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Estatuto da Criança e do Adolescente - E.C.

Aula 1: Direitos humanos da criança e do adolescente e Direito


Internacional Infantojuvenil

Apresentação
Você sabia que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) representa o marco da consolidação do Direito
Infantojuvenil no Brasil, em um processo iniciado com a Constituição Federal? E que o Direito Internacional
teve um papel
de destaque, principalmente por meio dos Tratados de Direitos Humanos que versam direitos relativos a crianças e
adolescentes?

Nesta aula, iremos discorrer sobre esse tema que tanto mexe com os ânimos, lida com preconceitos, envolve sentimentos
que variam da pena ao ódio, fazendo surgir diversas questões que envolvem preconceito e discriminação em relação
a
este grupo especial que ainda está em desenvolvimento.

Objetivos
Identificar as diversas legislações internacionais, entre Declarações e Convenções que reconhecem a criança como
objeto de proteção ou sujeito de direito, assim como todos os demais seres humanos;

Compreender a atual posição da comunidade internacional sobre os direitos humanos de crianças e adolescentes.

Direitos humanos de crianças e adolescentes


Em face da condição de pessoas em desenvolvimento, ou seja, de seres que estão em processo de formação física e
psicológica, crianças e adolescentes devem receber um tratamento diferenciado.

Iniciaremos nossa aula com um breve histórico evolutivo dos direitos das crianças e adolescentes.

1899 - 1905 
No âmbito internacional, a primeira referência
que se tem acerca da proteção dos direitos
humanos da criança e do adolescente é a
Juvenile Court Art de Illinois, criada em 1899,
sendo considerada o primeiro
Tribunal de
Menores nos Estados Unidos, expandindo-se
para a Europa somente a partir de 1905,
quando grande parte dos Estados criaram
Tribunais de Menores (SPOSATO, 2006).

 1919
Em 1919, finda a Primeira Guerra Mundial, foi
criado o Comitê de Proteção da Infância, pela
liga das Nações, diante dos horrores
vivenciados e da percepção de que a criança
é um ser especial diante de sua
vulnerabilidade,
a qual, portanto, merece
atenção e proteção especiais.

A partir do século XX, houve uma adesão


mais ampla da comunidade internacional em
prol dos direitos humanos, o que acabou
repercutindo nas declarações e convenções
internacionais firmadas.

1924 - 1948 
Posteriormente, em 1924, a Declaração de
Genebra reconheceu a criança e o
adolescente como seres detentores de
proteção especial ao determinar que há a
“necessidade de proporcionar à criança uma
proteção especial”.
Da mesma forma ocorreu
na Declaração Universal dos Direitos
Humanos das Nações Unidas, firmada em
1948, que também defendia o “direito e
assistência especiais” à criança.

 1959
Em 1959, a Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas aprovou a Declaração dos
Direitos da Criança, passando a reconhecê-la
como sujeito detentor de direitos e não mais
apenas como objeto de proteção.

1969 
Por sua vez, a Convenção Americana sobre
os Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica, 1969) elencou, no artigo 19, que
“toda criança tem direito às medidas de
proteção que sua condição de menor requer,
por
parte da família, da sociedade e do
Estado”. Dessa forma, percebemos que o
dever de proteger e resguardar a criança e o
adolescente não é uma função apenas do
Estado, mas também da família com quem
eles convivem,
bem como da própria
sociedade que os integra.

Mais recentemente, a comunidade mundial criou novas bases para a


formulação de um ordenamento jurídico que possa ser adotado por todos os
países, independentemente das condições socioeconômicas destes, cuja
característica fundamental
é “a nobreza e a dignidade do ser humano
criança”.

Tais estruturas normativas foram fruto do esforço conjunto de diversos estudiosos e comunidades empenhadas na defesa e
promoção da criança e do adolescente, que participaram das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração
da
Justiça da Infância e da Juventude. São elas:

Regras de Beijing Diretrizes das Nações Regras Mínimas das


Resolução 40/33 da Assembleia Unidas para a Nações Unidas para a
Geral, de novembro de 1985. Prevenção da Proteção dos Jovens
Delinquência Juvenil – Privados de Liberdade
Diretrizes de Riad Assembleia Geral da ONU, de
Assembleia da ONU, de novembro novembro de 1990.
de 1990.

A proteção integral garantida ao público infantojuvenil surge a partir da Convenção sobre o Direito da Criança, aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, também conhecida como Convenção de Nova York.
Esse
momento foi tão importante que teve o maior número de ratificações e adesões mais rápidas da história, pois protege todas as
crianças do planeta e não apenas grupos determinados.

Nesse contexto, a comunidade internacional reconheceu que as crianças necessitam de atenção especial que as preserve das
consequências danosas decorrentes de situações que podem colocá-las em risco.
No tópico seguinte, serão abordados documentos internacionais relevantes, estabelecendo a relação direta entre eles e a
defesa dos interesses de crianças e adolescentes.

Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a criança

A Declaração de Genebra, ou Carta da


Liga sobre a Criança, de 1924, é
considerada o primeiro documento
voltado à proteção da criança de
forma ampla e genérica, pois não se
limita a apenas um enfoque na defesa
dos direitos humanos da
criança, mas
engloba a proteção à infância de
maneira integral. Ela incorporou os
princípios dos direitos da criança,
incentivando os Estados a criarem
meios que efetivamente garantissem

(Fonte: Nowik Sylwia / Shutterstock)
a proteção desse grupo especial.

Acerca da Declaração de Genebra, descreve Eglantine (apud DOLINGER, 2003, p. 82) cinco princípios basilares do documento,
os quais devem ser seguidos tendo em vista a necessidade de se resguardar a criança como sujeito de
direito:

1 2

A criança deve receber os meios necessários para seu A criança que estiver com fome deve ser alimentada; a
desenvolvimento normal, tanto material, como espiritual. criança que estiver doente precisa ser ajudada; a criança
atrasada precisa ser ajudada; a criança delinquente precisa
ser recuperada; o órfão e o abandonado precisam ser
protegidos e socorridos.

3 4

A criança deverá ser a primeira a receber socorro em A criança precisa ter possibilidade de ganhar seu sustento
tempos de dificuldade. e deve ser protegida de toda forma de exploração.

A criança deverá ser educada com a consciência de que


seus talentos devem ser dedicados ao serviço de seus
semelhantes.
Muito embora seja voltada para a garantia da proteção da criança e
do adolescente, percebemos que a Declaração de Genebra foi um
avanço para a época.

No que diz respeito ao reconhecimento da vulnerabilidade da criança, a Declaração não as tratava como autênticos sujeitos de
direitos e sim como objetos de proteção, como pode ser observado pelo emprego das palavras “a criança deve
receber”, “deve
ser alimentada”, “deve ser ajudada”, “deve ser educada”, diferentemente da Declaração de 1959, segundo a qual a criança tem
direito a um nome, como veremos a seguir.

Declaração dos Direitos da Criança

Após a Segunda Guerra Mundial, diversos movimentos


voltados a resguardar as crianças e adolescentes da
devastação decorrente das guerras surgiram, a exemplo do
Instituto Interamericano da Criança e da UNICEF (United
Nations International Child Emergency Fund).

Porém, foi em 1959 que se conseguiu mais abrangência aos


direitos da infância, sendo firmada a Declaração Universal
dos Direitos da Criança, a qual passa a tratar a criança
como sujeito de direito e não mais como mero objeto de
proteção.

A Declaração, além de conceder uma nova percepção da


criança, agora sujeito de direitos, ressalta também a
necessidade da promoção do respeito aos direitos dela, sua
sobrevivência, desenvolvimento e participação no combate
à exploração
e ao abuso.


Princípios da Declaração dos Direitos da Criança


Clique no botão acima.
Princípios da Declaração dos Direitos da Criança
A Declaração dos Direitos da Criança adotou dez princípios a serem seguidos pelos Estados e pela sociedade:

a. A universalização dos direitos a todas as crianças, sem qualquer discriminação.

b. As leis devem considerar a necessidade de atendimento do interesse superior da criança.

c. O direito a um nome e a uma nacionalidade, devendo ser prestada assistência à gestante.

d. A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem como de desfrutar alimentação, moradia, lazer
e outros cuidados especiais.

e. Aqueles que necessitarem devem receber cuidados especiais, bem como de receber amor e cuidado dos pais.

f. A criança deverá crescer sob o amparo de seus pais, em ambiente de afeto e segurança, podendo a criança de
tenra idade ser retirada de seus pais somente em casos excepcionais.

g. O direito à educação escolar.

h. A criança deve figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio;

i. A criança faz jus à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho;

j. A criança deve crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

Em consonância com os princípios que devem nortear a conduta política, social e econômica do Estado e da
sociedade, a criança e o adolescente, independentemente da origem, raça, sexo, cor, classe social, deve ser percebida
como
sujeito de direito e como tal deve ser respeitada – o que acabou contribuindo para o surgimento, em 1966, do
Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o qual prevê, no artigo 10, que:

3. Medidas especiais de proteção e de assistência devem ser tomadas em benefício de todas as crianças e
adolescentes, sem discriminação alguma derivada de razões de paternidade ou outras. Crianças e adolescentes
devem ser protegidos
contra a exploração econômica e social. O seu emprego em trabalhos de natureza a
comprometer com sua moralidade ou a sua saúde, capazes de pôr em perigo a sua vida, ou de prejudicar o seu
desenvolvimento normal deve ser
sujeito à sanção da lei. Os Estados devem também fixar os limites de idade
abaixo dos quais o emprego de mão de obra infantil será interdito e sujeito às sanções da lei (ONU, 2001 apud
BASTOS, 2012, p. 47);

Sobre o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, o artigo 24 prevê que:

1. Qualquer criança, sem nenhuma discriminação de raça, cor, sexo, língua, religião, origem nacional ou social,
propriedade ou nascimento, tem direito, da parte de sua família, da sociedade e do Estado, às medidas de
proteção
que exija a sua condição de menor.

2. Toda e qualquer criança deve ser registrada imediatamente após o nascimento e ter um nome.

3. Toda e qualquer criança tem o direito de adquirir uma nacionalidade (ONU, 2001 apud BASTOS, 2012, p. 48).

Em decorrência da evolução do tratamento dispensado à criança e ao adolescente, em 1989, a Organização das


Nações Unidas aprovou a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança, “consagrando direitos relativos à
infância
que até então não eram considerados, e compreendendo as crianças e adolescentes como pessoas em
processo de desenvolvimento” (BASTOS, 2012, p. 48).

A Convenção foi norteada por quatro princípios basilares da proteção da criança e do adolescente, que são:

a. o interesse superior da criança;

b. a não discriminação;

c. a sobrevivência e o desenvolvimento; e
d. a participação das crianças na agenda política dos Estados.

O principal destaque e diferencial da Convenção foram os direitos da personalidade, os quais, até aquele momento,
não haviam sido tratados nas demais Convenções e Declarações. Nesse sentido, Stancioli (1999, apud BASTOS,
2012,
p. 49) elucida que:

Historicamente, as duas declarações internacionais, dedicadas aos direitos da criança (de 1924, promulgada pela
Liga das Nações, e de 1959, promulgada pelas Nações Unidas), adotaram um paradigma bem diverso deste da
Convenção
de 1989. Naquelas, as preocupações básicas eram o cuidado e a proteção das crianças. A atual, por
outro lado, vai além, buscando “a noção de direitos da personalidade do menor, fundado na autonomia, [em
consonância com]
um conceito que inclui direitos civis similares aos dos ‘adultos’, como liberdades de expressão,
religião, associação, assembleia e direito à privacidade.

Avançando na legislação protetora da criança e do adolescente, tem-se a criação das Regras Mínimas das Nações
Unidas para a Administração da Infância e da Juventude, também conhecidas por Regras de Beijing ou Regras de
Pequim.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Atividade
1. Observando a imagem a seguir, discorra sobre a violação dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente e a importância
da proteção integral.

Regras de Pequim ou Regras de Beijing, Diretrizes de RIAD e


Regras de Tóquio
As Regras de Beijing, as Regras de Riad e as Regras de Tóquio, ao contrário das demais Convenções, voltam-se à criminalidade
juvenil, como veremos a seguir.

Clique nos botões para ver as informações.

Regras de Beijing 

As Regras de Beijing, firmadas em 1985, por meio da Resolução nº 43/33 da Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), são também conhecidas como Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da
Justiça, da Infância e da Juventude. Elas têm como base fundamental a prevenção do crime e do tratamento do jovem
infrator.

O documento faz referência rigorosa às situações de julgamento de crianças e adolescentes que sejam autores de ilícitos
penais, norteando direitos, tais como um julgamento justo e imparcial, conduzido por um Juízo especializado.

Diretrizes de Riad 

Em 1990, foram publicadas as Diretrizes de Riad, também conhecidas como Diretrizes das Nações Unidas para a
Prevenção da Delinquência Juvenil, as quais foram aprovadas por meio da Resolução nº 45/112.

As Diretrizes de Riad abordam a necessidade da adoção de políticas públicas progressivas de prevenção à delinquência
juvenil, voltadas ao controle social, e ressaltando a relevância da família, a exemplo das diretrizes
12 e 33, descritas a
seguir:

Diretriz 12: Dado que a família é a unidade central responsável pela socialização primária da criança, devem ser
feitos esforços pelos poderes públicos e organismos sociais para preservar a integridade
da família, inclusive da
família alargada. A sociedade tem a responsabilidade de ajudar a família a fornecer cuidados e proteção às crianças
e a assegurar o seu bem estar físico e mental. Devem assegurar-se
creches e infantários em número suficientes.

Diretriz 33: As comunidades devem adotar, ou reforçar, onde já existam, uma larga gama de medidas de apoio
comunitário aos jovens, incluindo o estabelecimento de centros de desenvolvimento comunitário,
instalações e
serviços recreativos para responderem aos problemas especiais das crianças que se encontram em risco social. Ao
promover estas medidas de auxílio, devem assegurar o respeito pelos direitos individuais
(SHECAIRA, 2008 apud
BASTOS, 2012, p. 52).

Regras de Tóquio 

No ano de 1990 também foram criadas as Regras de Tóquio, por meio da Resolução 45/113, conhecida como Regras
Mínimas das Nações Unidas para Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade, as quais traçam princípios
basilares voltados à promoção do uso de medidas de liberdade, bem como garantias mínimas para os jovens submetidos
às penas substitutivas e ao aprisionamento, de modo a se evitar a violação dos direitos deles e,
por conseguinte,
assegurar-lhes a efetividade dos direitos humanos. As Regras de Tóquio ressaltam ainda a importância da participação da
coletividade como forma de readaptação do infrator ao estabelecerem que:

17.1. A participação da coletividade deve ser encorajada, pois constitui um recurso primário e um dos fatores mais
importantes para reforçar laços entre os infratores submetidos a medidas não privativas de liberdade
e suas famílias e
comunidades. Esta participação deve complementar os esforços da administração da Justiça Criminal (BRASIL, 2009, p.
121).
Como se pode perceber, as Regras de Beijing, as Diretrizes de Riad e as Regras de Tóquio compõem a Doutrina das Nações
Unidas para a Proteção Integral à Infância, pois estas Regras constituíram os primeiros pilares do Sistema de Justiça
da
Infância e da Juventude pautado na especialidade e na garantia de direitos.

Ainda falando em proteção dos direitos humanos das crianças, deve-se mencionar a Convenção sobre os Direitos da Criança
da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1989, abordada no tópico seguinte.

Atividade
2. No plano internacional, as Regras Mínimas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude referem-se a qual
instrumento jurídico?

a) Regras de Riad.
b) Regras de Beijing.
c) Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança de 1989.
d) Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959.
e) Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Convenção sobre os direitos da criança de 1989


Adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989, e vigente desde 1990, este tratado internacional de proteção
dos direitos humanos possui apenas 54 artigos e se destaca dos anteriores pelo fato de ter sido ratificado por
todos os países-
membros, com exceção dos Estados Unidos, da Somália e do Sudão do Sul.

Os direitos previstos na Convenção sobre os Direitos as Criança incluem:

 
1 2

Direito à vida e à proteção contra a pena capital. Direito a ter uma nacionalidade.

 
3 4

Direito à proteção ante a separação dos pais. Direito de deixar qualquer país e de entrar em seu próprio país.

 
5 6
Direito de entrar em qualquer Estado e sair dele, para fins de Direito à proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior.
reunião familiar.

 
7 8

Direito à proteção de seus interesses no caso de adoção. Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião.

 
9 10

Direito de acesso a serviços de saúde, devendo o Estado Direito a um nível adequado de vida e segurança social.
reduzir a mortalidade infantil e abolir práticas tradicionais
prejudiciais à saúde.

 
11 12

Direito à educação, devendo os Estados oferecer educação Direito à proteção contra a exploração econômica, com fixação
primária compulsória e gratuita. de idade mínima para admissão em emprego.

 
13 14

Direito à proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e Direito à proteção contra a exploração e o abuso sexual.
uso de drogas e substâncias psicotrópicas.

Nos termos do Art. 1 dessa Convenção, a criança é definida como:

"Todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a


não ser que, em conformidade com a lei aplicável, a
maioridade seja alcançada antes."
- Convenção sobre os direitos da criança.
Esse importante tratado recepciona, portanto, a concepção do desenvolvimento integral da criança, reconhecendo assim sua
absoluta prioridade e necessidade de proteção integral.

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990, ou
seja, depois da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Complementando e fortalecendo o rol de medidas protetivas à criança e ao adolescente, as Nações Unidas adotou dois
Protocolos Facultativos à Convenção sobre os Direitos da Criança, por meio da Resolução A/RES/54/263 da Assembleia Geral:
o Protocolo Facultativo sobre Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil, passando a vigorar em 18.01.2002,
sendo aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro, por meio do Decreto Legislativo nº 230/2003, e
promulgado pelo Decreto
nº 5.007/2004; e o Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, o qual passou a vigorar em
12.02.2002.

 (Fonte: Monkey Business Images / Shutterstock)

Finalizando este estudo, abordaremos, a seguir, a sistemática de controle do cumprimento dos direitos humanos de crianças e
adolescentes.


Sistema de controle do cumprimento dos direitos humanos de crianças


Clique no botão acima.
Sistema de controle do cumprimento dos direitos humanos de crianças
Em 2011, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou o texto do Terceiro Protocolo à
Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, cuja cerimônia oficial ocorreu em Genebra, em 28 de fevereiro de
2012, durante
o período de sessões da ONU. Vinte países assinaram o Protocolo no mesmo dia da cerimônia oficial de
abertura, inclusive o Brasil. Em 2014, o documento iniciou sua vigência, após completar o número necessário de
ratificações.

A Convenção assegura às crianças e seus representantes a possibilidade de recorrerem ao Comitê de Direitos das
Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de petições individuais, sempre que não tiverem seus
direitos
garantidos pelas justiças de seus países, ou seja, sempre que, após a provocação das jurisdições domésticas,
esgotarem-se todas as instâncias internas sem que qualquer resultado prático e positivo tenha ocorrido.

Convém destacar que na apreciação das petições, o Comitê deverá seguir sempre o princípio do superior interesse da
criança e garantir, salvo autorização expressa dos interessados, o sigilo das identidades das pessoas envolvidas
nas
comunicações.

Porém, é importante ressaltar que não é suficiente o surgimento de regras e diretrizes voltadas à proteção da criança,
se estas não forem efetivamente aplicadas e efetivadas, sendo necessário um conjunto articulado de ações por
parte
da comunidade internacional, da família e do Estado para garantir que crianças e adolescentes sejam efetivamente
sujeitos de direitos e tenham seus direitos assegurados. Dessa forma, pode-se afirmar que o sistema de controle
do
cumprimento dos direitos humanos de crianças assume a finalidade de promover ações públicas que concedam a
prioridade do atendimento, na promoção e controle dos direitos da criança e adolescente. Na promoção dos direitos
é
necessário um verdadeiro engajamento de todos os órgãos públicos, bem como da própria comunidade, pois é
obrigação de todos a promoção e a efetivação dos direitos infantojuvenis, o que se dá por meio da elaboração e
implementação
de políticas públicas de atendimento – função fundamental do Conselho de Direitos da Criança e do
Adolescente.

No Brasil, o Sistema de Garantia de Direito é distribuído em três eixos fundamentais: o eixo de promoção de direitos; o
eixo de defesa; e o eixo de controle social, sendo composto, por exemplo, dos Conselhos Nacional, Estaduais
e
Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente; e, no Campo da Defesa dos Direitos, pelo Poder Judiciário, pelo
Ministério Público, pela Defensoria Pública, pelos Centros de Defesa (CEDECAS), pela Segurança Pública e
pelos
Conselhos Tutelares.

Eixo de Promoção de Direitos: se dá por meio do desenvolvimento da política de atendimento dos direitos de crianças
e adolescentes, integrante da política de promoção dos direitos humanos. Essa política deve-se
dar de modo
transversal, articulando todas as políticas públicas. Nele estão os serviços e programas de políticas públicas de
atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes, de execução de medidas de proteção de
direitos e de
execução de medidas sócioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção desses direitos são as
instâncias governamentais e da sociedade civil que se dedicam ao atendimento direto de direitos, prestando
serviços
públicos e/ou de relevância pública, como ministérios do governo federal, secretarias estaduais ou municipais,
fundações, ONGs, etc. Exemplo: Conselhos de Direitos, incluídos toda área da assistência social, educação
e saúde.

Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as violações de direitos e responsabilizar o autor da violência. Tem
entre os principais atores, os Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual e Federal (centros
de apoio
operacionais, promotorias especializadas), Judiciário (Juizado da Infância e Juventude, Varas criminais especializadas,
comissões judiciais de adoções) Defensoria Pública do Estado e da União, e órgãos da Segurança
Pública, como
Polícia civil, militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias e Centros de defesa de direitos, etc.

Eixo de Controle Social: é responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações de promoção e
defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, bem como, dos demais eixos do sistema de garantia
dos
direitos. O controle se dá primordialmente pela sociedade civil organizada e por meio de instâncias públicas
colegiadas, a exemplo dos conselhos (CALS, 2007, p. 13).
Atividade
3. Na Convenção acerca dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, criança é todo o ser humano:

a) Imaturo do ponto de vista biológico e dependente econômica, social e emocionalmente.


b) Apresenta desenvolvimento físico, psíquico e sexual incompatível com os caracteres da idade adulta.
c) Menor de dezoito anos de idade, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.
d) Relativamente incapaz de cuidar de si e zelar, autonomamente, por seu próprio bem-estar e desenvolvimento.
e) Incapaz de responder civil e penalmente pelos atos da vida adulta.

4. Assinale V (para verdadeiro) ou F (para falso) nas seguintes alternativas:

a) As crianças e os adolescentes não são titulares de direitos d) Toda criança tem direito às medidas de proteção que sua
humanos como qualquer pessoa. condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do
Estado.
Falso
Verdadeiro

b) A criança faz jus a todos os benefícios da previdência social, bem


como de desfrutar alimentação, moradia, lazer e outros cuidados e) A criança deve receber os meios necessários para seu
especiais. desenvolvimento normal, tanto material, como espiritual.

Falso Verdadeiro

c) A criança deve crescer em meio a um espírito de solidariedade,


compreensão, amizade e justiça entre os povos.

Verdadeiro
5. Associe as colunas, utilizando a numeração correspondente.

Declaração de Genebra 1
Declaração dos Direitos da Criança de 1959 2

Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 3

Referências

a) Passa a tratar a criança como sujeito de direitos e não mais como objeto de proteção.
BASTOS, Angélica Barroso. Direitos humanos das crianças e dos adolescentes: as contribuições do Estatuto da Criança e do
Adolescente para a efetivação dos Direitos Humanos infanto-juvenis. 2012. Dissertação (Mestrado
em Direito) – Universidade
Federal deconhecida
b) Também Minas Gerais, Belo Horizonte.
como Convenção de NovaDisponível
York. em: http ://www .bibliotecadigital .ufmg .br /dspace /bitstream /handle
/1843 /BUOS -BUOS-8XSR3V/disserta_ao_ang_lica_bastos .pdf ?sequence=1.
Acesso em: 18 jun. 2019.

BRASIL. Ministério
c) Carta da daCriança.
Liga sobre a Justiça. Secretaria Nacional de Justiça. Normas e princípios das Nações Unidas sobre prevenção ao
crime e justiça criminal. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, 2009.

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http ://www .planalto .gov .br /ccivil_03 /decreto /1990 -1994 /d99710 .htm.
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Direitos de crianças e adolescentes: guia de atendimento. Fortaleza: Cedeca/Unicef, 2007. Disponível
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Acesso em: 18 jun. 2019.

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2005.

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema de garantias e o direito penal juvenil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
SPOSATO, Karyna Batista. O direito penal juvenil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

STANCIOLI, Brunello Souza. Sobre a capacidade de fato da criança e do adolescente: sua gênese e desenvolvimento na família.
Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre, n. 2, jul-ago-set 1999, p. 37-42.

Próxima aula

Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) – Disposições Preliminares.

Evolução do tratamento jurídico conferido à criança e ao adolescente como sujeitos de direitos fundamentais.

Direitos de criança e adolescentes indígenas.

Explore mais

TACRO, Marcia Anita Sprandel (coord.). Situação das crianças e dos adolescentes na tríplice fronteira entre Argentina, Brasil
e Paraguai: desafios e recomendações / UNICEF, ITAIPU Binacional. Curitiba: ITAIPU Binacional,
2005.

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