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Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de
acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus
organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as
Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
FICHA TÉCNICA
Augusto V. de A. Coelho
EDITORIAL Marli Caetano
Sara C. de Andrade Coelho
GERÊNCIA
Diogo Barros
ADMINISTRATIVA
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
AGRESSÃO, COMPETIÇÃO E COMPORTAMENTO
TERRITORIAL
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
ESTRESSE ANIMAL
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
COMPORTAMENTO E CONSERVAÇÃO
SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1
b) Nomes
Devemos colocar o nome dos proponentes, a sua posição
profissional (ex.: biólogo, professor etc.) e o endereço, sendo
preferível o endereço profissional (incluir telefone, fax e e-mail).
c) Resumo
O resumo nem sempre é necessário, depende do financiador.
Normalmente, um resumo de projeto tem um limite no número de
palavras (o mais comum é entre 200 e 300 palavras). O resumo
deve ser muito bem escrito, pois, se for ruim, o revisor
provavelmente reprovará o projeto sem ler o restante.
Um bom resumo contém:
a) uma a duas frases de introdução (por que o projeto é importante,
inclusive com os objetivos);
b) três a cinco frases de metodologia (ex.: observações, espécies, número
de animais, desenho do experimento etc.);
c) duas a três frases de resultados esperados (o que você prevê);
d) uma a duas frases de conclusão (mostra a importância do projeto).
Normalmente, não citamos referências bibliográficas no resumo,
a menos que seja uma exigência da agência financiadora.
d) Introdução
Na introdução, devemos explicar nossa proposta no contexto das
pesquisas já publicadas (utilizando uma boa revisão bibliográfica).
Então, precisamos apresentar informações sobre todas as áreas
que são incluídas na proposta. O conteúdo deve ser bem atualizado
e escrito em um estilo que uma pessoa não especialista
compreenda. Devemos sempre colocar somente dados relevantes e
importantes, nunca devemos ultrapassar o limite de palavras
determinado.
Exemplo: “Os efeitos de ambientes impactados na assimetria
flutuante de duas espécies de marsupiais (Didelphis albiventris e
Marmosops incanus) utilizando sistemas de informações
geográficas”. Para essa proposta, precisamos de informações
(parágrafos) sobre:
a) conservação (ou seja, ambientes impactados);
b) assimetria flutuante (especialmente no contexto de conservação);
c) marsupiais (por que essas espécies);
d) sistemas de informações geográficas (no contexto de conservação).
e) Justificativa
Frequentemente, após a introdução, precisamos justificar por que
nossa proposta merece financiamento (recursos) ou permissão para
execução. Precisamos enfatizar a importância de nossa proposta e,
portanto, devemos pensar por que a instituição que receberá nossa
proposta gastaria dinheiro financiando-a.
Para fazer isso, precisamos ler os objetivos da instituição e
escrever a proposta, especialmente a justificativa, de acordo com
esses objetivos. Por exemplo, a instituição “Fundação O Boticário de
Proteção à Natureza” tem como objetivo “[...] promover e realizar
ações de conservação da natureza”. Portanto uma proposta enviada
para essa instituição deve, obrigatoriamente, ter em sua justificativa
um foco conservacionista.
É fundamental ler os objetivos das instituições que se pretende
enviar as propostas de financiamento dos projetos; se as propostas
não se encaixarem nesses objetivos, é melhor não enviar e buscar
financiadores alternativos. Existem muitas agências financiadoras
de pesquisas, tanto públicas quanto privadas, que podem ser
encontradas em buscas rápidas na internet.
f) Objetivos
Somente devemos colocar na proposta os objetivos que podem
ser realizados no projeto. Normalmente as propostas têm dois tipos
de objetivos:
a) objetivo geral – esse objetivo é como você quer que o projeto se conclua
em geral. Por exemplo: “desenvolver uma nova metodologia para
relacionar o índice de assimetria flutuante e o grau de antropização da
paisagem usando técnicas de geoprocessamento e de sensoriamento
remoto”;
b) objetivos específicos – são basicamente as etapas mais importantes para
chegar ao objetivo geral. Por exemplo:
a. testar uma nova metodologia, utilizando duas espécies de marsupiais
neotropicais – uma generalista e outra especialista;
b. medir, quando possível, a tolerância das espécies para sobreviver em
ambientes impactados pelos diferentes graus de antropização;
c. subsidar estratégias de conservação para grupos de animais e
plantas, utilizando como modelos M. incanus e D. albiventris.
Normalmente, três a cinco objetivos específicos são adequados,
mais do que isso, somente quando o projeto for muito grande.
g) Materiais e métodos
Uma metodologia bem escrita deve permitir a qualquer
pesquisador, mesmo que de outra área do conhecimento, repetir o
experimento satisfatoriamente.
Os métodos devem incluir:
a) espécie;
b) número e histórico de animais (idade, sexo, linhagem etc.);
c) local (natureza ou cativeiro);
d) manejo de animais, se necessário (dieta, manejo etc.);
e) desenho ou protocolo do experimento (como será a pesquisa);
f) como os dados serão coletados;
g) equipamentos e recursos necessários;
h) como pretende analisar os dados (análise estatística).
É muito importante prestar atenção aos métodos, porque os
revisores das agências financiadores certamente o farão. Se os
métodos forem ruins e inadequados para testar as hipóteses
sugeridas, de nada valerá sua pesquisa e seu projeto será rejeitado
pelos revisores.
h) Resultados esperados
Resultados esperados não são os resultados de testes
estatísticos, mas os produtos esperados do projeto, pois, somente
depois de executar o projeto, poderemos ter resultados estatísticos
substanciais.
Como exemplos de produtos esperados, podemos citar:
1. atingir os objetivos (geral e específicos);
2. produzir artigos científicos;
3. produzir artigos de divulgação;
4. divulgar na mídia em geral (TV, rádio e internet);
5. confeccionar material educativo para profissionais ou o público;
6. apresentar trabalhos em congressos (resumos, posters, palestras etc.);
7. produzir monografias;
8. produzir dissertações e teses (mestrado ou doutorado);
9. capacitar técnicos;
10. produzir uma patente ou processo.
i) Orçamento
O padrão e as regras sobre como um orçamento deve ser
descrito varia entre os diferentes órgãos de financiamento. Alguns
financiadores, por exemplo, não incluem bolsas e salários nas
despesas, outros não incluem materiais importados. É fundamental
adequar seu orçamento às regras utilizadas pela instituição à qual
se pretende enviar o projeto.
Normalmente, o orçamento tem as seguintes categorias:
1. material de consumo – qualquer material que será utilizado durante o
projeto (ex.: químicos, filmes, material de escritório);
2. material permanente – normalmente equipamentos (ex.: gravador) ou
softwares que estarão disponíveis depois do projeto para a utilização em
outros projetos;
3. despesas de viagens/diárias – combustível (proibido por algumas
agências), refeições e hospedagem;
4. despesas com terceiros e outros – construção de equipamentos, aluguel
de veículo, análises laboratoriais etc.
Preste bastante atenção aos equipamentos importados, pois eles
podem ter taxas de importação muito altas, as quais podem fazer o
valor final dobrar. Caso essas taxas não sejam previstas, seu
orçamento estará comprometido.
j) Cronograma
Anexar um cronograma de estudos é importantíssimo, pois
nenhuma instituição financiará uma proposta sem prazo para
terminar. O cronograma deve ser geral, contendo itens mais
abrangentes do estudo. Ele é um importante norteador das
atividades envolvidas na execução das pesquisas. Na Tabela 1, um
exemplo de cronograma para um ano de estudo.
TABELA 1 – EXEMPLO DE CRONOGRAMA UTILIZADO PARA PROJETOS DE
PESQUISA
Meses 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
Levantamento bibliográfico X X X X X X X X X X X X
Período de habituação X X X X X X
Coleta de dados X X X X X X
Análise de dados X X X X X
Relatório final e divulgação X X X
FONTE: o autor.
k) Referências bibliográficas
É preciso organizar as referências bibliográficas, como em um
artigo, utilizando as normas da ABNT. Devemos sempre citar artigos
científicos publicados em periódicos, trabalhos completos
publicados em anais de eventos, trabalhos resumidos publicados
em anais de eventos, livros publicados, capítulos de livros
publicados.
Com o advento da internet, a procura por referências
bibliográficas para a realização, comparação e discussão de
experimentos científicos se tornou facilitada. Os recursos oferecidos
por páginas especializadas permitem uma pesquisa abrangente,
rápida e fácil por artigos científicos dos mais diferentes campos da
Ciência. Esses recursos precisam, então, ser explorados em sua
plenitude, para que o máximo de trabalhos possa ser localizado pelo
pesquisador.
A pesquisa por referências pode ser conduzida em páginas
especializadas em buscas científicas, como o “Web of Science”® ou
“Pubmed”®, ou em páginas de procura não especializadas, como
“Google”®. Infelizmente, a grande maioria das páginas
especializadas na procura de artigos científicos é paga; para se ter
acesso aos estudos, a universidade precisa manter uma conta anual
(ou login), que normalmente é muito cara. Felizmente, as
universidades federais possuem tal login de acesso e as pesquisas
podem ser conduzidas em qualquer computador ligado à internet
nessas instituições. Algumas universidades particulares e estaduais
também possuem o login para os sites de procura especializados.
Verifique em sua cidade as possibilidades.
Quando o acesso ao computador não for possível, pode-se
realizar pesquisas bibliográficas consultando-se dois catálogos
internacionais (Zoological Records e Biological Abstracts). Esses
catálogos são publicados anualmente e trazem um resumo de todos
os artigos publicados no ano anterior nas áreas biológicas e
zoológicas. Ambos os catálogos estão estruturados de maneira a
facilitar as pesquisas, podendo-se utilizar tanto o nome da espécie
de interesse quanto o nome de autores ou grupos zoológicos.
A seguir, veremos como realizar uma pesquisa bibliográfica na
internet.
1. Utilizando-se o site de procura não especializado “ Google”®.
a) Abra a página principal do “Google”®: <www.google.com.br>.
b) No campo “procurar”, digite uma palavra-chave de interesse: exemplo,
Rhea americana (ema; o nome científico não precisa ser escrito em itálico
para a realização da pesquisa).
c) Clique em “procurar” (aparecerão várias páginas relacionadas, entretanto
nem todas contêm informações confiáveis; devemos evitar páginas que
não sejam de instituições científicas ou sabidamente confiáveis).
d) Para melhorar a procura por artigos, na página principal do Google, clique
em “pesquisa avançada”, à direita da tela, logo abaixo de uma lupa, ícone
de procura.
e) No campo “tipo do arquivo”, selecione Adobe Acrobat PDF (normalmente,
os artigos científicos estão disponibilizados nesse formato; esse é um
programa gratuito, que pode ser baixado da própria página da qual o
arquivo será salvo). Após a seleção do formato, clique em “pesquisa
avançada” ou tecle enter.
f) Vários artigos sobre Rhea americana aparecerão na tela. Alguns arquivos
podem não ser artigos científicos e ser descartados após sua avaliação.
Atualmente, foi desenvolvida uma página especial do “Google”®
para a pesquisa acadêmica de trabalhos científicos. A página,
nomeada de “Google Acadêmico”, pode ser acessada no endereço:
<scholar.google.com.br>. Nessa página, não é necessário utilizar a
procura avançada, e vários artigos já são disponibilizados
diretamente.
2. Utilizando-se o site de procura especializado da Capes
Professores, pesquisadores, alunos e funcionários de instituições
de ensino superior e pesquisa em todo o País têm acesso imediato
à produção científica mundial atualizada por meio desse serviço
oferecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes). O Portal de Periódicos da Capes oferece
acesso aos textos completos de artigos de mais de 38.000 revistas
internacionais e nacionais, e há mais de 90 bases de dados, com
resumos de documentos em todas as áreas do conhecimento. O
uso do portal é livre e gratuito para os usuários das instituições
participantes. O acesso é realizado a partir de qualquer terminal
ligado à internet localizado nas instituições ou por elas autorizado.
Entre na página principal do Portal Capes: <www.periodicos.capes.gov.br>.
a) No campo “buscar periódico”, digite o nome da revista científica de
interesse, por exemplo, Animal Behaviour; Zoologia etc. Note que para
uma boa pesquisa nesse site, uma pesquisa anterior no “Google”® precisa
ter sido realizada para que a revista científica de interesse (aquela em que
o artigo foi publicado) seja definida. Caso contrário, o pesquisador deverá
entrar em todos os sites das revistas, um a um, para procurar nos volumes
se algum artigo com o tema de interesse foi publicado. O problema é que,
geralmente, as revistas publicam quatro volumes anuais, com vários
artigos cada, e disponibilizam muitos anos, o que torna esse tipo de
pesquisa pouco eficiente.
Na página principal do Portal Capes (clique no link “versão
anterior”) estão alguns links para sites especializados de procura de
artigos por palavras-chave, e não pelo título da revista. O mais
utilizado é o “Web of Science”®, mas o “Scopus”® também é muito
bom. Ambos os sites, além de permitirem a pesquisa por palavras-
chave (como no “Google”®), já disponibilizam os artigos em PDF
para download (nem todos os arquivos em PDF são
disponibilizados). O problema reside no fato de que tanto o “Web of
Science”® quanto o “Scopus”® são sites pagos, os quais
necessitam do login e da senha da instituição. Caso sua instituição
não tenha tal login, sugere-se a pesquisa na universidade federal
mais próxima.
a) Clique em “base” e digite “Web of Science”, na página principal do Portal
Capes.
b) Nos resultados, clique na base “Web of Science, Coleção principal”.
c) No campo “search”, digite a palavra-chave de interesse. Exemplo:
Chrysocyon brachyurus (não precisa ser em itálico). Outras palavras-
chave podem ser tentadas, como no exemplo da pesquisa no “Google”®:
maned wolf, aguará-guazú, lobo-guará etc. Tecle enter para a procura ser
realizada.
Na mesma janela do campo “search”, existem outros campos
que refinam a pesquisa, como o campo “author”, em que é digitado
o nome do autor do artigo de interesse, ou o campo “publication
name”, no qual pode ser inserido o nome da revista em que o artigo
foi publicado. Variações na pesquisa e nas palavras-chave
melhoram os resultados.
Todos os itens encontrados que vierem com o ícone “full text”
possuem o artigo para download imediato. Os que não
apresentarem esse ícone fornecem apenas o nome dos autores, da
revista, do ano de publicação e do resumo. De posse desses dados,
os artigos podem ser procurados no site da Capes, digitando-se o
nome da revista no campo “buscar periódico”.
Se a procura for realizada no site do “Scopus”®, os passos
devem ser os mesmos, diferindo apenas na digitação da palavra
“Scopus” no campo de procura da “base”. Esses dois sites (Web of
Science® e Scopus®) são os melhores para a procura de
referências bibliográficas, trazendo dados atualizados e mundiais.
Devem, portanto, ser utilizados corriqueiramente.
Outro site, “Pubmed”® (www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), pode ser
acessado de qualquer computador, sem necessidade de login e
senha especiais. Pesquisas nessa base de dados também devem
ser realizadas.
a) Entre na página do Pubmed: <www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed>.
b) No campo de procura, digite as palavras-chave e depois clique em
search.
c) Os artigos que aparecerem com o link “free full text” possuem os artigos
completos para download.
Em muitos desses sites de procura, se os artigos não estão
disponibilizados, eles podem ser adquiridos de três maneiras
diferentes:
1. a revista em que o artigo foi publicado pode ser consultada na biblioteca
da universidade e o artigo xerocado (obviamente, desde que a revista em
questão seja assinada pela biblioteca e que não existam restrições
autorais; os setores de periódicos das bibliotecas das universidades
federais e privadas são excelentes e devem ser explorados);
2. o artigo pode ser solicitado via Comut nas bibliotecas das universidades
(o Comut é um sistema de intercâmbio de artigos; todo artigo solicitado é
cobrado e o valor deve ser pago no ato da solicitação e/ou no ato do
recebimento das cópias);
3. enviando um e-mail de solicitação do artigo diretamente ao autor que o
produziu (em quase todos os sites de procura mencionados, os e-mails
dos autores são disponibilizados).
Vários outros sites podem ser consultados e citados nos
trabalhos científicos, e sua consulta dependerá do grupo zoológico
de interesse, sendo muitas delas especializadas. Na sequência,
segue uma lista de páginas conceituadas disponíveis na internet.
1. Animal Diversity Web: animaldiversity.ummz.umich.edu (traz informações
sobre a maioria das espécies animais).
2. International Union for Conservation of Nature and Natural Resources
(Iucn): <www.iucn.org> (traz informações sobre diversos programas de
conservação de espécies, além de listas de animais ameaçados de
extinção).
3. Fishbase: <www.fishbase.org> (traz informações sobre peixes).
4. Zoonomen: <www.zoonomen.net> (traz informações taxonômicas).
5. Scientific American Brasil: <www2.uol.com.br/sciam/> (traz reportagens
excelentes sobre as mais novas descobertas da Ciência).
6. Revista Science: <www.sciencemag.org> (traz reportagens excelentes
sobre as mais novas descobertas da Ciência).
7. Revista Nature: <www.nature.com> (traz reportagens excelentes sobre as
mais novas descobertas da Ciência).
8. Amphibian Species of the World:
<research.amnh.org/iz/herpetology/amphibia/> (traz informações sobre as
espécies de anfíbios do mundo).
9. The World Spider Catalog: <research.amnh.org/iz/spiders/catalog/> (traz
a lista atualizada das espécies de aranhas do planeta);
10. Palaeos: <www.palaeos.org> (traz informações sobre fósseis de
diversos grupos animais);
11. Animal Behaviour Society: <www.animalbehavior.org/ABS/> (traz
informações sobre comportamento animal).
Essa lista é apenas anedótica e pesquisas na internet devem ser
conduzidas para o encontro de várias outras páginas conceituadas.
Muitos pesquisadores mantêm páginas pessoais ou de seus
laboratórios. Normalmente, nessas páginas estão disponibilizados
vários artigos para download. Visitar tais páginas pode
complementar as pesquisas bibliográficas. Evite citar páginas da
internet na sua lista de referências bibliográficas, a não ser que
sejam imprescindíveis e reconhecidamente aceitas pelo meio
acadêmico.
Infelizmente, o número de artigos escritos em português é
irrisório quando comparado ao número de artigos escritos em inglês.
Portanto, se você tem dificuldades com essa língua estrangeira,
deve se aperfeiçoar, afinal, essa é a língua oficial mundial. Uma boa
maneira de aprendizagem é a leitura constante de artigos científicos
de seu interesse.
Finalmente, você deve confirmar se todos os artigos que você
citou no texto estão presentes no campo das referências
bibliográficas. Faça uma revisão minuciosa para evitar falhas.
1) Outros documentos
Normalmente, financiadores pedem outros documentos, como a
cópia de currículo vitae ou currículo lattes, cópia de licença para
trabalhar (ex.: licença do Sisbio, Comitê de Ética, entre outros) etc.
Todos os documentos solicitados pelo financiador devem estar
anexados à proposta. Se apenas um documento faltar, a proposta
terá grandes chances de ser recusada e excluída do processo
seletivo.
Após a aprovação da proposta, devemos começar a execução do
projeto, e depois da execução são produzidos artigos científicos que
devem ser publicados em revistas de divulgação científica,
congressos e jornais científicos.
2.4 Por que começamos com uma questão?
Em qualquer pesquisa científica, devemos começar sempre com
uma questão. A questão surge a partir da observação de um fato.
Primeiro observamos um fato, depois formulamos as questões,
propomos uma previsão e elaboramos hipóteses para responder a
essas questões. Após esse processo é que aplicamos a
metodologia científica para responder às questões e comprovar as
hipóteses, obtendo, assim, os resultados que são, geralmente,
trabalhados estatisticamente. Em seguida, devemos discutir os
resultados e escrever as conclusões. Como visto, todo esse
processo deve sempre ser feito seguindo os passos do método
científico.
Somente para ilustrar a importância da elaboração das questões,
iremos citar dois exemplos de trabalhos, de forma bem simplificada,
realizados em comportamento animal.
• Exemplo 1: “Relação do tamanho do grupo e padrões de atividade diária com
o comportamento do quero-quero (Vanellus chilensis)” (MARUYAMA et al.,
Journal of Ethology, 2010).
PERGUNTA: o tamanho do grupo influencia o comportamento de
vigilância do quero-quero?
HIPÓTESE: o tamanho do grupo aumenta a vigilância.
PREVISÃO: quanto maior o grupo, menor é a taxa individual de
vigilância.
METODOLOGIA: amostragem focal + registro contínuo (as
descrições das amostragens serão descritas no Capítulo 3).
RESULTADOS: a taxa de vigilância foi inversamente proporcional ao
tamanho do grupo.
• Exemplo 2: “Temperatura e enriquecimento ambiental sobre o bem-estar de
coelhos em crescimento” (SILOTO et al., Ciência Rural, 2009)
PERGUNTA: coelhos vivendo em gaiolas enriquecidas expressam
menos comportamentos estereotipados?
HIPÓTESE: gaiolas com enriquecimento melhoram o bem-estar de
coelhos, pois diminuem a exibição de comportamentos anormais.
PREVISÃO: coelhos preferirão usar gaiolas com enriquecimento
ambiental a gaiolas sem o enriquecimento ambiental.
METODOLOGIA: amostragem scan + registro instantâneo (intervalo
amostral de cinco minutos), e também o método do comportamento.
RESULTADOS: coelhos exibiram menos comportamentos anormais
em gaiolas com enriquecimento ambiental.
2.5 As quatro questões de tinbergen
Nikolaas Tinbergen, nascido em 15 de abril de 1907, foi um
etologista e ornitólogo holandês ganhador do Prêmio Nobel em
Fisiologia ou Medicina, juntamente com Karl von Frisch e Konrad
Lorenz, por suas descobertas relativas à organização e extração
dos padrões de comportamentos individual e social dos animais. O
seu trabalho mais conhecido foi a elaboração das quatro questões
que deveriam ser respondidas para qualquer comportamento
exibido por um animal. Essas questões são conhecidas hoje como
as quatro questões de Tinbergen, e são consideradas a base da
Biologia Moderna. São as seguintes:
• função – “por que o animal comporta-se dessa forma? Como esse
comportamento aumenta as suas chances de sobrevivência?” – o
comportamento tem um significado adaptativo;
• evolução – “quais foram os fatores envolvidos na moldagem do
comportamento? Por que determinados comportamentos evoluíram e outros
não?” – o comportamento evoluiu durante a história da espécie;
• causa – “como isso funciona? Quais fatores internos e externos estão
envolvidos no comportamento?” – o comportamento depende de
características estruturais e fisiológicas do animal;
• desenvolvimento – “como o comportamento é formado? Como o processo de
desenvolvimento ocorre? O comportamento é aprendido ou inato? – os
comportamentos desenvolvem-se ontogeneticamente, influenciados por
diversos fatores.
Portanto um estudo comportamental, para ser completo, deve
focar nesses quatro aspectos, pois somente assim será possível um
entendimento geral sobre o comportamento observado nos animais.
Obviamente, cada tópico é abordado separadamente e demora-se
um tempo para produzir resultados robustos o suficiente para se
desenhar a história evolutiva do comportamento em questão.
2.6 Considerações finais
A Etologia é a área da Ciência que estuda o comportamento
animal. Para que suas pesquisas tenham mérito, a metodologia
científica deve ser aplicada, com hipóteses sendo testadas e teorias
criadas. Perguntas claras e objetivas, associadas a métodos
adequados, ajudam a confirmar ou rejeitar as hipóteses testadas.
Abordar as quatro questões de Tinbergen são importantes para se
entender globalmente um comportamento observado. Pesquisas em
comportamento animal, além de fascinantes, são fáceis de serem
executadas. No Brasil, o campo está aberto e há muito que se
pesquisar.
REFERÊNCIAS
GALLI, E. A. Conocimiento tecnológico, educacion y tecnologia. Revista Latinoamericana
de Innovaciones Educativas, Buenos Aires, v. 5, n. 12, p. 13-46, dec. 1993.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
KREBS, J. R.; DAVIES, N. B. Introdução à Ecologia Comportamental. São Paulo:
Atheneu, 1996.
MANNING, A.; DAWKINS, M. S. An Introduction to Animal Behaviour. 5. ed. Cambridge:
Cambridge University Press, 1998.
MARTIN, P.; BATESON, P. Measuring Behaviour: an introductory guide. 3. ed. Cambridge:
Cambridge University Press, 2007.
MARUYAMA, P. K. et al. Relation of group size and daily activity patterns to Southern
lapwing (Vanellus chilensis) behaviour. Jornal of Ethology, Tokyo, v. 28, n. 2, p. 339-344,
may. 2010.
MCFARLAND, D. Animal Behaviour: psychobiology, ethology and evolution. 3. ed. Harlow:
Prentice Hall, 1999.
MOURA, M. L. S. et al. Manual de elaboração de projetos de pesquisa. Rio de Janeiro:
Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 1998.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
SILOTO, E. V. et al. Temperatura e enriquecimento ambiental sobre o bem-estar de coelhos
em crescimento. Ciência Rural, Santa Maria, v. 39, n. 2, p. 528-533, mar./apr. 2009.
SILVA, C. R. O. Metodologia e organização do projeto de pesquisa: guia prático.
Fortaleza: Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará, 2004.
CAPÍTULO 3
Outros
OUT Outros comportamentos.
comportamentos
Não visível NV Quando a ave não está visível ao observador.
FONTE: Azevedo e Faggioli (2001).
• Tipos de amostragem
Na amostragem focal (focal sampling) é observado apenas um
indivíduo e todos os seus comportamentos são registrados. Esse
método permite coletar dados de frequência, duração, sequência de
comportamentos e relações entre indivíduos. Algumas vezes,
podemos usar a amostragem focal para estudos com dois, três ou
um pequeno grupo de animais. Isso só é possível se cada um dos
animais observados puder ser identificado na hora da coleta de
dados. Por exemplo, imagine que você está coletando os dados de
um casal de lagartos, em que o macho é maior que a fêmea. Nesse
caso, durante a coleta de dados, é fácil saber qual comportamento o
macho está exibindo e qual comportamento a fêmea está exibindo.
Então, podemos anotar na ficha de campo exatamente o que cada
indivíduo está fazendo, já que é muito fácil distingui-los. Dessa
forma, a amostragem acaba sendo focal, mas você coletou dados
de dois indivíduos.
Na amostragem de varredura (scan sampling), observamos os
comportamentos realizados por um grupo de indivíduos no mesmo
intervalo de tempo. O tempo gasto em observações individuais é
mínimo, tornando-se um método eficiente no fornecimento de
grande quantidade de dados em pouco tempo. Nesse tipo de
amostragem, não estamos interessado em saber o que cada
indivíduo do grupo está fazendo, mas sim o que o grupo como um
todo está fazendo. Então, não precisamos nos preocupar com a
identificação individual dos animais; simplesmente varremos
rapidamente o grupo com o olhar e anotamos quantos indivíduos
desempenham cada comportamento. Por exemplo, imagine que
você está anotando dados do comportamento de formigas, e no seu
formigueiro existem 50 formigas; no momento da anotação dos
dados, você varre o grupo de formigas com o olhar e anota quantas
desempenham cada comportamento: 25 andando, 10 inativas, 5
comendo e 10 carregando larvas.
Um terceiro tipo de amostragem muito utilizado e já mencionado
é o ad libitum, ou seja, observações sem critério dos
comportamentos do animal (anota-se tudo que o animal faz). Esse
método é bastante utilizado em encontros casuais com os animais
em campo e na fase de observações preliminares para a montagem
do etograma.
Outros tipos de amostragens, como a amostragem de
comportamento (o observador amostra a ocorrência de apenas um
tipo de comportamento, por exemplo, a cópula) e a de sequência (o
observador registra todos os comportamentos da sequência de
interesse), são menos utilizados nas pesquisas de comportamento
de animais terrestres e, por isso, não serão explorados aqui.
• Regras de registro
No registro contínuo, observamos o animal ininterruptamente por
um tempo predeterminado (por exemplo: uma hora) e anotamos
todos os comportamentos realizados naquele período. Em outras
palavras, anotamos o comportamento toda vez que ele muda.
Assim, temos a frequência de realizações e a duração de cada
comportamento. É um bom método quando as sequências de
comportamentos são importantes (por exemplo: pesquisas sobre
comportamentos sociais). É bom para estados e eventos.
No registro instantâneo, os comportamentos dos animais não são
anotados de maneira ininterrupta durante um período
predetermindo, mas sim de tempos em tempos (por exemplo: de 30
em 30 segundos). No instante de cada ponto amostral (no beep do
relógio), o observador registra o comportamento que está ocorrendo
no momento. Assim, não temos frequências e durações reais, mas
elas são próximas dos valores reais se o intervalo amostral for curto
(por exemplo: de cinco em cinco segundos). Esse tipo de
amostragem não é adequado para medir eventos ou
comportamentos de curta duração, nem para registrar
comportamentos raros. É o método mais utilizado nas pesquisas
comportamentais.
A escolha do intervalo amostral depende do animal que se está
observando, pois existem espécies muito ativas e espécies pouco
ativas. Idealmente, o intervalo deve ser menor que 60 segundos. O
intervalo escolhido deve ser prático, sendo suficiente para a
anotação de todos os comportamentos. Se for curto demais,
causará estresse ao observador; se for longo demais, causará tédio.
Tanto o estresse quando o tédio podem inserir erros na coleta de
dados. Normalmente, é preciso experimentar alguns intervalos
amostrais antes da coleta oficial de dados até se atingir um intervalo
ótimo; mais uma tarefa para ser realizada no período de
observações preliminares.
Outro tipo de registro é o um-zero, no qual anotamos a
ocorrência ou não de um comportamento. É um método antigo,
usado especialmente para estudo de animais aquáticos, e não será
abordado aqui.
• Combinações de regras
Os tipos de amostragem são combinados com as regras de
registro para permitirem a coleta dos dados. As combinações de
regras mais utilizadas são:
1. amostragem scan + registro instantâneo – a mais comum. Observa-se um
grupo de indivíduos e seus comportamentos são anotados de tempos em
tempos (por exemplo: 60 em 60 segundos);
2. amostragem focal + registro contínuo – muito usada em pesquisas nas quais
a sequência dos comportamentos é importante. Observa-se um indivíduo e
todos os seus comportamentos são anotados à medida que vão mudando,
durante um tempo predeterminado (por exemplo: uma hora);
3. amostragem focal + registro instantâneo – comum em estudos de campo, em
que é praticamente impossível observar mais do que um indivíduo (vegetação
densa). Observa-se um indivíduo e seus comportamentos são anotados de
tempos em tempos (por exemplo: 60 em 60 segundos);
4. amostragem scan + registro contínuo – é impossível de ser utilizado, pois não
conseguimos anotar os comportamentos de vários animais todas as vezes em
que mudarem ao mesmo tempo.
• Equipamentos para anotação/gravação dos comportamentos
São utilizadas várias ferramentas que nos permitem coletar os
dados comportamentais dos animais estudados. São elas:
1. filmadoras/videotape – é uma excelente ferramenta para ser utilizada com
animais que expressam comportamentos rápidos, permitindo a análise
minuciosa dos comportamentos em laboratório. A desvantagem é que para
cada 10 minutos de gravação, gastamos geralmente uma hora de análise em
laboratório;
2. descrições verbais num gravador – é bom para observações em campo
quando é importante que o observador não pare de analisar o animal. A
análise em laboratório das gravações também é demorada, normalmente seis
vezes mais do que a duração da fita;
3. equipamentos automáticos, como GPS, monitor de atividade, rádio-colar etc.
– são bons, mas normalmente muito caros para serem adquiridos;
4. computadores/softwares – existem computadores portáteis projetados para
estudos comportamentais, assim como softwares destinados ao mesmo fim. É
um meio rápido e bom para análises, uma vez que os dados já estão prontos
para análise ao final de cada período de observações. Funcionam muito bem
em estudos indoor, mas no campo sofrem com a ação do clima (não
funcionam bem em altas temperaturas ou elevadas umidades). A
desvantagem é que, geralmente, são equipamentos caros e importados;
5. ficha de campo – é o método mais barato e mais utilizado nas pesquisas de
comportamento animal. Trata-se de uma folha de papel com uma tabela na
qual os comportamentos são anotados. A desvantagem é que, depois, gasta-
se muito tempo transferindo os dados do papel para o computador.
Existem vários tipos e formatações de fichas de campo. A sua
configuração dependerá do método de amostragem e do tipo de
registro a ser utilizado. Geralmente, as fichas de campo contêm um
cabeçalho, com dados como o nome do pesquisador, a data de
coleta, o clima, a hora de coleta, o local da coleta, o número de
indivíduos etc. Os comportamentos costumam ser anotados nas
colunas, enquanto o tempo é anotado nas linhas. As siglas dadas
aos comportamentos no etograma são utilizadas nas fichas de
campo.
É interessante reservar um campo para observações nas fichas
caso algo diferente ocorra durante o período amostral; essas
observações ajudam depois na interpretação dos comportamentos
anotados, principalmente porque trazem informações do contexto
em que eles foram exibidos. É importante sempre colocar colunas
destinadas às categorias “outros comportamentos” e “não visível”, já
que um comportamento não observado anteriormente pode ser
expressado e o animal pode sair do campo de visão do pesquisador.
A habituação do observador às siglas dos comportamentos e à
colocação de uma descrição resumida do etograma no final da ficha
são outros detalhes importantes que devem ser considerados e
treinados no período de observações preliminares.
A seguir são fornecidos alguns exemplos de fichas de campo
(Tabelas 3 a 6).
TABELA 3 – FICHA DE CAMPO PARA REGISTRO CONTÍNUO, COM
AMOSTRAGEM FOCAL E PERÍODO DE AMOSTRAGEM DE 10 MINUTOS
PARA O CASUAR (AVES: CASUARIUS CASUARIUS) – TRÊS PRIMEIRAS
COLUNAS: A FICHA EM BRANCO; TRÊS ÚLTIMAS COLUNAS: SIMULAÇÃO DA
FICHA DE CAMPO PREENCHIDA
Minuto Comportamento Obs. Minuto Comportamento Observações
00h00 CO (Comendo)
07h00 AN (Andando)
BA (Bebendo
07h54
água)
A ave se assustou com um
08h12 AL (Alerta)
macho agressivo
A ave está fugindo de um
08h36 FUG (Fugindo)
macho agressivo
A ave parou de fugir e
10h00 AL (Alerta) adotou novamente a
postura alerta
Data: 20/03/2005 Hora: 10h00 Observador: Rômulo Local: Zoológico local
FONTE: o autor.
TABELA 4 – FICHA DE CAMPO PARA REGISTRO INSTANTÂNEO COM
AMOSTRAGEM SCAN, PERÍODO DE AMOSTRAGEM DE SEIS MINUTOS E
INTERVALOS AMOSTRAIS DE UM MINUTO PARA O MACACO-PREGO
(MAMMALIA: SAPAJUS APELLA) – TRÊS PRIMEIRAS COLUNAS: A FICHA EM
BRANCO; TRÊS ÚLTIMAS COLUNAS: SIMULAÇÃO DA FICHA DE CAMPO
PREENCHIDA; AN 1 = ANIMAL 1; AN 2 = ANIMAL 2; AN 3 = ANIMAL 3; CO, BE,
FUG, COR, VOC, AN, AL, NV E OUT = SIGLAS DADAS AOS
COMPORTAMENTOS DESCRITOS NO ETOGRAMA PREVIAMENTE
DESENVOLVIDO
AN AN AN AN AN AN
Minuto Obs. Minuto Observações
1 2 3 1 2 3
01:00 01h00 CO BE VOC
02:00 02h00 CO AN COR
03:00 03h00 AN AN AL
04:00 04h00 AL AL AL
05:00 05h00 FUG FUG FUG Tratador entrou no recinto
Tratador tenta capturar um
06:00 06h00 NV FUG OUT
macaco
Data: 30/11/2005 Hora: 10h00 Observador: Ângela Local: Zoológico local
FONTE: o autor.
Cristiane Cäsar
8.1 Introdução
Reproduzir significa gerar descendentes, e a reprodução é o
objetivo final do comportamento animal. A reprodução pode ser
assexuada ou sexuada, ou seja, sem a troca de material genético
entre parceiros ou com a troca de material genético entre parceiros,
respectivamente. Os animais podem reproduzir-se assexuadamente
por partenogênese (jovens produzidos de ovos não fertilizados),
como acontecem com alguns afídeos, escorpiões e outros
invertebrados. Outras formas de reprodução assexuada em animais
incluem a formação de brotos (brotamento), como nas esponjas e
cnidários, e fissão binária e fissão múltipla, em que um organismo
divide-se em dois ou em vários indivíduos, respectivamente. Fissões
são observadas em protozoários, principalmente. A regeneração de
platelmintos e equinodermos também pode ser entendida como um
tipo de reprodução assexuada.
Alguns animais podem reproduzir-se sexuadamente em um
momento e assexuadamente em outro, dependendo da
disponibilidade de parceiros do sexo oposto no ambiente; rotíferos e
animais hermafroditas são exemplos típicos. Vale lembrar que a
prole gerada a partir da reprodução assexuada é geneticamente
idêntica ao genitor.
Na reprodução sexuada, existe a troca de material genético entre
os genitores, portanto, a prole possui 50% do material genético do
pai e 50% do material genético da mãe. Esse tipo de reprodução é
importante, pois aumenta a variabilidade genética das populações,
tornando-as mais resistentes a doenças.
A reprodução envolve vários processos, como a atração do
parceiro (corte), a cópula, a gravidez, o nascimento e o cuidado
parental, que ocorrem em sequência para produzir uma prole
saudável e fértil, no entanto nem todos os animais exibem os
processos completos. Por exemplo, o pavão possui uma elaborada
corte, enquanto outros animais, como os babuínos (Hamadryas
baboon), apresentam pouco comportamento de corte. É importante
ressaltar que a reprodução pode envolver vários desses processos
e a cópula é apenas um dos aspectos da reprodução. A seguir são
descritos alguns conceitos básicos referentes a reprodução.
a. Estro, ovulação e fertilização
Estro é o período que normalmente coincide com a ovulação, em
que a fêmea copula com machos, compreendendo um conjunto de
fenômenos fisiológicos e comportamentais que precedem a
ovulação e a cópula. Em espécies de primatas, como os
chimpanzés e babuínos, esse período é visível por meio do
inchamento genital da fêmea, o qual demonstra a receptividade da
fêmea e atrai os machos adultos para copularem (Figura 23). Já em
espécies como os muriquis, a fêmea não apresenta nenhuma
alteração externa visível ou perceptível e os machos normalmente
inspecionam a genitália para “avaliar” a receptividade (Figura 24).
Após a inspeção, em que o animal toca, cheira ou prova a genitália
da fêmea, pode ou não ocorrer a cópula.
c. Cópula ou acasalamento
É o ato em que o macho insere o pênis na vagina da fêmea e
deposita os espermatozoides
(Figura 26). Em algumas espécies, como em platelmintos, a
inserção do esperma pode não ocorrer pela vagina unicamente, mas
por qualquer parte do corpo, um fenômeno conhecido como
impregnação hipodérmica.
d. Gestação
É o tempo entre a fecundação e o nascimento. Entre os
mamíferos, os marsupiais são os animais que apresentam o menor
período de gestação, e a prole nasce em um estado bastante
imaturo e permanece na “bolsa” alimentando-se do leite materno até
que esteja suficientemente desenvolvido para sobreviver por si
próprio. Por exemplo, o período de gestação do gambá-de-orelha-
branca (Didelphis albiventris) é de apenas 14 dias e o jovem
permanece na bolsa durante 60 dias, e somente se torna
independente com 100 dias. A maioria das espécies brasileiras não
possuem o marsúpio ou bolsa, e os filhotes ficam pendurados em
pregas na pele da mãe (não é o caso do gambá-de-orelha-branca
citado anteriormente).
Em contraste, os muriquis (Brachyteles hypoxanthus)
apresentam um período de gestação de oito meses, e o filhote é
dependente da mãe por dois anos, quando ela entra novamente em
estro.
e. Nascimento e cuidado parental
O nascimento é o ato de dar a luz (espécies vivíparas e
ovovivíparas) ou da eclosão dos ovos (espécies ovíparas). Após o
nascimento, os pais podem cuidar ou não dos filhotes, ou seja,
exibir cuidado parental ou não, o qual pode ser oferecido por ambos
os pais ou por apenas um dos sexos. Filhotes ditos altriciais
(nidícolas) são aqueles que nessecitam de muitos cuidados
parentais, já que nascem, em geral, ainda não totalmente formados.
Filhotes ditos precoces (nidífugos) são aqueles que necessitam de
poucos cuidados parentais, pois nascem completamente formados e
ativos. Um filhote de papagaio, por exemplo, é altricial, já um filhote
de galinha é precoce.
8.2 Alguns conceitos em reprodução
8.2.1 Dimorfismo sexual
É quando existem diferenças entre o macho e a fêmea da
mesma espécie, que não a genitália. Por exemplo, o leão (Panthera
leo) é maior e mais musculoso do que a fêmea, além de possuir
dentes maiores e desenvolver uma juba quando sexualmente
maduro. Essa diferença deve-se ao papel que o leão exerce na
defesa e na proteção das fêmeas e de seus filhotes de outros leões
e predadores. A juba protege o vulnerável pescoço do leão durante
as disputas. As fêmeas, que cuidam dos filhotes e normalmente
caçam, possuem um corpo menor e menos musculoso do que os
machos. Algumas espécies de primatas possuem dimorfismo sexual
e, em alguns casos, a diferença de tamanho e a força entre os
sexos demonstram a ocorrência de infanticídio, como em gorilas e
chimpanzés, que podem matar os filhotes de outros machos.
8.2.2 Hermafroditismo
Quando um animal possui os órgãos sexuais de ambos os sexos
e é capaz de produzir gametas tanto femininos quanto masculinos,
ele é chamado de hermafrodita. Muitas espécies de invertebrados,
como algumas espécies de lesmas, são hermafroditas.
Hermafroditas podem ser ou não capazes de se autofertilizarem,
entretanto, sempre que possível, copulam com outros indivíduos,
para a troca de material genético e aumento da variabilidade
genética.
8.2.3 Parasitismo
Algumas espécies buscam aumentar seu sucesso reprodutivo
por meio do parasitismo. Por exemplo, algumas fêmeas de aves,
como os cuculídeos saci (Tapera naevia) e peixe-frito (Dromococcyx
spp.), parasitam o ninho de outras espécies. Os ovos desses
parasitos podem ter o mesmo tamanho dos ovos dos hospedeiros,
como o ovo do saci, que tem o mesmo tamanho do ovo do joão-
teneném (Synallaxis spixi). No caso do peixe-frito, o ovo tem o
mesmo tamanho, porém um período de incubação menor do que o
do seu hospedeiro (geralmente, Passeriformes menores, com
ninhos abertos e em forma de tigela rasa), eclodindo primeiro, o que
traz vantagens óbvias para os filhotes parasitos, pois ganham
exclusividade de tratamento e crescem rapidamente. Ainda no
Brasil, outra espécie parasita é o galdério (Molothrus bonariensis),
que deposita seus ovos no ninho do tico-tico (Zonotrichia capensis).
Em espécies como o cuco europeu (Cuculus canorus),
normalmente a fêmea remove o ovo do hospedeiro, segurando-o
com o bico, e então coloca o seu próprio ovo. O seu tempo de
permanência no ninho é inferior a 10 segundos, se ela não realiza
essa tarefa, o filhote recém-eclodido do cuco, ainda pelado e cego,
lança para fora do ninho os ovos e os filhotes do hospedeiro, um a
um.
8.3 Sistemas de reprodução
As interações comportamentais de indivíduos que vivem em
grupos sociais ou populações podem ser vistas como
fundamentalmente competitivas, em que os indivíduos estão
competindo por recursos limitados, os quais podem ser alimento,
abrigos ou parceiros reprodutivos. Um macho apresenta um
potencial mais elevado para ser pai do que uma fêmea para ser
mãe, pois o custo da produção de gametas é menor para os machos
do que para as fêmeas. Dessa forma, podemos esperar que as
fêmeas sejam um recurso limitante para o sucesso reprodutivo dos
machos e, nesse caso, também podemos esperar que ocorra
competição entre os machos pelo acesso às fêmeas.
Devido ao fato de as fêmeas direcionarem grande parte do seu
investimento para o zigoto,
espera-se que elas sejam seletivas na escolha de parceiros sexuais,
elegendo aqueles machos que possam oferecer investimentos na
prole, como cuidado parental.
Normalmente, as fêmeas iniciam o processo reprodutivo com
grande investimento nos gametas, sendo muito exigentes na
qualidade dos parceiros de acasalamento. Os sistemas de
acasalamento baseiam-se na existência de recursos no ambiente,
ou seja, quando os recursos são escassos, normalmente
observamos a monogamia (um macho acasalado com uma fêmea),
em que ambos os pais provêm cuidados parentais, já quando os
recursos são abundantes, observamos a poligamia, que pode ser
dividida em: poliginia (um macho copula com várias fêmeas),
poliandria (uma fêmea copula com vários machos) e promiscuidade
(vários indivíduos copulando entre si). Nesses sistemas, apenas um
dos parceiros é suficiente para prover cuidados parentais.
A monogamia é muito comum nas aves e rara nos mamíferos, e
está associada ao cuidado biparental; já que os recursos no
ambiente são escassos; dois pais conseguem mais alimentos para
os filhotes do que um. Nesse caso, há um incremento no sucesso
reprodutivo de machos e fêmeas que permanecem juntos, pois
quando os machos monitoram a fidelidade de suas parceiras,
maximizam ainda mais o seu sucesso reprodutivo, já que terão
certeza de que os filhotes nascidos são seus. A poligamia está
presente em todos os grupos animais, assim sendo, como os
recursos são abundantes, um dos pais é capaz de cuidar sozinho
dos filhotes.
Para os machos, é interessante que eles copulem com o máximo
de fêmeas possível, pois assim estariam maximizando seu sucesso
reprodutivo. Para as fêmeas, como na maioria dos casos elas são
responsáveis pelo cuidado dos filhotes, copular com vários machos
seria quase impossível. Portanto elas selecionam bem os pais de
seus filhotes, a fim de garantir um aumento em seu sucesso
reprodutivo. As escolhas dos machos pelas fêmeas gera a chamada
seleção sexual, na qual o parceiro que mais investe na reprodução
seleciona sexualmente os melhores companheiros. Ao escolher bem
os companheiros, as fêmeas selecionam indivíduos com genes
bons, que podem refletir-se em maior resistência a doenças, maior
capacidade de atração do sexo oposto (o que garante a
perpetuação do genoma da mãe), maior sobrevivência dos filhotes
etc.
8.4 Conflitos
8.4.1 Conflito entre machos e fêmeas
Os animais comportam-se para conseguir duas coisas:
sobreviver e reproduzir. Normalmente, as fêmeas estão atrás de
recursos, como alimento ou lugar de nidificação, enquanto os
machos estão atrás das fêmeas, a fim de reproduzirem.
8.4.2 Conflito entre pais e filhos
Pais e filhos têm interesses diferentes, o que gera conflitos entre
eles: pais querem manipular seus filhos, enquanto os filhos querem
manipular seus pais. Pais querem cuidar dos filhotes apenas pelo
tempo em que eles estejam aptos a sobreviverem sozinhos, já os
filhotes querem ser cuidados pelo máximo de tempo possível.
Assim, o conflito entre pais e filhos é muito comum em várias
espécies animais, incluindo o homem. Segundo a Teoria do
Parentesco Genético, o motivo para ocorrer esse conflito é que,
para espécies com reprodução sexuada, os pais e sua prole não
são idênticos geneticamente, mas dividem apenas 50% do genoma.
Isso cria um conflito genético entre os genes oriundos do pai e os
genes oriundos da mãe, ou seja, alguns genes são expressos
apenas se vierem do pai e outros apenas se vierem da mãe. Essa
sobreposição genética parcial cria um conflito de interesses cujas
implicações são: por quanto tempo as mães deveriam investir na
sua prole? Como os investimentos (tempo, alimento, energia) são
limitados, a mãe tem que escolher entre continuar amamentando
seu filhote ou preparar-se para ter um novo filhote. Alguns exemplos
de conflitos:
1. Conflito do desmame: o desenvolvimento dos filhotes pode ser dividido em
três estágios. No primeiro, a mãe mantém grande proximidade com o filhote,
protegendo-o, alimentando-o, permitindo-o expressar muitas solicitações de
cuidado parental. No segundo estágio, o infante torna-se mais independente e
realiza a maioria dos seus cuidados, solicitando menos a presença da mãe.
No terceiro e último estágio, a mãe diminui drasticamente o cuidado parental e
começa a rejeitar o filhote, primeiro gentilmente e depois fortemente. A partir
do terceiro estágio de desmame, o infante passa grande parte do seu tempo
chorando. Como exemplo, podemos citar o desmame humano. Os recém-
nascidos recebem muitos cuidados parentais durante os primeiros 6 meses de
vida, sendo amamentados sempre que desejam (primeiro estágio); entre 6
meses e 2 anos, a amamentação pode ocorrer, porém em intervalos menores
(segundo estágio); após os 2 anos, o desmame precisa estar completo
(terceiro estágio), mesmo que a criança solicite mamar.
2. Conflito de carregar o filhote: o conflito de carregar o filhote é muito comum
e acontece da mesma forma que o primeiro. No princípio, a mãe carrega o
filhote o tempo todo, então começa a diminuir a frequência ao mesmo tempo
em que o filhote começa a reclamar e querer ser carregado.
3. Acesso de raiva: assim que o filhote começa a crescer e a mãe começa a
rejeitá-lo, ele começa a apresentar acessos de raiva, em que faz birra, grita,
gesticula, puxa os pelos etc. Esse comportamento é muito comum em várias
espécies de primatas, como os orangotangos e chimpanzés, além dos
humanos.
Apesar de parecer que os pais irão vencer esse conflito,
principalmente devido à diferença de tamanho e força, os filhotes
tentam conseguir mais por meio de manipulação psicológica. O
filhote sabe melhor que os pais quando tem fome e normalmente
comunica-se por meio do choro ou por outra forma, para que os pais
respondam apropriadamente. Esse sistema faz com que o filhote
tenha o alimento necessário para que possa sobreviver e propagar a
família, no entanto o filhote pode continuar insistindo para conseguir
mais do que realmente precisa. Uma das maneiras para isso ocorrer
é por meio da regressão, em que o filhote que tenha sido rejeitado
agirá como se fosse um infante mais novo que precisa de mais
cuidado. Outra forma de manipulação psicológica é o acesso de
raiva, em que o infante tenta conseguir mais, ameaçando machucar
ele mesmo. Jane Goodall relatou que os acessos de raiva
realizados por filhotes de chimpanzés fazem com que a mãe fique
tensa e nervosa, e venha até o filhote para
confortá-lo e cuidar dele.
8.4.3 Conflito entre irmãos
A competição, ou conflito entre irmãos, é comum em espécies
em que existe o cuidado durante o início do desenvolvimento dos
infantes, principalmente porque a demanda por recursos da prole,
em geral, excede o investimento materno. O conflito entre irmãos
resulta em agressões ou até na morte de um deles. Em mamíferos,
a intensidade da competição entre irmãos de ninhadas está
relacionada ao número de filhotes competindo pelo acesso ao leite
de cada teta. Em alguns casos, quando a prole excede o número de
tetas, a consequência do aumento de competição por leite pode ser
fatal. Em aves, muitas espécies botam seus ovos
assincronicamente, impondo uma desvantagem fenotípica em um
ou mais de seus filhotes, ou seja, a ordem de nascimento favorece o
primeiro, o qual se desenvolverá mais rapidamente do que os
demais, pois, normalmente, o mais velho ou maior filhote recebe
todo o alimento oferecido pelos pais, fazendo com que a diferença
entre ele e seus irmãos seja cada vez maior. Em muitos casos, o
primeiro filhote pode atacar o segundo com bicadas, que chegam a
matá-lo. Esse fenômeno já foi observado em garças-vaqueiras
(Bubulcus ibis), atobás-pardos (Sula leucogaster) e várias espécies
de aves de rapina.
8.5 Considerações finais
A reprodução é um dos eventos mais importantes da vida de um
animal, e todos os seus comportamentos convergem para ela.
Nesse momento, os genes de uma geração são passados para a
geração seguinte, mantendo-os presentes ao longo do tempo.
Durante um evento reprodutivo, a atração do parceiro, a cópula, a
gestação e o cuidado parental fazem parte do repertório
comportamental exibido pelos animais. Obviamente, esses aspectos
são observados na reprodução sexuada. Os sistemas de
acasalamento são divididos em monogamia, um macho acasalando
com uma fêmea, e poligamia, em que um dos sexos acasala-se com
mais de um parceiro do sexo oposto. Geralmente, os sistemas de
acasalamento refletem a abundância ou a escassez de recursos
alimentares do ambiente.
Machos e fêmeas investem de maneira diferenciada na
reprodução; normalmente as fêmeas investem bem mais do que os
machos e por isso mesmo escolhem bem os seus parceiros,
levando à seleção sexual. As fêmeas procuram bons genes,
enquanto os machos procuram muitas parceiras reprodutivas. A
reprodução gera conflitos de interesses entre os pais, entre os pais
e os filhos, e entre os irmãos, uma vez que estes não dividem 100%
do genoma.
Estudos sobre o comportamento reprodutivo das espécies
animais brasileiras são bastante realizados, e um grande número de
informações está disponível na literatura. Estudos em cativeiro e na
natureza são conduzidos tanto por biólogos quanto por veterinários.
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(Capítulo 1).
CAPÍTULO 9
ESTRESSE ANIMAL
Herlandes Penha Tinoco
9.1 Introdução
Embora os estudos acerca do estresse animal existam há mais
de 70 anos, até hoje não se chegou a um consenso sobre a
definição mais correta do termo estresse, e as que existem não
agradam a todos os estudiosos do assunto. Não existe, por
exemplo, um acordo sobre o que constitui um estímulo estressante
aos animais, os métodos para quantificar a resposta do animal, ou
métodos eficazes com os quais o estresse pode ser aliviado ou
prevenido.
Em síntese, a palavra estresse pode ser definida como uma
resposta cumulativa ou não em um organismo animal, resultante de
sua interação com o ambiente em que vive. Essa interação dá-se
por meio dos receptores espalhados pelo corpo (visão, audição,
propriocepção, olfato, sensação etc.); é, portanto, um fenômeno
adaptativo.
O estresse existe tanto na natureza como em cativeiro. Quando
em liberdade, os animais, uma vez perturbados, quer seja por um
predador, calor ou frio, sons, imagens ou odores estranhos, ou ainda
por sensação de medo, têm condições de adaptarem-se ao fator
estressante, adotando medidas para, após certo tempo, voltarem ao
seu equilíbrio fisiológico, o qual é também denominado homeostase.
Ou seja, é o ponto no qual o funcionamento interno do animal atinge
a estabilidade com relação à temperatura, à secreção hormonal, aos
movimentos respiratórios e cardíacos, à função renal, intestinal,
imunológica, cerebral, enfim, a todos os órgãos envolvidos na
regulação corporal. Em outras palavras, é a normalidade orgânica, a
manutenção de estado de equilíbrio no organismo por meio de
processos fisiológicos coordenados.
Animais mantidos em confinamento são, geralmente, privados da
possibilidade de escape dos estímulos recebidos. Por exemplo,
animais de zoológicos podem não ter a possibilidade de se
esconder do público, e se este for numeroso e barulhento, há
grande chance de o animal se estressar. Isso se torna mais
preocupante quando os animais são nascidos na natureza,
capturados e levados para a exposição, ou seja, indivíduos que já
foram livres e têm uma experiência diferente daquela. A presença
de visitantes em zoológicos, como uma fonte de estresse crônico,
tem sido inestimável para algumas espécies. Um estudo encontrou
claros efeitos deletérios no comportamento de alguns animais em
exposição, quando comparado aos animais fora de contato com
visitantes, e outro relatou a interferência de visitantes como agentes
estressores na expressão de comportamentos essenciais de
avestruzes, como os reprodutivos. Assim como os seres humanos,
animais submetidos a uma vida estressante podem facilmente
desenvolver doenças ou terem falhas de crescimento ou
reprodutivas. É interessante citar, ainda, que o manejo diário, o
manejo veterinário e o ambiente restrito e sem estímulos, também
são fontes de estresse para os animais de zoológicos.
O estresse, entretanto, é uma condição normal da vida. Por isso,
é importante entendermos que tanto os estímulos que levam ao
estresse como as respostas desencadeadas pelos animais são
vitais para a sobrevivência do indivíduo e a manutenção da sua
espécie. O desafio é justamente diferenciar o estresse que é pouco
prejudicial daquele que realmente afeta a vida do animal e seu bem-
estar (chamado de distresse ou estresse de longo prazo) e
identificá-lo nos seus estágios iniciais. O distresse ocorre quando o
estresse fisiológico é intenso e/ou duradouro, ocorrendo estímulos
estressantes sucessivos, causando danos ao animal.
9.2 Conceitos básicos
9.2.1 Agentes estressantes
De forma geral, os agentes estressantes podem ser agrupados
em quatro grupos principais, como colocado a seguir:
a) agentes somáticos — são os fatores que agem diretamente no corpo do
animal. São os sons, as imagens, os odores, a manipulação, o frio, o calor, a
pressão, a extensão anormal de músculos e tendões (Figura 27). Como
exemplo dos efeitos dos agentes somáticos, podemos citar os agentes
térmicos (calor ou frio), que afetam a taxa de crescimento do animal, por
reduzirem o consumo alimentar. Ambos os estresses, térmico e nutricional,
causam uma queda da resistência a doenças. As drogas anestésicas e outros
medicamentos também fazem parte deste grupo;
EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO
Cristiano Schetini de Azevedo & Camila Palhares Teixeira
12.1.1 Homeostase
A homeostase diz respeito à relativa estabilidade do corpo,
apesar das mudanças do ambiente externo. De acordo com o
conceito de homeostase, o corpo tem meios de corrigir desvios em
componentes que garantam o seu bom funcionamento. Por
exemplo, se a temperatura corpórea ou o volume dos fluidos caísse,
ações corretivas seriam realizadas para a reaquisição do balanço
homeostático. Se os fluidos corpóreos se alterassem e saíssem do
equilíbrio homeostático, o animal seria estimulado a beber água, o
que resultaria na correção da concentração desses fluidos num
valor normal, ideal. Esse modelo é conhecido como modelo
homeostático motivacional e está representado na Figura 42.
Esse modelo assume que existe um estado ideal (homeostático)
no animal. Se existe uma diferença entre esse estado, tal erro ou
discrepância provê o estímulo motivacional ao animal (no caso dos
fluidos corpóreos, beber água). Esse sistema também é conhecido
como “modelo da retroalimentação negativa”, pois o erro funciona
como feedback para o sistema e estimula o comportamento ou a
resposta fisiológica a operar até que o erro seja reduzido. Esse
sistema então é autocorretivo.
FIGURA 42 – MODELO HOMEOSTÁTICO MOTIVACIONAL. A MOTIVAÇÃO DO
ANIMAL PARA REALIZAR CERTO TIPO DE COMPORTAMENTO TEM COMO
FUNÇÃO RESTAURAR A HOMEOSTASE DE SEU ORGANISMO
FONTE: adaptado de Manning e Dawkins (2002).
COMPORTAMENTO E CONSERVAÇÃO
Camila Palhares Teixeira
13.1 Introdução à conservação
O conhecimento atual sobre a diversidade biológica do planeta
ainda é muito escasso. É extremamente difícil contabilizar o número
de espécies de um determinado grupo taxonômico no mundo, ou
ainda em um pequeno fragmento de mata. Alguns autores sugerem
em torno de 8,7 milhões de espécies no planeta, mas são descritas
apenas 1,2 milhão. Isso é extremamente preocupante quando se
considera o ritmo atual de destruição dos ecossistemas naturais
aliado às altas taxas de extinção das espécies. A Biologia da
Conservação é uma ciência multidisciplinar, que foi desenvolvida
como uma resposta à crise com a qual a diversidade biológica se
confronta hoje.
A Etologia é a ciência que estuda o comportamento animal,
portanto, está diretamente ligada à Biologia da Conservação, uma
vez que os cientistas que estudam essa ciência estão preocupados
com a conservação tanto dos habitats quanto das espécies.
Apesar de a contribuição de ambas as disciplinas ser de grande
importância para a conservação das espécies, ainda são raros os
estudos que agregam as duas. A contribuição de ambas as
disciplinas é de grande importância para desacelerar a perda da
biodiversidade global, e se associadas, podem gerar resultados
ainda mais eficazes.
Várias são as aplicações do comportamento animal na Biologia
da Conservação. Programas de reintrodução, manejo de espécies,
impacto do ecoturismo no comportamento, proteção de grandes
áreas naturais (criação de Unidades de Conservação), ecologia de
populações, educação ambiental, assimetria flutuante, dentre
outras, são exemplos de estratégias de conservação que podem ser
realizadas por meio de estudos comportamentais.
Como dito, cerca de 1,2 milhão de espécies foram descritas até o
momento, sendo a maioria de insetos (aproximadamente 70%), e os
pesquisadores calculam que o número de espécies seja muito
maior. O problema está nas pressões ambientais causadas pelo
homem, principalmente a destruição dos habitats; um dos maiores
problemas causados pela ação antrópica sobre a paisagem é o
processo de fragmentação do habitat, principalmente por meio do
crescimento desordenado em áreas florestadas e conversão de
grandes porções dessas em áreas agrícolas, pasto, áreas urbanas,
malha viária e áreas degradadas de menor valor para a
conservação de ecossistemas naturais. A destruição dos habitats,
então, acaba causando a maior parte das extinções modernas.
Quase 25 mil espécies encontram-se ameaçadas atualmente; pouco
se comparada ao número de espécies conhecidas, mas o problema
está no número de espécies avaliadas, cerca de 5% apenas.
Devido a esse fato, em 1988, Myers criou o conceito de hotspots.
Estudos recentes conduzidos por mais de 100 especialistas
estabeleceram 34 hotspots no globo. Para determinar essas áreas,
foram utilizados dois critérios: (1) a existência de espécies
endêmicas, (2) o grau de ameaça do ecossistema. A Mata Atlântica
brasileira, por exemplo, é considerada um dos hotspots mais
importantes da região neotropical, entretanto concentra hoje a maior
parte da população brasileira, restando apenas 12,5% de sua área
original; menos de 1% de sua extensão é representada por áreas
não perturbadas. Além da Floresta Atlântica, o Cerrado também é
considerado uma das áreas prioritárias para a conservação.
13.2 Maiores ameaças às espécies
Várias espécies de seres vivos se encontram ameaçadas de
extinção, e como dito anteriormente, essas são causadas
principalmente por ações antrópicas. Existem diversos exemplos
que podemos citar de espécies ameaçadas, dentre eles estão: o
papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea), a ariranha (Pteronura
brasiliensis), a arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari), a
preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) e muitos outros.
As principais ameaças às espécies são:
a) destruição dos habitats;
b) introdução de espécies exóticas;
c) caça para venda de produtos derivados;
d) tráfico ilegal.
13.2.1 Destruição dos habitats
A destruição dos habitats é uma das maiores ameaças às
espécies de vertebrados, uma vez que essa destruição geralmente
está relacionada à ocupação humana, tornando-se um problema
grave.
Os Domínios da Mata Atlântica e do Cerrado, cujas localizações
coincidem com o local de maior ocorrência de seres humanos no
Brasil: a região Sudeste, são dois exemplos de biomas degradados
pela ocupação humana, em que grande parte das espécies animais
encontra-se ameaçada.
Essa destruição de habitats gera o processo de fragmentação. A
fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma grande e
contínua área é reduzida em tamanho e dividida em dois ou mais
fragmentos, os quais são separados entre si por meio de matrizes
inóspitas dominadas pelo homem. Por exemplo, uma grande
monocultura entremeando fragmentos florestais; a plantação
(matriz) seria um ambiente inóspito para os organismos que habitam
os fragmentos florestais (Figura 60).
FIGURA 60 – REPRESENTAÇÃO DE FRAGMENTOS FLORESTAIS (CINZA
ESCURO) EM MEIO A UMA MATRIZ DE MONOCULTURA (CINZA CLARO). A
MONOCULTURA FUNCIONA COMO UM AMBIENTE INÓSPITO PARA AS
ESPÉCIES QUE VIVEM NOS FRAGMENTOS FLORESTAIS
FONTE: o autor.