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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE JOÃO PESSOA – PB

MARIA DOLORES DE OLIVEIRA, brasileira, casada, funcionária pública federal,


residente e domiciliada à Av. Rui Carneiro, 12, (bairro), nesta Capital, por sua advogada que esta
subscreve, vem respeitosamente a presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de PREÇO BOM LTDA., pessoa jurídica de Direito Privado, inscrita no CNPJ sob o nº
(...), situada às margens da BR-230, Cabedelo, com fulcro das disposições legais pertinentes, pelos
motivos fatídicos e jurídicos a seguir apresentados:

DOS FATOS

No dia 29 de janeiro do corrente ano, a Requerente dirigiu-se ao Supermercado “Preço Bom”,


localizado às margens da BR-230, doravante denominado Requerido, para comprar alguns produtos
de limpeza e gêneros alimentícios, como sempre procedeu.

Até este momento tudo correu dentro dos moldes previstos. Ocorre que, ao sair da loja foi
surpreendida pelo disparo do alarme antifurto da referida empresa. De pronto, o segurança
aproximou-se lhe pedindo que abrisse o pacote que conduzia, e apresentasse a nota fiscal das
mercadorias.

Percebe-se o constrangimento vivenciado pela Promovente, uma vez que a compra realizada
estava eivada de idoneidade, conforme nota fiscal anexa (se tiver). Todavia, o fato ocorrido não
condiz com o direito e a justiça.

A Promovida vasculhou as compras para averiguar se havia algo de errado. Pois bem, ao
fazer isso, constatou-se que ao passar as compras, a caixa, funcionária da empresa ora ré, esqueceu
de retirar o selo magnético contido nos produtos, que se presume, ser para evitar os imprevistos de
furto.

Sendo que, por negligência, da ora Promovida, a Promovente atravessou percalços e


incidentes que geraram uma situação vexatória que ora se relata.

Ora Excelência, diante da conduta ilibada praticada pela autora, o ocorrido não se justifica,
uma vez que, acionado o alarme, olhares incriminadores e curiosos dos clientes do supermercado e
de todos que por ali passavam no momento do fato, foram lançados contra a consumidora que nada
fez para se encontrar nessa situação.

Por tanto, não se trata de um mero dissabor, mas sim de erro grave que constrangeu por
demais a Promovente, violando a sua personalidade e intimidade.

DO DIREITO

Conforme demonstrado atraves dos fatos, se fez notar que a Autora sofreu Danos Morais, uma
vez que conforme dispõe a Carta Magna em seu artigo 5º, inciso X, preconiza que:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado direito
a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;(...)”.

Assim, a Constituição Federal ao consagrar em seu art.5º, a tutela do direito à indenização por
dano moral ou material decorrente de violação de direitos fundamentais, garante a reparação dos
prejuízos morais e materiais causados ao ser humano. Tal dispositivo assegura o direito da
preservação da dignidade da pessoa humana, da intimidade e da intangibilidade dos direitos da
personalidade. Caminhando nesse sentido podemos afirmar que o dano moral é aquele que fere os
direitos relativos à personalidade, no caso da Requerente o Dano Moral sofrido pode ser chamado de
Dano Moral Direto visto que lesou especificamente um direito extra patrimonial.
Acompanhando o pensamento da Carta Magna, o Doutrinador Carlos Alberto Bittar assevera
que:

"Havendo dano, produzido injustamente na esfera alheia,


surge a necessidade de reparação, como imposição
natural da vida em sociedade e, exatamente, para a sua
própria existência e o desenvolvimento normal das
potencialidades de cada ente personalizado. É que
investidas ilícitas ou antijurídicas ou circuito de bens ou
de valores alheios perturbam o fluxo tranqüilo das
relações sociais, exigindo, em contraponto, as reações
que o Direito engendra e formula para a restauração do
equilíbrio rompido.”

Diante do caso em comento, vale transcrever inicialmente o disposto no Código de Defesa do


Consumidor no art. 6º, incisos VI e VII, que explicita os direitos básicos do consumidor, Dentre eles
vemos a inexorável a necessidade de preservação da segurança do consumidor no estabelecimento,
proporcionando o conforto devido, respeitando sua integridade.

E ainda a prerrogativa de pleitear pelos danos causados que decorrem de práticas abusivas,
que transgridem a figura do consumidor.

“(...) VI – a eletiva prevenção e reparação


de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;

VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos,


com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica
aos necessitados;”

Trazemos à baila também o Código Civil vigente, mais especificamente o art. 186, que
esclarece que a negligência causada configurou num ilícito. E conjuntamente com o art. 927 do
mesmo diploma legal, deflagrou no dever de reparo por parte do ofensor, ainda que exclusivamente
moral.

“art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art.927- Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187),


causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.”

O parágrafo único do art.927 do CC está justamente inserido de forma a representar o Código


de Defesa do Consumidor, art., 14, ao mencionar que o causador do dano deve reparar a lesão
independentemente de culpa, nos casos previstos em lei. Esta Lei, no presente caso, é justamente o
CDC. Posição que também é corroborada pelo art.932 do CC que retira qualquer possibilidade do
Promovido se eximir de sua responsabilidade, por causa da atitude não observada pela sua
funcionária, que gerou esse conflito.

“Art. 932 – Também são responsáveis pela reparação


civil: III – o empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que o competir, ou em razão dele.”

Os Tribunais pátrios já decidiram casos análogos ao presente, consolidando entendimento no


sentido ao cabimento da indenização pela exposição do cliente a situação vexatória no interior de
estabelecimento comercial. Para uma melhor elucidação, vejamos o que fala o Superior Tribunal de
Justiça e demais tribunais a respeito desse assunto:
“DANO MORAL. REVISTA EM SUPERMERCADO. SOAR DE ALARME ANTI FURTO.
ABUSIVIDADE DA CONDUTA. QUANTIFICAÇÃO.
É abusiva a conduta da ré que submete os autores à verificação das compras adquiridas e conferência
com a nota fiscal, diante de inúmeros curiosos, em função de ter soado o alarme quando deixavam o
estabelecimento – o que só foi causado em função de ter ficado preso em um dos produtos adquiridos
uma etiqueta magnética de preços. Fato que poderia ser verificado na hora, sem causar situação
vexatória. Na quantificação da reparação do dano moral, além de outros critérios, deve ser levada em
conta a situação sócio-econômica da ofendida e do ofensor. Ainda, deve ser tal que sirva para coibir
a reiteração da prática do ilícito sem, no entanto, proporcionar enriquecimento sem causa para quem
recebe. Quantia que, no caso, se mostra adequada e consentânea às circunstâncias e peculiaridades da
demanda.
Apelo e recurso adesivos improvidos.”
(Apelação Cível Nº 70003975505, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Des.
Marco Aurélio dos Santos Caminha, Julgado em 03/10/2002)
"DANO MORAL - ART. 5º/CF, X - ESTABELECIMENTO - Defeito no sistema de ALARME
antifurto - Constrangimento de cliente - INDENIZAÇÃO devida. (Relator: Roney Oliveira -
Tribunal: TA/MG). Responsabiliza-se, a título de indenização por dano moral, o estabelecimento
comercial que expõe publicamente o cliente a situação constrangedora, em decorrência do
acionamento indevido de alarme antifurto, descabendo alegar legítima defesa do patrimônio,
conceito que não se sobrepõe à honra e à dignidade do cidadão." (TA/MG - Ap. Cível nº 171.069-6 -
Comarca de Juiz de Fora - Ac. unân. - 1ª. Câm. Civ. - Rel.: Juiz Roney Oliveira - Fonte: DJMG,
09.06.94, pág. 12)

De pronto, nota-se que a Requerente sofreu um constrangimento desnecessário e injustificado, que


poderia ter sido resolvido de maneira diferente. O disparo do alarme configura indenização, tendo em
vista a vergonha que ela passou perante um grande número de pessoas que acompanharam o
fato.Obsta verificar que a obrigação de indenizar advinda da humilhação sofrida pela Requerente no
âmbito de seu convívio social encontra largo amparo na doutrina, legislação e jurisprudência de
nosso tribunais, não restando dúvidas a respeito da obrigação de indenizar do Requerente.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer que V. Exa. julgue totalmente procedente os pedidos formulados
nesta ação, determinando:

 A citação da Requerida na pessoa de seu representante legal para, querendo apresentar


contestação à presente ação, no prazo legal, sob pena de revelia.

 Que a Requerida seja condenada a pagar a valor pecuniário arbitrado por V. Exa. à
título de danos morais, pelos abalos sofridos, constrangimento e aborrecimentos
decorrentes do equívico.

 A inversão do ônus da prova em favor da Autora, conforme autoriza o art. 6º, VIII, do
Código de Defesa do Consumidor.

Dar-se a causa o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reias.

Nestes termos,

Pede deferimento.
João Pessoa, 24 de Fevereiro de 2011.

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