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A Doi: 10.11606/issn.2317-0190.

v3i3a102031

Distrofia muscular de Becker.


Relato de caso e
revisão de literatura

Maria Bernadete Renoldi Oliveira Gav i *


Manoel Neves Pimentel **
Marcelo Nogueira Silva ***
Eliete Rabbi Bortolini ****
Alípio Cesar Nascimento *****

RESUMO
Distrofias mu sc ul a res são doen ças po uco freqüentes e d esco nhec idas po r alguns mé-
di cos. Apresentam os um pa ciente com dia gnós ti co d e Distrofia M usc ulM d o ti po Bec kel;
em fa se ava nça d a da doença, co m achados fí sicos ex uberantes, hi stór ia familiM e pa-
tológica pregressa compatíve is e bi óps ia musculilr Gl ra cte rís ti ca. Embo ra a an<ili se de
DNA não tenha mos trad o d e leções no ge ne res p o n s~ve l, o dia g nóst ico foi con firmad o
clinicamente. Foram rela cion ados alg un s di ag nós ti cos dife re nciai s. Comenta mos os
aspectos terapêuticos. Es ta s doenças d evem ser cons id e rada s em todos os pacientes
co m que ixa d e fraqu eza musculal; principa lmente cr ianças, tend o em v is ta a necess i-
dad e d e aconse lham ento fi siá trico e gené tico precoces.

UNITERMOS
Distrofia Muscular d o tipo Becker. Miopatias. Fraqueza musc ular Fisio terapia .

SUMMARY
Muscular Dystrophies are uncomm on di seases and unkn ow n by som e ph ysic ians. We
present a patient with th e dia gnos is of Becker Muscular Dystrophy in ad va nced stagc
with co n s pi cuou s ph ys ica l findin gs, co mpatibl e family and pa s t hi sto ry and
characteristi c mu scular biopsy. A lthou gh th e DNA anal ys is didn't show d ele tion s in
the imp lied gene, th e diagnosis was c1ini ca ll y confirm ed. We related some differcntia l
dia gnosis and discussed the th era peuti c as pects. These diseases mus t be co nsi d c rcd in
ali pa ti ents w ith mu scular weakness, spec iall y childre n, regarding th e need of a
precocious ph ys iatric and geneti c counseling.

KEYWORDS
Becker Muscular Dystrophy. Myopa thi es. Mu sculilr weakness. Physiotherap y.

Divisão de Clil/ica Médica do Hospital Universitário Cassinl/o Alltôllio


Moraes (HUCAM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) .
Rcumatologista da Oivislio de Clín ica Médica do HUCAM- UFES.
Médico Fisiatra c Ortopcdista do Hospital Evangélico do E.S. e do INSS.
Acadêmico do sexto ano de Medicina da UFES .
Geneticista do Scviço de Aconselhamento Ge nético do Oeparta/Jlcnto de Biologill -
UFES
Professor Adjunto de Pncwnologia do Oepa rtamcnto de Clínica Médica -LlFES.
Endereço para correspondência:
Ora Maria Bernadete R. O. Gavi
Centro de EstudosjHUCAM
Avenida Marechal Campos n". 1468, Maruípe
CEP 29040-090 - Vitória, E.S.
Actn FisilÍtricn 3(3): 18-23 , 1996

Introdução Apresentamos um caso de paciente com DMB


em fase avançada, sem um diagnóstico prévio,
Distrofias musculares são doenças genetica- internado com quadro de tuberculose pulmonar
mente determinadas, de baixa freqüência na prá- e com queixas de artralgias generalizadas.
tica médica, que cursam com fraqueza muscular
progressiva, degeneração e atrofia da musculatu-
ra esquelética. Sua patogenia é cada vez mais co- Relato de caso
nhecida e sua classificação obedece a critérios
como tipo de herança, curso e gravidade da fra- Paciente do sexo masculino, 38 anos de ida-
queza muscular, grupo muscular inicialmente de, relatava há 15 dias astenia, sensação de rigi-
envolvido e idade de início das manifestações clí- dez em musculatura de dorso e membros, com
. I
rucas . caráter progressivo e com dificuldade para movi-
As mais freqüentes representantes deste gru- mentação, além de dor em mãos e pés acompa-
po de doenças são a Distrofia Muscular do tipo nhada de edema local, sem melhora com analgé-
Duchenne (DMD) e a Distrofia Muscular do tipo sicos.
Becker (DMB), que são doenças alélicas, determi- Procurou o Pronto Socorro do HUCAM-UFES
nadas por mutação gênica no locus 21 do braço onde foi realizada radiografia de tórax que evi-
curto do cromossoma X 2.3 . Apresentam níveis ele- denciou lesão pulmonar. Ao interrogatório com-
vados de creatinoquinase (CK), padrão miopático plementar, informou que há 30 dias apresentava
à eletromioneurografia (EMG), sendo muito útil febre com calafrios vespertinos, emagrecimento,
para o diagnóstico de ambas a biópsia muscular e tosse produtiva com expectoração amarelada e 01
a investigação laboratorial de familiares . episódio com estrias de sangue. Foi internado na

Figura 1 Figura 2

GAVI, M.S.R.O. e co ls. - Distrofia musc ular de Secker. 19


Relato de caso e r evis~o de literatura
Actn Fisiálrica 3(3): 18-23, 1996

enfermaria de Pneumologia com suspeita de tu- sexo masculino, com padrão de herança recessivo
berculose pulmonar. Após confirmação através de ligado ao X, levaram à suspeita de uma distrofia
baciloscopia de escarro positiva, foi iniciado es- muscular. A evolução benigna da doença condu-
quema tríplice. ziu ao diagnóstico de Distrofia Muscular do tipo
Ao exame físico, apresentava fácies de lua Becker.
cheia, escoliose, membros inferiores em. flexão, As deleções (65%), duplicações (5-10'1.») ou
atróficos, com hipertrofia de panturrilhas, pés mutações de ponto do gene implicado (~ ,5,(,) deter-
edemaciados em flexão plantar fixa (pés eqüinos), minam uma alteração qualitativa ou quantitativa
edema discreto de membros superiores, principal- de uma proteína de membrana denominada
mente em mãos, com dedos em fuso, dor à distrofina. Esta proteína, localizada na face inter-
palpação e mobilização passiva de articulações de na da membrana da célula muscular, é responsá-
ombros, cotovelos, punhos, interfalangeanas e tor- vel pela regulação do cálcio intracelular. Na au-
nozelos, com rigidez articular. (Fig. 1 e 2). A força sência dela, o aumento dos níveis d e cálcio levam
muscular estava diminuída (grau 3) com a sensi- à ativação de e nzimas intracelulares que
bilidade preservada e reflexos de difícil pesqui- deflagram fenômenos de degeneração e necrose
sa. Encontrava-se taquicárdico (FC= 160 bpm), das fibras . Existe uma correlação direta entre os
PA= 130 x 100 mmHg, com ritmo cardíaco regu- níveis de distrofina e a gravidade das manifes ta-
lar, extrassístoles ocasionais, e pulmões limpos à ções clínicas, explicando a evolução rápida e o
ausculta. Abdome normal. prognóstico sombrio do tipo Duchenne, onde há
Na História Patológica Pregressa relatava ausência da proteína, e o curso mais benigno da
que, durante a infância, iniciou perda de força DMB, onde encontra-se em baixas concentra-
muscular, hipotrofia e artralgias progressivas, a ções(7). Poderíamos dizer que se trata de uma doen-
partir dos membros inferiores, acompanhada de ça de progressão inexorável, que já está presente
quedas freqüentes, com incapacidade para ao nascimento, e apresenta tend ência à piora
deambulação aos 20 anos de idade. evolutiva à medida que as fibras musculares so-
Na História Familiar, informava ter um filho frem necrose segmentar e perda da propriedade
de 4 anos e uma filha de 2 anos de idade, 05 irmãs contrátil quando vão sendo requisitadas mesmo
hígidas e 03 irmãos, um normal, e dois que apre- através de esforços banais.
sentavam dificuldades para deambular, subindo Sua freqüência é de 1:30000 meninos nasci-
escadas com apoio e referindo quedas freqüen- dos vivos, enquanto na DMD é de 1:3500 meni-
tes. Um deles faleceu aos 21 anos de idade com nos nascidos vivos. Aproximadamente 70% dos
cardiomiopatia. Mãe também faleceu por proble- casos são herdados através de mães portadoras,
mas cardíacos. enquanto 30% não mostram qualquer tipo de
Na investigação di agnóstica, o laboratório história familiar e representariam mutaçõe s
mostrou discreta leucocitose e anemia novas 8 .
normocrômica com macrocitose (+), VHS= 34 mm, A DMB tem um início tardio, variável a
ácido úrico em 4,2 mg/dl, albumina= 3,0 g/dl, partir dos 5 anos de idade, apresentando, como
prot. totais= 5,0 g/dl, CK= 39 UI. Exame na DMD, um andar basculante com quedas fre-
ecocardiográfico normal e eletrocardiográfico com qüentes, um levantar miopático característico, co-
extrassís toles ventriculares ocasionais. Testes do nhecido como manobra de Gowers, além da
Látex e Waaler-Rose negativos. Biópsia de bíceps hipertrofia de panturrilhas. Com a evolução da
braquial revelou raras fibras atróficas com predo- doença, os pacientes estão sujeitos a infecções res-
mínio de tecido fibrogorduroso. A análise do DNA piratórias de repetição e morte por insuficiência
através da técnica da PCR (palimerase chain reactian) respiratória progressiva ou insuficiência cardíaca
não detectou a presença de deleções. Foram aguda. A expectativa de vida é entre 30 e 55 anos
realizadas dosagens de CK em 02 irmãs e 01 irmão. e, portanto, podem reproduzir-se. A maioria dos
As irmãs mostraram valores dentro dos limites pacientes perde a capacidade de deambula ção
considerados normais e o irmão, aos 30 anos de cerca de 20 anos após o início da doença I, '} Os
idade, apresentou valores de 400 UI. pacientes com DMD perdem a capacidade de
deambulação em média aos 9 anos de idade, po-
rém, alguns pacientes podem estar confinados em
Discussão cadeiras d e rodas entre 12 e 16 anos e são deno-
minados autliers ou intermediários I . O diagnósti-
o quadro clínico de hipotrofia muscular im- co diferencial em afetados jovens pode ser muito
portante com origem na infância, de caráter difícil, confundindo-se com a distrofia 11,uscular
evolutivo, associado à história familiar positiva tipo cinturas e a DMD, sendo a biópsia muscular
de acometimen to semelhante em indivíduos do fundamental.

20 CAV1, M.I3.R.O. e cals. - Distrofi'l musc ular de l3ecker.


Relato de CélSO e rcvis;:ío de literilturil
i\eta FisilÍl rim 3(3): 18-23, J996

Retardo mental é citado na literatura em 30- A sensação de rigidez que o paciente experi-
50% dos casos de DMD, porém com baixa fre- mentava durante o curso da doença demonstra a
qüência em DMB, assim como as alterações car- desigualdade de degeneração muscular entre os
díacas(I,9l . músculos agonistas e antagonistas, levando a
A dosagem de CK é bastante elevada, princi- contraturas, geralmen te em fase de cadeira de ro-
palmente nas fases precoces, indicando progres- das. A impossibilidade de movimentação deter-
são da doença. Mulheres portadoras de DMB cos- mina edema por estase e artralgias por desuso.
tumam apresentar elevação de CK no soro (50-70% No caso es tudado, possivelmente há participação
dos casos) e alterações mínimas na biópsia mus- de desnutrição e hipoproteinemia como causa do
cular 1,s. Algumas podem manifestar sinais de edema em membros.
cardiomiopatia. Um irmão do paciente mostrou A DMB deve ser distinguida da polimiosite,
valores de CK elevados, enquanto os baixos ní- outras distrofias e algumas neuropatias, como a
veis de CK dosados no plasma do paciente são atrofia muscular espinhal de Kugelberg-
decorrentes da intensa perda de fibras muscula- Welander 1,13, 14, além de outras doenças acompa-
res, indicativos de uma fase avançada e terminal nhadas de fraqueza e/ ou a trofia muscular. (Qua-
da moléstia. dro 1). Na polimiosite, a evolução da doença é
No estudo eletromiográfico das Distrofias mais rápida, há ausência de história fami liar,
Musculares, independentemente do grupo ou for- disfagia é comum, e a atrofia lTlLlscular não é tão
ma, observamos um padrão característico de po- intensa comparada ao grau de fraqueza . A
tenciais polifásicos de baixa amplitude e cur ta distrofia de cinturas com início tardio e
duração, e aumento da atividade de inserção em pelvifemoral apresenta um quadro bastante seme-
fases iniciais lO . É interessante lembrar que apesar lhante à DMB, com CK geralmente elevada, pa-
de sua grande utilidade, a EMG, isoladamente, drão miopático à EMG e biópsia muscular, porém
não deve ter valor decisivo no diagnóstico entre com herança autossômica recessiva. A Doença d e
miopatias. Kugelberg-Welander é outra simuladora de DMB,
A biópsia muscular revela fibras muscu- com fraqueza muscular, andar basculante, mano-
lares de calibre diminuído alternadas com fibras bra de Gowers e CK freqüentemente elevada, po-
hipertróficas, fenômenos degenerativos com rup- rém com padrão neuropático à EMG, e ausência
turas e centralizações nucleares, necrose e substi- de hipertrofia de panturrilhas.
tuição por tecido gorduroso. Através de técnicas O tratamento é essencialmente fisiátrico e d e
de imuno-histoquímica, pode-se observar a pre- reabilitação, devido à impossibilidade atual de se
sença de distrofina em um padrão heterogêned l ,8, intervir na patogênese da doença. As medidas
11. A biópsia lTluscular deve ser realizada por téc- fisiátricas devem ter o objetivo de evitar deformi-
nica de congelação em nitrogênio líquido, que di- dades, prolongar a deambulação independente
minui a possibilidade de artefatos; o sítio deve ser procurando ampliar as capacidades funcionais. O
cuidadosamente escolhido; o músculo deve estar tratamento deve ser planejado com base em uma
apenas moderadamente acometido, de preferên- ação multidisciplinar, enl que a recuperação do
cia classificado na escala 2 ou 3 do TMM (Teste aparelho locomotor se faça simultanean'lente a
Muscular Manual); a escolha de um músculo pou- uma assistência na área cultural, educacional, psi-
pado ou, pelo contrário, gravemente acometido, cológica e vocacional.
reduz o valor da biópsia; a biópsia muscular difi- O médico precisa evitar a apatia que se confi-
cilmente pode diferenciar um padrão puramente gura diante de um quadro clínico extremamente
miopático ou neuropático, devendo sua valoriza- desfavorável, pois através dos recursos qu e a
ção ser cuidadosa. A biópsia francamente Fisiatria dispõe, pode-se proporcionar condições
fibrogordurosa do paciente é decorrente do está- para retardar as seqüelas e melhorar a qualidade
gio avançado da doença e a escassez de material de vida desta clientela. Seria, portanto, de extre-
não justificou a pesquisa imuno-histoquímica. ma valia que os clínicos se integrassem aos con-
A análise do DNA pelo método de PCR per- ceitos de Fisiatria recomendando precocemente
mite d e tecção de 98% das deleções, enquanto o uma assistência aos doentes miopatas.
SO/lthern b/ot detecta as duplicações. As mutações A avaliação inicial e periódica é de ex trema
de ponto têm sido identificadas através de novos importância em todo tratamento fisiátrico, ofere-
métodos como o SSCP ousingle strand conforl1latiol1 cendo à equipe de reabilitação um bom conheci-
polYJ/wrphism 12• Portanto, a ausência de deleções mento das incapacidades físicas e da melhoria ou
no locus 21 do cromossoma X do paciente não não do quadro clínico diante das condutas tera-
exclui DMB, pois é possível a existência de outras pêuticas imputadas. A avaliação deverá constar
muta ções não demonstráveis devido à de exame postural, teste muscular manual, exa-
indisponibilidade dos demais métodos. me de alguns movimentos funcionais peculiares

GAVI, M.I3.R.O. e cols. - Distrofia muscular de l3ecker. 21


I~ e l(\to de caso e revisão de literatura
Actn Fisiátricn 3(3): 18-23, 1996

QUADRO 1 Acredita-se que exercícios ativos moderados se-


Distrofias Musculares riam benéficos, e que exercícios exagerados cau-
Distrofia de Duchenne sariam dano às fibras musculares (Dubowitz
Distrofia de Cinturas 1990), enquanto a imobilidade do paciente deter-
Distrofia Escapulo-umeral minaria atrofias de desuso.
Distrofia Facioescapuloumeral As mobilizações passivas sob a forma de caLI-
Distrofia Muscular Congênita telosas manobras de alongamento com ritmo lento
Distrofia de Emery-Dreyfuss
e freqüência determinada, poderão ser aplicadas
Distrofia Miotônica
nos membros superiores e inferiores pois ajudam
Doe nças Inflamatórias
a manter o comprimento muscular protegendo a
Dermatomiosite/Polimiosite
Miosite de Corpo de Inclusão
amplitude articular, evitando contraturas e d efor-
midades. Estes alongamentos beneficiam, quando
Miastenia Gravis e Síndrome Miastênica de Eaton-Lambert
Miopatias Congênitas
bem aplicados, os tendões de Aquiles, os joelhos
Doença do Núcleo Central e os quadris, prevenindo contraturas em fl exão .
Miopatia da Nemalina Os exercícios em piscina térmica tamb ém são va-
Miopatia Miotubular liosos na terapêutica das miopatias . As crianças
Desproporção Congênita do Tipo de Fibra deveriam ser es timuladas na realização de nata-
Miopatias Mitocondriais ção, que desenvolve a capacidad e respiratória.
Miopatias Metabólicas e Endócrinas Os problemas respiratórios deverão se r con-
Glicogenoses - Doença de Pompe duzidos com m edidas que propiciem a manuten-
Paralisia Peri ód ica ção do tônus da musc ula tura diafragmática. Um
Mioglobinúria programa de reeducação d a tosse e d e drenagem
Doenças daTireóide postural precisa ser enfatiza d o.
Doenças das Paratire óides e Osteomaláci a O portador de Dis trofia Muscular deve ter s ua
Doenças da Hipófise e Adrenais
capacidade deambulatória es tim.ul ada. Alguns
Miopatias Nutricionai s e Tóxic as serviços preconizam o uso de calhas noturnas para
Deso rden s do Neurônio Motor Inferi or
manter o comprimento normal dos músculos,
Atrofias Musculares Espinhais
Atrofia Muscul ar Espinh al Severa (Doença deWerdnig- principalmente os tendões de Aquiles evitando
Hoffm an) s ua retração e con seqüente equinisnto que muito
Atrofia Muscula r Esp inhal de Severidade intermedi ária prejudica a m archa . Em outros serviços, preconi-
Atrofia Muscular Espin hal Leve (Doença de Kugelberg- za -se a cirurgia corre tiva no momento em que se
Welander) observa a retração tendinosa e dificuldade na
Paralisi a Bulbar Progressiva marcha, seguindo-se do emprego de órteses
Neuropatias Sensoriomotoras Hereditária s es tabilizadoras de joelhos e tornozelos e de mobi-
Atrofia Muscular Peroneal lizações p assivas, acreditando-se que com es tas
Paraparesia Espástica medidas a marcha pode ser prolongada por cerca
Siringomielia
d e 2 anos. Nas cria nças imobilizadas, orienta-se o
Esclerose Lateral Amiotrófica
uso de coletes rígidos ou a es tabilização da colu-
na através da cirurgia de Luque, a fim de contro-
lar a escoliose progressiva.
A terapia ocupacional é parte importante do
tratamento, pois além de ser recrea tiva, es timula
o d esenvolvimento de habilidades pessoais n eces-
aos miopatas, exame das habilidades funcionais sárias à vida diária e até profissional. Atualmen-
utilizando-se das Escalas Funcionais d e Vignos e te, a Informática tem sido uma grande aliada pro-
Archibald (1960), do Protocolo Adaptado de Siegel porcionando excelentes resultados do ponto d e
(1977), e/ou dos índices de Barthel e o Sistema de vista da integração social desta clientela.
Avaliação de Longo Alcance (LRES), além da A DMB é uma doença incapacitante e fatal, e
m ensuração da amplitude d e movimentos das médicos e terapeutas devem oferecer ao pa ciente
principais articulações que possam estar compro- e sua família toda orientação disponível e um s u-
metidas como cotovelos, quadris, joelhos e torno- porte psicoterápico adequado.
zelos. O exame bioquímico e/ ou molecular deve ser
A cinesioterapia ainda é controversa, embora realizado nas mulheres ligadas ao afetado por la-
seja uma modalidade terapêutica necessária. Ain- ços maternos, a fim de identificar as portadoras
da não foram determinadas a duração, a amplitu- do gene da DMB e possibilitar o planejan'lento
de, a carga, a freqüência e velocidade ideais dos adequado de futuras gestações. Orientações de-
exercícios sobre os músculos destes pacientes. vem ser dadas aos doentes com DMB, que che-

22 GAVI, M.B.R.O. e ca ls. - Di s trofi a mu sc ular de Becker.


Relato d e caso e rev i s~o d e lite raturél
Actn Fisirílricn 3(3): 18-23, 1996

gam à idade reprodutiva, e seus descendentes do 5. Hu, X, Ray, PN, Murphy, EG, Thompson, MW. Worton, RG:
Duplicational Mutation at the Duchenne Muscular Locus:
sexo feminino, que serão portadoras. its Frequency, Distribution, Origin, and Fenotype/Genotype
Em resumo, o tratamento é direcionado para Correlation. Am . J. Hum. Genet. , 46 : 682-695, 1990.
um atendimento fisioterápico e reabilitacional, 6. Roberts. RG, Gardner, RJ, Bentley, DR: Searching lor the 1 in
2.400.000: A Review 01 Dystrophin Gene Point Mutation.
que mantenha um a boa capacidade Hum. Mutation , 4 : 1-11,1994.
cardiorrespiratória, além da prescrição de órteses 7. Hoffman, EP, Fischbeck. KH, Brown. RH et aI: Characterizotion
e ou tros recursos apropriados(15,16,17,18) para melho- 01 Dystrophin in Muscle Biopsy Specimens Irom Pacients
with uchenne's or Becker's Muscular Dystrophy. N. Engl. J.
rar a qualidade de vi d a dos pacientes. A Med.,318 : 1363-1368,1988.
cinesioterapia deve ser cautelosa, uma vez que 8. Emery. AEH: Duchenne Muscular dystrophy, Oxlord Medicai
tanto os exercícios ativos exagerados, quanto as Publications. 1993.
mobilizações e alongamentos excessivos podem 9. Emery. AEH, Skinner, R: C linicai Studies in Benign ( BeckerType
) X-linked Muscular Dystrophy. Clin . Genet., 10: 189-201.1976.
agravar as condições funcionais e estruturais da
10. Lusvarghi. ES. Eletromiogralia.ln: Diament, A. Cypel. S. Neuro-
musculatura. Dubowitz preconizou o u so de logia Infantil Lelévre, 2° ed .. Ri o de Janeiro, Editora livraria
prednisona como tentativa de melhora funcional Atheneu, 1989.
dos pacientes com DMD(19), mas não parece ser 11 . Vainzol. M, Pavanello. RCM, Pavanello-Filho, I et ai: Dystrophin
Immunostaining in Muscles Irom Pacients with Diferent
eficaz . Types 01 Muscular Dystrophy: A Brazilian Study. J. Neurol.
Deve ser enfatizada, portanto, a importância Sei., 98 : 221-233. 1990.
de um diagnóstico precoce, através da observa- 12. Sitnik. R: Triagem de Mutações de Ponto no Gene da
Distrolina pelo Método de SSCPTese de Mestrado em Bio-
ção da evolução neuromotora da criança, para que logia. USPSão Paulo, 1996.
se possa intervir do ponto de vista fisioterápico 13. Bubshby. KMD. Gardner-Medwin, D, Nicholson, LVB et ai: The
re tardando as seqüelas músculo-esqueléticas e ClinicaI. Genetic and Dystrofin Characteristics 01 Becker
Muscular Dystrofy.Correlation 01 phenotype with Genetic
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Relato de caso e revisão de literatura

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