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A Fúria De Adamastor, O Mar Das Mágoas E Outras Histórias

Fui batizado Anthelmo, herdeiro de mui oliveiras,


Cervantes por parte de mãe e Araújo pelo pai,
Cresci em meio as rosas flores de araújas,
Adornos de concubinas nos cortejos hedonais.

Tornei-me soldado, de homens honrados profissão,


Mas às secretas eram as fanfarras minha vocação,
De mosquetes nada sabia e navegar tampouco,
Salvação minha era a esgrima onde era virtuoso.

Por influência do brasão d’onde herdara meu nome,


Fui embarcar então tal magna e heróica expedição,
Das treze náus fiz parte em direção ao horizonte,
Trazer glórias à família, vencer Lete, Cócito e Aqueronte.

Viagem desbravadora contra o cabo das tormentas,


Porém não esperávamos tão terríveis contendas,
Ergueu-se em negra tempestade o titan Adamastor,
Bradando trovões, raios, chuva e grande horror.

Abateu seu punho com força e raiva sobre nós,


Dalí não passaríamos prometia solene sua voz,
Rezamos à todos os santos livramento deste mal,
E Nsa. Sra. dos Navegantes intercedeu-nos afinal.

Perdemo-nos da esquadra e por dias derivamos,


Mesmo livres de Adamastor a miséria habitamos,
Flutuamos entre brumas densas e infidáveis,
Até nelas encontrarmos terra, uma ilha, um milagre!

Para surpresa minha e dos demais sobreviventes,


A terra era habitada por gente estranha, diferente,
Foram gentis deram-nos abrigo cuidado e alimento,
Eram em tudo civilizados ajudando-nos no tormento.

Aprendemos seu idioma, sua cultura, suas canções,


Eram povos exóticos tais os mitos do velho mundo,
As lendas faziam-se reais, elfos, gnomos e anões,
Nobres reinos inteiros do horizonte ao além-mundo.

Continua…
Por meses alí vivemos, mas a saudade jazia forte,
Isolados pelas brumas e entregues a própria sorte,
Decidimos então fazer algo, fugir dali, voltar jamais,
Enfrentaríamos uma vez mais os perigos ancestrais.

Renconstruímos nossa náu, projetada tal e qual,


Partirmos da Ilha de Ghastria e sombria Ravenloft,
Abraçamos seu Mar de Mágoas gélido como a morte,
Aquecidos pela coragem, rezando para termos sorte.

Eis que minh’alma temerária vê a silhueta do terror,


Eram as costas do gigante de tempestades e tufões,
Delas vinham ferro em chamas, tiros de bombarda,
O Galeão Estalo Negro que para nós se apresentava.

No Mar das Mágoas nos atracamos, tal Davi e Golias,


Decididos nós lutamos ou tornaríamos heróis ou nada,
Armados com bestas e esgrimas, escudos e alabarda,
Bradamos contra as brumas, os mares e os piratas.

A náu fora destroçada com disparos de bombardas,


Muitos irmãos pereceram e sangraram na jornada,
Em mim, arrependimento de ingressar nessa estrada,
Pudera eu voltar um dia a terra d’oliveiras e araújas?

Compreendi naquele momento o nome daquele mar,


Amarguei o cárcere derrotado almejando própria morte,
Cativo do galeão Estalo Negro coletor de escravos,
Liderado à Mão de Chumbo por Abigail e seus diabos.

Como eu, muitos outros tiveram inglório sortilégio,


jazer escravos como animais, enjaulados e bravios,
O Estalo viajou açoitando demasiadas costas e marés,
Introduziu-me ao avesso do horizonte, aprisionado.

Longe de meu regresso tramei um golpe em segredo,


Ganharia a confiança desta Abigail Mão de Chumbo,
Um irmão de cela juntou-se a mim nessa empreitada,
Tinha talento o jovem Jonh e nutria rancor profundo.

Continua...
Percebemos os desgostos de muitos marujos no convés,
Aos poucos eu, Jonh e outros juntávamos à jornada,
Eis que a Capitã de Mão de Chumbo seria amotinada,
Avarenta megera que era, não viu em sua sorte revés.

Certo dia em outros mares, chegou finalmente sua vez,


A tripulação em guerra nascida por sua mesquinhez,
Em meio a confusão eu e meus novos irmãos fugimos,
Doravante em botes vimos o fim do Estalo naufragado.

Desafiando a própria sorte mais uma vez navegamos,


eram outros ao meu lado, elfos, anões e humanos,
Ali eram todos iguais, libertos, aliviados e felizes,
Aportamos numa ilha qualquer, um novo começo por vir.

Em suas florestas férteis abrigamo-nos e exploramos,


A ilha despovoada provia tudo que precisávamos,
Todavia não tardou a aventura em nos encontrar,
Através de vidente senhora a prometer nos enricar.

Desejava ela em troca um suposto colar perdido,


reinvidicava pérolas negras como sua propriedade,
Em troca do resgate, acordou conosco dividendos,
E algo para navegarmos que defendia ter qualidade.

A proposta soou irrecusável à nossa inflada moral,


Partimos em campanha imbecíl sem nada questionar,
Como que seguindo ordens sem se quer pestanejar,
Pois bem, êis então a emboscada, um monstro abissal.

O lugar era gruta larga, findando nas entranhas da ilha,


Dava também para recifes que os barcos sepultavam,
Daquela garganta ctônica ruge e vossifera seu protetor,
Um cíclope de proporções medonhas, ráiva e destemor.

Sacam as armas, todos corajosos, atacam os valentes,


Mais sorte tem os prudentes pois estes não são feridos,
De escombros e golpes de tacape alí morreram muitos,
Para Jonh num golpe de pura sorte subjulgar tal fera.

Continua…
O cíclope Rakhan cai cego em dor enorme, ardente,
Do seu olho jorra sangue tingindo o atacante triunfal,
Eu que também combatia o monstro fui descrente,
Do feito que com sangue ungiu seu oponente final.

O monstro fora morto levando muitos dos nossos,


Mas os prémios alí vistos deveriam ser exaltados,
Tal surpresa foi a nossa encontrarmos caravela,
Recheada de tesouros e encalhada, brilhava bela.

Entalhada madeira em branco com riqueza esculpida,


Figurava em sua frente excelsa, alva, a virgem bela,
Das mães lembraram todos e tiraram seus chapéus,
Nsa. Sra. dos Navegantes dando-nos graças e troféus.

Estava à frente o destino celado, todos nós sabíamos,


Madrasta Indomável falou Jonh O Vermelho campeão,
Agraciamos-lhe então com o devido e áureo posto,
Da amada Madastra Indomável ele seria o capitão.

E eu que fora na história jogado de lado certo à avesso,


Vi finalmente naquele desfecho um nobre recomeço,
Guardando minhas aventuras em tinta negra e pena,
Para quando quem sabe um dia a minha terra retornar.

E nem éramos tão nobre ora, na velha demos calote,


praguejou ela até o fim levarmos caravela e perolas,
festejamos com muito rum as fanfarras memoráveis,
Descobrir vastos oceanos, brindar à morte e à sorte.

Fim, por enquanto…

Por Anthelmo Cervantes de Araújo.


A Grande Pescaria
Faz alguns anos que isso aconteceu,
Foi em um domingo disso estou certo,
Estávamos nós admirando claro céu,
De ventos frescos em mares abertos.

Decidimos fazer então uma pescaria,


Os ânimos pediam atividade alegre,
Celebrar fraternos tão rara bonança,
Redes ao mar jogadas com alegria.

Eis que sobrenaturalmente vieram,


Às redes cheias, imenso burburinho,
Eram sereias que marujos ergueram,
Alí figuravam verdadeiro descaminho.

Como narraria aquele momento pensei,


Que mentiras setenciariam que contei,
É a mais pura verdade afirma Anthelmo,
Presenciaram Billy, Montanha e o Capitão.

Assustadas jaziam todas, falaram os olhos,


Tantos eram os abutres a meses castos,
De pronto tomei frente por elas advogar,
Não é sempre que se vê ninfas do mar.

Verdade plena aqui seja dita e atestada,


Quem por beldades como essas não iria,
De Eros e Cupido tornar-se fiel escravo,
Se sonho tudo aquilo fosse, eu sonharia.

Mas um ardil súbito partira meu coração,


Viraram bestas ao atacarem a tripulação,
Mais famintas estavam elas eu lhes diria,
Que nós jejuando o mês inteiro sem ração.

Revidamos com golpes de espada e clava,


Eu mais que todo o convés, decepcionado,
Fora traído antes mesmo de enamora-las,
E por “eu-não-disses” de todos perturbado.

Fim, por enquanto...

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