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TEMAS: DA HABILITAÇÃO

(687 A 692, CPC)

CURITIBA

2020
DA HABILITAÇÃO

CURITIBA

2020

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................4
2 - PROCEDIMENTO ESPECIAL.........................................................................5
3 - MODELO DE PETIÇÃO INICIAL.....................................................................7
4 - ESTUDO DE CASO.........................................................................................9
5 - CONCLUSÃO................................................................................................12
REFERENCIAS.................................................................................................. 14
1 - INTRODUÇÃO
“Dá-se o nome de habilitação ao procedimento especial que visa a trazer
os sucessores da parte falecida para o processo, de modo a viabilizar seu
prosseguimento” (wambier, Correia de Almeida e Talamini, Curso Avançado de
Processo Civil)

A habilitação, que pode se dar em qualquer processo, e em qualquer


fase procedimental, pode ser requerida tanto pela parte, em relação aos
sucessores do falecida (art 688, I, cpc), como pelos sucessores do falecido,
em relação à parte contrária (art 688, II, cpc).

No presente trabalho vamos discorrer sobre dois temas do artigo 687 a


692, do Código de Processo Civil, e vamos analisar como que funciona este
procedimento especial e quais as regras.
2 - PROCEDIMENTO ESPECIAL
A morte de qualquer das partes ocasiona a suspensão do processo (art.
265, I e art 313, I, CPC), porque é necessário que os sucessores do falecido
venham integrar a relação jurídica processual, para que esta possa continuar
seu desenvolvimento regular. Como exceção podemos citar a hipótese em que
a ação é intransmissível, quando estão ocorrerá a extinção do processo (art.
267, IX e 485, IX, CPC).

Á luz do Código de Processo Civil, os artigos 687 a 692, diz que:

“DA HABILITAÇÃO
Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de
qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe
no processo.
Art. 688. A habilitação pode ser requerida:
I - pela parte, em relação aos sucessores do falecido;
II - pelos sucessores do falecido, em relação à parte.
Art. 689. Proceder-se-á à habilitação nos autos do processo
principal, na instância em que estiver, suspendendo-se, a partir
de então, o processo.
Art. 690. Recebida a petição, o juiz ordenará a citação dos
requeridos para se pronunciarem no prazo de 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. A citação será pessoal, se a parte não
tiver procurador constituído nos autos.
Art. 691. O juiz decidirá o pedido de habilitação
imediatamente, salvo se este for impugnado e houver
necessidade de dilação probatória diversa da documental, caso
em que determinará que o pedido seja autuado em apartado e
disporá sobre a instrução.
Art. 692. Transitada em julgado a sentença de habilitação, o
processo principal retomará o seu curso, e cópia da sentença
será juntada aos autos respectivos.”

A habilitação ao procedimento especial nada mais é que, trazer os


sucessores da parte falecida para o processo, de modo a viabilizar o seu
prosseguimento (art. 687, cpc).
A habilitação, que pode se dar em qualquer processo, e em qualquer
fase procedimental, pode ser requerida tanto pela parte, em relação aos
sucessores do falecida (art 688, I, cpc), como pelos sucessores do falecido,
em relação à parte contrária (art 688, II, cpc).

Para a realização do referido procedimento inicia-se com uma petição


inicial, com os requisitos do art. 319, cpc, onde o requerente expõe a qualidade
de sucessor, do autor ou do réu, conforme o caso, indicando em relação a qual
feito pretende-se a habilitação, e requer a citação da outra parte, que será o
réu de habilitação, citação esta que deverá ser pessoal, exceto se a parte tiver
procurador na causa principal (art. 690, parágrafo único).

O prazo para contestar é de cinco dias (art. 690, cpc). Não se pode,
nesta ação, discutir matéria distinta da que lhe deu causa: a sucessão. Logo,
tanto a inicial quanto a contestação devem cingir-se à questão relativa à
condição de sucessor do autor (do processo de habilitação).

A habilitação será julgada por sentença, tendo ou não havido


contestação e sendo ou não necessária a produção de provas. O julgamento,
como já se indicou, respaldar-se em cognição sumária.

A habilitação como mero incidente no processo em curso: a regra geral


passa a ser o procedimento de habilitação “nos autos do processo principal, na
instância em que estiver, suspendendo-se, a partir de então, o processo
(art. 689, cpc). Por outro lado, o art. 691, do cpc, prevê que, “o juiz
decidirá o pedido de habilitação imediatamente, salvo se este for
impugnado e houver necessidade de dilação probatória diversa da
documental, caso em que determinará que o pedido seja autuado em
apartado e disporá sobre a instrução”.

Pode não ser necessária ação especial para a habilitação,


processando-se nos autos da causa principal e independentemente de
sentença, quando for promovida pelo cônjuge e herdeiros necessários,
desde que haja prova documental do óbito e da qualidade de sucessores.

Ademais, como a doutrina aponta, se não houver absolutamente


nenhuma disputa acerca de quem são os sucessores da parte, nem
mesmo será necessário desenvolver-se propriamente um incidente no
processo, tendo por objeto a habilitação, cabendo ao juiz apenas deferir a
sucessão de partes no processo. Esta decisão será interlocutória,
passível, portanto, de agravo de instrumento.

Encerrando a habilitação, com ou sem sentença, ou seja, se o juiz


reconhecer a condição de sucessor, ou tal reconhecimento se mostrar
desnecessário, ocorre a sucessão processual na causa principal, que retomará
o seu curso.

Após a qualificação, o cadastro mestre terá um andamento padronizado.


No entanto, fez outros julgamentos: “Processo civil. Previdenciário. Agravo de
instrumento. Habitação. Herdeiros necessários. Citação. Desnecessidade. Art.
1060, inciso I, do CPC, Recurso não provido. I – Trantando-se de herdeiros
necessários, a habilitação processar-se-á nos autos principais, sem querer
que haja necessidade de prolação de sentença, desde que fique
comprovado o óbito da parte a ser substituída e a qualidade dos sucessores
requerentes (CPC, art. 1060, I)”. (TRF3, AG6913 sp 2005.03.00.006913-5 j.
13.11.2006).

3 - MODELO DE PETIÇÃO INICIAL


A petição inicial deve conter os requisitos do artigo 319, do Código de
Processo Civil, na qual o requerente expõe a qualidade de sucessor, do autor
ou do réu, conforme o caso, indicando-se em qual feito pretende-se a
habilitação, e requer a citação da outra parte, que será o réu da habilitação.

O modelo de petição seria:

“EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA VARA XXX DA COMARCA DE XXX


Distribuição por dependência ao processo nº XXXXX

NOME DO AUTOR, estado civil, profissão, inscrito no RG sob o nº XXXXX e no


CPF sob o nº XXXX, domiciliado no endereço Xxxxxxxxxxxxxxxxxxx, com e-
mail: xxxxxxxxx, vem à presença de Vossa Excelência, com elevado
acatamento, com fundamento nos artigos 687 a 692 do novo Código de
Processo Civil, propor
AÇÃO DE HABILITAÇÃO

em face de PARTE OPOSTA , brasileiro, solteiro, inscrito no RG sob o nº


XXXXX e no CPF sob o nº XXXXXXXX, domiciliado na Rua
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, nº xxx, bairro Xxxxxxx, Cidade (UF), CEP
xxxxxxxxx, com e-mail: xxxxxxxxx, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos.
FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS
O autor vem, por meio desta, requerer habilitação como parte do processo nº
XXXXX que tramita perante este juízo em virtude de ser o sucessor da parte
XXXX, falecida em XXX, como pode se comprovar na certidão de óbito e nos
termo de partilha em escritura pública, arroladas aos documentos que instruem
esta exordial (doc x) e (doc xx).

Assim se procede ante a exigência do art. 689 do CPC, de habilitação do


sucessor ante à parte no processo em que figura o falecido, com a suspensão
do processo principal até o julgamento da presente.
PEDIDOS
Diante do exposto requer:

A) A procedência da ação de habilitação para a substituição na ação de nº


XXXXX da parte falecida pelo autor da habilitação.

B) A suspensão da ação de nº XXXXX até o julgamento desta habilitação, e


após o seu trânsito em julgado, a retomada da ação principal.

C) A citação do requerido, nos termos dos arts. 246, 247 e 248, para querendo
contestar à presente ação no prazo de 15 dias (art. 335), sob pena de não o
fazendo serem os fatos considerados verdadeiros (art. 341 CPC).
Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em
direito, especialmente pelos documentos juntados e se necessário pelo
depoimento pessoal das partes.
Dá-se a causa o valor de R$ xxxxxxx (xxxxxxxxxxxxx), nos termos do inciso II
do artigo 292[1] do Novo Código de Processo Civil.
Termos em que pede deferimento.

Cidade (UF), data.

________________________

Advogado
OAB/UF XXXX

ROL DE DOCUMENTOS:
1. Procuração e documentos pessoais;

2. Declaração de hipossuficiência e comprovante de renda;

3. X

4. X

5. X”

4 - ESTUDO DE CASO – ANÁLISE FÁTICA E


JURISPRUDENCIAL

A partir de toda a exposição jurídica do estudo acima, é interessante


verificamos o emprego do instituto da Habilitação e demonstrarmos o seu valor
e importância na prática jurídica com a análise dos conflitos postos nas
situações fáticas e ementas jurisprudenciais elencadas a seguir:

a) Caso 1: Ação incidente de habilitação manejado pelo município de Manaus


em face diretamente dos sucessores da parte ré falecida referente à ação
rescisória com o objetivo de desconstituição da sentença já transitada em
julgado, ou seja, da qual já não caiba mais qualquer recurso, quando há a
presença de vício que a torne anulável. Um dos sucessores se manifestou
informando da existência de espólio representado por inventariante já
constituído implicando na emenda da ação pelo ente municipal que solicitou a
substituição dos sucessores, indicados anteriormente de forma direta para o
polo passivo, pelo espólio da parte falecida representado pela pessoa do
inventariante. A partir do exposto, verificamos abaixo a ementa da decisão de
PROCEDÊNCIA do pedido de habilitação realizada pelo município de Manaus
e depois passamos para uma breve análise jurídica do caso em destaque:

HABILITAÇÃO. MORTE DAS PARTES. CABIMENTO. REVELIA.


PRESUNÇÃO DA VERACIDADE DOS FATOS ALEGADOS PELO AUTOR.
PROCEDÊNCIA. I – A habilitação é o procedimento especial através do qual
os sucessores das partes ingressam em juízo para recompor a relação
processual afetada pela morte de um dos sujeitos que a integraram em sua
formação inicial. II – Uma vez que todos os requeridos foram citados e, não
tendo apresentado contestação, operou-se o efeito da revelia de presunção de
veracidade dos fatos alegados pelo autor. Não subsiste, dessa forma, nenhum
argumento que conduza à conclusão de que os requeridos não são os
sucessores dos falecidos. III Habilitação julgada procedente. (TJ-AM -
Habilitação: 40039706420148040000 AM 4003970-64.2014.8.04.0000, Relator:
João de Jesus Abdala Simões, Data de Julgamento: 28/07/2015, Câmaras
Reunidas, Data de Publicação: 29/07/2015).

Análise jurídica: verifica-se neste caso que houve um pedido de habilitação


requerida pela parte autora (município de Manaus) em relação aos sucessores
do falecido (parte ré) amparada pelo Artigo 687 e 688 do CPC de 2015.
Percebe-se também que a habilitação foi solicitada após o trânsito em julgado
de ação de origem de toda a demanda judicial onde verifica-se claramente a
aplicação do Artigo 689 do CPC/2015 que determina que a ação de habilitação
pode ser solicitada em qualquer instância do processo principal. Como havia
um desconhecimento do município da existência de espólio referente ao de
cujus num primeiro momento, houve a citação direta e pessoal de todos os
sucessores por meio de emenda à inicial aceita imediatamente pelo juízo
possibilitado pelo Artigo 690 e 691 do CPC/2015 já que não houve relato de
impugnação e necessidade de instrução probatória diversa da documental.
Desta forma, verificamos que as especificidades deste caso percorrem quase
todos os artigos que tratam do procedimento especial da Habilitação contidos
no Processo de Código Civil de 2015.

Caso 2 – Ação de habilitação, nos autos principais, realizada pelos sucessores


do de cujus autor da ação principal de cobrança contra banco privado
comercial (Unibanco) com objetivo da obtenção das restituições relativas aos
expurgos inflacionários dos Planos Bresser, Verão, Collor I e Collor II. Houve
decisão de PROCEDÊNCIA do pedido conforme a ementa abaixo e
posteriormente passamos para a análise jurídica sucinta e especificidades do
caso:

PROCESSUAL CIVIL. PROCEDIMENTO DE HABILITAÇÃO NOS AUTOS


PRINCIPAIS. FALECIMENTO DO PROMOVENTE. PEDIDO FORMULADO
PELOS SUCESSORES DO DE CUJUS. INTELIGÊNCIA DO ART. 687 DO
CPC. ANÁLISE NESTA INSTÂNCIA RECURSAL. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO. DILAÇÃO PROBATÓRIA DESNECESSÁRIA. PROVAS
DOCUMENTAIS SUFICIENTES. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Uma vez
determinada a suspensão processual e considerando a ausência de
impugnação da parte adversa bem como a desnecessidade de dilação
probatória diante da exibição da certidão de óbito, da certidão de casamento do
de cujus e, por fim, da certidão de nascimento dos filhos e herdeiros
necessários; o deferimento imediato do pedido de habilitação é medida que se
impõe. (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº
00009493220098152001, - Não possui -, Relator JOSE FERREIRA RAMOS
JUNIOR , j. em 19-11-2019).

Análise jurídica: Na decisão de procedência proferida, o juízo fundamentou


sua decisão de deferimento imediato do pedido incidental de habilitação dos
sucessores da parte nos ditames do artigos 687 a 692 do CPC de 2015
realizando a suspensão do processo na fase em que se encontrava e citando
a parte contrária (Unibanco) para possível manifestação. Diante da falta de
impugnação do Banco requerido e da exibição dos documentos de certidão de
óbito, certidão de casamento e documentos civis dos sucessores – cumpriu o
juízo integralmente o artigo 691 do CPC/2015
5 - CONCLUSÃO

É notável a relevância do procedimento especial de habilitação em processos


judiciais, previsto nos artigos 687 a 692 do CPC/2015, já que este possibilita o
prosseguimento do litígio diante do falecimento de qualquer uma das partes e
seja possível, assim, a sucessão na lide pelos interessados passíveis de
ingressarem na lide em qualquer fase do processo, excetuando-se pela sua
não admissão em ações intransmissíveis como o mandato de segurança que
possui natureza personalíssima da ação. A habilitação processual é a forma
estabelecida pela lei para a continuidade da relação processual que foi
paralisada pelo acontecimento natural morte de uma das partes impedindo,
assim, que o processo seja finalizado. Assim, a habilitação, em regra, pode
ser requerida tanto pela parte em relação aos sucessores do falecido, como
pelos sucessores do falecido em relação à parte (artigo 688) e o procedimento
especial será recebido nos autos do processo principal na fase processual em
que este se encontrar acarretando a suspensão do processo, a partir de então
(Artigo 689). Em regra, não há previsão legal de prazo para a suspensão do
processo e, consequentemente, não há a possibilidade prescrição
intercorrente que se dá pela perda do direito de ação pela inércia da parte por
um período determinado culminando na extinção do processo (artigo 921 do
CPC/2015). O juízo competente citará os requeridos para manifestação no
prazo de 5 (cinco) dias, após o recebimento da petição de habilitação, de
modo pessoal caso não exista procurador constituído nos autos (Artigo 690). A
decisão para o pedido de habilitação deve ser realizada imediatamente pelo
juiz quando não houver impugnação nem necessidade de provas que não
sejam documentais – caso contrário, o pedido de habilitação será autuado
apartadamente e será determinada a instrução probatória (Artigo 691). O juiz
decidirá por sentença sobre a sucessão processual. Somente após o trânsito
em julgado e juntada da cópia da sentença de habilitação aos autos de origem,
é que será retomada o curso do processo principal. (Artigo 692). Os recursos
cabíveis contra a sentença referente à habilitação proferida pelo juízo
competente são de apelação ou agravo de instrumento – conforme Medina
(2010, p. 323): “o pedido de habilitação será decidido por sentença, nos termos
do art. 1062 do CPC. O recurso cabível será o de apelação. Caso a habilitação
seja deferida nos termos do art. 1.060 do CPC, a decisão será objeto de agravo
de instrumento.” Após este breve resumo do tema abordado neste trabalho,
destacamos que a análise jurídica dos estudos de casos apresentados
contribui para enfatizarmos a importância do procedimento e lança um olhar
atual e realista da instrumentalização do instituto da habilitação processual na
prática jurídica.
REFERENCIAS

ARAÚJO, Fábio Caldas de; GAJARDONI, Fernando da Fonseca; MEDINA,


José Miguel Garcia. Procedimentos cautelares e especiais: ações
coletivas, ações constitucionais, jurisdição. Vol. 4. 2 ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

AZEVEDO, Flavio Olimpio; MENDONÇA, Fernanda Hideki; BORGUEZÃO, Suzi


Elisa da Silva. DA HABILITAÇÃO, comentado. Disponível em:
<https://www.direitocom.com/novo-cpc-comentado/capitulo-ix-da-habilitacao>.
Acessado em: 29 set 2020.

HABILITAÇÃO – artigos 687 a 692, CPC. Direção: Artur Diego Amorin Vieira.
Produção: Artur Diego Amorin Vieira. Canal: Anotações de Processo Civil, 21
out 2019. Youtube, 9:30.

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