Você está na página 1de 11

O CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES, MODALIDADE

NORMAL, EM NÍVEL MÉDIO – QUESTÕES ATUAIS EM


PERSPECTIVA HISTÓRICA

Ligia Lobo de Assis1 - UNINTER

Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo pretende apresentar reflexões relacionadas aos estudos realizados sobre
políticas e processos do Ensino Médio e Profissional com a formação de professores, mais
especificamente com a história do Ensino Normal e sua tradição como local de formação dos
professores para a primeira etapa de escolarização até o final do século XX, bem como a
mudança deste lócus ideal a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9394/96, que atribui a formação de docentes para a Educação Básica ao Ensino Superior,
através dos cursos de licenciatura, admitindo a formação em Nível Médio, na Modalidade
Normal, para atuação das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, apresenta alguns
aspectos da constituição histórica do Curso, com ênfase no contexto da promulgação da LDB
9394/96 e a cessação da oferta da Habilitação ao Magistério no Paraná e seus objetivos, perfil
do egresso e trajetória de formação, contidos nos documentos orientadores que servem de
base barra a sua oferta após a retomada de sua oferta pela Secretaria Estadual de Educação do
Paraná – SEED, em 2004. Desse estudo depreende-se, entre outros elementos que Ainda que
se tenha ampliado o acesso ao Ensino Superior nas últimas décadas, que o Estado ofereça
programas de formação em serviço entre outras estratégias, tanto os primeiros anos do Ensino
Fundamental, quanto a Educação Infantil ainda não atingiram o prescrito na LDB 9394/96.
Falar sobre formação docente fora do Ensino Superior não é tarefa simples, especialmente do
ponto de vista teórico. Mas entre o ideal de formação que se deseja e a realidade das escolas e
da profissão docente, há uma discrepância histórica.

Palavras-chave: Ensino Médio. Formação Docente. Curso Normal.

1
Mestranda em Educação e Novas Tecnologias pelo UNINTER, Especialista em Pedagogia Escolar pela
FACINTER, Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia e Coordenadora de Área do Subprojeto de
Pedagogia UNINTER - PIBID. E-mail: ligia.a@uninter.com.

ISSN 2176-1396
39982

Introdução

O presente artigo pretende apresentar reflexões relacionadas aos estudos realizados


sobre políticas e processos do Ensino Médio e Profissional com a formação de professores,
mais especificamente com a história do Ensino Normal e sua tradição como local de formação
dos professores para a primeira etapa de escolarização até o final do século XX, bem como a
mudança deste lócus ideal a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9394/96, que atribui a formação de docentes para a Educação Básica ao Ensino Superior,
através dos cursos de licenciatura, admitindo a formação em Nível Médio, na Modalidade
Normal, para atuação das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
O olhar sobre o Curso Normal, apesar da mudança acima exposta, se justifica pela
manutenção da demanda social pelo o curso, indicando que seus egressos ainda encontram
inserção profissional, especialmente na Educação Infantil e até mesmo nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental. Apenas na cidade de Curitiba, três colégios públicos estaduais mantêm a
sua oferta, tanto na modalidade de currículo integrado ao Ensino Médio, quanto de
aproveitamento de estudos, para os que já possuem a conclusão desta etapa de ensino.
A premissa de que os alunos egressos dos Cursos de Formação de Docentes,
modalidade Normal, em sua denominação atual, ainda encontram lugar apesar das
recomendações legais, impõe a reflexão sobre outros aspectos intrinsecamente ligados,
referentes à formação, ao trabalho e à carreira docente neste momento histórico, entre eles a
baixa procura pelos cursos de licenciatura, o que reflete o desinteresse pela carreira docente, o
desprestigio social, a baixa remuneração e as condições de trabalho adversas. Some-se a isto a
discrepância entre a extensão da obrigatoriedade e consequente expansão da oferta da
Educação Básica, e a capacidade de formação de professores para atender a esse crescimento
para atender tal demanda.
Estes elementos possivelmente contribuíram para um quadro que apresenta falta de
professores com formação superior adequada para todos os níveis de ensino, especialmente na
Educação Infantil, mas que também atinge os primeiros anos do Ensino Fundamental. É nesse
contexto que alunos estão encontrando na carreira docente uma oportunidade de ascensão
social e econômica. O Curso Normal que tradicionalmente abrigava as filhas da classe média
e da elite em meados do século XX, ganha nas últimas décadas um novo perfil de aluno.
Para compreender este movimento do Curso Normal e especialmente sua recolocação
atual, é preciso compreendê-lo em perspectiva histórica: seu início ainda no século XIX, o
39983

período de estruturação a partir dos anos trinta, suas inúmeras reformas até a LDB atualmente
em vigor. No caso do Estado do Paraná, há ainda peculiaridades locais como a implantação
do PROEM em 1996, que determinava a cessação progressiva da oferta deste e demais cursos
profissionalizantes na rede pública estadual e só voltou a ter oferta regular progressiva a partir
de 2004.

Aspectos da constituição histórica do Curso Normal

A formação de professores para atender a demanda social e o interesse público em


ampliar a oferta da educação básica tem sido tema de debates desde o Brasil Império, período
em que a formação de professores para a escola primária ocorria através do recrutamento
daqueles que apresentavam as características necessárias à docência, identificadas
principalmente através da prática do ensino mutuo, regulamentado desde 1827. O Curso
Normal também tem sua origem no Império com a criação da Escola Normal de Niterói, no
Rio de Janeiro ainda em 1835, sendo que neste período era destinado aos homens, formando a
primeira mulher apenas em 1866, em Niterói. No Paraná, a fundação da Escola Normal de
Curitiba ocorreu em 12 de abril de 1876.
Segundo Cavalcante (1994, p. 28), apesar da criação de dezenove escolas normais
entre 1835 e 1883 (Niterói e Minas Gerais em 1835, Bahia em 1836, São Paulo em 1846,
Pernambuco em 1865, Alagoas em 1869, Rio Grande do Sul e Pará em 1870, Sergipe em
1871, Amazonas em 1872, Espirito Santo em 1973, Rio Grande do Norte e Maranhão em
1874, Paraná e Mato Grosso em 1876, Santa Catarina em 1880, Goiás em 1881, Piauí em
1882 e Paraíba em 1883), muitas delas passaram por vários fechamentos e reaberturas, ou
apenas implantavam a cadeira de pedagogia junto aos liceus.
A legislação da época pouco se referia à Educação e à formação de professores. A
Constituição Federal de 1891 trata apenas da competência da União com relação à legislação
do Ensino Superior e ao Ensino Secundário no Distrito Federal, ficando implícita a destinação
aos Estados da responsabilidade com as primeiras etapas da escolarização, com absoluta
maioria de professores leigos. Em razão das disparidades regionais, “excetuando-se São
Paulo, que já começava seu desenvolvimento econômico com o início da industrialização, a
escassez de recursos impediu que houvesse progresso no setor educacional”
(CAVALCANTE, 1994, p. 29).
Na década de 1930, a educação começa a ganhar um contorno nacional, com a criação
do Ministério da Educação e a aproximação dos intelectuais com o Estado Brasileiro, no
39984

sentido de formular políticas educacionais que inspirariam o marco legal em criação, algumas
delas já expressa no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, como “as ideias
em favor do ensino fundamental público, laico, gratuito e obrigatório, que foram consagradas
num capítulo específico na Constituição de 1934”, como relata Cavalcante (1994, p. 30).
A mesma ressalta que com o advento do Estado Novo em 1937, a educação assume
um caráter nacional, baseada na “ideologia da formação do homem nacional, obviamente
atingiu a formação de professores que passou a ser controlada pelo governo da União na sua
organização, nos seus objetivos, no seu funcionamento, inclusive no conteúdo de ensino” (p.
32).
Para Gomes, apesar das inúmeras reformas ocorridas nas primeiras quatro décadas da
República, “só o nacionalismo centralizador (e cada vez mais autoritário) da Revolução de 30,
com a Reforma Francisco Campos (1931) e, sobretudo as Leis Orgânicas de Gustavo
Capanema, deram uma verdadeira organicidade à educação brasileira” (2000, p. 18). No que
se refere à formação dos professores, foram promulgadas em 1946, já após a queda de Getúlio
Vargas, as Leis Orgânicas do Ensino Normal, que estabelecem:

Art. 2º O ensino normal será ministrado em dois ciclos. O primeiro dará o curso de
regentes de ensino primário, em quatro anos, e o segundo, o curso de formação de
professores primários, em três anos.
[...]
Art. 6º O ensino normal manterá da seguinte forma ligação com as outras
modalidades de ensino:
1. O curso de regentes de ensino estará articulado com o curso primário.
2. O curso de formação geral de professores primários, com o curso ginasial.
3. Aos alunos que concluírem o segundo ciclo de ensino normal será assegurado o
direito de ingresso em cursos da faculdade de filosofia, ressalvadas, em cada caso, as
exigências peculiares à matrícula.

Conforme relata Romanelli, a partir das Leis Orgânicas do Ensino Normal,

além das Escolas Normais Regionais e das Escolas Normais, foram criados os
Institutos de Educação, que passaram a funcionar com os cursos citados acima, mais
o Jardim de infância e a Escola Primária anexos e cursos de especialização de
professor primário e habilitação para administradores escolares” (1987, p. 164).

Quanto aos currículos dos cursos, a mesma autora analisa que


39985

apresentava algumas falhas, sobretudo em relação ao ensino normal do 1º ciclo [...].


Como se vê, predominavam as matérias de cultura geral sobre as de formação
profissional. Em se tratando de curso profissionalizante e, portanto, terminal, era de
se esperar que houvesse mais cuidado com as disciplinas de formação especial. É
certo que, em se tratando de curso médio de 1º ciclo, a especialização não poderia
alcançar o mesmo grau que alcançava no segundo ciclo. Mas não se deve esquecer o
caráter eminentemente profissional deste curso: o curso normal regional, como era
chamado, foi, por muito tempo e em muitos locais, o único fornecedor de pessoal
qualificado para operar no ensino primário. [...] Já o curso normal de 2º ciclo
possuía um currículo um pouco mais diversificado e especializado (1987, p. 164-
165).

No que se refere às mudanças ocorridas no período de 1945 a 1960, Cavalcante aponta


que

houve uma expansão do ensino normal, provocando uma oferta maior de professores
habilitados para o então ensino primário. Mas estes ainda apresentavam seus
quadros 44% de professores leigos. A maioria dos estados mostrava grande carência
de docentes habilitados revelando a existência de falhas e distorções no sistema
destinado à preparação do professor primário” (1994, p. 39).

Se, no âmbito da formação de professores a LDB 4024/61 não significou mudanças


profundas de forma e conteúdo, trazendo apenas uma relativa flexibilização do currículo, a
Lei 5692/71 altera tanto a organização do ensino como o Curso Normal: as oito séries iniciais
constituem o 1ºGrau, de caráter obrigatório, ficando a formação docente definitivamente
vinculada ao 2ºGrau, recomendada sua elevação progressiva, atendendo as diferenças das
condições regionais (CAVALCANTE, 1994, p.45). Esse novo currículo é chamado de
Habilitação ao Magistério.
É importante mencionar que o momento histórico brasileiro é pautado pelo
desenvolvimentismo e alinhamento com o capitalismo internacional e trata o
subdesenvolvimento como um problema técnico, que vê a “educação como fator importante
na produção de recursos humanos para o desenvolvimento desejado” (ROMANELLI,1987, p.
199). Assim, a tendência a se privilegiar o planejamento e a racionalidade técnica é a
inspiração para se pensar o novo modelo de formação docente proposto em 1971, tendência
essa que incluía financiamento e cooperação técnica de mecanismos internacionais, altamente
questionáveis, com relação não só à eficiência, mas também em adequação.
Cavalcante indica que a Lei 5692/71
39986

não se limitou a disciplinar a formação de professores. Ela também estabeleceu


critérios de regulamentação profissional; e, nesse sentido, apresentou um dos pontos
mais inovadores. Tais critérios referiam-se a admissão de professores e especialistas,
mediante concurso público de títulos e provas (art. 34), e ao estabelecimento de
remuneração de professores e especialistas, a ser fixado pelos sistemas de ensino,
tendo em vista a maior qualificação em cursos e estágios de formação,
aperfeiçoamento ou especialização, independente do grau de atuação (art. 39). Esses
artigos, se respeitados, eliminaria a curto prazo a figura do professor leigo [...], ao
mesmo tempo em que cumpririam um item importante ligado à valorização dos
profissionais da educação e a consequente melhoria da qualidade de ensino.
Infelizmente, todos os educadores sabem que isso não aconteceu (1994, p. 48).

Um dos aspectos mais polêmicos da lei foi a obrigatoriedade da profissionalização no


2º grau, que foi extinta pela Lei 7044/82, mas não afetou a Habilitação ao Magistério, cuja
estrutura continuou em vigor até mesmo depois das alterações propostas pela LDB 9394 que
seria promulgada apenas em 1996. Para Almeida, ao analisar a equiparação a qualquer outra
habilitação profissional marcou

o Curso Normal de formação de professores que vinha sendo estruturado com base
no entendimento possível de cada época, a partir das condições necessárias para a
formação do profissional da educação que iria atuar no processo de aquisição de
conhecimentos dos alunos que cada vez mais em maior quantidade e cada vez mais
de diferentes classes sociais estabelecidas na sociedade sofre um processo de ruptura
ao ser considerado mais uma habilitação profissional, como um ensino técnico e que
enquanto formação desenvolvida no ensino de 2.º grau deveria seguir as
determinações gerais deste grau de ensino (2004, p. 30).

O contexto da promulgação da LDB 9394/96 e a cessação da oferta da Habilitação ao


Magistério no Paraná

No campo da Educação, os anos de 1980 e 1990 foram marcados por um amplo debate
e a formação docente ocupou lugar central. Nesse contexto, a necessidade de reformulação do
curso já era expressiva e vários estados começavam discussões sobre currículos e propostas
de formação.
No Paraná, segundo Almeida,

Foi estabelecida como meta a ser executada a partir de 1988, a Avaliação da


Proposta Curricular dos Cursos de Magistério, enquadrada dentro do Programa de
Reestruturação do Ensino de 2.º grau, sendo denominado Projeto de Avaliação
Curricular da Habilitação Magistério. Essa avaliação foi considerada necessária
pelas falhas que vinham sendo detectadas pelos professores nos encontros dos Polos
de Magistério e, o que mais pesou foi que o momento histórico da educação
brasileira estava a apontar para as concepções pedagógicas progressistas, exigindo
propostas curriculares que acompanhassem as suas teses e princípios básicos. (2004,
p.41).
39987

A proposta decorrente desses estudos foi aprovada pela Deliberação CEE/PR 001/90 e
neste mesmo ano a implantação foi iniciada em algumas escolas. A partir de então, o 2º Grau
com Habilitação ao Magistério passava a ter duração de quatro anos e “que pretendia superar
o denominado tecnicismo, psicologismo e positivismo que se faziam presentes na década de
80, considerada a época como referência nacional” (PARANÁ, 2006, p.21).
A partir de 1995, contudo, com a troca de gestão e orientação política do estado,
“ocorre mudança radical nos rumos da Educação do Paraná, acompanhando as tendências em
nível internacional e nacional, no sentido de adequação da educação ao capitalismo de
acumulação flexível” (PARANÁ, 2006, p.21) e é neste contexto que a Secretaria de Estado da
Educação do Paraná (SEED), determina o fechamento das matriculas para todos os cursos
profissionalizantes e também para o Magistério.
Em 1996, portanto, antes mesmo da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, o Estado do Paraná iniciou implementação do Programa de Melhoria e Expansão
do Ensino Médio - PROEM, que só não obrigou o fechamento do curso de Magistério em
razão deste ser objeto de legislação específica por meio de Deliberação do Conselho Estadual
de Educação do Estado do Paraná nº 002/90 (PARANÁ, 1990). Conforme está descrito na
Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e
Anos Iniciais do ensino Fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, publicado em
2006 pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná:

O processo de fechamento dos cursos na rede pública não foi sem resistências. Em
outubro de 1996, ainda não havia sido aprovada a LDB, pois a data de sua
promulgação é 20/12/1996. Assim, obviamente, ainda não havia legislação
regulamentando o Segundo Grau e o Ensino Profissionalizante, o que aconteceu para
este último em 1997, pelo Decreto 2.208. Desta forma, o Paraná adiantava-se à
legislação federal e só não foram desativados todos os cursos já em 1996, porque
algumas escolas não obedeceram a essa orientação e, com base em amparo legal,
mantiveram os cursos funcionando” (PARANÁ, 2006, p.21).

Segundo o mesmo documento, a razão que levou a maioria das escolas, inclusive o
Instituto de Educação do Paraná, a aderirem ao PROEM foi sua vinculação a fontes de
financiamento que viriam do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a
implementação do programa no Estado do Paraná. Neste contexto, apenas quatorze escolas
não aderiram ao programa e mantiveram seus cursos em funcionamento por todo o estado,
sendo apenas uma delas localizada em Curitiba.
Ou seja, a política de fechamento do curso de Magistério no Paraná antecede a
orientações legais vigentes a partir da LDB 9394/96 que, nos Títulos VI e IX, tratam dos
39988

profissionais da educação e das disposições transitórias, respectivamente, bem como das


políticas de formação de professores daí decorrentes:

Art. 62º A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental,
a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
Art. 87 §4o. Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores
habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço (BRASIL,
1996).

A partir de 2004, com nova mudança na gestão do Estado, algumas políticas foram
retomadas, entre elas a oferta do Curso de Formação de Docentes, modalidade Normal. A
partir deste e dos anos seguintes, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná autorizou o
funcionamento de outros noventa e nove cursos, sendo trinta e um em 2004, quarenta e um
em 2005 e mais vinte e sete em 2006.
Durante os anos seguintes, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná autorizou o
funcionamento de outros noventa e nove cursos, sendo trinta e um em 2004, quarenta e um
em 2005 e mais vinte e sete em 2006. Em 2014, cento e quarenta e cinco escolas públicas
estaduais ofereceram o Curso de Formação de Docentes, nas modalidades de currículo
integrado ao Ensino Médio ou com aproveitamento de estudos para aqueles que já haviam
concluído esta etapa da Educação Básica.

O Curso de Formação de Formação de Docentes, Modalidade Normal: objetivos, perfil


do egresso e trajetória de formação

A Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação


Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental publicada pela SEED em 2006 atribui a
necessidade de reabrir e ampliar a oferta para

recuperar esse espaço de formação inicial de professores ... ainda em nível médio,
haja vista que, segundo os dados do INEP, a formação em nível médio ainda se faz
necessária, uma vez que a “estimativa de professores para 2006 exigirá a criação de,
pelo menos, mais 107 mil funções docentes. No caso da Educação Infantil, a meta
de matrículas exigirá um crescimento de 32 mil funções docentes diante da situação
de 2002” (INEP:2003,13). ..entende(-se) que, ao abrir a possibilidade da formação
dos professores para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental em
nível médio, de forma integrada, sem prescindir dos conhecimentos das disciplinas
da Base Nacional Comum e das especificidades dos conhecimentos necessários para
a formação dos professores, estará contribuindo para a continuidade da sua formação
em nível superior (PARANÁ, 2006, p. 10).
39989

Ou seja, não se considera neste contexto, a formação em nível médio em oposição à


formação dos professores pelo Ensino Superior, mas uma ação necessária para o atendimento
ao direito à Educação. Para atender aos objetivos propostos, o currículo desenhado para esta
formação deve buscar a integração entres os conhecimentos básicos do Ensino Médio com as
especificidades da formação de docentes na busca da superação da dicotomia entre “fazer e
saber sobre o fazer” (p. 23) e que

Tanto no MEC como na SEED-PR há um esforço para recuperar a Ciência, a


Tecnologia, a Cultura e o Trabalho como princípios educativos, este último no
sentido gramsciano. Isso implica pensar a educação realizada nas instituições
públicas como o centro responsável pela formação humana e profissional dos
sujeitos sociais (PARANÁ, 2006, p.20).

Neste sentido, ao definir seus princípios pedagógicos, estabelece o trabalho como


princípio educativo e a práxis como princípio curricular, considerando ainda o direito da
criança ao atendimento escolar. O texto da proposta indica para a formação de um professor
através de um currículo que não dissocie as dimensões do trabalho, da ciência da tecnologia e
da cultura (PARANÁ, 2006, p.9).
Este documento esteve vigente até o ano de 2014. A partir de 2015, passam a vigorar
as Orientações Curriculares para o Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal,
publicado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Este novo marco, porém, ainda
não tem análise contemplada neste artigo. Tal documento é apresentado como síntese das
Oficinas de reformulação Curricular realizadas durante o ano de 2014 nos Municípios de
Curitiba e Foz do Iguaçu (PARANÁ, 2014, p. 7).

Considerações Finais

Retomando a premissa de que o Curso Normal sobrevive e apresenta significativa


demanda social na atualidade, levando-se em conta que mesmo grandes centros ainda não
conseguem qualificar professores em número suficiente, é possível perceber através de um
olhar sobre a sua constituição histórica, que a despeito de todas a políticas de formação
docente desde antes da República, a figura do professor leigo nunca deixou de existir na
educação brasileira.
Ainda que se tenha ampliado o acesso ao Ensino Superior nas últimas décadas, que o
Estado ofereça programas de formação em serviço entre outras estratégias, tanto os primeiros
39990

anos do Ensino Fundamental, quanto a Educação Infantil ainda não atingiram o prescrito na
LDB 9394/96. Falar sobre formação docente fora do Ensino Superior não é tarefa simples,
especialmente do ponto de vista teórico. Mas entre o ideal de formação que se deseja e a
realidade das escolas e da profissão docente, há uma discrepância histórica.
Seria, talvez, uma contradição determinar a obsolescência da formação de professores
em Nível Médio em um país onde, não muito longe dos grandes centros, ainda atuam
professores leigos, sem qualquer formação pedagógica ou apenas um pouco mais avançada
que seus alunos? Não se trata de questionar o Ensino Superior como lugar de excelência desta
formação, ideal que deve ser perseguido objetivamente, mas de compreender a realidade com
suas contradições que demandam atendimento e solução imediatos.
O que de fato tem-se constatado em relação à Formação de Docentes em Nível Médio,
Modalidade Normal, é que a ainda existe inserção profissional para docentes formados por
esse nível de ensino ainda existe, o que gera demanda social pela oferta dos cursos pelo poder
público. Daí a importância de se investigar e discutir, não só os documentos orientadores
oficiais, como também os projetos dos cursos desenvolvidos pelas instituições formadoras, no
que tange à responsabilidade do poder publico em relação à qualidade da formação do
professor que irá atender ao menos parte da demanda pela Educação Básica, especialmente na
Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Claudia M. A Política de Cessação do Curso de Magistério no Estado do


Paraná: das razões alegas às que podem ser aventadas. 247 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.

BRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

CAVALCANTE, Margarida Jardim. CEFAM: uma alternativa pedagógica para a formação


do professor. São Paulo: Cortez, 1994.

GOMES, Candido A. O Ensino Médio no Brasil ou a história do Patinho Feio recontada.


Brasília: Universa, 2000.

PARANÁ. Deliberação 001/1990. Diretrizes Curriculares Habilitação Magistério. Conselho


Estadual de Educação do Paraná, 1990.

PARANÁ. Deliberação 002/1990. Diretrizes Curriculares Habilitação Magistério. Conselho


Estadual de Educação do Paraná, 1990.
39991

PARANÁ. Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da


Educação Infantil e Anos Iniciais do ensino Fundamental, em Nível Médio, na
modalidade Normal. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2006.

PARANÁ. Orientações Curriculares para o Curso de Formação de Docentes da


Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na
Modalidade Normal. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2014.

ROMANELLI, Otaíza de O. História da Educação no Brasil (1930/1970). Petrópolis:


Vozes, 1987.

Você também pode gostar