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Livro: Projetos Pedagógicos na Educação Infantil Resumo pg.

15 a 30- Era uma


vez... Trajetos e Projetos

Constantemente em nossas vidas elaboramos e reelaboramos projetos, na


maioria das vezes, se planeja antes de se fazer algo. Os projetos são utilizados em
diversas áreas do conhecimento, pórem neste texto será enfocado o campo educacional.
Na passagem do século 19 para o 20, foi constituído um movimento educacional
chamado Escola Nova, que levantou questões sobre os sistemas educacionais no mundo
ocidental, problematizando a escolarização, as concepções de criança, de aprendizagem
e de ensino. Suas propostas teóricas e metodológicas tinham como objetivo a crítica e a
construção de uma visão crítica da educação convencional. Os escolanovistas como
Decroly, Montessori e Dewey se agruparam em torno de ideias reformistas. No Brasil,
as ideias reformistas se reuniram no documento denominado Manifesto dos Pioneiros da
Educação (1932), aonde procuraram criar formas de organização do ensino que
tivessem características como a globalização dos conhecimentos, o atendimento aos
interesses e as necessidades dos alunos, a sua participação no processo de
aprendizagem, uma nova didática e a reestruturação da escola e da sala de aula. Nessas
experiências, encontram-se estratégias para a organização do ensino, como os centros de
interesses, os projetos e as unidades didáticas.
Decroly criou os centros de interesses, onde os conteúdos são organizados de
maneira globalizada, as matérias de ensino são unificadas e todas as atividades escolares
são estruturadas em torno de um único tema preestabelecido pelo educador a partir da
pesquisa sobre aquilo que considera interesses dos seus alunos.
Dewey, um dos representantes da pedagogia de projetos, acreditava que o
conhecimento só é obtido através da ação, da experiência, pois o pensamento seria o
produto do encontro do individuo com o mundo. Essa proposta de trabalho possibilita
aos alunos aprenderem, sobretudo ao partilharem diferentes experiências de trabalho em
comunidade. A principal função da escola seria a de ajudar a criança a compreender o
mundo. Para Dewey, preparar para a vida seria pôr a criança em condições de procurar
meios de realização para seus próprios empreendimentos e de realizá-los verificando
pela própria experiência o valor das concepções que esteja utilizando. Quatros passos
eram considerados norteadores da construção de um projeto: decidir o propósito do
projeto, realizar um plano de trabalho para sua resolução, executar o plano projetado e
julgar o trabalho realizado.
No século XX houve tentativas de implementação dos projetos nas escolas
americanas, mas não alcançou êxito devido ao programa escolar de concepção
tradicional ter uma infinidade de conteúdos obrigatórios; definidos; uniformes;
fragmentados e um controle sobre o tempo, sendo preciso estipular o período de duração
dos projetos antes de sua execução. A fim de superar tais problemas, criou-se um jeito
novo de organizar o ensino, as unidades didáticas, tão comuns na educação brasileira.
Assim, a pedagogia de projetos foi esquecida e interpretada equivocadamente.
Atualmente, podemos ainda agregar como proposta de organização de ensino os
temas geradores (Paulo Freire), aonde os conteúdos, as atividades dos educandos giram
em torno de temas que relacionam-se com a realidade socioeconômica e cultural em que
se insere o aluno. Hoje em dia, os projetos ganham uma nova roupagem, na qual
estejam incluídas também o contexto sócio-histórico.
Porque voltar a falar em projetos?
Os motivos que fizeram essa forma de organizar o ensino voltar ao contexto
educacional são:
• Devido às ideias pedagógicas do inicio do sec.XX terem sido
silenciadas, o uso descontextualizado de técnicas perdurou, assim a escola do sec.20,
continuou utilizando um ensino que foi pensado no século 19.
• Grande parte da população ter tido acesso a escolaridade, pórem
não ter sido sinônimo de aprendizagem.
• A dinâmica da vida das sociedades atuais pressupõe outro modo de
educar as novas gerações e que as novas características da infância e da juventude não
têm sido consideradas nos modos de pensar e de realizar a educação escolar.
Diante disso tudo é preciso uma modificação da estruturação e organização da
vida escolar, ressignificando as aprendizagens e as vivências dos alunos. E a pedagogia
de projetos pode ter papel significativo para que essa mudança ocorra.
A sociedade contemporânea aponta para a passagem de um paradigma
disciplinar para um interdisciplinar ou transdiciplinar. Assim, trabalhar na escola um
currículo apenas disciplinar, é seguir na contramão do mundo atual (da construção do
conhecimento científico). Outra conquista importante é em relação a verdade, hoje
dificilmente convive-se com a verdade única, com as certezas prévias, mas sim com as
incertezas e as diferentes interpretações. Conhecer é estabelecer um diálogo com a
incerteza. As escolas devem ser espaços privilegiados para a aquisição e a
problematização do conhecimento.
Os processos de aprendizagem humana vêm sendo estudados pela psicologia da
aprendizagem, as primeiras interpretações vinham da biologia, numa visão
maturacional, ou seja, a herança genética era o fator essencial para a aprendizagem e as
novas aquisições de comportamento e de cognição viriam das mudanças na maturação.
No século XX, predominou um modelo ambiental da aprendizagem, baseado no modelo
skinneriano aonde, por mais que a biologia contribuísse no desenvolvimento, era da
adaptação ao ambiente que emergiriam os novos procedimentos. No fim do século 19,
tanto o pragmatismo quanto as ideias construtivistas vão dar ênfase à ação, isto é, as
relações entre os sujeitos e o ambiente. no socioconstrutivismo, há uma superação da
polarização entre o inato e o ambiental, portanto o conhecimento é construído
socialmente, nas interações entre os sujeitos e o ambiente físico e social onde se
encontram. No paradigma construtivista afirmam que o desenvolvimento ocorre pela
ação dos indivíduos sobre o ambiente, aonde a biologia e a experiência desempenham
papéis iguais e recíprocos no desenvolvimento humano. As habilidades de
desenvolvimento das crianças são vistas como ligadas ao conteúdo e à estrutura das
atividades de que elas participam juntamente com os adultos dentro de uma cultura e a
aprendizagem só acontece quando se vive em um contexto organizado para o seu
surgimento. Essa visão proporciona a passagem de uma perspectiva da aprendizagem
individual e racional para uma perspectiva social e multidimensional. Portanto, para
provocar aprendizagens, é preciso fazer conexões e relações entre sentimentos, ideias,
palavras, gestos e ações. Segundo Rinaldi, a aprendizagem é um processo de construção
da razão, dos porquês, dos significados, do sentido das coisas, dos outros, da natureza,
de realização, da realidade, da vida. È um processo de auto e socioconstrução, um ato de
verdadeira e própria co-construção.
O cérebro humano é um sistema aberto e fortemente plástico, e cada vez está
afirmada a ideia que a inteligência é o processo de estabelecer inter-relações entre as
estruturas cerebrais. A inteligência vai sendo formada à medida que o sujeito se vê
frente a situações desafiadoras (reais ou abstratas) que acontecem cotidianamente nas
relações com o meio.
Gregory, afirma que podemos encontrar dois tipos de inteligência: a do
conhecimento armazenado (potencial) e a do processo e da resolução de problemas
(cinética). A escola sempre trabalhou apenas com o desenvolvimento da inteligência
potencial, que está ligada à memória, o ensino focado na capacidade de receber
passivamente informações, processar e produzir respostas. Pórem, também é preciso
destacar a inteligência do processo, do movimento e da criação. Ao longo do século 20,
acrescentou-se a capacidade de projetar. A formação humana tem compromisso com o
desenvolvimento de ambas as inteligências.
O mundo atual globalizado está organizado em rede, constituindo-se em um
sistema aberto, aonde os atores precisam se apropriar de seus códigos e linguagens
simbólicas, a escola precisa participar disso. Deve sair da função de transmissora de
conhecimentos a serem acumulados para assumir a capacidade de atuar e organizar os
conhecimentos em função das questões que se levantem. As mudanças ocorridas nos
últimos 50 anos, saem da concepção segundo a qual as crianças eram vistas como seres
em faltas, incompletos, para uma concepção das crianças como protagonistas do seu
desenvolvimento, realizado por meio de uma interlocução ativa com seus pares, com os
adultos e o ambiente que as rodeiam. Quando se propicia na educação infantil a
aprendizagem de diferentes linguagens, possibilita-se às crianças colocar em ação
conjunta e multifacetada esquemas cognitivos, afetivos, sociais, estéticos e motores.
Uma pedagogia diferenciada começa a ganhar espaço a partir de 1960, que
valoriza as diferenças no modo como são selecionados os conhecimentos, as
experiências socioculturais, as diferenças subjetivas das crianças e suas histórias de
vida. E uma das formas de contemplar essas questões é a pedagogia de projetos. Há
varias linhas de trabalho sobre projetos com princípios políticos e pedagógicos
diferenciados, portanto não há uma única forma de trabalharmos com projetos, vai
depender do grupo com qual se irá trabalhar para se utilizar um projeto, desde que não
sejam feridos os princípios básicos, pode ser adaptado e transformado. Compreender
etimológica e pedagogicamente o que é projetar torna-se fundamental para se construir
caminhos nessa trajetória.

Resumo feito por Maíra Saporetti Carvalho

Fonte:
Disponível em:mairasaporetti.blogs.com.br/2012/10/livro-projetos-pedagogicos-
na-educacao.html. Acesso em 09 jan 2013

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