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RESUMO: O presente trabalho apresenta uma análise da aplicabilidade de uma das metodologias
mais usuais para o cálculo da estimativa da capacidade de carga e profundidade de embutimento de
estacas tipo Mega de concreto, o método semi-empírico de Décourt e Quaresma. Para tanto,
aplicou-se este método de cálculo, de uso muito difundido no Brasil para diversos tipos de estacas,
em 26 casos disponíveis de obras de reforço de fundações na região da grande São Paulo, com a
utilização de estacas tipo Mega de concreto. Aplicando-se uma técnica de simples análise estatística
nos dados disponíveis, pode-se verificar se realmente esta metodologia de cálculo é adequada para a
previsão de comportamento das estacas tipo Mega. Como conclusão, os autores propõem a
utilização da metodologia de Décourt e Quaresma, sugerindo sua adequação com a utilização de
fatores de correção “α” e “β”, de modo similar ao que já ocorre usualmente com a utilização desta
metodologia de cálculo, para outros tipos de estacas, na prática da engenharia de fundações
brasileira.
350 Hasegawa
3 6 260 256,6 183,26 336,15
- Pque do
300 Carmo.SP1
R.Marcelina
4 8 369 389,2 174,75 440,20
250 V.Romana
R. Prof.
200 Hasegawa --
5 5 240 235,2 158,39 316,78
Pque do
150 Carmo.SP2
R. Torres
100 6 Homem - 4 350 360 106,03 169,95
Jd Paulista
50 R.Antônio
7 Gandini 10 240 409 202,80 282,60
0 -Itaquera
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Capacidade de Carga Medida (KN) Tabela 2. Dados de embutimento das estacas com ponta
em areias.
PONTAS EM ARGILA PONTAS EM SILTE
PROF. CARGA CARGA CARGA
PONTAS EM AREIA CARGA
MÉDIA FINAL D&Q D&Q
LOCAL D&Q
REAL REAL (-1 m) (+1 m)
(KN)
Figura 1. Relação entre a capacidade de carga na ruptura (m) (KN) (KN) (KN)
estimada por “D&Q” e a capacidade de carga medida em
obra, para os diversos tipos de solo de embutimento da Av. Jorge
ponta das estacas da amostra analisada neste trabalho. 1 João Saad 5 225 202 141,21 248,55
-Vl. Sônia
Av.Pres.
A visualização da Figura 1 faz supor que, 2 Médici - 7 196 200,28 161,66 228,86
por conta da maior dispersão em relação à reta Osasco
média apresentada pelas estacas com pontas R. Barroso
embutidas em areias e siltes, não se consiga 3 Neto – 5 303 339,5 260,33 417,41
para estes casos, um “ajuste” adequado para o Butantã
4 Perus SP-2
5 320 368,16 157,57 577,44
método “D&Q”. Entretanto, conforme
apresentado nas tabelas 1 e 2, a seguir, este 5 Perus SP-1 9 310 469 279,25 845,95
efeito pode ser entendido melhor quando se
analisa a fórmula original de “D&Q”, que Com base no exposto acima e nas análises
introduz o coeficiente multiplicador “K” das tabelas 1 e 2, conclui-se que não há a
(KN/m2) referente à parcela referente à ponta da necessidade de se refinar a metodologia “D&Q”
estaca, em função de seu solo de embutimento, para as estacas com pontas embutidas em areias
que para as argilas é igual a 120, para as areias ou siltes, pois em todos os casos analisados, os
é igual a 400 e para os siltes varia entre os valores reais obtidos em obra encontram-se
dentro do intervalo de 1 metro acima ou abaixo obtidos em obra, propõe-se a aplicação dos
do valor estimado por “D&Q”, obtendo-se uma coeficientes “α” e “β” na fórmula original de
aceitável margem de erro. “D&Q” para as estacas tipo Mega com pontas
Na análise dos 14 casos em que as estacas embutidas em argilas, de modo que esta
tiveram suas pontas embutidas em argilas, fórmula apresente valores de capacidade de
verificou-se que a metodologia para a carga estimadas mais próximas da realidade
estimativa de carga de “D&Q” subestimava os observada nas obras analisadas neste trabalho.
valores reais de capacidade de carga, Esta metodologia de “aferição” da fórmula
observados em obra. de “D&Q” consiste na apresentação de
Observando a concepção do método “D&Q”, planilhas de cálculo contendo os dados obtidos
que originalmente foi desenvolvido para as pelo método “D&Q” para a estimativa da
estacas pré-moldadas de concreto, há de se capacidade de carga nas 14 obras analisadas,
considerar que uma das principais diferenças variando-se, segundo os critérios apresentados
entre estas estacas e as Mega está na forma de neste trabalho, os fatores “α” e “β”, de modo
cravação, com uma geração maior de vibração e que, mantendo-se o critério original da
uma energia de cravação aplicada com uma metodologia “D&Q”de subestimar ligeiramente
velocidade muito superior nas primeiras, em os valores estimados em relação aos valores
relação às condições de instalação de uma medidos em campo, situando-se assim a favor
estaca tipo Mega. da segurança, seja obtida a melhor
Com base nestes dados, aparentemente a compatibilidade entre os valores mais próximos
parcela de capacidade de carga da ponta sofre à reta média (“r2” = 1,0) e os valores mais
uma alteração significativamente menor, em próximos aos medidos no campo, verificados
relação à parcela da capacidade de carga pela média dos dados de obra entre a
resistida pelo atrito lateral entre estes dois capacidade de carga estimada por “D&Q”
métodos de cravação, por conta do dividida pelos valores medidos em campo, com
confinamento similar do solo na ponta, valores mais próximos a 1.
embuchamento similar, material similar e Como validação do método, foi utilizada
deslocamentos similares durante a última etapa uma regressão tipo linear, através da análise dos
de cravação. coeficientes de determinação “r2” entre os
Quanto à análise da parcela de atrito lateral dados medidos e os obtidos nas diversas
no fuste de cada tipo de estaca (pré-moldada e condições de aplicação da metodologia de
Mega), verifica-se que a metodologia de previsão, verificando-se uma melhoria
cravação diferente pode, potencialmente, consistente na formulação.
modificar a interação solo – estaca, alterando os Outra ferramenta estatística utilizada em
respectivos valores de atrito lateral e conjunto com “r2” foi a análise da média entre
conseqüentemente a capacidade de carga de os valores obtidos por “D&Q” divididos pelos
cada tipo de estaca, por conta da diferença nos valores medidos em campo para cada uma das
efeitos de vibração, transferência de energia da 14 obras analisadas, objetivando a aproximação
estaca para o solo e ainda na velocidade de entre os resultados esperados e os medidos em
cravação, a menos da fase final de instalação, campo.
onde esta diferença de velocidade não é muito Como critério para a melhor adequação dos
acentuada. dados, optou-se por não incluir valores da
Observando o exposto acima, parece média entre cargas esperadas pelo método
razoável a interpretação de que, para a etapa de “D&Q” dividida pela capacidade de carga
aferição da metodologia de cálculo “D&Q” medida em campo maior que 1,05, garantindo,
proposta neste trabalho, a parcela de capacidade com base no universo dos dados analisados
de carga da ponta sofra uma “correção” (fator neste trabalho, que apenas cerca de 14% dos
“α”) menor que a parcela referente ao atrito dados estimados por “D&Q” modificado pelos
lateral (fator “β”). autores, vieram a superestimar levemente os
Para melhorar esta estimativa, até então dados medidos em campo.
subestimando demasiadamente os valores reais
400 D&Q originais
y = 0,9524x - 11,61
350
CARGA PREVISTA D&Q .
2
R = 0,8268
D&Q com 'Alfa' e
OU D&Q MOD.(KN)
300
'Beta' modificados
250 para argilas
200 Linear ( D&Q com
'Alfa' e 'Beta'
150 y = 0,8233x - 12,995 modificados para
2
100
R = 0,8249 argilas)
Linear ( D&Q
50 originais)
0
0 100 200 300 400
CARGA MEDIDA (KN)
Figura 2. Comparação entre os dados “D&Q” anteriores e após a adoção do novos coeficientes “α” e “β” de ajuste.
REFERÊNCIAS
AGRADECIMENTOS
ARAUJO, R. (2005) Estudo das Estacas Tipo
Os autores expressam seus agradecimentos aos
“Mega” Objetivando seu Projeto e sua
professores, funcionários e demais
Execução. São Paulo. Dissertação
colaboradores do Departamento de Estruturas e
(Mestrado) – Escola Politécnica da USP,
Fundações da EPUSP - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo. 238p.
Universidade de São Paulo.
DECOURT, L.; QUARESMA, A.R. (1978)
A todos os engenheiros que colaboraram
Capacidade de carga de estacas a partir de
direta ou indiretamente com este trabalho, seja
valores do SPT. In: Congresso Brasileiro de
fornecendo dados de obras ou experiências
Mecânica dos Solos e engenharia de
importantes.
Fundações – COBRAMSEF, 6., Rio de
À Reforça Engenharia, em particular aos
Janeiro, Anais. Rio de Janeiro, ABMS, v.1,
engenheiros Armando de Oliveira e João
p. 45-53.
Armando de Oliveira, pela colaboração e DECOURT, L.; et al. (1996) Análise e Projeto
frutífera troca de idéias.
de fundações profundas. In: Fundações,
Teoria e Prática. Ed. Pini/ABMS/ABEF,
cap. 8, p. 265-327.