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Reforma Previdenciária (EC 103/2019): Breves considerações

CURITIBA

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Reforma Previdenciária (EC 103/2019): Breves considerações

CURITIBA

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................5

2 - BREVE ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES..........................................................6

2.1 Aposentadoria: idade mínima/tempo de contribuição/regras transição........6

2.2 Aposentadoria Especial................................................................................9

2.3 Aposentadoria por incapacidade permanente ...........................................10

2.4 Pensão por morte ......................................................................................11

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 13

REFERÊNCIAS
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Resumo

Este trabalho tem por objetivo traçar, em linhas gerais e sucintas, algumas das
principais alterações da Reforma Previdenciária Brasileira realizada pela Emenda
Constitucional 103/2019. A emenda constitucional referenciada trouxe critérios mais
rígidos para as regras de acesso à aposentadoria com alterações nas formas de
cálculo que afetaram o regime relativo aos trabalhadores do setor privado (Regime
Geral de Previdência Social – RGPS) tanto quanto o regime relativo aos servidores
públicos federais (Regime Próprio de Previdência Social – RPPS) e outras
alterações de natureza previdenciária.
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Introdução

A Declaração Universal dos Direitos Humanos determina no seu artigo XXV: “ Toda
a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade”. (LAFER,2020). Assim, a partir da consideração
destes importantes princípios universais vinculados ao trabalho, a Constituição
Federal de 1988 buscou contemplar diversas inovações de cunho previdenciário
com o objetivo de promoção do bem-estar social e dignidade da pessoa humana
com base inciso III do seu artigo 1º bem como pelo determinado no seu artigo 6º : “
São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Entretanto, na contramão destes objetivos universais e constitucionais primordiais –


no ano de 2019, o presidente eleito - Jair Messias Bolsonaro, apresentou a
Proposta de Emenda à Constituição nº 6/2019 que culminou na Emenda
Constitucional 103/2019, promulgada no dia 12 de novembro de 2019 pelo
Congresso Nacional e que deu origem à Reforma da Previdência de maior
abrangência e complexidade estrutural, em relação às demais, que levou a alcunha
de “Nova Previdência Social” pelo Governo Federal. O novo comando constitucional
alterou o sistema de previdência social, estabeleceu regras permanentes (que
substituem as regras anteriores visando os beneficiários futuros), de transição (para
aqueles contribuintes já vinculados ao regime anterior mas que ainda não
satisfizeram os requisitos necessários) e transitórias (que entraram em vigor
imediatamente à promulgação da emenda e sujeitas à legislação infraconstitucional
futura) pertinentes à seguridade social e promoveu um movimento de
desconstitucionalização de determinadas matérias e constitucionalização de outros
temas. (SARAU, 2019, p.1 a 2).

As alterações realizadas pela EC 103/2019, relativas à Previdência Social,


alcançaram todo o sistema previdenciário brasileiro tanto em relação aos Regimes
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Próprios de Previdência Social (referente aos servidores públicos) quanto ao


Regime Geral de Previdência Social (referente aos trabalhadores do setor privado) e
envolveu as questões da concessão dos benefícios previdenciários e seu
financiamento – com a exceção do regime previdenciário dos militares que foi
alterado em lei própria – a Lei nº 13.954/2019. (SARAU, 2019, p.2).

Com base em Cândido e Costa (2019, p.16), apontamos algumas das principais
alterações, dentre os diversos pontos de mutação, referentes à atual reforma
previdência brasileira: a) aumento das idades mínimas necessárias para a obtenção
de aposentadorias; b)sistemas de pontos para a aposentadoria; c) modificações nas
regras de aposentadoria especial, aposentadoria por invalidez e pensão por morte;
d) àquelas relativas à contribuição previdenciárias dos empregados; e)àquelas
referentes ao cálculo da renda mensal da aposentadoria com redução do benefício a
partir de regras mais duras; f) a busca de simetria das regras aplicadas ao serviço
público e setor privado; g) constitucionalização/desconstitucionalização de algumas
matérias e maior rigidez nas regras de transição dos regimes, entre outros

2. Breve análise das alterações

Neste trabalho, faremos sucinta análise de algumas destas principais alterações


referente ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

2.1 Aposentadoria – idade mínima e tempo de contribuição

Uma das principais mudanças realizadas pela EC 103/2019 foi a fixação de idade
mínima para a obtenção das aposentadorias. Antes da edição da emenda
constitucional, a Constituição Federal, no artigo 201 § 7º, determinava dois tipos de
aposentadorias: a) por idade com estabelecimento de um certo período de
contribuição; b) por tempo de contribuição independentemente da idade mínima para
o benefício. A partir da EC 103/2019, a aposentadoria por tempo de contribuição
deixou de existir, houve a unificação dos requisitos de idade e tempo de
contribuição e passou a ser estabelecido uma única forma de aposentadoria por
idade mínima, mas que também exige um considerável tempo de contribuição para a
sua obtenção – ou seja: passa a ser necessário cumprir os dois requisitos mínimos
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simultaneamente para a concessão da aposentadoria. Desta forma, há a exigência


de idade mínima de 65 anos para aposentadoria masculina, 62 anos para a
aposentadoria feminina e ainda prazo mínimo de 20 anos de contribuição para a
previdência. Outra modificação foi o da utilização da média de 100% das
contribuições, com um percentual inicial de 60% sobre a média com acréscimo de
2% a cada ano – que leva à necessidade de 40 anos de contribuição para o
alcance de 100% da média salarial. No regime anterior, a média era calculada por
meio das 80% maiores contribuições com utilização de percentual de 70% inicial,
com acréscimo de 1% a cada ano superior à contribuição mínima de 15 anos.
Desta forma – para alcançar 100% da média no antigo regime, seria necessários 30
anos de contribuição. Com a reforma também houve aumento das alíquotas de
variação para todas as faixas de contribuição, exceto a primeira. Assim, além de
maior tempo de contribuição para alcançar o teto de 100%, ainda se pagará mais
por isto. (CÂNDIDO E COSTA, 2019, p. 16 a 18).

Regras de transição

Baseando-se em PANTALEÃO (2019), compilamos as regras de transição que


foram criadas para o estabelecimento de um período de adaptação para aquele
segurado que ainda não preencheu os requisitos para o alcance do direito à
aposentadoria pelas regras antigas.

A Reforma da Previdência trouxe cinco regras de transição para a obtenção do


benefício da aposentadoria conforme descritas a seguir:

1ª Regra de Transição – Aposentadoria por Pontos

O segurado precisa atender aos seguintes quesitos cumulativamente, conforme


artigo art. 15 da Emenda Constitucional 103/2019:

- Mulher: 30 anos de contribuição + idade em 2019, de modo que a soma totalize


86 pontos;

- Homem: 35 anos de contribuição + idade em 2019, de modo que a soma totalize


96 pontos;
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A pontuação acima é acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de:
100 pontos, se mulher; e 105 pontos, se homem - a partir de 1º de janeiro de 2020.

2ª Regra de Transição – Idade Mínima + Tempo de Contribuição

 O segurado precisa atender aos seguintes quesitos cumulativamente, conforme


artigo art. 16 da Emenda Constitucional 103/2019:

- Mulher: 30 anos de contribuição e 56 anos idade em 2019;

A partir de 1º de janeiro de 2020, começo a ser aplicada uma tabela progressiva de


aumento de idade (sempre mantendo o tempo mínimo de contribuição), acrescendo
6 meses a cada ano. 

3ª Regra de Transição – Tempo de Contribuição com Pedágio de 50%

Para os segurados já filiados ao regime geral e que faltavam menos de dois anos
para a aposentadoria por tempo de contribuição pelas regras antigas – e que
atendam cumulativamente os seguintes requisitos conforme artigo art. 17 da
Emenda Constitucional 103/2019:

- Mulher: 28 anos de contribuição, e Homem: 33 anos de contribuição, ou seja,


faltando 2 anos para completar 35 anos.

Assim terão que contribuir os dois anos que faltam, mais 50% (pedágio) deste
período:

 Mulher: 3 anos de contribuição (2 anos que faltam + 50% = 3 anos);


 Homem: 3 anos de contribuição (2 anos que faltam + 50% = 3 anos).

 
4ª Regra de Transição – Tempo de Contribuição com Pedágio de 100%

O segurado precisa atender aos seguintes quesitos cumulativamente, conforme


artigo art. 20 da Emenda Constitucional 103/2019:
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- Mulher: 57 anos de idade e 30 anos de contribuição; se Homem: 60 anos de idade


e 35 anos de contribuição;

- Servidores: 20 anos de efetivo exercício no serviço público e 5 anos de cargos


efetivo;

- Pedágio de 100%: período adicional de contribuição de 100% do tempo que falta


para se aposentar na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional.

5ª Regra de Transição – Aposentadoria por Idade com 15 Anos de Contribuição

O segurado precisa atender aos seguintes quesitos cumulativamente, conforme


artigo art. 18 da Emenda Constitucional 103/2019:

- Mulher: 60 anos de idade e 15 anos de contribuição;

- Homem: 65 anos de idade e 15 anos de contribuição.

A partir de 1º de janeiro de 2020, começou a ser aplicada a tabela progressiva de


aumento de idade (somente para as mulheres), acrescendo 6 meses a cada ano, até
atingir 62 anos de idade.

2.2 Aposentadoria Especial

Em continuidade à leitura do trabalho de Cândido e Costa (2019, p.18 a 20),


verificamos que o conceito de aposentadoria Especial é definido como benefício
previdenciário que visa a medida protetiva daquele trabalhador que está exposto a
agentes nocivos prejudiciais à saúde ou integridade física. O benefício foi
regulamentado pelos artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91. Antes da EC 103/2019, não
havia idade mínima para se aposentar neste benefício e sim o tempo de contribuição
(período de 15, 20 ou 25 anos) de exposição ao trabalho atividade perigoso ou
insalubre, garantido ao trabalhador uma compensação. A partir da EC 109/2019,
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passou a ser exigido para o benefício, além do tempo de contribuição na atividade


especial, também uma idade mínima. Assim, o trabalhador deverá comprovar
atividade especial da seguinte forma: se possuir tempo de contribuição em
exposição de 15 anos – deve ter no mínimo 55 anos; se possuir tempo de
contribuição em exposição de 20 anos – deve ter no mínimo 58 anos; Se possuir
tempo de contribuição em exposição de 25 anos – deve ter no mínimo 60 anos;

Pela nova regra, o cálculo do valor do benefício corresponderá a 60% da média


salarial de todas as contribuições vertidas a partir de 1994, com um acréscimo de
2% da média para cada ano de contribuição que ultrapassar um mínimo de 20 anos
de contribuição na atividade especial. Há uma exceção para quem trabalhar em
atividades especiais enquadradas no mínimo de 15 anos. Nesse caso, o trabalhador
receberá 2% a mais para cada ano que exceder os 15 anos. Há também a regra de
transição por pontos voltados para a aposentadoria especial. Soma idade com
tempo de contribuição em um sistema de pontos. Para ter direito ao benefício, o
trabalhador deverá comprovar atividade especial durante 15 anos – 66 pontos; 20
anos – 76 pontos e 25 anos – 86 pontos.

A reforma previdenciária de 2019 também proíbe a conversão do tempo trabalhado


em condições especiais em tempo comum para fins de concessão de aposentadoria
e exige efetiva exposição aos agentes nocivos. Assim com regras mais rígidas e
quase impossíveis de serem alcançadas, há uma verdadeira desfiguração do
benefício e de seu objetivo principal que é a proteção da saúde do trabalhador.

2.3 Aposentadoria por incapacidade permanente (aposentadoria por invalidez)

A aposentadoria por invalidez foi, anteriormente, regulamentada pelo artigo 42 da


Lei nº 8.213/91: “ A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o
caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de
auxílio doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o
exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto
permanecer nesta condição. § 1º A concessão de aposentadoria por invalidez
dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-
pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às suas expensas,
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fazer-se acompanhar de médico de sua confiança. § 2º A doença ou lesão de que o


segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe
conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade
sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão”. Assim,
o benefício é devido ao trabalhador que ficou incapaz de forma permanente para o
exercício de qualquer atividade de trabalho, não sendo possível a reabilitação em
outra profissão. A EC n° 103/2019 realizou duas alterações relativas a este
benefício: mudou o nome do benefício para aposentadoria por incapacidade
permanente, e alterou os valores concedidos. O valor desse benefício, antes de a
Reforma ser aprovada, correspondia a 100% da média salarial das 80% maiores
contribuições desde julho/1994, sem a incidência do fator previdenciário,
independentemente da natureza do benefício, se previdenciário ou acidentário. A
partir da reforma, o benefício corresponde à mesma fórmula de cálculo dos demais :
60% da média salarial mais 2% por ano de contribuição que exceder 15 anos (se
mulher) e 20 anos (se homem), se a invalidez for previdenciária ou acidentária.
(CÂNDIDO E COSTA, 2019, p. 21).

2.4 Pensão por morte

Em PANTALEÃO (2019), fica explícito que o benefício previdenciário pensão por


morte é direito que sofreu profundas mudanças a partir da emenda 103/2019, tanto
em relação ao Regime Geral quanto no Regime Próprio. Nos dois casos, quando
ocorre a morte do contribuinte segurado - a pensão por morte será de metade do
valor da aposentadoria, acrescido de 10% por cada dependente, alcançando 100%
no máximo do total da aposentadoria. As cotas individuais não são reversíveis – se
ocorrer a perda da qualidade de dependente – as cotas se findam . Se houver
dependentes menores de 18 anos, as cotas individuais serão majoradas para 20%,
entretanto, quando os filhos menores completarem 18 anos, suas cotas são
suprimidas. Caso o segurado falecido não for aposentado – faz-se a média dos
salários desde 1994, com acréscimo de 2% por ano de contribuição que ultrapassar
20 anos – ressalvando-se, claro, o direito adquirido aos segurados antes da entrada
em vigor da citada emenda constitucional. Antes da reforma previdenciária, no caso
de segurado aposentado, o valor do benefício era 100% da aposentadoria para
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qualquer número de herdeiros. Se não fosse aposentado ao falecer, o cálculo era


com base da média dos 80% maiores salários de contribuição, de 1994 até a data
da morte, e os dependentes ficariam com 100% do valor de pensão. A emenda
constitucional também vedou a acumulação de mais de uma pensão por morte
somente ressalvando as exceções referentes a cargos que são passíveis de
acumulação.
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3. Considerações Finais

O principal ponto da Reforma Previdenciária brasileira foi o estabelecimento da


idade mínima para a obtenção das aposentadorias (65 anos para os homens e 62
anos para as mulheres), bem como a adoção de maior rigidez na metodologia de
cálculo do valor dos benefícios previdenciários e alterações profundas em institutos
como aposentadoria especial, por incapacidade permanente (antiga aposentadoria
por invalidez), pensão por morte, entre muitos outros benefícios.

Desta forma, a atual Reforma Previdenciária, originada da Emenda Constitucional


103/2019, estabeleceu a chamada “Nova Previdência” pelo vigente Governo
Federal; promoveu significativo retrocesso social - resultado questionável
constitucionalmente dado que os direitos previdenciários fazem parte dos intitulados
direitos fundamentais – pilares pétreos da Constituição do país; e também não
levou em conta a dura realidade social e econômica do país onde a taxa de
desemprego estrutural não permite o exercício das atividades profissionais até às
idades mais avançadas para o alcance do direito previdenciário impostas pelas
novas regras.
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Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htmlanalto.gov.br/>
Acessado em: 16.11.2020.

CÂNDIDO, Camila Louise Galdino; COSTA, Cláudia Caroline Nunes da; ET AL


(coords). Manual Crítico da Reforma da Previdência EC nº 103/2019. LBS
Advogados. São Paulo: 2019. Disponível em: <
http://www.lbs.adv.br/pdf/artigos/38fcde8af7ca0b3fc7f22e099e834634803ca048.pdf
>. Acessado em: 29 set 2020

AFER, Celso. História da Declaração Por Celso Lafer. Disponível em:


<https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos-umanos/>.
Acessado em: 16.11.2020.

PANTALEÃO, Sério Ferreira. Reforma da previdência - sinopse das principais


alterações. Guia Trabalhista. Curitiba: 2019. Disponível em: <https://
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/reforma-da-previdencia-sinopse.htm>.
Acessado em: 16.11.2020.

SERAU JR., Marco Aurélio. Seguridade Social e direitos fundamentais. 3. ed.


rev., ampl. e atual. Curitiba: Juruá, 2019. Disponível em: <https://
genjuridico.com.br/2020/08/14/reforma-previdenciaria-brasileira/>. Acessado em:
16.11.2020.

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