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A legítima defesa encontra-se regulada como uma das causas excludentes da ilicitude.

Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,


repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (art.  25, Código
Penal). Tais requisitos devem ocorrer de forma concomitante para que reste
configurada a legítima defesa.
Vejamos o seguinte exemplo: o agente pratica o crime de homicídio simples para
defender-se de agressão injusta e atual. Este é um fato típico (conduta que se amolda
ao tipo definido em lei como crime) cuja pena varia de 6 a 20 anos de reclusão.

Todavia, praticado o fato em legítima defesa, o crime deixa de ser punível, conforme
preleciona o art. 23, II, do Código Penal:
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
II – em legítima defesa;
Referido instituto sofreu considerável banalização por parte da sociedade,
principalmente após o Decreto 9.685 de Janeiro deste ano, o qual flexibilizou a posse
de armas. Contudo, o que grande parte da população parece ignorar, é o fato de que se
a arma em sua posse for utilizada e o indivíduo tentar ou efetivamente matar alguém,
irá ser processado criminalmente.
Assim, se o indivíduo realmente agiu em legítima defesa, deverá comprovar durante a
instrução criminal ou ainda no inquérito policial, que repeliu injusta agressão. Na
visão de Cezar Roberto Bitencourt (2012, p. 911),

O exercício da legítima defesa é um direito do cidadão e constitui uma causa de


justificação contra uma agressão injusta. Quem se defende de uma agressão injusta,
atual ou iminente, age conforme ao Direito, praticando, portanto, uma ação
reconhecida como valiosa.

A legítima defesa não confunde-se com a realização de justiça com as próprias mãos.
Tal atitude é vedada pelo nosso ordenamento jurídico e encontra-se tipificada no
art. 345 do Código Penal:
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à
violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.
No que concerne à agressão injusta, Bitencourt (2012, p. 915) explica que “injusta
será, em suma, a agressão ilícita (não necessariamente típica e antijurídica) que não
estiver autorizada pelo ordenamento jurídico.” Nesse sentido, a injusta agressão é um
dos primeiros fatores a serem analisados para verificar a existência da legítima defesa,
visto ser imprescindível para o exame dos demais pressupostos (BITENCOURT,
2012).

O que acontece se o sujeito acredita tratar-se de agressão injusta e na verdade, não há


nenhuma agressão?
Para melhor compreensão do leitor, vejamos o seguinte exemplo: dois indivíduos
encontram-se em uma discussão acalorada em uma avenida movimentada. O
indivíduo 1 enfia a mão no bolso traseiro da calça enquanto o outro, indivíduo 2,
possuindo uma arma de fogo em sua cintura, acreditando que o indivíduo 1 irá puxar
uma arma de fogo, pega sua arma e atira no indivíduo 1, matando-o. Após o ocorrido,
descobre-se que o indivíduo 1 iria apenas retirar um lenço de seu bolso.

Referida situação é um típico exemplo de legítima defesa putativa. Segundo


Bitencourt (2012, p. 916),

Ocorre legítima defesa putativa quando alguém se julga, erroneamente, diante de uma
agressão injusta, atual ou iminente, encontrando-se, portanto, legalmente autorizado a
repeli-la. A legítima defesa putativa supõe que o agente atue na sincera e íntima
convicção da necessidade de repelir essa agressão imaginária (legítima defesa
subjetiva).

Por outro lado, para configurar legítima defesa é necessário ainda, que a agressão
injusta seja atual ou iminente. Isto é, a agressão precisa estar acontecendo ou prestes a
acontecer. Caso a agressão seja rechaçada após estes momentos, não há legítima
defesa (BITENCOURT, 2012).

Sob esse viés, Bitencourt (2012, p. 917-918) alude que,


A ação exercida após cessado o perigo caracteriza vingança, que é penalmente
reprimida. Igual sorte tem o perigo futuro, que possibilita a utilização de outros meios,
inclusive a busca de socorro da autoridade pública.

Não obstante, o bem jurídico a ser protegido pela injusta agressão, pode ser próprio ou
alheio. Ou seja, o indivíduo pode defender a si mesmo quanto a outrem. Ademais, a
legítima defesa ainda comporta um último requisito: o uso moderado dos meios
necessários. Rogério Sanches Cunha (2013, p. 244) aduz que “entende-se como
necessário o meio menos lesivo à disposição do agredido no momento da agressão,
porém capaz de repelir o ataque com eficiência.”

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