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ESCOLA PAULISTA DE ENFERMAGEM S/S LTDA

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PSICOLOGIA APLICADA À
ENFERMAGEM

Aluno (a) __________________________________________________________ Sala


________
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

A psicologia é uma ciência comprovada que tem suas origens na filosofia. Tem-se afirmado
que a psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com uma curta história, pois os povos
desde a antiguidade sempre manifestaram a preocupação com os problemas da alma e da vida
humana.
Vários pesquisadores afirmam que o primeiro manual de psicologia vem da Grécia (390
A.C.), onde Aristóteles escreveu sobre a alma. É sua a tese de que o todo vem antes das partes e
é, portanto mais que a somatória das suas partes.
Outros filósofos e cientistas marcaram sua importância como Santo Agostinho em 354
(método da auto-observação e o da descrição da experiência interior), John Looke (papel das
impressões sensoriais no desenvolvimento das experiências), etc.
No século XIX, com o desenvolvimento do capitalismo, destaca-se o papel da ciência, e seu
avanço torna-se necessário para dar respostas e soluções praticas no campo da técnica industrial.
O conhecimento torna-se independente da fé, a racionalidade do homem aparece. A noção da
verdade passa a contar com o aval da ciência. Os problemas e temas da psicologia passam a
serem investigados pela fisiologia e neurofisiologia, pois era necessário compreender o
funcionamento da maquina de pensar humana: o cérebro.
A partir daí, a psicologia passa a definir seus objetos de estudo, delimitar seu campo,
formular métodos e teorias.
Em que consiste a Psicologia? A Psicologia é derivada de palavras gregas que significam
"estudo da mente ou da alma". Hoje em dia é comumente definida como a ciência que estuda o
comportamento humano.
Os psicólogos estudam os mais variados assuntos entre eles: o desenvolvimento, as bases
fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a consciência, a memória, o
pensamento, a linguagem, a motivação, a emoção, a inteligência, a personalidade, o ajustamento,
o comportamento anormal, o tratamento do comportamento anormal, as influências sociais, o
comportamento social, etc.
A psicologia é frequentemente aplicada na indústria, na educação, na engenharia, na
saúde, em assuntos de consumo e em muitas outras áreas. Você é um profissional da área da
saúde e, portanto, lidará com pessoas e irá se interagir com o ser humano. O profissional de
saúde deve sentir-se bem consigo mesmo se pretende fazer alguém sentir-se bem.
Ele não é um robô, nem tampouco o são as pessoas com quem trabalham, pacientes,
médicos, supervisores, enfermeiras, auxiliares de enfermagem e familiares dos pacientes, cada
um é um ser humano, semelhante e ao mesmo tempo diferente dos demais seres humanos.
Qualquer pessoa que queira ingressar na área da saúde precisa conhecer as pessoas e
antes de tudo, a si próprio. Não está você ingressando nesta carreira porque se interessa pelas
pessoas e deseja auxiliá-las quando estão doentes?



PSICOLOGIA DO SENSO COMUM X PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Todos nós usamos o que poderia ser chamado de psicologia de senso comum em nosso
cotidiano. Observamos e tentamos explicar o nosso próprio comportamento e o dos outros.
Tentamos predizer quem fará o que, quando e de que maneira. E muitas vezes sustentamos
opiniões sobre como adquirir controle sobre a vida (Ex: o melhor método para criar filhos, fazer
amigos, impressionar as pessoas e dominar a cólera).
Entretanto, uma psicologia construída a partir de observações casuais tem algumas
fraquezas críticas. O tipo de psicologia do senso comum que se adquire informalmente leva a um
corpo de conhecimentos inexatos por diversas razões. O senso comum não proporciona diretrizes
sadias para a avaliação de questões complexas. As pessoas geralmente confiam muito na intuição,
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na lembrança de experiências pessoais diversas ou nas palavras de alguma autoridade (como um
professor, um amigo, uma celebridade da TV).
A ciência proporciona diretrizes lógicas para avaliar a evidência e técnicas bem
raciocinadas para verificar seus princípios. Em consequência, os psicólogos geralmente confiam
no método científico para as informações sobre o comportamento e os processos mentais.
Perseguem objetivos científicos, tais como a descrição e a explicação. Usam procedimentos
científicos, inclusive observação e experimentação sistemática, para reunir dados que podem ser
observados publicamente. Tentam obedecer aos princípios científicos. Esforçam-se, por exemplo,
por escudar seu trabalho contra suas distorções pessoais e conservar-se de espírito aberto.
Ainda assim, os cientistas do comportamento não estão de acordo quanto aos
pressupostos fundamentais relacionados aos objetivos, ao objeto primeiro e aos métodos ideais.
Como outras ciências, a psicologia está longe de ser completa. Existem muitos fenômenos
importantes que não são ainda compreendidos. As pessoas não devem esperar uma abordagem
única do objeto da psicologia ou respostas para todos os seus problemas.

AS 3 PRINCIPAIS TEORIAS DA PSICOLOGIA MODERNA
Æ Funcionalismo: procura compreender como funciona a consciência através do seu modo
de adaptar-se ao meio;
Æ Estruturalismo: procura entender a consciência através do sistema nervoso central;
Æ Associacionismo: todo o comportamento tende a se repetir, se nos o recompensamos
assim que nos o emitimos.

Surgem as primeiras escolas de psicologia
Os seres humanos como conhecemos hoje, apareceram na Terra há cerca de 100.000 anos
atrás. Desde então têm estado provavelmente tentando compreender-se a si mesmo.
Aristóteles (384-322 a.C.), o filósofo grego, e considerado o Pai da Psicologia. Entretanto, a
especulação sobre assuntos psicológicos não começou com este pensador grego. Centenas de
anos antes de Aristóteles, os primeiros filósofos de que se tem notícia já lidavam com esses
assuntos.


Behaviorismo ou Comportamentalismo
Em 1912, o psicólogo americano John B. Watson fundou um novo
movimento que mudou o enfoque da psicologia. Ele acreditava que em seus
estudos do consciente, ambos estruturalistas e funcionalistas divergiram demais
da ciência objetiva. Processos mentais internos não deveriam ser estudados,
porque estes não podiam ser observados; ao invés, Watson preconizou que a
psicologia enfocasse no estudo do comportamento (behavior) e, portanto, o
movimento de Watson ficou conhecido como behaviorismo, ou
comportamentalismo em português.
Conforme Watson interpretou, o comportamento não era o resultado de processos
mentais internos, porém, no entanto, o resultado de uma resposta automática a um estímulo do
meio ambiente.
Behaviorismo tornou-se enfocado em como as condições do meio ambiente afetam o
comportamento, e especificamente, como os seres humanos aprendem novos comportamentos
por intermédio do meio ambiente.
Este movimento firmou-se veementemente nos Estados Unidos, e foi à escola de
pensamento dominante por aproximadamente quarenta anos. O sucessor de Watson, como o
líder do behaviorismo foi B. F. Skinner, quem desenvolveu uma visão de influência que afirmava
que o condicionamento operante era o mecanismo de aprendizado.

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Gestalt
Esta linha afirmava que as outras linhas tinham o individuo como um ser
passivo. Para esta linha o todo e mais do que a soma das partes. A Psicologia da
Gestalt pode ser também vista como a Psicologia da forma.
Os gestaltistas estão preocupados em compreender quais os processos
psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido
pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade.
Max Wertheimer (1880-1943) fundou o movimento da Gestalt. "O todo é
diferente da soma das partes", este é o slogan do movimento da Gestalt. O que a
pessoa é (o todo) são junções de várias características próprias dela (as partes). Aos gestaltistas
interessa muito saber sobre os significados que os seres humanos impõem aos objetos e
acontecimentos de seu mundo, a percepção, a solução de problemas e o pensamento.



Psicanálise
Para quem nunca estudou psicologia antes, é provável não ter ouvido falar
de Watson, Skinner ou Max Wertheimer, entretanto, provavelmente já ouviu falar
de Sigmund Freud (1856-1939), o médico vienense que se especializou no
tratamento de problemas do sistema nervoso e em particular de desordens
neuróticas.
Freud adotou a hipnose para ajudar as pessoas a reviverem as experiências
traumáticas do passado que pareciam associadas com seus sintomas atuais. Entretanto, nem
todos podiam atingir um estado de transe e a hipnose parecia resultar em curas temporárias, com
o aparecimento posterior de novos sintomas. Freud então desenvolveu o método da associação
livre no qual os pacientes deitavam num divã e eram encorajados a dizer o que quer que lhes
viesse à mente (desejos, conflitos, temores, pensamentos e lembranças), sendo também
convidados a relatar seus sonhos.
Freud tratava dos seus pacientes tentando trazer à consciência aquilo que estava
inconsciente. Insistia que todos os detalhes se ajustam perfeitamente entre si. A personalidade é
formada durante a primeira infância. A exploração das lembranças dos primeiros cinco anos de
vida é essencial ao tratamento.

APARELHO PSÍQUICO

Freud (1900) nomeou o aparelho psíquico, como uma organização psíquica
dividida em sistemas ou instâncias. Cada instância possui uma localização, uma
função e estão interligadas entre si. Num primeiro momento, Freud designou uma
divisão de lugares virtuais para a mente: Pré-Consciente, Consciente e Inconsciente.
Essa divisão ficou conhecida como a Primeira Tópica (Topo/em grego = lugar).
Num segundo momento, Freud (1920 a 1923) descreveu a estrutura das instâncias, seu
modo de funcionamento na estrutura da personalidade e acrescentou os conceitos de: Id, Ego e
Superego. Assim definiu-se a Segunda Tópica. Juntas, essas instâncias trabalham nas ações e
reações. Porém separadas, possuem papeis específicos a serem desempenhados na mente.


CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE, INCONSCIENTE

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CONSCIENTE
É somente uma pequena parte da mente, inclui tudo do que estamos cientes num dado
momentos. Embora Freud estivesse interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse
era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que
denominava pré-consciente e inconsciente.

INCONSCIENTE
A premissa inicial de Freud era de que há conexões entre todos os eventos mentais.
Quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e
sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente. Uma vez que estes elos
inconscientes. Uma vez que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade
está resolvida. "Denominamos um processo psíquico inconsciente, cuja existência somos
obrigados a supor - devido a um motivo tal que inferimos a partir de seus efeitos - mas do qual
nada sabemos" (1933, livro 28, p.90 na ed. bras.).
No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são
acessíveis à consciência. Além disso, há material que foi excluído da consciência, censurado e
reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O
pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente.
Há uma vivacidade e imediatismo no material inconsciente. Memórias muito antigas
quando liberadas à consciência, não perderam nada de sua força emocional. "Aprendemos pela
experiência que os processos mentais inconscientes são em si mesmos 'intemporais'. Isto significa
em primeiro lugar que não são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera,
e que a ideia de tempo não lhes pode ser aplicada" (1920, livro 13, pp. 41-42 na ed. bras.).
A maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da
personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.
Não há necessidade de caracterizar o que chamamos de "consciente": é o mesmo que a
consciência dos filósofos e do senso comum (1940, livro 7, p.32, na ed. bras.).
Certas inadequações de nosso funcionamento psíquico e certas ações que são
aparentemente involuntárias demonstram ser bem motivadas quando submetidas à investigação
psicanalítica (Freud, 1901).

PRÉ-CONSCIENTE
Estritamente falando, o pré-consciente é uma parte do inconsciente, mas uma parte que
pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que são acessíveis fazem parte
do pré-consciente. Estas podem incluir lembranças de tudo o que você fez ontem, seu segundo
nome, todas as ruas nas quais você morou, a data da conquista da Normandia, seus alimentos
prediletos, o cheiro de folhas de outono queimando, o bolo de aniversário de formato estranho
que você teve quando fez 10 anos, e uma grande quantidade de outra.


ESTRUTURAS DA PERSONALIDADE (ID, EGO E SUPEREGO)

ID – É uma instância totalmente inconsciente. Nele localiza-se uma espécie de “arquivo”
de impressões que recebemos ao longo da vida. Ali ficam guardadas as impressões de desprazer
ou “evitação”, que são recalcadas.
O id funciona na busca do prazer e evitando o desprazer, assim ele necessita de uma
imediata satisfação e não aceita a frustração. Ele desconhece ética ou moral, se expressa sob uma
própria realidade e não conhece inibições.
Nas crianças o id é um exemplo de maior manifestação. Dada à condição de
desenvolvimento da personalidade da criança, o id ainda não se encontra sob forte contenção

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psíquica. Quando uma criança faz uma “pirraça” (grita ou joga-se ao chão) na intenção de
conseguir algo dos pais é o id se manifestando. O id se expressa na forma de reação e ação,
naqueles momentos que se age sem pensar.

EGO – denominado equilibrador das forças irracionais e racionais, age sempre pressionado
pelo Id e pelo Superego cabendo a ele a dosagem entre as vontades liberadas pelo Id e entre as
limitações liberadas pelo Superego. É a parte consciente do aparelho psíquico que faz com que
um indivíduo consiga regular suas ações e reações.

SUPEREGO – denominado repressor do Id, atua influenciado por regras, crenças, leis
morais, ética e outros métodos que nos são ensinadas no decorrer da vida e limitam as ações e
reações, fazendo com que pensemos nas conseqüências. A partir de suas influências, busca
através do Ego reprimir o Id para que nenhuma ação e reação sejam realizadas irracionalmente.
De maneira geral, o id é considerado o componente biológico da personalidade, o ego o
comportamento do adulto normal é o resultado da interação recíproca dos três sistemas, pelo
equilíbrio do organismo.



NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
Para Freud um conteúdo mental pode estar em um dos 3 (três) níveis de consciência:
consciente, pré-consciente e inconsciente.
Consciente – inclui tudo aquilo que estamos conscientes em um determinado tempo.
Pré-consciente (ou subconsciente) – se constitui nas memórias que podem se tornar
acessíveis a qualquer momento para o perfeito funcionamento da mente.
Inconsciente – são elementos instintivos e material reprimido, inacessíveis á
consciência e que podem vir à tona num sonho, num ato falho. O tempo não altera
tudo o que está guardado no inconsciente.

SONHOS
A análise dos sonhos e dos atos falhos também pode ser considerada métodos da teoria
psicanalítica, constituindo-se em rica fonte de informações sobre a dinâmica da personalidade.


TEMPERAMENTO, CARATER E PERSONALIDADE

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Temperamento, personalidade e caráter, são palavras utilizadas com frequência desde a
antiguidade. Porém, seus significados quase sempre são confusos e/ou utilizados de forma
errônea.

TEMPERAMENTO
Há cerca de 2500 anos, Hipócrates, considerado o pai da Medicina, classificou o
temperamento da espécie humana em 4 (quatro) tipos básicos:
ü Sanguíneo, típico de pessoas de humor variado;
ü Melancólico, característico de pessoas tristes e sonhadoras;
ü Colérico, peculiar de pessoas cujo humor se caracteriza por um desejo forte e sentimentos
impulsivos, com predominância da bile;
ü Fleumático, encontrado em pessoas lentas e apáticas, de sangue frio. A palavra
temperamento tem sua origem do latim. Representa a peculiaridade e intensidade
individual dos afetos psíquicos e da estrutura dominante de humor e motivação.

Atualmente, o que mais se aceita a respeito do temperamento é que certas características
são decorrentes de processos fisiológicos do sistema linfático, bem como a ação endócrina de
certos hormônios. Assim, pode-se explicar à genética e a interferência do meio sobre o
temperamento de cada pessoa.
Então, poderíamos definir temperamento como sendo uma disposição inata e particular
de cada pessoa, pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a maneira de ser e agir da pessoa,
geneticamente determinada; é o aspecto somático da personalidade. O temperamento pode ser
transmitido de pais para filhos, porém, não é aprendido, nem pode ser educado; apenas pode ser
abrandado em sua maneira de ser, o que é feito pelo caráter.

CARÁTER
De acordo com Reich (1995), o caráter é o conjunto de reações e hábitos de
comportamento que vão sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo individual
de cada pessoa. Portanto, o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu
padrão consistente de respostas para várias situações. Incluem aqui as atitudes e valores
conscientes, o estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e as atitudes
físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo). É a forma com que a pessoa
se mostra ao mundo, com seu temperamento e sua personalidade.
É por meio do caráter que a personalidade do indivíduo se manifesta. Portanto, conhecer
o caráter de uma pessoa significa conhecer os traços essenciais que determinam o conjunto de
seus atos.
Desde o momento da fecundação, todas as informações genéticas do pai e da mãe passam
ao novo bebê, constituindo o seu temperamento. Ainda na gestação, o bebê apreende todos os
estímulos provindos do meio. Sente e sofre com qualquer alteração sofrida pela mãe durante a
gestação e gradativamente, vai incorporando esses estímulos e organizando-os em seu mundo
interno, que já estão contribuindo para a formação de sua personalidade. Os possíveis
comprometimentos que por ventura irá ter ao longo das etapas de desenvolvimento, irão
determinar as suas forma de agir e reagir perante a vida, constituindo assim, o seu caráter.
Então, cada pessoa assumirá uma forma definida de funcionamento, padrão típico de agir
frente às mais inusitadas situações. Como exemplo, podemos pensar numa sala de aula cheia de
alunos, onde, sem ninguém esperar, entra um bandido armado. É provável que todos se
assustem, porém, cada qual irá reagir com base em sua estrutura de caráter. Alguns desmaiam de
medo; outros têm diarreia, sono, taquicardia, sudorese; encontramos também aqueles que
querem persuadir o bandido;

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Os que tentam seduzi-lo; os que procuram enfrentá-lo, mesmo ele estando armado. E
assim, uma sucessão de comportamentos irá aparecer perante a mesma situação.

PERSONALIDADE
A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psico-afetivo pelas
quais passa a criança desde a gestação. Para a sua formação incluem tanto os elementos
geneticamente herdados (temperamento) como também o adquirido do meio ambiente no qual a
criança está inserido.
São várias as teorias que versam sobre personalidade tanto quanto as controvérsias,
temas de discussões presentes em toda história da filosofia, psicologia, sociologia, antropologia e
medicina geral.
Uma das escolas de grande destaque no estudo da personalidade foi à psicanálise de S.
Freud, que sustenta que os processos do inconsciente dirigem grande parte do comportamento
das pessoas. Outra escola importante foi a do americano B. F. Skinner que sustenta a tese de que
a aprendizagem se dá pelo condicionamento.
Compreender os aspectos e a dinâmica da personalidade humana também não é tarefa
simples, visto à complexidade e variedade de elementos que a circunda, gerados por diversos
fatores biológicos, psicológicos e sociais. Com relação aos aspectos sociais, quanto mais complexa
e diferenciada for a cultura e a organização social em que a pessoa estiver inserida, mais
complexa e diferenciada ela será. Do ponto de vista biológico, a pessoa já traz consigo, em seus
genes, diferentes tendências, interesses e aptidões que também são formados pela combinação
dinâmica entre diversos fatores hereditários e uma infinidade de influências sócio psicológicas
que ela recebe do meio ambiente. (Fernandes Filho, 1992).
Então, podemos dizer que a personalidade é formada por 2 (dois) fatores básicos:
Ø Hereditários: são os fatores que estão determinados desde a concepção do bebê. É a
estatura, cor dos olhos, da pele, temperamento, reflexos musculares e vários outros. É
aquilo que o bebê recebe de herança genética de seus pais.
Ø Ambientais: São aqueles que também exercem uma grande influência porque dizem
respeito à cultura, hábitos familiares, grupos sociais, escola, responsabilidade, moral e
ética, etc. São experiências vividas pela criança que irão lhe dar suporte e contribuir para a
formação de sua personalidade. Mesmo que alguns traços possam ser parecidos com os
de outra pessoa, a personalidade é única. Ela se apoia em uma estrutura biopsicossocial, é
dinâmica, adaptável e mutável.

Traços de Personalidade
Para se falar de personalidade é preciso entender o que vem a ser um traço de
personalidade. O traço é um aspecto do comportamento duradouro da pessoa; é a sua tendência
à sociabilidade ou ao isolamento; à desconfiança ou à confiança nos outros. Um exemplo: lavar as
mãos é um hábito, a higiene é um traço, pois implica em manter-se limpo regularmente
escovando os dentes, tomando banho, trocando as roupas, etc.
Pode-se dizer que a higiene é um traço da personalidade de uma pessoa depois que os
hábitos de limpeza se arraigaram. O comportamento final de uma pessoa é o resultado de todos
os seus traços de personalidade. O que diferencia uma pessoa da outra é a amplitude e
intensidade com que cada traço é vivido.
Por convenção, o diagnóstico só deve ser dado a adultos, ou no final da adolescência, pois
a personalidade só está completa nessa época, na maioria das vezes. Os diagnósticos de
distúrbios de conduta na adolescência e pré-adolescência são outros.

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Traços de personalidade

A IMPORTÂNCIA DA VIDA AFETIVA
Situações, sentimentos e lembranças representam algo diferente para diferente pessoas,
por causa das nossas diferentes percepções. A perda de um ente querido, por exemplo, costuma
ser algo ruim para todos, mas mesmo assim representará algo diferente para cada um. Na
verdade mais importante que a própria realidade é a representação dos fatos dessa realidade.
Afeto é qualquer estado que engloba sentimento e emoção, ou seja, é um conjunto de
estímulos que chegam ao nosso mundo interior e recebem significados. Os dois afetos básicos
são: amor e ódio.
São nossos afetos que dão colorido a nossa vida e expressam nossos desejos, sonhos,
fantasias, medos, conflitos, passado, presente e futuro. São nossos afetos que determinam nosso
comportamento.
Sentimento é um estado afetivo complexo e duradouro, ligado a certas emoções ou
representações.
As vivências produzem sentimentos no ser humano, que se manifestam de forma
diferente em cada um, que variam de acordo com a sensibilidade, ansiedade, temperamento,
raiva, etc.
A emoção é um estado de excitação física e psíquica acompanhadas de breves reações em
resposta a um acontecimento inesperado. Elas podem ser positivas e negativas, dependendo de
como ocorre, o momento em que acontecem e o modo como chegam a ser decodificadas de
acordo com as experiências das pessoas.
Algumas emoções podem ser vistas como positivas e negativas como o choro, riso, etc. Em
toda conduta, nunca há uma ação puramente intelectual, assim como não há atos que sejam
puramente afetivos.


ANSIEDADE

Um dos maiores problemas da mente é encontrar meios para resolver ou amenizar a


ansiedade. A ansiedade é um aumento esperado ou previsto de tensão e pode aparecer em uma
situação real ou imaginária.
A ansiedade é uma sensação que se manifesta através de vários sintomas, fazem parte da
vida de muitas pessoas, principalmente moradoras os centros urbanos.
– Sintomas Físicos – falta de ar, taquicardia, nervosismo, suores, problemas digestivos
(prisão de ventre, enjoos, gases), fome exagerada, falta de apetite, etc.
o Esses sintomas indicam que seu emocional não esta bem, portanto não adianta
tratar as causas emocionais que geram esta ansiedade.
– Sintomas Psicológicos – medos sem sentido, sentimento exagerado de irritação, ingestão
exagerada de bebidas alcoólicas ou calmantes, mania de perfeição, medo de críticas,
medo de errar, sentimentos de inveja, etc.

O Que Devemos Fazer?

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Aprender a lidar positivamente com nossas ansiedades, não mascarando nossos
sentimentos, mas tentando entender as causas deles.
Se a ansiedade não for entendida, resolvida ou descarregada, poderá ameaçar o corpo e a
mente através da negação ou deformação da situação e a isso damos o nome de Mecanismo de
Defesa.
Todos os mecanismos de defesa podem ser encontrados em pessoas saudáveis, e sua
presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis problemas neuróticos.
MECANISMOS DE DEFESA

Repressão: afasta da consciência uma ideia que provoca ansiedade, contudo o material reprimido
continua fazendo parte da mente, exigindo grande quantidade de energia para mantê-lo assim.
Ex.: doenças psicossomáticas. As fobias e impotência ou a frigidez derivem de sentimentos
reprimidos.

Negação: é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o ego. Os adultos
têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do jeito que são, ou
que na verdade nunca aconteceram. A notável capacidade de lembrar-se incorretamente de fatos
é a forma de negação encontrada com maior frequência.

Racionalização: é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e
ações inaceitáveis.

Formação Reativa: inversão clara e em geral inconsciente, do verdadeiro desejo. Como outros
mecanismos de defesa, as formações reativas são desenvolvidas, em primeiro lugar na infância.

Projeção: é o ato de atribuir a uma pessoa, animal ou objeto, as qualidades, sentimentos ou
intenções que se originam em si próprio.

Regressão: é um retorno a um nível do desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão
mais simples ou mais infantil.
Sublimação: a energia a impulsos e instintos constrangedores é, canalizada para atividades
socialmente reconhecidas.

Deslocamento: é um mecanismo psicológico de defesa onde a pessoa atribui sua intenção para
outra mais aceita socialmente.

Fantasia: satisfação ilusória para desejos que não se podem realizar. Em dose exagerada a pessoa
pode se desviar da realidade, acostumando-se a um mundo irreal, sentindo dificuldades de viver
sua realidade.

Fuga: o indivíduo não procura obter satisfação de suas necessidades, pois ele se recusa a
participar de qualquer situação que possa provocar fracasso. Quando somos submetidos s
constantes frustrações, aprendemos a encarar tudo pelo lado negativo e a esperar o pior. As
formas mais comuns de fuga são o isolamento, a fantasia e a timidez. Pessoas que possuem um
complexo de inferioridade podem desenvolver este mecanismo de defesa por não se acharem
capazes. A fuga também está presente no alcoolismo, no uso de drogas e até mesmo na ingestão
de doces ou alimentos.
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Sentimento de Culpa – quando a pessoa faz ou pensa em fazer algo que contraria sua
consciência, é dominada por um complexo de culpa ou ódio de si mesma. O complexo de culpa é
uma espécie de termômetro que indica que nossa autoestima está ameaçada.
Para fugir dessa situação, que é dolorosa, a pessoa desenvolve mecanismos de defesa. Os
principais mecanismos de defesa são:
Æ Racionalização
Æ Formação reativa
Æ Projeção.

A psicologia estuda nossa mente, nossas emoções, ações, sentimentos, relacionamentos,
etc.
Como e por que agimos de determinada forma nas diferentes situações.
O que nos influencia; nada se perde e nada é por acaso. Tudo se transforma em dados
para entendermos o indivíduo.

A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA BIOPSICOSSOCIAL.
Para a psicologia o individuo é compreendido como um todo – corpo – mente-espírito.
Atualmente a sociedade começa a se preocupar com o papel das emoções na vida do
indivíduo, o poder da mente em sua vida; importância de compreender melhor nossos
comportamentos e emoções.
Quanto mais controle de nossas emoções, mais saberemos controlar e lidar com a
PSICOLOGIA DO SENSO COMUM.
As pessoas de alguma forma utilizam a psicologia em seu cotidiano, ou seja, é uma
disciplina que pertence á humanidade, portanto denomina-se psicologia do senso comum, que é
o conhecimento acumulado em nosso dia-a-dia. Ex. o poder de persuasão do vendedor, a jovem
que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, quando procuramos aquele amigo que está
sempre disposto a nos orientar.
Esta pessoa tem o conhecimento acumulado que lhes permite explicar e entender
problema ou nos ouvir de um ponto de vista psicológico. Contudo, o conhecimento herdado,
tradicional não é científico nem filosófico, nem possui rigor cientifico. Qual a importância da
psicologia para as profissões?
a) Procurar entender as necessidades do individuo e sociedade e estratégias para supri-las e
preveni-las,
b) Estudar o papel da inteligência emocional; orientar, selecionar e identificar métodos e
técnicas para uma vida melhor,
c) Trabalhar relacionamento intrapessoal e interpessoal,
d) Identificar perfil, potencial, treiná-los e acompanhá-los.



APRENDIZAGEM
Nosso comportamento quando adulto é em grande parte determinado pelo que
aprendemos nos primeiros anos de vida. Toda aprendizagem se relaciona com a adaptação a
novas situações e problemas.
Existem muitas formas de aprendizagem, dentre elas estudaremos as seguintes:
Condicionamento Clássico ou Pavloviano:
O fisiólogo russo Ivan Pavlov foi o primeiro a fazer um estudo detalhado dos reflexos
condicionados, embora se soubesse há muito tempo que 2 (dois) acontecimentos que ocorrem ao
mesmo tempo tendem a se tornar associados na mente. Pavlov estudou os reflexos não

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condicionados nos cães, principalmente o reflexo que leva a saliva a pingar dos lábios quando se
coloca carne na boca do cachorro.
Ele descobriu que quando outro estímulo – uma luz ou uma campainha – era dado
juntamente com a carne, várias vezes sucessivas, o cachorro mais cedo ou mais tarde saliva
apenas com este estímulo, sem a carne.
A luz ou campainha tornou-se assim um estímulo condicionado e a salivação que se seguia
ficou conhecida como reflexo condicionado. O estímulo condicionado tinha que ser reforçado de
vez em quando, combinando-o com comida, pois do contrário o reflexo condicionado tenderia a
desaparecer.
Watson, um psicólogo americano, declarou que uma criança nasce somente com uns
poucos reflexos simples e que essas respostas reflexas se ligam a novos estímulos pelo
condicionamento, tornando-se paulatinamente mais complexas.
Ele acreditava que, através de um condicionamento adequado, qualquer criança poderia
ser criada para ser aquilo que se quisesse, seja um médico, um craque de futebol ou um lixeiro.
Não que todo o processo de comportamento e aprendizagem do homem possa se explicado
simplesmente com base nos reflexos condicionados. Entretanto, o condicionamento pode dar
uma explicação aceitável para uma parte deles.
Aprendizagem por ensaio e erro ou condicionamento operante ou instrumental: Consiste
em recompensar e/ou punir alguns atos e não outros, dirigindo dessa maneira o comportamento
numa certa direção (modelagem de comportamentos).
É baseada na lei do efeito de Thorndike a qual afirma que “as ações que resultam em
satisfação tornam-se mais fortes ao passo que aquelas que não causam satisfação são
enfraquecidas e, eventualmente, ignoradas”.
A aprendizagem operante pode se basear num sistema de recompensa (reforçamento) ou
treinamento de punição. Qualquer mãe ou criança conhece o princípio do condicionamento
operante, a recompensa do "bom" comportamento, a punição do "mau" comportamento. Ele
constitui a base da criação, treinamento e educação de crianças, de como elas aprendem a se
comportar e adquirem habilidades simples. A recompensa não precisa ser necessariamente
material. A aprovação de alguém que a criança ama e respeita pode ser algo tão bom ou até
melhor do que recompensas materiais.
Aprendizagem por imitação ou por observação: Uma pessoa pode até estar saciada de
determinado estímulo, mas por ver que aquilo é reforçador para a outra pessoa ela também
passa a imitá-la para talvez conseguir o mesmo reforço. Acontece com as pessoas que jogam na
Sena. Nunca ganham, mas por ver que as outras pessoas ganham continuam jogando. Acontece
também com crianças que, pela falta de experiência, passa a observar como as pessoas
conseguem comida, água, atenção, etc. e imita o comportamento da pessoa observada. Outro
exemplo são as pessoas que imitam os astros de TV por desejarem ter o mesmo reconhecimento
e fama que eles.

PSICÓLOGOS, PSIQUIATRAS E PSICANALISTAS

Psicólogos clínicos, psiquiatras e psicanalistas muitas vezes ocupam empregos


semelhantes. Todos os três profissionais podem trabalhar em campos ligados à saúde mental,
diagnosticando e tratando de pessoas com problemas psicológicos leves e graves. A grande
diferença entre esses especialistas deriva de sua formação.
Os psicólogos clínicos geralmente passam cerca de cinco anos na faculdade aprendendo
sobre comportamento normal e anormal, diagnóstico (inclusive aplicação de testes) e tratamento.
Os psiquiatras, ao contrário, completam a faculdade de medicina e dela saem com um
diploma de doutor em medicina. Em seguida, para se qualificarem como psiquiatras servem
aproximadamente três anos como residentes em uma instituição de saúde mental, mais
comumente um hospital. Aí recebem treinamento para detectar e tratar de distúrbios
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 12
emocionais, utilizando métodos psicológicos, bem como drogas, cirurgia e outros processos
médicos.
Em teoria, qualquer pessoa pode tornar-se psicanalista graduando-se por uma instituição
psicanalítica e submetendo-se à psicanálise. Na prática, a maioria das escolas de formação aceita
apenas médicos psiquiatras e psicólogos que irão estudar as teorias da personalidade e métodos
de tratamento introduzidos por Freud.

O PACIENTE COMO SER BIOPSICOSSOCIAL
Uma pessoa não pode ou não deve perder sua dignidade e direitos como pessoa porque
está doente. Para May (1977), em Beland e Joyce, o fundamental da Psicologia humanística é
compreender o homem como um ser, ou seja, atingir o aspecto mais íntimo de cada pessoa.
E para que possamos atingir esse aspecto é preciso considerar a pessoa e seu ambiente
como uma unidade composta de fatores interdependentes; é preciso compreender a maneira de
pensar, sentir e fazer que o próprio homem desenvolveu como parte de seu ambiente e ainda ter
consciência de que o bem-estar só é alcançado quando as necessidade estão sendo supridas
satisfatoriamente.
Qualquer doença altera a atuação interpessoal e social do indivíduo e tanto maior será
essa alteração conforme for o valor físico, emocional e intelectual que a doença representa para o
paciente e seus familiares, sem esquecer que o hospital poderá minimizar ou exacerbar tal
alteração.
A base da profissão de um profissional da saúde deve ser a crença no valor da pessoa
através do respeito ao atendimento das necessidades básicas do paciente e, para tanto, é
imprescindível identificar seus problemas tendo amplas e atualizados conhecimentos
fisiopatológicos e psicossociais, sem os quais sua atuação será desnecessária e, muitas vezes,
prejudicial.

RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A ENFERMAGEM
Há duas correntes na área da saúde que se deve conhecer para responder esta questão:
Æ a primeira que trata o doente como um paciente passivo e vê a doença como um fator
único que pode ser retirada com medicamentos e procedimentos e
Æ a segunda corrente que percebe que além de apresentar sintomas da doença, o
paciente possui problemas sociais, econômicos, pessoais, psicológicos que se
influenciam e que contribui para o surgimento de novas doenças.

Para melhor compreender a forma de agir, pensar e sentir humano o aparelho psíquico foi
dividido por Freud em sistemas e o conteúdo mental em níveis de consciência, assim como
procurou entender o papel dos sonhos em nossas vidas.


NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

O comportamento normal e o patológico (anormal / doença mental)
A divisão entre o normal e o patológico é tênue, entretanto, a normalidade possui 3
características importantes: a flexibilidade, a alegria e a autoestima.
A flexibilidade para o novo, para a mudança, para uma nova maneira de ser, não querer
ser o dono da verdade são traços de normalidade. Na patologia ocorre a rigidez, no sentido de
que a pessoa acha que sabe tudo, não aceita o novo. A rigidez
é um traço patológico.
A alegria é característica de pessoas sãs e a melancolia de pessoa doentes. Essa alegria
pode ser psíquica e/ou corporal. Na pessoa deprimida falta a alegria. O distúrbio mental ocorre

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 13


em todas as sociedades, embora os sintomas variem conforme a cultura. Normalmente, a
personalidade de qualquer doente mental mostra sinais de inadaptação e excesso de algum
comportamento.
É importante frisar que para ser patológico, o comportamento deve ser uma constante na
vida da pessoa.
Um comportamento que é considerado anormal em uma sociedade pode ser aceitável em
outra, pode ocorrer inclusive que, numa mesma sociedade, certas formas de comportamento
sejam aceitáveis para uma geração, mas não para as seguintes. A psiquiatria se relaciona com o
estudo e o tratamento das doenças mentais e dos processos de distúrbios mentais que podem
também produzir distúrbios físicos.
Toda doença mental e seus sintomas se desenvolvem a partir das interações da
personalidade da pessoa com uma ou mais tensões. A tensão pode ser "interna" como resultado
de alterações orgânicas e psicológicas no organismo ou "externa".
O conhecimento da etiologia dos distúrbios psíquicos ainda é rudimentar, embora esteja
se desenvolvendo. Assim, a classificação dos distúrbios psíquicos é insatisfatória, mas como os
profissionais da saúde precisam antecipar as consequências de qualquer doença, pesquisar e se
comunicar entre si, torna-se necessária uma classificação.
Os psiquiatras clínicos descrevem a personalidade em termos de estrutura mental que
está constante e regularmente presente em uma pessoa. Uma síndrome é constituída por certo
número de sintomas que, quando agrupados, formam um padrão reconhecível.
Para que os profissionais da área da saúde reconheçam da mesma maneira um portador
de transtornos mentais ou psíquicos há dois sistemas classificatórios importantes das doenças
mentais e que foram desenvolvidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Associação
Psiquiátrica Americana (APA). O primeiro é o CID-10, publicado em 1992 e que contém a 10ª
revisão do capítulo sobre Transtornos Mentais e de Comportamento.
Todas as tradições e escolas da psiquiatria estão ali representadas, o que dá a este
trabalho seu caráter excepcionalmente internacional. A classificação e as diretrizes foram
produzidas e testadas em muitas línguas. Nesta classificação os transtornos mentais estão
elencados em 11 categorias maiores compreendendo 99 tipos de doenças mentais. É oferecida
uma secção com as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas que deve ser de conhecimento de
todo o profissional.
Outro sistema de classificação foi coordenado pela Associação Psiquiátrica Americana e é
amplamente conhecido como DSM-IV.Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –
4ª edição. É um manual mais específico, completo e complexo. Como as classificações dos
transtornos mentais é complexa, salientaremos as 3 principais estruturas dentro da
psicopatologia, que são: a neurose, a psicose e a perversão.


NEUROSE

A pessoa neurótica reconhece que está doente, embora não possa associar seus sintomas
com um conflito emocional óbvio. Ele permanece em contato com a realidade. Pode continuar a
adaptar-se socialmente porque a pessoa neurótica não gosta da realidade que vive, mas se
adapta a ela da sua maneira. O neurótico sofre de reminiscências, quer dizer, o que ele passou no
passado, ele sofre no presente, atualiza no presente, o que significa um sofrimento inútil. Como
exemplos de distúrbios neuróticos temos a:
a Neurose Obsessiva-Compulsiva
a Neurose Histérica
a Neurose Fóbica / Síndrome Do Pânico
a Neurose Hipocondríaca
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 14



NEUROSE OBSESSIVA-COMPULSIVA
A pessoa com personalidade obsessiva é excessivamente asseada, pontual e de confiança.
Ela costuma conferir tudo o que faz muitas vezes (rituais). Não gosta de mudança e fica
contrariada com qualquer alteração em sua rotina. Tem atividades compulsivas, como por
exemplo: gastar dinheiro demais ou ser muito avarento, comer demais e ser obeso, ser muito
organizado no sentido de ser perfeccionista. Gosta de sentir que tem o completo controle de si
mesmo e de seu mundo. Mantém suas emoções sob controle e raramente perde a calma. Seu
senso de humor é limitado. Parece que precisa controlar completamente seu meio ambiente ou
então não fazer nenhuma tentativa neste sentido, nenhum meio-termo é possível. Possui a moral
muito rígida principalmente com relação a regras e horários. Tem medo exagerado que pode
chegar a uma paranoia. É muito bom para os outros, mas pensa pouco em si mesmo, sendo às
vezes auto agressivo e possuindo auto exigência (perfeccionismo). Sacrifica-se pelos outros. Tudo
tem que ter sacrifício, tem que complicar as coisas mais simples.

NEUROSE HISTÉRICA
A pessoa com personalidade histérica é diferente. Ela precisa sentir que é o centro das
atenções. Um pequeno desprezo será encarado como um insulto mortal, uma palavra impensada
tornar-se-á uma declaração de amor ou prova de que não é mais amada. É perfeccionista no
sentido estético, pois gosta de se sentir bonito para seduzir as pessoas. É um bom "ator", faz
"teatro" em várias situações para dar a visão que está tudo bem. É muito bom consigo mesmo,
pensando mais em si do que nos outros, não sacrifica pelos outros por isso se permite viver mais.
É decidido, seguro de si. Pacientes assim nunca são monótonos. Não é de estranhar a
possibilidade de que as personalidades histéricas e obsessivas sejam atraídas umas pelas outras!

NEUROSE FÓBICA/ SÍNDROME DO PÂNICO
A neurose é um conjunto de conflitos, que conduzem a uma inibição das condutas sociais.
É a intermediária entre a normalidade e a psicose. A pessoa neurótica tenta superar seus conflitos
e ansiedades usando mecanismos inadequados. Ex. mania de limpeza, objetos que quando
utilizados dão sorte, etc.
A neurose se manifesta por muitos sintomas, onde os mais comuns são os seguintes:
ü Estado de Angustia – são momentos de inquietação, ansiedade na qual a pessoa fica em
alerta psíquico diante de uma ameaça indeterminada (algumas vezes não sabe explicar
por que está sentindo tal sensação).
Uma das principais angústias do homem é o medo de ficar só, o medo da solidão. O
que significa estar só? Para ser só a pessoa tem que entrar em contato consigo mesma, ser
independente e para isso ela deve ter uma boa autoestima e saber lidar com os próprios
sentimentos. A neurose fóbica se caracteriza pelo medo excessivo e levitação de algum
objeto normalmente inofensivo.
ü Físicos: palpitações, taquicardia, falta de ar, tremores, dormência no corpo, sudorese,
tontura, medo de perder o controle, medo de ficar louco, medo de morrer (medo de o
coração parar), etc.
ü Psicológicos: sensação de vazio, sensação de desamparo, medo de ficar sozinho, culpa
pelo fracasso, fragilidade, perda da identidade, baixa resistência à frustração, medo da
morte, necessidade da mentira, vira escrava do próprio medo, etc.

NEUROSE HIPOCONDRÍACA

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 15


É uma doença imaginária, em que a pessoa numa solução de fuga, acha-se doente e torna-
se doente, se caracteriza pela preocupação com doenças imaginárias e outros sintomas corporais.

v Histeria à Envolve conflitos, onde a pessoa sem saída produz comportamentos
descontrolados ou com sintomas de doença (cegueira, paralisia, etc.).

v Fobia à É um medo irracional, que substitui o medo real.


HABILIDADE PESSOAL
É a habilidade de se relacionar consigo mesmo. Reconhecer um sentimento enquanto ele
ocorre é a chave da inteligência emocional.
A falta de habilidade de reconhecer nossos verdadeiros sentimentos deixa-nos a mercê de
nossas próprias emoções (resultado de como vemos e julgamos determinados fatos).
Cada emoção prepara o corpo para um determinado tipo de resposta. O
autoconhecimento emocional é saber reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre,
conseguindo assim maior controle de nossas emoções (seremos melhores pilotos de nossas
vidas).
Dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre
em busca, para manter-se sempre no controle e para manter a mente criativa na busca de
soluções.
As pessoas bem sucedidas pessoal e profissionalmente agem usando as emoções de forma
inteligente, elas conseguem aliar inteligência emocional a inteligência racional. Sabem colocar em
pratica os conhecimentos que adquirem e se relacionam bem com todos.


HABILIDADE INTERPESSOAL
Reconhecimento de emoções em outras pessoas. A empatia permite que reconheçamos as
necessidades e desejos dos outros, permitindo-lhe relacionamentos mais eficazes.
A arte de relacionamento é a arte de gerenciar sentimentos em outros. Esta habilidade é
base de sustentação de popularidade, liderança e eficiência pessoal. “O homem vale-se de
comunicação em todas as experiências de vida, de modo interpessoal ou dual, em pequenos ou
grandes grupos, ate quando não esta em uma dessas situações, se refletir um pouco percebera
que se encontra sob o impacto ou influencia da comunicação”; Assim, acreditamos que em todos
os momentos de encontro entre dois ou mais seres há um momento de interação e percepção.
Nesse aspecto, o enfermeiro não pode fugir da comunicação, pois ele já comunica algo com sua
presença.
O enfermeiro precisa saber que é um elemento nuclear da equipe de saúde, na qual o
paciente se apoia na busca de informação, suporte emocional, satisfação de suas necessidades
básicas, tais como: segurança, higiene, conforto, etc.
Diante disso, o profissional auxiliar técnico de enfermagem deve trabalhar melhor as
questões do conhecimento interpessoal e intrapessoal a fim de desenvolver habilidades de
comunicação que possa contribuir para o bem estar dele e do paciente.
“A imagem é o sinal característico de nossa individualidade, e a impressão extrema do
nosso eu. É através dela que provocamos sentimentos diversos nas pessoas, é ela que determina
a causa principal de nosso sucesso ou e nosso insucesso”.

EXEMPLOS DE FILMES SOBRE NEUROSE:
Ø "O Príncipe das Marés"
Ø "Melhor é impossível"

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 16


Ø "Dormindo com o Inimigo"



DEPRESSÃO

É uma doença afetiva causada por alterações químicas no cérebro, que afeta seus
pensamentos, sentimentos, saúde e comportamento. Pode ser causada por fatores biológicos e
por fatores psicológicos. É uma doença afetiva ou do humor.
A depressão ocorre quando um dos neurotransmissores químicos chamados serotonina
(molécula responsável pela transmissão de impulsos nervosos) que regula o humor, o sono, o
apetite, a memória, a agressividade, estão em desequilíbrio. O indivíduo apresenta sintomas de
generalizar situações de forma negativa.
Entre os fatores desencadeadores da depressão, estão: doenças físicas, medicamentos,
drogas e álcool genéticos e história familiar, personalidade.
Percebe-se que uma pessoa está deprimida quando permanece apática, tristonha,
chorando por qualquer motivo, sem vontade de realizar alguma atividade, etc.
Psicologia – busca de causas e trabalho com as mesmas, ou auxilio para que a pessoa
estabeleça objetivos em sua vida, recuperando o entusiasmo em viver.

Entre os medicamentos estão:
A. Tranquilizantes – que acalmam os sintomas dolorosos, como angustia perturbações
sexuais, perturbações do apetite, do sono, etc.. São os tratamentos de apoio ao
tratamento antidepressivo.
B. Antidepressivos – ajudam a restaurar o equilíbrio das substâncias químicas no cérebro.


ESTRESSE

É um conjunto de sensações físicas e químicas do organismo, desencadeadas pelo cérebro,


para tornar a pessoa apta a enfrentar uma situação nova, que exige adaptação.
O termo é utilizado para definir diferentes sensações (nervoso, cansado, etc.). Nem
sempre o estímulo que dispara o estresse é ruim (paixão, emprego, etc.), provocando alterações
no equilíbrio interno do organismo, situações essas que precisam ser adaptadas.
Se o indivíduo consegue lidar com o estímulo estressor, eliminando ou aprendendo a lidar
com a situação, o organismo volta ao equilíbrio, mas se o estímulo persistir sendo entendido
como estressor, irá haver uma evolução pra sintomas maiores, mais graves e até doenças.
As causas variam de pessoa para pessoa, ou seja, saber até que ponto uma fonte de
estresse afeta uma pessoa é relativo e depende de seu modo de vida, sua classe social; ex.
preocupações, contrariedade, insatisfação no trabalho, demissão inesperada, problemas de
relacionamento, etc.
Os sintomas também variam de pessoa para pessoa, e podem ser: irritabilidade, ansiedade
excessiva, insônia ou excesso de sono, dores de cabeça e nas costas, fraqueza, cansaço constante,
dificuldade de concentração, perda ou excesso de apetite, falhas de memória, alterações
repentinas no estado emocional (agressividade), fobias, diminuição da criatividade, perda de
interesse sexual, dificuldades de digestão, maior vulnerabilidade ás doenças.
Consequências fisiológicas do excesso de estresse:
¡ Males menores: taquicardia, gastrite, alergias e problemas respiratórios;
¡ Males maiores: ataque cardíaco, derrame cerebral ou outros distúrbios fatais;

Consequências emocionais do excesso de estresse:
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 17
ü Aumento das tensões físicas e psicológicas;
ü Aumento da hipocondria;
ü Mudanças nos traços de personalidade;
ü Enfraquecem as restrições de ordem moral e emocional;
ü Depressão e sensação de desamparo;
ü Autoestima diminui de forma aguda.

TRATAMENTO: exercícios físicos, técnicas de autocontrole e relaxamento; alimentação
equilibrada; tratamento psicológico específico.

PREVENÇÃO: Aprender a administrar o tempo; juntar as pessoas agradáveis; praticar diariamente
técnicas de relaxamento; fazer algum tipo de exercício aeróbico; não permitir que o trabalho
domine toda a sua vida reduzir seu peso se este o incomoda mantendo-o num nível agradável;
preservar suas liberdades pessoais; encontrar tempo todos os dias para ficar sozinho e pensar; ter
um ou mais passatempos relaxantes; abrir-se a novas experiências, reduzir ou eliminar o hábito
de ver tv.


PSICOSE

O psicótico tem maior comprometimento psíquico. É o verdadeiro doente mental. A


pessoa psicótica tem sua personalidade inteiramente distorcida pela doença. Aceita seus
sintomas como reais e a partir deles passa a reconstruir seu ambiente, recriando um mundo que
somente ele pode reconhecer, tem delírios e alucinações diversas (distúrbios de percepção).
O psicótico não aceita a realidade, por isso cria uma nova realidade para viver. Torna-se
incapaz de continuar seu trabalho ou até mesmo de viver com a família porque seu senso de
autopreservação fica seriamente perturbado.
A vida do psicótico é um eterno drama. O que fica do mundo para ele é a hostilidade.
Para se chegar a psicose, a sua história de vida foi muito horrível, a hostilidade foi a marca
que mais ficou para ele e o que mantêm seu psiquismo vivo são os delírios e as alucinações.
Possui dificuldades afetivas, sexuais e nos seus relacionamentos acha que não precisa das outras
pessoas porque ele delira e cria uma pessoa que seja ideal para ele. É muito instável de humor,
são antissociais e possuem uma inteligência média para superior porque ele tem um "jogo
psíquico" que não se encontra nas outras estruturas.
Eles querem ter certeza de tudo e serem os donos da verdade. Quando essa certeza é
atingida, o psicótico se defende com o autoritarismo e agressividade, sã de palavras que por
serem francas demais podem magoar alguém e isso ocorre porque ele não tem noção de limites,
não tem noção do outro.
Os pacientes psicóticos são os mais difíceis de tratar, pois têm um ressentimento em
relação à pessoa que cuida dele, devido à autoridade que essa pessoa representa. São persuasivos
e manipuladores, porém podem ser amáveis e racionais. A melhor atitude a adotar é manter uma
firmeza amistosa.
PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA (PMD)
A pessoa com PMD vive episódios de depressão com mania, ou seja, períodos de
abatimento e desinteresse e outros de alegria contagiante e superatividade. Riscos a suicídio.

EXEMPLOS DE FILMES SOBRE PSICOSE:
Æ "Psicose I, II, III e IV"



Psicologia Aplicada à Enfermagem - 18
ESQUIZOFRENIA

A etimologia da palavra esquizofrenia vem de Esquizo = cisão e Frenia = personalidade.


Esquizofrenia é a dupla personalidade ou personalidade múltipla. A pessoa com
personalidade esquizoide é tímida, acanhada e "fechada". É emocionalmente fria, incapaz de se
relacionar e formar amizades profundas.
Frequentemente é excêntrica em seus hábitos e leva uma vida própria, à parte das outras
pessoas. É também característica dos esquizofrênicos possuírem: comportamentos bizarros ou
estranhos; o isolamento, pois têm dificuldade de socialização; dificuldades sexuais como a
dificuldade de ereção tendo satisfação pela masturbação ou pela humilhação, agressão e mágoa a
pessoa com quem está tendo relações sexuais. Faz muitas generalizações, como por exemplo:
"Todos os homens não prestam", "Todas as mulheres traem". É irônico, debochado, busca um
ponto fraco da pessoa para atacar. É rígido, de pouca brincadeira e quando brinca é através da
ironia.

Paranoia; Pelo DSM-IV, a paranoia está incluída na esquizofrenia. A pessoa com personalidade
paranoide é desconfiada de todos e o delírio mais constante é o delírio de perseguição. Ela é
sensível e também lhe falta senso de humor. Tem uma ideia superior de suas próprias
habilidades, sendo difícil trabalhar com ela, pois é rígida e inadaptável. Tem poucos amigos.

Catatônica: Catatonia é uma forma de esquizofrenia que consiste na alternância entre períodos
de passividade e de extrema agitação. Síndrome complexa encontrada habitualmente na
demência precoce, consistindo, sobretudo, em negativismo, bloqueio, sugestibilidade, catalepsia,
estereotipia etc.
A evolução da catatonia traz uma crescente deficiência intelectual ao paciente, cujos
movimentos se estereotipam, isto é, a pessoa com esquizofrenia catatônica tanto pode ficar por
horas sem se movimentar como pode se movimentar rapidamente (MARIA CECÍLIA Z. C.).
Dois dos principais sintomas da catatonia são a sugestibilidade e o negativismo do
indivíduo. No primeiro caso, há exagerada tendência do doente a submeter-se às sugestões
externas, especialmente as fúteis e sem consequências benéficas.
No segundo caso, verifica-se uma teimosa oposição à execução do que se pede ao doente
que faça, chegando ao ponto de realizar exatamente o inverso daquilo que lhe é indicado.
Como catatonia compreende-se também a contração de determinados grupos de
músculos, o que provoca atitudes estereotipadas, sem que se dê, no entanto, a cessação dos
movimentos voluntários. Em outras palavras, a pessoa que sofre da doença, chega a parecer estar
morta. Nesses casos, pode acontecer de a pessoa ser até enterrada ainda em vida.

Esquizofrenia hebefrênica: Forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de
uma perturbação dos afetos; as ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o
comportamento é irresponsável e imprevisível; existem frequentemente maneirismos. O afeto é
superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado e o discurso incoerente. Há uma
tendência ao isolamento social.
Geralmente o prognóstico é desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas
“negativos”, particularmente um embotamento do afeto e perda da volição. A hebefrenia deveria
normalmente ser somente diagnosticada em adolescentes e em adultos jovens.

Os principais são os seguintes:

Delírios-crenças: Ideias ou pensamentos falsos que não correspondem à realidade. O portador
acredita neles e não se convence do contrário. Os temas são variados e implausíveis. Alguns
doentes acham que estão sendo vigiados ou perseguidos por pessoas, pela polícia, máfia ou outra
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 19
organização secreta; outros acham que os vizinhos estão vigiando por meio de câmeras
escondidas ou telefones "grampeados”. Suspeitas relacionadas à TV, rádios ou computadores são
experiências muito comuns.

Alucinação: Variam de pessoa para pessoa; as auditivas são mais comuns. O doente diz que está
"ouvindo vozes” de pessoas quando não há ninguém por perto. As vozes dão ordem ou falam que
estão fazendo.

Alterações: de pensamento: Perda da sequência lógica do pensamento, levando uma
desorganização que provoca uma conversa sem nexo. Os doentes acreditam que o pensamento é
roubado de sua mente ou que foi colocado por outra pessoa em sua cabeça.

Alteração de afetividade: Registra-se uma diminuição na capacidade de expressar emoções; sua
mímica fica empobrecida e a afetividade pueril.

Diminuição da motivação: Ocorre uma diminuição da vontade, havendo apatia, desânimo ou
desinteresse. O portador torna-se isolado e retraído socialmente.

Sintomas motores: Movimentos lentos e sem espontaneidades. Alguns doentes permanecem
longo tempo em posturas estranhas, sem andar ou falar.

Mutismo: A pessoa passa a viver dentro de um mundo próprio, fantasioso; torna-se "desligada".

Ambivalência: O paciente mostra-se dividido entre dois sentimentos ou vontades opostas, que
acontecem simultaneamente.

Auto referência: O portador está sempre desconfiado ou suspeito dos que rodeiam achando que
o estão observando ou prejudicando.

Alterações da cognição: Os portadores apresentam dificuldade para concentrar. Isso pode
ocorrer em diferentes situações como, por exemplo, ao assistir um programa de televisão quando
perdem o fio da meada e não conseguem acompanhar o que está acontecendo. Demonstram
também dificuldades para ficar atentos e memorizar o que estão observando.


PERVERSÃO OU PSICOPATIA (PSICOPATA)

Ainda é chamada de parafilias sexuais no DSM-IV. Está ligada a sexualidade. O perverso


tem o objetivo de manipular o outro. Vive transgredindo normas e valores, como por exemplo, a
corrupção.
Acha que ele é o melhor, que no mundo só há idiotas e por isso ele nunca vai ser pego nas
suas transgressões. Geralmente, o prazer dele está não no ato errado em si, mas fazendo o
errado, ou seja, transgredir, já lhe causa prazer.

Sadomasoquismo: Sente prazer pela violência sexual.


Exibicionismo: Os exibicionistas são capazes de ereção e orgasmo quando se expõem a uma
mulher desconhecida e amedrontada.
Voyerismo: Os espreitadores ou voyeurs masturbam-se até o orgasmo enquanto observam uma
mulher/homem desconhecida se despir. O indivíduo pode também fazer um telefone obsceno e
atingir o orgasmo enquanto fala com uma mulher desconhecida.

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 20


Fetichismo: Algumas pessoas são atraídas por objetos e não por seres humanos. São os fetichistas
e o objeto de seu desejo sexual chama-se fetiche. Os fetiches mais comuns são roupas femininas,
especialmente roupa íntima, sapatos, cabelos, seda, etc. Um fetichista pode ser capaz de ter
relação sexual e atingir o clímax, desde que possa fantasiar seu fetiche.

EXEMPLOS DE FILMES SOBRE PERVERSÃO:
a "As duas faces de um crime"

Identificação de ideias suicidas nos pacientes: "Se a pessoa em crise receber ajuda adequada,
isto é, um tipo de ajuda que lhe permita pensar sobre o problema e chegar a algumas conclusões
sobre soluções alternativas aceitáveis, a experiência pode levar a novos níveis de adaptação mais
amadurecida", Beland, em 1979.
Quando a pessoa está doente há elementos tanto de angústia como de medo, que se
manifestam das mais variadas formas e geralmente iguais àqueles que aprenderam a enfrentar
durante os perigos da vida. Há pacientes que expressam verbalmente seus temores, outros
negam sua existência; alguns reagem com hostilidade, outros choram, e assim por diante.
O profissional de saúde tendo conhecimento de que a reação de uma pessoa é geralmente
resultado de experiências anteriores, deverá identificar suas necessidades, respostas à doença e
tratamento e conservar a identidade pessoal do paciente chamando-o pelo nome. A identificação
e aceitação de seus hábitos e atitudes e esforço para ajudá-lo a adaptar-se a situações que
colocam em perigo sua saúde contribuirão para que conserve sua identidade e mostrando-lhe,
dessa forma, que o respeita como pessoa, fator essencial para que a segurança e a confiança dele
sejam reforçadas. Possuindo amplos conhecimentos fisiopatológicos e psicossociais, o técnico
juntamente com os outros profissionais de saúde que também cuidam desse paciente num
perfeito entrosamento, será capaz de identificar ideias suicidas dos pacientes sob seus cuidados e
tomar as medidas necessárias.


RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

Empatia – Compreendendo a si Próprio e aos outros
Cultivar a habilidade de compreender as pessoas é uma das tarefas
mais difíceis que um homem jamais poderia se propor. Mesmo fazendo o
maior esforço, somente é possível compreender em parte as necessidades
sentidas pelo homem; e, menos ainda, os sentimentos da vida interior. Isto
porque a habilidade de compreender abrange mais do que ser capaz de
perceber, entender, identificar e interpretar as comunicações ou expressões captadas pelos
sentidos. Especificamente no contexto de relacionamento interpessoal, "compreender" é análogo
a "empatizar", termo este que significa:
A capacidade de identificação com a disposição ou estrutura psicológica de outra pessoa;
Procurar sentir como se estivesse na situação da outra pessoa;
Tentar entender as razões e o significado da comunicação verbal e não verbal, mais do que
a maneira como esta transparece;
Compartilhar mutuamente desejos e ideias, mesmo que não se concorde com o
comportamento exibido.
Ter a habilidade de perceber e acompanhar os sentimentos de outra pessoa, mesmo que
sejam intensos, profundos, destrutivos ou anormais.

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 21


O real significado de empatia está em compreender os outros, apesar de não se concordar,
muitas vezes, com o comportamento destes. Procurar ser compreensivo e sentir como a outra
pessoa estaria sentindo não significa que se deva ser sempre permissivo e tolerante frente a
certos comportamentos agressivos e destrutivos. Após analisar tais situações, o técnico deve
julgar, muitas vezes, ser preciso estabelecer limites ou restrições para garantir a segurança do
paciente ou das pessoas adjacentes. Compreender implica simultaneamente ser capaz de
estabelecer limites, quando necessário. O ato de impor limites poderá gerar ira momentânea no
paciente, mas com o tempo o fato será percebido como uma atitude de ajuda. Neste pensamento
está intrínseco que o cultivo da habilidade de compreender não é obra do acaso. É a combinação
ativa de qualidades e habilidades pessoais de ajustamento emocional, de amor ao próximo, de
possuir senso equilibrado de autoestima e autocrítica, e de avaliar inteligentemente as
necessidades das outras pessoas.
Entretanto, assim como há fatores que influenciam a disposição para ser mais compreensivo,
por outro lado há outros que dificultam igualmente.
Um destes é o egocentrismo ou egoísmo pessoal do profissional, o excesso de preocupação
consigo próprio, ou a dificuldade de discernimento do conceito de que é "certo” ou "errado" que
pode bloquear as tentativas de empatizar-se com os outros.



COMUNICAÇÃO

A comunicação é o instrumento de expressão de nosso interior; do


que pensamos, do que queremos, do que acreditamos. Comunicar é
colocar algo em comum, é tornar-se comum com alguém. Comunicação
são maneiras de receber e transmitir informações.
Para que a comunicação ocorra, é preciso que haja: EMISSOR ®
MENSAGEM ® RECEPTOR. A boa comunicação depende da harmonia destes elementos.
A organização de todo o grupo de trabalho envolve também o estabelecimento de canais
de comunicação entre seus membros. Esses canais dizem respeito à maneira como as pessoas se
comunicam dentro da equipe, ou seja, o modo como manifestam suas opiniões e são ouvidas pela
equipe.
Devemos lembrar-nos que a comunicação não se limita a palavras faladas ou escritas, mas
sim através da comunicação não verbal. Além destas existe também a comunicação formal e não
formal.
Muitas vezes colhemos informações fundamentais informalmente, através de uma
conversa durante o banho, o curativo, com o familiar na sala de espera, etc..
Todos os membros da equipe devem ter assegurado o direito de participar do processo de
divulgação da informação. Em um hospital, por exemplo, cada profissional deve ser incentivado a
escrever no prontuário do paciente e a ler o que os outros companheiros escrevem,
compartilhando com a equipe a sua experiência e tomando conhecimento das impressões dos
colegas.
Um grupo de profissionais integrado, no qual todos se sintam igualmente importantes,
produzindo e recebendo informação, fazendo parte da rede de comunicação, traz maior
satisfação e em consequência, melhor participação no cotidiano de trabalho.
o Linguagem Verbal – as dificuldades de comunicação ocorrem quando as palavras têm
graus distintos de abstração e variedade de sentido. O significado das palavras não está
nelas mesmas, mas nas pessoas que as ouvem.
o Linguagem Não Verbal – as pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os
movimentos faciais e corporais, os gestos, os olhares, a entoação da voz também são

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 22


importantes elementos de comunicação. Os significados de gestos e comportamentos
variam muito de uma cultura para outro e de época para época.
A comunicação verbal e plenamente voluntária; o comportamento não verbal pode
ser uma reação involuntária ou um ato comunicativo propositado.

Podemos observar o que uma pessoa esta sentindo ou pensando através de diversas
expressões, como: expressão facial; movimento dos olhos; movimento da cabeça; postura e
movimentos do corpo; entoação da voz; aparência, etc.

A COMUNICABILIDADE



REGRAS PARA FACILITAR A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL
1. O tom de voz deve ser moderado, nem muito alto, nem muito baixo.
2. A velocidade da fala deve também ter um bom tempo, ritmo e fluência.
3. Evitar erros de sintaxe, linguagem imprópria, palavras ambíguas, inadequadas ou
incorretas.
4. Falar com clareza.
5. Tentar despertar o interesse do paciente.
6. Escutar atenta e ativamente o paciente, lembrando-se que escutar é mais que ouvir. Eis
aqui alguns comportamentos que o profissional de saúde deve desenvolver a fim de
escutar o paciente:
ü Manter o olhar atento enquanto o paciente fala,
ü Não ficar o tempo todo pensando só no que vai ser respondido,
ü Mostrar atitude calma e receptiva,
ü Fazer com que a comunicação (tanto verbal como não verbal) assegure ao outro
que se está acompanhando o que ele diz,
ü Tolerar sem ansiedade os silêncios do paciente,
ü Se o silêncio tornar-se embaraçoso para o paciente, procurar reformular a última
frase dita, para que ele possa retomar a conversa,
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 23
ü Depois de fazer uma pergunta é importante silenciar. Se o paciente não responder
de imediato, é melhor evitar o impulso de preencher o silêncio com comentários.
Ele deve ter a oportunidade de pensar na questão,
ü Não interromper para retificar o que o outro está dizendo, mesmo que se discorde
do que ele diz. É melhor esperar que termine o enunciado, não contradizer o que o
outro está dizendo por considerar conhecido, desconhecido ou trivial,
ü Demonstrar respeito e aceitação mesmo que haja grandes diferenças entre você e
o seu paciente,
ü Abster-se de fazer julgamentos numa comunicação,
ü Admitir que o paciente tivesse crenças, ideias e valores diferentes dos seus,
ü Criar condições para que o paciente possa expressar suas ideias, seus sentimentos
e seus valores. Isso não significa que se deve concordar com tudo nem impede de
dizer que não se compartilha dessa posturas.

Quando em equipe multiprofissional, fazer comentários descritivos e não avaliativos, pois
os primeiros geram um comportamento receptivo. Os avaliativos predispõem ao comportamento
defensivo.
o O feedback descritivo explica de maneira específica um fato, uma atividade ou um
processo,
o O feedback avaliativo é de natureza crítica e tende a apresentar uma conclusão por
parte de quem o emite,
o Os comentários descritivos são mais fáceis de aceitar e descrevem o comportamento
sem atacar a outra pessoa.


TÉCNICAS BÁSICAS PARA UM BOM ATENDIMENTO AO PACIENTE

1. Escolha de vocabulário: escolher palavras condizentes com o momento, evitar gírias ou


palavras evasivas.
2. Facilidade de expressão: emitir as palavras de uma forma correta, demonstrando segurança
naquilo que fala.
3. Compreensão: empatia, saber entender o que muitas vezes não é dito de forma explícita.
4. Cortesia: tato nas relações humanas, ou seja, não ser ofensivo, descortês. Há um ditado
popular que afirma: "A primeira imagem é a que conta" e há grande verdade nisso. Se o
primeiro contato for cordial, alegre, expansivo, este será a imagem que cada um fará do outro.
Mas, mesmo isso sucedendo, se, no futuro, passarmos a adotar um comportamento hostil,
grosseiro, mal educado, com certeza aquela imagem que havíamos construído será destruída.
5. Entusiasmo: irradiar entusiasmo natural, estimulante e contagiante.
6. Imparcialidade: evitar tomar partido, não debater com o paciente, mesmo que certos
comentários não sejam simpáticos a quem quer que seja. Não discutir sexo, política, religião.
7. Paciência: jamais apressar o paciente ou cortá-lo no meio de um desabafo.
8. Humildade: não ser o "dono da verdade". Por mais que soubermos e estudarmos sobre um
dado assunto, qualquer que seja, se vivermos 100 anos, ainda haverá uma enormidade de
aspectos que desconhecemos. Ora, como pode o técnico pensar que ele é o mais competente,
capaz e dono da verdade, sem reconhecer os outros colegas de trabalho ou mesmo as
informações dos pacientes. Cada dia pode-se aprender com os diferentes pacientes que
passarão pelas mãos de vocês.
9. Atualização e Desenvolvimento: buscar sempre se manter com um bom nível de
conhecimentos técnicos em raios-X e outros ramos que você possa aprender. Se valorize
enquanto técnico. Se aprimore também a cada dia mais no relacionamento com os seus
pacientes, os familiares dos seus pacientes e com a equipe multiprofissional a qual irá lidar.
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 24


O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM NA SOCIEDADE

O que se observa hoje é um reflexo da forma como foi


construindo-se a profissão de enfermagem.
Não é de se estranhar que o contingente de trabalhadores na
área de enfermagem seja ainda feminino.
Outro fato observável é o grande numero de auxiliares em relação
a técnicos, já que se levando em conta o valor diferenciado de salários, é possível a contratação
de um maior numero de auxiliares, pois são os que recebem os menores salários. Além disso, são
se pode negar o fato de que em diversos serviços não há uma clara diferenciação entre as
atribuições do auxiliar e do técnico em enfermagem.
O auxiliar de enfermagem de hoje, não pode ser imaginado como uma pessoa submissa,
cumpridora de escalas, alheio a todo o processo que envolve a doença, o paciente, o hospital, etc.
Mudou-se o olhar sobre a doença. Hoje se busca a saúde. Assim, o auxiliar de enfermagem
também se desloca de seu local tradicional, o hospital e se faz presente nas escolas, clubes,
empresas, comunidades, etc.
Dessa forma, pode-se dizer que houve uma flexibilização do papel do auxiliar de
enfermagem, passando a ser um ser critico, consciente, capaz de refletir sobre os limites de sua
ação e de intervir em prol do cliente de acordo com os recursos existentes. Para isso, espera-se
que ele seja uma pessoa critica, atenta as transformações do mundo moderno, já que conhecer a
realidade em que está inserido é quesito fundamental para que sua intervenção possa ser
realmente eficaz.
Deve ainda perceber sua corresponsabilidade social a partir do papel que desempenha
papel esse que não se resume ao de um simples cuidador, mas de alguém que interage e modifica
a realidade através de ações de saúde.
A sensibilização para o cuidado em saúde é uma das inúmeras preocupações que o
professor / educador tem tido com o graduando dos cursos de enfermagem. Cabe a nós, como
educadores, instrumentalizar tecnicamente o aluno para o desenvolvimento de sua habilidade
manual, isso não quer dizer, que a técnica em si torna o cuidado sensível (ESPIRIDIÃO & MUNARI,
2004).
A utilização da saúde mental como tema transversal no currículo de Enfermagem já é
realidade em algumas escolas no Brasil, pois, apesar da saúde mental constantemente estar
associada a práticas que só se desenvolvem em ambientes considerados da psiquiatria, ela pode
auxiliar o enfermeiro a desenvolver durante sua prática assistencial uma atitude de
responsabilização, preocupação e envolvimento afetivo com o outro. O ser humano é um ser
singular em um mundo plural que merece atenção e o enfermeiro merece estar alerta para não
cair na ilusão de que o cuidado está atrelado apenas ao corpo, esquecendo que esse sujeito
doente é possuidor de vontade, sentimentos e expectativas que não podem ser esquecidas
(MONTEIRO, 2003).
Logicamente observamos alunos que desempenham suas atividades com um desvelo
digno de apreciação, outros são extremamente hábeis nas tarefas que lhe foram designadas, mas
extrapolam para o meio externo dos laboratórios de enfermagem atitudes de distanciamento do
sujeito de sua ação, como se estivessem cuidando do boneco no qual aprenderam as técnicas de
enfermagem, como, por exemplo, no caso da administração de medicamentos. Um braço
mecânico não sente dor, não tem uma história de vida, não tem pai, nem mãe. É apenas um
artefato de ensino, recurso tecnológico imprescindível para o desenvolvimento da habilidade
manual.
Para nós a ideia de que o bom enfermeiro é aquele que com os anos de profissão passa a
ser ‘frio em suas ações, como se nossa profissão para ser reconhecida deva perder sua
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 25
humanidade, esquecendo o sofrimento do outro é perversa. Essa atitude se dá segundo ROCHA et
al (2003) quando esses agentes do cuidar não se permitem fazer contato com suas sensações,
seus sentimentos e emoções.
Deixando de lado as dores humanas, o aluno reproduz esse ciclo vicioso e histórico da
frieza e distância do enfermeiro, esquece da necessidade de acolher e escutar, da necessidade de
aprender a lidar com emoções que são suas, mas, que também são do outro. Quando nos
deparamos com essa afirmação, nos perguntamos. Que cuidado é esse? Que ignora o sofrimento
de estar doente, a dúvida de não saber o que se tem, a espera pela consulta médica ou pela visita
que não chega; o odor da ferida, que mostra à pessoa doente o quanto o nosso corpo é
vulnerável. Onde está o cuidado em instalar uma punção venosa sem ao menos dizer o próprio
nome, identificando-se como profissional.
Todos esses afetam, a nosso ver a credibilidade do nosso fazer cotidiano, não
desmerecendo a necessidade da competência técnica, mas apenas fazendo um alerta para a
competência do olhar amoroso em direção ao outro.
A incursão por uma disciplina extremamente técnica como a intitulada em nosso curso de
Enfermagem – Bases técnicas da assistência de Enfermagem e, em outras escolas de
enfermagem, como Cuidados de acesso ao homem, fundamentos de enfermagem, entre outros;
fez-nos lançar um olhar amoroso em relação ao tema. Nossa formação em saúde mental nos
ensina diariamente que não devemos ignorar a dor do outro, nem suas dificuldades, ou
diferenças no agir e no pensar. Em contrapartida, observamos e vivenciamos o quanto essas
atitudes tão caras à saúde mental em alguns momentos são deixadas de lado por outras áreas
consideradas ‘mais técnicas’. O contato com uma disciplina em que, geralmente, a habilidade
manual é valorizada em detrimento da necessidade de acolher o outro, (sujeito de nosso
cuidado), nos fez desenvolver algumas estratégias de ensino de técnicas de enfermagem
utilizando ferramentas teóricas e metodológicas da saúde mental.
Durante a discussão da estratégia destacamos algumas questões que foram levantadas
pelos alunos, entre elas;
a. a necessidade do respeito ao outro;
b. a humanização do atendimento;
c. a falta de preparo do enfermeiro para esse tipo de situação;
d. a utilização do termo ‘pacote’ como impessoal desrespeitoso e depreciativo;
e. o vínculo com o paciente;
f. a necessidade ou não de ser mais ‘frio’ nesse tipo de situação;
g. a dúvida se o enfermeiro está pronto para dar a notícia do óbito à família.

São questões que apontam para um caminho que os docentes da área devem considerar
quando construírem seus planos de ensino. Outras estratégias


O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM E O PACIENTE

De toda a equipe de saúde envolvida, é o auxiliar de enfermagem quem executa a maior


parte das tarefas com o paciente. O corpo do paciente é o objeto de atenção, a quem cabe à
tarefa de cuidado diária.
A enfermagem detém a permissão social e cultural para tocar o corpo do outro, podendo
desnudar, limpar, amarrar, banhar, secar, alimentar, injetar, raspar, vestir e nesse momento,
mesmo que não se aperceba disso, expressa seu sistema de valores, consequência de sua cultura,
da realidade do mundo ao qual faz parte.
Assim, também é o corpo. A ideia que temos de corpo também foi sendo construída a
partir dos valores a ele atribuídos. Ele não é experimentado, entendido de modo igual para todos
os indivíduos. A percepção que temos do corpo é resultado da nossa cultura especifica. Ele é na
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 26
verdade uma simbolização, ou seja, o corpo é uma representação dos nossos conceitos de pessoa,
sexualidade, dentre outros. A experiência corporal não é universal. O corpo não fala por si
próprio, a cultura vai deixando marcas e atribuindo significados que não são eternos.
O cuidado do corpo por parte do pessoal de enfermagem inclui uma manipulação do outro
mediante procedimentos e técnicas do ato de cuidar. Além dos sentidos usa-se também a
intuição, a percepção, a sensibilidade criando uma linguagem corporal própria, na qual pela forma
de tocar, olhar, cuidar, são expressos valores, conceitos, receios, preconceitos, temores, etc.
Tomar consciência dos próprios temores, preconceitos, duvidas e limites em relação ao
seu próprio corpo e ao do paciente e fundamental para que se estabeleça uma relação na qual
esse corpo se personifique, ganhe uma identidade, deixe de ser apenas um objeto que precisa de
cuidados para pertencer a uma pessoa que tem também seus próprios preconceitos, duvidas,
timidez e vergonha, principalmente no memento de um contato mais intimo. Devemos tentar
naturalizar a situação hospitalar. Do mesmo modo que um bebe é amamentado, a alimentação
não e a única necessidade que se esta sendo atendida, mas também através desse contato, o
bebe sente-se acariciado, protegido, desenvolvendo, a partir daí, um sentimento de confiança,
etc.
Desse modo, no ato de prover as necessidades físicas do individuo, promovendo o cuidado
com o corpo, algo além do próprio cuidado esta em jogo. É possível estabelecer uma relação de
solidariedade, percebendo as dificuldades, dúvidas e temores do paciente.
Há muita insegurança por parte do paciente, no mento da hospitalização e na própria
experiência da doença. Muitas vezes a pessoa não sabe ao certo o que vai lhe acontecer. A
ansiedade faz-se presente, principalmente em procedimentos cirúrgicos que representam ameaça
á integridade corporal ou que comprometam a autonomia da pessoa, como nos casos de
colostomia, mastectomia e amputações. É importante compreender que não e simplesmente um
simples membro que vai ser extirpado em troca de melhor prognostico, mas sim uma parte da
pessoa que tem uma função e significados específicos.
Tal medida requeira um aprendizado para se conviver com a nova situação. Assim, é mais
aconselhável tentar entender a sua tristeza e estar disposto a escutá-lo, ao invés de tentar
reanimá-lo.
É compreensível um certo desconforto, uma certa estranheza e, muitas vezes, para negar
essas sensações, se mantém uma distancia emocional em relação aos pacientes, por meio de uma
padronização dos mesmos, que são vistos como iguais, no pior sentido que isso possa ter, no que
se refere a perda da identidade.
Todos nos sentimos medo, vergonha, culpa, tristeza, alegria, amor, etc. Nem tudo pode ser
explicado pela razão. Sentimentos são para serem sentidos, experimentados, respeitados, para
aprendermos a lidar com eles e deforma que possamos nos conhecer e viver melhor.
Um auxiliar de enfermagem sensível, bom observador, conhecedor de suas próprias
emoções, limites e possibilidades tem maior chance de maior atuação junto aos clientes. É
importante perceber que cada paciente é único, apesar das tarefas executas serem as mesmas.
Isso entendido pode ser um facilitador para ambas as partes, propiciando ao paciente um
tratamento mais humanizado e ao profissional um melhor desempenho.



COMO O PACIENTE E A FAMÍLIA REAGEM FRENTE A UMA DOENÇA
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 27

A Família e o paciente quando estão sob atendimento na hospitalização vivem em um
primeiro momento a necessidade e a possibilidade do diagnóstico. Querem saber o que tem,
saber sobre a doença, as consequências, sequelas, tratamento e cura. Em seguida podem
apresentar uma variedade de respostas emocionais por conta do diagnóstico que nem sempre é
favorável. Dessa forma apresentam sentimentos e comportamentos com reações à confirmação
da doença: Incerteza, ansiedade, preocupação, vulnerabilidade, falta de esperança.
Numa fase posterior, podendo ser trabalhada as questões desfavoráveis e inadaptativas
acontecem um processo de reconstrução da realidade com a doença que envolve mudanças de
planos futuros, manejo das limitações, aceitação.
Conseguem projetar uma vida normal durante o tratamento com maior aceitação,
reorganização, manejo o regime terapêutico, avaliação das novas prioridades.
O trabalho interdisciplinar visa o manejo das situações e o fortalecimento em equipe dos
fatores positivos que proporcionem a adesão, a adaptação e colaboração do paciente e familiar
para lidarem com as limitações e o enfrentamento de doenças crônicas ou graves no contexto
hospitalar.
O Protocolo Class propõe a sistematização da intervenção médica com o sentido de
informar e dar apoio focando:

1. Conhecer os sentimentos do paciente
└ Expressando respostas empáticas que facilitem a expressão e acolhimento

2. Considerar como suas as preocupações do paciente
└ Com atitudes que mostrem o quanto você está prestando atenção, mostrando que
o que ele trás é pertinente, mostrando que entende as preocupações e que estas
serão consideradas

3. Fazer um plano para o problema
└ Com envolvimento do paciente e familiares, fortalecendo o vínculo e a
confiabilidade.

Alguns diagnósticos são de difíceis aceitações, pois trazem a confirmação de uma doença
grave ou crônica que irá modificar intensamente a vida do paciente.
Quando os profissionais da saúde se veem diante da comunicação de um diagnóstico
desfavorável, na maioria das vezes, ficam perdidos, não sabem como faze essa comunicação e se
sentem despreparados para a tarefa Buckman et al (1993) elaboraram um roteiro com passos
para a relação médico-paciente que visa sistematizar um procedimento, ou pelo menos,
demonstrar aspectos que devem ser considerados numa comunicação diagnóstica de uma doença
grave ou terminal.
O Protocolo proposto pelos autores é chamado Protocolo “CLASS” as quais as letras em
inglês possuem os significados abaixo:
Ÿ C = contexto físico (contest)
Ÿ L = habilidade em escutar e perceber (listening)
Ÿ A = conhecimento das emoções e como explorá-las (acknowledge)
Ÿ S = estratégia (strategy)
Ÿ S = síntese (summary)

Cada item acima transcreve condições a serem consideradas na comunicação e no
preparo do profissional para esta tarefa.

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 28
O TRABALHO DE EQUIPE

Uma equipe de trabalho constitui-se de vários


profissionais, cada um com o seu saber especifico, que
muitas vezes atendem individualmente sem a
necessidade de obter informações de outros
profissionais e em outras situações há profissionais que
trabalham em conjunto para a melhor solução de um
problema.
Na área da saúde é de comprovada importância a utilização dessa segunda equipe para
melhor entender o paciente, sua doença e a forma mais eficiente de tratamento.

Equipes Pluridisciplinares
9 Estudo do mesmo objeto por diferentes disciplinas sem que haja
convergência de conceitos e métodos. Na área da saúde, o paciente é
atendido por deferentes especialistas havendo pouco ou nenhuma
troca de informação.

Equipes Transdisciplinares
9 Trabalho coletivo que compartilha conceitos, teorias e abordagens para tratar problemas
em comum. A disciplina em si perde seu sentido e não há limites precisos na identidade
disciplinar. Esta equipe segundo os especialistas deverá ser a disciplina do futuro.

Equipes Interdisciplinares
9 Há um nível de associação entre as disciplinas onde a cooperação entre elas provoca
intercâmbios reais, trazendo enriquecimentos mútuos. Ocorre um aprofundamento entre
as disciplinas que acaba ou criando outra disciplina ou transferindo o método de uma
disciplina para outra.

Equipes Multidisciplinares
Nesse caso as várias disciplinas, os diversos profissionais trocam ideias e informações
sobre sua pratica. Debatem pontos de vista e complementam os entendimentos sobre o
problema em questão.
É extremamente difícil o trabalho em equipe. Trabalhar em harmonia e de forma integrada
com profissionais de formações diferentes, mesmo quando exige um objetivo em comum, é
muito complicado. Nem sempre conseguimos abrir mão de nossas vaidades profissionais ou
encarar as inseguranças que temos ao compartilhar com o grupo a nossa forma de atuar. É
preciso ter habilidade inter e intrapessoal para que o trabalho tenha bons resultados.
Se todos nos profissionais conseguíssemos superar suas limitações, teríamos um cotidiano
criativo e interessante, contribuindo assim para vencer as grandes dificuldades que a área da
saúde enfrenta hoje no Brasil. Podemos dizer que trabalho em equipe é um conjunto de pessoas
com habilidade complementares, comprometidas umas com as outras pela missão em comum e
com um plano de trabalho bem definido. Reconhece-se a diversidade de conhecimentos e a
importância de cada um, já que o paciente é visto como um todo.
É importante que se defina com clareza para todos do grupo, os objetivos individuais e do
grupo a ser alcançados, a importância de se construir em conjunto um plano de trabalho e definir
as responsabilidades de cada membro; a avaliação constante dos processos e resultados;
percepção de que o sucesso e o fracasso de um são de todos; trabalhar as diferenças e conflitos e
não eliminá-las; ouvir e considerar as experiências de cada um.
Os objetivos devem ser desafios para o grupo além de estímulos para seus integrantes.
Fazer parte de um grupo e um grande desafio que passa pela mão de todos.
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 29

A TRANSDICIPLINARIDADE PARA O BEM DO SER HUMANO

A questão da transdisciplinaridade tem despertado crescente atenção nos últimos tempos.


A tendência de atravessar as fronteiras do conhecimento especializado é um dos elementos da
perspectiva pós-moderna que se firmou no final do século XX.
Para as ciências humanas, essa tendência é oportuna à medida que o estudo aprofundado
dos fenômenos humanos requer uma abordagem de conjunto. Ele supõe que se considere a
interface dos aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais que compõem a realidade
humana, a qual deve, ainda, ser considerada em sua dinâmica de espaço e tempo. Ou seja, a
transdisciplinaridade não é a negação da disciplina: é um avanço para além desta. Nas ciências
sociais, temos vários ramos de conhecimento com seus respectivos temas, teorias e métodos de
investigação, tais como a Sociologia, a Economia, a Ciência Política, a Antropologia.
Há uma divisão convencional de assuntos entre essas ciências, mas, ao mesmo tempo, o
campo da pesquisa social abrange toda uma gama de problemas de investigação, que demandam
uma abordagem plural outro exemplo é o estudo do mundo do trabalho, que abrange uma
variedade de aspectos focalizados por distintas disciplinas assim, a questão do mercado de
trabalho, abordada, sobretudo pela Economia, estende-se para a área educacional, de
treinamento e qualificação do social, bem como o desenvolvimento das profissões, são
preocupações eminentemente sociológicas, mas que interessam muito aos historiadores (História
Social).
As implicações do processo de trabalho, por sua vez, se desdobram nos campos da
Engenharia (Ergonomia, por exemplo) e da Medicina, ao lado de outras áreas clínicas, como a
Psicologia, a Enfermagem e a Terapia Ocupacional. Trata-se, aí, dos problemas relativos à saúde,
aos acidentes de trabalho, às doenças ocupacionais, às atividades insalubres.
Além disso, o trabalho tornou-se, com o tempo, um campo relevante de codificação e
análise jurídicas (Direito do Trabalho). Os direitos trabalhistas representaram um avanço
significativo da cidadania ao longo do século XX, embora abalados pelo desemprego estrutural,
fruto da expansão tecnológica, pela precarização do trabalho e pela informalidade.
Essas são questões que conhecemos bem no Brasil e que têm a ver com a dinâmica do
mercado de trabalho, o que nos traz de volta à esfera econômica. E envolvem, obviamente,
considerações políticas, tendo em vista as políticas de emprego e renda que possam
contrabalançar os problemas sociais gerados pelo mercado.
Vê-se que todas essas dimensões estão interligadas de vários modos, cruzam-se umas com
as outras, o que confere à temática do trabalho uma fisionomia claramente transdisciplinar.
O recorte disciplinar é útil para orientar as pesquisas, mas tem apenas função analítica.
Retificá-lo, confundi-lo com a realidade, constitui equívoco patente nesse caso. Tenho observado,
aliás, que os pesquisadores que se dedicam a estudar temas ligados ao trabalho estão entre os
mais abertos ao diálogo com colegas de outras disciplinas.
Desenvolvem com frequência investigações conjuntas, de cunho interdisciplinar. Fazem
cursos em áreas diferentes das suas, procuram acompanhar a respectiva literatura. E participam
regularmente de eventos, dentro e fora da academia, caracterizados pela pluralidade de enfoques
e de qualificações profissionais.
O resultado prático dessa colaboração intelectual pode ser detectado em inúmeras
situações. Podemos citar um exemplo atual: a bolsa-escola, ideia criativa que se difundiu no
Brasil. É uma tentativa de responder a questões que vinham preocupando disciplinas diferentes: a
repetência e a evasão escolar, o trabalho infantil, a delinquência precoce e a má distribuição de
renda.
O avanço das pesquisas levou a focalizar a família como objeto de análise, não apenas a
criança que some da escola e vai para a rua ganhar uns trocados para ajudar em casa (quando não
tem que lidar com tarefas insalubres e pesadas, muito além de suas forças). Daí, a ideia de dar
Psicologia Aplicada à Enfermagem - 30
uma bolsa à família em troca da permanência da criança na escola. É um programa de distribuição
de renda, mas que acopla esse objetivo com o de melhorar o quadro educacional, oferecendo
chance de maturação adequada a meninos e meninas que precisam trabalhar precocemente, com
enorme prejuízo para si próprio e para a sociedade.




ESTUDO TEÓRICO DA MORTE

Desde os primórdios da Civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao


mesmo tempo, aterroriza a Humanidade. A morte e os supostos eventos que a sucedem são,
historicamente, fonte de inspiração para doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma
inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos.
O homem encontra-se num processo contínuo de cisão ente vida e morte, tentando
afastar-se ao máximo da ideia da morte, considerando sempre que é o outro que vai morrer e não
ele. Configura-se então, uma situação na qual o homem se defende pela segregação.
A morte como fenômeno físico já foi exaustivamente estudada e continua sendo objeto de
pesquisas, porém permanece um mistério impenetrável quando nos aventuramos no terreno do
psiquismo.
Falar sobre morte, ao mesmo tempo em que ajuda a elaborar a ideia da finitude humana,
provoca certo desconforto, pois damos de cara com essa mesma finitude, o inevitável, a certeza
de que um dia a vida chega ao fim.
A certeza humana da morte aciona uma série de mecanismos psicológicos. E são esses
mecanismos que instigam a nossa curiosidade científica. Em outras palavras, o foco de interesse
seria como o homem lida com a morte; seus medos, suas angústias, suas defesas, suas atitudes
diante da morte.
O tema da morte não é de forma alguma uma discussão atual. Foram muitos os filósofos,
historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir o assunto no decorrer da
História. Isto porque a morte não faz parte de uma categoria específica; é uma questão que
atravessa a história, é, sobretudo uma questão essencialmente humana.
Dentro dos vários enfoques teóricos que possibilitam a reflexão sobre a morte, um deles
nos interessa em especial: o enfoque psicanalítico. A concepção que se tem sobre a morte e a
atitude do homem diante dela, tende a se alterar de acordo com o contexto histórico e cultural.
Sem dúvida o advento do capitalismo e seus tempos de crise, fez surgir uma nova visão sobre a
morte, que segundo Torres, (1983), tem a ver com o surgimento do capital como força principal
de produção. Neste sentido, o vivo pode tudo e o morto não pode nada, já que teve sua vida
produtiva interrompida.
Diante desta crise, na qual os homens encontram-se completamente abandonados e
despreparados, vemos este aprofundamento teórico como uma forma de dimensionar a morte,
contribuindo para sua melhor compreensão e elaboração, instrumentalizando, sobretudo, os
profissionais da área de saúde, que trabalham lado a lado com este tema.


O HOMEM DIANTE DA PRÓPRIA MORTE / O HOMEM DIANTE DA
MORTE DO OUTRO

Desde muito cedo, ainda bebês, quando passamos a distinguir nosso próprio corpo do
corpo da mãe, somos obrigados a aprender a nos separar de quem ou daquilo que amamos. A
princípio, convivemos com separações temporárias, como por exemplo, a mudança de escola.

Psicologia Aplicada à Enfermagem - 31


Mas chega uma hora, que acontece a nossa primeira perda definitiva: alguém que nos é muito
querido, um dia, se vai para sempre. É justamente esse “para sempre” que mais nos incomoda.
Porém, quanto mais conscientes estivermos de nossas mortes diárias, mais nos
preparamos para o momento da grande perda de tudo que colecionamos e nutrimos durante a
vida: desde toda a bagagem intelectual, todos os relacionamentos afetivos, até o corpo físico.
Com o distanciamento cada vez maior do homem em relação à morte, cria-se um tabu,
como se fosse desaconselhável ou até mesmo proibido falar sobre este tema.
Segundo Bromberg (1994) “como aprendemos em nossa cultura, evitamos a dor, evitamos
a perda e fugimos da morte, ou pensamos fugir dela...”
Esse quadro atual nos revela a dimensão da cisão que o homem tem feito entre vida e
morte, tentando se afastar ao máximo da ideia da morte, considerando sempre que é o outro que
vai morrer e não ele. Nos lançamos então à questão da angústia e do medo em relação à morte.
Uma das limitações básicas do homem é a limitação do tempo.
Segundo Torres (1983): "...o tempo gera angústia, pois do ponto de vista temporal, o
grande limitador chama-se morte..."
A Psicanálise Existencial, apontada por Torres (1983) revela a dimensão da angústia da
morte: "A angústia mesma nos revela que a morte e o nada se opõe à tendência mais profunda e
mais inevitável do nosso ser", que seria a afirmação do si mesmo.
Mannoni (1995) busca em Freud, palavras que falem da angústia do homem diante da
morte: "... Freud a situa ou na reação a uma ameaça exterior, ou como na melancolia, ao
desenrolar de um processo interno. Trata-se sempre, porém, de um processo que se passa entre
o eu e a severidade do supereu."
Freud (1914) nos fala que a morte de um ente querido nos revolta pois, este ser leva
consigo uma parte do nosso próprio eu amado. E segue dizendo que, por outro lado, esta morte
também nos agrada, pois, em cada uma destas pessoas amadas, há também, algo de estranho.
Surge aí, a ambivalência, que são sentimentos simultâneos de amor e ódio, e estão
presentes em todos os relacionamentos humanos. Nestes relacionamentos, o desejo de ferir o
outro é frequente e a morte desta pessoa pode ser conscientemente desejada. Por isso, muitas
vezes, quando o outro morre, a pessoa que assim o desejou pode ficar com um sentimento de
culpa difícil de suportar e, para amenizar esta culpa, permanece em um luto intenso e
prolongado.
Para a psicanálise, a intensidade da dor frente a uma perda, se configura narcisicamente
como a morte de parte de si mesmo.
Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983) o ser humano lida com duas concepções em
relação à morte: a morte do outro, da qual todos nós temos consciência, embora esteja
relacionada ao medo do abandono; e a concepção da
própria morte, a consciência da finitude, na qual evitamos pensar, pois, para isto, temos que
encarar o desconhecido.
É a angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte, que faz com que o
ser humano mobilize-se a vencê-la, acionando para este fim, diversos mecanismos de defesa,
expressos através de fantasias inconscientes sobre a morte. Muito comum é a fantasia de existir
vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do prazer e onde não
existe sofrimento; de existir a possibilidade de volta ao útero materno, uma espécie de parto ao
contrário, onde não existem desejos e necessidades. Ao contrário dessas fantasias prazerosas,
existem aquelas que provocam temor. O indivíduo pode relacionar a morte com o inferno. São
fantasias persecutórias que têm a ver com sentimentos de culpa e remorso. Além disso, existem
identificações projetivas com figuras diabólicas, relacionando a morte com um ser aterrorizante,
com face de caveira, interligado a pavores de aniquilamento, desintegração e dissolução.
O homem é o único animal que tem consciência de sua própria morte. Segundo Kovács
(1998): "O medo é a resposta mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e

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atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível socioeconômico e credo
religioso.”.
Para a Psicanálise Existencial enunciada por Torres, (1983): "...o medo da morte é o medo
básico e ao mesmo tempo fonte de todas as nossas realizações: tudo aquilo que fazemos é para
transcender a morte.”.
Complementa esse pensamento afirmando que "todas as etapas do desenvolvimento são
na verdade formas de protesto universal contra o acidente da morte.”.
Segundo Freud (1917) ninguém crê em sua própria morte. Inconscientemente, estamos
convencidos de nossa própria imortalidade. “Nosso hábito é dar ênfase à causação fortuita da
morte – acidente, doença, idade avançada; desta forma, traímos um esforço para reduzir a morte
de uma necessidade para um fato fortuito.”


O LUTO

Já não se vive o luto como em épocas passadas e, na maioria das vezes, os enlutados
vivenciam a dor da perda na solidão, já que as pessoas ao redor, preferem afastar de si o medo da
morte. Atualmente o que se exige é o recalcamento da dor da perda, em lugar das manifestações
outrora usuais. Mannoni (1995) nos fala deste processo: "Hoje não se trata mais tanto de honrar
os mortos, mas de proteger o vivo que se confronta com a morte dos seus.”.
Os ritos, tão essenciais, tornaram-se inconvenientes em nossa sociedade higienizada,
assim como a própria morte. Hoje, os funerais são rápidos e despojados. Os símbolos são
eliminados, como se fosse possível eliminar a realidade da morte ou banalizá-la. Mas não há
como apagar a presença do ser ausente, nem o necessário processo de luto. Para que a morte de
um ente querido não assuma formas obsessivas no inconsciente é necessário ritualizar essa
passagem.
Segundo Freud (1916), "O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à
perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o
ideal de alguém, e assim por diante." E segue dizendo que o luto normal é um processo longo e
doloroso, que acaba por resolver-se por si só, quando o enlutado encontra objetos de
substituição para o que foi perdido.
Para Mannoni (1995), seguindo a interpretação de Freud, "o trabalho de luto consiste,
assim, num desinvestimento de um objeto, ao qual é mais difícil renunciar na medida em que
uma parte de si mesmo se vê perdida nele”.
Segundo Parkes (1998), o luto pela perda de uma pessoa amada “envolve uma sucessão de
quadros clínicos que se mesclam e se substituem... o entorpecimento, que é a primeira fase, dá
lugar à saudade, e esta dá lugar à desorganização e ao desespero, e é só depois da fase de
desorganização que se dá a recuperação.”.
O autor segue dizendo que “o traço mais característico do luto não é a depressão
profunda, mas episódios agudos de dor, com muita ansiedade e dor psíquica.”.
Diante da morte, o consciente sabe quem perdeu, mas ainda não dimensiona o que
perdeu. Por que um luto não realizado leva à melancolia, um estado patológico capaz de durar
anos e anos?
Para Freud, (1916) algumas pessoas, ao passar pela mesma situação de perda, em vez de
luto, produzem melancolia, o que provocou em Freud a suspeita de que essas pessoas possuem
uma disposição patológica. Para justificar essa premissa, o autor fez uma série de comparações
entre o luto e a melancolia, tentando mostrar o que ocorre psiquicamente com o sujeito em
ambos os casos.
No luto, há uma perda consciente; na melancolia, a pessoa sabe quem perdeu, mas não o
que perdeu nesse alguém. "A melancolia está de alguma forma relacionada a uma perda objetal

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retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito
da perda."
O autor fala ainda sobre o melancólico, que vivencia a perda, não do objeto como no luto,
mas como uma perda relativa ao ego. "No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na
melancolia, é o próprio ego. O paciente representa seu ego para nós como se fosse desprovido de
valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível...".
A chave do quadro clínico melancólico é a percepção de que "... as auto recriminações são
recriminações feitas a um objeto amado, que foram deslocadas desse objeto para o ego do
próprio paciente."
A este respeito nos fala também Mannoni, (1995): "Em alguma parte existe, aí, uma
identificação com o objeto perdido, a ponto de tornar a si mesmo, enquanto objeto (de desejo),
um objeto abandonado.”.
Ainda citando Freud, (1916) o melancólico pode apresentar características de mania. “... o
maníaco demonstra claramente sua liberação do objeto que causou seu sofrimento, procurando,
como um homem vorazmente faminto, novas catexias objetais." Ou seja, há uma busca
indiscriminada de outros objetos nos quais o indivíduo possa investir.
O que se poderia dizer afinal é que, a pessoa melancólica coloca a si própria como culpada
pela perda do objeto amado.
Existe um período considerado necessário para a pessoa enlutada passar pela experiência
da perda. Esse período não pode ser artificialmente prolongado ou reduzido, uma vez que o luto
demanda tempo e energia para ser elaborado. Costuma-se considerar - sem, no entanto tomar
isto como uma regra fixa - que o primeiro ano é importantíssimo para que a pessoa enlutada
possa passar, pela primeira vez, por experiências e datas significativas, sem a pessoa que morreu.
Nos rituais de enterro judaico, são impedidos os gastos excessivos com os funerais para
que, com isso, não se compense ou se esconda qualquer sentimento da família.
O Kriyah (ato de rasgar as roupas) é como uma catarse. Logo após os funerais, os
familiares fazem uma refeição juntos, que simboliza a continuidade da vida. O luto é estabelecido
por etapas:
A primeira etapa (Shivá), dura sete dias e é considerada a etapa mais intensa, na qual a
pessoa tem o direito de recolher-se com sua família e orar pelo morto.
A Segunda etapa (Shloshim), que dura trinta dias, tem a finalidade de estabelecer um
período maior para a elaboração do luto.
Já a terceira etapa, tem a duração de um ano e é designada, principalmente, para os
filhos que perderam seus pais.

Enfim, o luto judaico é caracterizado por fases que favorecem a expressão da dor, a
elaboração da morte e, por fim, a volta do enlutado à vida da comunidade.
Para cada enlutado, sua perda é a pior, a mais difícil, pois cada pessoa é aquela que sabe
dimensionar sua dor e seus recursos para enfrentá-la. No entanto, há muitos fatores que entram
em cena, quando se trata de avaliar as condições do enlutado, seus recursos para enfrentar a
perda e as necessidades que podem se apresentar.
O luto pela perda de uma pessoa amada é a experiência mais universal e, ao mesmo
tempo, mais desorganizadora e assustadora que vive o ser humano. O sentido dado à vida é
repensado, as relações são refeitas a partir de uma avaliação de seu significado, a identidade
pessoal se transforma. Nada mais é como costumava ser. E ainda assim há vida no luto, há
esperança de transformação, de recomeço. Porque há um tempo de chegar e um tempo de partir,
a vida é feita de pequenos e grandes lutos, através dos quais, o ser humano se dá conta de sua
condição de ser mortal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo. Davidoff, Linda L. (1983). Introdução à Psicologia. McGraw-Hill: São Paulo
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estudo de Psicologia. Editora Saraiva: São Paulo
FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0
ROUDINESCO, ELISABETH – Dicionário de Psicanálise, Jorge Zahar Editor, RJ-1997.
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