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Winnicot, D.W. Z 7338 Wri2a "0 ambiente © of process de maturagSo: estudos sobre 3 teoria do desenvolvimento emocional, Trad. por Irineo Cons tantine Sehueh Ortiz. Porto Alero, Arts Mécieas, 1983, ‘268p. 23em. 1. Crlangarpsicanlise. 2. Psiquitria infantil, | Ortiz, Iwingo Constantine Schuch trad. I cebu 615.881.1-053.2 (oioiotecria responsive: Patricia Figueroe CRE! 10-542) cop 618928017 ale DW.WINNICOIT o ambiente e Os processos de maturacao estudos sobre a teoriado desenvolvimento emocional TradugSo: IRINEO CONSTANTINO SCHUGH ORTIZ ‘com Residtne'a em Neurologia no City of Memphis Hospitals ‘0m Psiquiatria no Long Island Jewish Hilkido Madieal Center of New York. “Protécio ¥ edi¢Bo brasileira: JOSE OTTONI OUTEIRAt Paiquetra de eriancas e aolescentes ‘Coordenador ne Ares de Criangas © Adolescentes da ‘socingo Encarnacién Blaya. 38 edicao PORTO ALEGRE / 1990 Distorcao do ego em termos de falso e verdadeiro “‘self’” (1960) 12 Um desenvolvimento recente em psicansli ceito de falso ff. Esse conesito traz consigo a id tem sido 0 uso erescente do con- de um self verdadeiro, Hist Esse conceito em si nfo é novo. Aparace de varias formas em ritiva e especialmente em cortos sistemas roligiosos e filosbfiens, Por certo existe genres (ei que merce enc, «0 cop RRR tein ‘como um desafio quanto & etiologia, A psicanalise se interessa pelas perguntas: 1— Como aparece o falso ser? 2~ Qual é sua funcio? 3 Por que 0 falo self é exagerado ou enfatizado em alguns casos? ‘4 Por que algumas pessoas no desenvolvem o sistema do falso self? 5 — Quais s60 05 equivalentes do falso self nas pessoas normais? 6 Que é que existe que poderia ser denominado de se/t verdadeiro? ‘A mim parecetia que a idéia de um felso self, que é uma idéia que os pacientes nos dio, pode ser discernida nas formulagdes iniciais de Freud. Particularmente, relaciono 0 que divido em se/f verdadeiro ¢ falso com a divisio de Freud do self em tuma parte que é central e controlada pelos instintos (ou pelo que Freud chamou sexualidade, pré-genital e genital, a parte orientada para o exterior e relacionada com 0 mundo. 128 Contribuiedo pessoal Minha contribuiedo para este tema se de tempo a) como pediatra, com maes ¢ lactentes © b) como psicanaliste cuja elinica inciui uma série pequena de casos borderline twatados com analise, mas necessitando experimentar, na-transferéncia, uma fase [ou fases) de regressdo severa ? dependéncia A experiéncia me levou a verificar que pacientes dependentes ou em regres séo profunda podem ensinar 0 analista mais sobre. inicio da infancia do que se pode aprender da observacio diveta dos lactentes, e mais do que se pode aprender do con- {ato com as mies que estio envolvidas com os mesmos. Ao mesmo tempo, o conta- 10 clinica tanto com experincias normais como anormais do relacionamento mie- lactente influencia a teoria analitica do analista, uma ver que 0 que ocorre na trans- feréncia (nas fases de regressio de alguns desses pacientes) ¢ uma forma de relacio- amento mae-lactente Gostaria de comparar minha posicdo com a de Greenacre, que também se ‘manteve em contato com a pediatria enquanto engajada ne prética da psicandlise. “Também com ela parece caro que uma dessas duas experiéne'as ainfluenciou na avar liagio da outra experiéncin. A experiéneia clinica ern psiquiatria de adultos pode ter o efeito, para um psi- canalista, de colocar um hiato entre a avaliacao do estado clinico e sua compreensio da etiologia. O hiato resulta da impossibilidade de obter uma histéria confidvel do inicio da infancia, tanto do paciente psicético como da mie, ou de observadores ‘mais neutros emocionalmente. Pacientes analiticos que regridem a uma dependén- ia severa na transferéncia preenchem este hioto a0 revelar suas expectativas e ne- cessidades nas fases de dependncia. iva de meu trabalho ao mesmo Necessitlades do ego.e necessidades do id Deve-se ressaltar que a0 me referir a satistazer as necessidades do lactente no ‘estou me referindo & satisfaco de instintos. Na drea que estou examinando os ins tintos no estio ainda claramente definidos como internos ao lactente. Os instin- 105 podem ser to externas como © troar de um trovio ou uma pancada. O ego do lactonte esté eriando forca e, como conseqiiincia, osté a caminho de um estado om que as exigncias do id serdo sentidas como parte do self, no como ambientais. Quando esse desenvolvimento ocorre, a satisfacdo do id se torna um importante for- tifieante do ego, ou do se/f verdadeiro, mas as excitacbes do id podem ser traumsti- ‘eas quando 0 ego ainda no é capaz de incorporé-las, e ainda é incapaz de sustentar (0 riscos envolvids as frustragées experimentadas até o ponto em que a satisfacio do id se torne um fato, 129 Um paciente me relatou:"Bom manejo" (cuidado do ego) “como experimentei durante esta hora é uma refeigio" (satistagio do id). Ele ndo poderia ter se expres sado de outro modo, pois se eu 0 tivesse alimentado ele teria se submetido a isso, 0 ‘ue teria se ajustado a sua detesa do falso se/f, ou entio teria reagido e rejeitado ‘meu avango, mantendo sua integridade ao escolher a frustracio. ‘Qutras influéneies foram importantes para mim, quando por exerplo fui re quisitado periodicamente para observacbes sobre tratamento psiqu ppaciente que esté agora sob trico como adulto e que eu mesmoobservei como lactente e co: Aca pequena. Muitas vezes, de minhas observagSes pude ver que o estado rico que agora existe ja estava discernivel no relacionamento me-lactente. (Deixo relacionamento mielactente neste contexto porque estou me referindo a ‘fendmenos precoces, aqueles relatives 20 relacionamento do lactente com a ma ‘com © pai coma se fosse outra mie. O pai neste estigio to precoce ainda nao se tornou significative como uma pessoa do sexo masculino.) Exemplo (0 methor exemnplo que posso dar & 0 de uma muther de mei-idade que tinh Lum falto sif muito bem sucedido, mas que por toda a vida tinha a sensogo de no ter comerado a existir © que tinha estado sempre procurando um jito de cheger 20 seu Sef verdadeiro. Ela ainda esti em analise, que se prolonga por muitos anos. Nie primera fase desta andtse especial (que durou dois ou trés anos), achei que es tava me defrontendo com © que a paciente denominava de seu “self amaeca". Es 10 “boll amo-soca”: 1— deseobriu a psicandise; 2-— wia e avaliou a andlise, como uma espécie de teste elaborado da contia bilidade do anal 3 — trouxe apacient gasssuess 4 — gradualmente, apds trés anos ou mais, delegou sua funcao a0 analista, (esta foi a fate de maior profundidade da regressio, com algumas sema nas de um alto grau de dependéncia do analis : 5 —ficou por perto, retomando 0 cuidado de ama-seca nas ocasies em que faltou 0 analista (doencas do analista, suas Frias, etc): 6 — sou destino final sora discutido depoi a evolugio deste caso me foi facil verificar a natureza defensiva do falso ‘01, Sua funeSo defensive & a de ocultar e proteger o Sef verdadero, o que quer ‘que este posta ser. De imediato se torna possvel clasificar as organizaces do falso self [Em um extremo: 0 falso so/f se planta como real eé isso que os obser vadores tendem a pensar que & 2 pessoa real. Nos relacionamentos de Convivéncia, de trabalho e amizade, contudo, o falso se/f comeca a falhar. 130 Em situapSes em que 0 que se espera é uma pessoa integral, 0 falso se/f tem algumas caréncias essenciais. Neste extremo o self verdadeiro perma rece aculto. 2—Menos extreme: 0 falso self defende 0 se/f verdadeiro; o self verdadero, contudo, & percebido como potencial e ¢ permitido a ele ter uma vida se cereta. Aqui se tem o mais claro exemplo de doenea clinica como uma or ganizacio com uma finalidade positiva, 2 preservacao do individuo a des: peito de condigdes ambientais anormais. Esta 6 uma extensio do conceito psicanalitico do valor dos sintomas para a pessoa doente. '3— Mais para 0 lado da normelidade: O falso sef tem como interesse princi pal a procure de condigdes que tornem possivel ao self verdadeiro emer sir. Se essas condicSes ndo podem ser encontradas, ent3o novas defesas tém de ser reorganizadas contra a expoliagao do self verdadero, © se hou ver divida o resultado elinico pode sor 0 suicidio. Suicidio neste contex to € 2 destruigi0 do se/f total para evitar o aniquilamento do self verda- deiro. Quando o ssicidio & a Gnica defesa que resta contra a traico do self verdadeiro, entdo se torna tarefa do falso self organizar 0 suicidio. Isto, aturalmente, envolve sua propria destruicio, mas 30 mesmo tempo mina a necessidade de sua existéncia sor prorrogada, jé que sua funclo & ‘aprotecio do s2IF verdadeiro contra insultos. 4— Ainda mais para 0 lado da normalidade: 0 falso so/f 6 construido sobre identificage (come no exemplo da pacionte mencionada, cujo arm biente de sua meninice e sue ama-seca real the de muito do colorido da ‘organizagio de seu falso sof). 5 — Na normalidade: 0 falzo se/f & representado pela organizacdo integral da atitude social polda e amivel, um “nao usar 0 coracdo na manga”, como se poderia dizer, Muito passou para a capacidade do individuo de renun- ciar 8 onipoténcia © a0 processo primério em geral, o ganho se constituin- do 0 lugar na Sociedade que nunca pode ser atingido ou mantido com 0 Seif verdadeito iscladamente. _-Até_agoraime mantive nos limites da descriglo clinica. Masmo nesta limitada rea é importante o recontecimento do falso seff. Por exemplo, é importante que pessoas que so essencialmente falsas personalidades no sejam encaminhadas @ ‘estudantes de psicanalise para anilise em situacSo de tieinamento. O diagnéstico de falsa personalidade aqui é mais importante do que 0 diagndstico do paciente de acordo com as classificagSes psiquistricas vigentes. Também para assistentes sociais, ‘onde todos 0s tipos de caso precisam ser aceitos e mantidos em tratamento, o diag nbstico de false pertonalidado 6 importante para evitar a frustragio extrema associa- dda a0 fracasso twrapiutico a despeito da assisténcia social (psiquidtrica) aparente- ‘mente adequada, baseaa em principios analiticos. € especialmente importante es te diagnéstico na seleeo do estudantes para treinamento em psicandlise ou assistén- cia social psiquidtrica, isto 6, na selecdo de estudantes de todos o$ tipos. O organi: zado folso self é associado a uma rigidez de defesas que impede o crescimento tit rante 0 periodo de estudanve. 131 A mente e 0 falso self Um risco particular se origina da nfo rara ligagdo entre abordagem intelectual € 0 falso set, Quando um falso se/f se torna organizado em um individuo que tem um grande potencial intelectual, hd uma forte tendéncia para a mente se tornar © lugar do falso self, e neste caso se desenvolve uma dissociacio entre a atividade in telectual e a existincia psicossomatica, (No individuo sadio, presume-se, a mente 1u0 algo para sor usado para escapar de ser psicossomitico. De- ‘este tema com certa extensio em “Mind and its Relation to the Psyche- Soma," 1949¢.) ‘Quando ocorre esta dupla anormalidade, (1) falso self organizado para ocul {ar 0 self verdadeiro, e (2) uma tentativa por parte do individuo para resolver o pro bblema pessoal polo uso de um intelecto apurado, resulta um quadro clinico peculisr, ‘que muito facilmente engana. O mundo pode observar éxito acadimico de alto ‘rau, @ pode achar dificil acreditar no distirbio do individuo em questo, que quar to mais é bem sucedido, mais se sente falso. Quando tais individuos se destroem de tum jeito ou de outro, 20 invés de se tornarem o que prometiam ser, isto invariavel- ‘mente produz uma serisagdo chocante naqueles que tinham depositado grandes es: perancas no individue, Etiologia (© modo principal como estes conceitos se tornam de interesse para a psicané lise vem do estudo da maneira como 0 falso seif se desenvolve de inicio, no relacio- amento mée-lactente, ¢ (ainda mais importante) da maneira como 0 falso self nio s2 torna um aspecto significative no desenvolvimento normal A tworia relativaaeste importante estégio no desenvolvimento ontogénico per ‘tence & observacio da convivéncia do lactente-com-ame (regredida &paciente-com: ‘o-analista), e no & teoria dos mecanismos precoces de defesa organizados contra impulsos do id, embora, naturalmente, os dois temas se superponham. Para se conseguir uma exposiclo do processo de desenvolvimento pertinense, 6 essencial considerar'se © comportamento da mie, bern como sua atitude, porque reste campo a dependéncia é real e quase absoluta. No é possivel se afirmar 0 que ‘ passe considerando 56 0 lactente. ‘Ao pesquisar a etiologia do falso se/f, estamos examinando 0 estégio das pri- meiras relages objetais, Nesse estigio, o lactente esti nBo-integrado na maior parte do tempo, € nunca completamente integrado; 4 coesio dos varios elementos sens6- riosmotores resulta do fato de que a mae envolve o lactente, as vezes fisicamento, ¢ de modo continuo simbolicamente. Periodicamente um gesto do lactente expressa Lum impulso espontaneo; a fonte do gesto é 0 se/f verdadeiro, e esse gesio indica a 132 cexisténcia de um self verdadeiro em potencial. Precisamos examinar 0 modo como a mie responde @ esta onipot@ncia infantil revelacla em um gest [ou associacio sery sbriomotora). Ligo aqui a idéia de um self verdadeiro com a do gesto esponténeo. A fusio de elementos motores e erdticos esté no proceso de se tornar um fato nes te periodo de desenvolvimento do individuo. A participacao da mae E necessirio examinar 0 papel representado pela mie, ¢ 30 fazé-lo acho con ‘veniente comparar dois extremos; em um extremo esti: a mée suficientemente boa ‘@ no outro esté a que é uma mie nfo suficientemente boa. A pergunta que ocorre 4: que se quer dizer com a expressio “suficientemente boa"? ‘A mie suficientemente boa alimenta @ onipoténcia do lactente e até certo ponte ve sentido nisso, E 0 faz repetidamente. Um self verdadeiro comeca a ter vi a, através da forge dada 20 fraco ego do lactente pela complementagao pela mie das expressdes de onipoténcia do lectente. ‘A mie que nio é suficientemente boa no é capaz de complementar a onipo- ‘téncia do lactente, ¢ assim falha repetidamente em satistazer 0 gesto do lactente; a0 invés, ela o substitui por seu proprio gesto, que deve ser validado pela submissio do lactonte, Essa submissio por parte do lactente 6 0 estigio inicial do falso self, e re- sulta da inabilidade da mie de sentir as necessidades do lactente. € uma parte eszencial de minha teoria que o self verdadeiro nfo se torna ‘uma realidade viva exceto como resultado do éxito repetido da mae em respon- dor 20 gesto espontineo ou alucinacdo sensorial do lactente. (Esta idéia esté in- timanente ligada 8 de Sechehaye contida na expressio “realizaco simbélica”. Esta expressio tem tido uma participacae importante na teoria psicanalitica mo- derna, mas nio 6 suficientemente acurada, uma vez que ¢ 0 gesto ou alucinacso do Jactente que se torna real, sendo a capacidade do lactente de usar simbolos 0 resul tado.) Existem ento duas linhas possiveis de desenvolvimento na seqiiéncia dos ‘acontecimentos de acordo com minha formulacdo. No primeiro caso, a adaptacéo, da mie é suficientemente boa e como conseqidéncia 0 lactente comeca a acreditar na realidade externa que surge e se comporta como por migica (por causa da adap- tacio reletivamente bem sucedida da mie aos gestos e necessidades do lactente); a ‘mie ago de modo a no colidir com a onipoténcia do lactente. Deste modo o lac: ‘tente comega gradualmente a renunciar & onipoténcia. O se verdadeiro tem espon- tansidade, @ isto coincide com os acontecimentos do mundo. O lactente pode agora gozar a ilusio do onipotente criando e controlando, e pode entio gradativamente vir a reconhecer 0 elemento ilusério, o fato de brincar e imaginar. Isto 6 a base do simbolo que de inicio é, a0 mesmo tempo, esponteneidade e alucinacio, ¢ também, © objeto externo criado e finalmente catexizado. 133 Entre o lactente e 0 objeto existe algo, ou alguma atividade ou sensacio. A medida que isto une o lactente 20 objeto (como 0 objeto parcial materno}, se torna « base da formacio de simbolos. Por outro lado, 3 medida que ha alo separando 30 Jnvés de unic, sua Funcio de levar & formaciio de simbolos fica bloqueada, ‘No sequndo aso, que concerne mais particularmente ao tema em discussé adaptagio da mie as alucinagSes e impulsos espontineos do lactente é deficiente, do suficiemtemente boa. O processo que leva 3 capacidade de usar simbolos no se inicis (ou ento se torna fragmentado, com um recuo por parte do lactente dos ye ‘nhos ja atingicio). (Quando a adaptacio da mie ndo é suficientemente boa deinicio, se pode espe rar que 0 lactente morra fisicamente, porque a catexia dos objetos externos no & iniciada, O lactente permanece isolado. Mas na pritica o lactente sobrevive, mas so: brovive falsamente, © protesto contra ser forcado a uma falsa existéncia pode ser discernido desde os estigios iniciais. O quadto clinico é o de iritabilidade genera: lizada, ¢ de distirbios da alimentacdo e outras fungies que podem, contudo, desa- parecer clinicamente, mas apenas para aparecer de forma severaom estigio posterior. [Nesta segunda fase, em que a me ndo pode se adaptar suficientemente bem, 6 lactonte & seduzido & submissio, e um falso se/f submisso reage as exinéncias do meio e 0 lactente parece accitélas. Através deste falso se/f 0 lactente constr! um Ccanjunto de relacionamentos falsos, e por meio de introjegSes pode chegar até uma aparéncia de ser real, de modo que a crianca pode crescer se tornando exatamente como a me, ama-seca, tia, irmo ou quem quer que no momento domine 0 cenério. 0 falso se/f tem uma funcéo positiva muito importante: ocultar 0 sef verdadeiro, 0 ‘que faz pela submissdo as exigéncias do ambiente. ‘Nos exemplos extremos do desenvolvimento do falso se/f, 0 self verdadeiro fiea to bem oculto que a espontaneidade no é um aspecto das experiéncias vividas pelo lactente, O aspecto submissio se tora o principal, com imitag3o como uma especialidade. Quando 0 grau de splitting na personalidade do lactente nio é tio grande, pode haver alguma vida quase pessoal através da imitacio, e pode ser até possivel para a crianca representar um papel especial, o do self verdadeiro como seria se tivesse existéncia, <> - Deste modo é possivel tracar © ponto de origem do falso se/f, que pode en- {Bo fer visto como uma defesa, a defesa contra o que seria inimaginével, a explora lo do s/f verdadero, que resultaria em seu aniquilamento. (Se 0 self verdadeiro choga a sor explorado @ aniquilado, isto é parte da vida de um lactente cuja mae foi ‘go apenas “ndo suficientemente boa", no sentido mencionado acima, mas foi bos @ mé de uma maneira torturantemente irregular. A mie aqui tem como parte de sua doenga uma necessidade de causar @ manter uma confusso naqueles que esto em ‘contato com ela, Isto pode aparecer em uma situagao de transferéncia, em que o pa: ciente tenta irritar o analista (Bion, 1959; Searles, 1959). Pode haver um grau destas ircunstincias que pode destruir os Ultimos vestigios da capecidade do lactente de defender o self verdadeiro. Tentei deservolver © tema da participario da mie em meu estudo sobre "Primary Maternal Preoccupation'” (1956a). A suposicio foita por mim nesso es 134 a wai ia tudo é de que, na normalidade, a mde que fics gravida gradativamente atinge un a 10 grau de identifieacio com seu bebé. Isto se desenvolve durante a gravidez, tem ‘seu pico no periodo perinatal e diminui gradativamente nas semanas e meses apos 0 parto, Este fato normal que acorre as maes tem implicacBes tanto hipocondriacas ‘como narcisistas secundirias, Esta orientacdo especial da parte da mae para corn seu lactente ndo depende apenas de sua propria satide mental mas é afetada também pe- Jo ambiente. No caso mais simples o homer, apoiado pela atitude social que é, em si, um desenvolvimento da funco natural do mesmo, lida com a realidade externa para a mulher, de modo a tornar seguro e razodvel para ela se tornar temporaria: mente introvertide, egoctnirica, Um diagrama disto se parece ao diagrama de uma ‘pessoa ou familia doente de parandia, (Deve-se lembrar aqui Freud [1920] descre- vendo a vesicula viva com sua camada cortical receptiva...) No cabe aqui 0 desenvolvimento deste tema, mas é importante que a funcio dda mie seja compresndida. Essa funcio de modo algum é um desenvolvimento re- ceente, pertencente & civilizagio, sofisticagio ou compreenszo intelectual. Nao se po- de aoeitar nenhuma teoria que no concorde com o fato de que as mies sempre de- ‘sempenharam esta tarefa essencial suficientemente bem. Essa funcao materna essen cial possibilita 8 mae pressentir as expectativas e necessidades mais precoces de seu bebé, e a torna pessoalmente satiseita sentir 0 lactente a vontade. € por causa des ta identificaco com o beb8 que ela sabe como protegé-lo, de modo que ele come- ‘ce por existir e nBo por reagr. Ai se situa a origem do se/f verdadeiro que no po de se tornar uma reslidade sem 0 relacionamento especializado da mie, © qual po dria ser descrito com uma palavra comum: devocio. O self verdadeiro © conceito de um falso self tem de ser contrabalancado por uma formulacio ‘do que poderia, com propriedade, sor denominado se/f verdadeito. No estigio ini tial 0 self verdadeiro & a posicSo tebrica de onde vem 0 gesto espontineo e a idéia pessoal. O esto espontineo & o self verdadeiro em aco. Somente o seff verdadeiro pode ser criativo e se sentir real. Enquanto 0 self verdadeiro é sentido como real, @ ‘existéncia do falso sof resulta em uma sensagdo de irrealidade e em um sentimento de futilidade, (© falso self, se bem sucedido em sua fungio, oculta o self verdadeiro ou en: ‘Bo descobre um jeito de possibilitar a0 s2/f verdadeiro comesar a existir. Tal resut- tado pode ser atingido de varias maneiras, mas observamos mais de perto aquelas circunstincias em que @ sensacio das coisas serem reais ou equivalentes a isso apa- tece durante 0 tratamento. O paciente a cujo caso me referi chegou, préximo do final de uma longa anélise, a inicio de sua vida. Nao carrega nenhuma experiéncia verdadeira, ndo tem passado, Comeca com cinguenta anos de vida desperdicada, ‘mas ao final se sente real, ¢ por isso agora quer viver 136 O self verdadeiro provém da vitalidade dos tecidos corporais e da atuacSo das fungées do corpo, incluindo @ acdo do coracio ¢ a respiracdo. Esta intimamente li sgado a idéia de processo primério e &, de inicio, essencialmente nio-reativo aos es timulos externos, mas primério. Nao ha sentido na formulacdo da idéia do soff ver dadeiro, exceto com o propésito de tentar compreender o falso se/f, porque ele nfo faz mais do que reunir os pormenores da experiéneia de viver. Gradativamente 0 grau de sofisticacdo do lactente se torna tal que é mais cer to se dizer que 0 falso se/f oculta a realidade interna do lactente do que se dizer que ele oculta 0 self verdadeiro. Por esta épocs 0 lactente estabeleceu sua membrana li mitante, tem um interior € um exterior, ¢ se tornou, em grau considerdvel, livre das ‘malitas do cuidado materno. E importante ressaltar que, de acordo coma teoris aqui formulads, 0 concei ‘to de uma realidade individual interna de objetos se aplica ao estégio posterior Sque- le que ver sendo denominado de seif verdadeiro. O se/f verdadeiro aparece logo que ‘hé qualquer organizacdo mental que seja do individuo e isso quer dizer pouco mais do que 0 somatério do viver sensorio-motor, O self verdadeiro rapidamente desenvolve complexidade, e se relaciona com a realidade externa por processos naturais, como os que se desenvolvem no individuo lactente com 0 passar do tempo. O lactente entdo se torna capaz de reagir a estimu: {os sem traumatismo, porque o estimulo tem uma contrapartida na realidade inter- 1a, psiquica, do individuo. O lactente entéo encara todos as estimulos como proje- ‘eBes, mas este & um estégio que ndo é necessariamente atingido, ou que é apenas parcialmente atingido, ou que é atingido e perdido. Tendo este estigio sido atingi do, 0 lactente se torna entio capaz de manter 0 sentimento de onipoténcia, mesmo ‘quando reagindo a fatores ambientais que 0 observador pode discernir como verda- deiramente externos ao lactente, Tudo isso precede de anos a capacidade da crian- ‘¢a.de conceber, no raciocinio intelectual, a operacio de acaso puro. Cada novo periodo de vida em que 0 se/f verdadeiro no foi seriamente inter: rompido resulta no fortalecimento do sentimento de ser real, e com isso vem uma ‘capacidade crescente do lactente de tolerar dois tipos de fendmenos. Estes sio: 1 = Solugdes de continuidade. na vivéncia do se/f verdadeiro, (Aqui se pode. ver “um fddb* Como © processo do nascimento pode ser traumatico, ‘como, por exemplo, quando ha demora sem inconsciéncia. 2—Experitncias do faiso se/f, ou reativo, relacionadas com o ambiente na base da submisséo. Isto se torna a parte do lactente que pode ser (antes do primeiro aniversério) ensinads 2 dizer “Ta”, ov, dito de outro modo, ensinada a reconhecer a existéncia de um ambiente que esté se tornando aceite intelectualmente. Podem se seguir ou niio sentimentos de grat 0 equivalente normal do falso self Deste modo, pelos processos naturais, 0 lactente desenvolve uma organizacio do ego que & adaptada ao ambiente; mas isto no ocorre automaticamente e na ver: 136 dade sb pode ocorrer se antes o self verdadeiro (como eu © chamo) se tornou um realidade viva, por causa da adaptacio suficientemente boa da mae as necessidades vividas pelo lactente. Ha um aspecto submisso do self verdadeiro no viver normal, uma habilidade do lactente de se submeter e de ndo se expor. A habilidade de cor ciliagéo & uma conquista. O equivalente ao se/f verdadelro no desenvolvimento nor mal € aquele que se pode desenvolver na crianca no sentido das boas maneiras 30° Ciais, algo que 6 adaptavel, Na normalidade essas boas maneiras sociais representam ‘uma conciligSo, Ao mesmo tempo, na normaidade, 2 conciliacdo deixa de ser acei tével quando as questdes se tornam cuciais, Quando isso acontece o se/f verdadeiro ‘apaz de se sobrepor ao self conciliador. Clinieamente isto constitui um problema recorrente da adolescéncia Graus de falso self Se a descricio destes dois extremos e sua etiologia é aceita, no nos ¢ dificil ‘achar lugar em nosso trabalho clinica para a possibitidade de um alto ou de um bai x0 grau de falso se/f como defesa, desde 0 aspecto polido normal do self a0 marca ‘damente clivado falso e submisso self, que é confundide com a crianea inteira. Po- dese ver facilmente que muitas vezes esta defesa do falso sc/f pode ser a base de um tipo de sublimago, quando a crianca eresce para se tornar um ator. Com relacio atores, hd aqueles que podem ser eles mesmos e também representar, enquanto hi ‘outros que s podem representar, e que ficam completamente perdides quando no lexercem um papel, ido sendo por isso aprociados e aplaudidos {reconhecidos como cexistentes) No individuo normal, que tem aspecto de sor submisso a0 self, mas que existe que 6 um ser espontineo e criativo, existe ao mesmo tempo a capacidade para o Uso de simbolos. Dito de outro modo, normatidade aqui esta intimamente ligada & capacidade do individue de viver em uma area que é intermediaria entre 0 sonho © 2 ralidade, aquela que é chamada de vida cultural (veja “Transitional Objects and ‘Transitional Phenomena", 1951). Como contraste, onde hi um alto grau de soli ting entre 0 self vordadeiro @ 0 falso self que ocultao self verdadeiro veritice-se pou- ‘ca capacidade para 0 uso de simbolos, e uma pobreza de vida cultural. Ao invés de objetivos culturais, observar-se em tais pessoas extrema inauietacdo, uma incapaci dade de se concentrar e uma necessidade de colecionar itusbes da realidade externa, dde modo que a vida toda do individuo pode ficar cheia de reacies a essas ihwtes Aplicagao clinica Ji se fez referéncia i importancia da identificago da personalidad com falso self quando se esta fazendo um diagnéstico com 0 propssito de avaliagao de um ca 137 s0 para tratamento, ou avaliago de um candi assistoncia social psiquiatrica. to para trabalho psiquiétrico ov de Conseqiiéncias para o psicanalista ‘Se for demonstrado que estas consideragdes so validas, entio o psicanalista treinado deve ser influenciado das seguintes maneiras: €) Na analise de uma falsa personalidade precisa-se reconhecer 0 fato de que o ‘analista sé pode falar 20 falso self do paciente sobre seu self verdadeiro. ‘como se uma enfermeira trouxesse uma crianca e de inicio o analista discu- tisse 0 problema da crianga sem manter contato direto com a crianca. A anélise nfo comeca até que a enfermeira deixe a crianca com o analista e a crianga se torne capaz de ficar s6 com ele e comece a brinear. bb) No ponta de transieo, quando o analista comeca a entrar em contato com © self verdadeiro do paciente, deve haver um periodo de extrema depen- déncia, Iso muitas vezes no é percebido na pritica analitica. O paciente tem uma doenga, ou de algum outro modo dé ao analista a oportunidade de personificar 0 falso self (ama-seca), mas 0 analista neste ponto falha em verificar 0 que esté ocorrendo; em conseqiéncia so outtos que tomam conta do paciente ¢ dos quais © paciente se torna dependente em um pe- iodo de regressio disfarcada & dependéncia, ¢ a oportunidade é desperdi- cade. €) Analistas que no esto proparados para satisfazer as grandes necessidades dos pacientes que se tornam dependentes deste modo devem ter cuidado 20 escolher os seus casos de modo a nio incluir entre eles tipos com falso self No trabalho psicanalitico 6 posstvel se ver andlises continuar indefinidamente porque so feitas na base do trabalho com o falso se/f. Em um caso, com urn pacien®= ‘te masculino que tina tido uma andlise de duracio considerdvel antes de vir a mim, meu trabalho com ele realmente comecou quando Ihe tomei claro que reconhecia sua nio-existéncia. Ele me observou que em todos aqueles anos todo o bom traba- tho realizado com ele tinha sido indtil, porque tinha sido feito sob a premissa de uando ele apenas existia falsameente. Quando eu disse que reconhe- ncia, ele sontiv que tinha se comunicado pela primeira vez. 0 que ‘le quis dizer foi que sou self verdadeiro, que tinha estado oculto desde a inféncia, ‘tinha agora estabelecido comunicagdo com seu analista da Gnica maneira que no era perigosa. Isto 6 tipico do modo como este conceit afeta o trabalho psicana- Iitico. i referéncia a alguns outros aspectos deste problema clinico. Por exemplo, ‘em "Withdrawal and Regression” (1954a), tracei no tratamento de um homem a ‘evolugio na transferéncia de meu contato com (sua versio de) um falso self, através id lt de meu primeiro contato com seu se/f verdadeiro, a uma anilise do tipo direto. Nes te caso 0 recuo teve de ser convertido em regressio, como foi descrito naquele estir o. Um principio pode sor enunciado, © de que na rea do falso se/f na prética “analitica verificamos fazer mais progresto ao reconhecer a nao-existéncia do pacien: te do que ao trabalhar longe ¢ continuadamente com o paciente na base de mecanis ‘mos de defesa do ego. 0 fako self do paciente pode colaborar indefinidamente com © analista na andlise das de‘esas, estando, por assim dizer, do lado do analista, neste jogo. Este trabalho infrutf‘ero $6 & encurtado com éxito quando o anafista pode apontar e especificar a ausincia de alum aspecto essencial: “'Vocé no tem boca”, "Noeé ainda nao comecou a existe", “Fisicamente voot € um homem, mas voc’ rio sabe por experiéncia nada sobre masculinidade”, e assim por diante, Esses reco inhecimentos de um fato importante, tornados cleros no momento exato, abrem ca- ‘minho para a comunicagéo com 0 se/f verdadeiro, Um paciente que teve muita and: lise inditil na base de um falso self, cooperando vigorosamente com um analista que pensava ser aquele seu se/f integral, me disso: “A Gnica vez que senti esperanca foi ‘quando vocé me disse no ver esperanca, @ continuou com a andliso” Baseado nisso pode-se dizer que o falso self (como as projecées méltiplas em estagios posteriores do desenvolvimento) ilude o analista se este falha em verificar fue, encarado como uma pessoa atuante integral, 0 falso self, no importa quiio bem se posicione, carece de algo, e este algo 6 0 elemento central essencial da origi nalidade eriativ [Muitos outros aspectas da aplicacdo deste conceito serio descritos com o term po e pode ser que em alguns aspectos o conceito emi tenha de ser modificado. Meu “objetivo ao expor esta parte de meu trabalho (que se relaciona com o trabalho de outros analistas) & manter 0 ponto de vista de que este conceito moderno de falto self ocultando 0 self verdedeiro, jumtamente com a tooria de sua etiologia, & capaz de ter um efeito importante no trabalho psicanalitico. Tanto quanto posso discer nit, i80 no implica nenhuma mudanca importante na teoria bisica da psicanélise. 139

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