidatas na disputa pelo voto € apresentado o perfil socioeduca~ cional das evangélicas eleitas. Em seguida, descreveram-se as distintas trajerias politicas ¢ examinou-se a relagio dessas evangélicas com os dirigentes das comu~ sas e das agremiagées partidarias, bem como a atuagio dessas novas No altimo capitulo, sio apresentados alguns elementos para a anilise da atua~ #0 dos evangélicos que representam o estado do Rio de Janeiro na 52 Legislatura da examinou-se a importincia do capital rel tituigio das carreiras politicas dos parlamentares ¢ as justificativas para o ingresso na vida pablica. Em seguida, discutiram-se as representagdes dos atores no das agremiagées religiosas e partdarias, com o objetivo de entender a mobilidade interpartidaria e os conflitos entre os interesses das estruturas eclesiésticas ¢ dos su- 9s individuais exercendo mandato naquela casa. Para finalizar, teceram-se algumas APRESENTACKO 15 consideragées sobre as deniincias de envolvimento de Carlos Rodrigues em escin- dalos econdmicos € atos de comupsdo € apontou-se a desestabilizagio do grupo po Iitico da Igreja Universal do Reino de Deus naquela casa como uma das mais im- ortantes conseqiiéncias desse processo. Cabe agora um agradecimento as pessoas e instituigées que contribuiram para a elaboracio deste livro. Ao CNPq, pelo importante e decisivo apoio a rea- Tizagio das pesquisas que integram este projeto. A Faperj, pelas bolsas de iniciagao cientifica que permitiram a participagio de alunos do Curso de Graduagio da Es- cola de Servigo Social da UFRJ nas diferentes fases da investigasio. Aos alunos Fa- biana Figueiredo, Carla Rabelo, Roberta do Couto Si, Cristhiane Passos Guima- ries, Clara Bande Martins, Elaine Geérgia Freise Pires Claro, Fernanda Collopy, Michelle Borelle e Marcia Regina Tarra, pelo dedicado trabalho de apoio no levantamento ¢ organizagio dos dados. As amigas Cecilia Lo- eto Maria, Silvana de Paula ¢ Myriam Lins de Barros, pelas leituras crticas, su= gestdes © 0 constante € rico dilogo. Ao Instituto de Desarrollo Econémico y So- cial, que me recebeu pata a realizagio de um pés-doutorado em 2005, periodo em que, entre outras coisas, me dediquei a atualizacio e A sistematizagio dos dados aqui apresentados. Por fim, & Escola de Servigo Social, pelo apoio logistico, sem 0 qual seria impossivel a realizagio deste projeto. ee Introdugéo N., primeiros anos do século XI, assistimos a uma intensificagio do debate pablico sobre a permeabilidade das fronteiras entre o religioso e a pol © as conseqiéncias desse fendmeno para a democracia brasileira. Cientistas soci Jomalistas, politicos, militantes feministas e a intelligentsia c demonstram grande preocupasio com a ampliagio da participasao dos evangélicos 1a politica, interpretando esse fenémeno como um retrocesso no processo de se- cularizagao dessa esfera da vida social." Segmento com discreta atuagio no cenatio politico até os anos 1970, os evangélicos ganharam visibilidade durante a Assembléia Constituinte de 1988, quando @ maioria de seus representantes se posicionou de forma alinhada nas dis- cusses parlamentares, atuando como uma bancada religiosa, mais precisamente cevangélica. As investigasdes sobre a inserglo eclesial e 0 comportamento dos atores iosos naquele contexto!? destacavam o logismo, o conservadorismo ¢ corporativismo dos evangélicos, mas também a debilidade das teses do apoliticismo dos setores pentecostais, que constituem a mai is desse universo reli~ gioso.'’ Certamente, 0 apoio politico do movimen evangélico Maioria Moral a Ronald Reagan e, mais recentemente, a George Bush, assim como as propostas conservadoras dos dois presidentes dos Estados Unidos constituiram experigncias paradigmiticas que alimentaram as especulagdes nos setores que formam a opini#o representam cerca de 15% da popu 14% corresponderiam a grupos denominados missio; igdes evangelicas, publica brasileira e propiciaram o engajamento de novos atores sociais na discussio sobre a publicizacio das religides: os militantes dos movimentos gays. A politizagio dos coletivos evangélicos é, porém, um fenémeno que se verifica ‘em outros paises do continente latino-americano e, a partir dos anos 1990, varias pes- quisas foram realizadas sobre 0 comportamento politico desse segmento religioso em sociedades como Guatemala, El Salvador, Nicarigua, Costa Rica e Peru.!4 Na leitura cxitica de Dodson (1997), a despeito das diferengas entre essas configuragdes histé ricas, trés quest6es perpassam a maioria dos estudos: os pentecostais sio politica- ‘mente conservadores? Essa caracteristica advém das crengas e valores religiosos ou da situagio de exclusio social? Ou 0 comportamento politico atual dos fis pentecostais constitui um desdobramento de uma indiferenca em relagao ao mundo da politica que € anterior & conversio religiosae fruto mesmo de sua situaglo de excluido? A resposta ‘a.essas perguntas, afirma o estudioso, requer a articulagio entre a natureza do sistema politico de cada sociedade nacional com a mudanga na correlagio de forgas das ins- tituigdes religiosas locais, ou seja, a observacio da diversidade. © apoio eleitoral de segmentos evangélicos, historicos e pentecostais, aos candidatos Hugo Chavez, na Venezuela em 1998,)° ¢ a Luiz Indcio Lula da revelaria posteriormente que a heterogeneidade iden- tificada nas doutrinas e priticas religiosas poderia também estar presente na arena em determinados contextos histéricos. Assim, em vez de tratar os grupos religiosos como coletivos monoliticos politicamente, seria muito mais proficuo exa- minar as miltiplas possibilidades de articulacio do ethos religioso com 0 compor- tamento eleitoral e politico; o embate das estruturas eclesiésticas na tentativa de ob- ter legitimidade na esfera publica; as aliangas das liderangas religiosas com os pro- fissionais da e, finalmente, as relagdes dos figis com essas liderangas religiosas. A ampliaglo da agenda de investigacio sugere a parcialidade das andlises, que se concentram seja no comportamento eleitoral dos fiéis, seja na atuagio po- litica dos dirigentes, ¢ simultaneamente assinala a necessidade de um maior didlogo entre os cientistas politicos ¢ os estudiosos do fendmeno religioso. Esfera publica e o lugar da rel A discussio atual sobre a presenga das religides na esfera publica brasileira se organiza em torno de dois eixos: o principio legal da separagio entre o Estado € a ¥ Ver Stewart-Gambino e Wilton (1997); Cleary ¢ Sepilveda (1997), entre outros 45 Smilde, 2004, "8 Oro, 200ta; Almeida e Cheibub, 2008, inteoouckO 9 Igreja ¢ a tese da privatizagio da moralidade ¢ da religiao.!? © processo de dife- renciagio funcional das esferas econdmica, politica e religiosa tem uma relacio se~ minal com a modernizagio das sociedades ocidentais e constitui o nicleo do pa~ radigma da secularizasio, A pertinéncia e os limites desse paradigma tém sido am- plamente debatidos na literatura especializada,1® o que permitiu que me concentrasse nos pontos centrais da andlise de meu objeto de estudo. primeiro deles diz respeito & equivaléncia freqientemente estabelecida en- tre os fendmenos heterogéneos que compdem 0 processo de secularizagao. Autores como Casanova ¢ Paula Montero tém procurado demonstrar que, embora se trate de processos conexos, a laicizagdo do Estado e a privatizasio da religiao sio fe- rnémenos distintos ¢ s6 uma anilise que reconhesa essa distingdo poderi explicar a presenga publica das religides nas sociedades contemporineas. Para Casanova, en- quanto a separasio do Estado em relagdo as religiSes expressa um processo histérico identificado nas sociedades cristis ocidentais, o apartamento da religito da esfera piblica tem um cariter mais normativo e prescritivo, ainda que tenha desempe- nhado papel fundamental na constituigdo da ordem liberal. Exemplar nesse sentido € @ amuaso da Igreja Catélica, que, embora tenha aceitado a separagdo em relacio a0 Estado, reluta até os dias atuais em admitir o principio da absoluta privatizacao da religiio ¢ da moralidade. O caminho para a compreensio do estatuto da religiio no mundo moderno seria abandonar 0 viés ideolégico que caracteriza como ilegitima toda ¢ qualquer atuagio piblica das religides e verificar as diferentes possibilidades de articulagéo dos grupos confessionais com a sociedade p se-ia pensar a entrada da religido na esfera publica para proteger nao s6 sua prépria liberdade religiosa, mas todas as liberdades ¢ direitos modemos e 0 proprio direito de existéncia de uma sociedade civil e democritica. E nesse caso a religiio estaria ajudando a constituir e/ou manter a ordem social e politica liberal. ica. Num primeiro cenério, poder- *” Luiz Werneck Vianna (20018), por exemplo, angumenta que a emergenla das denomiabes, evangticas no tereno ans porae da politica republianaé (..) alm de surpreendente, paradox porque nfo apenas contaria a tadigaorepublicana de apartar a esfera da eligito da esera da px te por adotar umn crente(ejo comportamento tem sido o de um pastor smo candidato presidencial, pss 0 vertignoso clo de modernizasio vivenciado pelo pals in que, na interpretagfo socioligca dominant, teria apro- popula, uma attude em favor de valores eeculrizados rmbell, 2002; Montero, 2002; Pirucs, 1989; Herview-Legen, 1997; 18 Casanova, 1999 e 2001 Oro, 2001 20 rouinica € Outra possibilidade seria a presenca da religido na esfera publica para ques- tionar as pretenses de autonomia absouta das eaferasseculares de se organizar de acordo com principios de diferencagio funcional, desconsiderando valores éticos € morais. Nessa possibilidade, as religises questionariam 0 armamentismo, a desi- gualdade social do capitalismo ete. ¢ procurariam impor limites a ordem social e & ica liberal, Num terceiro eenério, o obj a est pablica seria proteger 0 mundo da vida tradicional da Iégica administrativa ou ju- ica do Estado, questionando a ética discursiva moderna no que se refere & for- macdo de normas ¢ vontades.!9 Emerson Giumbelli (2002) vai além das proposigdes de Casanova e ques- tiona o valor analitico do préprio modelo liberal de separagio do Estado em relasio a religido. Segundo esse autor, ‘nfo se pode confundir a extraordinéria forga his- tsrica desse modelo com sua pertngncia enguantoinstrumento heuristic, Afin € muito provével que em nenhum lugar onde se tenha tentado a sua aplicagio cle corresponda ao funcionamento efetivo da rlagdes entre Estado e religito". Nessa perspectiva, o modelo liberal de separagio das esferas passa a ser uma das varias modalidades possiveis de relagio do Estado com as religiées, com as historias na- cionais nos fornecendo os elementos fundamentais para a compreensio das con- trovérsias contemporineas sobre a atuacio publica dos grupos religiosos, metade do século XX, a criagio do Partido Democrata Cristo (PDC), os movimentos Agio Catdlica ¢, mais recentemente, as CEBs ¢ os carismiticos —, percebe-se que as linhas demarcaté por demais s dos parlamentares fluminenses em torno da politica, dos partidas e do Le- vo. Antes, porém, faz-se necessirio apresentar esse personagem social que en- } Cazanova, 19994147. Wwreovucio 2 tra na cena politica e demonstra que a identidade religiosa pode ser tio ou mais im- Portante do que as identidades partidarias, que, pelo menos em principio, deveriam orientar as condutas politicas no sistema da democracia representativa, formasées culturais com importantes desdobramentos na politica institucional. Na esfera da cultura propriamente dita, os dados dos recenseamentos do Instituto Bra- sileiro de Geografia ¢ Estatistica de 1991 e 2000 demonstram a aceleragio na ten- déncia de declinio dos catélicos ea intensificagio da expansio dos evangélicos e dos sem religio, para ficar nas trés categorias numericamente mais significativas, As- sim, enquanto os catdlicos passaram de 83,3%6 para 73,8%6 da populagio brasileira, os evangélicos dobraram de tamanho em termos absolutos, apresentando no in: tervalo de uma década uma taxa de crescimento de praticamente 100%20 E. aqui é importante esclarecer que a curva ascendente desse grupo religioso encontra-se di- retamente relacionada com o movimento de diversificacio e difusio do pentecos- tecostais, nas Protestantes histéricos, com sua taxa subindo para 67% em 1991 e 68% em 2000.2! Demonstrando uma invejével capacidade de selecionar, ressignifi Porar elementos de outras tradigbes confessionais™ e da cultura pi vimentos sociais desenvolvidos nos tiltimos 20 anos do século XX,?3 0 pentecos- talismo adquiriu uma plasticidade ¢ um caréter dinimico que parecem paradoxais com o tradicionalismo que marcou a maior parte da histéria desse ramo do evan- selismo. Basta lembrar que entre as principais caracteristicas identificadas pelos es- tudiosos desses grupos até meados dos anos 1980 estavam: a rigidez moral, 0 apo- ina € 0 apartamento da cultura brasileira, expresso, entre Outras coisas, na severa condenagio do futebol ¢ do Carnaval 2+ 22 [Nesse contexto de intensas ¢ significativas mudangas, 0 Rio de Janeiro se destaca por varios motivos: ¢ a unidade federativa com a maior proporsio dos “sem religido” (15%), fendmeno que, sem divida, deve contribuir para o fato de esse e3- tado apresentar a mais reduzida taxa de catdlicos do Brasil: 57,2%.5 © Rio ainda se sobressai pela forsa politica dos segmentos confessionais que integram esse uni~ verso. Deve-se registrar que Rosingela Matheus € a terceira lideranga com essa identidade religiosa a exercer 0 Poder Executivo estadual nos iiltimos seis anos.° E aqui, uma vez mais, os pentecostais se destacam, pois s4o 0s grupos evan- gélicos mais competitivos € com maior capacidade de transferir influéncia da esfera religiosa para a esfera politica. Esse sucesso nas disputas eleitorais ¢ resultado, entre outras coisas, de um rapido processo de formagio de liderangas ¢ uma intensa so- cializagio dos figis, ¢ expressa, sem duvida, uma revisio na concepsio de politica e de cidadania de parte dos grupos pentecostais Essa é uma questo importante, uma vez que muitos cientistas sociais ja cha~ € um grande desinteresse pela coisa publica na maioria da populagio e que esse qua- dro € uma decorréncia do fato de predominar entre nés uma concepgio elitista de politica que restringe a participagio do cidadio comum ao ato de eleger seus go- vernantes nas cleigdes p as.27 Uma investigacao realizada em meados da década de 1990, na Regiio Me- tropolitana do Rio de Janeiro, com o objetivo de detectar o nivel de interesse pi- blico, 0 senso de dever em relagdo coletividade e o grau de envolvimento do ci- dadio na vida politica indicou que somente 1,7% participava de associagées de ¢ alunos, 2% declararam filiagao a algum partido politico, 5% estavam filiados a al- guma associagio de moradores, 5,8% tinham vinculos com entidades filantrdpicas € 13,6% cram sindicalizados.”* Ou seja, é muito reduzida a disponibilidade do ci- dadio fluminense para se envolver em agremiagSes associativas e na tarefa da gestio da coletividade. Na sociologia da religifo, a pesquisa sobre os evangélicos fluminenses, rea- lizada pelo Instituto de Estudos da Religito (Iser) na mesma época, confitmou a tese da fragilidade da consciéncia cfvica, mas conseguiu detectar distingSes inte- thony Garotinho, seu esposo, e Benedita da Silva, que tentou se recleger nas o cong chepa a segundo ero, 28 Carvalho, 2000-111. inrropucko 23 ressantes entre as denominagées. Para comesar, demonstrou que, embora apresen- tassem baixos niveis de participacio politica e associativa, os integrantes da Turd se destacavam com os niveis mais altos de participasio cleitoral entre os evangélicos. Concluiu, ainda, que era forte 0 envolvimento dos figis da Turd com as estrat cleitorsis das liderangas de sua igreja. S6 para ilustrar, enquanto 56% dos figis de to- das as denominagées concordavam com a frase “o politico que traz beneficios para minha igreja merece meu voto”, essa idéia recebeu o apoio de 78% dos membros da Turd. Situagio similar foi identificada na avaliagio da idéia de que “o politico evan- Bélico € mais confidvel e honesto do que os politicos em geral", com os integrantes da Iurd apresentando uma taxa de concordincia muito superior & dos integrantes das demais expressées religiosas evangélicas.”? Resta verificar se o acirramento da competisio religiosa nestes 10 ultimos anos alterou esse quadro. % Fernandes, 1998:198-199, PARTE | oe ee Eleicgo de 2000 no municipio do Rio de Janeiro Como cidadios temes direitos ¢ deveres. Mediante esta afirmasto poso * No lado conservador, o PL se destac “ pelo moe rimero de candidaturas — 18 (21%) — e, certamente, isso se deveu & presenca de politicos evangélicos na Sesto estadual dessa agremi deputado federal Carlos Rodrigues (Iurd) era o pi = Region do Estado do Ja entre os progressistas, o PT foi aquele no qual se identificou maior participagio dos evangélicos — sete candidatos (89). A entrevista com 0 vereador € pastor Edmilson Dias* ilustra bem as dificuldades enfrentadas pelos evangélicos que se candidataram por esse partido (grifos meus): © PT me deu algum material de campanha. Mas desde 0 inicio me dis- criminou por eu ser evangélico. Meu tempo ma tleviso ra reduzisimo, praca io fila Eu te spio do Nice Cro do PT, do Comit Evangélico e de alguns irmios de f. As liderancas mais antigas das assem bléias de Deus reetam o PT porque eles tém muito medo do comunismo ¢ do socialismo. Na verdade nom o PT queria um candidato evangélica, nem mi ba Igreia queria um pastor se candidatando por esse partido (.). a, embora nfo tenham sido identificadas as licos, constatou-se um grande nimero de can- ular Socalista (PPS), Pa (DT). a era casado, com terceio graue pastor aular da Assembleia de De 33 A REUIGIAO COMO VIA BE ACESSO A roll didaturas vinculadas as denominagées As: lia de Deus (11) ¢ Turd (10),54 faro sie Gomprovs o investimento crescente dos pentecostais ¢ neopentecostas na esferg Politica brasileira. Diferentemente da Turd, na qual a cipula da Igreja assumiu a Aefinisto dos nomes, 2s estratégias © a orientagio das campanhes, « lideranga da Assembleia de Deus mostrou-se dividida, com parte do pastorado apoiando a can- didatura de Eliseu Kessler (PTdoB) ¢ uma parcela sighificativa seguindo as ori- Entasoes do pr, Everardo Dias, que, a frente do Comité Evangélico, trabalhou en ‘usiasticamente em favor de seu irmio — o pr. Edmilson Dias (PT).%6 Em termos de estratégia, constatou-se, no material de campanha, 0 uso do De cittico como um adendo a0 nome de pelo menos 14 eandidatos (16%). beonjunto,faziam parte bispos, seis pastores, um presbitero, duns pastors, ‘onérias €, pelo menos, uma obreira” Entrevistas com os el itos, con- fudo, indicaram que o nimero de candidatos com cargos ecesisticos extern ons bestimado, uma vez que alguns politicos restringiram esse tipo de estratégia a0s en- Conttos nas comunidades religiosas. Esse foi o caso do vereador Monteiro de Cas. Co dues nos meios de comunicasio, exploroa basicamente sua identidade profisional nose segs Médico-odontolégicos pretados a populagio carente. Pastor da Turd, sot Yereador nio foi, como tratado mais adiante,o nico beneficiado pela insergio na hierarquia dessa Igreja. Segundo Ledncio Rodrigues (1987), a entrada pentecostal na politica ni re- entre na politica de uma forma autonoma ¢ re dade’. Ainda que prefira evitar as generalizagdes ¢ assinalar o ca iver cotporativo dessa estratégia, tenho que admitit a pertinéncia dessa argumentagéo para a Igreja Universal do Reino de Deus. Afinal, observei nas candidaturas vincalades cee de- prigintoo: asembleianosapesentiran-se como candids do PE PMDB, PL, PPB, PTN « Pregl’ & membros da Turd se langaram como representantes do PL, PPB, PTB, BGT. PAG & Prona. eyo gute denominas es idemtfcadas foram: Ie Salvasio, Igreja Congregacional e ternacional Evangelica Magalhtes Bartoe if Em Porto Alegre, Oro (2001858) no identfcou candideamee ee dade da AD em torno de determinadas candid nalista dessa den » Bispo Gi resiteriana, Igreja Metodista, Exército da explicou a flts de uni pastora Marina (PRTB) (PTdoB), missonéria Vera Lit 34 rotinca € aeuciko a logan “fé para mudar” apa nominagio que, além da énfase no titulo eclesidstico, o slogan “fé pi recia come fon senha que servia para identificar os postulantes diretamente apoiados yela hierarquia. ee = De pono de vista do imaginirio do eleitor, estudos sobre as campanhas el torais para a Camara de Vereadores do Rio de Janeiro ¢, mais especificamente, Ge tratégias € materiais de divulgasio das candidaturas jé identificaram a oee comands confeonais grog «epainss como um mec p dicar a condigao de pertencimento do candidato e/ou as bs ee cleitores.5® Em se tratando da configurasio dos atores politicos evangélicos, pod dizer que a mengio a0 cargo eclesidstico cumpritia um duplo papel: sinalizaria ance candidato compartilha do etbos ¢ da visio de mundo do grupo evangélico para a a campanha foi dirigida, mas também destacaria a autoridade do especialista do sa~ grado. ‘Analisando as bases da representagio politica, Bourdieu (1989:190) disngue dois tipos de capital politico: o que se detém a titule peseal € 0 que se : = i r delegasdo (como mandaticio de determinada instituigio ou orguizate). pa meiro tanto pode resultar da notoriedade, caso em que oer a opus ade ¢ 20 reconhecimento, quanto estar eee = copia bee = lo 7 na asio ante em algumasinagto de crise. Gralmente, os postlantes a cargos eletivos Ian ni dda formas de eapitdpra coma emp dose tores, mas nio se pode ignorar que, no grupo aqui estudado, o cargo ecl consti um capt simi muito forte a comurdade decent Do ponto de vista da instituiglo, entrevistas com os represent: oe ae xaram claro que, no caso da Turd, além da preferéncia pelas candidaturas de pas =r bispos € obreiros, havia grande empenho dos dirigentes em controlar a partcpasio de seus integrantes na dsputa politica. Descrerendo osurgimento de sua can 0 vereador ¢ pastor Paulo Mello (PMDB) afirmou em entrevista que: © apoio dos votos. Jun- a Igreja trasa o perfil da pessoa e escolhe para dar 0 apt tows fome com a vontade de comer: os drgents tinham umn perfil para ‘o candidato da Igreja e o meu se enquadrava no que eles queriam. fives jéstica na campanha implicava -ngajamento/investimento da estrutura eclesiistc P no oe materia, ras também orientagSes do Conslho de Bispos © assessria 1996; Scorn, 1996, lo tinha 32 anos, era casado e cursava 0 terecito grau. ‘A REUGIAO COMO VIA DE ACESSO A FotiniCA 35 dle uma equipe politica diigida pelo deputado federal Carlos Rodrigues, Nas palavras do vereador Paulo Mello: foi montado um QG — um verdadeiro quartel-general — que indicava quem seria candidato, em que regiio da cidade deveria concentrar sua

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