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Josali Amaral
Maria Betânia da Silva Dantas
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
A didática no Brasil:
desenvolvimento histórico
e tendências pedagógicas
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Figura 1
Nesta aula vamos discutir como foi construída a cultura educacional deste país.
Esta cultura é responsável pela escolha das disciplinas que estudamos, pelos
conteúdos que valorizamos e pelo produto final da educação, que é a vida do
educando. Cada escolha educacional interferirá diretamente nas escolhas e
oportunidades de cada um de nossos alunos, portanto, é algo que exige muita
responsabilidade.
Nesta aula, veremos alguns dos pensadores que debatiam sobre o problema
da educação no Brasil e as sucessivas reformas que foram feitas nos primeiros
anos da República. Focaremos principalmente no aspecto curricular, para o qual
as propostas pretendiam modificar o rumo da herança colonial e implantar um
novo modelo de sociedade no país.
Vamos começar?
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AULA 03
3 TECENDO CONHECIMENTO
Em 1850, o Brasil unificou seu território e a nação começou a pensar a sua identidade
cultural. A educação tornou-se uma preocupação para aqueles intelectuais que
desejavam um futuro melhor para o país. Já vimos, em outras disciplinas, que
esse item nunca foi a prioridade de nossos governantes e que as soluções que
tinham por finalidade dar cumprimento à Constituição de 1824 estavam mais
tendentes a continuar ofertando uma educação de qualidade apenas para a elite.
Essas ideias não atingiram a reflexão sobre os métodos de ensino, pois as técnicas
da escola tradicional permaneceram dominantes até o período do Estado Novo
e pouco se modificaram apesar dos ideais da Escola Nova. A memorização, a
repetição do exercício e o conteúdo ministrado por meio de manuais didáticos,
bem como a centralidade do papel do professor continuaram sendo a marca da
educação no Brasil. A grande diferença que vemos no pensamento liberal é a
busca pela laicidade do ensino. Ao final do Império, os intelectuais já apontavam
que a educação deveria ser separada da religião e quando da Proclamação da
República, o ensino de religião seria relegado ao segundo plano.
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AULA 03
Figuras 3 e 4
Common School
e Horace Mann
Embora a educação que era promovida nos Estados Unidos fosse movida para
formar mão de obra qualificada, naquele país isso não significava um treinamento
para certas operações técnicas, pois, antes de tudo, o Estado tem a função de
educar o homem para ser livre, exercer a democracia e desenvolver um perfil
moral equilibrado. Desse modo, educar é mais que instruir, é formar o homem
através de conhecimentos significativos para a vida.
É neste sentido que Bastos fará a reflexão crítica sobre a escola brasileira e proporá
a sua reforma. Em seu entender, o ensino das ciências deveria se sobrepor ao
ensino das humanidades, com a finalidade de ofertar conhecimentos úteis para
a formação moral e profissional. Mas atingir essa meta não seria possível sem
consolidar a escola elementar, ou seja, a alfabetização.
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A didática no Brasil: desenvolvimento histórico e tendências pedagógicas
Tavares Bastos discutia, por este viés, um dos pontos cruciais da didática: a
composição de um currículo escolar pensado a partir de uma finalidade que
amplie o universo do educando. O que ensinar, para que ensinar e quando ensinar.
Esses três termos interferem diretamente na relação ensino-aprendizagem.
Imaginem uma criança numa escola de primeiras letras no interior do Mato Grosso,
no século XIX, recitando as lições mal aprendidas em latim. Que significado tem
para ela esse aprendizado? Que motivações ela tem para assimilar esse conteúdo?
É sobre isso que discute Tavares Bastos e que devemos nos questionar quando
entramos na sala de aula. Você, futuro professor de língua portuguesa, deve se
perguntar sobre a importância e o significado daquilo que planeja ensinar, pois
essa é a forma de estabelecer uma relação entre o aluno, o conteúdo e a vivência.
Outra ideia advogada por Tavares Bastos é a de que os jovens devem ser
estimulados à participação política na sua comunidade. Certo é que o Brasil
imperial, no qual Bastos viveu e pensou, estava passando por um processo
de acomodação política, e sua luta pela reforma do ensino estava atrelada a
outras críticas, como a centralização do poder imperial. Bastos defendia que
as províncias deveriam ser autônomas e nelas haveria comunas em que os
indivíduos que discutissem suas necessidades pudessem escolher as melhores
formas de encaminhar soluções econômicas e sociais. Esse modelo era difundido
nos Estados Unidos, que lhe servia de inspiração. Essas comunas seriam o lugar
ideal para que os jovens exercitassem a cidadania e se interessassem pelas leis e
discussões necessárias ao desenvolvimento da verdadeira democracia.
Vemos, portanto, que Bastos considerava que a educação deveria aliar a teoria à
prática, seja no campo das ciências naturais, seja no campo das ciências humanas,
afinal, história, literatura e arte não são meras disciplinas decorativas, mas dizem
respeito às formas de viver e fazer a sociedade.
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AULA 03
Nesse sentido, caro aluno, quando for ensinar José de Alencar, por que não
discutir o papel do índio na sociedade atual e estimular o seu aluno a pensar
no contexto de criação da obra indianista e sua repercussão para os dias de
hoje? Isso não é só interdisciplinaridade, é mostrar a força da literatura como
argumento político. Um livro como O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, problematiza
a pobreza e os costumes, e as pautas de Machado de Assis são fortes críticas à
política nacional. O mesmo se aplica ao ensino da língua, cuja utilidade está em
todos os níveis sociais.
As questões referentes à relação entre teoria e prática são as mais presentes nas
discussões didáticas e, ao longo deste curso, veremos outras propostas.
Para finalizar, vale lembrar que Bastos defendia o ensino público em detrimento
do privado, pois o cidadão bem formado serve à nação e deve ser prioridade
nos interesses do Estado.
Muitas das ideias de Bastos eram também presentes no pensamento de Rui Barbosa
e se fizeram repercutir na reforma do ensino de 1879. A questão era discutida
em termos de que disciplinas seriam Figura 5
mais úteis para tornar os indivíduos Rui Barbosa
Para André Castanha [s.d.], ainda que a construção da nação e do progresso fosse
fundamental para o pensamento da época, a educação foi pensada como uma
forma de homogeneizar as práticas culturais, expurgar a sociedade brasileira
de comportamentos oriundos das culturas indígenas e negras, consideradas
selvagens e motivo do atraso. Ensinar estaria no centro do processo de civilizar
e os professores eram considerados responsáveis pelo sucesso da empreitada.
Neste sentido, as práticas educacionais durante o Império foram organizadas
como instrumento para a manutenção da ordem e da moralidade pública.
Figura 6
Apesar do nome francês, Benjamin Constant
Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) foi um
brasileiro que teve importante papel na educação
brasileira. Militar, engenheiro e positivista,
foi um dos participantes do movimento que
levou à Proclamação da República e, além de
ter sido Ministro da Guerra durante o governo
provisório, foi também Ministro da Instrução
Pública. Durante sua estadia nesse último
ministério, promoveu a primeira reforma do
ensino brasileiro, pelo Decreto nº 981, de
novembro de 1891. De certa forma, podemos
dizer que ele incorporou uma série de ideias
que já tinham sido discutidas por Tavares Bastos e que faziam parte da pauta do
partido Liberal no Império. Por esse decreto, iniciou-se a expansão da educação
primária e secundária no Brasil, foram construídas escolas em prédios projetados
especificamente para o ensino e investiu-se na formação dos professores,
ampliando a criação das escolas normais.
Com Epitácio Pessoa, em 1901, o currículo volta a ter o caráter preparatório para
o ensino superior, em especial Direito e Medicina, reduzindo-se o currículo do
ensino médio para seis anos. Embora essa medida retrocedesse à realidade
do Império, ela permitiu a composição de um currículo nacional para o ensino
médio, uma vez que o modelo de ensino do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro,
tornou-se referência para o resto do país.
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A didática no Brasil: desenvolvimento histórico e tendências pedagógicas
Para Saviani (2004), para além do caráter idealizador, o movimento trouxe sérias
consequências para a prática pedagógica, dentre elas a burocratização do espaço
escolar. Acima dos princípios de Pestalozzi e Montessori, estava a intenção liberal
de formar a mão de obra, civilizar o país e controlar a população. Lourenço Filho,
Diretor da Instrução Pública de São Paulo, lançou a Revista Escola Nova entre
os anos de 1930 e 1931, veículo pelo qual apresentava não só o programa de
renovações educacionais, mas um verdadeiro receituário de como deve agir
o professor no exercício do magistério. Sua prática incorporava as ideias do
movimento ao plano de educação oficial do governo de Getúlio Vargas, através da
defesa da criação de uma “cultura pedagógica nacional”, para a qual a liberdade
do professor deveria ser exercida com o apoio de um pessoal técnico auxiliar.
Para Dias [s.d.], a criação do corpo burocrático escolar tinha por finalidade controlar
a atividade dos professores, para que os ideais liberais fossem garantidos no
ensino. A Escola Nova funcionava assim como um corpus ideológico que tinha por
finalidade formar um operariado obediente e eficiente para o desenvolvimento
industrial proposto pelo Estado de Getúlio Vargas.
Uma análise crítica do lema escolanovista feita por Demerval Saviani, “aprender
a aprender”, permite entrever que, mais do que desenvolver técnicas de ensino
que levassem o aluno a se tornar autônomo, significou orientar e uniformizar
a prática docente para o aprendizado dos saberes práticos, orientando a ação
pedagógica para o “aprender a fazer”.
Por outro lado, o aluno não passou a ser centro do ensino, mas objeto a ser
lapidado para uso como mão de obra.
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A didática no Brasil: desenvolvimento histórico e tendências pedagógicas
Desde jovem lecionando para o público adulto, a alfabetização deste foi seu
ponto principal de reflexão. Mais do que técnicas de ensino, Paulo Freire produziu
uma verdadeira epistemologia do aprendizado e revolucionou os métodos de
ensino invertendo a ordem da relação ensino-aprendizagem.
Esse discurso parece muito vago, mas, se você se lembrar do exemplo que
demos anteriormente do aluno do interior do Mato Grosso aprendendo latim,
entenderá o que Freire pensa sobre a educação. Vamos pensar mais pertinho de
nós, aqui no nosso sertão, e imaginar uma professora, numa escola da região de
predomínio rural, vivenciando a seca e a carência de todos os gêneros, falando
sobre a importância de uma alimentação balanceada para a saúde. O que ela
compreende da experiência que vivencia? Como ela expressa a sua vivência
da situação? Quais as formas que as famílias da região dispõem para conseguir
sobreviver nas condições adversas que a natureza lhes impõe? Talvez partilhar
essas experiências com os alunos seja mais significativo que listar os alimentos
e as vitaminas que eles contêm.
Para o desenvolvimento deste processo, Freire propõe que o local onde o ensino
será desenvolvido constitua “círculos de cultura”. Este seria o espaço de incluir
as experiências culturais da comunidade na realidade escolar, trazendo-a para
o universo do planejamento. Em lugar de receber um plano de ensino pronto e
acabado, os agentes do processo educativo devem estar abertos para construir
o currículo ao pé da comunidade.
Claro que não podemos perder de vista que as experiências de Paulo Freire se
deram no âmbito da educação rural e em pequenas comunidades, nas quais é
possível, com muito esforço, reunir vários agentes da comunidade para promover
uma atividade conjunta. Além do mais, este método foi pensado inicialmente
para a educação dos adultos. No sistema educacional que temos, que prioriza a
formação de mão de obra e a inserção do aluno no ensino superior, através de
provas unificadas e concurso, essa proposta é um desafio a toda ordem instituída.
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A didática no Brasil: desenvolvimento histórico e tendências pedagógicas
Exercitando
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AULA 03
5 TROCANDO EM MIÚDOS
6 AUTOAVALIANDO
REFERÊNCIAS
DIAS, Borges Eneias. Revista Escola Nova (1930-1931): um estudo sobre o tecnicismo
na educação. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/
jornada/jornada7/_GT1%20PDF/REVISTA%20ESCOLA%20NOVA%20_1930-
1931_%20UM%20ESTUDO%20SOBRE%20O%20TECNICISMO%20E.pdf. Acesso
em: 14 maio 2014.
RAFAEL, Mara Cecília & LARA, Ângela Mara de Barros. Atuação de Lourenço
Filho nas políticas brasileiras de instrução pré-primária. Disponível em:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/
j8kmtg8l.doc. Acesso em: 14 maio 2014.
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