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DESAFIOS NA SALA DE AULA: DIMENSÕES POSSÍVEIS PARA UM

PLANEJAMENTO FLEXÍVEL
Publicado em 07/12/2011 por DANIELA ALONSO em Diversa: Educação Inclusiva na
Prática.

Uma das discussões mais importantes sobre a educação inclusiva é que ela não pode ser
uma prática repetitiva, na qual o planejamento é seguido rigidamente, sem variação, para
todos os alunos. Ao contrário, a inclusão na sala de aula implica em oferecer uma proposta
ao grupo como um todo, ao mesmo tempo em que atende às necessidades de cada um, em
especial àqueles que correm risco de exclusão em termos de aprendizagem e participação
na sala de aula.
É no planejamento que se determina o quê, quando e como ensinar. Um plano de aula, ou
uma sequência didática pode contemplar regulações organizativas nos objetivos,
conteúdos, estratégias, recursos ou na avaliação. Podemos chamá-las de adequações ou
flexibilizações (do termo “flexibilidade”, que é qualidade do que é flexível. Cientes de
que a ideia de flexibilização vincula-se à necessidade de conceder maior plasticidade,
maior maleabilidade, ao que se quer flexionar, destituindo-o da rigidez tradicional).
Para estruturar as flexibilizações, se faz necessário refletir sobre os possíveis ajustes nas
formas de organização didática sem que se torne um plano paralelo, segregado ou
exclusivo (que tem poder para excluir). As flexibilizações e/ou adequações inseridas na
prática pedagógica devem estar a serviço de uma única premissa: diferenciar os meios
para igualar os direitos. Principalmente o direito à participação, ao convívio.

As categorias de um planejamento flexível


Uma das abordagens para um planejamento flexível considera três importantes categorias
a serem dimensionadas pelo professor:
1) Complexidade;
2) Quantidade;
3) Temporalidade.
Cada uma delas, ou a intersecção delas, poderá ajustar os objetivos e os conteúdos para
garantir a equidade de oportunidades no processo de ensino e aprendizagem. Tanto os
objetivos como os conteúdos poderão ser priorizados, complementados ou reajustados
desde que contemplem a temática oferecida ao grupo classe. Os mesmos princípios que
orientaram a organização dos objetivos e conteúdos servirão para verificação e validação
das aprendizagens.
Considerando os conteúdos escolares como objetos da aprendizagem, os alunos
constroem significados. O professor tem a função de mediador entre alunos e
conhecimentos, facilitando o processo de construção. Deve intervir exatamente nas
atividades que o aluno ainda não tem autonomia, oferecendo a ajuda necessária para que
se sinta capaz de realizá-la. É nesse contexto dinâmico que o professor seleciona
procedimentos de ensino e apoio para compartilhar, confrontar e resolver conflitos
cognitivos.

Complexidade
Para que todos tenham acesso ao currículo, o professor poderá dimensionar a
complexidade. O currículo não é outro, não está restrito ou selecionado. É preciso, no
contexto coletivo, diferenciar atividades ou papéis individuais de modo que cada um
encontre sentido, tenha oportunidade e sinta-se constantemente desafiado em seu
processo de aprendizagem. Quando necessário, organizar atividades com diferentes
formas de apoio: mediação individual, quantidade de tarefas diferenciada, inserção de
recursos específicos às necessidades.

Temporalidade
A abrangência da temporalidade refere-se ao tempo que o aluno levará para construir
competências e aprender conhecimentos. Também se refere à diferenciação de tempo
quanto ao ritmo de trabalho, concentração, mobilidade, ou execução de atividades em
diferentes situações na rotina escolar.
Tal abordagem considera a sala de aula como espaço de concretização do projeto que foi
anteriormente elaborado nos diversos níveis do sistema educacional. Mas, é
principalmente, um espaço de construção e reconstrução do conhecimento, de descoberta
do outro e de si mesmo. Se a sala de aula é um contexto de construção, a sala de aula
inclusiva exige um rompimento com estratégias e práticas limitadas e limitantes para dar
lugar a um espaço de participação com alternativas individuais e/ou colaborativas.
Os princípios de prática colaborativa e agrupamentos produtivos favorecem a cooperação
entre os estudantes que se agrupam para resolver desafios e construir conhecimentos
juntos. As aulas são organizadas em abordagens didáticas que encorajam a participação
diferenciada sobre um mesmo contexto (tema ou conteúdo curricular), se complementam
e constroem um conhecimento coletivo.

Mudar a prática pedagógica


A medida de um planejamento para a diversidade (necessidades comuns ao grupo) e para
a educação inclusiva (necessidades específicas para alguns alunos) implica em fazer uma
avaliação pedagógica cuidadosa, valorizar as potencialidades e não as limitações e
dinamizar o currículo. Na prática pedagógica diferenciada, todos os alunos exercitam o
enfrentamento dos desafios e a socialização dos conhecimentos com diferentes
habilidades e/ou possibilidades.
São práticas que reconstroem um novo sentido para o currículo, destinam-se a todos os
alunos e representam uma oportunidade, um objetivo para que a escola gere
transformações não só pedagógicas, mas na própria sociedade.
Daniela Alonso é educadora, consultora de projetos educacionais, selecionadora do
Prêmio Educador Nota 10 da Fundação Victor Civita, psicopedagoga, especialista em
educação inclusiva.
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