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Introdução
A caracterização do problema
Na Vila Socó, até então uma comunidade sem muita expressão, localizada entre duas
pistas da rodovia que liga São Paulo ao Litoral, em Cubatão, ardeu em chamas, na madrugada de 24 de
1
Antonio Fernando Navarro é Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e Mestre
em Saúde e Meio Ambiente, tendo atuado como Gerente de Riscos em atividades industriais por mais de 30 anos.
Também é professor da Universidade Federal Fluminense – UFF.
fevereiro de 1984, devido ao vazamento de 700 mil litros de gasolina de um dos dutos que atravessava a
Comunidade. A “faixa de dutos, área empregada para o assentamento de vários linhas de dutos, era
sinalizada, isolada e situada entre as duas faixas de rolamento. Como em determinado trecho essa faixa se
alargava e ficava mais próximo de Cubatão, foram sendo construídas palafitas por sobre as linhas,
enterradas. Em alguns trechos mais na baixada o que se via era um terreno alagadiço, daí a razão das
palafitas. O combustível que vazou de um dos dutos, alguns chegaram a dizer que moradores, explorando
pontos de corrosão haviam perfurado a tubulação para furtar gasolina, misturou-se com a água do mangue
sob as casas de palafitas. Uma faísca provocada por fósforo ou o curto circuito em fio elétrico de um dos
casebres pôs fogo à mistura de água com combustível. As chamas chegaram rapidamente ao oleoduto e
provocaram a explosão. Os dados oficiais divulgados à época informavam que houve 93 mortos e mais de
4.000 feridos. As casas sobre palafitas foram sendo construídas e ninguém se preocupou, aparentemente,
com a questão dos riscos, até a ocorrência do acidente. Como o local passou a ser densamente povoado as
inspeções rotineiras da empresa proprietária dos dutos deixam de ser feitas, com medo da reação dos
moradores. As razões das causas do acidente não foram apresentadas à imprensa, mas as consequências
sim.
Culpar-se a empresa responsável pela faixa de dutos chegou a ser cogitado. Culpar-se os
governos municipais também, pois havia distribuição de energia elétrica e de água, mas a faixa percorria
vários municípios. Culpar-se o governo estadual também não deu certo. As vidas que desapareceram na
densa fumaça dos combustíveis em combustão, essas talvez fossem as culpadas, segundo muitos. No final
das contas, isso em 1984, não havia os responsáveis diretos e todos se esquivaram de suas
responsabilidades.
As pessoas e o meio ambiente estão sofrendo cada vez mais os efeitos dos desastres
naturais devido a diversas razões, tais como altas taxas de crescimento populacional e elevada densidade
demográfica, migração e urbanização não planejada, degradação ambiental e possivelmente a mudança do
clima global. O grande alcance dos impactos socioeconômicos dos desastres naturais causou uma mudança
na abordagem política para lidar com o conceito de risco nas sociedades modernas.
Comparando as duas últimas décadas, o número de pessoas que morreram em desastres
naturais e não-naturais foi maior na década de 1980 (86.328 ao ano) do que na década de 1990 (75.252 ao
ano). No entanto, mais pessoas foram afetadas por desastres na década de 1990 – de uma média de 147
milhões ao ano na década de 1980 para 211 milhões de pessoas anualmente na de 1990. Embora o número
de desastres geofísicos tenha permanecido bem constante, o número de desastres hidrometeorológicos
(causados pela água e pelo clima) aumentou (ver gráfico na página seguinte). Na década de 1990, mais de
90% das vítimas de desastres naturais morreram em eventos hidrometeorológicos, como secas,
tempestades de vento e inundações. Embora as inundações tenham sido responsáveis por mais de dois
terços das pessoas afetadas por desastres naturais, essas são menos fatais do que muitos outros tipos de
desastres e equivalem a apenas 15% das mortes. (IFRC, 2001) [...]2
[...} No Brasil novo, para o Governo já não tão novo, não existem problemas ambientais.
O Governo novo do Brasil consegue resolver todos os problemas ambientais apenas pensando intensamente
neles ou, claro, discutindo sobre os mesmos. O uso dos transgênicos, a transposição do Rio São Francisco, as
queimadas, o saneamento urbano... tudo, tudo está sob o eficiente e inteligente controle popular e
participativo do governo. O último episódio desta extraordinária capacidade, quase telepática, de resolver
os problemas, é que a pavimentação da BR-163, que vai cortar em duas partes o Sul da Amazônia, ligando
Cuiabá a Santarém, não é apenas uma obra indispensável para o desenvolvimento nacional, mas também
será um grande beneficio ambiental e social para a região.
O anúncio foi feito por quem, no Governo Federal, deveria estar preocupado pelos
impactos ambientais e sociais negativos desta obra: o Secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA.
Segundo ele, tudo está “equacionado” nesta obra magna. O povo, todo o povo da região, concordou com a
necessidade inadiável da estrada e sua pavimentação; os eventuais conflitos com os indígenas e com as
populações tradicionais foram todos resolvidos para satisfação geral, os impactos ambientais foram
adequadamente previstos e serão mínimos e devidamente compensados e, no final, todo mundo ganhará
com essa obra que será econômica, social e ambientalmente a melhor já feita na Amazônia... Isso é um
recorde impressionante, levando em conta que jamais na história dessa região uma estrada foi construída
com resultados tão positivos. Nem se permitiu tanto otimismo no passado, no momento de empreender
uma obra dessas.
2
IFRC, 2001, http://www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/cap2_desastres.pdf, 05/08/2012
3
Extraido do site http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/artigos/admiravel_brasil_novo.html, 02-08-2012
Essa é uma capacidade única do governo atual: acreditar firmemente que seus desejos
se transformam em realidade... inclusive com seu IBAMA em interminável greve e com o orçamento mais
baixo da história ambiental do País.
Claro que a soja e a madeira enriquecem muita gente, esses mesmos que agora querem
que a estrada BR-163 continue entre Guarantã do Norte e Santarém, asfaltada. São os donos do pedaço e,
aparentemente, também são donos de uma parcela do poder constituído. Não é difícil para esses poderosos
senhores da terra organizar consultas públicas que apoiem, unanimemente, a proposta de fazer mais 953
km de estrada asfaltada. Transporte gratuito, merenda, gorjetas e, depois da bem sucedida reunião pública,
uma generosa ração de cachaça ou cerveja, fazem aprovar qualquer coisa, em especial quando o patrão ou
os prefeitos são os promotores da estrada e os facilitadores da audiência.
Não se está contra o desenvolvimento. Nem sequer se está contra a estrada BR-163, que
vai requerer uma inversão de quase um bilhão de Reais – pouca coisa se fosse o preço verdadeiro. O que se
está é contra a política da avestruz, ou de não querer ver e assumir o que realmente vai acontecer nessa
região antes, durante e após a construção. Já neste momento, toda a terra disponível ao longo dessa
estrada está sendo negociada, ou já está ocupada pelos mesmos ricos que promovem sua construção. O
IBAMA e a FUNAI, quando pretenderem criar ou ampliar unidades de conservação e territórios indígenas,
não vão encontrar nada que não esteja já ocupado, com “benfeitorias”, que deverão pagar a preço de ouro
ou “deixar para lá”. Não existe nenhuma razão que permita acreditar que o desenvolvimento selvagem, que
já aconteceu na mesma estrada, não continue até Santarém, especialmente na situação de calamidade em
que se encontra atualmente o setor ambiental.
Isso significa desmatamento sem respeito à Lei, destruição de matas ciliares, roubo de
madeira nas áreas indígenas e Unidades de Conservação, caça sem controle, garimpagem e contaminação
de rios e mais grilagem de terras. Um representante do Ministério da Agricultura disse que essa estrada e
esse uso da terra são indispensáveis “para dar de comer à população carente, em especial do Norte”.
Qualquer um sabe que o Brasil produz mais de três vezes sua demanda interna de grãos. Seria mais
inteligente ter assumido que toda esta produção é destinada para a campanha da Fome Zero Mundial,
promovida pelo Governo, ou pelo menos reconhecer que ela serve para acabar com a fome do gado da
Europa e da China. O problema da soja e de outros produtos de exportação massiva é que, junto com ela, se
exporta nossa água, os nutrientes de nosso solo e quiçá o potencial agropecuário futuro do País. A
agricultura intensiva acaba com os recursos hidrológicos, perde e contamina os solos e, claro, elimina a
biodiversidade de que o Governo atual tanto fala. O Governo nem consegue perceber o absurdo de tolerar
ou fomentar a destruição de todas as espécies animais e vegetais de milhões de hectares cada ano, ao
mesmo tempo em que, em nome da biodiversidade, praticamente paralisa a pesquisa científica nacional e
realiza perseguições ridículas aos pesquisadores estrangeiros, acusados de “biopiratas”.
E o mais triste disto tudo talvez seja que, depois de inverter milhões nessa estrada e de
destruir outra enorme porção de nosso verde, a soja caia de preço, devido ao aumento de produção previsto
nos EUA, e/ou que apareçam doenças como a ferrugem, que elevem o custo de produção, fazendo não
competitivo seu cultivo.
Até quando o novo Governo vai se comportar como vendedor de ilusões? Quando vai
amadurecer e entender, por exemplo, que os resultados macroeconômicos positivos das exportações de
commodities como a soja não se transformam necessariamente em benefícios sociais ou macroeconômicos?
De outra parte, quantos novos automóveis Ferrari e quantos novos jatinhos e helicópteros importados vão
poluir as ruas e o ar de São Paulo? Quantos bancos internacionais vão dispor de novas contas de
brasileiros?
Maria Tereza Jorge Pádua Ambientalista, fundadora da Funatura Fonte: Revista Eco 21,
Ano XIV, Edição 96, Novembro 2004. (www.eco21.com.br) [...]
[...] Os problemas sociais não são aqueles que vêm à tona com as fortes chuvas,
inundações, vendavais, pela força das marés ou pelo deslizamento de encostas. Antes que esses fenômenos
ocorram já existe uma situação propícia ao acidente. Os eventos são o meio de manifestação dos problemas
sociais. E por que há problemas sociais? Os problemas passam a ser sociais na medida em que afetam as
sociedades, e aqui não se faz distinção de classes. Um deslizamento de uma encosta pode fazer ruir
mansões ou barracos. Um transbordamento de rio leva as mansões e os casebres. Na Serra Fluminense, nos
Municípios de Petrópolis e de Teresópolis as chuvas torrenciais afetaram comunidades que viviam em
condomínios residenciais luxuosos nas beiras dos rios e aquelas que ficavam posicionadas em encostas
instáveis. A diferença entre essas era a da classe social e grau de riqueza. Mas nessas, tanto os moradores
das encostas quanto as casas de luxo, de veraneio, não deveriam ter sido edificadas ali. As fortes chuvas
apenas mostraram a todos a fragilidade de uma natureza que não foi preservada. As legislações não foram
atendidas pelos moradores e nem fiscalizadas pelo Poder Público.
O grande problema das cidades brasileiras é que o crescimento da cidade é feito pela
sociedade de forma caótica e depois é que a prefeitura procura adaptar esse crescimento no seu
planejamento urbano, se porventura existe. Essa é a realidade.
Todos os desastres naturais brasileiro têm na sua geografia de risco, um rio ou fundo de
vale ou cadeia de montanha ou litoral ou encosta ou área alagada associadas a fatores climático, em que a
cidade se desenvolveu e continua a crescer. Só o governo não percebe isso.
E o brasileiro com sua cultura de fatalidade constrói em qualquer lugar e entrega a sorte
a Deus. Quando ocorre o desastre como aconteceu na região serrana, os órgãos públicos não estão
preparados para a emergência.
Como disse Peter Drucker, "a nossa tarefa hoje é estar preparados para um amanhã
incerto ... a previsão de longa duração deverá ter em conta o futuro (decorrente) das decisões presentes".
[...]A importância desse impacto está latente nos jornais e nas TVs, onde se observam,
em diferentes pontos do país, cenas de enchentes associadas a danos materiais e humanos. Considerando-
se que cerca de 80% da população encontra-se nas cidades, a parcela atingida é significativa.
4
http://zonaderisco.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html, acesso em 05/08/2012
em certos trechos as rochas expostas da montanha davam a impressão de terem sido “lixadas”, fenômeno
que não se dá somente quando há deslizamento de lama constituída por argila. [...]
[...] Sob o título “Grandes Desastres Ambientais = Ocupação do Solo + Cobertura Vegetal
+ Fenômenos Erosivos + Plano Diretor Urbano”5 procurou-se condensar as tragédias mais comuns
envolvendo nossas cidades a três aspectos bastante simples, quais sejam, a ocupação indevida ou mal
planejada, que termina por impermeabilizar o solo, provocando o aumento da velocidade com que as águas
percorrem a superfície do solo. O aumento da velocidade produz maiores danos. Outro dos aspectos refere-
se à remoção da cobertura vegetal. Muitos se enganam que remover as matas e plantar grama não altera a
cobertura do solo. Outros substituem as matas nativas pelo plantio de espécies não nativas. A mata, além
dos inúmeros benefícios causados aos serem humanos tem a capacidade de absorver o impacto causado
pela chuva no solo, reduzindo os fenômenos erosivos, Quanto a esse fenômeno erosivo ele pode ser iniciado
com a remoção da vegetação e ou da alteração das características do solo para o plantio de outras espécies
ou atividades agrícolas. O corte de uma encosta para a edificação de uma residência já pode ser um fator
que origine um fenômeno erosivo. Em muitos casos a erosão passa a ser irreversível. A erosão pode ser
natural, como nos cânions, como o do Itaimbezinho, na fronteira entre os estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, ou do Colorado. Outro cânion famoso é o das Cataratas do Iguaçu. Outra causa bem comum
nas áreas urbanas é a falta do cumprimento de uma lei que ficou conhecida como Estatuto da Cidade. A Lei
veio ao longo dos anos objetivando replanejar as cidades. Muitas dessas já adotavam planejamentos
urbanos adequados, com a segregação de áreas de comércio, indústria e residências. A Lei passou a ser
obrigatória a partir de 2005. Os governantes municipais para não serem antipáticos para com as
populações que deveriam ser retiradas das margens dos rios ou das encostas passaram a desenvolver
artifícios como o de promulgarem planos que seriam votados em etapas. Assim, ainda existem centenas de
municípios com mais de 20.000 habitantes onde as leis não foram implementadas.
O desastre ambiental que teve como foco principal o Morro do Bumba, no bairro Viçoso
Jardim, em Niterói/RJ, ficou conhecido em 2010, em função do deslizamento de grande parte de encostas
entre morros. No topo do terreno uma grande comunidade com ruas asfaltadas, luz elétrica e IPTU. No
subsolo, camadas e camadas de lixo acumuladas durante décadas. Era uma tragédia prenunciada, e, se não
5
NAVARRO, A.F., “Grandes Desastres Ambientais = Ocupação do Solo + Cobertura Vegetal + Fenômenos Erosivos +
Plano Diretor Urbano”, disponível em www.scribd.com/antoniofernandonavarro, postado em 18/03/2012
fosse pelo deslizamento de terra o seria pelo metano liberado por espessas camadas de lixo acumulado
durante décadas. Na verdade, essa é a perspectiva de todos os lixões existentes pelo País. Hoje
desperdiçamos muito e pouco reaproveitamos. Nossos modelos de reciclagem e de segregação de lixo
estão ultrapassados e quase sempre vêm à galope de algum interesse financeiro.
6
Resultados obtidos em pesquisas de campo para a redação da dissertação de mestrado de NAVARRO, A.F, pela
Universidade da Região de Joinville/SC, em 23/07/2005
passam a ser vistas como oportunidades de votos em processos políticos, bastando para tal as promessas
de melhorias aparentes das áreas, como a construção de praças e a pavimentação de ruas.
Assim, apresentam-se neste artigo considerações técnicas que passam a ser importantes
não só para o Urbanismo como também para o Planejamento Urbano.
Discussão do tema
A relevância do tema para os Urbanistas e para aqueles que elaboram Planos Diretores
Urbanos é notória, já que os desastres causam sempre um impacto visual negativo e a consequente
comoção social. Os noticiários jornalísticos voltam-se com maior frequência para os eventos onde a
quantidade de mortos é elevada. Passado o período sensacionalista, as populações atingidas aguardam
passivas as propaladas ajudas governamentais, os auxílios espontâneos das populações e, depois de não
lograrem êxito na tão almejada nova moradia terminam por retornar aos locais atingidos, cumprindo-se
assim um ciclo contínuo. Novas tragédias, novas vítimas, novas promessas, desencanto, novas tragédias, ...
A relação de cidades atingidas e do que ocorreu após as tragédias pode variar pouco,
mais em função da “cultura da população atingida” do que da classe social dominante na área. Blumenau,
cidade periodicamente assolada por cheias seguidas de transbordamento do rio Itajaí Açu é um rico
exemplo. Em alguns períodos ou épocas as ocorrências se deram pouco antes de sua principal festa anual
em outubro. Os moradores motivados pelos ganhos proporcionados pela Ocktober Fest deixavam a cidade
como se nada tivesse ocorrido lá. Os visitantes ficavam impressionados com a mobilização dos moradores,
que suplantava a mobilização dos governantes.
No ano de 2011 sete municípios do Rio de Janeiro foram assolados por fortes chuvas,
que causou o deslizamento de encostas e o transbordamento de rios. Neste caso a tragédia nivelou as
classes sociais, atingindo ricos e pobres. Ainda hoje se percebe que pouco foi feito para a recomposição
local, faltando pontes, ruas e moradias. Será que as diferentes culturas existentes em nosso país podem
contribuir para a mobilização das pessoas mais rapidamente?
(...) Quando uma palavra se torna tão popular que começa a pipocar em todos os
lugares, em todo tipo de contextos minimamente relacionados, ou até mesmo nos não relacionados, isso
quer dizer uma de duas coisas: ou ela se tornou um clichê sem sentido ou tem uma consistência conceitual
verdadeira.
"Ecológico" (ou, pior ainda, "virar ecológico") cabe inteiramente na primeira categoria.
Mas "sustentável", que à primeira vista remete a um sentido igualmente vago de virtude ambiental,
pertence à segunda. É verdade que ouvimos a palavra se referindo a qualquer assunto, de carros à
agricultura e à economia. Isso ocorre, porém, porque o conceito de sustentabilidade é, em essência, tão
simples, que se aplica legitimamente a todas essas áreas e a outras ainda. (...) Michael D. Lemonick (Revista
Scientific American Brasil – Terra 3.0 – ed.1)
Os ribeirinhos, que residem sobre palafitas nas margens dos rios amazônicos, não saem
de suas casas, muito pelo contrário. Por compreenderem o regime das cheias, constroem suas moradias em
locais à salvo das águas. Quando essas chegam eles lá continuam. Quando as águas baixam, eles
aproveitam a terra úmida para o plantio da mandioca e de umas poucas hortaliças. Após a colheita,
satisfeitos, aguardam novas cheias. Para eles, “é normal”. E os residentes em encostas? O que esperar.
Suas casas se deslocam junto com a lama. Juntar? Não há mais.
Segundo a concordância da maioria dos autores, a resiliência pode ser difundida entre
vários aspectos da vida e deve ser compreendida pela consideração de fatores anteriores e posteriores às
circunstâncias vividas. É um fator extremamente importante para este novo século em todas as áreas da
vida: pessoal, profissional, da saúde, social, familiar, ambiental, cultural, etc., pois estamos vivendo
momentos de grandes transformações e provas. A resiliência pode ser pensada como capacidade de
adaptação ou faculdade de recuperação. Alguns autores enfatizam a capacidade de “fazer bem com as
coisas”, apesar das diversidades, ou seja, soma-se à capacidade de resiliência uma “faculdade de
construção positiva”.7
7
Galieta, I.C. Resiliência, o Verdadeiro Significado, Fae Businnes School Administração, São Paulo, 2010.
De acordo com Yunes e Szymans (2012)8 Na língua portuguesa, a palavra resiliência
aplicada às Ciências Sociais e Humanas vem sendo utilizada há poucos anos. Nesse sentido, seu uso no
Brasil restringe-se ainda a um grupo bastante limitado de pessoas de alguns círculos acadêmicos. Nossa
experiência tem mostrado que a maior parte dos colegas da área de Psicologia, Sociologia ou Educação não
conhecem a palavra e desconhecem seu uso formal ou informal, bem como sua aplicação em quaisquer das
áreas da ciência. Por outro lado, profissionais das áreas de Engenharia, Física e Odontologia revelam certa
familiaridade com a palavra quando esta se refere à resistência de materiais.
8
YUNES, M.A.M & SZYMANS, H. RESILIÊNCIA: NOÇÃO, CONCEITOS AFINS E CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS, Psiquiatria
Geral, http://www.psiquiatriageral.com.br/psicossomatica/resiliencia_nocoes_conceitos.htm, acessado em
14/02/2012.
personalidade ou de perfil de temperamento, que levam a um conjunto de características observáveis que
definiriam a "criança resiliente".
... Em 1981, Rutter publica um livro que trata da relação entre a ausência da figura
materna e o desenvolvimento de psicopatologias na criança (Rutter, 1981a), com um capítulo que versa
sobre resiliência e o comportamento parental de adultos que na infância tenham sofrido abandono. Entre
as principais questões levantadas pelo autor, aparece a mais freqüente formulação inicial dos estudos
sobre resiliência: Por que, apesar de passar por terríveis experiências, alguns indivíduos não são atingidos e
apresentam um desenvolvimento estável e saudável? Rutter (1987) define resiliência como uma "variação
individual em resposta ao risco", e afirma "que os mesmos estressores podem ser experienciados de
maneira diferente por diferentes pessoas". De acordo com esse autor, a resiliência não pode ser vista como
um atributo fixo do indivíduo", e "se as circunstâncias mudam a resiliência se altera" (1987: 317).
Tais observações procuram dar ao conceito um toque de relatividade, que nem sempre
aparece nos estudos quantitativos que usam medidas e critérios estatísticos baseados em comportamentos
observáveis para identificar crianças resilientes num determinado ponto de suas vidas. O estudo
desenvolvido por Martineau deixa claro que "resiliência tem diferentes formas entre diferentes indivíduos
em diferentes contextos, assim como acontece com o conceito de risco" (1999: 103).
As consequências dos desastres naturais não são sentidas igualmente por todos. Pobres,
minorias, mulheres, crianças e idosos são frequentemente os mais afetados em desastres naturais em todo
o planeta.
9
BRAGA, T.M; OLIVEIRA E.L. & GIVIZIEZ G.H.N. Avaliação de metodologias de mensuração de riscos e vulnerabilidade
social a desastres naturais associados a mudança climática, Revista São Paulo em Perspectiva, v. 20, n. 1, p. 81-95,
jan./mar. 2006.
de pesquisa em desastres naturais. Destacamos abaixo dois autores que clarificam pontos essenciais do
debate que dão suporte às escolhas metodológicas da presente proposta.
Para O’Riordan (2002), a vulnerabilidade a desastres naturais pode ser descrita como a
incapacidade de uma pessoa, sociedade ou grupo populacional de evitar o perigo relacionado a
catástrofes naturais ou ao fato de ser forçado a viver em tais condições de perigo. Tal situação decorre de
uma combinação de processos econômicos, sociais, ambientais e políticos. Cardona (2004), que também
propõe pensar vulnerabilidade a desastres naturais em uma perspectiva abrangente, identifica três
componentes principais em sua composição: fragilidade ou exposição; suscetibilidade; e falta de resiliência.
Fragilidade, ou exposição, é a componente física e ambiental da vulnerabilidade, que captura em que
medida um grupo populacional é suscetível de ser afetado por um fenômeno perigoso em função de sua
localização em área de influência do mesmo, e devido à ausência de resistência física à sua propagação.
Suscetibilidade é a componente socioeconômica e demográfica, que captura a predisposição de um grupo
populacional de sofrer danos em face de um fenômeno perigoso. Tal predisposição é decorrente do grau de
marginalidade, da segregação social e da fragilidade econômica às quais um determinado grupo
populacional se encontra submetido.
10
TAVARES, S.O.; QUINTELA, D.; VIEGAS, D.X.; GOIS, J.C.; BARANDA, J.M.; MENDES, J.M.; CUNHA, L.; NEVES, L.;
FIGUEIREDE, R.; PATRICIO, J.; RIBEIRO,J.; SILVA, N.G. & FREIRIA, S.Plano regional do ordenamento do territótio do
centro – CCDRC, Riscos Naturais e Tecnológicos – contributo para a síntese de diagnóstico e visão estratégica,
Coimbra, Portugal, 2007.
proativas, preventivas e planeadas aos acontecimentos que possam afetar as expectativas, o objetivos
estratégicos e tácticos das organizações.
R = Σ Pi x (E x Vi)
E – Exposição ou elementos em risco (conjunto de bens a preservar e que podem sofrer danos por ação do
perigo);
Pretende-se que este tema aqui tratado parcialmente seja complementado a posteriori.
Para que se apresente um modelo de avaliação, passamos a apresentar modelo construído para avaliação
dos impactos ambientais e sociais decorrentes da implantação de empreendimento industrial de grandes
proporções, afetando, direta ou indiretamente 11 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisas
complementares demonstraram que as maiores preocupações das populações eram com os aspectos
sociais decorrentes, Muitos chegaram a dizer: ... E depois? O que será de nós? Quem será por nós?
Claro é que modelos podem ser construídos e desconstruídos de acordo com as visões
dominantes e interesses momentâneos. Desta maneira, apresenta-se um modelo de avaliação, para em um
momento seguinte tratarmos da questão da modelagem dos riscos e vulnerabilidades sociais.
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