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CPOOC

GETULISMO E TRABALHISMO:
tensões e dimensões do Partido "Trabalhista Brasileiro

Angela Maria de Castro Gomes


Maria Celina Soares D'Araújo

FUNOIÇAO GETULIO YlRGIS


CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAçAO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL
PTB
RIO DE JANEIRO
1987
� I: J
"
FUNOAÇAO G. I ULtO VARGAS L
INDIPO I CPOOC

CPDOC

GETULISMO E TRABALHISMO:
tensões e dimensões do Partido Trabalhista Brasileiro

Ângela Maria de Castro Gomes


Maria Celina Soares O'Araújo

FUNDICão GETULIO VIRGIS


CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENT AçAO DE
HISTÓRIA CONTEMPORANEA DO BRASIL

RJO DE JANEIRO
1987
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Fund;lç?o G'3tuliü varg,-\i:; I
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Supervisão edito r ial: C r i s t ina Mary Paes d a Cunha

Revisão d e texto: El izabeth Xavier de Ara ú j o

Datilografia: Diva Léa Ribe iro Sylvio

Nota :

Este texto foi concluído em 198 5 e faz parte d a l inha d e


pesquisa "Partic ipação po l í t ic a e Movimentos Soc ia i s " d e s en
volvida no Cpdoc .

Ficha c a t a lográ f i c a

G 6 3 3g

GOMES , Âng e l a Maria de Cas tro .


G e tu l i smo e traba l h i smo : te n s õ e s e d imen s õ e s
do Partido Traba l h i s t a B ra s i l e iro/Âng e la Maria de
Castro Gome s , Maria C e l ina Soare s D'Araú j o . Rio de
Janeiro : Centro d e Pe squi s a e Documentação d e H i s tQ
ria Contemporânea do Bra s i l , 1987.

73p.
1. Bra s i l - H i s tória-Getú l i o Varga s , 1 9 3 0-194 5 .
2 . Bra s i l - H i s tória-Getúlio Varga s , 1 9 5 1- 1 9 5 4. 3. G�
tu l i smo . 4 . Traba l h ismo . 5. Bra s i l -H i s tória-Gaspa r
Dutr a , 1 9 4 6-1 9 5 1. 6. Partido Traba l h i s t a Bra s i leiro.
I. D'Araú j o , Maria C e l in a Soare s . 11. Centro de Pe�
qu isa e Documentação de·História Contemporânea do
Bra s i l . 111. T í tu l o .

CDU 98 1.082
CDD 9 8 1.062
SUMÁRIO

Introduçã o / l

A c r iação d o PTB/ 7

Traba l h i smo e queremismo / 14

O PTB e a s e l e iç õ e s d e 1 9 4 5 / 2 5

O PTB d e 1 9 4 5 até a vo l t a d e Varga s / 34

O PTB e o M in i s tério d o Trabalho/4l

O PTB e a propaganda do traba l h i smo / 4 7

O " queremos " vo l t a à s rua s / 5 2

O trabalhi smo vo l t a a o pode r ? / 5 7

O trabal h i smo sem Varga s / 6 9


Introdução

No pe ríodo que vai de 1 9 4 5 a 1964 três grandes parti

dos marcam a cena da pO l í t ica bras i l e ira: o Partido Social DemQ

crático ( P SD ) ; a União Democrá t ica Nac ion a l ( UDN ) e o Partido

Trahalh ista Bra s i l e iro ( PTB ) . Convivendo com outras organ iz§.

ções part idárias de menor porte e de importância e l e itoral mais

reg iona l i zada , não h á dúvida que PSD , UDN e PTB foram as organi

zações que dominaram o sistema partidár io d o país . Sobre os dois

prim e i ros já ex istem a l guns exce l en t es trabalhos publ icados , o

que nao acontece em relação ao PTB .

Este texto pretende ser uma incursão inicial sobre t�

ma a inda tão desconhecido e para tanto , d e l im i ta c l aramente dois

e ixos de aná l ise . D e um lado , estuda o PTB em um momento h i s tQ

rico preciso que vai d e suas orig ens em 1 9 4 5 até o suicí d io de

Vargas em 19 54. De outro, e l ege como seu foco um dos temas bási

cos do partido , isto é , as r e l ações do traba l h ismo com O g e t u l i§

mo neste período . Esta abordagem e n f a t i z a uma questão marcante

para o desenvolvimento deste partido . A importância da f igura

e do carisma de Getú l io Vargas para a con f iguração ideológica

e organ izat iva do PTB . Fica c l a r o que outros pontos igua lmen

te r e l evantes nao serao incluídos aqui , como por exemplo a a tu§.

ção parlamentar do partido e sua doutrina concebida por vários


2

ideó logos do traba lh ismo .

L ide rando o movimento revolucionário de 1 9 3 0 Vargas a�

cende ao poder , para n e l e perma n e c e r por 1 5 anos consecutivos .

No decorrer desse período foi c h e f e do Governo Provisório ( 1 9 3 0-

1 934 ) ; presidente cons t i tuc ional e l e ito por via indireta ( 1 9 34-

1 9 3 7 ) e a inda di tador de uma ordem autoritária conhe c id a como

Estado Novo ( 1 937- 1 94 5 ) . Após um interregno de quatro anos r�

tornará ao poder em jan e i ro d e 1 9 5 1 , a t ravés do voto popu lar di

reto, para n e l e perma n e c e r até agosto de 1 9 54 quando , a exemplo

de 1 94 5 , rec ebe o veto m i l i ta r e opta então pelo suicídio .

Desde o iníc io de sua carreira Vargas se mostrou um

líder in conteste e hábi l . Sua imagem popu l a r , entretanto , sera

f irmada gradat ivamente , só vindo a se conso l id a r em d e f i n i ti

vo a partir do Estado Novo . Ou se ja , o poder nao foi dec orrên

c i a de sua popula r idade e c a r isma mas , ao contrário , e no exe!:


,

cíc io do poder que esses a t r ibutos são construídos através de

uma e f ic i ente campanha polít i c a e ideológ i c a .

A ascensão de Vargas ao pod e r em 1 9 3 0 será acompanhada

pela preocupação em d e f i n i r um novo pacto polít ico , que sanasse

as m a z e l as da Repúb l i c a Ve lha . Inovar po l i t icamente era o gran

de desa f io para a facção vitoriosa dos revoluc ionár ios . Para

tanto era n ecessá rio a busca de apoios d iversif icados que inclui

am forças m i l itares , setores da burguesia e também ant igas oli

garquias regionais . As d i f iculdades para t a is composições

marcarao exatamente o c l ima d e tensão pOlí t i c a que o país enfren

tará no pós- 3 0 , pa r t i c u l a rmente até 1 9 3 7 , pe ríodo no qua l se

detecta perfe itamente o a c irrado emba t e entre correntes c en trali

zadoras e autor i t á r ias e outras propon e n t es de uma rede f in ição

do federa l ismo e da l ibera l - d emoc rac ia , sem que isso impl icasse

a negação desses princípios .


3

Com o golpe d e 1 9 3 7 que ins taura o E s t ado Novo consª

g r a - s e a proposta autoritária e e l imina - s e po l i t icamente os de

fensores remane scent e s do l ibera l i smo -- a exemplo do que j á se

f i z e ra com os comun i s t a s , que d e sd e 1 9 3 5 foram subme t idos aos ri

gores da Lei de Segurança Nacion a l e do Tr ibun a l de Segurança

Naciona l . Margina l i z a - s e e persegue-se também a extrema-d ireita

organizada na Ação I ntegra l i s t a Bra s i l e ira que , a pe s a r de apoiar

ideologicamente a nova ordem , con s t i tuía uma organização autônQ

ma e d i scipl inada que poderia trans formar - s e em força pOlítica

para l e l a com forte pod e r d e s e s tabi l izador . Com o E s tado Novo

e s tará também f irmada uma s ó l ida a l iança de Vargas com a corpo

raçao militar e e s tabel ecido o compromis so por parte do governo

de promover o d e s envolvimento econômico do p a í s , o que lhe ga rag

tirá o crescente apoio de s e tores da burguesia .

A e s tabi l idade do E s tado Novo e s tava fundamentada ne.§.

s e s comprom i s sos e , principa lmente , no uso intens ivo da forç a

repre s s iva e da propaganda ide o l óg ica . M a s seu suce s s o depeg

d eria também de uma amp l a b a s e d e l e g i t imação que foi buscada

e f icientemente j unto à c l a s s e traba lhadora . O grande trunfo de

Varga s foi a insistente d e f e sa d e que o E s tado Novo represeg

tava o momento ótimo para a implementação no país de uma demQ

cracia socia l , para a valorização do traba lho e para o reencog

tro do Es tado com a nação , a travé s da l iderança pessoal do pr�

s idente .

A pregaçao e s tadonovista fundar á , como sua ideologia ,

o trabalhismo e criará um movimento d e opinião pública favorá

ve l , até mítico , à f igura de G e t ú l io Vargas: o getul ismo . Trª

ba lhismo e getulismo são t e rmos que s e complementam durante a

ditadura , à medida que a d e f e sa e a s conqu i s t a s do trabalho sao

diretamente a s sociadas a imagem do che fe do governo .


4

Findo o Estado Novo e restabe l ecida várias prerrogati

vas democrá t icas , o getul ismo será , sem dúvid a , um marco d i vi

sor na pO l í t ica bras i l e ira . Vargas h avia se conve rtido de fato

na l iderança mais expressiva d a po l í t ica naciona l , nao obstante

a oposição que se acentuava contra a sua permanência no poder .

o processo d e redemocra t i zação de 1 9 4 5 será expressivo de sua

inf luência. Basta l embrar que o s istema pa r t idário surgido ne§.

sa época , foi concebido dentro do l im i tado circuito dos arredQ

res do presidente. Se tomarmos os três principais part idos err

tão criados UDN , PSD e PTB fica c l aro que uma de suas d i ferenças

mais marcantes se referia ao julgamento que faz iam a respe i to

da inf luência do getul ismo n a po l í t ic a naciona l . Resguardando-

se as divergências internas , a UDN representaria a oposição mais

cabal a corren t e que t r a z i a em si o v ício de origem do d i tatoriª

l ismo -- a negação d e uma ordem democrá t ica , l iberal e plurª

l ista . o PSD e o PTB se caracterizariam como agremiações d e cg

nho g e t u l ist a . Seus adeptos v i am Vargas sob uma dupla ótica .

Quer como o grande estad ista e moderno administrador , que soube

apreender as reais necessidades do pa í s , quer como o " p a i dos PQ

bres " e criador da legislação soci a l . Posto isto , e importante


,

sal ientar que o person a l ismo po l í t ico or iundo d a f igura de Va�

gas foi fundamental n a conf iguração d a nova ordem democrát ica .

Enquanto o PSD reunia interventores estaduais que c orr

tro l a vam importantes aparatos administrat ivos e c l i e n t e l ísti

cos , o PTB t inha uma proposta mais d i r e tamente d i r i g ida às e l a§.

ses traba lhadoras . o prime iro , de cunho eminentemente conse rvª

dor , teria por missão precípua garant i r uma transição p o l í t ica

contro lada , que evitasse mudanças abruptas nos rumos po l ít icos

do país; o segundo , estava encarregado de ve icu lar a proposta

traha lhista de Vargas em termos partidá rios . Ambos traz iam a


5

marca da herança g e tu l i s t a , e i s to o s con t rapunha à UDN .

Não obs tante e s t a s trans forma ç õ e s ao f im do E s tado NQ

vo, e importante r e g i s t r a r que a trad ição po l í t ica nacional de

pouca l eg i t imação do s i s t ema partidário não é subs tanc ia lmen te

a l t e rada . Vargas sera n e s s e proc e s s o o exemp lo maior de apaK

t ida r i smo e de um e s t i l o po l í t ico que continuava priv i l egiando

uma relaç ão sem med iações entre l í d e r e ma s s a s . Embora tive s s e

enviado e s forços para o for t a l ecimento d o PTB e do PSD , o que

se pode perceber é que acaba ape l ando com mui to mais ênfase pª

ra s eu próprio c a r i sma pe s s oa l . E s s e e s t i lo de l idar com a

po l í t ica inaugurado por Varga s , f icará profundamente a s s e n tado ,

fará e scola e s e trans formará no que v e i o a s e r uma das pr inci

pais caracter í s t icas do popu l i smo bra s i l e iro .

S e o g e tu l i smo tem a marca inde l é ve l da person a l i zª

çao, o traba lhi smo acabou por ganha r novas l ideranças e, por vg

zes , p e r f i s mais independ entes em r e l aç ã o ao seu marco de ori

gem o Sem s e apre s en t a r como um corpo doutrinário sufici entg

mente e s truturado , o traba lh ismo f o i s endo apropriado de d iveK

s a s formas e inf luenciou a criação de v á r i o s pa rtido s , como , por

exemplo , o Partido Social Trabalhista ( PST ) ; o Partido Trabalhi�

ta Nacional ( PTN) ; o Part ido Repub l icano Traba lhista ( PR T ) ; o

Part ido Orien tador Traba lh i s ta ( POT ) ; o Movimento Traba l h i s t a Rg

novador ( MTR ) , a l ém do PTB , sem dúvida o ma i s s igni f icat ivo de

todos e l e s .

Há que reconhecer que a s d i f iculdad e s para a e s t ruty

raçao do PTB foram grande s , principa lmente porque represen tava

a agremiação que , em princípio , deve r i a herdar o c a r i sma do ex-

pres idente , o que e s t imulava intermináv e i s d i s putas internas .

Por todas e s s a s razões o PTB , até o f im da década de 1950, nao

obstante seu cre scime n to e l e i tora l , não conseguia se trans foK


6

mar numa organi zação partidária forte , proporciona lmente ao pre�

tígio de seu che f e . Esse fato , por sua vez , dava a Vargas um

grande espaço de manobra que , se foi por e l e habi lmente explorª

do , também lhe trouxe o incômodo de não proporcionar uma força

sufic i en temente i n s t i tucion a l i z aoa para garantir o apoio nece�

sário ao seu segundo governo ( 1951-1954 ) .


7

A criação do PTB

Em 3 1 de d e z embro de 1 9 4 4 , no tradicional banquete de

passagem de ano o f erecido pelas forças armadas , Getúlio anun

ciava o f ic i a lmente à nação a breve e x ecução da reforma constitg

ciona l , necessá r i a para a igualmente breve r e a l ização das e l ei

çoes que recond u z iram o país à norma l idade democ r á t ica.

Sua decisã o , tomada nos meses f in a is deste ano , rev�

l a os novos problemas que passsar iam a ser e n f rentados a partir

daque l e momento. A indicação básica de que a pOlítica nacional

i r i a rea lmente sofrer transformações é dada pelo conv ite d i ri

gido a Agamenon Maga lhães -- então inte rventor em Pernambuco--

para ocupar a pasta da Just i ç a . Esta escolha deve ser bem en

tendida, assim como o momento em que foi f e i ta. Agamenon era um

político com inegável experiência e prestígio . Era um interven

tor de ind iscutível l iderança nos meios civis que d ispunh a , ta!!!

bém , de fortes con tatos nos me ios m i l i t a res . Conhecia e manti

nha re laç ões amistosas com o já conh ecido candidato da opos ição

a sucessao d e Vargas , o brigad e i ro Eduardo Gomes.


,

Agamenon fora dos primeiros a perceber que Getúlio nao

t inha outra solução , senão caminh a r para a democracia , e o con

vite para que ocupasse a pasta da Jus t i ç a f o i -lhe d i r igido a inda

em f ins de 1 9 4 4. Contudo , Agamenon só assumiria o cargo em 12


8

de março de 1 9 4 5 , imed ia tamente após a promu lgação da Lei Consti

tuc iona l n 2 9 ( 2 8 / 2 / 1 9 4 5 ) , que f ixava o prazo de noventa d i a s Pª

ra que fossem marcadas as e l e ições e d e t e rminava a e l aboração

de urna l e i e l eitora l .

Até e s s e momento o pro c e s s o pO l í t ico fora conduzido

por Al exandre Marcond e s F i lho , m i n i s tro do Traba lho , Indús tria

e Comérc io que acumulava a pasta d a Jus t iç a e pos tu l ava posi

ç õ e s d i ferente s das d e Agamenon Magalhã e s . Marcondes entend i a

que a mudança d o reg ime deveria t e r início com as e l e iç õ e s pr�

s idenc i a i s e que a Carta d e 1 9 3 7 -- d e v idamente r e formada

poderia ser subme t id a a um p l ebi sc i to , não havendo ne c e s s idade

d e s e cogitar sobre urna As sembl é i a Nac ion a l Const ituinte . SU2

tentava a inda o a l i s tamento e x - o fficio e natura lmente a po s s ível

candidatura d e Varga s . ( O a l i s tamento e x - o f f ic i o era um prQ

cedimento que po s s ib i l i tava a inscrição e l e i toral em bloco de

pes soas que per. t : e n s indicatos , in2

t i tutos previdenc i á r i o s e outras a s soc iaçõ e s . E s s e t ipo de a l i2

tamento tornaria m a i s á g i l o proc e s so e l e i to r a l e aumen taria

incrive lmente o contingente d e e l e i to r e s . Foi usado nas e l ei

ç õ e s de 1 9 4 5 e em segu ida revogado . )

Agamenon , por sua vez , propunha que o proc e s s o t ive2

se início com a convocação de urna Con s t ituinte que , e s tabe l e c en

do um regime const i tuciona l , po s s ib i l i t a s s e a convocação d e e l ei

çoes . O e squema suger ido era seme lhante a o d e 1934 , nao preven

do qualquer procedimento que consagra s s e a ine l eg ib i l idade de

Varga s . Nesse sent ido , o choque entre Marcondes e Agamenon

não se devia a urna po s iç ão pró ou contra a candidatura Varga s .

Para l e l amente à d i scus são sobre a hipótese d e s t a candid a tura , cQ

locava - s e o problema d a l eg i s lação e l e itora l . Era ponto pac í fi

c o que e s t a seria urna a t r ibuição de Vargas e que sua condução e ra


9

abso lutamente d e c i s iva para o r e s u l tado d a s urna s . A e l aboração

do novo código e l e i tora l acaba ficando a c a rgo de Agamenon que ,

a s sumindo o ministério no dia 1 2 de març o , já no dia 9 instala

urna comi s sã o com este ob j e tivo .

Quando e s t a s e reuniu pela primeira vez , Agamenon tran.§.

mitiu- lhe urna orientação bá s ic a conformada em c inco pontos , en

tre os qua i s e s tava a adoção do a l i s tamento s impl e s e ex-offi-

c io . Os demais eram : o voto secreto ; j u s t iç a e l e itoral autônQ

ma ; apuração rápida e imed i a ta e partidos nac iona i s . Este ú l ti

mo ponto é particul armente significa t ivo , porque indica que ,

quando Agamenon a s sume o min i s t ér i o , a d iscussão sobre a nova

e s trutura partidária havia chegado a t e rmos d e finidos . Dada a

tradição regiona l i s t a d a pOlítica bra s i l e i r a , as decisões sobre

a que s tã o partidária c e r t amente tinham que p a s s a r pelo exame

da nec e s s idade de se constituírem partidos nac iona i s . Neste a.§.

pecto , apena s Fernando Cos ta , interventor pau l i s ta e Benedito

Valadar e s , interventor mineiro , d e fenderam a idéia dos partidos

regiona i s . Porém, não era e s ta a ún ica d i f iculdade exi stente Pª

ra a montagem de novos ins trument o s part idários . Certamente hª

via que s e decidir sobre o " t ipo " d e partido " s ituacionista'"' que

iria ser formado , ou s e j a , em que ba s e s se e s t ruturaria sua fo�

ça .

Embora s e j a d i f í c i l acompanhar o curso dos acontecimen

to s , f i c a c laro que , quando Agamenon a s sumiu o comando da polí

tica de red emocra tização , e s tava d e c id id o nao só que os parti

dos seriam naciona i s , corno igualmente que e l e a l iado e speci

a lment e aos interventores dos e s tados do R io , Minas, são Paulo e

Paraná - partiria para a montagem d e um part ido de interventQ

r e s . A s s im , a natureza d o futuro PSD e s tava dada d e s d e o s primei

ros me s e s d e 1 9 4 5 . t p o s s í v e l s i tuar t ambém que , p e l o menos de.§.


10

de març o , e s tava dedic ido que e s t e partido apoiaria o nome do mi

ni s tro d a guerra general Eurico Ga spar Dutra como candidato a


,

pre s idência da República .

o mês d e abr i l é bem ind icativo do avanço das artic.!!

lações e l e itora i s . Dutra f a lara p e l a primeira vez como candidato

no dia 3 e no dia 5 era organizada a comi s s ã o que e laboraria o

programa do PSD . E s t e s preparativos ocorrem s imultaneamente ao

lançamento o f i c i a l d a UDN ( 7 / 5 / 1 94 5 ) . Portanto , o quadro partidª

rio e sua vinculação com as duas c andidaturas e s tava de lineado .

o que não fica imedia tamente e x p l i c i tado é a so l uç ã o

encontrada para a mobil i z aç ão partidária d a s chamadas c la s s e s

trabalhadora s , c laramente iden t i f ic a d a s como b a s e s fundamentais

do E s tado Novo . A rigor , pod e - se verificar que o desejo inic i a l

d o regime era reunir e m u m único e grande partido todas as fo!:

ç a s pO l í t i c a s " do " president e . Ma s , torna - s e difícil sustentar

que e s t e d e s e j o f o s s e naque l e momento uma r e a l p o s s ib i lidad e .

Um dos ind icadores d e s t a s ituaç ã o , é a ausência d e Marcondes Fi

lho d e todo o c on j unto d e reun i õ e s que formulou o PSD . t prec i s o

nao e squecer que uma s é r i e de r e f l e x õ e s e propo s t a s haviam s id o

d e s envo lvid a s ao longo dos a n o s d e 1 9 4 2 -44 , apontando todas para

as d i ficu l d e s conc r e t a s de artic u l a r , em um mesmo partido , como

se pretendia , a s tradic iona i s e l i t e s do p a í s e a s novas l ideran

ças s indica i s .

Certamente G e t ú l io e o s demais " p l an e j adore s " d o proce.§.

so de transição não optariam por uma s o lução partidária que pr�

teri s s e , ou minimi z a s s e , a s tão cuidadosamente a c a lentadas. ba

s e s s indic a i s . O inv e s t imento que Varga s r e a l izara , ao longo dos

anos d a admin i s tração Marcondes F i lho , na formação de uma ampla

base po l ítica no s e io d a s ma s s a s trabalhadora s , quer via �


11

d e s indic a l i z a ç ã o , quer via e s forço doutrinário, é evidência

ma i s que suficiente para a conc lusão do quanto s e apostava neste

f i l ã o pO l í tico . t certo que tal f a to nao implicava dire tamente na

c r iação de um partido " trabalh i s ta " , mas a atuação de Marcondes

apontava para a articulação de um grande partido de massas com

bases s indic a i s .

o exame d e s s e momento permite duas importantes concl11

soes . Primeirament e , o d e senho f i n a l dos traba lhos s ituac ioni-ª.

tas foi feito sob a evidente pre s sã o d a s oposições , articulad a s em

torno da candidatura do brigadeiro Eduardo Gome s . Em segundo 111

gar , s ó em inícios de 1 9 4 5 f ic a e s t abe l e c ido que as forças ligª

das a Vargas se mob i l i z a riam em duas ( PS D e PTB ) e nao apenas em

uma organização partidár ia . M a i s complexo é prec i sa r o tipo de

encaminhamento que esta ques tão recebeu .

Em r e l aç ão a o PSD o problema é mais s imp l e s . Os inter

ventores e s t adua i s , representando o que d e mais s ignificativo �

x i s t i a em termos de novas e l it e s pOl í t ic a s , reúnem- s e para impl�

mentar o seu partido. Com i s s o , e stavam vetando definitivamente

a idé ia de um grande partido de ma s s a s do qual f i z e s s em part e . E-ª.

tabe leciam, igualmente , a c r iação de um partido nacional da cúpu

l a governamenta l e s tadonovi s t a gerido em t e rmo s de c o l egiado e

com b a s e s pOlíticas n i t idamente regionai s . A l i á s , é esta c ombinª

tória que provavelmente superou a que s tã o do partido nac iona l /

regiona l . A de f inição d o formato d o PSD prat icamente e s t ab e l e c ia

o s contornos do outro part ido " s ituac ion i s t a " • Ele deveria re11

nir as novas lideranças s indica i s , que, por sua vez , t ambém vinham

r e s i s tindo a o pro j eto de uma s ó org��o. -1-.,


Rartidária . O PTB , ne-ª.

te sentido , " n a s c e " ao mesmo t empo que o P S D , j á que ambos resul

tam da frustração do pro j eto de " pa r t ido único de m a s sa s " , que vi

nha sendo a c a l entado no seio do E stado Novo . Es t a interpretação ,


12

vale reg i s trar , d i fere substancia lmente do que vem sendo d ito na

l iteratura sobre o a s sunto . A criação d e s s e s d o i s partidos poli

ticos não r e su l ta de um c á lculo maquiavé l i c o que buscava d i s t in

guir bases d i ferenciadas de apoio p O l í t ic o . Ao contrário , o PSD

e o PTB emergem c omo a s o lução pragmá tica possível num contex

to em que as presenças de um s ignific3tivo partido de opo s ição

( UDN ) e de uma forte esquerda organizada ( PC ) forçavam a tomada

imed iata de decisões p O l í t ic a s . Pode - s e d e s c a rtar , porta nt o ,

com segurança , a versão corrente d e que a concepçao d o PTB tenha

s ido uma "invenção de ú l t ima hora " . Não foi concebido exc lus iva

mente para funcionar c omo um contrapeso à força c r e s c ente-- e �

preendente --do Partido Comunista , nem foi imaginado à po sterio ­

r i como a lternativa popular f a c e a o e l it ismo do PSD .

Certamente o PTB foi c r i ado como a melhor opçao parti

dária para o trabalhador bra s i l e iro . N e s s e s e nt ido era uma c�

nha entre as ma s s a s trabalhadoras e o comunismo , mas nao um pa�

tido cujo móvel e sentido fosse o anticomunismo . E s ta

çao, contudo , não implica em minimiza r a i,mportân cia r ea l do Par

tido Comunista na c on j untura de 1 9 4 5 - 4 6 . B a s t a lembrar que Luís

C a r l o s Prestes era a única personal idade p o l í t ic a que podia rivª

l i z ar com Vargas em c a r i sma e pro j eção nacion a l . Além do mai s


o suc e s s o e l eito r a l d o PC n e s s e período , principalmente nas

grand e s capita i s , explic itam ba stante que o comunismo era d e lon

ge muito ma i s do que um argumento de retórica p O l í t ic a .

o PTB não deve ser entendido como mera força reativa do c o

munismo . Por i s s o , pode habilmente r e a l i z a r amplas a l ianças po

l íticas . De um lado , conseguia o apoio de setores conservadQ

re s , a l ertando para o perigo comun i s t a , e, de outro , podia se

aproximar d o PC , util izando a força d e seu apelo popular . Seu

d e s t ino deveria ser o de um grande partido de ma s s a s bra s i l e i


13

ro. Sua ambiva l ên c i a dentro do e s pectro de posições pOl ít icas

po s s íveis , nao era um s in a l de inde f inição . Ao contrário , ela

indicava jus tamente o t ipo d e opção que e s t ava sendo ofereci

da.
14

Trabalhismo e queremis mo


A formação de uma Comi s s ã o Executiva Nacional para

dar organ ização a o PTB d a ta de 1 5 de m a i o d e 1 94 5 , portanto ce�

ca de um mês após o anúncio o f i c i a l da criação da UDN e do PSD .

( A comi ssão era c ompos t a por Luís Augus t o Franç a , Manuel Fons�

ca , Pau l o Baeta Neve s , C a lixto Ribeiro Dua r t e , Antônio Franci�

c o Carva lhal e Romeu José Fior i . Vale observar que tanto a

UDN , quanto o PTB s e organizam a partir de uma comi s são naciQ

na l ; e o PSD foi sendo fundado em cada e s t ado para em seguida

real izar uma convençao nac iona l. ) O provável modelo inspirador

do PTB foi o Partido Traba l h i s t a Ing l ê s , e suas bases foram �

fetivamente montadas a partir da .e s trutura do Ministério do

Traba lho , ou s e j a , com a u t i l ização das l iderança s s ind icais e

dos organismos previdenc iário s .

O PTB nascia sob chance l a governamenta l , mas é int�

res sante observar o tipo de encargo que a cabou por a s sumir e , a

partir d a í , o t i po de r e l ação que se cons truiria entre o PTB e

Vargas . E l a é n i t idamente d i stinta daque l a do PSD , partido que

se articula c laramente tendo c omo laço d e . uniã o , nao so o nome


,

do candidato o ficia l -- Dutra c omo também o nome de �num�


. ,

ras liderança s experimen tadas· do E s tado Novo . O PTB era um pa�


15

t ido sem grandes nomes e aparentemente sem candidato .

Na verdade , se Dutra era o cand idato do governo , ele

deveria ter todo o apoio da máquina pOl í t ica-admin i s trat iva . Ne§

te sentido , o próprio Marcondes , em uma d e sua s falas pp.la Hora

do Bra s il , fez o e l ogio do candidato e d a s qualidades de seu

programa socia l . Contudo , f icava claro que Dutra nao era o

candidato do M i n i s t�rio do Trabalho e que e ste permanecia voltA

do para o lançamento do nome de Getú l io Vargas às ele içõ e s . Qual

seria então o pro j e to do PTB/M i n i s t�rio do Trabalh o , dentro de§

se novo contexto d e meados d e 1 9 4 5? Recorrendo ao depoimento de

Segadas Viana , então d i retor do Departamento Nac ional do TrabA

lho , a indicação � de que os traba l h i s t a s de fendiam a i n s t alA

ção de uma As sembl�ia Nacion a l Con s t i tuint e , a inda com Getúlio

no pode r , pa ra , em seguid a , serem real i z a d a s e l e ições d iretas

em que Vargas pOderia ser candidato . Desta forma , a s candida tg

ras m i l itares não pre c i s a riam ser r e t i r ad a s ; ela s seriam neutrA

lizadas pe lo nome do pres idente. E s t a po s s ibilidade apostava

com segurança no pre s t ígio d e Varga s e d iagnost icava que nem Dg

tra nem o Brigadeiro e stavam conseguindo ou i r iam consegu i r real

popularidade. 1

Este pro j e to "Queremos G e túli o " e " Con s t i tuinte

com Getú l io " - remete à s re lações dos trabalh i s t a s com' o chamA

do movimento queremi s t a , que atua , de forma mais art iculada ,

a partir de meados d e 1 9 4 5. E s t a s relaç õ e s sao c l aras , embora

at� certo ponto evitad a s . Não se trata aqui de d i scut i r se o

PTB se organ izou sob a pre s s ã o dos queremi s t a s , como querem a�

gun s , ou se na verdade , o PTB foi o ponto de pa r t ida do movimen

to queremista . O que importa r e s saltar � que o trabalh i smo como

1
Jos� de Segadas Viana ( de poimen to ) . FGV / Cpd oc , H i s tó r i a Ora l .
p . 3 0 6.
16

uma ideologia polí t i c a centrada n a f igura de Varga s , em sua obra

s o c i a l e no t ipo de relação -- d ireta e emoc i on a l que ele

propoe manter com a massa traba lhadora , v inha sendo cons truído

dentro do Mini stério d o Traba lho desde 1 9 4 2 . Assim, sem o supo�

te ideo lógico do traba lhi smo , o queremi smo teria s ido pra t ic ameg

te impo s s íve l .

Traba l h i smo e queremi smo bebiam da mesma fonte . Eram ,

ba s icamente , a mesma "idéia" . Mas é certo que do ponto de vi§.

ta organ izac iona l , o PTB e o queremi smo não eram a mesma coisa .

O PTB , como partido que procurava seu reg i s t ro junto à Justiça �

leitora l , es tava d e f in ido pe l a s regras do j ogo pO l í t ico . Devia

formalmente ater - s e a e l a s , e a candida tura de Getú l io nao era

tão s imples de ser lançada . Uma v inculação aberta entre o parti

do e Vargas em termos e le i tora i s , comprometeria o m i n i s tro. e

o Mini stério do Trabalho; comprometeria o próprio partido e,

sobretudo , todo o proc e s s o de tra n s iç ã o . Já o querem ismo era

um movimento soc ià l que , tanto pod ia correr à margem das r�

gras do jogo , como e fetuar todos os t ipos de a l iança , sem qua�

quer comprometimento maior . E s te era o c a s o das vinculações

do queremismo com o Part ido Comun i s t a , que apenas ir iam alimentar

a inda m a i s a desc onf iança e o temor nutrido em relação ao movi

men t o , n o s meios m i l i t a re s e também c iv i s , quer de opo s i ç ã o ,

quer d e s i tuação . O M i n i s tério do Traba lho , cuidado samente , prQ

curava gerir seus contatos com o movimento queremista . Na verdft·

de , o s e lemen tos que em todos o s e s tados e mun ic ípios integrft

vam o querem i smo -- organizado nos com i t ê s e núcleos Pró-Candi

datura Getú l io Varga s evitavam propo s i tadamente ingre s sar

no PTB . Na maioria absoluta dos e s tado s , e s se s e lementos

eram l íderes traba lhis t a s e quando nao , po l í t ico s , " todo s ,


17

2
porem, obedecendo a uma única linha de condut a " .

Um dos jorn a i s opo s i c ion istas da época -- o Correio da

Manhã em a r t igo i n t i tulado " O queremismo , essa palhaçada " ,

re sume bem o t ipo de interpretação vigente a re speito das r e Iª-

ç õ e s entre queremi smo , Min i s t ério do Trabalho e Varga s :

"O panorama do queremi smo s e apresen


ta com duas fac e s : a organização
na ação pelo M i n i s tério do Trabalho
e a outra dos provocadores de d e so!:
dem que j á são enviados aos e s tados
, . .
como se tem f e ito nos coml.Cl.OS pro-
Eduardo Gome s . Vargas a c e i t a e pre2
t ig i a a s duas alas do queremi smo".
( 29 / 8 / 1 9 4 5 )

O clima d a época -- que comportava a a n i s t ia e a legª-

lização do Partido Comun i s t a -- explica em muito a d e s e n voltura

dos querem i s ta s , como também sua s n í t i d a s liga ç õ e s com os comg

nistas . A propos ta era a mesma -- Con s t ituinte com Getúlio

o que , evidentemente , não tornava o queremi smo propriedade do


.
PC, como de fato nao era . Mas o cl ima da época e i n s u f ic i ente

para dar conta d a total ausência d e repre s s a o e, ma i s a inda ,

da rec eptividade de Va rgas que , por d iv e r s a s vez e s , recebeu e fª-

lou aos querem i s t a s .

Este compo rtamento ilu s tra o t ipo de relação que v inha

sendo alimentada pelo d i scurso trabalh i s t a . Vargas a t ento

aos d e s e j o s das massas -- recebia p e s soalme n t e os queremi s t a s .

A observação d a s inúme ras man i f e s t a ç õ e s querem i s t a s que ocorr�

ram ao longo dos meses d e agosto , s e t embro e outubro de 1 94 5 ,


, .
demon stra ba s icamente um modelo d e ação . Um coml.Cl.O era convocª-

2
Relntório sobre o queremi smo , sem autor i a , endereçado a Vargas
em 17/ 10/ 1 9 4 5 . GV 4 5 . 1 0 . 17 . FGV/Cpdoc .
18

do em um certo ponto da c idade -- largo do Rus sel , Carioca etc

e a í falavam vários oradores. Em seguida , o s grupos presen

tes ao comício até o palác i o do Catete , com o obj e t ivo de serem

recebidos por Vargas e forçá -lo a a c e i t a r sua candidatura . prati

camente todas a s veze s , Vargas falava a e s t a massa e / ou a uma

comi s s ã o , reaf irmando n ã o s e r candidato . Ilustrat ivamente , em a�


, .
guns d e s s e s com1C10S nao era mencionado o nome de Dutra . Nem me.§.
,
mo Vargas o c i t a . A tônica de seus pronunciamentos e o desejo de

a fa s t a r - s e da vida pública e de conduz ir o pro c e s s o de redemocrª

tização , o que era respondido com prot e s t o s e aclamaçõe s .

Getúlio sustentava d e s s a mane ira , por todo e s s e períod o ,

um contato e s treito com a população da c idad e , contato que era r�

encenado em todo o território nac ional . A convocação queremista

para os comícios que f e s t e j ar iam a pa s s agem do dia 3 de outubro , é

um grande suce s so . As n o t í c i a s foram de que em todo o Bra s i l ,

e até mesmo em s ã o Paulo , veio para a praça pública " a maior ma s s a


3
popu 1 ar d e que se tem memor1a ti . O ocaso do E s tado Novo , com o mQ
' .

vimento queremi sta , trans formava - s e numa o c a s ião de grandes apari

ções para Vargas que , i n s i s tindo em sua nao candidatura , a s s i s t ia


. . ,
ao des enrolar dos acontec imento s . O mOV1mento era a s s1metr1co:ca�
. '

a o Es tado Novo , mas c r e s c i a o prestígio do d i tador .

O quadro político era complexo e tenso . Diversos r�

latórios enviados a Vargas a s s inalavam que nem a candidatura de

Dutra nem a de Eduardo Gomes gozavam de pro j eç ã o popular , embora a

deste último fosse m a i s bem a c e i t a pelo eleitorado . A Igr e j a Cató

lica , em franca campanha contra o c omun ismo , parecia nao se defi

nir , e o pre s t ígio de L u í s Carlos Pre s t e s e r a cada vez maior .

3
Idem .
FUNDAÇAo GETULIO VARGAS'
I";CIPO I CPooe
, i9

O queremismo era ide n t i f icado como o movimento ma i s

forte d o pa í s , " sob o ponto d e v i s t a d e opinião pública e d e cª


4
pac idade e l e i toral . A crença em que G e t ú l i o a inda v i e s s e a ser

candidato era qua s e que tota l , mesmo u l trapas sado o pra zo de dg

s incompa t ibil ização ( 2 d e setembro ) . Havia getu l i s t a s que d�

c l aravarn que votariam em branco ou até n o Brigad e i ro , caso Va�

gas não s e candida t a s s e . Segundo o j or n a l traba l h i s t a A Derno-

cracia de 0 2 / 0 9 / 1 9 4 5 :

" Votarão no genera l ( Dutra ) os agrg


pamentos po l í t icos pro f i s s iona i s-­
o rebanho que vai pelo cabresto dos
c h e fe s , com medo de perder os e�
pregos ou pens ando nas prometidas
compensaç õ e s . Votarão no Brigad e i ro
( Eduardo Gome s ) os d e s contentes do
pa s sado d a Repúb l i c a Velha e os
que perderam a s propinas de 30 nos
s in d i c a to s pO l ít icos e s tadua i s . . .
Mas o gro s so da popu lação ficará e§.
perando outro cand ida to. E se e§.
te não apare c e r , nao votará em n in
,
guem . . . "

Por outro lado , face a e s t a h ipó t e s e , era bem pos s ível

que as ma s s a s traba lhadoras s e o r i e n t a s sem p e l o s e squemas

çados pelos comun i s ta s . O d iagn ó s t i c o era de que o PTB -- sem

Vargas -- não t i raria do PC o domín io d a s ma s s a s prol etária s .

Certamente é por e s t a razao que Ma c i e l F i lho , em carta d i rigida

a Varga s , ponderou que o problema ma i s d e l icado do governo , nª

4
Carta de José Soares Mac i e l F i lho a Vargas. GV 4 5 . 1 0 . 00/6 .
FGV/Cpdoc . p. l , 2.
20

que l e momento , era man ter a grande po s ição de prestígio do pr�

s id ente no ambiente d a s ma s s a s traba l h i s ta s , impedindo po r todas

as formas a �ontagem da m�quina de Luí s Carlos Prestes . Esta

que stão era muito d e l icada e exigia um traba lho inc e s sante " POK

que a equipe de P r e s t e s e muito boa e mu i t o e f ic ient e " . I gual

mente por e s ta razao , era e s s enc ia I e x e r c e r um cont r o l e sobre a

imprensa , através da d i s t r ibuição da pub l ic idade governamenta l .

Para Mac i e l , o s "amigo s " d e Dutra andavam de scon f i ad o s , e os do


5
Br igad e i ro j� se conduz iam para a preparação do gOIPe .

t n e s s e contexto que s e tornava e s senc i a l uma o r i en

tação para o movimento queremis ta. E s t e j� a s sumira enorme vul

to , mas inegavelmente não possuía grande organização . A preoc]!

pação b�s i c a e reve l adora de um r e l a t ó r i o env iado a Vargas as


.

vé speras do golpe de 2 9 de outubro , é c o m o d e s t ino do movimento

querem i s t a . Com incrív e l pod e r de mobi l izaç ã o , o queremismo

t inha comi tês em pra t i c amente todas as grand e s c idades e todos

os mun i c ípios do p a í s . o que f a z e r com toda essa rede quando

a campanha e l e i tora l chega s s e ao f i m , independentemente de que

f inal f o s s e este? Em todos os e s tad o s e mesmo no Distrito Fed�

ral a s i tuação era confusa e prec i s ava s e r urgentemente e s c lª-

re cida . A sug e s tão f:ropo sta era de que o s comitês deves sem ser

encõm inha d o s para o PTB e o s d i r e t ó r i o s provisórios do partido

o r i entados para receber todos o s seus integrantes . Neste s en

t ido , n o s l o c a i s onde não e x i s t i s sem a inda d i retórios do PTB ,

o s c om i t ê s pod e r iam s e r pura e s im p l e smen t e t rans formados em

d iretór i o s , encerrando-se aque l e a f a s t amento entre PTB e movimen


. 6
to querem l. s t a .

5
Op . c i to p . 4
6
R e l atór io . "S ituação g e r a l " . GV 4 5 . 1 0 . 17 . FGV/Cpdoc .
21

Portanto, fica c l aro que as linhas de con fluência eg

tre PTB e queremismo -- sempre exi s t e n t es -- vinham e s treitag

do-se e que, até às vé speras do g o l pe, a campanhij " Constituin te

com Get�lio " , com sua decorrente candidatura, era hip6tese cog

sid erada não s6 viáve l politicamente, como a que mais " ernociQ

naval! o povo . Segadas viana r e f e rind o - s e ao PTB e ao queremi�

mo situa bem a dinâmica que presidia estas r e l a ç õe s . Acentua

que para os orgaos de repressao " PTB era quer emismo e queremi�

mo era PTB ". J á para a popu l a ç ã o em geral esc larec e : "o povo

não dis tinguia entre queremismo e petebismo, então dizia : é gety


7
lismo " .

Torn a - s e bem compreensível, assim, o impacto do Decrg

to- l ei n2 8 . 0 63 que, a l terando o que previa a Lei ConstituciQ

n a l n29, ant ecipava a s e l eições e s taduais para 2 de dez embro

(d ata das e l eições federais), deixando trin ta dias de pra zo para

a desincompatibilização dos interventores . A interpretação gg

r a l era de que com t a l l ei G e t�lio poderia e l eger, sob sua égi

de, nao so o Congr esso federa l, como também as assemb léias e os

governadores e s taduai s . Sua força não encontraria limites, e n a

d a a s s egurava que, num � l timo momento, e l e n ã o se pronunciasse

a seu pr6prio favor .

o c lima po l ítico, naque l e me s de outubro, já era de

mo lde a comportar várias reuniões d e pOlíticos civis e militª

res, cuja principal preocupação era a ameaça dos queremistas,a

presença dos comuni s ta s, en fim, a gravidade dos ac ontecimentos

que se anunciavam . Sugestivamente, no mesmo dia em que foi a ssi

nado o Decreto n28 . 063, Vargas f e z seu primeiro pronunciamento

p�blico pr6-PTB . No dia 1 0 de outubro, em Santa Cruz, G e t�lio

7
José de Segadas viana ( d epoimento ) . FGV/Cpdoc, Hist6ria Ora l .
p .3l2 .
22

respondia à s acusaçoes que lhe lançavam , a firmando que o gove�

no nao cogitava de quaisquer modificaçõe s , atos secretos ou

golpes " c om propósitos de d e sord em " . E c o n c l uiu , conc l amando

os traba lhad ores em gera l - " a s c la s s e s popu l ar e s " a r e fo�


8
ç a r a s fileiras d o PTB .

o pronunciamento de Getúlio e ma 1 S ainda o momento em

que é feito sao significa tivo s . As interpr e tações podem ser vª

riad a s, ma s sem dúvida, o c o n s e l ho de Vargas naque l e instante

podia ser lido como um re forço para a campanha do queremismo/

pet ebismo .

Mas e n fim , o que significava e s s a campanha?

o j ornal A Democracia em dois de seus editores a jg

da a de finir o conteúdo e spectral do quer emismo e, exa tamen te

por i s s o , sua forç a . Para o jor n a l são t r ê s os "queremo s " :

" 12) O 'queremos' ve lado dos c omg


nis ta s , que d e s c on fiam da democrª
cia do brigadeiro e da democracia
do general; 22) O 'queremos' dos
que estão nas a tuais posiç õ e s e
'acham me lhor' o sr . Ge túlio Va�
gas , d o que a renovaçao de quadros
do g e n era l ; 32 ) O 'queremos' do PQ
vo que gosta me smo do s r . G e tú lio
Varga s , dentro daque l a quadra popg
lar do c a n tor d e s erenata , que ha�
pe j ava o vio lão e abria o peito aB.
sim: 'go s t o de ti porque gosto po�
que meu gosto é gostar! ' "
( 24 / 8 / 1 9 4 5 )

8
Brasi l eiro"
VARGAS , G e túlio Dorn e l l e s . "O Parti do Traba lhist a
J . Ol ímpio , 1 947 .
em A nova pO lítica do Brasi l . Rio de Jan eiro ,
vol . XI . p . 1 9 7 - 9 .
23

E r e forçando ainda mais o s e n tido d a m í s tica de Vargas

e de sua plural presença polític a :

"Estão a í , como s e sabe , dois c andi


datos à pres idência , os s enhores
Eduardo Gome s e Eurico Dutra , e um
terc eiro , o s enhor G e túlio Vargas,
que d e ve s e r c andidato de a l gum gry
po pOl ítico ocu l to , w.as e também,
o candidato popu l a r . Porque h á dois
'queremos' : o 'queremos' dos que
querem ver se con tinuam nas posições
e o 'queremos' popular . . . Afina l o
que é que o s enhor Ge túlio Vargas
e'?.
É f a s c i s t a? É comunista? É ª
t eu? É cris tão? Quer sair? Quer ficar?
O povo , e n t r e tanto , parece que
gosta d e l e por i s s o mesmo , porque
ele é ' à moda da c a sa ' . "
( 1 6 / 9 / 1 94 5 )

A inf luência e a s nuanc e s do queremi smo obviamente nao

e s c aparam ao diagnóstico dos obs e rvadores pOl íticos e speciali

zados d a époc a . Em um de s eus editoriais no Correio da Manhã ,

o j ornalista C o s ta Rego -- um dos a n a l i s t a s mais e s c o l ados e

perspic a z e s -- comentava a situação d a c a ndidatura Dutra:

" O g a l o Dutra nao pode chegar a uma


conc l u são: o p l eito e l eitoral t ravª
v a - s e apena s e n t r e duas forças poli
tica s . E s t a s são , de uma par t e , as
oposiç õ e s co l igadas; e, de outra
part e , o govern o . A única e sperança
do g e n e r a l e s tava em que sua candi
datura reuni s s e a s forç a s do gove!:
24

no . J á nao a s reúne . D e fato ,


já nao
as reun ia desde o advent o do querem is­
mo , gato de s e t e fô l e gos imposs íve l d e
a fogar . Agora , a l é m d e não reun i - las
morr e - l h e nos braços por abando no . "
( 16/10/194 5 ) .

A situação preci pitava-se cada vez mais , e a nomeaçao

de B e n j amim Vargas para a Chefa tura de Po l í c ia do D istrito Federal

funcionou como a gota d'água a ext ravasar as j á ensa iadas c on�

pirações . Estas envo lviam, entre outros , O ministro da Guerra

( Gó is Mont e i ro ) , o cand i d a to d o governo ( general Du t ra ) , a l ém

de contarem com o ava l do emba ixador americano no Brasi l . Nada

espe c i f icamente , senão todo o processo político rescendendo a

continu ísmo conduz ao 2 9 d e outubro . G e tú l io , mais do que o E�

tado Novo , estava saindo do pod e r .


25

o PTB e a s e l eições d e 1945

A deposição d e Vargas trouxe trans forma ç õ es ao

dro pO lítico da ipoca . De um lado , e l a s s e man i f e s tam nas a l tg

rações f e i t a s no próprio c a l endá rio e l e i t o ra l . o re cim- promul

gado decreto que antec ipava a s e l e iç õ e s para governador de e�

tado foi revogado e a d a t a original -- maio de 1946 foi r e s t�

be l e c ida. Alim,d e s t e decreto , foi revogada tambim a chamada

L e i Ma l a ia de Agamenon Magalhã e s , que conturbara o cenário e os

interes s es econômicos estabe l ec idos no paí s . Com a saída d e VaI

gas ficou igua lmente e s tabe l e c id o que s e convocaria urna A s s e�

bliia Na c iona l Con s t i tuin t e . ( Le i Con s t itucional

12/ 1 1 / 1945 ) .

De outro lado , a mudança do quadro po lítico pode ser

s en t ida pelo termômetro d a s candidaturas e da atuação dos pa r ti

dos . Dezoito d i a s após a queda d e Varga s , o Partido Comun i s t a

re formulou s u a s diretrize s . Sem G e t ú l i o e com urna Con s t i tuinte ,

o PC reso lvia lançar seu cand idato a pre s id ente , e s c o lhendo o

nome de I edo Fiúz a . O comp a r e c imento d o PC as e l e iç õ es com


,

cand idatos em todos os nív e i s era evidência bastante do vigor

organ izat ivo do pa rtido . Signi fic ava tambim, para ana l i s t a s

pOlít icos do momento , um f o r t e a pe l o às massa s trabalhadora s ,

sobretudo porque a a spiração do queremismo de saparecia da s ruas .


26

Mas , n a verdad e , o queremismo nao d e s aparec e r i a , ele apenas se

tran s f igura ria e d e ixaria patente s u a s r e l a ç õ e s c o m o trabalhi�

mo .

Com o golpe , a expe c t a tiva da UDN e ra a do c r e s c imento

da candidatura do Brigad e i ro. E l a não ganha a inda a popu l ari

dade n e c e s s á r ia para uma e s t rondosa vitór ia, porque Varg a s

com s e u j ogo continuísta -- interferira e m sua na tura l evolução.

Não era d iversa a expectat iva do PSD e part i c u l armente a de Dg

tra . Embora temendo cada vez m a i s o Br igade iro , Dutra e sperª

va nao ser mais um " c andidato abandonad o " , no d i z er de Costa R�

go. Mesmo o fato de ter part i c i pado do g o l pe podia ser capitª

l i zado politic amente . A f in a l , Dutra era o c a nd id a to do PSD ,

i s to é , o candidato que represen tando o s i n t e r e s s e s do governo ,

d i z ia não compactuar com sua f a c e d i tatoria l .

Neste contexto , tornava-s e cruc i a l a po s ição do PTB .

De seu apoio poderia depender a e l e ição d e Dutra , o fortal eci

mento maior ou menor do Partido Comun i s ta ou , a t é mesmo , a e l ei

ção do Brigad e i ro . E é, d e fato, extremamente con fusa a po s ição

do PTB. Para entendê- la e prec i s o a n a l i s a r que fora d i fíc i l o

reconhec imento do regis tro do partido j un to a o Superior Tr ibg

n a l E l e i tora l . À s vésperas do golpe , o e sc r i t ó r io do PTB foi in

vadido por pO l ic ia i s e seu m a t e r i a l d e s t ruíd o , de forma que a s

l i s t a s d e d e z m i l a s s inaturas n e c e s s á r i a s para o reg i s tro , acª

bam sendo conseguidas por um exped iente fraudu l e nto . M a i s s ig n i

f i c a t ivo a inda é a poss ibi l idade aventada na o c a s i ã o d o PTB não

conseguir seu reg i s tro j un to ao STF e a forma como isto a c aba

sendo cons eguido . A l ém das l i s t a s d e a s s in a tura t e rem s ido " ti

rad a s " do PSD , os votos do STF favoráve i s ao reg i s tro do PTB

foram con s eguidos por interméd io de Osvaldo Aranha , amigo


27

9
soa l d e Segadas Viana .

Imedia tamente apos o g o l pe, aventa-se a possibil idª

d e do PTB concorrer as e l e iç õ es presidenc i a is com cand idato

própr io , mas ava l ia -se também que um outro nome provocaria d i-ª.

persao de forças, o que acabaria por garantir a vitória do Bri

gade iro .

Sendo assim, nas palavras d e João Neves, convinha

"d e f ender o � l t imo reduto que nos restou" . Ma lgré-tout, entre

apoiar Dutra e d e ixar o Brigadeiro ganhar, a prime ira a l ternª

t iva era mais aconselháve l . Contudo, entend ia-se que ta l apoio

teria que ser dado sem o comprome t imento aberto de Vargas .


10
Era exigir demais d o presidente deposto .

Com esse ob j e t ivo, são estabe l e c idas conversaçoes

entre Dutra e o PSD de um lado, e o PTB do outro . Esses ente!l

d imentos , ju lgados essenc i a is por Dutra e rec ebidos de bom grª

do, ac abam por desembocar em um compromisso, forma l izado em uma

carta confidenc i a l assinada pelo candidato do PSD . O teor da

carta é o seguinte :

" Prezados senhores :

Respondendo a c onsu l t a
que me f o i f e i ta, tenho o pra z e r
d e , com a presente, con f i rmar no-ª.
sos entendimentos pelos quais f i c ou
assentado o seguinte:
1 ) Quando e l e i to, esco lhere i, para
ministro do Trabalho do meu gove�
no,pessoa de minha con f iança, de cQ
mum acordo com o PTB .

9
José de Segadas Viana (depoimento ) . FGV/Cpdoc, História Ora l .
p . 2 8 6 - 89 .
10
Correspondênc ia de João Neves . GV 4 5 . 1 1 . 14 . FGV/Cpdoc .
28

2 ) O ministério, com exceçao das


pastas m i l i ta res, será cons t i tuído
por e l ementos que apóiam minha can
d id a tura, proporc iona lmente ao n.!!
,

mero d e votos que me forem conc�


d idos pelos mesmos .
3 ) As in terventor ias serao d istri
buídas, também n a mesma propOl::
çao .
4 ) Apo i a r e i o programa do PTB e prQ
cura r e i f a z e r com que as j ustas
aspirações dos trabalhadores sejam
postas e m prá t i c a p e l o meu governo .
5 ) Reconheço as atuais l e is trabª
lh istas e d e amparo soc i a l e prQ
cura r e i mel horá - l as e aperfe içoar
sua a p l i c a çã o .
Ga l . Eurico Gaspar D.!!

o acordo e ra bem vanta j oso para o PTB, o que reve l a

nao so a posição estratégica em que este part ido se encontrª

va i como, igualmente, suas poss i b i l idades e f e t ivas em fut.!!

ro próximo . Em carta d i r i g ida a Vargas , narrando a reun ião


que resu l tara no acordo Dutra/ PTB, Napo leão de Alencastro Gui

marães traçou com prec isão a posição do PTB face ao pleito de

1 945-46 . E l e prognost icava : " Não penso que nas presentes e lei

çoes o PTB se j a bem sucedido e l e i tora lmen t e . Mas se se a l iar

ao PSD nas e l e ições estadua is, a expe r i ê n c i a adquirida lhe dará

inquest ionavelmente uma posição mui t íssimo forte " . E adiante ,

balanc eando as tendênc ias do PSD , UDN ( pa r t idos "conse rvadQ

res " ) e PC ( partido "avançado " ) , e l e conc l u í a : "O PTB pela sua

11
A carta é con f id en c i a l e está d a t i l ogra fada em pape l t imbrª
do do PSD . Está d a tada de 2 2 / 1 1 / 1 94 5 e tem a assinatura d e
próprio punho do general Dutra . GV 4 5 . 1 1 . 14 . FGV/Cpdoc .
29

posição central tem todas a s probabil idades de ser a grande


12
força nacional nos anos a v i r " .

A pos ição a tomar face à questão d a candidatura pr�

siden c i a l era fundamenta l . Mas o acordo com Dutra nao e l imi

nara todas as resistênc ias .

A despe ito d e las , a campanha pró-Dutra c rescia e seus

grandes articul adores eram Hugo Borghi, José Junque ira e Nelson

Fernand es , todos queremistas de prime ira hora . É no bo jo de.ê.

ta situação que é c r iada a campanha do " marmi t e i ro " , um slogan

que surgiu como resposta a um d iscurso de Eduardo Gomes , no

qua l e l e d e c l arara não prec isar dos votos dessa "ma lta" que vai
, .
a coml.C l.Os . Borghi v e r i f i c a que " m a l t a " é um dos sinônimos

possíveis para " marmite i r o " - termo f a c i lmente ident i f icado

à cond ição de trabalhador - passando , então , a u t i l izar a e�

pressão para mob i l i z a r a massa trabalhadora, que estaria sendo

considerada como um "bando de desocupados" pelo Brigadeiro . A

campanha das !'marmitas" - impressas e d istr ibuídas aos m i lh-ª


,
res pelo pal.s - procurava po l a r i z a r as c andidaturas , ident i fi

cando o Brigadeiro com um e l e i torado d e g rã - f inos e Dutra com

o e l e i torado dos " pobres/ t rabalhadores " .

Os esforços pró -candid a tura Dutra, articul ados por

lUlla ala do PTB - aque l a de Hugo Borghi - combinavam entendimen

tos confidenc iais e pactos interpa r t idários , com movimentadas

campanhas de rua , como essa do marmite iro . Contudo , com o eVQ

luir dos acontec imentos , tornava -se cada v e z mais c l aro para

todos que a pa lavra de Vargas seria essenc ial . Ou s e j a , se em

iníc ios de novembro considerara -se j u � to o si l ên c i o de Getúl io,

12
Arquivo Ge túl io Vargas . GV 45 . 1 1 . 1 9 / I . FGV/Cpdoc .
30

tendo s ido entendido como um s in a l de plena l iberdade de açao

para s e u s companh e i ro s , no f i n a l do mês a s i tuação s e a l t e rava .

Cada vez mais d o i s temo r e s se con s o l idavam : o temor do apelo

comunista e o temor d a força do Briga deiro . Ambos atuavam no

s e io das c l a s s e s traba lhadoras, d e s o r i e n tadas pela ausência de

Varga s .

Logicamente a preocupaçao era com a d i spersão dos vQ

tos d e s s a volumosa e e s t reante m a s s a d e e l e i tore s , t r a z ida ao

c en á r io pO l ít i c o pr inc ipa lmente g r a ç a s a o a l i s tamen to ex-o f f i -

c io . o forta l e c imento do PC e uma pos síve l vitória do B r igª

d e iro , que agora contava com o apo io abe rto da Liga E l e itora l

C a t ó l i c a (ao menos no Rio) , ameaçavam toda a e s trutura construi

da pe lo Es tado Novo . Um curto parec e r d e Luís Vergara , enviado

a Varga s , re sume mag i s tra lmente a t ô n i c a das vésperas das e l e1

ç oe s :

" O naufrágio sera tota l sem a sua


mao no l eme . Da o r i e n tação que SQ
brev e i o tudo se pode e spera r , até
mesmo uma guerra c ivi l . S e do chQ
que das urna s não s a i r uma vitória
l impa , ind i s c u t í ve l , o reac ionari§.
mo ' comp l e. tará sua obra . Unir as
forças d o PSD e do PTB é o ún ico
meio d e garantir a vitória do can
d idato e a maioria da futura a s s em
b l é i a nac iona l . Mas para i s so , é
ind ispensável a sua pa l avra de
13
ordem " .

E f in a lmente é s eu irmão , pro tá s io Varga s , quem s e t en

13
Arquivo Getúlio Varga s . GV 4 5 . l l . 24 / 2 . FGV/Cpdoc .
31

cia sobre a importância e o sentido d a pal avra de G e tú lio : " Tg


,
dos sabemos, os teus amigos , que votar no Dutra ( . . . ) e o mesmo

que tomar um purgante . É nec essário f a z ê - l o ainda que repug


14
nante " .

o que é fundamenta l reter deste episódio é a c e ntrali

dade da orientação d e Vargas . Teoricamente o aco rdo PSD/ PTB

está feito . A campanha pró-Dutra está nas ruas . Ma s nada di.§.

to e condição suficiente para a vitória e, sobretudo, nada di.§.

to garantia que as c l asses traba lhadoras estariam sendo se nsi

bilizadas . A condição sine gua non estava na pal avra de Va�

gas, em seu comprometimento pesso a l . A campanha do " marmitei

ro " , precisava do " E l e disse : vote em Dutra " . Foi esta a palª

vra de ordem e l eitora l que consagrou a recomend ação pública de

Vargas às vésperas das e l eições, para que os traba lhadores e o

PTB votassem em Dutra . Só assim a possibi lidade de vitória

de Dutra se redimensiona no en frentamento com o PC e o Brigadei

ro .
,
E é exatamente isto que é verificado as vesperas das
, .
e l eições, após a mensagem sa lvadora d e G e tú lio . Os com�c �os

de encerramento da campanha de Dutra - no l a rgo da Carioca e

em Juiz de Fora são considerados " uma apoteose a Getúlio " .

são verdadeiras mani festações queremistas , com ret ratos e l�

gendas de Vargas e com o conselho : vote no general Dutra .


,
O resul tado das urnas de 2 d e d e z embro e inequívoc o .

O impacto d a vitória d e Dutra é comparado por João Neves ao d e

uma " bomba atômic a " . Não havia margem para dúvidas ou qua.l

quer tipo de gOlpismo . O Brigadeiro a c eita sua derrota a l guns


,
dias apos o pl eito . O a c e rto d a composiçã o PSD/ PTB e rea fi�

mado . A força do nome d e Vargas é reconhecidamente avassaladg

14
Arquivo Getú lio Vargas . GV 4 5 . 1 1 . 2 1 . FGV/Cpdoc .
32

ra . E l e era o grand e - e l e i tor do p l e i t o .

A UDN c o l h era e f e t ivamente uma s ig n i f ic a t iva derrota .

Mas sua espinha ant igetul ista era forte e possuía maiores rª

zões a inda para enri j e c e r. O PSD vencera como part ido , sem a

menor dúvid a . Mas e l e já e x istia como t a l antes e independ err

temente dos resu l tados d e 2 d e d e z embro . Fora o ún ico parti

do c u j a organ i z ação não pa r t iu da cons t i tu ição de um d i retório

nac iona l e sim da organ i z ação de núc l eos mun i c ipa is e estadg

a is. Sua estrutura assentava-se nos estados , em seus e xecg

t ivos e na representação que pod e r i a ser conseguida na Câmª

ra e no Senado . A vitória do Brigadeiro seria certamente um

golpe para esta estrutura , mas possivelmente nao um golpe mo];:

tal .

Já com o PTB a s i tuação era d is t i nta. Tendo graves

d i f iculdades para consegu ir seu reg istr o ; não possu indo nenhum

grande nome da pO l ít i c a nac ional ou estadua l , exc eto os de Mar

condes F i lho e Getúl io , o PTB não surgira como partido . As

e l e ições de 2 d e dezembro é que o consagraram como ta l . O PTB

se mostrara abso lutamente essen c i a l para o resu l t ado obtido

no p l e ito , mater i a l i zando sua e x istência e possibi l id ades.

O PTB nascera de e pa ra Vargas , a inda no Estado Novo ,

e se a f i rmara nas e l e ições d e 1 9 4 5 com Vargas . Formado tendo

como base a máquina sindica l , o PTB u l t rapassara o PC devido

basicamente ao " E l e disse " .

Em d e zembro de 1 9 4 5 suas persp e c t ivas eram a l vissarei

ras o E l egera 2 2 deputados e d o i s senadores e formava a t e r c e i

ra bancada d a Const i tuin t e . Tudo indicava que , estando Get!i

l io em a t ividade po l í t ica, o PTB teria uma votação nas e l e ições

estaduais de 1 946 a inda maior d o que t ivera nas e l e ições fed.!'t

ra is . Neste caso , seria inegável que a grande força do parti


33

do e s tava em t e r Va rgas como cabeça de chapa . Pois foram os vQ

tos con s eguidos pelo " pr e s idente " o s r e s ponsáve i s pela e l e ição

de pra tic amente todos os candidatos do PTB em nível federa l .

" Da votação do PTB num total de 6 03 . 00 0 votos nas eleiç5es de

1 9 4 5 , 3 1 8 . 0 0 0 foram dados a Varga s , que , concorrendo em vários

e s tados , foi e l e i to para o Senado por são Paulo e Rio Grande

do Sul e para deputado federa l na Bahia, Rio de Jane i r o , são

Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul , Minas G e r a i s e D i s tr i t o Fedg

ra l o Vargas fo i , a s s im , o que s e conve n c i onou chamar no l inguª


15
j a r e l e i toral como um grande puxador de l egenda " .

o pa rt ido porém encontrava - s e conturbado e c i ndido .

Se e l e e x i s t i a at ravés d a s urnas, era qua s e uma f icção em teJ;:

mos orga n i zac iona i s . Sua d e s truiç ão, no entanto , envo lveria

n e c e s s a r iamente o fortalec imento do pc . Ass im, ele nao pod i a

d e s aparecer, e s e " sua tendinc i a natura l era a a l iança com o

PSD", e s t a s6 pod e r i a ser f e i ta com a s pa l avras " so c i a l i sta" ou

"t raba l h i s ta " .

Mesmo j á tendo pa s s ado por seu· pr imeiro grande

te, a s i tuação do PTB era precária . Já existia como partido

que fundado no nome de Va rgas -- con seguia reun i r o voto

das chamadas c la s s e s traba lhador a s . Ma s o PTB era Getúl io,

ou s e j a , e l e i t o r a l mente o traba l h i smo e s pe lhara sua face ideQ

l6g ic a . Traba l h i smo era getu l i smo , p o i s fora " inventa d o " ne.ª-

t e s termos . Contudo, pensar e e s truturar o PTB como organ i zª

çao polít ica e construir um traba l h i smo d i s t into de Getúl i o,

eram d e s a f io s que, até certo pon to , s e impunham para a cont inui

dAde do part ido e d a pr6pr ia l id e rança p e s s o a l de Varga s .

15
Verbete "Partido Traba l h i s t a Bra s i l e i ro ( PTB)" , em I s rael B e l och
e A l z i ra Alves de Abreu,D ic ion á r i o h i s t 6 r ico-biográ f i c o bra­
s i l e i ro . Rio de J an e i ro , Forense-Univer s i t á r ia ; Cpdoc / F inep,
1 9 84 .
Ver também Augusto do Ama r a l P e i xoto ( d epoimen to) . FGV/Cpdoc
H i st6ria O r a l , 1 9 7 5 . p . 345 .
34

o PTB d e 1945 a t é a volta d e Vargas

o PTB sai das e l e iç õ es de 1 94 5 e 1946 com prestígio

e l e itoral conso l idado . Sua presença enquanto pa rtido com um

e l e itorado cresc ente em nív e l nac iona l , s e r i a c o n f irmada a inda

nas e l e ições de início e f ins de 1 947 . Sem dúvida nenhuma ,

esse sucesso nas urnas era oriundo de d o is troncos : a l ideran

ça de Vargas e o traba l h ismo . Entretanto , o PTB nao vivia apg

nas da exploração e l e itora l e ideológica desses dois fa tores .

Havia outro e l emento d a maior importância para sua pe r formance

pOlít i c a : suas bases sind i c a is .

Enquanto partido o PTB estava assentado nos sind icª

tos . Por orientação do próprio Va rga s , os organ i z adores do

PTB deram prioridade a esse t ipo de quadro com o intuito c l aro

re dar ro partido um cunho eminentemente sind i c a l ista . Segundo JQ

sé Gomes Ta l a r i c o , um dos fundadores do PTB em 1 945, as l istas

de assina tura para a c r iação do PTB foram co lhidas IIno ins t i

t u t o dos comer c i á r ios, nos indus t r iá r ios , por pa rte de assegg

rados , no inst ituto dos marít imos , no IAPETEC , e n f im , nas orgª

n i zações em que a pr�sença do traba lhador era permanen t e " . E�

sa preocupação esteve também presente na esco lha dos c and idatos

do partido em 1 9 4 5 . o ob j e t ivo de " formar o partido na base


de líderes sind i c a i s " l evou a que se preter isse cand idaturas de
FUNDAÇÃO GETl)L/O VARGAS '
INO IPO I C POO C 3S
i
antigos funcion á r i o s d o M i n i s t é r i o d o Traba lho em pro l daque l a s

l ideranç a s , o que s e buscava e ra exatamente "dar uma chance

aos representantes s indica i s " e , com i s s o , centrar no parti


16
d o a marca d o tra ba Ih a d or S 1n
' d 1ca
' I 1' z a d o .

Outros exemplos con f i rmam e s s a o r i entação , Uma das

ma i s expre s s iva s f iguras d o PTB na Para íba dec lara que neste

e s t ado " n ã o t inha um s ó pre s idente d e s i nd icato , novo o u ve lho ,


, 17 -
que nao fosse membro d o d iretorio do PTB " . Em Sao Paulo a

s i tuação s e repet e . E s s a s i s temá t i c a d a r i a ao partido emergen

t e o conteúdo n e c e s sá r i o a s suas apregoadas band e i r a s g e t u l i§.


,

ta e traba l h i sta . A presença marcante d e l ideranças s ind i c a i s

operaciona l i zar i a , e m termos prá ticos , a partic ipação d o s s indi

catos na pO l í tica i n s t i tuciona l e , n e s s e s e n t id o , a c i onaria

d i r e tamen t e aqu i l o que era a matéria-pr ima por exce lên c ia do

traba l h i smo g e t u l i s t a : o traba lhador organ i z ad o .

Discutir a s conotações corpora t ivas dessa orga n i zª

çao foge aos l im i t e s d e s t e traba l h o , que tampouco v i s a ana l i sar

acuradamente o pape l do PTB como i n s t rumento de repr e s e n tª

ção po l í tica dos traba lhador e s . O que importa reter aqui e que
,

o PTB surge como um part ido que tem por função cana l izar os e§.

forç o s inve s t id o s pe l o E s tado Novo na organ ização s in d i c a l dos

traba lhadore s , e, n e s te s t ermo s , e l e foi bem sucedido .

Se Vargas não era , n em nunca f o i , um homem a f e ito a


,

pO l í t i c a partidá r ia , não d e i x a de s e r verdade que sempre procy

rou as mais adequadas fórmu l a s po l í t i c a s no s en t ido de capitª

l i zar o apoio popular . O PTB f o i um e s forço c l a ro n e s sa d i r�

çao . Não era e s sa a prime ira tentat iva d e s s e teor ; no entan

16
Jo s é Gomes T a l a r ic o ( depo imento ) . FGV/Cpdoc , H i s tória Oral . p . S .

17
Hermano d e S á ( depoimento ) . FGV/Cpdoc , H i s tória Oral . p . 2 8 .
36

t o f o i a prime ira que , n o Bras i l , conseguiu chegar a bom termo .

Por tudo i s s o , o PTB foi o lado ma i s modernamente organ i z ado d a

po l í tica traba l h i s t a : os s indicatos tornavam - s e as ba s e s e f e ti

vas de um partido p o l í t ico .

Algumas d e suas s eçoes consegui ram se e s tabe lecer em

ba ses muito só l ida s , como por exemplo Rio Grande do Sul e Di stri

to Federa l . No Rio Grande do Sul o PTB e ra o part ido heg emôni


,
co e e s t a seçao reg iona l era a ma i s importante de todo o pa�s .

Nem o PSD nem a UDN cons eguem s e a r t ic u l a r como forç a s s igni

f icat ivas de s i tuação ou opos ição n e s s e e s tado . A fonte d e s s e

poder e r a or iunda fundamenta lmente da l iderança e do contro l e

que Vargas exerc i a sobre a pO l í t i c a d e seu e stado n a ta l . Não

é surpreendente que nasça exatamen t e no Rio Grande do Sul um

dos e s forços ma i s marcantes de c o n s t rução de uma doutr in a

traba lh i s t a para o part ido : Alberto Pa squa l i n i .

Já no D i s tr i t o Federa l , embora igualme n t e fort e , o

PTB depa r a - s e com uma força riva l . A UDN possuía na capital

f e d e r a l ba s e s soc i a i s s ó l idas advindas ba s ic amente de um ape l o

popular mu ito bem construído p e l a l iderança d e C a r l o s Lacerda .

Outras un idad p. s da federação t iveram um PTB expr e s s ivo mas nao

compa ráve l aos dois c a s o s anterior e s : Rio d e Janeiro , Amazon a s

e Minas Gera i s .

são Paulo s e r i a um caso notável de contradiç õ e s .

Sendo o e s tado que possuía o movimento ope r á r io e s in d i c a l

ma i s importante do p a í s . tudo l evaria a supor q u e o PTB pauli�

ta e s t a r i a fadado a ser um grande part ido . Não é isso que Q

corre . Contud o , e s teve longe d e s e r um part ido " frac o " . Foi

sempre uma força po l í t i c a chave n a s grandes a r t i cu l aç õ e s parti

d á r i a s quer a n ível e s tadua l , quer a n í v e l federa l . Mas nunca

conseguiu grande suc e s so e l e itoral e teve que compe t ir


37

men te j unto à s mas s a s traba lhadoras mob i l i z adas por outras li

deranças corno a do ademar ismo e sobretudo a do j a n i smo . I s to ,

natura lmen t e , sem f a l a r do pape l d o s comun i s t a s .

Não obstante o sucesso da propo s t a e os r e s u l tados

e l e itorais favoráve i s , o PTB desde mu ito cedo mergu lharia numa

crise abi s s a l de orga n ização . É i n t e r e s s a n t e observar que e.§.

ta c r i s e será maior , em todo o pa í s , a proporção que o seu

suc e s s o e l e itoral aumen ta . É i s so e x a tamente o que se ve r i fi

ca pr inc ipa lmen t e a partir d e 1 9 4 7 , l ogo após as e l e iç õ e s e s tª

dua i s de janeiro, para s e agravar a inda m a i s n a s e l e iç õ e s muni

c ipais d e novembro .

Desde sua criação e x i s t iu no PTB um grupo que se prQ

po s a apoiar a cand ida tura Dutra e po s t e r iormen t e seu governo .

E s s e grupo era l id e rado i n i c ia lmente por Lu í s Augu sto Fran

ça e depois p e l o pau l i s ta Hugo Borgh i , que e ra i n s i s tente d e fen

sor da a l iança do PTB com o novo pre s ident e . Mas as divergên

c i a s não s e r e s tr ingiam apenas ao t ipo d e re lação que o pa r t i

d o deveria ter com a admi n i s tração governamen ta l . Lideranç a s

exponenc i a i s c orno Segadas Viana , Danton Coe lho , Marcondes Fi

lho , Hugo Borghi e Baeta Neve s , dentre outr o s , v ivenciaram ri

va l idade s constantes que s e tradu z i am em c r i s e s suc e s s ivas .

Baeta Neve s , pre s idente do PTB d e s d e a sua prime ira convençao

( 1 4/8/45 ) , era objeto d e freqüen t e s c r í t i c a s por parte de Ma!:

condes F i lho a t é s e r subst ituído em j u lho de 1948 . Ne s s e momen

t o , o cargo passa a ser exerc ido p e l o próprio Varga s e a vice­

pre s id ência por S a lgado F i lho . O que e s t á s empre em j ogo ne.§.

sas d ivergênc ia s , a l ém d a s n a tur a i s d i sput a s pe l o poder dentro

do partido , é o t ipo de comprom i s s o que a agremiação deveria

ter com o movimento popul ar . Baeta Neve s , por exemplo , seria

acusado várias vez e s d e e squerd i smo e o grupo l igado a Borgh i


38

rotulado como o " PTB palac iano " .

De qualquer forma , o que s e observa de 1 94 5 a 1 948

e um aprofundamento dos problemas do partido do ponto de v i s ta

organ i z a c i ona l . E s s a c r i s e não s i gn i f icou obstrução ao cresci

mento do PTB em termos de diretórios mun ic i pa i s . Ao contrár io ,

e s s e período foi exatamente o momento de nac iona l i zação do pa!:

t ido no s e n t ido de sua presença em todo o território bra s i l ei

ro . E s s e c r e s c imento , porém , tem s eu lado negat ivo , pois pe rmi

te que s e a l imentem d i s putas interna s . Mas a c r i s e nao s e re�

tringe a e s s a expan sao tão rápida quanto de sordenad a . Ela era

ba sicamente uma que s tão d e identidade . o PTB e s tava , e f e t iva

mente , vivenc iando no d ia - a - d i a a prob l emá t i c a de s e r tanto um

partido de traba lhadores e l ider anças s indica i s , quanto um pa!:

t ido de Varga s . Como um part ido de ba s e s s indica l i s t a s , com

portava d i vergên c i a s em nada d e s p r e z í ve i s . Como um part ido fun

dado na m í s t i c a de Varga s , a t r a í a mu itos inter e s sados em ti

rar prove ito d e s s a incríve l fonte d e votos . Br igava - s e , em sg

ma , pe l a s formas de conqu i s t a r o apoio dos trabalhadore s , como

também pelo controle do prest ígio d e Varga s .

Se o PTB era em grande parte o part ido de Varg a s e

i s to lhe tra z i a ben e f íc io s ímpar e s , por outro lado ,

va problemas muito s é r io s . O " d on o " do partido era maior do

que o próprio partid o . A l ém do m a i s , havia mu itqs que s e autod�

nominavam herde iros n a tura i s e l e g í t imos repre sentantes desse

chefe pOlítico e " patrão " .

Examinando d iversas fon t e s documen t a i s , e poss {ve l

e s tabe l ecer uma cron o l o g i a na t r a j etória do PTB que i lustra

bem o ponto de v i s t a que e s t á sendo d e s t a cado . Até meados de

1 947 a grande preocupação d o s traba l h i s t a s e d e Vargas e ra com

o cresc imento e forta l e c imento organ i z a c ional do partido . Mas


39

as d i scussões e confrontos que dominavam o PTB reve lam a d ive!:

s idade de grupo s , bem como a inten s idade que a luta interna gª

nhara n e s s e per íodo . o c a s o d e são Pau l o é um e x emplo paradig

mático d e s s e impa s s e . As e l e iç õ e s d e s se ano ocupam bastante a

vida po l í t ica do pa í s e o suc e s s o e l e i tora l do PTB só faz acen

tuar sua s que s t õ e s de organiza ção . No i n í c i o de 1948 e la s s�

rão marc a n t e s e vários e s forços s ã o t e n tados no s en t ido de nQ

vamente r e e s truturar seus quadros . Um partido s o l idamente o!:

gani zado é a palavra d e ordem que bu sca contornar , sem suc e s so ,

o d e s en t end imento c r e s c en t e em seu s e i o .

Em meados d e 1 9 4 8 parece que e s sa s ituação e

da . A l z ira Vargas , dec epc i onada com o rumo dos acontec imento s ,
18
cheg� a d e c l a rar que o PTB " não e x i s t e mai s " . t nessa a l tura

que s e e f e tua uma mudança na pre s idência do partido . E l a passa.

a ser forma lmente preenchida por Vargas e d e fato ocupada pelo

v ice , Sa lgado F i lho . E s t e era um a n t igo s eguidor do ex -presi

den t e , que man t inha as melhores relações com os diversos

grupos den tro do pa rtido . A mudança na Execut iva Nacional nao

era apenas uma forma l idade para d i s s ipar a t r i t o s . Ela co inci

A partir d e s s e momento e fácil oQ


,

dia com uma f a s e do PTB .

servar que a ênfase nao reca i mais n a questão da organ i zação

do part ido . A preocupação c e n t r a l s er á a d e resgatar a fig�

ra de Vargas no plano nac iona l e trans formar novamente o quer�

m i smo na mo l a mestra do PTB . E s t e s e a s sume c l arame n t e como

um pa rtido de Varga s , a s s im como o fora em 1 9 4 5 . o que e s en

t ido por Alz ira como uma " v irada querem i s t a " e, na verdad e , a

re tomada do curso anter ior e " n atura l " d o partido . Enquanto

18
Carta a Getú l io Vargas d e l O / 6 / 1 9 4 8 , Arquivo AVAP , FGV/Cpdoc .
40

Vargas exi s t i s s e , o PTB s e ria queremi s t a e teria que sê-lo ,

porque Varg a s e ra maior que o partid o . o PTB prec isava de VaX

gas , mas a rec íproca não era verdad e i r a , ao menos na mesma di

men sao .

A súbita morte de Sa lgado F i l h o , em 30 de julho de

1 9 5 0 privava o part ido de um comando que vinha ger indo a corr

tento sua Sa lgado sera


.

orientação g e tu l i s t a e traba l h i sta .

substi tuído por Danton Coe l h o , homem d e con f iança de Vargas e

um dos princ ipa i s art iculadores d e sua cand ida tura , mas que nao

contava com o apoio unân ime do pa rt ido . Em junho de 1 9 5 1 , Darr

ton , que era en tão também min i s t ro do Traba l h o , foi pratic.ª-

mente coagido a abandonar a pre s id ê n c i a d o PTB , episódio no

qua l fora impro tante a a tuação da seção paul i s t a . Na l inha

de suce s s ão de pre s id e n t e s do PTB , observa - s e que essa função

pa s sará a ser exerc id a por p e s s o a s c u j a s l igações com Vargas

sao de ordem fami l ia r ou de profunda a f in idade pessoa l . Darr

ton será subst ituído por D inarte Dornel l e s , primo do pre s idente

para , exa tamente um ano depo i s , n a V Convenção do PTB , pa s s a r o

cargo a João Goul art , d i s c ípulo d i l eto d e Varga s . Goulart pex

manece n e s s e cargo a t é maio de 1 9 6 4 , quando já c a s s ado e auserr

t e do país é sup s t i tuído pe lo f i lho de Getúlio , Lutero Varga s .

No exercício d e s t e ú l t imo o PTB é extinto por força do· A I - 2 ,

em s e t embro do ano seguin t e .


41

o PTB e o Ministério d o Trabalho

Se as que s t õ e s internas do partido foram problemáti

cas no período que va i de 1 9 4 6 a ) 9 5 0 , o mesmo pode s e r d i t o de

suas relações com o M i n i s t é r i o do Traba lho .

o grande a rquiteto do suporte de ma s sa s que o PTB ti

vera fora o ú l t imo m in i s tro do Traba lho do Es tado Novo , Alexan

dre Marcondes F i l ho , que , ao a s sumir e s ta pasta em meados de

194 2 , d e s envo lveu um amplo e's forço s ind i c a l e doutrinário no

meio das c l a s s e s traba lhado ra s . Portanto o PTB , em sua di

nâmic a , nao pode s e r entend ido sem um exame .de suas relações

com o Ministério do Traba lho e obv iame nte com a diretriz poli

t ic a aí dominante em re lação ao movimento s indica l .

É mu ito s i gn i f i c a t ivo que , j á n a s a r ticulações para a

e l e ição de Dutra em 1 9 4 5 , a pasta do Traba lho tenha s ido o gran

de prêmio o ferec ido ao PTB por s eu apoio e l e itora l . Em decoJ;:.

rênc i a , a pa r t i r d e s s e a c o rd o , a tradição f i rmada é de que dev�

ria caber aos trabalh i stas a condução d e s t a impor tante area


,

po l í tica . É compre ensíve l , a s s im , que a s aproximações e a fa�

tamentos entre PTB e M in i s t é r i o do Traba lho s e j am um ind icador

importante para a ava l ia ção da força d o part ido e de sua trª

dução em termos de presença pO l ít ica governamen ta l . Neste sen

t ido o período que vai de 1 9 4 6 a 1 9 5 0 é bem i lu s t ra t ivo .


42

D e in í c io cabe observar que foram quatro os m i n i�

tros do Trabalho d e Dutra , sendo que nenhum d e l e s pode s e r quª

l i ficado como um quadro do PTB . o governo Dutra vai se c a raÇ.

terizar por perman e n t e s tensões no m i n i s t é r i o e por uma poli

tica s ind ica l crescentemente repre s s iva .

o primeiro nome e sc o l h ido para a pasta do Traba lho

foi o de Otac í l io Negrão de Lima , m i n e iro que havia part i c i pª

do da campanha do PTB em seu e s t ad o , mas que ce rtamen t e nao

pode ser caracteri zado como um traba l h i s ta de " pr imeira hora " .

Mas o s de sconten tamentos do PTB e s tavam apenas s e ini

c iando . A aprovaçao p e l o pre s idente d a Repúb l i c a do Decrg

t o - l e i n 2 9 . 0 7 0 , que praticamente c e rc eava o d i re i to de greve

e revi via a obr iga toriedade do a t e s t a d o de ideoiogia p a r a o s

cargos de d i reção s indica l , provoca grande r e a ç ã o no m e i o s indi

cal e também no PTB . Neste ponto va l e rec ordar que , pelo mg

nos d e sde f in s d e 1 9 4 4 , o c l ima po l í t ico � o movimento

r io s e a l terara s i gn i f i c a t ivamen te . Do ponto de v i s ta expl ici

tamente repr e s s ivo , o E s tado Novo e s tava morto e a s s i s t ia-

se, na verda de , a um franco c r e s c imento da l iberdade s ind ic a l .

o ano de 1 9 4 5 foi marcado por e l e iç õ e s s in d ic a i s reconhe c i d a s

pelo M i n i s t é rio do Traba lho , mesmo quando o s novos d i rigentes

escolh idos e ram iden t i f icados como s impa t i z a n � e s da e squerda .

As r e l açõe s e a presença d o s comun i s t a s n o s s i ndicatos cre scg

ram e foram habi lmen t e t o l eradas pe la o r i entação ministerial .

A anistia para Lu í s C a r l o s Prestes , a campanha queremi st a , a 19

gal ização do Partido Comun i s t a e a org a n i z ação do Movime nto Uni

f icador dos Traba lhadores ( MUT ) dão bem uma idéia da nova reª

l idade que se vivia . Não é surpreendente que o numero de grg


.

ves tenha aumentado durante o ano de 1 9 4 6 , a s s im como o poder

mobi l i zador dos s indicat o s , onde comun i s ta s e traba l h i s t a s d i�


43

putavam e d ivid iam in f l uência e pod e r .

A nova orien tação do governo Dutra e d e seu min i s tro

Negrão de Lima demon s t rava a c lara intenção de reverter tal

proce sso , aumentando a d i reção tute l a r do M i n i s t é r io do Trab!!

lho sobre o movimento s indica l . Já que e s t a pasta d e i xara de

estar sob o contro l e d o PTB e a t é mesmo d e Varga s , a tentati

va se a f igurava como uma ame a ç a , não s ó d i r igida aos comunL�

ta s , como também a o s própr ios s ind ica l i s t a s l igados ao trabj!

lhismo .

É n e s s e contexto que s e deve s i tuar a r e a l ização do

Con gresso S ind ica l dos Traba l h istas do Bra s i l , patroc inado

p e l o Min ist ério do Trabalho e que reuniu n o Rio, em s e t embro

de 1 9 4 6 , cerca de t r ê s m i l d e l egados s in d i c a i s de todo o Br!!

sil o o congre s s o é como um t e s t e de forç a , em que a a l a mini�

teria l i s ta s a i amplamente derrotad a , pois sao e l emen tos do PC

e também do PTB que c on seguem controlar a maioria dos d e l eg!!

dos . o resultado é a criação da Confederação Geral dos Trab!!

lhadore s , um dos pon t o s de fendidos p e l o MUT , e a ret ir.ada dos

min i s t � r i a l i s t a s d o congre s s o . E s t e s pros seguem sua reun ião

part icularmen te , d e c id indo pela formação de uma Confederação

dos Traba lhadores do Bra s i l .

Na verdad e , ambas a s confederações sao e f ême ras e a

cons equpnc ia mais s ign i f ic a t iva d e s s e congre s s o e a queda do


.

minis tro do Traba lho Negrão d e L ima , que acabará se l igando ao

Partido Traba lhista Nac iona l ( PTN ) . E l e s e ra subs t i tuído pelo


.

empresário paul i s t a , v i c e -presidente da F I E S P , Morvan Dias Fi

gue i redo . Efe t ivamente a entrada d e um empr e s á r i o tl na.c iong

l i s t a " l igado à pequena e média empresa para a pasta do Trab!!

lho , Indústria e Ccmércio é sug e s t iva . A d é c ad a d e 1 9 4 0 a s s in!!

la a forte inf luência empr e s a r i a l na formu l a ç ã o das pO l ít i c a s


44

econômica e soc i a l do pa í s . Sem dúvida a inqu ietação com o

movimento operár io s o crescera apos 1 9 4 5 , e a n e c e s s idade do

estabe l e c imento de novas forma s de con tr o l e sobre e s ta reali

dade era uma tôn ic a n o meio indu s t r i a l e comerc ial .

Mesmo que s e considere que o nome de Morvan Dias Fi

gue iredo po s su í s s e trânsito no PTB , não s e tratava obviamente

de um traba lh i s ta . A l ém do ma i s , a s i tuação po l í t ica e inte�

nac ional e s tava mudand o . o c l ima d a guerra f r ia começava a ch�

gar ao Bra s i l , o que c e rtamente a l imentou a diretriz repre s si

va que vinha sendo articu l ada dentro do min i st é r i o . Nestes te�

mo s , a admin istração de Morvan Figueiredo é cruc i a l . Segundo

Hugo Faria , então d e legado reg iona l do traba lho na Bahia , o nQ

vo minis tro montou um e xc e l ente serviço de in forma çõe s , que

funcionava recebendo e transmitindo comun icações para todas as

d e legacias do trabalho d o pa í s . D e s sa forma , uma equipe inst-ª.

lada no Rio reun ia dados sobre pra t icamente toda a l iderança

s indica l , ana l i sando suas tendênc i a s pO l ít ica s . As re lações

então e x i s tentes entre s indicatos e Part ido Comun i s t a eram -ª.

berta s , e mui t o s d e l e s contribuíam f inance iramente para o MUT ,


19 n e s sa
que era proibido l ega lmen t e . Vale acrescentar que

s i tuação muitos l íderes s ind ica i s traba l h i s t a s eram iden t i fi

cados como comun i s ta s , da mesma forma que a lgun s d ir igentes

do próprio partido foram acusados d e e squerd ismo .

A par t i r de 1 9 4 7 e principa lmente a partir de ma i o ,

quando o reg i s tro do P C é c a s s ado , d e senvolveu - s e todo um prQ

c e s s o de intervençõ e s s ind i c a i s que pra t ic amente conge lou e s ta

á r ea , afa stando-a d o palco pOlít ico por e s va z i amen t o . A retQ

mada da vida s indic a l só seria f e i t a de forma s ign i f icat iva

19 '
Hugo Faria ( d epo imento ) . FGV/Cpdoc , H i s to r i a Oral . p . 6 , 1 1 - 4 e
26-7 .
45

após a e l e i ção de Va rgas e , ma i s prec i s a me n t e , com a entrada

de João Gou lart prime iro para a pr e s id ê n c i a d o PTB em 1 9 5 2 e em

seguida para o própr io m i n i s t é r i o em 1 9 5 3 . O período que vai

d e 1 9 4 6 a 1 9 5 3 é como um in terregno que frustra a redemocrati

zaçao na á rea da po l í t i c a s indic a l . Da ó t i c a que nos inte re.2

sa r e s s a l ta r , a ausência de cresc imento e d e e fe rvescêcn c i a nas

orga n i za ç õ e s s i n d i c a i s acaba também por a t ingir o próprio

PTB , que vivia inegavelmente e ambiguamen t e da força e da in

f luênc i a d o s indica l i smo na vida pO l í t i c a nac iona l .

tura sobre o a s sun to conve rge , ao ass inalar que e s t iveram em

torno d e 1 4 3 o número de s indicatos sob i n t e rvenç ão , num tota l

de 944 . Também h á ac ordo quanto à a f i rmação de que de 1946

a 1 9 5 2 prat icamente não houve c r e s c imento n a organ ização s indi

cal . Este só f o i retomado n e s ta d a t a , para a t in g i r seu c l ímax

entre 1 9 6 1 e 1 9 6 3 .

É interessante observar igualmen t e o pape l centra l

d e s empenhado pe l a s d e l egac i a s regiona i s d o traba lho , que s e m0.2

traram tão fundamenta i s para o d e smante lamento de um certo peK

f i l de s ind ica l i smo , quanto o t inham s id o para a sua mon tagem .

Não é dema i s l embrar que o s d e l egados reg ion a i s , sediados em

todo o p a í s , f o r am peças bá s ic a s n a mob i l i zação dos trabalhadQ

res e na montagem dos núc l eos e s tadua i s do PTB . No período

f i n a l do Estado Novo mu i t a s d e l eg a c i a s regiona i s fun c ionam

como verda d e i r a s s e d e s do PTB , que , como part i d o , u t i l i zava

ampla e l ivremente a e s trutura e os recur s o s do Min i s té r i o do

Traha lho . Não é d i f í c i l imaginar a rede d e . int e r e s s e s e r e I.!!

ç õ e s que s e c r i a com t a l d inâmica e o qua n t o o s indica l i smo e

o traba l h i smo ficam aba l a d o s , quando a pO l í t ic a de i n terven

çoes subverte e s te pacto , invertendo a o r i entação inicia l .

�Iorvan D i a s F igue i redo perma n e c e r i a no cargo d e m i n i.2


46

tro até se tembro d e 1 9 4 8 , quando s e ret irou para a s sumir a pr�

s idência d a F I E SP . Do i s outros m i n i s t r o s a inda ocupariam e s t a

pas ta : o d eputado do PSD , Honório Fernandes Monte iro e o

func ionário de carreira do M i n i s t é r i o do Traba l h o , Marcial

Dias Pequ eno . Em ambas a s e sc o l h a s o PTB não fora bene f i c iad o ,

permanecendo a f a stado d e uma á rea po l í t ic a que , em prin c í p i o ,

era seu feudo e sua vocação .


47

o PTB e a propaganda d o traba lh i smo

Quando o ministro do Trabalho Marcond e s F i l ho rea li

z a v a sua prega ç a o doutrinária a ind a no E s t a d o Novo , os ideólQ

gos do traba l h i smo pod iam d i spor de t o d o s o s meios de in formª

ç a o e sc r i t a e f a l ad a para propagandear sua s idé ia s . Ta l f a ci

l idade não ma i s ocorreria a pós 1 9 4 5 . A l iberdade de imprensa

que pa s s a a vigorar no pa í s terá como um de s eus d e r ivantes o

f a t o d e que tod a a grande imprensa a s sume uma po s i ç ã o n i t idª

mente antigetu l i s t a e , por conseguint e , om i s sa ou contrá r i a

a o PTB . Enquando o PC mant inha s e u tradic iona l j orna l , a Voz

Operár i a , o mesmo não ocorr i a com o s traba l h i s ta s . Embora os

grandes j orna i s nao fos sem porta -vozes d ir e t o s d o PSD e d a UDN ,

é f a t o pa c í f ico que v á r i o s d e s s e s periódicos a s sumiam c l a rame.!!

t e pos i ções ma i s d e f in i d a s em f a vor d e um ou d e outro , princi

pa lmente nos momentos e l e it ora i s . A l ém do ma i s , h a v i a sempre

em sua s páginas e s paços consagrados à d i s c u s s ã o das or ientª

ç õ e s e po s i ç õ e s d e s s e s pa rtido s , j á qUe a UDN e o PSD reun iam

o que havia de ma i s s i gni f i c a t ivo em t e rmos das el ites po l í ti

c a s de s i tuação e opo s iç ã o .

Em r e l a ç ã o a o PTB o mesmo nao ocor r i a , devido à ine�

pre s s i vidade de seus quadros po l í t i c o s e à sua d e c l a ra d a vinc),!

l a ç ã o com o ex-d itador . Ma s a o PTB na o i n t e r e s s a va a pena s a


48

i n formação pO l í t ica factua l . Na qua l id a d e d e partido que postg

lava uma iden t i d a d e dout r i n á r i a e s pec í f i c a , era importante CO!!

tar com um m e i o de comun i c a ç ã o que lhe permi t i s s e propa g a r tal

identida de . I s to s e rá , sem dúvida uma d a s ma i s fortes preocg

pa çoes d a s l ideran ç a s do pa rtido no decorrer de muitos anos .

E é fundame n t a l ente nder que o d e s e j o d e sustentar e

revi v i f i c a r a doutr ina traba lh i sta , traduz i a a percepç a o poli

t i ca de que e s t a era , e deve r i a cont inua r s e n d o , o grande r ecu�

s o de poder do PTB , equipa rand o - s e e con fund i nd o - s e em termos

de importânc i a apena s com a f i gura de Varg a s . A impo s s ib i li

dade de veicular e s s e a p e l o i d e o l óg ico t inha cons eque n c i a s grª

ves pa ra o pa r t ido . Enqua nto o PSD s e d e f i n i a como s i tua c iQ

n i s ta e a UDN como opo s i ç ã o , o PTB c a r e c i a d e uma e XP l i c i t a ç ã o

ideológica ma ior que sustenta s s e sua · i d e n t i d ad e , e s pec i f ic amen

te junto às c l a s s e s traba lhadora s . Era t i d o como e s senc i a l

pa ra o PTB manter d e sperta a idé i a e a o r igem de sua c o n s t i tu i

ça o . Nesse s e n t ido , a preocupação com a propa g a nd a reun i a numa

mesma moeda funções ideo lóg i c a s e pragmát i ca s . Pretend i a - se

f a z e r chegar a o traba lhador uma mensagem ob j e t iva e ao me smo

tempo lembr a r - lhe a importâ n c i a e e f ic á c i a do pa tr imôn i o que já

d i spunha para a defesa de seus inter e s s e s . A visão de Ivete

Varga s a e s t e respeito é um re sumo i lu s t r a t ivo desse modo de

pensa r .

" Na real i d a d e o traba lhador e mui


.

to ob j e t ivo ( . . . ) antes de 1930


e l e n ã o t inha g a r a n t i a no emprego ,
n a o t inha horá r i o de traba lho , não
t inha a menor e s tabi l idade , nao ti
nha d i r e i t o a l gum . Ele traba lhª
va dependendo d o s patrõe s , que eram
todo-pod eroso s ( . . . ) Então , o trª
ba lhador tem consc iênc i a de que
49

e l e f o i incorporado rea lmente a


,

s o c iedade bra s i l e i ra graças à l�


g i s l a ç ã o soc i a l que Getú l i o Vargas
propic iou aos tr aba lhadores do Brª­
sil o Não emocionava à classe op�
r á r ia o fato d e ter havido um perío
do de exceçao . Não emoc ionava à
c la s s e operá r ia o fa to de , nos
d e s v ã o s d a exc e ç ã o , te rem acont�
c ido as c o i s a s que s empre a contecem
n o s desvãos da exceç ao . o que o
traba lhador reg i s trava e que naqu�
,

l e i n s t ante e l e era um homem que ,


quando t inha um emprego , t i nha hor�
rio de traba lho , t i nha salário mi
n imo , t inha a previdência soc i a l
para lhe propi c i a r uma a s s i stên
c i a méd ica , t i nha seguro de ac iden
te, t inha perspe c t iva de a po s entª-
doria ; en f i m , ele pa s s ou a exil!
. ,, 2 0
t 1r .

Se a marca pr imeira do PTB era ser o d e fensor e con

t inuador da obra social de Varga s , a s va r i a n t e s e os ma t i z e s

ideológicos que poderiam der ivar d e s sa proposta ser iam múlti

pIos . Ta nto é a s s im que a t é ho j e a d e f i n iç ã o do que seja trª-

ba l h i smo entre nós é ba stante pOlêmica . Ele tem s ido a s soe iª-

do indist intamente a s indica l i smo , a Varga s , a nac iona l i smo ,

a soc i a l i smo , a auto r i t a r i smo , a popu l i smo a até mesmo a c om�

n i smo e a democra c i a soc ia l .

Sem fazer uma r e f lexão ma ior acerca do problema , e


,

importante reter que o e s forço doutr iná r i o foi sempre um cuidª-

do e uma ambição dos d ir ig e n t e s traba lh i s ta s . Certamente e l e s

próprios n ã o concordavam entre s i quanto a o conteúdo d o a s sun

to . Em funç ã o d i s s o a s i n i c i a t iva s e ram var iada s e ra ramen

20
Ivete Varga s ( depoimento ) . FGV/Cpdoc , H i stória Ora l . p . l 04 - 5 .
50

t e agradavam a todos o s grupo s .

t ponto pac í f ico que o part ido contou com a pr e sença

de a lguns ide61ogos da maior r e l ev;nc ia . Entre eles d e s tacam-

s e Alberto pasqua l in i , Lúcio B i ttencourt , San Tiago Danta s , PQ

dendo- s e incluir também Sa lgado F i lho . Eram todo s f igura s de

grande m i l i t;ncia po l í t ica dentro do part ido , que ao mesmo tem

po d e s e nvolviam ampla a t ividade i n t e l ectua l visando mo ldar um

corpo doutrinário para o traba l h i smo . O conteúdo destas propo.§.

t a s é a inda pouco conhec ido e c e rtamen t e um e s tudo mais apurado

do traba l h i smo não pode prescindir d e s s a a n á l i s e .

Mas é importante registrar que a o lado dessa preocu

paçao intelectua l , r e s tr i ta a um pequeno c írcu l o , o PTB também

e s t eve muito interes sado na propaganda de s eu ideário e objeti

vos através dos meios de comun icação de ma s sa .

Pod e - s e constatar um e s forço cont ínuo entre 1946 e

1 9 5 0 no sent ido de orga n izar jornais traba lh i s ta s . Vários peri6

dicos d e s s e teor aparecem n o decorrer d o per íodo , mas ao que t�

do indica , apenas um d e l e s pertenceu e f e t ivamente ao PTB . t o

j orna l A Democracia , que reapa r e c e em abr i l de 1945 com um prQ

grama inic ia lmente popu lar e sem l igações p O l í t i c a s com parti


,
dos . Em junho d e 1 9 4 6 o j ornal pa s sa para o controle da r e c em-

c r iada empre s a SAIGOM - Soc iedade Anônima d e Indústria Grá f ic a


,
o Marmi te iro . o nome da organização é uma a lusão d ir e ta a cam

panha pre s idenc i a l d e 1 9 4 5 e ao incidente dos "marm i t e i ro s " , tã o

bem capital i z ad o à época pelos partidários d a cand ida tura Dutra .


,
Com uma orientação n i tidamente g e tu l i s ta , o j ornal e comprado

pelo PTB no início de 1 9 4 7 , p a s s ando então a fazer uma ampla

propaganda do part ido e a l imentando em suas páginas a expe�

t a t iva do retorno de Varga s . Convivendo com uma s i tuação


,
f inance ira extremamente d i f íc i l , A Democ racia e fechada em nQ
51

vemhro d e s s e mesmo ano .

.� Outros periód i c o s d e ram também cobertura as que s tõ e s

d o traba l h i smo , embora n a o se d e f in i s s em e x p l i c i tamente como ó�

gãos l igados a qua lquer partido . E s s e era o caso do j ornal

Diretrizes ( 1 9 4 5 a 1 9 5 0 ) , da Revist a Traba l h i s ta ( d e z embro de

1 9 49 a agosto de 1 9 5 0 ) e Diretriz Ope r á r ia ( março a j unho de

1951 ) . De sua s pá g i n a s brota exc e l en t e ma terial para a aná l i s e

dos traba lhismo s , em sua s di ferentes concepç õ e s , a s s im como

transpa rece c l a ram ente a s d i ficulda d e s para se chegar a uma

l inha mais consensua l , quanto ao que deveria ser o pa pel e a

po s ição do PTB face à doutrina traba lh i sta .

Se , por um lado , ao fim do governo Dutra , o PTB conti

nuava enfrentando d i f iculdades orga n i z a t iva s ; se as relações

com o M i n i s tério do Traba lho obstacu l i zavam sua atuação e , se em

termos doutrinários o s en tendimentos e r a m pre c á r io s , por outro ,

pod e - s e verificar que a l ideraça de Va rgas fora sufic iente para

manter a e spinha dor s a l do partido e para gara n t i r sua e l e iç ã o

pre s i dencia l e m 1 9 5 0 .


52

O "queremo s " v o l t a a s rua s


,

No período de 1 9 4 6 a 1 9 5 0 a s forç a s políticas dominan

tes d i agn o s t i c a r i a m , sem pr e e com mu i t o cuidado , que a po s s ibi

l idade do re torno do então senador Varga s a o poder nao era tão

remot a . Decididamente , o genera l Eur i c o Ga spar Dutra fora e l ei

to pres iden t e da Repúb l ica , gra ç a s a s eu a po i o . Não havia de§.

pon tada nos me ios po l í t i c o s uma l iderança popular c a pa z de co.!:

roer seu prestígio e a campanha queremi sta , em 1 9 50 já ganhara

as rua s . Por todo o pa í s s ã o criados com i t ê s pró - c a ndida tura

Getú l i o Varga s .

Do ponto de v i s t a de Dutra e d o s ude n i st a s , deveria

ser formu l a d a uma a l terna tiva viável c a p a z de imped i r a v itQ

ria do ex-president e . Para tanto e n s a i ou - s e uma a l i ança entre

UDN e PSD , v i sa nd o o l a nçamento de um candidato de união naciQ

na l . Essa fórmu l a , quer por intra n s i gênc i a s partidá r ia s , quer

por obs táculos de convivên c i a s entre e s s e s partido s , acabou

falhand o , e os d o i s , a s s im como em 1 9 4 5 , compareceriam ao p I ei

to com candid a t o s própr ios .

Embora ambos o s partidos t ives s em o me smo temor quan

to a o retorno d e Varga s , e s t a vam i n s c r i t o s em re feren c i a i s d í§.

pare s : o pre s t ígio e l e i tora l do PSD pa s s ava p e l a nao h o s t i l izª


53

çao a o getulismo ; a o pa s s o que com a UDN a contecia exa tamente o

contr ário . Ta l incompa t ibil idade f icou expressa em 1948 , quarr

do e s s e s partidos ensa iaram um acordo i n t e rpart idário v i sando pri!!

c ipa lmente a suc e s são pre s idenc i a l e buscando para tanto uma

solução consensua l . N e s t e c a s o pa rticul ar , a UDN cogi tava de

uma a l t e rna t i va que , reun indo as principa i s correntes políti

ca s , fosse capa z de marg i n a l i z a r o g e tu l i smo . E s s a e ra uma posi

ção extremamente contrad i tória para o PSD , que nao consegue , por

tanto , e f e t i vá - l a .

Enquanto os d o i s pa rtidos re f e r i d o s d i scutem, sem sg

cesso, fórmulas e h i pó t e s e s para a apresenta ção de um cand idª

to d e consenso que exc l u í s s e o nome de Va rgas e margina l i z a s s e

a s forças popul i s ta s , Va rgas entrará e m c e na ostentando exatª

mente seu lado popul a r , formando j unto a Adernar de Barros

governador de são Paulo -- urna frente popu l i s t a . Sua candidª

tura é urna re spo s t a à incapac idade d o s i s t ema partidário em o f�

recer a l t ernativas s a t i s fa t ó r i a s a nível das própr i a s e l i te s

e terá , também, um s e n t ido d e d e s forra daqu e l e s que o haviam d�

po sto em 1 9 4 5 .

Vargas entrava na d i sputa e l e i tora l com um forte

pa ldo para sua campanha . I s so s e dava nao porque viesse

fraldando a bande i r a do PTB , part ido d o qua l era pa trono v i tª

l íc i o ; ma s porque s e apre sent ava corno a ún ica l iderança po l íti

ca capa z de sObrepo r - s e a intere s s e s par t i c u l a r e s e aos pa rtidos

e x i stente s . Ta i s cond içõe s eram por e l e enfat icamente r e s sa.!.

tad a s corno hab i l itação e s senc i a l pa ra o bom d e s empenho das furr

ç õ e s de governo .

O que se pode observar de forma n í t ida naqu e l e momerr

to po l í t ico é que , ma i s uma vez , d e s pontava a r e l ação ambígua

en tre getul i smo e traba lhi smo . Varga s , se nao era "o" cand idª
54

to do PTB e s i m da col igação PTB - P S P -- , vo l tava ao princi

pa I pape l da cena pOlítica pelas maOE do traba l h i smo , con fundi

do por mu itos com O que j á pass ava c ser nomeado de popu l i smo .

Fora contra e s ta tendência po l í t ica que PSD e UDN tentaram um

acordo e prova velmente só não foram bem suc edidos porque popy

l i smo , traba l hi smo e g e t u l i smo s e mati zavam com tal su t i l e z a ,

que até a s rapos a s do PSD t i veram d i f iculdad e s para fechar o

lance . No entan to , o cand idato -- desde o pr ime iro momento

nao se ident i f ica como uma solução de part i d o , mas exa tamente

como um nome suprapa r t i dár i o . Getu l i smo n e s t a acepçao exc ede

traba 2hi smo!PTB e não por que s t õ e s de acordo interpartidá r i o .

Ge tul i smo!queremismo é uma força po l í t ica c e ntrada na l e g i t im i

d a d e e popularidade pessoa l d e Varga s , que não reconhece e nao

va lora po s i t ivamente o pape l da organ i z ação partidária .

Getu l i smo é traba lhi smo , s e n e s ta a s sociação a d imen

sao privileg iada for a ideológ i c a , ou s e j a , aquela de uma propo�

ta pol í t ica fundada na r e s o lução d a que s tão soc i a l e na mobi

l i zação dos traba lhadores p e l o s i s tema s ind i c a l corpora t i v i s ta .

Mas getu l i sIDo não é traba lhi smo em termos part idários e, em d�

corrênc i a , não s e iden t i f ica com O PTB . Ne s t e sentido , t a l ve z

s e possa a r r i scar que getu l i smo fo s se ma i s popu l i smo : um e s t i lo

de fazer pO l í t i c a que t inha em Varg a s s eu mestre ma ior , ma s que

f a z i a e scola , como a l id e rança de Adernar de Barros demonstrava .

É n e s s e contexto que Getú l i o , em seu d i scurso e l e itQ

ra l , r e f l e te um ac entuado intere s s e p e l a que stão soc ia l . Não

poupa c r í t i c a s à admin i s tração de Dutra e demon stra uma s ér j a

pr eocupaçao com a d e f e s a dos intere s s e s econômicos nac iona i s .

Propugnava por um padrão d e governo cu ja função pO l í t ica bá si

ca fosse repre sentar e expre s s a r d i re tamente os intere s se s da

nação sem int ermed i á r i o s . E s s a proposta i n s e r i a - s e dentro d e pa


55

râme tros que r e l egavam para segundo plano o pa pel d o s i s t ema par

t idário na articulação de intere s s e s , a s s im como l imitava a l�

g í t ima partic ipação popu lar à instância corpora t iva dos s indicª

tos .

Para Varga s , sua candidatura surgia de um ape l o popu

lar e da incapa c idade do s i s tema part i d á r i � gerar uma solução

ma i s adequada à s nec e s s idade s nac iona i s . Não sendo fruto de um

acordo partidário por. ele ac ionado , Va rgas s e apre s entava como

solução inevitável d iante d a s indec i sõ e s e intrans igênc i a s dos

pa rtido s . � e su l tado d e sua i s enção frente à d i sputa pa rtidári

a em torno de nome s , e s sa candida tura seria também um produto

do seu empenho num programa em d e f e sa da conc i l iação gera l .

Frente ao embat e pO l í t ico-partidário em torno de aI

terna tiva s pres idenc ia i s , o candidato Vargas apres entava c omo

vantagem o fato de nada ter re ivindicado para si. I s so o legi

t imava d i re tamente junto à s ma s sa s , que h a v iam f icado a l i j ad a s

ou margina l i zadas do deba t e suce s sório .

O caráter person a l i sta d e uma candidatura que a f irma

nao buscar ben e f í c i o s p e s s oa i s , será o principal trunfo para

que Vargas se apre sente ao e l e i torad o . A insi s tência com que

a f i rma sua cond ição de independência frente a intere s s e s poli

t icos organi zados pode ser constatada em d iversos pronunc iamerr

tos . Apresentand o - s e d e s s a forma , col oca - s e c omo o d e fensor dª

que l e s que , por suas cond ições prec á r i a s d e vida , nao haviam

conseguido a inda s e fazer representar nem merecer a a t ençã o ,

quer d a s agremiações pOlítica s , que r do poder e s tabe l e c ido .

Com e s s a po s i ç ã o , apre s enta - s e como o futuro d i r igente que , a

pa rtir d e uma ação desvin cu lada d a s instituições po lít ico-paX

t idárias e de grupos de pre s s ã o , irá governar para inte r e s s e s

não-organ izados que a f irma v i sua l i z a r e perceber .


56

o a partidari smo d e Varg a s inc lui a lgumas refe rênci

as conc re t a s a mecani smos a l ternat ivo s de pa r t i c i pação po l í ti

ca . N e s s e sentido , sua preocupaçao e a de vivificar a força

do traba l h i smo con struído no Es tado Novo . Assim, os s indicatos

são ins trument o s bá s ic o s para l evar adiante sua proposta de gQ

verno , fortemente ba seada para f i n s de campanha , na problemá t i

ca socia l . Segundo Varga s , o " que a soc iedade moderna aspira

e ao traba lhi smo -- ou s e j a , a harmonia entre toda s a s c l a s s e s ,

a d emoc racia com ba s e no trabalho e n o bem - e s t a r do povolt •

E a solução apontada p e l o s pr incípios do traba l h i smo indica

nao ser a " predominância d e s t a ou daqu e l a c a s t a que há de tr-ª.

zer a a lme j ada f e l i c idade humana . Nem a d i tadura do pro l e t-ª.

. . ' ,, 2 1
r 1 a do , nem a d 1 tadura d a s e 1 1' t e s .

21
VARGAS , Getúlio Dorn e l l e s . A campanha pre s iden c i a l ( d i scur
so s ) . R io de Janeiro , J . O l ímpio , 1 9 5 1 . p . 4 1 9 .
5 7.

o traba lh ismo volta a o poder?

Vitorioso n a s e l e i ç õ e s -- graça s também ao apoio do

PSD , que " cr i s t i a n i z ou " seu próprio candidato ( Cr i s t iano Machª

d o ) -- Vargas levava para o governo uma pauta de procedimentos

pO l í t icos que r e f l e t ia ba stante seu d i s curso e l e i tora l . PreQ

cupado com a conc i l iação nac ion a l orga n i z ou o prime iro gabin�

te, denominado " Mi n i s té r i o da Experiinc i a " . Este cara c t e r i zou­

s e p e l a pre s ença de vári a s correntes pa r t idá r ia s , inc l u s ive a

UDN , e pela fraca expr e s s ã o do PTB , ao qua l coube apenas o Mi

ni stério d o Traba lho , e x a tamente como n o governo Dutra . D e s en

volvendo uma ampla pO l í t i ca de a l ianças junto a c iv i s e m i l itª

re s , criou uma s i tua ção ba stante contrad i tória . Sua intenção

dec larada era i n s taurar um governo traba lh i s ta . Ma s , d e um lª

do, não pre s t ig iava dev idamen t e o PTB , part ido que me lhor pod�

r ia expr e s s a r e s s e ob j e t ivo ; e , d e outro , forta l e c i a o con j unto

das forç a s conservadora s . A fra g i l idade d e s s a compo s i ção nao

cons eguiu ag lutinar o PTB ; de sgos tou o s setores m i l i ta r e s e a li

mentou a s desconfianças da UDN . Uma vez que com este pa r t ido

Vargas ensa iava , d e sd e o início de s eu governo , uma po l ít ica de

aproximação , a cúpula ud en i s ta reagiu , a l egando uma crise de

confiança em relação a o pre s id ente , o que impos s ibi l i tava o e2


58

tabe l e c imento d e acordos . Mesmo pa r t i c ipando do min i s té r io , a

UDN colocaria sempre em d�vida a " s in c e r idade de prop6s ito s " do

gove rno , postura que evolui u para a oposição intran s igente .

Essa opo s i ção a inda era ma i s s i gni f i ca tiva porque a li

menta da por toda a grande imprensa nac iona l . A única exceçao

foi o j orn a l Ú l t ima Hora , criado em j unho de 1951 para ser uma

voz favorável ao regime e ao chefe do governo .

� interessante observar que a s primeiras d i ssensões

m i n i s t e r i a i s ocorreram exatamente na s e s fe r a s do PTB e da a l a n a

c iona l i sta m i l i t a r , tida s , d e sde a campanha , como pontos e ssen

c i a i s de sustentação d o governo . Em s e t embro de 1 9 5 1 Danton Co�

lho de ixou a pa sta do Traba lho devido a con f l itos internos do

PTB , sendo substituído por outro peteb i s t a , Segadas viana . Em

março seguinte , o general E s t i l la c Lea l , repre s entante dos gru

pos nac iona l i stas nos m e i o s m i l itare s , abandonaria a pa sta da

Guerra em função de d ivergênc i a s com os t e rmos das negoc iações

e f e tuadas pelo ministro do Exterior João Neves da Fontoura ( PSD ) ,

para o Acordo M i l itar Bra s i l - Estados Unido� .

A e scolha de Danton Coelho para o M in i s té r io do

ba lho t ivera s i gn i f icado pO l í t i c o bem d e l i neado . Durante a cam

panha suc e s s6 r ia , fora um e l emento fundamenta l nas articulações

com o s meios m i l itare s , vi sando a absorção do nome de Varga s .

Ap6s o p l e i to fora tra n s f ormado pe l o pr e s idente r e c ém- e l e i to , e

a inda não empo s sado , no re spon s á ve l pe l o tra tamento dos a s suntos

d e p o l í t ica interna j unto ao governo Dutra , a té que se e fetua�

se a muda nça de manda tos , da mesma forma que João Neves da FO!l

toura encarregado das que stões de política ext erna .

Danton era um e l emento da maior importância j unto ao

governo e um homem do PTB . Sua ida para a pa sta do Trabalho

pode ser interpretada como uma tentativa d e partidarizar o mini�


59

tério . E, ta lvez por e s sa raza o , sua admin i s tração inaugura

uma espécie de período de " caça às bruxa s " . Mu i t o s daque l e s

que haviam servido a o governo Dutra e que nao t inham aderido ao

PTB o u s e f i l iado à campanha d e Varga s torna ram- s e suspe i to s .

Não há pun i ç õe s , mas a fa s tamento s . A velha guarda de funcioná

r i o s do m i n i s t é r io ou é sub s t i tuída ou se r e t i ra voluntariE

mente . Esse procedimento de fundo p O l í t i c o tem impl icações admi

n i s trativas e desarticula o próprio funcionamento do ministério ,

uma vez que a t inge o corpo de func ionários e s tabe l e c idos de sde
22
o Esta do Novo e que f ora mant1do
· pelo propr10 Dutra .
' o

Sendo o PTB um pa r t ido em permanente convu l s ã o , a ori

entação usada para rea l i z a r a s imbiose entre a pasta do Trabalho

e o partido é duplamente d e s a s t rosa : d e s a r t icula o ministério

e desorienta a inda m a i s o PTB .

Danton que a cumu lava a pre s idência da Executiva Nacio

nal do PTB com a pasta do Traba lho , Indú s t r i a e Comércio de ixou

o primeiro cargo em junho de 1 9 5 1 e a f a s tou- s e do segundo em s�

tembro , acusando Vargas de lhe impor suce s s iva s derrota s . Dan

ton completaria sua tra j etória , no períod o , ameaçando abandQ

nar o PTB e dando apo io a uma convenção na u p ião Ferroviária do

Bra s i l , no R io de Jane iro , na qua l s e ob j e t ivava a criação da

Frente Traba lh ista Bra s i l e ira . Ou se j a , procurava articular

mais um partido traba lhista , do qua l s e r i a pre s idente e cu j o

ob j e t ivo era denun c i a r o s d e svios e l i t i s t a s que a proposta trE

ba l h i s t a vinha so frendo sob o governo Varga s . Embora e s sa ini

c i a t iva não tenha s ido levada avante , é um indicador da posição

crítica de Danton em relação à atuaçã o de seu s uc e s s o r no mini�

tério e também em relação ao próprio PTB .

22
Hugo Faria ( depoimento )$GV/Cpdoc , H i s t ó r i a Ora l . p . 6 7 - 8 .
FUNDAÇAQ GETÚLIO VARGAS ,
1t-:OIPO I CPOOC I 60

Com a saída de Danton , a pasta d o Trabalho e


,

da por José de Segadas Viana , ex-dire tor d o Departamento NaciQ

nal do Traba lho ao f im do Es tado Novo e um dos fundadores do

PTB . Sua admin i s t ração terá um teor ambíguo . Ao lado de medi

das de cunho l ibera l i zant e , como o re torno dos " a n t igos func ionª

rios" , o aumento do s a l á r i o mínimo em 1 9 5 2 ( o primeiro desde

sua criação em 1 9 4 3 ) e o fim do a te s tado d e ideologia para os

candidatos à s d iretorias s indica i s , Segadas pôs em prá tica medi

das inequivocamente repre s s iva s . Reac ionou os s erviços de in

formação do Min i 9tério do Traba lho , v i s ando o controle d ir e to

e s i s temático d a s l ideranças s indica i s . Longe d e superar o s prQ

blema s do ministério , irá , a o .contrário , aprofundá - l o s , poi s sua

po l ítica não agrada nem ao PTB , nem aos s in d ic a to s , nem à massa

trabalhadora . O aumento d o s a lário mín imo s e r i a considerado

insuficiente para corrigir as perdas s a l a r i a i s -- o que se expre§

sava n a s co nstantes e c r e s c e n t e s greves a partir de 1953 . t

no bo j o de uma d a s m a i s s ig n i ficat ivas d e s s a s greve s-- a dos m2

r í t imos no Rio d e Janeiro -- que s e explicita de vez o con f l ito

entre o Ministério do Trabalho e João Goula r t , presidente nacio

nal do PTB desde junho d e 1 9 5 1 . t n e s s e momento que Segadas

renuncia , s e n t ind o - s e d e s pr e s t igiado em sua orientação po l í t i

ca . A mudança n e s s a pasta é o s in a l m a i s evidente e conhecido


,
da crise por que p a s sava o governo Varga s .

Uma d a s s a í d a s para contorná - l a s e r i a exatamente a

r e forma ministerial e f e tuada em meados de 1 9 5 3 . Esta mudança

de gabine te tem s id o interpretada como um marco d e c i s ivo , porque

ind icaria uma " virada à e squerda " . Não obstante a e scolha de

João Goulart pos sa s e r vista como uma r e tomada mais agre s s iva

do " popu l i smo trabalh i s t a " de Varga s , a r e formulação do gabin�

t e , que poupou a s p a s t a s m i l i t a re s , signif icava principalmente


61

uma nova inve s t ida junto a o s conservadore s , particularmente a

UDN . À exceção do Ministério d a Agricu ltura , que cont inuou

tendo João C l eofas ( UDN ) como seu titular , as outras seis pa�

t a s civis foram a l terada s . D e s s a s apenas uma coube ao PTB-

como sempre a do Trabalho - , enquanto a s outra s c inco foram di

vididas entre a UDN ou s impa tizantes uden i s t a s e o PSD .

Em que p e s e a pres ença d e Goulart e sua reconhecida

inf luência junto ao movimento s indic a l , é forçoso admitir que

o novo s t a f f não se caracterizava por uma orientação ideo l ógi

c a a e squerd a . As greves que haviam ec lodido entre março e ª


,

bril de 1 9 5 3 , em são Paulo e Rio d e Jane iro , tornavam c laro o

descontentamento d o s traba lhadores com a admin i s tração de Vax.

gas . Mesmo que a atuação d o novo mini s t ro do Trabalho corrobo

re a t e s e de uma reativação do movimento s indica l , isso não s ig

n i f ica que t enha havid o , por pa rte do governo , um plano d e l ib�

rativo d e bene f ic ia r a s forças nac iona l i st a s e de e squerd a .

Desde o iníc io o governo adotara uma posição francamente conci

l i a tória em relação aos d i ferentes inte r e s s e s region a i s e parti

dário s , em d e t r imento a t é mesmo do próprio PTB . Convivera com

posições e inter e s s e s pO l í t ic o - id e o lógicos bastante d í spare s ,

ora cedendo à s expect a t ivas n a c ional i s ta s , como no caso da PetrQ

brá s , ora a outras de cunho mais internac iona l is t a ou mesmo

imperia l i s ta , como por o c a s ião do Acordo M i l it a r Bra s i l - E s tados

Unido s . E s t e movimento pendul a r foi a tônica d e todo o períod o ,

ao contrá rio do que usua lmente s e supõ e .

A nomeação d e Goulart para o m i n i s t ério do Trabalho

é o mais ousado g e s t o de Vargas para recuperar a confiança dos

trabalhadore s . Dentro da perspect iva g e tu l i s ta , no entanto , pro

curar a reaproximação com a s c l a s s e s traba lhadora s nao signi

fica abrir um confronto com o patronato ou com os inte r e s s e s d a s


62

c la s s e s dominantes . M a s t a l inic iativa , a d e s pe ito de nao se

confundir com uma proposta e squerd i z a n t e , d e sperta sérios t emQ

res junto à s forç a s cons ervador a s , em particu l a r entre os mili

tare s .

Como pre s idente d � PTB , Goulart vinha d e s envolvendo

uma orienta ção pO l í tica de maior a g lutinação das forç a s trabª

lhistas e de maior ident idade entre o partido e o s meios s indi

cais . Nesse sentid�, não é d i f í c i l perceber o choque de ori

entações d e s s a nova l ideranç a , com r e lação a o ministro anter ior ,

Segadas Viana . Este , s eguindo o figurino e s tadonovista , via a

pasta do Trabalho camo o instrumento d e tut e l a do movimento s ig

d ic a l . Jango inaugura uma outra mod a l idade d e fazer p O l í t ic a

traba lhista quer dentro d o partid o , quer dentro do ministério ,

quer em suas articu l a ç õ e s com o s indica l ismo . Em r e lação aos

dois ú l t imo s , sua adminis tração permitirá maior l iberdade para

as lideranças s indic a i s , d e r rubando na prática o ate stado de

ideologia , que havia terminado , jurid icamente , um ano antes .

Ao l ibera l i z a r a pOlítica s indic a l , Goulart buscava

uma reaproximação d e s t a com o PTB e a o mesmo tempo abria c ampo

para a atuação do PC , vis lumbrando a possibi l idade de traba lhar

a l iado a e s t e partido . E s t a a l ia n ç a visaria mais explic itª

mente as que st õ e s de pO l ít ic a s indical e de p O l í tica econômica

de cunho naciona l i s t a . Pela primeira vez , d e s d e 1946, os cQ

mun i s t a s passaram a gozar de uma margem de l iberdade . oficiosa

para atuar naque l e que seria seu meio por e x c e l ên c i a : as c l a�

s e s trabalhadora s .

Do ponto d e v i s ta administrativo duas outr a s observa

a d i s t r ibuição
.

çoes devem ser f e i ta s . A primeira d i z r e s pe it o

partidária na administração d a s autarquias da previdência entre

I s so e tão
,

func ionários do min i stério e d irigentes s indic a i s .


6 :>

ma i s impor tante , à med id a que s e entender que as l id e ranças s in

d i c a i s vão a l ia r a e s s e recurso d e poder uma autonomia políti

ca até então de sconhecid a . A segunda r e f e r e - s e as d ir e t r i z e s


,

traçadas para a f i x a ç ã o d e um novo s a l á r io mínimo , o que nao

s e l imitava apenas a um aumento c �rcun s tanc i a l . Era uma prQ

po sta que , a l terando a compo s ição d a s com i s s õ e s region a i s que

deveriam e s tudar e e s t ipu lar os níve i s s a l a r i a i s , apontava para

uma pO l ít ica ma i s permanente de acompanhamento e a tuà l iz ação sª

1 arl.a 1 2 3
. •

Na atuação d e Jango n o m i n i s t é r i o , nao podem ser mi

nimizadas as inova ç õ e s que d iz em respeito a o e s ti l o d e r e lac iona

mento com a s l ideranças s indica i s e com as ma s s a s trabalhado

ra s o A maior figura min i s te r i a l a t é então fora Marcond e s F i lho

que inaugurara , a inda no E stado Novo , uma prática constante

de contatos com o s trabalhadore s . F a l a ndo p e l o rádio semana.!

mente , comparecendo a s indicatos e recebendo l ideranç a s , Marcon

d e s criara a imagem d o m i n i s tro a c e s s íve l e a s erviço da c l a�

s e trabalhadora . M a s tudo era f e i t o pres ervando- s e a " aura " de

autoridade públ ica . Marcond e s portava - s e s empre como um homem

de governo com um verniz p e s soa l a r i s tocrá t ico .

Goulart avançava n e s s e relac ionamento e em parte rom

pia com e l e . Sua pas sagem pelo min i s tério é marcada por um e s t i

l o mais informa l e f l exível n o tra tamento d a s ques tõ e s s o c ia i s .

Não era somente o m i n i stro que fa lava aos traba lhadores e os ou

via . E f e tivamente e l e e stabe l ec i a negoc i a ç õ e s e fazia conce�

soes , praticando uma informa lidade até então inéd i t a . lritens i

ficando seus conta t o s d iretos com o s s indicato s , recebendo fr,lt

qüentemente sua s l ideranças no gabinete min i s te r i a l ou compar,lt

cendo a eventos promovidos por e n t idades de trabalhadores , Gou

lart não e s tava apenas e s tr e i tando sua s ba s e s de apoio . A pro


64

posta e r a a lcançar i s to , trans formando suas prom e s s a s e m a t o s jy

rídicos do mini s t ér i o . Esta preocupação em fundamentar

r idade e l id e rança pO l í t ic a em procedimentos lega i s e fe t i vo s , tem

a n í t ida inspiração do mod e l o de Varga s . Jango , contud o , rei

naugura e s s a tradiç ã o , ao d e smi s t i ficar a figura da autoridad e ,

aproximando-a do povo e co locando-a à a l tura de sua ma o .

Vários depoimentos demon s tram muito bem essa imagem

que e s tamos fixando . Ama ra l Pe ixoto , por e x emplo , d e f ine-o como

" o gaúcho típico , homem de fron t e i r a , de tomar chimarrão no gal

pão com os peõe s , de dar i n t imidad e " . E s s a int imidade chegava

ao ponto de , quando pres idente da Repúbl ica , lideranç a s s indi


. · . . 24
ca�s d �r�g�rem- s e a e l e na segun d a pes soa d o s �ngu
· 1 ar .

Por tudo i s s o , Goulart inaugura nas


pa lavras d e J o s é Gomes T a l a r ic o " uma
nova f a s e no M i n i s t é r io do Traba lho .
t a fase do d i r e i t o d e greve , d a abo
l ição do a te s t ad o de ideologia , de
não interferência no proc e s s o elei
toral d o s s in d i c a to s . Enfim, as
mudanças s e d ã o a partir da gestão
d e Jang o , que evidentemente as fez
25
por o r i entação d o d r . G e t ú l i o " .

Mas nenhum d e poimento é tão r ic o quanto o de Hugo

de Far i a :

"Quando é que u m d i r igente s in d i c a l


ia à c a s a d e u m m i n i s tro a qualquer
hora ? Com o dr . João Gou lart qual
quer s u j e i to que que r ia falar com

24
Ernâni do Amar a l Pe ixoto ( depoimento ) . FGV/Cpdoc , H i s tó r i a Ora l .
p. 712 .
25
José Gomes Talaric o ( depoimen to )PGV/Cpdoc , H i s t ó r i a Oral . p . 9 8 .
65

ele ia ao Hote l Regente e fa lava .


As aud i ênc i a s púb l i c a s no M i n i s térj,
o do Traba lho p a s s aram a ser a s su.là
tadora s . Uma vez por s emana , cente
n a s d e p e s s o a s chegavam para as au
d iência s , que começavam às quatro
horas d a tarde e acabavam a meia-
,

n o i te , uma h o r a da manhã . Enfim , hou


ve rea lmente um renasc imento pelo
i n forma l i smo de J ango , pelo e s tado
de e sp:í:rito d e l e até certo pon
to patern a l i st a de pre c i s a r f-ª
26
l a r com todo mund o " .

A e s tada d e Goulart n o m in i s té r i o , embora curta , foi

sufic iente para causar impactos de várias orden s . Passou-se a

teme r , a i nda m a i s , a part i c i pação p O l :í: t i c a dos traba lhadore s ,

o cresc imento do traba lhi smo e de PTB e , ma i s uma vez , a possj,

b i l idade d e ins tauração d e uma repúb l i c a s indica l i sta no Br-ª

silo

Por tudo i s to aumentam a s pre s s o e s que redundaram n a

s a :í:da de Gou lart do min i s t é r io , e m fevereiro de 1954 . Va rgas

dessa f e i ta nao nom e i a um novo m i n i s t ro do Traba lho , que seria

o quarto de sua admini s t ração . Mantém , até agosto , um mini.là

tro interino : Hugo d e Faria , o então d ir e tor do Departamento

Nacional do Traba lho e homem d e confiança de Goulart . Para

a UDN , t a l a t i tude indicava c l aramente a recusa de Vargas em

reorientar sua p o l :í: t ic a traba l h i s t a . S e i s so era verdade ,

era igualmente mu ito d i f :í: c i l e sc o lher um novo titular para a

pa sta do Traba lho , ponto nevrá lgico da c r i s e pol:í:tica do goveX

no .

26
Hugo Faria ( depoimento ) . FGV/Cpdoc , H i s tória Oral . p . B9 .
66

o e s forço d e concil iação com o s s e tores mais conse rvª

dores nao domou a opo s iç ã o m i l i ta r e ude n i s ta . D i ferentemente ,

foi interpretada por e s t a como mais um " trabalho de seduç ã o "

para a t r a i r a UDN . E s t e partido continuaria sua ferrenha opo s i

çao à pOlítica econômica in f l a c ionária , denunciando o avanço

das m a s s a s e o " perigo g e tu l i s ta " , a s s im como a crise mora l do

governo e a ex i s tência de planos continu í s t a s de Varga s .

N e s s e contexto em que s e evidencia uma decisã o obse.ll

s iva para depor o p r e s idente , a " denúnc ia João Neve s " foi fun

damenta l . o ' ex-min istro d a s R e l a ç õ e s Exteriore s , incompatibi

l izado com Vargas , dec l arou à impren s a , no início de 1 9 54 , e s tar

c i ente da e x i s tência d e um plano sec reto entre G e t ú l io e perón

ob j et ivando a formação d e um bloco continental de caráter polí

tico e econômico composto por Argentin a , Bra s i l e Chile ( Pac

to ABC l . Este plano visaria fazer frente à hegemonia norte-

americana no hemi s fério sul . E s s a revelação veio acompanhada

de outra que postulava estar Vargas p l a n e j ando a instauraç ão

de um a república s in d i c a l ista n o Bra s i l em mold e s peronis ta s .

A partir da í , a renúncia do pres idente s eria i n s i s t en

temente sol icitada no Cong r e s s o e n a impr e n s a . A UDN , em a l iança

com os setores mil itare s , partic ipa r á inten samente d e s s a j orna


, .
da , re sponsabilizando d iretamente Vargas por todos os poss 1ve 1 s

problemas que o p a í s e s t iv e s s e enfrentando . Contud o , a forte

reação que resul tou na s a ída d e João Goulart da pasta do Traba

lho , n ão impediu a aprovação de um aumento de 1 00% no s a l ário

mínimo a 1 2 d e maio d e 1 9 5 4 . Em meio a uma s ituação tensa o

Congre s so examinaria o pedido d e impeachment para Varga s , sob a

a l egação formal d e irregul a r idad e s administrativas na Comis são


,
Central de Preço s . A proposta d e impeachmen t e derrotada por

1 3 5 votos contra 3 5 voto s , em junho d e 1 9 5 4 . o movimento pela


67

depo s ição d e Vargas ganharia , entre tan to , novo a l ento quando d o

a s s a s sinato d o ma jor Rubens Vaz o O c r ime , ocorrido a 5 d e ago�

to , resul tava de um a t e ntado contra o p o l í t i c o e j orna l i s t a

C a r l o s Lacerda ( d iretor da Tribuna d a Imprensa , jornal ant igetg

l i s ta ) , no qua l ficou constatada a pa rtic ipação da guarda pe�

soa I de Varga s .

A s i tuação de c r i s e que o pa í s atrave s sava t inha dimen

soes ba stante persona l izada s . Tratava - se , principalment e , de

um movimento contra a permanência de Vargas no poder e contra

o getu l i smo , para o qua l ocorreu dec ididamente a açao m i l itar

que daria o veto f in a l ao governo .

Um b a l anço do período que vai de 1 9 4 5 a 1 9 5 4 sob a óti

ca do PTB , reve l a pontos substan c i a i s . Após um período de r�

pre s sao ao movimento s indica l corre spondente ao governo Dutra

é um minis tro traba l h i s t a que promove a l ibera l i zação deste mQ

vimento . A iniciat iva v i s ava não s ó fort a l ecer as bases de

apoio d o governo como também reativar o apelo traba l h i s ta no meio

operário . Entretanto e s sa l ibera l ização acaba por aumentar a

c ompe tição pO l í tica no inter ior do movimento s ind i c a l po s s ibi

l i tando um novo vigor aos comu n s i t a s que e s tavam em franca opo

s ição a o govern o . A l ém d i s s o , abriu e spaço para outras corren

t e s c omo O j a n i smo em são Pau l o , ou s e j a , o PTB tem que divi

dir o s re s u l tados d e sua pOlítica com outras forças que lhe são

riva i s .

Do ponto de v i s t a govername n t a l o s ganhos do PTB fQ

ram inexpre s sivo s . Em t e rmos mini steria i s o partido contro lou

apenas a pasta do Traba lho , Indús tria e Comé rcio e mesmo a s s im

d e forma e fe t iva , apenas no governo Varga s . V a l e l embrar que no

governo Dutra apenas com o minis tro Negrão d e Lima , pelo curto

e spaço d e dez me s e s , o PTB teve a l g uma re lação mais próx ima


68

com e s t a pa s t a .

S e o partido teve fraca partic ipação a n íve l mini.§.

t e r i a l também sua atuação no Cong r e s s o deve ser considerada .

o PTB , terceira bancada n o Congr e s s o , não s e con s t i tu i em uma

base pa r l amentar d e apoio a o governo Vargas nem mesmo no epi sQ

dio da cri ação da Petrobr á s . M a i s do que i s s o , sua pa rtic ip-ª

çao nas Com i s s õ e s Técnicas da Câmara d o s Deputados foi pouco sig

n i f icat iva . Das 1 1 4 Comi s s õ e s formad a s a t é 1 9 5 4 o PTB de teve

a pre s idência d e apenas 1 2 . Vale r e s s a l t a r que e s t e é um n ível

de atuação privi l eg iado a t ravé s do qua l um partido pode i n f luen

ciar mais d iretamente o proc e s s o d e e l aboração l e g i s l a tivo d�

fendendo a s pos ições d e s eu programa .

Por e s s e s indicadore s pod e - s e constatar que o PTB

nao foi um grande partido n e s t e per íodo . Entretanto , como vi�

mos demonstrando , era uma força pO l í t ic a do mais a l to s igni

f icado . Sua presença junto aos s indica to s , aos órgã os previ

denciários e no un iverso d e i n s t ituiçõe s l igadas a que s tão


,

do traba lho , a s s im como em certas autarqu i a s federa i s , sugere

uma linha profícua d e inve s t igaç ão . H á portanto que , incorp2.

rando e s t e s dados , reinte rpretá - l o s ma is d e t idamente em outra

d imen são .
69

o trabalhismo sem Vargas

A crise que l evaria a o d e s fecho traumático d o gover-

no, em agosto d e 1 9 5 4 , t inha a marca d a persona l ização . Para

seus opositores o que e s tava em j ogo era expurgar o getuli smo

da pO l í t ica bra s i l e ira , dando - s e para tanto uma demonstração

d e força que torn a s s e imperat ivo e irreve r s ív e l o a fa stamento

de Vargas d o pod e r .

Em 1 9 3 0 e 1 9 3 7 Vargas cons eguiu s e e stab e l e c e r no PQ

der graç a s a um e squema m i l itar que apoiava . Embora se tran.§.

forma s s e numa grande l id e rança pO l ít ica , sempre que lhe f a l tou

e s s e suporte , seu poder e s t eve comprome t id o . A s s im foi e m 1 9 4 5

e em 1 9 5 4 . No primeiro c a s o e s tava em j ogo tanto a mudança do

regime , quanto a permanência de Varga s --.-:l i tador -no pod e r . Mas

o golpe de 1 9 4 5 ficaria marcado n a h i s tória como uma inte rveg

ção m i l i tar contra o E s tado Novo . Em 1 9 5 4 a s ituação é d i fg

rent e : o regime não e s t á em questão . É o próprio Varg a s - presi

dente constituc ion a l - que e s t á sob j ulgamento . o que ocorre

é francamente uma investid a no sentido de l ivrar o regime da

inf luência de Varga s .

O tom persona l i s ta d a c r i s e r e f l e t e n i t idamente a prg

cária in s t ituciona l i zação d a pO l í t ica nac iona l , para a qual mui


70

t o havia concorrido _ o e s t i lo d e a tuação d o próprio Varga s . O

suicídio , em 2 4 de a go s to d e 1 9 5 4 , reforçará e s ta percepçao da

polític a : a popu l a ç ã o , ao lamentar nas ruas a morte de seu gran

de l íde r , não só reabi l i tava sua figura , como c r iava uma s i tuª

ção polí tica ba stante incômoda para seus opo s itore s . A reaçao

da UDN n e s te episódio pode ser interpretada como um misto "de

depre s s ão e euforia " . F e s t e j ava o de saparec imento daque l e que

era o a l vo de suas c r í t ica s , mas f icava acuada frente ao movi

mento popu lar que a condenava pe l a re spon sabi l idade da morte

do pr esidente . Por outro lado , com o de saparec imento de Varg a s ,


. - . 27
o s ud en1. s ta s perd1am seu grande e lo d e coe sao 1nterna .

Em termos po l í tico s , o suicídio , a l ém d e i l ibar a l id�

rança do pres idente e criar cons trangimentos na opo s iç ã o , terá

e fe i tos importantes na formação d e uma frente antigo l pista ,

v i sando a manutenção da ordem consti tuciona l . D e certa forma , o

contexto gerado pelo suicídio evidencia a fraque z a da pO l ítica

instituciona l , mas propicia o surgimento d e uma po sição ma j oritá

ria n a d e f e s a das instituições e da ordem l ega l .

A revi t a l ização do getul ismo é um ponto a l t o n e s s a con

j untura . Mas o getul ismo tornar a - s e um movimento de ma s s a s acé

falo . Desfeita a r e l ação l íder-ma s s a e cons iderando-se que a li

derança persona l i zada não poderia s e r f a c i lmente transferid a ,

a sObrevivência hi stórica d o getul ismo passaria a depender d e

sua absorção p e l o s i s tema partidário . De força para l e l a e con

corrente aos partido s , o getul i smo p a s s a a partir d e então a s e r

componente e stratégico do s i stema partidário da a l iança PSD-

PTB . Va l e d i z e r , o getul ismo s er i a a s s imi lado por pa rtidos h e t e

27
BENEVIDES , Maria Vitória . A U D N e o ud eni smo : ambiquidad e s no
l ibe r a l i smo bra s i l e i ro( 1 9 4 5 - 6 5) . Rio de Janeiro , Paz e Terra ,
1981 . p . 9 0 .
71

rogene os , o que l evaria a o e svaz iamento como movimento soc ia l .


I s so porque também não foi po s s ív e l o surg imento de outra l id�

rança popul i s t a , que consegu i s s e se l e g i t imar na qua l idade de

herd e i r a indiscutível do c a r i sma d o ex- pre s idente e de suas

obras traba lh i s ta s . O que s e observa é a prol i feração de varl.OS


, .

l íderes que d isputam entre s i o comando do movimento de massas

n o Bra s i l .

I s so foi feito de formas p o l í t i c a s variad a s . Havia ,

contudo , uma carac t e r í s t i c a c omum . Procurava - s e s empre busc a r a

ma ior proximidade com a grande m a s s a d a população ide n t i f ican

do-se as propo s t a s à figura p e s s o a l do l íd e r e nao a 3eu parti

do , o que é carac t e r í s t i c o do popul i smo . Nesse ponto , todos

eram herdeiros do g e tul i s mo . D i f e r i am d e s te , entretanto , no que

d i z respeito a o próprio conteúdo d a mensagem popu l i s ta , bem

como no e s t i l o p e s s o a l de sua encenaçao .

Tancredo Neves exprimiu bem e s t e ponto quando s itua

sua ver são do a s sunto .

" A nao s e r a s exibições de 12 d e mal


o, voc ê não t e m notícia do Getúlio
freqüentando s ind. icatos ou rec eben
do l íd e r e s trabalhadore s . Ele os
tratava c o m mui to respe i t o , mas os
atendia n a s r e i vind icações quando
j u s t a s e no e s s e nc ia l . O populi§
mo no Bra s i l r e a lmente foi uma d e fo�
maçao do getul i smo ; foi Adernar de
Barros , o próprio Jân io, t.odo esse
con j un t o de home n s que d e formaram
o getul ismo . O popul ismo foi uma
28
carica tura d o getulismo " .

28
GETÚL I O : uma h i s tória ora l . Coord . Va l e n t i n a da Rocha L ima
e t a l i i . R i o d e Janeiro , 1 9 8 6 . p . 2 5 9 .
72

D i scorrendo sobre e s s e mesmo a specto A l z ira Vargas

também marca c larament e o que c on s idera s e r a tônica do e s t i lo

po l í tico de seu pa i .

" D e urna c erta maneira , eu o compa


rava a s v e z e s ao Rooseve l t , que , em
,

bora t iv e s s e n a s c ido de urna fam í l i a


r ic a , e ra um homem que t inha um
grande s e n t id o popu l a r , sem ser PQ
pul i s t a . Há urna grande d i ferença
entre o popu l i smo e o popular .
O popul i s t a corte j a o povo , a s vezes
,

d e urna man e ira baixa . . . Meu pai


nunca t i rou o paletó para f ingir
29
que e ra povo " .

Corno s e pode observar nos depo imentos ac ima , a prese�

vaçao da imagem de Vargas caminha ao lado da d i s t inção en tre

popu l i smo e g e tu l i smo e d a a s soc iação entre getu l i smo e traba

lhismo .

Diretamente v inculado a o s exped ientes popul i s tas ,

ma s nao s ó em função d i s so , o movimento d e m a s s a s no Bras i l tQ

mará ímpeto na década d e 1 9 5 0 para s e r v i o l entamente interrompido

com o go lpe m i l i ta r de 1 9 6 4 . O traba l h i smo foi urna das mui t a s

f a c e t a s d e s s e movimento .

Por e s tar ma i s a s soc iado ao g e tu l i !3mo que ao PTB , o tra

ba l h i smo sofreu os e f e i t o s das trans formaçõ e s que ocorrem apo s


,

a morte d e Varga s . S e ante s não compare c e po l i t icamente c orno

movimento integrado i s so s er ia acentuado com o d e s a parec imento

de s eu l íd e r maior . O trabalh i smo d i lu i - s e por var10S partidos


, .

e l ideranças .

29
Op . c i t o p . 2 5 2 .
73

Sendo ob j eto d e várias l e i tura s e apropriações , tanto

poderia repre sentar uma ligação f i s io lógica com o E s tado , como

ser um ins trumento e f e t ivo d e emancipação popu l a r .

Seu crescimento e leitoral é inegável a ponto de se

trans formar n o segundo maior partido em representação parlamen

tar nas e l e ições d e 1 9 6 2 . Nesse momento o PTB era governo . Mas

sem es tabi l idade e susten tação . Era um governo i so l ado pe l a 0p2

sição parlamentar e militar . Tinha a bandeira do traba lhi smo .

As m a s s a s e s tavam n a s rua s , mas t inham outras bandeiras a l ém

do traba lhismo .

o que ficou d a s propo s t a s origina i s do traba lhismo

n e s s e PTB bem sucedido e l e i tora lmente é a inda um ponto d e inte�

rogaç ao . A s a c e s a s d i scus s õ e s sobre o populismo no Bra s i l dei ·

xam i s so muito c laro .

De qualquer forma , o progn ó s tico de Mac i e l Fi lho ,

apos os resultados e l e itorais d e 1 9 4 5 , foi conf irmado . Segundo


,

e l e , os part idos de futuro no B ra s i l ter iam que se dirigir ma

c içamente ao povo . Em suas palavra s : " Eu , francamente não acredi

to no êxito popu l a r dentro d e um c l ima democrático de qualquer

partido libera l ou cons ervador . E s t amos no século xx e nao

no século X I X " . 3 0

Mac iel F i lho , contud o , nao poderia prever que , no

tra�nto das que s t õ e s democrá tica s , o Bra s i l teria d i f iculdades

para u l trapa s s a r o século X I X . Tampouco que nosso país tivesse

tantos problema s em comportar , i n s t itucionalmente , um grande pa�

t ido de ma s s a s democrát ic o .

30
Arquivo Getúlio Varg a s . GV 4 5 . 1 2 . 1 1 / 2 . FGV/Cpdoc .

TEXTOS CPOOC

Mônica Pimenta Velloso A brasilidade verde-amarela;

nacionalismo e regionalismo paul ista

Dulce Chaves Pandolfi Da Revolução de 30 ao Golpe de 37:

e Mário Grynszpan a depuração das el ites

Ãngela Maria de C. Gomes Getulismo e traballlismo: tensões e dimensões

e Maria Celina S. o'Araújo do Partido Trabalhista Brasileiro

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G

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