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Com o propósito de compreender o processo da inclusão na sociedade vigente

se faz necessário um resumo do percurso histórico do tratamento oferecido às pessoas


com deficiências, não esquecendo de destacar a tendência político e cultural que
transcorrem no decurso da formação da sociedade. Determinadas contribuições
significativas de autores como Pessotti (1984) e Carvalho; Rocha e Silva (2006)
referem-se a essa retrospectiva.
Nas sociedades primitivas onde o homem nômade, sobrevivia apenas da caça,
pesca e coleta de frutos. As pessoas com deficiências sucumbiam-se pela dificuldade
de locomoção. Nota-se que uma espécie de seleção natural ocorria sem qualquer
comoção, compaixão ou ódio. Eram simplesmente abandonados por não conseguirem
acompanhar o bando. Logo depois, nas sociedades escravistas a evidenciação da
mitologia e da religiosidade eram usados como sustentação para a imposição de
princípios, também existia um padrão físico e mental para as pessoas (PESSOTTI,
1984). O que acontecia em Esparta na Cidade-Estado é um exemplo disso, as crianças
que pertenciam à nobreza nasciadas com alguma deficiência eram descartadas pois
não serviam ao propósito daquela época, preparar soldados impecáveis para as
batalhas. Não muito diferente com os escravos, quando estes nasciam com algum
"defeito", eram eliminados da mesma forma, já que não serviam para o trabalho braçal.
O Humanismo na Idade Moderna enaltecia o valor do homem, as pessoas com
deficiência eram vistas sob o ângulo patológico. A pessoa com deficiência era rejeitada
e isolada da sociedade (CARVALHO; ROCHA; SILVA, 2006). Já na década de 1970
iniciaram as mobilizações pela integração, sendo assim as diferenças eram
desconsideradas e passaram ser aceitas no convívio social, pois não poderiam
simplesmente deixar de existir. Assim com os avanços científicos, no final da década
de 1960, apresentaram diversos projetos de inserção das pessoas com deficiência em
todos os espaços na sociedade. Buscando atender as necessidades sociais,
psicológicas e físicas dessas pessoas atentaram-se a inserção social das mesmas,
através de instituições sociais e escolas.
Faz-se necessário compreender a diferença entre integração e inclusão. A
definição de integração busca as mudanças individuais no sujeito para normalizá-lo, em
contrapartida a inclusão preocupa-se com o desenvolvimento do sujeito e suas
possibilidades de inserção social pensando em ajustes e adequações específicas ás
suas necessidades específicas (físicas, materiais, humanas, sociais, etc).
Trata-se de assegurar às pessoas com deficiência, condições
legítimas aos direitos humanos, que tenham atendimento em escolas
especiais quando houver severidade de algumas deficiências, mas que
tenham direito ao acesso no ensino básico regular com qualidade, tendo
a oportunidade da aprendizagem a partir da interação social, das
relações interpessoais, aspecto básico da democracia e da cidadania
(OMOTE, 1999).

A educação inclusiva define-se como “a prática da inclusão de todos


independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou cultural em
escolas e salas de aula provedoras onde as necessidades desses alunos sejam
satisfeitas” (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 21). Os autores apontam um
significado considerável de inclusão e oportuniza a reflexão de que inclusão não é
exclusivo às pessoas com deficiência, contudo inclusão da heterogeneidade de nossos
discentes, sejam de ordem cultural, social, emocional, econômica, física ou
neurológica. Lamentávelmente deparamos neste processo, em muitas ocasiões que
desrespeitam e não dispõe de condições para que tais indivíduos exerçam o direito á
inclusão. O próprio sistema educacional não suporta a demanda de alunos com
múltiplas dificuldades e de inclusão em razão da carência de investimentos, a
deficiente formação de alguns profissionais da educação, a precariedade das
estruturas físicas e pedagógicas das escolas e a escassez de conhecimento ou
condições para que os docentes elaborem as adaptações curriculares necessárias com
o propósito de potencializar as particularidades e especificidades de nossos
estudantes.
No Brasil, documentos oficiais no ponto de vista da educação inclusiva, foram
planejados baseado em um movimento internacional enfatizando eventos realizados
em Jontiem e Salamanca que resultaram na Declaração sobre Educação para Todos
(1990) e a Declaração de Salamanca (1994). A Declaração sobre Educação para
Todos, plano de ação para atender as necessidades básicas de aprendizagens dos
alunos, ela foi aprovada pela Conferência sobre Educação para Todos, em Jomtien,
Tailândia, 1990. Esse documento visam um cuidado especial às necessidades básicas
de aprendizagem das pessoas com deficiências. O segundo documento, a Declaração
de Salamanca de 1994 "preconiza que a escola deve acolher e atender as
necessidades de todas as crianças independente das suas peculiaridades". Em 1998,
elaboraram um documento: Adaptações Curriculares para Alunos com Necessidades
Educacionais Especiais no Âmbito dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Em
específico no Brasil, a Constituição Federal de 1988 abrange em seu artigo 208, a
precaução com integração escolar enquanto condição constitucional, salientando que o
atendimento aos indivíduos que apresentam deficiência, deve ser preferencialmente na
rede regular de ensino. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi publicado em
1990 como uma resposta às diretrizes internacionais estabelecidas pela Convenção
dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU, 1989).

"Em relação à educação especial prevê que as crianças com


deficiência sejam atendidas preferencialmente no sistema regular de
ensino, prioriza a criança e o adolescente e estabelece os direitos e os
deveres do Estado para com todas as crianças e jovens brasileiros."

Em dezembro de 1996 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional 9.394/96, com a intenção de agilizar no país o processo de inclusão no ensino
regular. Obviamente essa lei expõe em seu contexto algumas evoluções importantes
como a oferta da educação especial na faixa etária de zero a seis anos; a diligência
com o avanço do padrão de ensino para os alunos com deficiência e a preparação do
professor para trabalhar com as limitações e diversidade dos alunos. O capítulo V
dessa lei no artigo 58 "trata especificamente da Educação especial e diz que ela deve
ser ofertada preferencialmente na rede regular de ensino e, quando necessário, deve
haver serviços de apoio especializado". O Decreto n. 7.611 de dezessete de novembro
de 2011 em seu artigo IV também estabelece que:

“O Poder Público estimulará o acesso ao atendimento


educacional especializado de forma complementar ou suplementar ao
ensino regular, assegurando a dupla matrícula nos termos do art. 9º-A
do Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007” (BRASIL, 2011).

O Estatuto da pessoa com deficiência aprovado em seis de julho de 2015 pela


Lei 13.146 em seu capítulo lV também sugere o direito da pessoa com deficiência a
educação em todos os níveis e modalidades conforme suas individualidades. Defende
em parágrafo único que

“É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da


sociedade assegurar a educação de qualidade à pessoa com
deficiência, colocando-a a salvo de toda a forma de negligência,
discriminação, violência, crueldade e opressão escolar” (BRASIL 2015).

O pedagogo, quando orientador desse processo, necessita trabalhar a


superação do preconceito relativo às diversidades no espaço escolar, sugerindo a
valorização do ser humano, sua identidade e suas necessidades. Como parte
impressíndivel desse processo, o comprometimento do pedagogo firma vículos de
interação entre os envolvidos direta e indiretamente com o tema a ser trabalhado.
Requer envolvimento de todos os sujeitos do contexto escolar, tendo em consideração
suas contribuições particulares para a resolução, problematização, discussão e
superação de máculas causadas pela ação humana e no dia-a-dia escolar.
Ao meu ver, a Pedagogia ocupa-se, de fato, dos
processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes
disso ela tem um significado bem mais amplo, bem mais
globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a
problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao
mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O
pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando
objetivos sóciopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas
organizativas e metodológicas da ação educativa (LIBÂNEO,
2004, p.29).

Assim sendo, o papel do pedagogo é mediar esse processo, disponibilizando


condições reais para que o aluno possa construir sua identidade e estruturas
psicológicas de modo a valorizar-se durante os processos de ação e interação com os
demais.
Vigotski (1997) almejava que a deficiência fosse superada no plano social. A
escola tem o dever de colaborar para isso. Com o planejamento e desenvolvimento
pedagógico de atividades que propiciem o conhecimento na interação social de
professor e aluno e entre alunos, independente das suas diferenças e/ou limitações.
A ninguém ocorre sequer negar a necessidade da
pedagogia especial. Não se pode afirmar que não existem
conhecimentos especiais para os cegos, para os surdos e os
mentalmente atrasados. Porém esses conhecimentos e essas
aprendizagens especiais há que se subordiná-los à educação
comum, à aprendizagem comum, a pedagogia especial deve
estar diluída na atividade geral da criança (VIGOTSKI, 1997, p.
65).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL. L. A.; Difeferenças ,Estigma e preconceitos: O desafio da inclusão. In:
Oliveira,M.K.de; Souza,D.TR;Rego,T.C.(Orgs). Psicologia,educação e as temáticas da
Vida contemporânea.São Paulo: Moderna,2002.
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especializado e dá outras providências, de 11 de novembro de 2011. Brasília, 2011.
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1990. Disponível em: www2.camara.gov.br/publicacoes/internet/ publicações-
/estatutocrianca.pdf
BRASIL. Lei nº 13.146 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
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CARVALHO, A. R; ROCHA, J. V. da; SILVA, V. L. R. da. (Orgs.). Pessoa com
deficiência na História: modelos de tratamento e compreensão. In: CARVALHO, A. R;
ROCHA, J. V. da; SILVA, V. L. R. da. Programa Institucional de Ações relativas às
pessoas com necessidades Especiais. Pessoa com deficiência: aspectos teóricos e
práticos. Cascavel: EDUNIOESTE, 2006.
LIBANEO, J.C. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 7ª ed. São Paulo:Cortez, 2004.
OMOTE, Normalização, integração, inclusão. Ponto de Vista, Florianópolis, v. 1, n. 1, p.
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STAINBACK, S. &. STAINBACK, W. Inclusão-um guia para educadores. Porto Alegre.
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VIGOTSKY, L.S, A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da
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VIGOTSKI, L. S. Obras escogidas. Tomo V. Madrid: Visor, 1997 VIGOTSKY, L. S.
Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes,1998.

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