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A POLÍTICA NACIONAL DE ABRIGAMENTO DE MULHERES
EM SITUAÇÃO DE RISCO E VIOLÊNCIA
Bruna Woinorvski de Miranda1
1
Bacharel em Serviço Social (UEPG) com especializações na área da Gestão Pública (UEPG/UFPR), entre
outras. Assistente Social no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná - TJPR, com atuação no Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da comarca de Ponta Grossa.
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trajetória até o seu reconhecimento e mil casos de feminicídios – que se tratam
posterior implementação de formas de de homicídios de mulheres causados por
enfrentamento. conflitos de gênero, especialmente
Dentro desse processo oriundos de conflitos entre cônjuges.
histórico, foi somente na década de 1950 Segundo informações do Mapa de
que a Organização das Nações Unidas Violência (2012) o Brasil ocupa a sétima
(ONU) instituiu a Comissão de Status da posição no ranking de países com
Mulher e criou a Declaração Universal maiores índices de violência contra a
dos Direitos Humanos, a partir de onde mulher.
os direitos e liberdades começaram a ser Neste panorama, dentre as
aplicados de forma igualitária entre medidas e estruturas previstas, as
homens e mulheres. Em âmbito nacional, chamadas “Casas-abrigo”, destinadas ao
recentemente foi promulgada a Lei nº acolhimento de mulheres que se
11.340/06, popularmente conhecida encontram em situação de extremo risco
como “Lei Maria da Penha”, que surge e urgência, se mostram como
com o objetivo principal de erradicar importantes instrumentos de proteção a
toda forma de violência contra a mulher esse público.
e estrutura um sistema de proteção com Diante do exposto, o presente
mecanismos de coibição e punição dos texto tem o intuito de promover, através
agressores. de levantamento bibliográfico, uma
Ainda assim, influenciadas e análise da Política Nacional de
determinadas por diversos fatores, as Abrigamento de Mulheres em situação
agressões que violam física, psicológica de violência e risco, apontando
e sexualmente as mulheres prosseguem fragilidades e possibilidades de atuação
permeando nossa realidade neste contexto. Em consequência disso,
cotidianamente e causando-lhes torna-se possível o reconhecimento de
imensuráveis danos. legislações e regulamentações que
Dados de um estudo preliminar versam sobre o tema, além da estrutura e
realizado pelo Instituto de Pesquisa funcionamento das instituições
Econômica Aplicada - IPEA em 2013 responsáveis pela execução desse
apontam que entre os anos de 2009 e serviço.
2011 foram registrados no Brasil 16,9
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2 RESGATE CONCEITUAL E culturais, econômicas, religiosas, dentre
MARCOS HISTÓRICO- outras), trazendo consequências
LEGAIS biopsicossociais negativas,
especialmente para quem a violência foi
A violência é algo que está direcionada.
presente cotidianamente em nossa
sociedade. Apesar de ser expressa de 2.1 A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA E
diferentes modos, é empiricamente SUAS ESPECIFICIDADES
reconhecida como uma das formas de QUANTO À MULHER
manifestação da pobreza e da exclusão
social, mas sua origem e consequências Uma breve pesquisa
nem sempre se reduzem a situações bibliográfica permite identificar que a
simplistas e pontuais. Nessa lógica, mulher figura como vítima de violência
diferentes podem ser as definições (não apenas física, mas de violações em
encontradas para a violência, construídas direitos básicos como à vida, a liberdade
com base em óticas distintas. De forma e a disposição do seu corpo) desde os
geral, pode-se afirmar, resumidamente, tempos bíblicos. Já nessa época
que: identifica-se que a concepção da
A violência seria a relação social superioridade masculina e a
de excesso de poder que impede o
reconhecimento do outro‐pessoa, subordinação do feminino é presente
classe, gênero ou raça ‐ mediante o
uso da força ou da coerção, (DIAS, 2010).
provocando algum tipo de dano,
configurando o oposto das
Deste modo, tem-se a reflexão
possibilidades da sociedade de que a religião apresenta, inclusive nos
democrática contemporânea
(TAVARES DOS SANTOS, apud dias atuais, grande influência na
PEREIRA & PEREIRA, 2011, p.
24). sociedade quanto à compreensão das
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perpetuação da ideologia de Na Idade Média a mulher
desempenhava o papel de mãe e
superioridade masculina em nossa esposa. Sua função precípua era de
obedecer ao marido e gerar filhos.
sociedade. Nada lhe era permitido.
Na Idade Moderna, ao lado da
Tomando por exemplo as queima de sutiãs em praças
antigas civilizações gregas, a mulher já públicas, simbolizando a tão
sonhada liberdade feminina, vimos
era compreendida como uma inferior ao também as esposas serem
queimadas nas piras funerárias
homem, menosprezada moral e juntas aos corpos dos maridos
falecidos ou incentivadas, para
socialmente – motivos pelos quais não salvar a honra da família, a
cometerem suicídio, se houvessem
possuía direitos. Algo semelhante sido vítimas de violência sexual,
ocorria na Alexandria romanizada onde mesmo se a mesma tivesse sido
impetrada por um membro da
a mulher era tida como alma inferior e família, um pai ou irmão, que nem
sequer era questionado sobre o ato.
associada como símbolo de menor
Pereira & Pereira (2011, p. 23)
racionalidade; da mesma forma ao que se
afirmam que:
passou na Idade Média onde nada era
permitido à mulher – a quem a única As diversas formas de agressão
existentes têm sua gênese no
função que cabia era a de obedecer ao cenário cultural histórico de
marido e gerar filhos. Por fim, situações discriminação e subordinação das
mulheres. A desigualdade criada
semelhantes, onde se ressalta o em torno do masculino e do
feminino abriu as portas para uma
menosprezo da figura feminina, podem série de comportamentos
relacionados ao domínio e ao
ser identificadas na sociedade moderna, poder de homens sobre mulheres,
gerando o uso da violência. O
tal como aponta Dias (2010, p. 01): homem historicamente recebeu da
sociedade o aval para ser o chefe
Nas civilizações Gregas, a mulher da casa, passando a crer que possui
era vista como uma criatura o direito de usar a força física
subumana, inferior ao homem. Era sobre sua companheira ou ex‐
menosprezada moral e companheira, como forma de
socialmente, e não tinha direito impor e cobrar o comportamento
algum. que considera adequado para si e
Na Alexandria romanizada no séc. para ela.
I d.C, Filón, filósofo helenista
lançou as raízes ideológicas para a O cenário apresentado passou a
subordinação das mulheres no
mundo ocidental. Ele uniu a apresentar significativas mudanças a
filosofia de Platão, que apontava a
mulher como tendo alma inferior e partir do capitalismo. De acordo com
menos racionalidade, ao dogma Pinafi (2007, p. 01), o modo de produção
teológico hebraico, que mostra a
mulher como insensata e determinado pelo sistema capitalista:
causadora de todo o mal, além de
ter sido criada a partir do homem. “afetou o trabalho feminino levando um
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grande contingente de mulheres às os direitos e liberdades humanos devem
fábricas. A mulher sai do lócus que até ser aplicados de forma igualitária entre
então lhe era reservado e permitido – o homens e mulheres, sem distinção de
espaço privado, e vai à esfera pública”. qualquer natureza.
Nota-se que partir desse Com a promulgação da referida
momento se iniciou um processo de declaração, diversos países passaram a
contestação da compreensão reconhecer a diversidade biológica,
disseminada acerca da inferioridade do social e cultural dos seres humanos,
feminino ante o masculino, resultando sendo que pactos e formas de
nos primeiros movimentos feministas intervenção foram sendo construídos,
que visavam à articulação de mulheres principalmente com o intuito de
para apontar a possibilidade de ambos os promover a igualdade entre os gêneros e
sexos realizarem as mesmas tarefas. E, lutar contra a violência contra a mulher
nesse cenário, também se passou a (PEREIRA & PEREIRA, 2011).
questionar a compreensão do direito dos Já no cenário brasileiro, a
homens em dominar e controlar suas década de 1970 apresenta-se como
mulheres, utilizando-se inclusive da marco por se tratar do primeiro período
violência, caso fosse necessário em que foram identificados movimentos
(PINAFI, 2007). feministas organizados e politicamente
Contudo, o reconhecimento da engajados em defesa dos direitos da
questão da violência contra a mulher por mulher contra o sistema social opressor -
organismos internacionais demorou a o machismo, contribuindo para a
ocorrer. Somente em meados da década visibilidade da questão.
de 1950 a Organização das Nações O movimento “SOS Mulher”
Unidas (ONU) institui a Comissão de (com atividades iniciadas em São Paulo
Status da Mulher, formulando uma série e estendidas ao Rio de Janeiro e a Porto
de tratados baseados em provisões da Alegre no mesmo período), por exemplo,
Carta das Nações Unidas (que versa constituiu-se como espaço de reflexão e
sobre a igualdade dos direitos entre propositura de mudanças nas condições
homens e mulheres). Em 1948 a ONU de vida das mulheres vítimas de
promulgou a Declaração Universal dos violência. Trata-se de uma das primeiras
Direitos Humanos, que declara que todos iniciativas de buscar parcerias com o
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Estado que resultassem na resolução da 2.2 LEGISLAÇÕES E
problemática. REGULAMENTAÇÕES DE
Acompanhando esse PROTEÇÃO À MULHER EM
movimento e, em consonância com a SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
dinâmica internacional, em 1979, ao
ratificar a Convenção para a Eliminação Com base em muitas discussões
de Todas as Formas de Discriminação e num movimento que promoveu a
contra a Mulher constituída a partir da visibilidade social e o reconhecimento da
Assembleia Geral das Nações Unidas, o questão da violência contra a mulher,
Estado brasileiro se comprometeu diferentes documentos foram sendo
perante o sistema global a coibir todas as construídos no âmbito do Estado
formas de violência contra a mulher e a brasileiro prevendo mecanismos de
adotar políticas destinadas a prevenir, prevenção da violência contra a mulher e
punir e erradicar a violência de gênero. de punição aos agressores no país, tais
A Constituição da República como a Lei 11.340/2006, o Plano
Federativa do Brasil de 1988, visando Nacional de Políticas para as Mulheres,
atribuir eficácia interna à normativa o Pacto Nacional Pelo Enfrentamento à
internacional, de forma expressa Violência contra a Mulher, dentre outras
consignou em seu texto que os direitos e regulamentações.
garantias previstos em tratados A Lei nº 11.340/06 representa
internacionais subscritos pelo Brasil são um marco na luta contra a violência
fundamentais, assim como os elencados contra a mulher. Tendo como objetivo
nos incisos de seu artigo quinto. principal a erradicação de toda forma de
violência contra a mulher, tal legislação
recebeu esse nome em homenagem à
Maria da Penha Maia Fernandes –
mulher brasileira vítima de violência que
buscou até os últimos recursos2 para
2
Após sofrer duas tentativas de auxílio em uma Organização Não-Govenamental
homicídio num período de dois anos, Maria da (o CEJIL – Centro pela Justiça e o Direito
Penha denunciou o seu marido que, tendo ido a Internacional) que visa alcançar a plena
júri, ficou preso por apenas dois anos após implementação das normas internacionais de
recorrer da sentença. Uma vez que não logrou direitos humanos e, com o apoio do CLADEM
êxito junto à justiça brasileira, Maria buscou (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a
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evidenciar socialmente a importância de preventiva nos casos de violência
proteger as mulheres da violência sofrida doméstica; bem como passou a prever
no ambiente doméstico e/ou familiar. que, nos crimes em que é permitida a
A Lei trouxe alterações retratação, esta seja realizada em
significativas no âmbito da justiça audiência específica para este fim (SÃO
criminal, enrijecendo o sistema punitivo PAULO, 2009).
para o agressor e adotando mecanismos A norma prevê ainda medidas
de proteção mais efetivos. Segundo protetivas de urgência que vão desde a
levantamento feito pela Defensoria saída compulsória do agressor do
Pública do Estado de São Paulo, a lei domicílio, a proibição de sua
afastou a incidência dos institutos aproximação da mulher agredida e a
despenalizadores da Lei 9.095/95; suspensão ou restrição de posse de arma
passou a impedir a composição de danos pelo autor da violência, tudo para que lhe
e a suspensão condicional do processo seja assegurada a sua proteção.
nos casos de violência doméstica; Interessante destacar que, muito
determinou que deixasse de ser lavrado o embora o senso comum associe a
termo circunstanciado, e passasse a ser “violência” apenas às violações de
permitido o auto de prisão em flagrante integridade física, ela pode se manifestar
do autor de violência; além de versar que das mais diversas formas, de modo que
a denúncia da violência doméstica deve qualquer ato que cerceie os seus direitos:
ser feita por escrito, e não de forma oral “à vida, à segurança, à saúde, à
(SÃO PAULO, 2009). alimentação, à educação, à cultura, à
Ademais, tem-se ainda que a moradia, ao acesso à justiça, ao esporte,
Lei Maria da Penha tornou a lesão leve ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
decorrente de violência doméstica objeto liberdade, à dignidade, ao respeito e à
de ação pública incondicionada; deixou convivência familiar e comunitária”
de permitir a aplicação de penas (Art. 3º da Lei 11. 340/2006), pode ser
alternativas nos mesmos casos; configurado como violência.
possibilitou a decretação de prisão
Defesa dos Direitos da Mulher), denunciou o Americanos) pela negligência do país em tratar
Brasil na Comissão Interamericana de Direitos os casos de violência doméstica.
Humanos da OEA (Organização dos Estados
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A Lei Maria da Penha intitula e) violência sexual: entendida
“doméstica” a violência perpetrada no como ações que obrigam a mulher a
espaço de convívio permanente das participar, presenciar ou manter relações
pessoas, com ou sem vínculo de sexuais sob o uso de força física,
parentesco, e “familiar” a violência chantagem, ameaças ou intimidações.
ocorrida no espaço da família, ou seja, Relaciona-se também com a ação de
dentro do grupo de pessoas que são ou se forçar a mulher a prática do aborto,
consideram aparentados (unidos por prostituição, ou ainda, que a impeça de
laços naturais, por afinidade ou por utilizar mecanismos contraceptivos.
vontade expressa). O referido diploma Em suma, a Lei Maria da Penha
legal nos diz ainda que se considera: é o principal instrumento de proteção à
a) violência física: qualquer mulher em situação de violência no
ação que atinja a saúde corporal da Brasil, resultante de movimentos que
mulher; contribuíram para a maior visibilidade da
b) violência psicológica: problemática. Contudo, de modo
caracterizada pelo controle das ações, paralelo já ocorria a ampliação do debate
comportamento ou decisões da mulher. acerca do tema que levou à
Geralmente se manifesta na forma de sistematização da intervenção estatal no
ameaças, intimidações, manipulação, que concerne às mulheres, tal como
humilhações ou qualquer outra forma ocorre com o Plano Nacional de Políticas
que traga prejuízos à saúde mental e para Mulheres.
emocional da mulher; O Plano Nacional de Políticas
c) violência moral: voltada às para as Mulheres, datado de 2005, é
práticas de caluniar, injuriar ou difamar resultado das discussões realizadas na I
a mulher, Conferência Nacional de Políticas para
d) violência patrimonial: se as Mulheres, que contou com mais de
refere a ações que atentem contra o 120 mil participantes em 2004 na capital
patrimônio da mulher, ou seja, quando o do país, Brasília. Trata-se de uma
agressor toma posse ou destrói objetos iniciativa da Secretaria Especial de
pessoais da vítima (como documentos, Políticas para as Mulheres que expõe os
roupas, instrumentos de trabalho ou objetivos e metas do governo federal,
bens); e,
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além das linhas de ações para a integrada; a redução dos índices de
promoção dos direitos das mulheres. violência e a garantia do atendimento
Pautando-se na Política integral, humanizado e de qualidade às
Nacional para as Mulheres (que se vítimas, além do cumprimento dos
orienta pela igualdade e respeito à instrumentos e acordos internacionais e
diversidade, além da equidade aos da revisão da lesgislação brasileira
indivíduos, autonomia das mulheres, quanto o tema.
laicidade do Estado, universalidade das O diagnóstico situacional da
políticas, justiça social, transparência violência contra a mulher no país é
dos atos públicos e participação e apontado como primeiro passo para o
controle social), o Plano Nacional de desenvolvimento das ações previstas
Políticas para as Mulheres considera para o enfrentamento à violência contra
que: “o maior acesso e participação das as mulheres. Ademais, a integração das
mulheres nos espaços de poder são políticas e dos serviços especializados,
instrumentos essenciais para especialmente na forma de rede, bem
democratizar o Estado e a sociedade” como a estruturação do trabalho são
(BRASIL, 2005, p. 09). mencionados como importantes
Ademais, as ações do Plano estratégias de atuação neste eixo.
foram traçadas com base em quatro eixos Outro grande marco no Brasil, o
de atuação considerados mais urgentes Pacto Nacional Pelo Enfrentamento à
para garantir o direito a uma vida melhor Violência contra a Mulher firmado no
para todas as mulheres, a saber: a) a ano de 2007 reconhece a necessidade da
autonomia, igualdade no mundo do adoção de Políticas Públicas, de caráter
trabalho e cidadania; b) educação universal, acessíveis a todas as mulheres
inclusiva e não sexista; c) saúde, direitos que englobem as diferentes modalidades
sexuais e direitos reprodutivos; e d) nas quais a violência se expressa,
enfrentamento à violência contra as considerando que são muito frequentes
mulheres. situações de violação de direito e de
No que se refere ao violência contra mulheres.
enfrentamento à violência contra as Dessa forma, o referido
mulheres, tratam-se de objetivos a documento trata de diversas ações a
implantação de uma política coesa e serem adotadas com o intuito de
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responsabilizar agressores, mas, geracionais, de orientação sexual, de
sobretudo, evitar que a violência deficiência e de inserção social,
aconteça, estabelecendo metas a serem econômica e regional (BRASIL, 2007a).
alcanças em determinados prazos. Considerando a amplitude das
Para tanto, também considera discussões e a influência de diferentes
como importante instrumento a elementos na questão da violência contra
articulação do Poder Público (nas a mulher, diferentes Políticas Públicas
diferentes Políticas e âmbitos de trataram de organizar e regulamentar sua
atuação) e da sociedade civil para a atuação quanto à problemática emergida.
construção de uma cultura da paz e de Ademais, reconhece-se, no
respeito aos direitos humanos de todas as âmbito do Poder Judiciário,
pessoas, inclusive mulheres, conforme significativas contribuições no cenário
regem as legislações, além de almejar a da luta contra a violência contra a
estruturação e ampliação de serviços mulher, tal como quando o Conselho
especializados, tais como delegacias da Nacional da Justiça (CNJ) publicou a
mulher, casas-abrigo, centros de Recomendação nº 9 de 2007, que orienta
referência, dentre outros. aos Tribunais de Justiça criar Juizados
São objetivos do Pacto Nacional Especializados em Violência Doméstica
Pelo Enfrentamento à Violência contra a e Familiar contra a Mulher – o que
Mulher a redução dos índices de passou a ser implantado gradativamente
violência contra a mulher; a promoção da em âmbito nacional3.
mudança cultural partindo da Há também a Resolução nº
disseminação de ações igualitárias e 128/11 do CNJ que determinou, em
valores éticos que respeitem às todos os Tribunais de Justiça do país e
diversidades de gênero e valorização da nas suas respectivas estruturas
paz; e a garantia e proteção dos direitos administrativas, a criação de
das mulheres em situação de violência, Coordenadorias Estaduais da Mulher em
considerando as influências e Situação de Violência para funcionarem
diversidades raciais, étnicas, como órgãos permanentes de assessoria
53
da presidência. Num mesmo viés, o Medidas Protetivas ou de
Conselho publicou o Manual de Rotinas Proteção são iniciativas concedidas
e Estruturação dos Juizados de Violência através de processo judicial e adotadas
Doméstica e Familiar contra a Mulher pelos órgãos competentes,
padronizando os procedimentos e especialmente vinculados ao Poder
prevendo estruturação física e humana Judiciário ou instituições do Poder
para o seu adequado funcionamento. Executivo que abordam casos de ameça
Neste cenário, há destaque ou violação de direitos, com o intento de
ainda, para a Campanha “Compromisso fazer cessar ou minimizar situações de
e Atitude”, de iniciativa da Secretaria violência e/ou risco a que se encontram
Nacional de Políticas para as Mulheres, submetidas pessoas em condições de
que tem como principal objetivo vulnerabilidade.
promover o diálogo entre os três Poderes Conforme o Programa Federal
visando reduzir as desigualdades de de Assistência a Vítimas e a
gênero por meio das mais diversas Testemunhas Ameaçadas, instituído pela
Políticas Públicas. Para tanto, há grande Lei nº 9.807/99,
importância na cooperação estabelecida
Art. 1o As medidas de proteção
entre o Poder Judiciário, Ministério requeridas por vítimas ou por
testemunhas de crimes que estejam
Público, Defensoria Pública e Governo coagidas ou expostas a grave
ameaça em razão de colaborarem
Federal na construção desse trabalho. com a investigação ou processo
De forma geral, nota-se que ao criminal serão prestadas pela
União, pelos Estados e pelo
longo dos anos a questão da violência Distrito Federal, no âmbito das
respectivas competências, na
contra a mulher tornou-se foco para o forma de programas especiais
organizados com base nas
Estado, demandando deste a disposições desta Lei.
promulgação de legislações e criação de
Assim, cabe ao Poder Público a
mecanismos de coibição da violência, de
organização e manutenção de programas
responsabilização dos agressores, mas,
e iniciativas que contribuam para a sua
principalmente, de proteção da mulher.
efetivação. E, em se tratando de
mulheres em situação de violência que se
2.3 A MEDIDA PROTETIVA DE
encontram em extremo risco, a medida
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
protetiva do acolhimento institucional é
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tida como a principal forma de de mulheres em situação de violência
intervenção estatal. como:
Conforme informações da
Acolhimento provisório para
Secretaria Nacional de Políticas para as mulheres, acompanhadas ou não
de seus filhos, em situação de risco
Mulheres: de morte ou ameaças em razão da
violência doméstica e familiar,
No Brasil, a primeira Casa-Abrigo causadora de lesão, sofrimento
é implantada em São Paulo, em físico, sexual, psicológico ou dano
1986 – Centro de Convivência moral. Deve ser desenvolvido em
para Mulheres Vítimas de local sigiloso, com funcionamento
Violência Doméstica (Convida). em regime de co-gestão, que
Em 1990, é criada a Casa-Abrigo assegure a obrigatoriedade de
de Santo André/SP; em 1991, a manter o sigilo quanto à identidade
Casa Helenira Rezende de Souza das usuárias. Em articulação com
Nazareth /SP; em 1992, a Casa rede de serviços socioassistenciais,
Abrigo Viva Maria/RS e a Casa do das demais políticas públicas e do
Caminho/CE; e em 1996, a Casa- Sistema de Justiça, deve ser
Abrigo do Distrito Federal e a ofertado atendimento jurídico e
Casa-Abrigo Sempre-Viva/MG psicológico para as usuárias e seus
(BRASIL, 2011, p. 31). filhos e/ou dependente quando
estiver sob sua responsabilidade
(BRASIL, 2013, p. 41).
Logo, vê-se o quão recente é tal
modalidade de atendimento na realidade Todavia, apesar de ser elencado
brasileira, que passou a ser como serviço socioassistencial, o
regulamentada apenas no final dos anos abrigamento de mulheres em situação de
2000, especialmente quando o Conselho violência e risco tem seu funcionamento
Nacional de Assistência Social – CNAS e estrutura regulamentados pelas
aprovou, através da Resolução nº Diretrizes Nacionais para o Abrigamento
109/2009, a tipificação dos serviços de Mulheres em Situação de Violência e
socioassistenciais dentre os quais, Risco – documento da Secretaria
elencado como Serviço de Proteção Nacional de Políticas para as Mulheres
Social Especial de Alta Complexidade. que redefine as possibilidades de
Neles, há a modalidade de acolhimento acolhimento provisório desse público
institucional voltado a populações com o intuito de promover-lhes
expostas a vulnerabilidades ou risco, segurança e proteção.
estando as mulheres em situação de Vale ressaltar a distinção entre
violência incluídas nesse público. Casas-Abrigo de Casas de Acolhimento
A referida resolução define a trazidas pelas Diretrizes Nacionais para
modalidade de acolhimento institucional o Abrigamento de Mulheres em Situação
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de Violência ou Risco, uma vez que as Assim, o atendimento às
primeiras são aquelas constituídas com vítimas institucionalizadas deve ser
base nos serviços socioassistenciais e acompanhado pelos serviços da rede de
objetivam o atendimento de mulheres em enfrentamento local, bem como da
situação de grave ameaça ou sob risco de articulação com a segurança pública para
morte por meio de acolhimento de longa a sua efetiva proteção.
duração, enquanto que as últimas não são O Termo de Referência para a
vinculadas aos serviços Implementação de Casas-Abrigo para
socioassistenciais, possuem caráter mulheres em situação de violência,
sigiloso e podem acolher, por curtos também redigido pela Secretaria
períodos, mulheres que estão em Nacional de Políticas para as Mulheres,
situação de violência independente da versa que o principal objetivo
existência do risco de morte. Contudo, a institucional deve primar pela garantia
situação de violência exige cautela e da integridade: “física e psicológica de
atendimento especializado das vítimas, o mulheres em risco de morte e de seus
que evidencia a complexidade dos filhos de menor idade, favorecendo o
serviços de institucionalização, uma vez exercício de sua condição cidadã;
que: resgatando e fortalecendo sua auto-
estima; e possibilitando que se tornem
O abrigamento [...] não se refere
somente aos serviços protagonistas de seus próprios direitos”
propriamente ditos (albergues,
casas-abrigo, casas-de-passagem, (BRASIL, 2008, p. 12).
casas de acolhimento provisório de
curta duração, etc), mas também
Para tanto, cabe a tais
inclui outras medidas de instituições propiciar o atendimento de
acolhimento que podem constituir-
se em programas e benefícios4 forma integral e interdisciplinar às
(benefício eventual para os casos
de vulnerabilidade temporária) mulheres e respectivos dependentes,
que assegurem o bem-estar físico,
psicológico e social das mulheres especialmente nas áreas psicológica,
em situação de violência, assim
como sua segurança pessoal e
social e jurídica, bem como articular suas
familiar (BRASIL, 2011, p. 15). ações com programas de saúde, emprego
4
Segundo o decreto nº. 6.307/2007, os benefícios do Sistema Único de Assistência Social - SUAS.
eventuais são provisões suplementares e Assim, os benefícios eventuais incluem: o auxílio
provisórias, prestadas aos cidadãos e às famílias por natalidade, o auxílio por morte, o benefício
em virtude de nascimento, morte, situações de nos casos de calamidade pública e de
vulnerabilidade temporária e de calamidade vulnerabilidade temporária (BRASIL, 2011, p.
pública, que integram organicamente as garantias 22).
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e renda, moradia, creches, vítimas e familiares, e espaço estimado
profissionalização, entre outros. A visa o acolhimento com conforto e
promoção de suporte informativo e do privacidade adequados às acolhidas.
acesso a serviços a partir da instrução das De forma complementar,
mulheres para que reconheçam os seus também há maior especificação inerente
direitos como cidadãs e os meios para ao espaço institucional, bem como a
efetivá-los também deve ser instigado regulamentação quanto aos recursos
enquanto perdurar a institucionalização, materiais que devem ser disponibilzados
da mesma forma que contribuir para a nos referidos abrigos, a saber:
construção de um ambiente onde as
- Espaço para dormitórios, onde a
mulheres exercitem a sua autonomia e mulher possa acomodar seus
pertences pessoais, mantendo o
tenham a possibilidade de recuperar a vínculo familiar e garantindo sua
privacidade;
sua auto-estima deve ser almejado. - Espaços de convivência coletiva
Para que supram as (salas de reuniões, grupos e
oficinas);
necessidades das mulheres e - Espaços para o refeitório e
cozinha coletiva;
dependentes em situação de violência ou - Espaço para recreação das
crianças, preferencialmente
risco no período em que perdurar a contando com áreas externas;
- Local adequado ao atendimento
institucionalização, o Termo de de primeiros socorros, guarda de
Referência indica, ainda, uma estrutura medicamentos e outras ações de
profilaxia em saúde;
física mínima necessária, que deve - Espaço para lavanderia coletiva;
- Dependências sanitárias
contemplar: compatíveis com o número de
pessoas abrigadas;
- Adequação da estrutura do
1. Imóvel de dimensões adequadas imóvel aos portadores de
com 10 m2 por pessoa, conforme necessidades especiais, garantindo
normas da ABNT - Associação a acessibilidade;
Brasileira de Normas Técnicas, - Espaço adequado para a equipe
para abrigar o número estabelecido técnica e administrativa,
de mulheres e seus filhos de menor resguardando o sigilo relativo às
idade, em local que favoreça a usuárias do serviço;
segurança e o sigilo. 2. - Infra-estrutura administrativa de
Localização do abrigo, de comunicação e de transporte
preferência em área residencial, (BRASIL, 2008, p. 16).
não contando com presença
aparente de guaritas, placas de
identificação, oferecendo um Nota-se que a previsão dos
ambiente discreto e propício
(BRASIL, 2008, p. 16-17). recursos físicos e materiais são
O sigilo aparece como uma consonantes aos objetivos do
condição necessária para a proteção das acolhimento de mulheres em situação de
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violência ou risco e seus respectivos III) equipe operacional, que
familiares no que tange não apenas à envolve profissionais de nível médio
segurança, discrição e sigilo, mas e/ou básico que atuem no provimento da
também ao propiciar local acolhedor, infraestrutura (incluindo agente
acessível e que se aproxime e retome administrativo, cozinheira, auxiliar de
muito do seu espaço cotidiano para que conservação e limpeza, segurança e
ocorra, por parte das vítimas, a superação motorista).
da problemática num processo de Em suma, atentas às demandas
empoderamento e resiliência. provenientes da questão da violência
Por fim, para os abrigos contra a mulher, legislação e demais
também há uma previsão de recursos normativas representam um grande
humanos necessários para o suporte das avanço para a proteção das vítimas de
vítimas institucionalizadas, agressões, prevendo importantes
classificadas, pelo Termo de Referência, iniciativas para a superação da
em três equipes principais: problemática e empoderamento da
I) equipe interdisciplinar mulher. Porém, a estruturação e o
permanente, composta por profissionais alinhamento desses serviços dentro da
de nível superior que atendam as áreas de Política Nacional de Abrigamento de
saúde física, mental e promoção de Mulheres em Situação de Risco e
cidadania (envolvendo a coordenação do Violência no país ainda é algo que parece
serviço e demais profissionais em construção.
especializados, como psicólogo,
assistente social, pedagogo ou 3 A IMPLEMENTAÇÃO DA
profissional da área de educação POLÍTICA NACIONAL DE
infantil); ABRIGAMENTO DE MULHERES
II) equipe de apoio técnico, que EM SITUAÇÃO DE RISCO E
não precisa ser exclusiva da instituição e VIOLÊNCIA
conta com profissionais de nível superior
de suporte à saúde, nutrição, orientação e As multifacetas e a
assistência jurídica às moradoras (tais complexidade que o fenômeno da
como nutricionista, enfermeiro e violência contra a mulher apresenta nos
advogado); e seus diversos modos de expressão,
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demandaram do Estado iniciativas de Mulheres, entre outras” (BRASIL, 2011,
prevenção e combate a tal forma de p. 10).
violação de direito do público feminino, Contudo, apesar de toda a
especialmente através de políticas de trajetória percorrida e do empenho do
caráter universal acessíveis a todas as Estado na implantação de ações de
mulheres. proteção da mulher em situação de
Nessa lógica, violência ou risco, ainda se mostram
muito incipientes tais iniciativas. Isso
A Política Nacional amplia o
conceito de violência contra as porque, quanto à existência de serviços
mulheres (fazendo referência a
diversos tipos de violência, tais especializados de gestão Municipal para
como a violência doméstica e
familiar contra a mulher, o assédio
atendimento de mulheres em situação de
sexual, a violência institucional, o violência, segundo a Pesquisa de
tráfico de mulheres, etc) e passa a
incluir quatro dimensões/eixos Informações Básicas Municipais –
para o enfrentamento à violência
contra as mulheres: a prevenção, o MUNIC de 2013, apenas:
combate, a assistência e a garantia
de direitos (BRASIL, 2011, p. 10).
[...] 21,7% das cidades ofertavam
algum desses tipos de programas,
Ademais, fica clara a como delegacias e juizados
importância da atuação de redes especializados. A oferta deles era
maior em cidades com mais de 500
interinstitucionais e intersetoriais no mil habitantes (85%) e muito baixa
nas com até 10 mil habitantes
processo de enfrentamento à violência (menos que 10%). Segundo o
IBGE, há cidades em que não
contra a mulher, especialmente no que havia sequer uma creche, estrutura
apontada como aspecto importante
tange às situações em que há para a política de empoderamento
acolhimento institucional das vítimas das mulheres. Nos Municípios
com até 5 mil habitantes, 42,3%
que, via de regra, se encontram em maior não tinham uma estrutura como
essa (RIBEIRO, 2016, p. 01).
situação de vulnerabilidade e risco. No
Tal informação vai de encontro
sentido de implementar as ações de
com as informações divulgadas em 2013
enfrentamento, “a Política Nacional se
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
articula com diversas outras políticas, a
Estatística – IBGE no que tange aos
saber: a Política Nacional de
municípios brasileiros que contam com
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a
planos e políticas específicas para as
Política Nacional de Assistência Social,
mulheres (tabela 1). Conforme os dados
a Política Nacional de Saúde das
divulgados, dos 5570 municípios do
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país, apenas 250 contavam com Plano municípios do estado, somente 8
Municipal para as Mulheres, sendo que possuíam Plano Municipal de Políticas
somente 86 destes possuíam previsão para as Mulheres, dos quais apenas 3
legal do trabalho. com previsão legal.
No Estado do Paraná a
realidade não é muito distinta: dos 399
TABELA 1 - MUNICÍPIOS, TOTAL E COM PLANO MUNICIPAL DE POLÍTICAS PARA AS
MULHERES, SEGUNDO AS GRANDES REGIÕES E AS UNIDADES DA FEDERAÇÃO – 2013.
Municípios
Grandes Regiões Com Plano Municipal de Políticas para as Mulheres
e Com ou sem previsão legal
Unidades da Federação Total
Total Com previsão Sem previsão
legal legal
Brasil 5570 250 86 164
Sul 1191 34 15 19
Paraná 399 8 3 5
Santa Catarina 295 5 2 3
Rio Grande do Sul 497 21 10 11
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de
Informações Básicas Municipais 2013 (compilado).
TABELA 2 - MUNICÍPIOS, TOTAL E COM SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE GESTÃO MUNICIPAL PARA MULHERES
EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DE ACORDO COM A LEI MARIA DA PENHA, SEGUNDO AS GRANDES REGIÕES E
AS UNIDADES DA FEDERAÇÃO – 2013.
Grandes Municípios
Regiões Com Serviços Especializados de gestão municipal para mulheres em situação de
e Total violência de acordo com a Lei Maria da Penha
classes de Total Tipo de atividade realizada
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tamanho da Atendimento
população dos social
municípios acompa- Ativida-
Enca-
nhado por as- des de
minha- Acom-
Ativida- sistente cons-
mento panha-
Atendi- des social cientiza-
Atendi- para mento Outr
mento culturais que insira a ção so-
mento Atendi- pro- nos as
psicoló- e edu- mulher em bre os
psicoló- mento gramas casos ativi
gico cativas programas direitos
gico em jurídico de em- da Lei da-
indi- profis- sociais do da
grupo prego e Maria des
vidual sionali- governo, mulher
geração da
zantes como Bolsa- junto à
de Penha
Família e/ou comu-
renda
Benefícios de nidade
Prestação
Continuada
Brasil 5 570 1 210 1 075 649 522 871 1 040 704 850 860 266
Sul 1 191 271 233 127 99 135 227 159 160 173 42
Paraná 399 90 79 38 26 57 79 59 56 65 15
Santa Catarina 295 81 67 40 28 34 64 49 46 48 11
Rio Grande do
Sul 497 100 87 49 45 44 84 51 58 60 16
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de
Informações Básicas Municipais 2013 (compilado).
61
municípios do Brasil e do Paraná, Secretaria de Políticas para as
Mulheres, as mulheres em situação
respectivamente. Também gira em torno de violência têm acesso a um
número reduzido de serviços de
de 15% os municípios do país e do abrigamento no país, que, em
geral, referem-se somente aos
Estado em que são realizados casos de violência doméstica e
acompanhamentos nos casos familiar (casas-abrigo) e alguns
serviços de acolhimento
provenientes da Lei Maria da Penha. E, provisório de curta duração
(BRASIL, 2011, p. 25).
por fim, aproximadamente 4% destas
Nesse caso é bastante comum,
cidades dispõem de outros serviços de
país afora, existirem outros serviços de
atendimento à mulher em situação de
abrigamento que acabam por acolher as
violência.
demandas de mulheres em situação de
Em análise aos dados
violência, tais como albergues, pastorais
apresentados que, de forma geral,
da mulher, repúblicas, dentre outros – o
revelam baixos índices de serviços
que está longe do ideal, pois, como já
disponibilizados à mulher em situação de
enfatizado, a abordagem da violência de
violência, pondera-se que a problemática
mulheres e seus dependentes é complexa
advém do fato de que as Políticas
e deveria preconizar a prestação de
Públicas dispõem de serviços
atendimento especializado em
especializados apenas em municípios de
articulação com outros setores e políticas
maior porte, limitando assim, o
públicas.
atendimento da população que depende
Tem-se, ainda, que:
dos seus serviços – o que deve demandar
atenção do Poder Público para que Segundo dados da Secretaria de
Políticas para as Mulheres (SPM,
ninguém fique à margem do atendimento 2009), havia um total de 42 casas-
que necessita. abrigo no país. Atualmente,
existem 72 casas-abrigo no
Quando se fala do acesso aos território brasileiro. A maior
concentração de Casas-Abrigo
serviços de proteção por mulheres em encontra-se no Sudeste do país (25
equipamentos) e no Sul (13
situação de violência, especialmente equipamentos). Trinta e sete por
cento das unidades da federação
quanto ao acolhimento institucional, (10 UFs) possuem apenas 1 Casa-
também se constata realidade aquém do Abrigo. A maioria dos
equipamentos encontra-se
esperado, haja vista que: vinculada à gestão da Assistência
Social, com algumas exceções em
que as Casas-Abrigo estão ligadas
Segundo os dados do sistema da à Segurança Pública, à Justiça ou a
rede de atendimento à mulher da Saúde. Em sua maioria, os
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serviços são governamentais
(constituem serviços municipais Apenas 2,5% das cidades
e/ou estaduais) e sigilosos brasileiras têm casas-abrigo para
(BRASIL, 2011, p. 31). mulheres em situações de
violência, [...] Segundo o IBGE, o
Nota-se, com base nesses dados problema é especialmente
preocupante nos municípios
que houve um aumento no número de menos populosos, com até 20 mil
habitantes (que correspondem a
instituições aptas para o abrigamento de 70% do total de cidades do País),
pois havia apenas 16 delas em
mulheres em situação de violência no 3.852 cidades. Em 61,5% das
país de 2009 para 2011. Porém, ainda se localidades com mais de 500 mil
habitantes havia esse tipo de
considera o número pouco expressivo estrutura.
63
Com Casa-Abrigo para atendimento a mulheres vítimas de
violência de acordo com a Lei Maria da Penha
Tipo de atividade realizada
Atendimento
social acom-
panhado por
Grandes Com
assistente so-
Regiões todas
Aten- Aten- cial que insira
e as Ativi- Ativi-
Total dimento dimento a mulher em
Unidades Total Quanti- casas dades dades
psico- psico- programas
da (1) dade com culturais profis-
lógico lógico sociais do
Federação ende- e edu- sionali-
indi- em governo,
reço cativas zantes
vidual grupo como Bolsa-
sigiloso
Família e/ou
Benefícios de
Prestação
Continuada
64
governo, pouco mais de 2% das cidades operacionalização do seu atendimento,
no Brasil e no Paraná contam com tal com ênfase na sua proteção.
iniciativa nas instituições de Sua proposta abrange
acolhimento de mulheres em situação de iniciativas de cunho multisdiciplinar e
violência e risco. interinstitucional com o objetivo de
Há que se ressaltar que a acolher a vítima no momento de maior
ausência da estrutura e atendimentos insegurança e trabalhar, em paralelo,
preconizados nas Casas-Abrigo afeta com o desenvolvimento da sua
diretamente a vítima, interferindo autonomia e capacidade de resiliência
negativamente e até mesmo impedindo visando o posterior retorno ao seu
no seu processo de resiliência e ambiente de origem.
autonomia para a sua reinserção social e Trata-se de uma proposta de
retorno ao lar. atuação com grande potencialidade, mas
que, contudo, também apresenta
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS algumas limitações que precisam ser
consideradas e aperfeiçoadas para que
O presente trabalho, através de seja efetivo o trabalho com a mulher em
levantamento teórico, possibilitou situação de violência.
reconhecer a trajetória histórico-social- Dentre as limitações existentes,
jurídica percorrida para o considera-se que há necessidade de
reconhecimento da problemática da proporcionar melhores estruturas nas
violência contra a mulher e os esforços Casas-Abrigo para que seja respeitada a
do Estado brasileiro para implementar condição essencial do sigilo. Este se
uma Política Pública de proteção às apresenta como um pré-requisito para a
mulheres. implantação do serviço nos municípios,
Dentro desse cenário, a Política contudo, é apontado como de grande
Nacional de Abrigamento direcionada a dificuldade por algumas administrações
mulheres que se encontram em situação públicas municipais, uma vez que elas
de violência com extremo risco e nem sempre têm a possibilidade da
vulnerabilidade, se mostra como mudança constante do endereço das
importante instrumento de Casas-Abrigo (já que ex-acolhidas
podem quebrar o sigilo do local, ou os
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autores de violência podem tomar determinados municípios, especialmente
ciência do endereço). Ademais, a própria nos de menor porte, uma vez que as
característica desses municípios estrtuturas não costumam ser ampliadas
(especialmente de pequeno porte) pode nesses locais.
dificultar a ocultação do endereço De forma geral, nota-se que não
institucional. existe um único fluxo de
Ponderando-se que as Casas- encaminhamento da mulher em situação
Abrigo também devem ser criadas por de violência ao acolhimento
lei, bem como estabelecer parcerias com institucional, tendo sido realizado de
outros serviços e Políticas Públicas por diferentnes formas em estados e
meio de instrumentos administrativos e municípios. Nesse contexto, pode haver
legais, nem todos os municípios encaminhamentos incorretos para o
conseguem dispor da modalidade de serviço que representam custos às Casas-
atendimento institucional. Abrigo e às próprias mulheres pelo
Por outro lado, quando encaminhamento menos efetivo às suas
instalado o serviço, de forma geral, ele demandas e à realidade a qual
costuma estar vinculado à Política de pertencem.
Assistência Social (já que o serviço foi Também se identifica que a
incorporado na tipificação dos serviços minoria das Casas-Abrigo disponibiliza
socioassistenciais), o que, por sua vez, os atendimentos multidisciplinares
representa às Casas-Abrigo maior indicados para a superação/minimização
chances de manutenção do seu das sequelas biopsicossociais deixadas
funcionamento. pela violência sofrida, bem como para a
Considerando que a situação do promoção da autonomia e contribuição
abrigamento pressupõe a existência de para o processo de resiliência da mulher
grave ameaça e risco à mulher, as acolhida.
Diretrizes Nacionais para o Abrigamento De modo semelhante, o
de Mulheres em Situação de Violência acompanhamento pós abrigamento
indicam a importância da articulação também se apresenta deficitário nessas
com a segurança pública também através instituições. Conforme as Diretrizes
de parcerias formais – condição essa que Nacionais, o processo de
nem sempre se mostra possível em desabrigamento deve ser acompanhado
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pelo Centro de Referência Especializado BRASIL. Casa da Mulher Brasileira.
de Assistência Social mais próximo da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
residência da vítima para que sejam Disponível em:
articuladas estratégias que garantam o <http://www.spm.gov.br/assuntos/viole
acesso da mulher ao mercado de ncia/cmb>. Acesso em: 25 abr. 2016.
trabalho, a programas sociais, de
habitação e de geração de renda, BRASIL. Diretrizes Nacionais para o
conforme cada caso – o que nem sempre Abrigamento de Mulheres em
ocorre pela falta de disponibilização dos situação de risco e violência. Secretaria
respectivos serviços ou ainda pela Nacional de Políticas para as
ausência de articulação entre os setores e Mulheres/Secretaria Nacional de
Políticas Públicas. Enfrentamento à Violência contra as
Todavia, do mesmo modo que a Mulheres. Brasília: 2011.
atuação intersetorial conjunta pode se
apresentar como limitação do trabalho, BRASIL. Lei nº 9.807/99. Estabelece
também pode ser compreendida como normas para a organização e a
potencialidade do serviço de manutenção de programas especiais de
acolhimento institucional, uma vez que, proteção a vítimas e a testemunhas
com estratégias construídas e propostas ameaçadas, institui o Programa Federal
de atuação alinhados, equipamentos da de Assistência a Vítimas e a
Rede de Proteção e Casas-Abrigo, Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre
juntos, tendem a contribuir de forma a proteção de acusados ou condenados
efetiva para a superação das situações de que tenham voluntariamente prestado
violência vivenciadas por mulheres. Por efetiva colaboração à investigação
consequência, o empoderamento policial e ao processo criminal.
feminino também acaba sendo Promulgada em: 13 de julho de 1999.
estimulado minimizando as chances da
sua revitimização. BRASIL. Lei nº 11.340/2006. (Lei
Maria da Penha). Cria mecanismos para
REFERÊNCIAS coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher e dá outras providências.
Promulgada em 07 de agosto de 2006.
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