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v3i3a102031
RESUMO
Distrofias mu sc ul a res são doen ças po uco freqüentes e d esco nhec idas po r alguns mé-
di cos. Apresentam os um pa ciente com dia gnós ti co d e Distrofia M usc ulM d o ti po Bec kel;
em fa se ava nça d a da doença, co m achados fí sicos ex uberantes, hi stór ia familiM e pa-
tológica pregressa compatíve is e bi óps ia musculilr Gl ra cte rís ti ca. Embo ra a an<ili se de
DNA não tenha mos trad o d e leções no ge ne res p o n s~ve l, o dia g nóst ico foi con firmad o
clinicamente. Foram rela cion ados alg un s di ag nós ti cos dife re nciai s. Comenta mos os
aspectos terapêuticos. Es ta s doenças d evem ser cons id e rada s em todos os pacientes
co m que ixa d e fraqu eza musculal; principa lmente cr ianças, tend o em v is ta a necess i-
dad e d e aconse lham ento fi siá trico e gené tico precoces.
UNITERMOS
Distrofia Muscular d o tipo Becker. Miopatias. Fraqueza musc ular Fisio terapia .
SUMMARY
Muscular Dystrophies are uncomm on di seases and unkn ow n by som e ph ysic ians. We
present a patient with th e dia gnos is of Becker Muscular Dystrophy in ad va nced stagc
with co n s pi cuou s ph ys ica l findin gs, co mpatibl e family and pa s t hi sto ry and
characteristi c mu scular biopsy. A lthou gh th e DNA anal ys is didn't show d ele tion s in
the imp lied gene, th e diagnosis was c1ini ca ll y confirm ed. We related some differcntia l
dia gnosis and discussed the th era peuti c as pects. These diseases mus t be co nsi d c rcd in
ali pa ti ents w ith mu scular weakness, spec iall y childre n, regarding th e need of a
precocious ph ys iatric and geneti c counseling.
KEYWORDS
Becker Muscular Dystrophy. Myopa thi es. Mu sculilr weakness. Physiotherap y.
Figura 1 Figura 2
enfermaria de Pneumologia com suspeita de tu- sexo masculino, com padrão de herança recessivo
berculose pulmonar. Após confirmação através de ligado ao X, levaram à suspeita de uma distrofia
baciloscopia de escarro positiva, foi iniciado es- muscular. A evolução benigna da doença condu-
quema tríplice. ziu ao diagnóstico de Distrofia Muscular do tipo
Ao exame físico, apresentava fácies de lua Becker.
cheia, escoliose, membros inferiores em. flexão, As deleções (65%), duplicações (5-10'1.») ou
atróficos, com hipertrofia de panturrilhas, pés mutações de ponto do gene implicado (~ ,5,(,) deter-
edemaciados em flexão plantar fixa (pés eqüinos), minam uma alteração qualitativa ou quantitativa
edema discreto de membros superiores, principal- de uma proteína de membrana denominada
mente em mãos, com dedos em fuso, dor à distrofina. Esta proteína, localizada na face inter-
palpação e mobilização passiva de articulações de na da membrana da célula muscular, é responsá-
ombros, cotovelos, punhos, interfalangeanas e tor- vel pela regulação do cálcio intracelular. Na au-
nozelos, com rigidez articular. (Fig. 1 e 2). A força sência dela, o aumento dos níveis d e cálcio levam
muscular estava diminuída (grau 3) com a sensi- à ativação de e nzimas intracelulares que
bilidade preservada e reflexos de difícil pesqui- deflagram fenômenos de degeneração e necrose
sa. Encontrava-se taquicárdico (FC= 160 bpm), das fibras . Existe uma correlação direta entre os
PA= 130 x 100 mmHg, com ritmo cardíaco regu- níveis de distrofina e a gravidade das manifes ta-
lar, extrassístoles ocasionais, e pulmões limpos à ções clínicas, explicando a evolução rápida e o
ausculta. Abdome normal. prognóstico sombrio do tipo Duchenne, onde há
Na História Patológica Pregressa relatava ausência da proteína, e o curso mais benigno da
que, durante a infância, iniciou perda de força DMB, onde encontra-se em baixas concentra-
muscular, hipotrofia e artralgias progressivas, a ções(7). Poderíamos dizer que se trata de uma doen-
partir dos membros inferiores, acompanhada de ça de progressão inexorável, que já está presente
quedas freqüentes, com incapacidade para ao nascimento, e apresenta tend ência à piora
deambulação aos 20 anos de idade. evolutiva à medida que as fibras musculares so-
Na História Familiar, informava ter um filho frem necrose segmentar e perda da propriedade
de 4 anos e uma filha de 2 anos de idade, 05 irmãs contrátil quando vão sendo requisitadas mesmo
hígidas e 03 irmãos, um normal, e dois que apre- através de esforços banais.
sentavam dificuldades para deambular, subindo Sua freqüência é de 1:30000 meninos nasci-
escadas com apoio e referindo quedas freqüen- dos vivos, enquanto na DMD é de 1:3500 meni-
tes. Um deles faleceu aos 21 anos de idade com nos nascidos vivos. Aproximadamente 70% dos
cardiomiopatia. Mãe também faleceu por proble- casos são herdados através de mães portadoras,
mas cardíacos. enquanto 30% não mostram qualquer tipo de
Na investigação di agnóstica, o laboratório história familiar e representariam mutaçõe s
mostrou discreta leucocitose e anemia novas 8 .
normocrômica com macrocitose (+), VHS= 34 mm, A DMB tem um início tardio, variável a
ácido úrico em 4,2 mg/dl, albumina= 3,0 g/dl, partir dos 5 anos de idade, apresentando, como
prot. totais= 5,0 g/dl, CK= 39 UI. Exame na DMD, um andar basculante com quedas fre-
ecocardiográfico normal e eletrocardiográfico com qüentes, um levantar miopático característico, co-
extrassís toles ventriculares ocasionais. Testes do nhecido como manobra de Gowers, além da
Látex e Waaler-Rose negativos. Biópsia de bíceps hipertrofia de panturrilhas. Com a evolução da
braquial revelou raras fibras atróficas com predo- doença, os pacientes estão sujeitos a infecções res-
mínio de tecido fibrogorduroso. A análise do DNA piratórias de repetição e morte por insuficiência
através da técnica da PCR (palimerase chain reactian) respiratória progressiva ou insuficiência cardíaca
não detectou a presença de deleções. Foram aguda. A expectativa de vida é entre 30 e 55 anos
realizadas dosagens de CK em 02 irmãs e 01 irmão. e, portanto, podem reproduzir-se. A maioria dos
As irmãs mostraram valores dentro dos limites pacientes perde a capacidade de deambula ção
considerados normais e o irmão, aos 30 anos de cerca de 20 anos após o início da doença I, '} Os
idade, apresentou valores de 400 UI. pacientes com DMD perdem a capacidade de
deambulação em média aos 9 anos de idade, po-
rém, alguns pacientes podem estar confinados em
Discussão cadeiras d e rodas entre 12 e 16 anos e são deno-
minados autliers ou intermediários I . O diagnósti-
o quadro clínico de hipotrofia muscular im- co diferencial em afetados jovens pode ser muito
portante com origem na infância, de caráter difícil, confundindo-se com a distrofia 11,uscular
evolutivo, associado à história familiar positiva tipo cinturas e a DMD, sendo a biópsia muscular
de acometimen to semelhante em indivíduos do fundamental.
Retardo mental é citado na literatura em 30- A sensação de rigidez que o paciente experi-
50% dos casos de DMD, porém com baixa fre- mentava durante o curso da doença demonstra a
qüência em DMB, assim como as alterações car- desigualdade de degeneração muscular entre os
díacas(I,9l . músculos agonistas e antagonistas, levando a
A dosagem de CK é bastante elevada, princi- contraturas, geralmen te em fase de cadeira de ro-
palmente nas fases precoces, indicando progres- das. A impossibilidade de movimentação deter-
são da doença. Mulheres portadoras de DMB cos- mina edema por estase e artralgias por desuso.
tumam apresentar elevação de CK no soro (50-70% No caso es tudado, possivelmente há participação
dos casos) e alterações mínimas na biópsia mus- de desnutrição e hipoproteinemia como causa do
cular 1,s. Algumas podem manifestar sinais de edema em membros.
cardiomiopatia. Um irmão do paciente mostrou A DMB deve ser distinguida da polimiosite,
valores de CK elevados, enquanto os baixos ní- outras distrofias e algumas neuropatias, como a
veis de CK dosados no plasma do paciente são atrofia muscular espinhal de Kugelberg-
decorrentes da intensa perda de fibras muscula- Welander 1,13, 14, além de outras doenças acompa-
res, indicativos de uma fase avançada e terminal nhadas de fraqueza e/ ou a trofia muscular. (Qua-
da moléstia. dro 1). Na polimiosite, a evolução da doença é
No estudo eletromiográfico das Distrofias mais rápida, há ausência de história fami liar,
Musculares, independentemente do grupo ou for- disfagia é comum, e a atrofia lTlLlscular não é tão
ma, observamos um padrão característico de po- intensa comparada ao grau de fraqueza . A
tenciais polifásicos de baixa amplitude e cur ta distrofia de cinturas com início tardio e
duração, e aumento da atividade de inserção em pelvifemoral apresenta um quadro bastante seme-
fases iniciais lO . É interessante lembrar que apesar lhante à DMB, com CK geralmente elevada, pa-
de sua grande utilidade, a EMG, isoladamente, drão miopático à EMG e biópsia muscular, porém
não deve ter valor decisivo no diagnóstico entre com herança autossômica recessiva. A Doença d e
miopatias. Kugelberg-Welander é outra simuladora de DMB,
A biópsia muscular revela fibras muscu- com fraqueza muscular, andar basculante, mano-
lares de calibre diminuído alternadas com fibras bra de Gowers e CK freqüentemente elevada, po-
hipertróficas, fenômenos degenerativos com rup- rém com padrão neuropático à EMG, e ausência
turas e centralizações nucleares, necrose e substi- de hipertrofia de panturrilhas.
tuição por tecido gorduroso. Através de técnicas O tratamento é essencialmente fisiátrico e d e
de imuno-histoquímica, pode-se observar a pre- reabilitação, devido à impossibilidade atual de se
sença de distrofina em um padrão heterogêned l ,8, intervir na patogênese da doença. As medidas
11. A biópsia lTluscular deve ser realizada por téc- fisiátricas devem ter o objetivo de evitar deformi-
nica de congelação em nitrogênio líquido, que di- dades, prolongar a deambulação independente
minui a possibilidade de artefatos; o sítio deve ser procurando ampliar as capacidades funcionais. O
cuidadosamente escolhido; o músculo deve estar tratamento deve ser planejado com base em uma
apenas moderadamente acometido, de preferên- ação multidisciplinar, enl que a recuperação do
cia classificado na escala 2 ou 3 do TMM (Teste aparelho locomotor se faça simultanean'lente a
Muscular Manual); a escolha de um músculo pou- uma assistência na área cultural, educacional, psi-
pado ou, pelo contrário, gravemente acometido, cológica e vocacional.
reduz o valor da biópsia; a biópsia muscular difi- O médico precisa evitar a apatia que se confi-
cilmente pode diferenciar um padrão puramente gura diante de um quadro clínico extremamente
miopático ou neuropático, devendo sua valoriza- desfavorável, pois através dos recursos qu e a
ção ser cuidadosa. A biópsia francamente Fisiatria dispõe, pode-se proporcionar condições
fibrogordurosa do paciente é decorrente do está- para retardar as seqüelas e melhorar a qualidade
gio avançado da doença e a escassez de material de vida desta clientela. Seria, portanto, de extre-
não justificou a pesquisa imuno-histoquímica. ma valia que os clínicos se integrassem aos con-
A análise do DNA pelo método de PCR per- ceitos de Fisiatria recomendando precocemente
mite d e tecção de 98% das deleções, enquanto o uma assistência aos doentes miopatas.
SO/lthern b/ot detecta as duplicações. As mutações A avaliação inicial e periódica é de ex trema
de ponto têm sido identificadas através de novos importância em todo tratamento fisiátrico, ofere-
métodos como o SSCP ousingle strand conforl1latiol1 cendo à equipe de reabilitação um bom conheci-
polYJ/wrphism 12• Portanto, a ausência de deleções mento das incapacidades físicas e da melhoria ou
no locus 21 do cromossoma X do paciente não não do quadro clínico diante das condutas tera-
exclui DMB, pois é possível a existência de outras pêuticas imputadas. A avaliação deverá constar
muta ções não demonstráveis devido à de exame postural, teste muscular manual, exa-
indisponibilidade dos demais métodos. me de alguns movimentos funcionais peculiares
gam à idade reprodutiva, e seus descendentes do 5. Hu, X, Ray, PN, Murphy, EG, Thompson, MW. Worton, RG:
Duplicational Mutation at the Duchenne Muscular Locus:
sexo feminino, que serão portadoras. its Frequency, Distribution, Origin, and Fenotype/Genotype
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