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Leomar Antonio MONTAGNA
7
Copyright 2009 by Humanitas Vivens Ltda
EDITOR:
Prof. Dr. José Francisco de Assis DIAS
CONSELHO EDITORIAL:
Prof. Ms. José Aparecido PEREIRA
Prof. Ms. Fábio Inácio PEREIRA
Prof. Gunnar Gabriel ZABALA MELGAR
REVISÃO GERAL:
André Luis Sena dos SANTOS
Anna Ligia CORDEIRO BOTTOS
Paulo Cezar FERREIRA
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:
Agnaldo Jorge MARTINS
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Montagna, Leomar Antonio
M758e A ética como elemento de harmonia
social em Santo Agostinho [recurso
eletrônico] / Leomar Antonio
Montagna. 1. ed. -- Sarandi, PR :
Humanitas Vivens,2009.
ISBN:978-85-61837-09-9
Modo de acesso:
<www.humanitasvivens.com.br/>
1. Ética. 2. Amor. 3. Santo Agostinho. 4.
Patrologia. 5. Felicidade. 5. Ética agostiniana.
CDD 21. ed. 100
Bibliotecária: Ivani Baptista CRB-9/331
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8
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ........................................................ 11
INTRODUÇÃO ............................................................... 13
CAPÍTULO I
SANTO AGOSTINHO: VIDA, CONTEXTO
HISTÓRICO E OBRAS ................................................. 23
1 Santo Agostinho:
conhecer-se para conhecer a Deus ....................................... 27
2 Santo Agostinho:
o filosofar na fé por meio de suas obras literárias ................. 65
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS DA ÉTICA AGOSTINIANA ......................67
1 O primado do amor .......................................................... 67
2 O amor e a noção agostiniana de ordem .......................... 72
3 O amor e a felicidade ........................................................ 78
4 A moral interior: princípio do agir humano ...................... 83
5 O amor e a experiência de Deus ....................................... 86
6 O amor e a ética do dever:
princípio da moralidade agostiniana .......................................90
CAPÍTULO III
A DIMENSÃO ÉTICA E SOCIAL DO AMOR .................. 101
1 Ética social, prolongamento da moral individual ................ 107
2 O amor enquanto fundamento ético de
110
socialização do homem ...........................................................
3 Amar o próximo:
a plenitude e as expressões do amor-caridade .....................112
3.1 Amar o próximo – os parentes ..................................... 117
3.2 Amar o próximo – os amigos ....................................... 119
3.3 Amar o próximo – os pobres ......................................... 120
9
3.4 Amar o próximo – os inimigos ..................................... 124
3.5 Amar o próximo – os frutos .......................................... 127
4 Fundamento da verdadeira justiça no Estado:
o amor ....................................................................................130
5 Finalidade imediata do Estado terreno:
a ordenada concórdia ou a paz temporal ................................... 139
6 Fundamentos da ordenada concórdia ou
paz temporal no Estado: a verdadeira justiça........................ 142
7 A paz e a “guerra justa” na história ................................. 146
8 Complemento:
A “Paz justa” e o caráter social do Estado ............................150
9 Instrumento garantidor da ordenada concórdia ou
paz temporal no Estado o poder temporal ..........................160
167
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................
ANEXO 1:
RELAÇÃO DE OBRAS DE AGOSTINHO
EM ORDEM CRONOLÓLIGA ........................................175
REFERÊNCIAS
181
Primárias ................................................................................
Secundárias ............................................................................183
Comentários sobre Santo Agostinho ...................................... 183
Outras obras de apoio ............................................................. 186
10
APRESENTAÇÃO
11
12
INTRODUÇÃO
8
AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus: contra os pagãos. Trad.
Oscar Paes Leme. Bragança Paulista: Editora Universitária São
Francisco, 2003. (Coleção Pensamento Humano). XIV, 28. Nas
próximas indicações referentes a esta obra, indicar-se-á somente o
nome da obra com o respectivo livro, capítulo e parágrafo.
19
poderá atingir a harmonia individual e coletiva e salvar o
planeta, pois da maneira que segue a sociedade, a vida do
planeta corre um grande risco de destruição. Estamos, dessa
forma, colocando em perigo a existência de uma vida futura.
9
Uma antiga estória cristã sobre as primícias da liberdade na verdade
da fé diz o seguinte: “Quando a Fé liberta a vida, não se presta atenção
nas pessoas dignas nem se procuram homens fiéis. Os superiores são
como os galhos mais altos das árvores e os inferiores são como os
animais da floresta. Honestos e sinceros, os homens nem têm idéia de
que são cumpridores de seus deveres. Amam-se uns aos outros, sem
saber quem é o próximo, nem imaginam que estão cumprindo o maior
de todos os mandamentos. Não enganam ninguém e não se têm em
conta de pessoas confiáveis. Convivem na liberdade de dar e receber e
não se sentem generosos. Pode-se fiar deles e ignoram o que seja
fidelidade. Seus feitos não deixam vestígios e suas obras não são
alardeadas. A história nem suspeita de suas vidas”. A Cidade de
Deus: contra os pagãos. Vol. I – Introdução. p. 19-20.
10
Pólis, para os gregos, referia-se ao conjunto das pessoas que viviam
na cidade. A cidade era um espaço seguro, ordenado e manso, onde os
homens podiam se dedicar à busca da felicidade. Os cidadãos
ganhavam destaque na hierarquia social, uma vez que cidadão era
quem pensava, ocupava-se com a arte, com a filosofia ou com a vida
intelectual. Por sua vez, as mulheres, as crianças, os estrangeiros e os
20
interioridade da moral passamos a ser membros, em
primeiro lugar, de uma comunidade racional que se constrói
a partir de princípios derivados da lei divina, expressos pela
dimensão prática da razão”.11
22
CAPÍTULO I
SANTO AGOSTINHO:
VIDA, CONTEXTO HISTÓRICO E
OBRAS
19
Confissões X, 27, 38.
20
Cf. AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. Trad. introdução e notas
Adaury Fiorótti. São Paulo: Paulus, 1998, II, 1, 1. Nas próximas
indicações referentes a esta, obra indicar-se-á somente o nome da obra
com o respectivo capítulo e parágrafo.
21
POSSÍDIO. 2004.
27
Aurélio Augustinus22 (Santo Agostinho) nasceu em
Tagaste23, província romana da Numídia, na África
romanizada (hoje, chamada Souk-Ahrás, na atual Argélia,
Norte da África), em 13 de novembro de 354.
22
“O Segundo nome de Aurelius nunca aparece nas suas
correspondências, mas lhe é dado pelos seus contemporâneos, ou seja,
apesar de ter ficado conhecido como Agostinho de Hipona ou Santo
Agostinho, este nunca assinava suas cartas e documentos com seu
segundo nome Augustinus, mas apenas o primeiro
Aurelius” (COSTA, Marcos Roberto Nunes. 1999, p. 15).
23
Na época de Agostinho, Tagaste era uma cidade próspera
culturalmente e economicamente, sendo um dos ricos celeiros de
alimentos, especialmente olivas, da África.
24
Cf. HAMMAN, A. G. 1989, p. 13. Outros autores dizem que o pai
de Agostinho era um tenuis municeps, quer dizer, um pequeno
burguês com magros recursos.
28
superiora de um convento agostiniano feminino em
Hipona.25 Alguns autores trazem notícias de uma segunda
irmã, de que não se sabe o nome. Entre esses autores, temos
Hylton Rocha, que assim diz: “Eles tiveram pelo menos dois
filhos e duas filhas. Entre esses, Navígio, que se converteu
juntamente com Agostinho, e uma irmã que foi superiora do
mosteiro de Hipona”.26
25
RUBIO, Pedro. 1995, p. 392.
26
ROCHA, Hylton Miranda. 1979, p. 24.
27
Cf. HAMMAN, A. G. op. cit., 1989, p. 13 e ROCHA, Hylton
Miranda. 1981, p. 5-6.
28
Confissões I, 11, 17.
29
Hipona, pois “mesmo cidades como Hipona falavam
púnico, dificilmente conseguindo seguir um sermão em
latim”.29
29
HAMMAN. A. G. op. cit., 1989, p. 10.
30
CREMONA, Carlo. 1990, p. 64.
31
CREMONA, Carlo. Op.cit., 1990, p. 240. “O fato de Juliano ter se
referido a Mônica como beberrona está, certamente, associado ao fato
de que em Confissões, cap. IX, 8, 17-18. Agostinho ter narrado que
sua mãe Mônica desde jovem adquiriu o hábito de tomar vinho, e que
repassara o mesmo para seus filhos” (COSTA, Marcos Roberto
Nunes, op. cit., 1999, p. 20).
32
Confissões I, 12, 19.
33
Ibid., I, 9, 14-15.
30
Santo Agostinho recebeu, em Tagaste, seus primeiros
estudos de gramática, aritmética, latim e um pouco de
grego, língua que nunca chegou a dominar bem. Vemos, em
Confissões, o lamento por não ter aprendido grego: “Ainda
hoje não sei explicar bem a causa da minha repugnância
pelo estudo do grego, que tentavam inculcar-me desde
criança”.34 Um pouco mais adiante, afirma: “Outrora,
quando menino, nem mesmo do latim eu conhecia alguma
coisa; no entanto, eu aprendi, com um pouco de atenção,
sem temores nem castigos e ameaças, impelido pela
necessidade que sentia no coração de exprimir meus
pensamentos”.35
37
ROCHA, Hylton Miranda. op. cit., 1989, p. 19
32
dominado pelo tolo desejo de superioridade sobre os
outros.38
41
“Romaniano – Homem rico de Tagaste. Pagou os estudos de
Agostinho em Cartago. Mostrando sua gratidão, Agostinho tomou a
seu cargo a educação de Trigécio e Licencio, filhos de seu
mecenas” (RUBIO, Pedro. 1995, p. 394).
42
HAMMAN, A. G. op. cit., 1997, p. 11
34
manchava as fontes da amizade com a sordidez da
concupiscência e turbava a pureza delas com a
espuma infernal das paixões.43
idéia de que não éramos nós que pecávamos, mas alguma outra
natureza estabelecida em nós. O fato de estar sem culpa e de não dever
confessar o mal após tê-lo cometido satisfazia o meu orgulho; desse
modo eu não permitia que curasses minha alma que pecara contra ti
preferindo desculpá-la e acusar não sei qual outra força, que estava em
mim, mas que não era eu” (Confissões V, 10, 18). A solução
maniqueísta do problema do mal era fundada na teoria metafísica dos
dois princípios coeternos e contrários. Então o dualismo metafísico se
tornava necessariamente dualismo antropológico. Duas almas no
homem, uma boa e uma outra ruim, em eterno conflito entre elas. A
vitória de uma ou de outra é a vitória do princípio do bem ou do
princípio do mal operante no homem.
39
realmente a verdade, mas também sobre a existência
do mundo, criatura tua.54
59
CREMONA, Carlo. op. cit., 1990, p. 13.
60
Confissões VII, 3, 5.
61
CREMONA, op. cit., 1990, p. 48
42
dignos de respeito que te dará certamente com que viver. A
astrologia desviar-te-ia do bom caminho”.62
62
Confissões IV, 3, 5.
63
Confissões V, 8, 15.
64
CREMONA, Carlo. op. cit., 1990, p. 39.
43
deixou entre a vida e a morte. Passada essa fase crítica,
Agostinho fundou uma escola de retórica em Roma.
45
experimentasse consolação naquilo que não eras tu”.66 Foi
nessa época que aconteceu o famoso “encontro do
mendigo”, quando Agostinho, ao ser encarregado de
preparar um discurso de louvores para o Imperador
Valetiniano, tendo consciência de que teria de mentir, pois
este não tinha grandes méritos, encontrou um mendigo
bêbado que, na sua pobreza, parecia feliz, enquanto ele, na
sua ambição, vivia angustiado. Agostinho descobriu sua
pobreza de espírito e disse:
66
Confissões VI, 6, 9.
67
Ibid., VI, 6, 9-10.
46
cristão católico, não saltou de alegria (...) Quanto a este
aspecto de minha miséria, ela estava tranqüila”.68
68
Ibid., VI, 1, 1.
69
Nebrídio e Alípio eram conterrâneos de Agostinho, filhos de
famílias abastadas. Vieram estudar em Cartago e, ali, juntaram-se ao
grupo de alunos de Agostinho, tornaram-se seus melhores amigos.
Acompanharam Agostinho por Roma e Milão, vindo a fazer parte do
grupo de convertidos. Nebrídio faleceu jovem e Alípio chegou a ser
Bispo de Tagaste um ano antes de Agostinho ser bispo.
70
A jovem que Agostinho pediu em casamento tinha cerca de 10 anos
de idade, pois, segundo este, faltava-lhe cerca de dois anos para
completar a idade de poder casar-se que, em Roma, era de 12 anos.
71
Confissões VI, 13, 23.
47
Agostinho resolveu, então, ampliar seu projeto
comunitário e convidou outros amigos para fazerem parte
do grupo que, então, chegava a ser composto de cerca de
dez pessoas. Dentre esses amigos, havia homens ricos e de
posição social, como Romaniano, seu benfeitor, que fazia
parte da corte imperial.
75
São Simpliciano era um sacerdote instruído que viera de Roma a
Milão para instruir Santo Ambrósio nas Sagradas escrituras como
diretor espiritual. Por isto Agostinho se refere a este como pai de
Ambrósio. Mais tarde, em 397, com a morte de Ambrósio, este lhe
sucedeu no bispado de Milão.
76
Confissões VIII, 5, 10.
50
verdadeiro tinha encontrado nos livros platônicos, aqui é
dito com a garantia de tua graça”.77 Com uma grande
diferença: os livros platônicos, ao identificarem o Verbo de
Deus, ou “logos”, com o “nous”, ou razão, esqueciam de
dizer que “o Verbo se fez homem e habitou entre nós”.78 Por
isso Agostinho afirma: “Eu tagarelava como se fosse
competente, mas se não tivesse procurado o teu caminho em
Cristo nosso Salvador, não teria sido perito e sim
perecido”.79
77
Ibid., VII, 21, 27.
78
Jo 1,13.
79
Confissões VII, 20, 26. “Perito” - Verdadeiro saber que leva à
salvação. “Perituro” – Perecido falso saber que leva à morte, ou à
condenação.
51
mantinha cativo na lei do pecado que está em meus
membros.80
81
Confissões VIII, 7, 16-18.
82
Confissões VIII, 7, 17.
83
Ibid., VIII, 8, 19.
84
Ibid., VIII, 8, 20.
53
Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda:
amanhã, amanhã? Por que não agora? Por que não
pôr fim agora à minha indignidade? Assim falava e
chorava, oprimido pela mais amarga dor do coração.
Eis que, de repente, ouço uma voz vinda da casa
vizinha. Parecia de um menino ou menina repetindo
continuamente uma canção: ‘Toma e lê, toma e lê’.85
85
Ibid., VIII, 12, 28-29.
86
Confissões VIII, 12, 29.
54
Ocorria, assim, o início da conversão de Agostinho
que desistiu da idéia de casar-se e pensou, logo, em deixar a
cadeira de retórica.
87
ROCHA, Hylton, op. cit., 1989, p. 36.
A vida de Santo Antão, narrada por Ponticiano, teria grande
88
95
POSSÍDIO, apud CREMONA, Carlo. op. cit., 1990, p. 146.
60
prima de consciência sacerdotal. Nela, Agostinho apresenta
o seu conceito de sacerdócio:
100
Sermão 356, 13.
101
HAMMAN, A. G. op. cit., 1989, p. 41.
63
Muitas vezes, chegou a traduzir seus sermões para o púnico,
como forma de atender aos fiéis que falavam esta língua.
64
todas aquelas doutrinas que, reveladas pelo cristianismo, são
também acessíveis à razão.
102
TENÓRIO, Waldecy. 1986, p. 78.
103
RUBIO, Pedro. op. cit., 1995, p. 398
104
Ver Anexo 1: Relação de Obras de Santo Agostinho.
65
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS DA ÉTICA
AGOSTINIANA
1 O primado do amor
105
Charitas, palavra que vem do latim e que quer dizer caridade.
“Caridade é o amor para os cristãos, que move a vontade à busca
efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de
Deus; ágape, amor-caridade” (DE BONI, Luiz Alberto. 1996 p. 41).
Para uma melhor compreensão, deste termo, ver nota 7 (sete) do
capítulo I desta obra.
66
De acordo com Philotheus Boehner e Etienne
Gilson,106 o problema central da ética agostiniana é “o da
reta escolha das coisas a serem amadas”. Nesta perspectiva,
o problema moral não consiste em perguntar-se se há que
amar, senão o que amar. Para Agostinho, o amor está na
própria natureza humana. Trata-se de um apetite natural,
pressuposto pela vontade livre que deve, iluminada pela luz
natural da razão, orientá-lo finalmente para Deus. O amor é,
pois, uma atividade decorrente do próprio ser humano.
Donde se deduz que, quando se tem no fundo do coração a
raiz do amor, dessa raiz não pode sair senão o bem, o que
resulta na tão citada máxima agostiniana: “Ama e faze o que
quiseres”.107
107
AGOSTINHO, Santo. Comentário da primeira Epístola de São
João. Trad. de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Ed. Paulinas, 1989.
Livro VII, 8. Nas próximas indicações referentes a esta obra, indicar-
se-á somente o nome da obra com o respectivo capítulo e parágrafo.
67
ser menos amado, nem ama com igual intensidade o
que se deve amar menos ou mais, nem ama menos ou
mais o que convém amar de forma idêntica.108
108
A doutrina Cristã. I, 27, 28.
109
A cidade de Deus XV, 22.
110
Ibid., X, 22.
68
está destinada a desiludir amargamente a aspiração inata do
homem.
115
O livre arbítrio I, 2, 5.
116
Confissões XI, 4-6 e XII.
117
O livre arbítrio I, 2, 4 e 6, 15.
72
própria ordem, se não houvessem sido feitos por Aquele que
é em sumo grau, e é sumamente sábio e sumamente bom”.118
118
A cidade de Deus XI, 28.
119
Agostinho expõe essa questão em A Trindade XII, 7,12 e XIV,
8,11, e em A cidade de Deus XII, 23 e 27.
120
Cf. O livre arbítrio II, 18,47.
121
A cidade de Deus XV, 22.
122
Nesta obra, Agostinho é ainda muito influenciado pelo pensamento
grego, principalmente pelos estóicos. Na concepção estóica, os
princípios éticos da harmonia e do equilíbrio baseiam-se, em última
análise, nos princípios que ordenam o próprio cosmo. Assim, o
homem, como parte desse cosmo, deve orientar sua vida prática por
esses princípios. A ataraxia, apatia, imperturbabilidade, é o sinal
máximo de sabedoria e felicidade, já que representa o estado no qual o
homem, impassível, não é afetado pelos males da vida.
73
de Deus, ele a define, de modo mais perfeito, como ordem
do amor. “O amor, que faz com que a gente ame bem o que
deve amar, deve ser amado também com ordem; assim,
existirá em nós a virtude, que traz consigo o viver bem. Por
isso, parece-me ser a seguinte a definição mais acertada e
curta de virtude: A virtude é a ordem do amor”.123
130
Ibid., XIX, 11.
131
A cidade de Deus XII, 2.
132
Ibid., XI, 2.
133
Cf. Confissões: “Diálogo com as criaturas à procura de Deus” (X,
6,9-10) e “Deus, no poema da criação” (XI, 4,6).
76
Para Agostinho, o homem virtuoso ama a Deus não
pelo simples cumprimento de um dever, mas porque O
deseja. Porém, mesmo vivendo a ordem do amor e
experimentando toda paz e alegria que esta lhe proporciona,
ele ainda não é completamente feliz. Pois, se deseja Deus,
como pode ser feliz, se ainda deseja? “Não é feliz, senão
aquele que possui tudo o que quer...”.134 Também: “Não é
feliz aquele que não tem o que deseja”.135 Entretanto, desde
então, este homem já é feliz: “Feliz o que Vos ama...”.136,
porque ama, acima de todas as coisas, o Único que pode,
realmente, conduzi-lo à plena felicidade.
140
Cassicíaco, lugar onde Agostinho se retirou junto com seus amigos
e sua mãe para se preparar para o batismo. Frutos deste retiro foram as
obras: A Vida Feliz, Solilóquios, Da Ordem e Contra Acadêmicos.
141
AGOSTINHO, Santo. Cartas a Proba e a Juliana: direção
espiritual. São Paulo: Paulus, 1987. Ep. 130, 4,9.
142
Confissões V, 2, 2.
79
filosófico-religioso: “Que eu me conheça a mim mesmo e
que te conheça, Senhor!”.143
143
Solilóquios II, 1, 1.
144
Sermão 43, 9.
145
Cf. BROWN, Peter. Apud OLIVEIRA, Nair de Assis. In:
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. 1993.
146
A cidade de Deus VIII, 9.
80
felicidade. “Ninguém faz feliz o homem senão aquele que o
criou”.147
147
Epístola 155,2.
148
A verdadeira religião 39, 72.
81
Para Agostinho, como vimos no item anterior, o
grande problema do homem é a busca da felicidade, a qual
consiste na plena posse e gozo do amor, da sabedoria, da
verdade. Ou seja, da verdadeira felicidade que se encontra
em Deus, “sumo bem do homem... ser supremo... imutável,
ao qual todos os outros bens se referem”.149 A partir desse
pressuposto, Agostinho orienta suas teses morais para a
busca da beatitude e, por ela, para Deus que,
exclusivamente, pode assegurá-la. Nesse sentido, toda moral
agostiniana se enquadra dentro de seu eudemonismo
antropológico, cuja preocupação primeira e última é a
felicidade do homem que, em Agostinho, adquire um caráter
cristão, em que o início e o fim da procura é Deus.
152
Epístola 140, 2, 4.
153
A cidade de Deus XI, 27.
154
O livre arbítrio I, 13, 27. Também em A cidade de Deus XIX, 21 e
XXI, 16.
155
Lucas 10, 27.
84
Somente o amor a Deus é o único caminho que
conduz o homem à perfeita felicidade; porém, como este
amor é ainda um desejo, uma vez despertado em seu
coração, ele não repousará enquanto não possuir a Deus:
“Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração,
enquanto não repousa em ti”.156 Quando o desejo de Deus
desperta em nós e que, movidos por ele, resolvemos amá-Lo
acima de todas as coisas, a nossa vida transforma-se num
constante exercitar-se e o fim não pode ser outro senão a
sua completa satisfação. Este desejo de Deus marca o início
de um novo movimento na caminhada do homem em busca
da felicidade. Antes de sua conversão, Agostinho buscava a
felicidade fora de si mesmo e só encontrava insatisfação
com a posse das coisas e das criaturas; isso o fez sentir a
necessidade de realizar o movimento de retorno para seu
próprio interior, a fim de, pela prática da virtude, ordenar o
seu amor-desejo. Agora, tendo a ordem do amor despertado
nele o desejo de Deus, apresenta-se a ele a oportunidade de
encontrar não apenas a si mesmo, mas de ir além de seu
próprio espírito a fim de atingir o transcendente, isto é,
Deus.
158
“Fome de Deus...” Confissões III, 1,1.
159
Confissões I, 1,1.
160
“São felizes aqueles (...) por estarem unidos a Deus, somente Deus
é o bem que torna feliz a criatura racional ou intelectual. Assim,
embora nem toda criatura possa ser feliz (pois não alcançam nem são
capazes de tal graça as feras, as plantas, as pedras e coisas assim), a
que pode sê-lo não o pode por si mesma, mas por Aquele que a criou.
Torna-a feliz a posse daquele cuja perda a torna miserável” (A cidade
de Deus XII, 1,2).
161
A Trindade XIV, 16,22.
162
Ibid., XV, 1, 1.
163
A Trindade XIV, 8, 11, e O livre arbítrio I, 8, 18.
86
ainda não é Deus, será ainda necessário transcender
totalmente a si mesmo e, subindo interiormente, ir para além
de seu próprio espírito: “A Verdade habita no coração do
homem (...) vai além de ti mesmo (...) dirige-te à fonte da
própria luz da razão”.164 É na alma, interioridade do homem,
o lugar onde o homem experimenta a vida feliz.165 Esta,
porém, só fixará morada se o homem encontrar, não
somente a si mesmo, mas também a Deus.
164
A verdadeira religião 39, 72.
165
A vida feliz IV, 25.
166
A Trindade VIII, 4, 6.
167
A Trindade VIII, 8,12 e XIV, 14,18.
87
sem inquietudes, porque atingiu o seu Bem supremo e,
portanto, sua completa satisfação.168
168
A verdadeira religião 47, 90. Agostinho também faz uma síntese da
moral, baseada no amor, em A doutrina cristã, nos capítulos 22 a 34.
169
Comentário da 1ª Epístola de São João II, 14.
170
Para os gregos, a idéia de um Deus que ama era impensável; para
eles, o amor era um desejo, um eros, próprio de um ser imperfeito; não
poderia existir em Deus, ser perfeito e imutável por natureza.
Agostinho, porém, é fiel à revelação cristã; para ele, Deus não
somente ama, mas o amor é a sua própria essência.
88
como princípio da moralidade, através do qual, pela
vontade livre, o homem distingue as coisas a serem gozadas
das coisas a serem usadas.
179
Epístola 140, 2, 4.
180
A doutrina cristã I, 23.
181
Ibid., I, 22.
182
A cidade de Deus XII, 1.
183
Mateus 22, 37.
184
Efésios 5, 29.
91
que, entre os bens que devemos desejar para vivermos
convenientemente, está a saúde do corpo, pois a
conservação da saúde relaciona-se com a própria vida: com
a sanidade e integridade da alma e do corpo.185 Agostinho
propõe que devemos “ensinar ao homem a medida de seu
amor, isto é, a maneira como deve amar-se a si próprio para
que esse amor lhe seja proveitoso (...) como deve amar seu
corpo, para que tome cuidado dele, com ordem e
prudência”.186 O que Agostinho condena é o amor
desordenado ao corpo. Em A Cidade de Deus, falando a
respeito do amor ao corpo das mulheres diz:
193
Cf. RAMOS, Francisco Manfredo T. op. cit. p. 69.
194
A vida feliz IV, 33.
195
Ibid., IV, 34.
196
A cidade de Deus VIII, 8.
197
A vida feliz IV, 35.
95
que a felicidade perfeita é atingível; porém, não devemos
entendê-lo, como fizeram os gregos, enquanto uma
conquista exclusivamente humana.198 Na verdade, para que a
alcancemos, faz-se necessário que o próprio Deus seja nosso
aliado nesta busca; de modo que possamos contar com sua
ajuda, ou melhor, com a sua graça: “A graça, mediante a
qual, unindo-se a Ele, somos felizes”.199 A felicidade é um
dom de Deus.200 E, mesmo que se diga que ela é um dom
merecido, uma vez que é dada em resposta ao esforço de
busca do homem, ela é sempre um dom. É o próprio Deus
que, fazendo-se Ele mesmo dom, quer doar-se inteiramente
a nós para saciar completamente o nosso ser. Feita a
experiência da fruição de Deus, permanecerá para sempre:
“E como ninguém pode lhe arrebatar, nem a sua virtude nem
o seu Deus, tampouco pode lhe ser tirada a felicidade”.201
Somente a união com Deus assegura a nossa fruição Dele e
a nossa imortalidade, condições para sermos plenamente
felizes. Nossa união com Deus se dá através da caridade,
então, podemos concluir que é somente a caridade que nos
garante a verdadeira felicidade. A caridade, além de nos
fazer felizes já nesta vida, é também a garantia de que ainda
maior será a felicidade na vida futura. Embora ainda não
saibamos como será esta vida bem-aventurada que nos
espera, já temos convicção de que, por mais feliz que
possamos imaginá-la, a sua realidade supera todas as nossas
expectativas:
202
A Trindade XIII, 7,10. Em outro texto, Agostinho assim afirma:
“Pois a ninguém que a deseja, a beatitude concedida é menor do que a
desejada. Logo não poderá sentir-se decepcionado quem a encontrar,
pois não será inferior à idéia que dela se fizera. Por mais alta que
alguém queira tê-la imaginado, mais preciosa achará quando a
abraçar” (A doutrina cristã I, 38, 42).
203
A cidade de Deus XIX, 4, 5. Cf. também: A Trindade XIII, 7,10.
97
98
99
CAPÍTULO III
209
Id.
210
Ibid., I, 31.
211
Ibid., I, 29.
212
A cidade de Deus X, 6.
213
Ibid., X, 3.
102
Deus, é a caridade. Assim, pela caridade, Agostinho faz a
ponte entre o homem individual e o homem social, pois a
realização do amor em Deus exige a realização do amor
entre os homens. Pela caridade, o amor assume uma
dimensão social, enquanto princípio de socialização do
homem.
103
fundamento e o vínculo da fé e da sólida concórdia, a
saber, quando se ama o bem comum, que na sua
expressão mais alta e verdadeira é Deus mesmo, e
n’Ele os homens se amam mutuamente com a máxima
sinceridade, no momento que se querem bem por
amor d’Aquele ao qual não podem esconder o
espírito com que amam.214
216
Mt 22, 37.
217
A ética política de Agostinho é, também, coerentemente regida por
este mesmo princípio.
105
1 Ética social, prolongamento da moral
individual
218
Epístola 130, 6, 13.
219
A cidade de Deus XII, 21.
220
“Que consolo melhor encontramos, entre as agitações e amargores
da sociedade humana, que a fé sincera e o mútuo amor dos bons
amigos?” (A cidade de Deus XIX, 8).
106
Para Agostinho, o homem é um ser social por
natureza, depende dos outros para nascer, crescer e viver.
Sua humanidade estaria comprometida fora desta dimensão
social. Seria racionalmente impensável viver isolado,
ausente da convivência com os seus semelhantes, pois,
dessa forma, não poderia ser feliz: “A vida do sábio é vida
de sociedade”.221 Ao deixar sua família de origem, o homem
forma uma outra família e, assim, as várias famílias,
enquanto pequenas sociedades articuladas entre si, formam
a cidade; e estas, unidas uma as outras, o estado ou país; e
estes, a grande sociedade humana:
221
Ibid., XIX, 5 e XIX, 3,2.
222
Ibid., XIX, 7.
223
Ibid., XVIII, 2, 1.
224
Cf. Epístola 130, 6, 13.
107
conduzam à felicidade.225 Ele tem procurado uma conduta
que ordene todas as partes do seu ser e lhe traga a paz
interior.226 Esta procura tem sido não apenas para criar uma
moral individual, mas também para produzir uma ética que
seja capaz de gerar a ordem e a paz entre os homens: “paz
dos homens entre si e sua ordenada concórdia”.227
225
Agostinho trabalha esta questão em A Cidade de Deus, livro XIX.
Nesta obra, vemos que, para preservar a ordem da paz na sociedade
humana, é preciso obedecer algumas normas: não fazer mal a ninguém
e socorrer a todos os que padecem necessidades. Sobre esta ordem que
é condição indispensável para se obter a verdadeira paz, Agostinho
fala de algumas normas. Estas normas obrigam a cuidar primeiro dos
próprios familiares, assegurando, assim, a paz doméstica. O marido
deve cuidar da esposa, os pais dos filhos, os patrões dos criados. Por
outro lado, a reta ordem exige que aqueles que são objetos de tais
cuidados prestem obediência aos que cuidam deles; assim, as
mulheres devem obedecer aos maridos, os filhos, aos pais, os criados,
aos patrões. Contudo, esta relação puramente natural estabelecida pela
obediência é grandemente suavizada e enobrecida na casa do justo,
que vive da fé. Pois, só na família cristã, os que parecem mandar são
na realidade os servos dos outros: “Quem manda também serve
àqueles que parece dominar. A razão é que não manda por desejo de
domínio, mas por dever de caridade, não por orgulho de reinar, mas
por misericórdia de auxiliar” (A cidade de Deus XIX, 14).
226
“Como não há ninguém que não queira sentir alegria, assim também
não há ninguém que não queira ter paz” (A cidade de Deus XIX, 12).
227
Ibid., XIX, 13,1.
108
2 O amor enquanto fundamento ético de
socialização do Homem
228
A doutrina cristã I, 29, 30.
109
Toda sociedade humana, como vimos no exemplo
citado por Agostinho, está fundada neste amor-desejo.
Assim, o fundamento da vida social é, exatamente, o fato de
os homens nutrirem desejos pelos mesmos objetos e
pressuporem que a associação entre eles facilitará a sua
aquisição. Para Agostinho, a avaliação do nível de uma
determinada sociedade pode ser feita observando-se a
qualidade dos objetos desejados pelos seus integrantes, isto
é, pelo amor-desejo que os mantém unidos.229
229
“O povo é o conjunto de seres racionais associados pela concorde
comunidade de objetos amados, é preciso, para saber o que é cada
povo, examinar os objetos de seu amor. Não obstante, seja qual for
seu amor, se não é conjunto de animais desprovidos de razão, mas
seres racionais, ligados pela concorde comunhão de objetos amados,
pode, sem absurdo algum, chamar-se povo. Certo que será tanto
melhor quanto mais nobres os interesses que os ligam e tanto pior
quanto menos nobres” (A cidade de Deus XIX, 24).
230
“E tão nobre bem é a paz, que mesmo entre as coisas terrenas e
mortais nada existe mais grato ao ouvido, nem mais desejável ao
desejo, nem superior em excelência (...) doçura da paz, ansiada por
todos” (A cidade de Deus XIX, 11).
231
Ibid., XIV, 1.
110
justiça: “Onde não existe verdadeira justiça não pode existir
comunidade de homens fundada sobre direitos
reconhecidos”.232 Sobre este assunto, desenvolvemos, mais
adiante, um tópico para fundamentar que a ordenada
concórdia entre os homens ou paz temporal é a verdadeira
justiça.
237
A doutrina cristã I, 26,27.
238
Ibid., I, 27,28.
239
Comentário da 1ª Epístola de São João VIII, 10 e 12.
240
Ibid., IX, 10.
241
A Trindade VIII, 7,11.
242
Comentário da 1ª Epístola de São João VIII, 5.
112
amou em primeiro lugar”,243 criou-nos a Sua imagem e
semelhança, amando-nos mais do que outras criaturas,
dotando-nos de livre arbítrio244 tornou-nos partícipes de seu
ser,245 de sua bondade e de sua felicidade: “Somente Deus é
o bem que torna feliz a criatura racional e intelectual.
Assim, embora nem toda criatura possa ser feliz (...) a que
pode sê-lo não pode por si mesma, mas por Aquele que a
criou”.246 Quando, por soberba, afastamo-nos Dele, não nos
abandonou, ao contrário, continuou a nos amar e, usando de
misericórdia para conosco, tudo fez para restaurar a nossa
natureza decaída e devolver-nos a dignidade que, por nossa
culpa, perdemos. Neste sentido, Deus é o modelo da
caridade perfeita ou fraterna.247
259
A cidade de Deus XIX, 14.
260
A doutrina cristã I, 28, 29. Em outro texto, Agostinho diz: “Como
não pode aliviar a sorte de todos os homens, a quem ama igualmente,
pensaria faltar à justiça se não atendesse de preferência aos que lhe
estão mais unidos” (A verdadeira religião 47,91).
116
Agostinho ressalta que o amor aos nossos parentes
não se deve basear apenas na afeição natural própria dos
laços consanguíneos, pois esta não é suficiente para mantê-
lo por muito tempo; prova disso é a situação de instabilidade
em que se encontram nossas famílias. Assim, se quisermos
que realmente a estabilidade e a paz reinem nelas, é
necessário que amemos os nossos familiares com um amor
que esteja acima dos vínculos carnais: “É porque,
chamando-nos a recobrar a perfeição de nossa primeira
natureza, a mesma Verdade nos admoesta a resistir aos
liames carnais e ensina que ninguém é apto para o reino de
Deus se não se desprender desses vínculos carnais”.261
Portanto, além deste amor natural, devemos amá-los em
Deus, porque a união que nasce da “caridade é superior a
todas as outras”.262 Assim, alcançaremos a tão sonhada
harmonia familiar, que Agostinho chama de “a paz
doméstica”263: somente quando amarmos os nossos parentes
com verdadeira caridade.
264
Confissões IV, 9, 14.
265
“Qualquer que seja sua situação, o homem não pode considerar a
vida amiga, se não tiver outro como amigo” (Epístola 130, capítulo 2,
4).
266
Cf. A cidade de Deus XIX, 8.
267
Epístola 130, 6, 13.
118
3.3 Amar o próximo – os pobres
273
SCIACCA, Michele Federico. 2002.
274
“Ora, muitos fazem isso por ostentação, não por
dileção” (Comentário da 1ª Epístola de São João VI, 2).
122
3.4 Amar o próximo – os inimigos
275
A doutrina cristã I, 30, 31. “Devemos amar até os inimigos” (Ibid.,
I, 29, 30).
276
Comentário da 1ª Epístola de São João VIII, 5.
123
exatamente quando amamos até os nossos inimigos que O
estaremos imitando em seu jeito de amar.277
282
Comentário da 1ª Epístola de São João X, 7.
283
Id.
284
Ibid., II, 8-9.
125
3.5 Amar o próximo – os frutos
285
A Trindade XV, 17,28.
286
Comentário da 1ª Epístola de São João VII, 8.
287
“Quando esvaziares o coração do amor terreno, haurirás o amor
divino. E nele logo começa a habitar a caridade da qual nenhum mal
pode proceder” (Ibid., II, 8).
126
por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor:
dessa raiz não pode sair senão o bem!.288
290
Comentário da 1ª Epístola de São João V, 7.
128
4 Fundamento da verdadeira justiça no
estado: o amor
294
Id.
295
Id.
296
Id.
297
Id.
298
Id.
130
o que se chama de república romana foi mais bem
administrada pelos antigos do que pelos de seu tempo.
299
A cidade de Deus IV, 4.
131
nunca conseguirá fazer com que não seja justo que todas as
coisas estejam conformes a uma ordem perfeita”.300
300
O Livre Arbítrio I, 6, 15.
301
Id.
302
Id.
303
“Na primeira, a temporal, só é justo e legítimo o que os homens
para si tenham feito derivar da segunda, a eterna (...) aquela, em
virtude da qual é justo que todas as coisas sejam inteiramente
conformes à norma absoluta da ordem” (Id.).
132
justiça) que se constitui em um bem em si mesmo (bem
onto).304
304
Em outra oportunidade, em carta a Consêncio, Agostinho chega a
identificar a Justiça com o próprio Deus, quando diz: “A justiça que
vive em si mesma, sem dúvida, é Deus; essa vive imutavelmente.
Assim como, porém, sendo ela a vida em si mesma, torna-se também
a nossa vida, quando dela de qualquer maneira participamos, do
mesmo modo enquanto justiça perfeita torna-se também nossa justiça,
quando aderimos a ela vivamente. E seremos mais ou menos justos,
conforme a nossa adesão a ela seja maior ou menor” (Epístola 120, 1).
305
O Livre Arbítrio I, 13, 27. Esse conceito reaparecerá, mais tarde, em
A Cidade de Deus, quando, comentando acerca dos castigos eternos,
por ocasião do juízo final, diz: “Não se deve, porém, negar que o fogo
será, segundo a diversidade de merecimentos maus, para uns mais
brando e para outros mais vivo, quer varie sua intensidade e violência
segundo a pena merecida, quer arda por igual, mas nem todos lhe
sintam por igual o sofrimento que causa” (A cidade de Deus XXI, 16),
pois “a justiça é a virtude que dá a cada um o que é seu” (Ibid., XIX,
21).
306
A cidade de Deus XIX, 23.
307
Epístola 155, 1.
133
com justiça a libido e as demais paixões. Portanto, quando o
homem não serve a Deus, que justiça há nele?”308
314
A cidade de Deus XIX, 23.
315
Ibid., I, 15. Por isso, um ou dois anos antes de começar a escrever A
Cidade de Deus, em passagem já anteriormente citada, Agostinho
interrogava o Senador Volusiano sobre “quais leis de qualquer Estado
se podem de algum modo confrontar com os dois preceitos nos quais
Cristo diz que se compreendia toda a Lei e os Profetas: ‘Amarás o teu
Deus (...) Amarás o teu próximo (...) Nelas se encontra a salvação de
um Estado digno de louvor, pois não se funda nem se conserva melhor
o mesmo do que mediante o fundamento e o vínculo da fé e da sólida
concórdia, a saber, quando se ama o bem comum, que na sua
expressão mais alta e verdadeira é Deus mesmo, e n’Ele os homens se
amam mutuamente com a máxima sinceridade” (Epístola 137).
316
A cidade de Deus XIX, 24.
317
Os nossos costumes, diz Agostinho: “são julgados não pelo que
cada um conhece, mas pelo que cada um ama; nem se tornam bons ou
maus os costumes, senão pelos bons ou maus afetos” (Epístola 155).
135
natureza, o desenvolvimento e os fins das duas cidades,
Agostinho toma como medida o amor:
328
Epístola 137.
329
Epístola 151.
330
A cidade de Deus XIX, 11.
139
Para Agostinho, a paz é um bem imanente à natureza
humana. Todos a desejam: bons e maus331, com efeito, “a
paz é aspiração última de toda natureza e de todos os
homens, mesmo os maus”332 e, consequentemente, o maior
bem temporal que um Estado pode proporcionar. A paz, diz
Agostinho, “é o bem supremo da cidade”.333
331
“Quem quer que repare nas coisas humanas e na natureza delas
reconhecerá comigo que, assim como não há quem não queira ser
feliz, assim também não há quem não queira a paz” (A cidade de Deus
XIX, 12).
332
Id.
333
Id.
334
Ibid., XII, 27.
335
Cf. A cidade de Deus XIX, 12.
140
6 Fundamento da ordenada concórdia ou
paz temporal no estado: a verdadeira justiça
336
“Os maus combatem pela paz dos seus e, se possível, querem
submeter todos, para todos servirem um só. Odeiam a justa paz de
Deus e amam a sua própria, embora injusta. Impossível é que não se
ame a paz, seja qual for” (A cidade de Deus XIX, 12). Mas “quem
sabe antepor o reto ao torto e a ordem à perversidade reconhece que,
comparada com a paz dos justos, a paz dos pecadores não merece
sequer o nome de paz” (Ibid., XX, 12).
337
O livre arbítrio I, 13, 27.
338
A cidade de Deus XIX, 13.
141
Da mesma forma que, ao falar da justiça, enquanto
“justa associação de homens concordes”, Agostinho não
está falando de uma justiça qualquer, mas da “verdadeira
justiça”. Também, ao relacionar a justiça com a concórdia,
ele não está falando de uma concórdia qualquer, mas da
“ordenada concordia”, ou seja, a paz temporal que garanta a
justa ordem, aquela que “subordina as coisas somente às
dignas, as corporais às espirituais, as inferiores às
superiores, as temporais às sempiternas”.339
339
Epístola 140.
340
A cidade de Deus XIX, 13.
341
Ibid., XIX, 12.
342
“A verdadeira virtude consiste, portanto, fazer uso dos bens e dos
males e em referir tudo ao fim último, que nos porá na posse de
perfeita e incomparável paz” (Ibid., XIX, 10).
142
justa, ou seja, as “guerras justas” são permitidas, mas só
devem empreender-se por necessidade e para o bem da paz.
343
Epístola 138.
344
Epístola 189.
345
Epístola 229.
143
Como se vê, a “ordenada concórdia” está
fundamentada na “verdadeira justiça” e esta, por sua vez,
deverá estar assentada no princípio do amor. Mais uma vez,
Agostinho apresenta o preceito da “verdadeira caridade”,
expressão maior do amor ou do duplo preceito da caridade
(amor de Deus e do próximo por causa de Deus) como
caminho para se alcançar a “paz temporal” ou “ordenada
concórdia”: “na falta da piedade ou da caridade, a paz deste
mundo não passa de uma isca, um convite ou um reforço
para a luxúria e a perdição”.346 O amor guarda a ordem do
ser: “A piedade, pois, a saber, o culto do verdadeiro Deus, é
útil para tudo: ela, de fato, nos ajuda a afastar ou avaliar as
moléstias desta vida e nos conduz àquela vida de salvação
em que não devemos mais sofrer nenhum mal, mas somente
gozar do sumo e eterno Bem”.347
346
Epístola 231.
347
Epístola 155.
144
7 A Paz e a “guerra justa” na história
353
Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. 1999, p.
590.
354
Quanto aos gastos bélicos, o mundo começa a ficar indignado.
Surgem instituições em defesa da paz em muitos países. “Essas
instituições fazem pesquisas e divulgam dados que têm impacto sobre
a opinião pública mundial. Por exemplo: para cada dólar que a ONU
gasta em missões de paz, o mundo investe 2 mil dólares em guerra;
em 1997 foram gastos 740 bilhões de dólares em armas, o que
representa 1 milhão e 400 mil dólares por minuto; em 2003, o total
mundial de gastos militares chegou a 960 bilhões de dólares, o que
representa mais de US$ 30 mil (cerca de R$ 100 mil) por segundo!
Esses e outros dados alimentam uma indignação nova, e a população
mundial é convidada a tomar posição” (Texto Base da Campanha da
Fraternidade – 2005 Ecumênica, 51).
355
Comissão Pontifícia Justiça e Paz – A Santa Sé e o
desenvolvimento, 1977.
147
A busca da paz requer questionamento sobre as raízes
dos atentados contra a paz em forma de guerra. Uma das
raízes mais profundas costuma ser a diferença entre ricos e
pobres e as assombrosas desigualdades socioeconômicas
entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A ética da
paz tem sua base em uma ética da justiça, que implica a
proposta de nova ordem econômica internacional igualitária
e um modelo de desenvolvimento solidário com os povos do
Terceiro Mundo e com os marginalizados do Quarto Mundo
e o respeito da natureza como morada da humanidade.
591.
148
A paz é um valor, um dever universal e encontra seu
fundamento na ordem racional e moral da sociedade que
tem as suas raízes no próprio Deus, “fonte primária do ser,
verdade essencial e bem supremo”.357 A paz não é
simplesmente ausência de guerra e, tampouco, um equilíbrio
estável entre forças adversárias, mas se funda sobre uma
correta concepção de pessoa humana e exige a edificação de
uma ordem segundo a justiça e a caridade.358
153
Essa economia política é desastrosa para a
humanidade, é absolutamente antiética, desde que a ética
seja a forma de os seres humanos buscarem aquilo que é
bom para todos, útil para as comunidades, que é desejável
para estar conforme a natureza social do ser humano.
154
últimos dois mil anos. Desde Platão e Aristóteles, a
economia era sempre, e a palavra, filologicamente, significa
isto: o atendimento das necessidades da casa. A economia
não tem mais essa natureza. Transformou-se na técnica de
enriquecimento linear e, cada vez mais crescente, às custas
das classes e da natureza. A economia deve voltar a ser um
capítulo da política, porque é na política que os seres
humanos decidem as formas de produzir, as maneiras de
distribuir e estabelecem os consensos de como, juntos, viver
e sobreviver.
155
mais e mais se organiza em mil movimentos para que haja
novas formas de poder e antipoder. Que o poder se
descentralize. Que o consenso não seja negociado e
construído só dentro do Parlamento, mas seja continuamente
frutificado e amadurecido no diálogo com a sociedade civil
e com todos os seus movimentos.364
Em terceiro, com esse novo diálogo, com essa
interação do poder social com o poder político, pode-se
garantir, postular e reforçar a busca do acesso a bens e
serviços necessários e indispensáveis para uma vida
minimamente digna a todos os cidadãos. Essa vida não vem
por si mesma; vem por meio de muita pressão e negociação.
364
O caminho é a participação. Engajar-se nas organizações do
movimento social, fortalecer a democracia participativa por meio de
conselhos populares, incentivar a gestão coletiva governo e sociedade,
rever os padrões e quebrar preconceitos. O grande desafio que temos
pela frente é a busca da plena cidadania para todos e o resgate dos
Direitos Humanos. Temos, também, que investir numa representação
política que venha defender os interesses dos trabalhadores e dos mais
pobres e fazer com que o Estado garanta a justiça, a dignidade e os
direitos fundamentais da pessoa humana. É fundamental que se
fortifiquem a consciência e a organização política. Só assim os direitos
dos trabalhadores e dos cidadãos e cidadãs, em geral, podem ser
respeitados.
156
e da transparência do poder. Hoje, com a recuperação do
estatuto ético, o Estado ganha credibilidade.
365
Cf. BOFF, Leonardo. 2000.
157
da alegria, e não condenados a viver e a sofrer num vale de
lágrimas.
590-591.
158
princípio da “verdadeira justiça”, ou da “divina ordem”,367
ou seja, que haja a subordinação das coisas inferiores (os
mandados) às superiores (aos que mandam). Assim, no caso
da paz doméstica, por exemplo, Agostinho afirma que é
justo que “mandem os que cuidam, como o homem à
mulher, os pais aos filhos, os patrões aos criados e
obedeçam quem é objeto de cuidados, como as mulheres aos
maridos, os filhos aos pais, os criados aos patrões”.368
378
Confissões XIII, 35, 50.
163
164
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pio XI, Encíclica Ad salutem humani generis. Apud, João Paulo II.
379
380
As que ele escreveu no retiro de Cassicíaco antes do batismo (A
vida feliz, Contra Acadêmicos e Solilóquios) e principalmente
Confissões.
381
Cf. João Paulo II. 1986, p. 7.
382
João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio. São Paulo: Paulinas,
1998, nº 47.
166
pessoa se vê chamada a criar um projeto de vida muito
particular. Percebe-se, então, que a tentativa da humanidade
de criar uma cultura nova e racional, rejeitando toda e
qualquer ligação entre fé e razão e entre Deus e os homens,
ou seja, tirar Deus como possibilidade, princípio e fim,
gerou uma cultura de morte, sem horizonte e sem sentido.
Nesse sentido, pode-se dizer que não haverá encontro com a
verdade para aquele que se detém apenas nos estreitos
limites da razão e despreza a fé como possibilidade de
transcendência. A razão, por si só, não alcança a plenitude
do mistério.
395
A cidade de Deus 14, 28.
396
1João 1, 8.
171
172
ANEXO 1
174
46 - De Baptismo Contra Donatistas (400)
47 - De Trinitate (412 - 420)
48 - De Bono Coniugali (401)
49 - De Sancta Virginitate (401)
50 - Contra litteras Petiliani (401)
51 - De Unitate Ecclesiae (401)
52 - De Genesi ad litteram (401-415)
53 - De Actis Cum Felice Manichaeo (404)
54 - De Natura Boni (405)
55 - Contra Secundinum Manichaeum (405-406)
56 - Contra Cresconium Grammaticum Partis Donati
(406)
57 - Sex Questiones Expositae Contra Paganos (409)
58 - De unico Baptismo Contra Petilianum (411)
59 - Breviculus Collationis Cum Danatistis (411)
61 - De Gratia Novi Testamenti ad Honoratum (412)
62 - Contra Donatistas Post Collationem (412)
63 - De Peccatorum Meritis et Remissione et de
Baptismo Parvulorum (412)
64 - De Fide et Operibus (413)
65 - De Spiritu et littera ad Marcellinum (413)
66 - De Videndo Deo (413)
67 - De Civitate Dei (412-426)
68 - De Bono Viduitatis (414)
69 - De Octo Quaestionibus ex Veteri Testamento
(414)
70 - De Natura et Gratia (415)
71 - De Patientia (415)
72 - Contra Priscillianistas et Origenistas ad
Orosium (415)
73 - De Origine Animae Animis ad Hieronymum
(415)
74 - De Setentia Jacobi ad Hieronymum (415)
175
75 - De Perfectione Justitiae Himinis ad Eutropium et
Paulum (415)
76 - Enarrationes in Psalmos (415 - 422)
77 - Tractatus in Joannis Evangelium (416-417)
78 - Tractatus in Epistolam Joannis ad Parthos (416)
79 - De Gestis Pelagii in Synodo Diospolitano (416)
80 - De Corretione Donatistarum (417)
81 - De Prasentia Dei (417)
82 - De Gratia Christi et Peccato Originali (418)
83 - De Gestis Cum Emerito Caesareensi
Donatistorum Episcopo (418)
84 - Contra Sermones Arianorum (418)
85 - De Coniugiis Adulterinis (419)
86 - Locutionum in Heptateuchum (419)
87 - Questiones in Heptateuchum (419)
88 - De Nupitiis et Concupiscentia (419-420)
89 - De anima et eius Origine (419-420)
90 - Contra duas Epistolas Pelagianorum (420)
91 - Contra Gaudentium Donatistarum Episcopum
(420)
92 - Contra Adversarium legis et Prophetarum (420)
93 - Contra Julianum Haeresis Pelagianae
Defensorem (421)
94 - Enchiridium ad Laurentium (421)
95 - De Cura pro Mortuis Gerenda (421)
96 - De Octo Dulcitii Quaestionibus (422)
97 - Regula ad Servos Dei (423)
98 - De Gratia et Libero Arbitrio (426-427)
99 - De Correptione et Gratia (426-427)
100 - Retractationum (426-427)
101 - Speculum de Scriptura Sacra (427)
102 - Collatio cum Maximino Arianorum Episcopo
(428)
176
103 - Contra Maximinum Arianorum Episcopo (428)
104 - Tractatus Adversus Judaeus (428)
105 - De Dono Perseverantiae (428-429)
106 - De Praedestinatione Sanctum (428-429)
107 - Opus Imperfectum Contra Juliano (430)
108 - Questionum Septemdecim in Ev. Secundum
Mathaeum (data incerta)
109 - Expositio Epistolae ad Duodecim Tribus (data
incerta).
177
178
REFERÊNCIAS
Primárias
179
______ O Livre Arbítrio. 3. ed. Trad, org. introd. e nota, Nair
de Assis Oliveira; rev. Honório Dalbosco. São
Paulo: Paulus, 1995. 296 p. (Coleção patrística).
______. Solilóquios e a vida feliz.: Solilóquios. Trad. e nota,
Adaury Fiorótti. A Vida Feliz: Trad. Nair de Assis
Oliveira; introd. e nota, Roque Frangiotti; rev. H.
Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1998. 160 p.
(Patrística; 11).
180
Secundárias
181
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Augustinum
Hipponensem: pelo 16º centenário da conversão de
Santo Agostinho. Petrópolis: Vozes, 1986. 48 p.
______. Carta encíclica Fides et Ratio: sobre as relações
entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 1998. 143 p.
182
ROCHA, Hylton Miranda. Um coração inquieto: vida de
Santo Agostinho narrada para o homem de hoje. 5.
ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1979. 147 p.
(Coleção cidadãos do reino).
183
92 p.
184
História da Filosofia Cristã: desde as origens até
Nicolau de Cusa. 3. ed. Trad. e nota. Raimundo
Vier. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 139-208.
185
tardia. In: DE BONI, Luis Alberto (Org.). Idade
Média: ética e política. 2. ed. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1996. (Coleção Filosofia, n. 38). p.
21-40.
186
GILSON. Etienne. Dos Apologistas a Santo Ambrósio. In:
______. A Filosofia na Idade Média. Trad. Eduardo
Brandão. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.
105-129.
187
MATHIEU-ROSSAY, Jean. Agostinho. In: ______.
Dicionário do Cristianismo. Trad. Sieni Maria
Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992. p. 18-19.
188
PIERRAND, Pierre. História da Igreja. 4. ed. Trad. Álvaro
Cunha. rev. Luiz João Gaio. São Paulo: Paulus,
1982. 297 p.
189
SCHLESINGER, Hugo; PORTO, Humberto. Agostinho de
Hipona. In: ______. Dicionário Enciclopédico das
religiões. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1. p. 90-91.
190
TRAPÈ, Agostino. Agostinho de Hipona. In: DI
BERARDINO, Ângelo (Org.). Dicionário patrístico e
de antiguidades cristãs. Trad. de Cristina Andrade.
Petrópolis: Vozes, 2002. p. 54-59.
191
192
Curso de Graduação em Filosofia pelo
Instituto Filosófico Arquidiocesano de
Maringá IFAMA.
Presbítero da Arquidiocese de Maringá,
Pe. Leomar Antonio Montagna,
atualmente, é Assessor da Pastoral
Universitária, Diretor e Professor do
Curso de Licenciatura em Filosofia da
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR) Câmpus Maringá;
Professor convidado da Faculdade
Missioneira do Paraná (FAMIPAR) de
Cascavel;
Assessor e Professor da Escola
Teológica Para Cristãos Leigos da
Arquidiocese de Maringá.
Membro do Conselho Editorial da
Editora Humanitas Vivens LTDA –
Editora On-line;
PUBLICOU esta mesma obra em uma
primeira edição on-line pela Editora
Humanitas Vivens LTDA, disponível no
Prof. Pe. Leomar Antonio MONTAGNA, site www.humanitasvivens.com.br.
possui Mestrado em Filosofia pela Autor do volume Como ler Agostinho,
Pontifícia Universidade Católica do que será publicado na coleção Como ler
Paraná PUCPR; os Pensadores, da Editora Humanitas
Curso de Especialização, ênfase em Ética, Vivens LTDA, coordenada pelos
também, pela Pontifícia Universidade professores Claudinei Luiz CHITOLINA
Católica do Paraná PUCPR; e José Francisco de Assis DIAS.
Pós-Graduação em História do Autor de vários artigos para revistas e
Pensamento Brasileiro pela Universidade jornais, palestras e cursos de breve
Estadual de Londrina UEL; duração.
Reconhecimento de Graduação em Na área de Filosofia, atua,
Filosofia pela Universidade Estadual do principalmente, nos seguintes temas:
Oeste do Paraná UNIOESTE; Filosofia, Ética, Filosofia Política, Santo
Graduação em Teologia pelo Instituto Agostinho, História da Filosofia e
Teológico Paulo VI de Londrina; História do Pensamento Brasileiro e
Graduação em Ciências: Licenciatura de Latino-americano.
1º Grau pela Fundação Faculdade de Na área de Teologia tem experiência em
Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari Moral Social e Doutrina Social da Igreja.
FAFICLEM e ...
193
A presente obra. A ética como elemento de harmonia social em Santo Agostinho, procura
demonstrar que o amor é o sinal distintivo dos cidadãos da Cidade Celeste e o
fundamento da moral tanto individual quanto da sociedade humana e tem por meta a
busca da felicidade do homem. O amor gera a concórdia que, num plano social, é a base
de uma sociedade justa. Dessa forma, Agostinho faz da ordem social um prolongamento
da ordem moral interior; assim, a organização dos homens em sociedade, fundamentada
no amor, não tem outra finalidade senão garantir a paz ou felicidade temporal dos
homens, com vista à paz eterna ou à verdadeira felicidade.
Esta obra é composta de três capítulos. No primeiro capítulo, descrevem-se os caminhos
da vida de Santo Agostinho, e, nele, o “Homem Agostinho”, identifica-se o homem
enquanto humanidade em qualquer tempo e contexto. No segundo e terceiro capítulos,
abordam-se os princípios da ética agostiniana e sua dimensão social que é o amor.
Estudar a ética como elemento de harmonia social em Santo Agostinho é estudar o
problema do amor. Para ele, o amor está na própria natureza humana. Trata-se de um
apetite natural, pressuposto pela vontade livre, que deve, iluminada pela luz natural da
razão, orientá-lo para Deus. O amor é, pois, uma atividade decorrente do próprio ser
humano. O amor, neste sentido, é uma espécie de desejo. O desejo é uma tendência que
inquieta o homem, fazendo-o querer possuir tudo aquilo que é distinto dele mesmo, tendo
como fim último torná-lo feliz. Mas, para que o homem seja realmente feliz, é necessário
que, por meio da virtude, ele ordene o seu amor-desejo em relação a todas as coisas e o
oriente para Deus, único capaz de satisfazê-lo plenamente.
No pensamento de Agostinho, o amor é intrínseco ao ser do homem do qual não podemos
separá-lo. E, se há um problema, este não diz respeito ao amor como tal, nem à
necessidade de amar, mas unicamente à escolha do objeto a ser amado, ao valor ou
intensidade que se dá ao objeto amado, pois, em si, ele é um bem.
Dentro do princípio da ordem dos seres, o amor é o parâmetro na hierarquia de valores
das coisas a serem amadas. Nesta hierarquia das coisas a serem amadas, Deus aparece em
primeiro lugar: a Ele deve-se amar com todo amor. Para Agostinho, a força maior da
moral interior é o amor, expresso no duplo preceito da caridade: “Amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
194