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Resumo
O presente artigo pretende apresentar reflexões relacionadas aos estudos realizados sobre
políticas e processos do Ensino Médio e Profissional com a formação de professores, mais
especificamente com a história do Ensino Normal e sua tradição como local de formação dos
professores para a primeira etapa de escolarização até o final do século XX, bem como a
mudança deste lócus ideal a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9394/96, que atribui a formação de docentes para a Educação Básica ao Ensino Superior,
através dos cursos de licenciatura, admitindo a formação em Nível Médio, na Modalidade
Normal, para atuação das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, apresenta alguns
aspectos da constituição histórica do Curso, com ênfase no contexto da promulgação da LDB
9394/96 e a cessação da oferta da Habilitação ao Magistério no Paraná e seus objetivos, perfil
do egresso e trajetória de formação, contidos nos documentos orientadores que servem de
base barra a sua oferta após a retomada de sua oferta pela Secretaria Estadual de Educação do
Paraná – SEED, em 2004. Desse estudo depreende-se, entre outros elementos que Ainda que
se tenha ampliado o acesso ao Ensino Superior nas últimas décadas, que o Estado ofereça
programas de formação em serviço entre outras estratégias, tanto os primeiros anos do Ensino
Fundamental, quanto a Educação Infantil ainda não atingiram o prescrito na LDB 9394/96.
Falar sobre formação docente fora do Ensino Superior não é tarefa simples, especialmente do
ponto de vista teórico. Mas entre o ideal de formação que se deseja e a realidade das escolas e
da profissão docente, há uma discrepância histórica.
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Mestranda em Educação e Novas Tecnologias pelo UNINTER, Especialista em Pedagogia Escolar pela
FACINTER, Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia e Coordenadora de Área do Subprojeto de
Pedagogia UNINTER - PIBID. E-mail: ligia.a@uninter.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
período de estruturação a partir dos anos trinta, suas inúmeras reformas até a LDB atualmente
em vigor. No caso do Estado do Paraná, há ainda peculiaridades locais como a implantação
do PROEM em 1996, que determinava a cessação progressiva da oferta deste e demais cursos
profissionalizantes na rede pública estadual e só voltou a ter oferta regular progressiva a partir
de 2004.
sentido de formular políticas educacionais que inspirariam o marco legal em criação, algumas
delas já expressa no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, como “as ideias
em favor do ensino fundamental público, laico, gratuito e obrigatório, que foram consagradas
num capítulo específico na Constituição de 1934”, como relata Cavalcante (1994, p. 30).
A mesma ressalta que com o advento do Estado Novo em 1937, a educação assume
um caráter nacional, baseada na “ideologia da formação do homem nacional, obviamente
atingiu a formação de professores que passou a ser controlada pelo governo da União na sua
organização, nos seus objetivos, no seu funcionamento, inclusive no conteúdo de ensino” (p.
32).
Para Gomes, apesar das inúmeras reformas ocorridas nas primeiras quatro décadas da
República, “só o nacionalismo centralizador (e cada vez mais autoritário) da Revolução de 30,
com a Reforma Francisco Campos (1931) e, sobretudo as Leis Orgânicas de Gustavo
Capanema, deram uma verdadeira organicidade à educação brasileira” (2000, p. 18). No que
se refere à formação dos professores, foram promulgadas em 1946, já após a queda de Getúlio
Vargas, as Leis Orgânicas do Ensino Normal, que estabelecem:
Art. 2º O ensino normal será ministrado em dois ciclos. O primeiro dará o curso de
regentes de ensino primário, em quatro anos, e o segundo, o curso de formação de
professores primários, em três anos.
[...]
Art. 6º O ensino normal manterá da seguinte forma ligação com as outras
modalidades de ensino:
1. O curso de regentes de ensino estará articulado com o curso primário.
2. O curso de formação geral de professores primários, com o curso ginasial.
3. Aos alunos que concluírem o segundo ciclo de ensino normal será assegurado o
direito de ingresso em cursos da faculdade de filosofia, ressalvadas, em cada caso, as
exigências peculiares à matrícula.
além das Escolas Normais Regionais e das Escolas Normais, foram criados os
Institutos de Educação, que passaram a funcionar com os cursos citados acima, mais
o Jardim de infância e a Escola Primária anexos e cursos de especialização de
professor primário e habilitação para administradores escolares” (1987, p. 164).
houve uma expansão do ensino normal, provocando uma oferta maior de professores
habilitados para o então ensino primário. Mas estes ainda apresentavam seus
quadros 44% de professores leigos. A maioria dos estados mostrava grande carência
de docentes habilitados revelando a existência de falhas e distorções no sistema
destinado à preparação do professor primário” (1994, p. 39).
o Curso Normal de formação de professores que vinha sendo estruturado com base
no entendimento possível de cada época, a partir das condições necessárias para a
formação do profissional da educação que iria atuar no processo de aquisição de
conhecimentos dos alunos que cada vez mais em maior quantidade e cada vez mais
de diferentes classes sociais estabelecidas na sociedade sofre um processo de ruptura
ao ser considerado mais uma habilitação profissional, como um ensino técnico e que
enquanto formação desenvolvida no ensino de 2.º grau deveria seguir as
determinações gerais deste grau de ensino (2004, p. 30).
No campo da Educação, os anos de 1980 e 1990 foram marcados por um amplo debate
e a formação docente ocupou lugar central. Nesse contexto, a necessidade de reformulação do
curso já era expressiva e vários estados começavam discussões sobre currículos e propostas
de formação.
No Paraná, segundo Almeida,
A proposta decorrente desses estudos foi aprovada pela Deliberação CEE/PR 001/90 e
neste mesmo ano a implantação foi iniciada em algumas escolas. A partir de então, o 2º Grau
com Habilitação ao Magistério passava a ter duração de quatro anos e “que pretendia superar
o denominado tecnicismo, psicologismo e positivismo que se faziam presentes na década de
80, considerada a época como referência nacional” (PARANÁ, 2006, p.21).
A partir de 1995, contudo, com a troca de gestão e orientação política do estado,
“ocorre mudança radical nos rumos da Educação do Paraná, acompanhando as tendências em
nível internacional e nacional, no sentido de adequação da educação ao capitalismo de
acumulação flexível” (PARANÁ, 2006, p.21) e é neste contexto que a Secretaria de Estado da
Educação do Paraná (SEED), determina o fechamento das matriculas para todos os cursos
profissionalizantes e também para o Magistério.
Em 1996, portanto, antes mesmo da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, o Estado do Paraná iniciou implementação do Programa de Melhoria e Expansão
do Ensino Médio - PROEM, que só não obrigou o fechamento do curso de Magistério em
razão deste ser objeto de legislação específica por meio de Deliberação do Conselho Estadual
de Educação do Estado do Paraná nº 002/90 (PARANÁ, 1990). Conforme está descrito na
Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e
Anos Iniciais do ensino Fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, publicado em
2006 pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná:
O processo de fechamento dos cursos na rede pública não foi sem resistências. Em
outubro de 1996, ainda não havia sido aprovada a LDB, pois a data de sua
promulgação é 20/12/1996. Assim, obviamente, ainda não havia legislação
regulamentando o Segundo Grau e o Ensino Profissionalizante, o que aconteceu para
este último em 1997, pelo Decreto 2.208. Desta forma, o Paraná adiantava-se à
legislação federal e só não foram desativados todos os cursos já em 1996, porque
algumas escolas não obedeceram a essa orientação e, com base em amparo legal,
mantiveram os cursos funcionando” (PARANÁ, 2006, p.21).
Segundo o mesmo documento, a razão que levou a maioria das escolas, inclusive o
Instituto de Educação do Paraná, a aderirem ao PROEM foi sua vinculação a fontes de
financiamento que viriam do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a
implementação do programa no Estado do Paraná. Neste contexto, apenas quatorze escolas
não aderiram ao programa e mantiveram seus cursos em funcionamento por todo o estado,
sendo apenas uma delas localizada em Curitiba.
Ou seja, a política de fechamento do curso de Magistério no Paraná antecede a
orientações legais vigentes a partir da LDB 9394/96 que, nos Títulos VI e IX, tratam dos
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Art. 62º A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental,
a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
Art. 87 §4o. Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores
habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço (BRASIL,
1996).
A partir de 2004, com nova mudança na gestão do Estado, algumas políticas foram
retomadas, entre elas a oferta do Curso de Formação de Docentes, modalidade Normal. A
partir deste e dos anos seguintes, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná autorizou o
funcionamento de outros noventa e nove cursos, sendo trinta e um em 2004, quarenta e um
em 2005 e mais vinte e sete em 2006.
Durante os anos seguintes, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná autorizou o
funcionamento de outros noventa e nove cursos, sendo trinta e um em 2004, quarenta e um
em 2005 e mais vinte e sete em 2006. Em 2014, cento e quarenta e cinco escolas públicas
estaduais ofereceram o Curso de Formação de Docentes, nas modalidades de currículo
integrado ao Ensino Médio ou com aproveitamento de estudos para aqueles que já haviam
concluído esta etapa da Educação Básica.
recuperar esse espaço de formação inicial de professores ... ainda em nível médio,
haja vista que, segundo os dados do INEP, a formação em nível médio ainda se faz
necessária, uma vez que a “estimativa de professores para 2006 exigirá a criação de,
pelo menos, mais 107 mil funções docentes. No caso da Educação Infantil, a meta
de matrículas exigirá um crescimento de 32 mil funções docentes diante da situação
de 2002” (INEP:2003,13). ..entende(-se) que, ao abrir a possibilidade da formação
dos professores para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental em
nível médio, de forma integrada, sem prescindir dos conhecimentos das disciplinas
da Base Nacional Comum e das especificidades dos conhecimentos necessários para
a formação dos professores, estará contribuindo para a continuidade da sua formação
em nível superior (PARANÁ, 2006, p. 10).
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Considerações Finais
anos do Ensino Fundamental, quanto a Educação Infantil ainda não atingiram o prescrito na
LDB 9394/96. Falar sobre formação docente fora do Ensino Superior não é tarefa simples,
especialmente do ponto de vista teórico. Mas entre o ideal de formação que se deseja e a
realidade das escolas e da profissão docente, há uma discrepância histórica.
Seria, talvez, uma contradição determinar a obsolescência da formação de professores
em Nível Médio em um país onde, não muito longe dos grandes centros, ainda atuam
professores leigos, sem qualquer formação pedagógica ou apenas um pouco mais avançada
que seus alunos? Não se trata de questionar o Ensino Superior como lugar de excelência desta
formação, ideal que deve ser perseguido objetivamente, mas de compreender a realidade com
suas contradições que demandam atendimento e solução imediatos.
O que de fato tem-se constatado em relação à Formação de Docentes em Nível Médio,
Modalidade Normal, é que a ainda existe inserção profissional para docentes formados por
esse nível de ensino ainda existe, o que gera demanda social pela oferta dos cursos pelo poder
público. Daí a importância de se investigar e discutir, não só os documentos orientadores
oficiais, como também os projetos dos cursos desenvolvidos pelas instituições formadoras, no
que tange à responsabilidade do poder publico em relação à qualidade da formação do
professor que irá atender ao menos parte da demanda pela Educação Básica, especialmente na
Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
REFERÊNCIAS