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Dessa feita, o lingüista é um cientista porque olha para a língua como objeto de
estudo e porque não se deixa imbuir de preconceitos ou de julgamentos pouco científicos
(para não dizer não-científicos) quando, por exemplo, da avaliação de uma ou de outra
forma do dizer humano. O lingüista deve ser uma pessoa preparada para analisar a língua,
descrever seus fatos, comparar resultados, compreender o funcionamento, estabelecer
diferenças e semelhanças entre línguas ou entre variações da mesma língua, ou, até mesmo,
apontar possíveis soluções depois de ter feito testagem, mesmo sabendo que pode não ter o
resultado que teve outrora. Sabe, porquanto, que o efeito de uma pesquisa pode não ser uma
regra; e sim, uma possibilidade de resposta a um problema.
Mas, além desses contributos escritos na Figura 01, especificamente na 2a. coluna, a
Lingüística deu outros saltos significativos nos estudos da Língua Portuguesa. Embora
possamos até mesmo dizer que em todos os estratos lingüísticos, tanto os mais reestudados
– a Fonética e a Fonologia, a Morfologia, a Semântica e a Sintaxe – como os mais recentes
– a Análise da Conversação e a do Discurso, a Semiologia Lingüística, a Sociolingüística,
A Lingüística Computacional, a Etnolingüística, a Estilística, a Terminologia, a
Psicolingüística, a Pragmática Lingüística, a Lingüística Textual, etc., a interseção da
Lingüística pouco reverberou no interior das escolas de ensino fundamental e médio. Um
sem-número de trocadilhos, mal-entendidos, equívocos e inadequações metodológicas
ainda são acometidos, tudo porque não se deu ouvidos (nem olhos) aos ditames da
Lingüística, não por que ela é quem é, mas porque contra fatos não há argumentos, até
porque o próprio fato é um argumento de grandeza maior. Contudo, é bom que fique dito
que não se quer aqui dizer que tudo o que acontece de mal em uma escola é devido o
profissional de línguas não ter compreendido os aportes da Lingüística, além das
ancoragens da Psicologia, da Sociologia da Educação, da Didática e de outras
disciplinas/ciências que dão respaldo ao professor para saber de antemão o que está
fazendo, por que o está fazendo e aonde quer chegar fazendo o que está fazendo. É isso,
mas não é só isso! Faltam-lhe ainda subsídios atitudinais, como saber por que está ali, o
que deve fazer, como deve fazer e a que ponto deve chegar. Falta-lhe a visão de mundo
prospectiva da disciplina e de si mesmo, além da compreensão magna de que deve ensinar
como trabalhar a emoção, o caráter, a insegurança e, sobretudo, as diferenças, por exemplo,
sócio-históricas que a própria língua marca. Faltas, espaços, vazios, ausências, lacunas que
professor nenhum, ou quase nem um, completa, ocupa, preenche.
(...)
Mas, voltando às questões que nos trouxeram a essa discussão, as dimensões e/ou
redimensões sugeridas pela Lingüística são muitas e estão a todo tempo céleres, sendo até
mesmo revistas a fim de sempre estar revisitando os contributos trazidos por ela à
ensinagem em qualquer que seja o grau de agenciamento de conhecimento, afinal como
ciência ela não pode acreditar que tudo esteja descoberto, ou ainda, que tudo que fora
descoberto não admita mais nada para ser dito e até mesmo redito. Isso dogmatizaria a
Lingüística, ainda que saibamos que alguns lingüistas mais ortodoxos tenham ainda
sobrevivido nesse paradigma (...).Mas não é só isso: todas as intervenções da Lingüística
não vêm à tona por virem. São frutos de pesquisa, de investigação com análise e
observação de fatos lingüísticos em uso, ou a uma só palavra, são baseados em estudo
científico. E aqui está talvez porque muitos estudantes de Letras não gostam de Lingüística
e/ou professores têm verdadeira ojeriza a ela – é porque ela nos interroga, põe-nos a pensar,
leva-nos à auto-avaliação, a mudanças, a uma nova postura, a pensamentos movediços. E
isso normalmente chateia, dói, faz-nos pensar e não mais receber, aceitar, engolir, repetir.
A essa altura de compreensão de tudo o que foi dito até aqui, você deve estar se
perguntando por que não sabia disso tudo sobre a Lingüística. Aproveitamos para responder
a essa pergunta os dizeres da Professora Doutora Stella Maris Bortoni-Ricardo, no livro
intitulado Educação em Língua Materna: “Não temos muito o costume de refletir sobre
questões lingüísticas e, quando o fazemos, muitas vezes nos vemos condicionados pelas
rédeas da gramática normativa”. E hoje, com objeto, metodologia e abordagens bem
definidas, a Lingüística finalmente tem conseguido adeptos pelos próprios argumentos que
ela sustenta, bem diferente dos sustentados pela Gramática Normativa, a exemplo, os quais
normalmente não se mantêm diante do menor rigor científico. Porém, nada disso, começou
sem propósitos. Na própria História do pensamento lingüístico, houve casos de sociedades
que vislumbraram estudos voltados à análise de seu próprio constructo lingüístico, ainda
que limitadas às condições sócio-históricas da época e ao entusiasmo que o homem tinha
pela linguagem. Daí que alguns povos até promoveram investigações na área, mas não o
fizeram com o rigor (científico) que hoje se faz, com os propósitos (funcionalistas) que hoje
se prevêem e com a intenção (sócio-educacional) que hoje se quer da Lingüística.
Por esses dois povos, nota-se o quanto o homem preocupou-se em estudar a língua
com um interessante objetivo: compreender os mecanismos que engendram a linguagem
verbal, partindo sempre de dados empíricos para estabelecer, a princípio, regras, e só mais
tarde, com o advento da ciência Lingüística, preocupa-se em estudar para estabelecer as
regularidades presentes nos corpus de estudo, pois os lingüistas não compreendiam a
significação da palavra regra da mesma maneira que os gramáticos, conceito que data
ainda do Império Romano e dos antigos gregos e com o qual convivemos até hoje, há mais
de 2000 anos. Mas, até onde vai o alcance da Lingüística na atualidade?
Assim, estudar Lingüística na atualidade constitui uma atitude sensata, haja vista
que durante todos esses anos de estudo específico, meticuloso e perverso de Gramática
Tradicional não deram em nada, a não ser um sem-número de usuários da linguagem que
não tem certeza do que fazem – a não ser acreditar que estão errados e que sempre estarão,
além de acreditarem que não sabem como o devem fazer. Graças aos estudos lingüísticos,
hoje crenças dessa ordem não vingam mais, pois nossas gramáticas de língua portuguesa
tiveram seus estatutos redimensionados e seus objetivos revisados. Pelo menos a maioria
delas. É bom que fique claro aqui que todo professor de Língua Portuguesa deve ministrar
aulas de Gramática, aliás, esse é seu papel fundamental, entendendo que por Gramática os
lingüistas têm outra compreensão – estudo descritivo de um idioma, de sua organização, de
sua engenharia, ou a uma só palavra, de sua Sintaxe, mas também de sua significação. Mas
o problema não é nem tanto essa monossignificação da palavra; mas, a metodologia com
que é executado.O problema, então, não está tanto no material – se bem que deve haver um
maior cuidado com a seleção deste – mas com a metodologia de ensinagem do Português.
Se hoje temos professores promovendo aprendência a partir de Textos – unidade
macrodinâmica das línguas – está ainda mais atual trabalhar discursos, os quais se
manifestam por textos, canal privilegiado para os discursos se instaurarem. Nós que o
digamos, não é Professor?
Por tudo o que fora exposto até aqui, Professor, acredito que seja possível
vislumbrar a necessidade da Lingüística em aulas de Língua Portuguesa ou de qualquer que
seja a língua. Observe como um professor sem respaldo lingüístico, isto é, da Lingüística,
não sabe aonde quer chegar, não sabe o que está fazendo, não sabe como atingir o objetivo
que almeja que seus alunos alcancem, não compreende o fenômeno na sua totalidade, não
pressupõe hipóteses de por que aquele aluno disse aquilo daquele jeito, enfim, não tem uma
postura científica diante do objeto de estudo. E isso de certo será um diferencial, no sentido
pejorativo, depreciativo, pois ao profissional fica às vezes falado por suas ações pouco ou
nada científicas diante da língua, no caso.
Portanto, não seja o último a mudar ou o primeiro a ser chamado a atenção na escola
onde você trabalha, porque você ainda está usando um método ou uma metodologia há
muito desaconselhável, inapropriada, anticientífica. Reveja seus conceitos e verticalize seus
conhecimentos sobre o assunto. A Lingüística pode mudar a sua vida, o seu dia-a-dia, o
modo como seus alunos passariam a vê-lo na sala de aula e na escola, até como eles
passariam a se referir a você. Quer ver como eu tenho razão? Tente!