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O bocejo da teogonia
A teogonia humana é regida pelo caos e pela coincidência - nessa desordem, a
neurose obsessiva teceu a derme do que seria a teia social. Ora, a paranoia do ser em viver
à sinfonia da incerteza evita a desintegração comunitária: em épocas de crise, o egoísmo
sucumbe ao tecido conjuntivo. No entanto, além da cooperação, fruto do narcisismo, há a
orgânica - quando o florescer em Pompeia chega, não há como reconstruir uma sociedade
sozinho, tampouco conviver com as nostálgicas lavas. Faz-se necessário constituir um novo
enredo. Intestinamente, na evolução, não há espaço para o indivíduo que não vê pela
perspectiva do outro, uma vez que esse perde a imagem integral, ficando à margem do
desenvolvimento. Outrossim, o novo Vesúvio é retratado pela patologia do individualismo,
que atrapalha o progresso de toda a genealogia.
Rotinas caóticas, que visam a projetos apenas pessoais, reificaram a sociedade num
mero fantoche-sonâmbulo, seguindo as aglomerações a fim de tentar a sorte (disfarçada de
meritocracia) numa guerra em que sempre haverá disparidades. Assim, tal boneco, com um
bocejo inútil da largura do mundo, como escreveu Fernando Pessoa em seu poema
"Insônia", esboça a egoísta vida de quem vive banalmente - nada faz sentido e não há no
que se amparar. Albert Camus, em seu livro "O Estrangeiro", também reflete uma realidade
marcada por um angustiante solilóquio. Dir-se-á que é a metáfora do homem do século, que
se fechou para si e acabou sufocado: quando o destino é comum, os seus semelhantes não
o reconhecem e não pensam nele, visto que procurando um espaço no contexto neoliberal,
tornou-se alheio a todos.
Destarte, há um caminho tortuoso; resta saber o que passará por ele e seguirá com
sua marcha - interpretando Chico Buarque em sua canção "Vai Passar". A humanidade tem
um dilema: deixar transitar a ofegante anomalia ou uma evolução da liberdade. Assim que
a resposta parecer óbvia, é viável relembrar que a pátria não pode caminhar tão distraída -
peregrinar por lugares sem olhar a idiossincrasia do outro é fugaz e efêmero. Portanto, o
individualismo é um distúrbio contra a premissa de um futuro sólido e equilibrado.
Azul claro: ênfase no tema e na coesão por meio da sinonímia e de palavras de um mesmo
campo semântico.