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aqTÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Todos os crimes do Capítulo I são classificados como crimes funcionais porque são
praticados no exercício da função. No Capítulo I, todos os crimes são próprios porque só
podem ser praticados por funcionário público.
Optou-se por prever um tipo penal autônomo para aquele que, em tese, seria partícipe do
crime previsto nos arts. 334 e 334-A do CP (delitos de contrabando e descaminho). Trata-se,
sem dúvida, de exceção à teoria unitária adotada pelo Código Penal no concurso de pessoas.
O legislador, no caso, “abraçou” a teoria pluralística, segundo a qual cada um dos
participantes responde por delito autônomo. Perceba-se, contudo, que a pena do delito em
estudo é maior do que as previstas para o crime de contrabando ou descaminho (pena –
reclusão, de 2 a 5 anos e de 1 a 4 anos, respectivamente). É que no delito em tela há quebra
do dever funcional por parte do funcionário público, daí por que a sanção prevista é mais
grave.
Trata-se de crime em que o funcionário público se vale dessa condição, isto é, do fácil acesso
aos colegas, pertencentes à mesma repartição ou não, para advogar, favorecer interesse
alheio privado. Tal conduta, obviamente, afeta o normal desempenho do cargo público, o
qual deve estar a serviço do Estado e não de interesses alheios particulares.
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Atenção: Com efeito, o art. 4º da Lei n. 10.261/68 dispõe que “cargo público é o conjunto de
atribuições e responsabilidades cometidas a um funcionário”. Função pública, segundo
Damásio, “corresponde a qualquer atividade realizada pelo Estado com a finalidade de
satisfazer as necessidades de natureza pública” 471. Conforme assinala Noronha, “função
pública tem conceito mais amplo, bastando dizer-se que o jurado e o eleitor (votando) a
exercem, sem que ocupem cargo público” 472. Deve, dessa forma, prevalecer, no caso, a
expressão constante do dispositivo legal, isto é, o crime ocorrerá quando houver abandono
Penal IV – 03/09/2021 - 4
Na primeira hipótese entende-se que sem a posse o provimento não se completa, nem pode
haver exercício de função pública. É a posse que marca o início dos direitos e deveres
funcionais, como, também, gera as restrições, impedimentos e incompatibilidades para o
desempenho de outros cargos, funções ou mandatos. Na segunda hipótese o funcionário,
ciente de seu impedimento para continuar no exercício da função pública, prolonga sua
atuação, a despeito de sua exoneração, remoção, substituição ou suspensão, isto é, continua
a praticar atos de ofício, embora haja impedimento legal para tanto; por exemplo:
funcionário que ocupa cargo de comissão na Prefeitura e, mediante comunicação oficial por
carta, cientifica-se de que foi exonerado, ex officio, pela prefeita, e, a despeito disso,
continua a praticar atos de ofício.
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não
constitui crime mais grave.
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de
senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a
outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
guardar segredo sobre eles, sob pena de prejudicar o regular e normal funcionamento da
atividade estatal. Se a violação do sigilo funcional estiver autorizada por lei, o fato será
atípico, sendo desnecessária a arguição de exclusão da ilicitude pelo estrito cumprimento do
dever legal. Se havia autorização legal, não existiu violação, pois violar significa agredir,
ofender, atentar, condutas que não se configuram quando a quebra se dá de acordo com o
ordenamento jurídico.