Você está na página 1de 20

MORFOSSINTAXE I

Francisco De Souza
Gonçalves
Classes de palavras:
advérbio, interjeição,
preposição e conjunção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os advérbios, as interjeições, as preposições e as conjun-


ções em contextos comunicativos diversos.
„„ Relacionar aspectos linguísticos, semânticos e discursivos de cada
uma das classes gramaticais em situações concretas de interação
verbal orais ou escritas.
„„ Conceituar advérbios, interjeições, preposições e conjunções de forma
autônoma e proficiente.

Introdução
O estudo da morfologia é marcado pelo ávido desejo do homem de
compreender a linguagem em seus complexos processos. Entender,
analisar, conceituar e categorizar os inúmeros elementos que fazem
parte do processo comunicativo sempre foi uma preocupação (CUNHA;
ALTGOTT, 2004). Neste capítulo, você estudará algumas importantes
classes de palavras das quais se ocupam a morfologia: o advérbio, a
preposição, a interjeição e a conjunção.

Advérbio
Correspondem à classe de palavras que agrupa termos invariáveis, cuja função
é modificar, delimitar ou amplificar a significação de um verbo, de um adjetivo,
de outro advérbio ou de uma oração, expressando circunstâncias como lugar,
tempo, modo, negação, dúvida, afirmação e intensidade.
2 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

Locução adverbial
A locução adverbial consiste na junção de dois ou mais termos que, juntos,
passam a ter valor semântico e gramatical de um advérbio. Geralmente possuem
uma preposição em seu processo de composição.

Graus dos advérbios


Os advérbios não se flexionam em gênero ou número, mas podem variar em
grau, da mesma forma que os adjetivos. Os graus do advérbio são o comparativo
e o superlativo. O grau comparativo pode ser de igualdade, de superioridade ou
de inferioridade. Já o grau superlativo pode ser analítico ou sintético (LIMA,
2011). Em uma construção analítica, o aumento do grau do termo é efetuado
com o auxílio de outro advérbio. Em uma sintética, o que promove o aumento
de grau é o sufixo -íssimo. Observe:

Grau comparativo de inferioridade: menos que (ou do que). Exemplo:

Jussara fala menos pausadamente que Alexandre.

Grau comparativo de igualdade: tão... quanto; tão... como; tão/tanto... quanto;


quão. Exemplo:

Jussara fala tão rápido quanto eu.

Grau comparativo de superioridade: mais que (ou do que). Exemplo:

Jussara fala mais lentamente do que Ariane.

Grau superlativo absoluto analítico: acompanhado de outro advérbio (muito


+ advérbio). Exemplo:

O artista pinta muito bem.

Grau superlativo relativo de superioridade: quando a intensidade do ele-


mento determinado é aumentada. Exemplo:

O cavaleiro mora pertíssimo.


Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 3

Observação: a utilização de formas diminutivas em alguns advérbios —


pertinho, longinho, pouquinho, cedinho — é bastante utilizada pelos falantes
do português. Esse recurso transmite ideias como: algo que está muito longe,
muito perto, muito pouco, muito cedo, etc.

Grau superlativo absoluto sintético: advérbio + sufixo (normalmente, o


sufixo -íssimo). Exemplo:

O marinheiro chegou cedíssimo ao embarque.

Advérbio: bem
„„ Comparativo: melhor, mais bem
„„ Superlativo: otimamente, muito bem
Advérbio: mal
„„ Comparativo: pior, mais mal
„„ Superlativo: pessimamente, muito mal
Advérbio: muito
„„ Comparativo: mais
„„ Superlativo: muitíssimo, o mais
Advérbio: pouco
„„ Comparativo: menos
„„ Superlativo: pouquíssimo, o menos

Classificação dos advérbios


Os advérbios podem ser classificados de acordo com a modificação/comple-
mentação semântica que promovem no termo que acompanham.

Advérbios de lugar

Esse tipo de advérbio traz uma indicação, quase sempre espacial, de lugar
para o termo que acompanha. Alguns exemplos: aqui, lá, próximo, perto,
longe, frente, atrás, dentro, fora, abaixo, acima, ali, adiante. Exemplos:
4 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

Estacione lá!
A menina chegou perto do precipício.

Advérbios de tempo

Esse tipo de advérbio traz uma indicação de tempo, durativa ou cronológica,


à palavra que acompanha. Como exemplos, temos: depois, hoje, antes, logo,
já, amanhã, ontem, desde, agora, finalmente, nunca, às vezes, quando,
anteontem, de repente, sempre, tarde, jamais, cedo. Exemplos:

Fale hoje, brinque amanhã.


Jamais mencione o nome dela.

Advérbios de modo

Esse tipo de advérbio fornece uma indicação da maneira pela qual determinada
coisa acontecerá. A grande maioria das palavras deste grupo se formam a
partir da adição do sufixo -mente aos vocábulos. Exemplos: bem, mal, melhor,
pior, assim, depressa, devagar, debalde, expressamente, infelizmente,
constantemente, frequentemente. Exemplos:

Mal falou e a mulher chegou.


Andou devagar, atrasou-se.

Advérbios de negação

Este tipo de advérbio indica uma negação. Como exemplos, podemos citar:
não, nem, tampouco, nunca, jamais. Exemplos:

“Nunca mais sentirei fome!”


Naquele dia, não arrumou a mesa do café.

Advérbios de dúvida

São advérbios de intensidade, de modo, de lugar, de tempo, etc., que possuem


sua função redirecionada para serem usados em sentenças interrogativas.
Destacam-se: porventura, quiçá, talvez, provavelmente, possivelmente.
Exemplos:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 5

Quiçá daqui uns anos?


Porventura escrevestes aquele relatório?

Advérbio de afirmação

Esse tipo de advérbio traz uma indicação de afirmação para o termo que o
acompanha. São alguns exemplos: sim, deveras, indubitavelmente, decidi-
damente, certamente, realmente, decerto, certo, efetivamente. Exemplos:

Certamente foi um pássaro.


Estamos realmente felizes com a gravidez.

Advérbios de intensidade

Este tipo de advérbio dá uma indicação de quantidade à palavra que modifica.


Exemplos: bastante, quão, muito, pouco, demais, mais, meio, tão. Exemplos:

Falaram muito e fizeram pouco.


“Quão grande és Tu!”

Os advérbios bem, mal, muito e pouco assumem formas irregulares nos graus
comparativo e superlativo.

Interjeição
Interjeição é toda palavra invariável que expressa sensações, ações, estados
de espírito e emoções, de formas variadas. Como exemplo: ah!, ufa!, oba!,
Credo!, Que horror! (ALMEIDA, 2009). As interjeições aparecem, quase
sempre, seguidas de um ponto de exclamação, que pode estar imediatamente
depois delas ou no final da frase.
6 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

Droga! Preste atenção quando eu estou falando!


Atente que, no exemplo, o termo Droga! foi utilizado pelo interlocutor para exteriorizar
a sua raiva: isso se fez no contexto comunicativo por meio do vocábulo. Observe que
as interjeições são uma espécie de palavra-frase, ou seja, há uma ideia expressa por
uma palavra (ou um conjunto de palavras), que poderia ser colocada nos termos de
uma sentença. É um recurso da linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada
de maneira lógica, como nas sentenças da língua, mas sim a manifestação de um
suspiro, um estado da alma decorrente de uma situação particular, um momento
ou um contexto específico. O significado das interjeições está vinculado à maneira
como elas são proferidas.
Fonte: Michichelli (2015).

As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não sofrem variação de gênero, número


e grau, como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz, como
os verbos. No entanto, em usos específicos, algumas interjeições sofrem variação em
grau. Deve-se ter claro, nestes casos, que não se trata de um processo natural dessa
classe de palavra, mas tão somente uma variação que a linguagem afetiva permite.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.

Quando a interjeição é expressa por mais de uma palavra, recebe o nome


de locução interjetiva. Exemplos:

Ora bolas!
Cruz credo!
Puxa vida!

Desse modo, o tom da fala dita o sentido que a expressão vai adquirir em
cada contexto de enunciação.
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções, podendo ser for-
madas por:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 7

a)  Simples sons vocálicos: Oh! Ah! Ó! Ô!


b)  Palavras: Oba! Olá! Claro!
c)  Grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus! Ora bolas!

Confira no Quadro 1 os sentidos expressos pelas interjeições.

Quadro 1. Sentidos expressos pelas interjeições

Sentido Exemplos

Advertência Cuidado! Devagar! Calma!


Sentido! Atenção! Olha! Alerta!

Afugentamento Fora! Passa! Rua! Xô!

Alegria; satisfação Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!

Alívio Arre! Uf! Ufa! Ah!

Estímulo Vamos! Força! Coragem! Eia!


Ânimo! Adiante! Firme! Toca!

Apelo; chamamento Alô! Olá! Psiu! Socorro! Ei!

Aplauso; aprovação Bravo! Bis! Apoiado! Viva! Boa!

Concordância Claro! Sim! Pois não! Tá! Hã-hã!

Repulsa; desaprovação Credo! Irra! Ih! Livra! Safa! Fora! Abaixo!


Francamente! Xi! Chega! Basta! Ora!

Desejo; intenção Oh! Pudera! Tomara! Oxalá!

Desculpa Perdão!

Dor; tristeza Ai! Ui! Ai de mim! Que


pena! Ah! Oh! Eh!

Dúvida; incredulidade Qual! Qual o quê! Hum! Epa! Ora!

Espanto; admiração Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê!


Caramba! Opa! Virgem! Vixe!
Nossa! Hem?! Hein? Cruz! Putz!

Impaciência; contrariedade Hum! Hem! Irra! Raios!


Diabo! Puxa! Pô! Ora!

Medo; terror Uh! Ui! Oh! Credo! Cruzes!

Pedido de auxílio Socorro! Aqui! Piedade!


(Continua)
8 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

(Continuação)

Quadro 1. Sentidos expressos pelas interjeições

Sentido Exemplos

Saudação; chamamento; invocação Salve! Viva! Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau!


Ô! Ó! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus!

Silêncio Psiu! Bico! Silêncio!

Surpresa; admiração Puxa! Céus! Caramba!


Opa! Virgem! Pô! Uai!

Fonte: Adaptado de Michichelli (2015).

Usadas com muita frequência na língua falada informal, quando empregadas na língua
escrita, as interjeições costumam conferir um tom inconfundível de coloquialidade ao
texto. Além disso, elas podem indicar traços pessoais do falante, como escassez de
vocabulário, temperamento agressivo ou dócil e, até mesmo, origem geográfica. Nos
textos narrativos, particularmente nos diálogos, é comum fazer uso das interjeições com
o objetivo de caracterizar personagens. Graças à sua natureza sintética, as interjeições
são mobilizadas para conferir agilidade às falas. Em razão de sua natureza sintética
e conteúdo mais emocional do que racional, as interjeições são presença constante
nos textos publicitários.

Preposição
Preposição é toda palavra invariável que se põe antes de um termo (pré +
posição), a fim de ligá-lo a outro, estabelecendo, semanticamente, inter-relações
de sentido e de dependência entre eles. A preposição exerce uma função
conectiva. A palavra anterior à preposição é chamada de regente, e a que a
sucede é conhecida como regida (CEGALLA, 2004). Exemplos:

Casaco de Letícia. (exprime relação de posse)


Saiu com a moça. (exprime relação de companhia)
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 9

Conectivos são palavras que ligam diferentes elementos. Várias palavras podem se
comportar como conectivos, ligando palavras, orações e parágrafos.

Classificação das preposições


As preposições podem ser essenciais e acidentais. As preposições essenciais são
as que só funcionam, morfologicamente, como preposições: a, ante, após,
até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre,
trás (CAMARA JR, 2004).
As preposições acidentais são palavras provenientes de outras classes
gramaticais que, em algumas sentenças, funcionam como preposição: afora,
como, conforme, durante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto.
Por exemplo: 

Marina agiu segundo suas convicções.

Observe que o numeral ordinal segundo serviu como preposição. 


As preposições recebem classificação sob o ponto de vista semântico, uma
vez que, dentro do contexto frasal, podem indicar muitas relações diferen-
tes, como de lugar, tempo, modo, distância, causa, companhia, instrumento,
finalidade.

Relações semânticas promovidas pelas preposições:


„„ relógio de ouro (material)
„„ homem de Piracicaba (origem)
„„ livro de Cecília Meireles (autoria)
„„ livro de professor (posse)
„„ morreu de frio (causa)
„„ saiu de manhã (tempo)
„„ veio de Lisboa (lugar)
10 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

„„ Breve irei à França. (lugar)
„„ O avião pousará em duas horas. (tempo)
„„ A maçã foi comida com ansiedade. (modo)

A preposição é um morfema gramatical inflexionável, dotado de função conectiva, sem


papel sintático próprio. Serve para estabelecer, entre palavras, uma relação chamada
de regência. Exemplo:

Um homem de coragem
homem → regente
de coragem → regido, subordinado

As palavras homem e coragem são substantivos. Isso significa que funcionam


como núcleos de um sintagma nominal quando as agrupamos com outras palavras.
Entretanto, se quisermos fazer com que um desses substantivos se torne regido,
subordinado ao outro, podemos fazer uso de preposição. Nesse caso, ocorrerá um
sintagma preposicional (ou preposicionado).
Outro fato a ser destacado é que a preposição estabelece subordinação entre palavras
e termos. Observe que, ao passo que o substantivo é o núcleo de um sintagma nominal,
a preposição não tem uma função sintática própria. Isso não significa que ela não é
importante, mas que seu papel sintático é ligar ideias, ligar palavras.

Locução prepositiva
Quando a relação entre duas ou mais palavras se estabelece por meio de uma
expressão, e não por meio de uma única palavra, temos uma locução prepo-
sitiva. Exemplos: abaixo de, atrás de, acima de, por causa de, ao lado, de
a de, defronte a, de acordo com, até a, perto de.

Conjunção
Gramaticalmente, conjunção é a palavra invariável que tem por função ligar
orações ou termos de mesmo valor gramatical. Semanticamente, a conjunção
pode estabelecer relações entre orações e entre palavras. Morfologicamente,
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 11

a conjunção é um morfema gramatical que não sofre flexão. Sintaticamente,


a conjunção é um conectivo e não tem função sintática própria. Serve para
estabelecer relação de subordinação ou de coordenação entre orações e relação
de coordenação entre palavras. Conjunção significa ligação, união, junção
(CAMARA JR, 2004).

Marcia e João saíram. (adição)


Uma ou outra será eleita nossa representante. (alternância, exclusão)
Trabalhe, pois precisas sobreviver! (explicação)
Embora estivesse triste, festejou. (concessão)
Ficou em casa porque estava doente. (causa)
Falei tudo como me pediram. (conformidade)

Diferenciemos coordenação de subordinação. Observe a frase:

Encontrei Pedro e o irmão.

Os termos Pedro e o irmão são complementos do verbo encontrar, ou


seja, tanto Pedro quanto o irmão sofrem a ação de serem encontrados. Estão
conectados por um vocábulo que adiciona um ao outro. Perceba a independência
sintática entre os dois elementos:

Encontrei Pedro.
Encontrei o irmão.

Os termos em destaque não dependem sintaticamente um do outro, isto é,


um não se subordina ao outro. São termos ligados por uma conjunção. Vejamos
a mesma conjunção empregada para ligar orações:

Fui ao colégio. Falei com o professor.

Note que essas duas orações têm independência sintática, tanto que se
estruturam separadamente. Podemos, porém, conectá-las com a conjunção e.
12 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

Fui ao colégio e falei com o professor.

A relação de independência entre palavras e orações chama-se coordenação.


Agora, observe este exemplo:

Ela saiu de manhã.

O substantivo manhã está subordinado ao verbo sair porque está presente


na frase para indicar uma circunstância de tempo da ação verbal. Essa relação
de regência foi estabelecida pela preposição de.
Se quisermos estabelecer relação de subordinação entre orações, faremos
uso de conjunções. Veja:

Ela saiu quando o galo cantou.

Há duas orações no período acima (duas declarações verbais), porém só


uma está presente para indicar circunstância de tempo para o verbo da outra
oração. Essa relação entre orações chama-se subordinação. Observe que a
preposição subordina palavras, e a conjunção subordina orações.
Vejamos mais exemplos de coordenação e subordinação:

Ricardo será nomeado como diretor.


Maurício será nomeado como diretor.

Veja que os dois termos independem um do outro. Assim, podemos


coordená-los.

Ricardo ou Maurício será nomeado diretor.

Podemos usar essa mesma conjunção coordenativa para ligar orações, isto
é, declarações verbais.

Ele será nomeado diretor.


Ele ficará louco.
Ele será nomeado diretor e ficará louco.

Note que, nesse caso, usamos a conjunção coordenativa e para ligar orações.
Veja outro exemplo:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 13

Ela disse algo. Ela estava cansada.

Se quisermos que ela estava cansada seja equivalente a algo na primeira


oração apresentada (Ela disse algo), podemos escrever:

Ela disse que estava cansada.

Perceba que que estava cansada passa a ser informação subordinada a Ela
disse, pois essa informação só aparece para complementar o que foi dito por ela.
Considere agora que a frase fosse:

Ela disse.

Nesse caso, faltaria uma informação nessa oração. Assim, a conjunção


subordinativa “prende” a segunda ideia à primeira, fazendo com que aquela
dependa desta. Veja o exemplo:

Ela chegou em determinada hora. Eu estava dormindo.


Ela chegou quando eu estava dormindo.

Agora, a conjunção subordinativa prende a segunda informação à primeira:


dizemos que eu estava dormindo para indicar o momento em que ela chegou.
Assim, conjunções subordinativas criam um vínculo de dependência entre
duas informações. Observe, também, o seguinte:

Quando eu estava dormindo.

Essa informação faz sentido? Sabemos que não. Ela precisa ser atribuída à
outra ideia, porque é subordinada à outra ideia. Quem estabelece esse vínculo
de subordinação é a conjunção subordinativa.
Vejamos o que aconteceria se disséssemos:

Eu estava dormindo.

Não haveria problemas, certo? Mas com a conjunção subordinativa, pre-


cisamos atribuir essa oração à outra.

Quando eu estava dormindo, ela chegou.


14 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

Classificação das conjunções

Coordenativas

Conjunções coordenativas são aquelas que ligam palavras ou orações sem


estabelecer vínculos de subordinação entre elas. As conjunções coordenativas
ligam duas orações independentes. Estão divididas em cinco tipos.

Aditivas — Exprimem soma: e, nem, bem com, não só… como também,
não só… mas também. Exemplos:

Leu o livro e foi ao cinema.


Os alunos não só foram aprovados como também receberam prêmios.
Não veio aqui nem entregou as notas.

Adversativas — Exprimem oposição: mas, porém, contudo, entretanto, no


entanto, todavia, não obstante. Exemplos:

Saiu, porém não levou o guarda-chuva.


Estudou; não obteve, todavia, o resultado esperado.

Alternativas — Exprimem escolha de pensamentos: ou, ou... ou, ora... ora,


já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez. Exemplos:

Faça os exercícios ou saia de sala.


Ela ora gritava, ora sorria.

Conclusivas — Exprimem conclusão de pensamento: logo, portanto, por


isso, pois, por conseguinte, assim. Exemplos:

Penso, logo existo.


Veio de carro, portanto pode nos dar uma carona.

Explicativas — Exprimem razão e motivo: que, porque, pois, porquanto, por


conseguinte, assim. Exemplos:

Entre, que está frio.


Saiu de casa, pois as luzes estão apagadas.
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 15

Conjunções subordinativas

São aquelas que conectam sintaticamente orações dependentes umas das


outras. São usadas para estabelecer uma melhor coesão e coerência textual.
As conjunções subordinativas podem ser integrantes ou adverbiais.

Integrantes — Introduzem uma oração que vai completar o sentido da ou-


tra. São aquelas que introduzem orações substantivas, isto é, orações que se
põem no lugar de termos substantivos (sujeito, objeto direto, objeto indireto...).
São apenas duas: que e se. Exemplos:

Ela disse que não virá. (introduz objeto direto)


É preciso que estudemos. (introduz sujeito)
Não sei se ela virá. (introduz objeto direto)
Não respondeu se podia vir. (introduz objeto direto)

Adverbiais — Introduzem um valor semântico circunstancial, portanto adver-


bial, para a ação verbal (CEGALLA, 2004). Podem ser divididas da seguinte
forma:

1. Causais: introduzem orações que dão ideia de causa: que, porque,


como, pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
que. Exemplos:

Não saí porque não me convidaram.


Como choveu, não saí.
2. Comparativas: introduzem orações que dão ideia de comparação: como,
qual, que, do que (depois de mais, menos, maior, menor, melhor e
pior). Exemplos:

Ela estava mais bonita que a mãe.


Fugiu como um condenado.

3. Concessivas: iniciam orações que indicam contradição: embora, ainda


que, mesmo que, se bem que, posto que, por mais que, apesar de
que. Exemplos:

Embora fosse professor, ainda tinha muito a aprender.


Irei, mesmo que ela não vá.
16 Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção

4. Condicionais: iniciam orações que exprimem hipótese ou condição:


se, caso, a menos que, contanto que, salvo se, desde que, a não ser
que. Exemplos:

Irei, caso ele vá.


Ficarás aqui, contanto que fiques quieta.

5. Conformativas: iniciam orações que exprimem acordo: como, con-


forme, segundo, consoante. Exemplos:

Como combinamos, fizemos o livro.


Fez tudo conforme lhe ordenaram.

6. Consecutivas: iniciam orações que indicam consequência: que (pre-


cedido de tal, tanto, tão ou tamanho), de modo que, de forma que,
de sorte que. Exemplos:

Era tão estudioso que sempre era aprovado.


Tinha tanta fé que nada temia.

7. Temporais: iniciam orações que dão ideia de tempo: quando, mal,


assim que, logo que, antes que, depois que, sempre que, desde que.
Exemplos:

Saiu depois que o expulsamos.


Mal começou a falar, todos o vaiaram.

8. Finais: iniciam orações que exprimem finalidade: porque, a fim de


que, para que. Exemplos:

Saiu para que não encontrasse ninguém.


Venha cá a fim de que conversemos.

9. Proporcionais: iniciam orações que exprimem concomitância: à me-


dida que, à proporção que, ao passo que, quanto menos, quanto
menor, quanto maior, quanto melhor. Exemplos:

À medida que crescia, tornava-se um diabinho.


Quanto mais estudava, mais aprendia.
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção 17

ALMEIDA, N. T. Gramática de língua portuguesa para concursos, vestibulares, ENEM, colégios


técnicos e militares. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
CAMARA JR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
CEGALLA, D. P. Nova minigramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2004.
CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Camara. Petrópolis: Vozes, 2004.
LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olym-
pio, 2011.
MICHICHELLI, B. Língua portuguesa: aula 04. 2015. Disponível em: <http://docplayer.
com.br/18746509-Portugues-lingua-portuguesa-aula-04-13-02-15-pmerj-2015-tel-22-
3852-3777-professor-bruna-michichelli.html>. Acesso em: 16 dez. 2018.

Leituras recomendadas
CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2008.
DICIONÁRIO Priberam da língua portuguesa. c2018. Disponível em: <https://dicionario.
priberam.org>. Acesso em: 12 dez. 2018.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2017.
Conteúdo:

Você também pode gostar