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COMÉRCIO INTERNACIONAL

AULA 6

Prof.a Melina Hidalgo


CONVERSA INICIAL
O financiamento à importação é uma operação em que o banco financiador
paga o exportador estrangeiro e concede prazo para o importador brasileiro
mediante algumas condições. Para evitar possíveis erros neste processo, é
necessário que o importador faça um bom planejamento de importação, no qual
conste, dentre outros tópicos, o aspecto financeiro. Saber como será paga a
importação e quais os possíveis prazos e custos envolvidos é de fundamental
importância.
Ter domínio de como e do que negociar com o banco financiador também
é relevante para o bom andamento da operação. Acompanhar as etapas desde
o início, buscar informações no banco de relacionamento, apresentar uma
proposta de financiamento, liberar o pagamento para o exportador e o
vencimento da operação – tudo isso evitará possíveis situações de erros.
Neste estudo, apresentaremos outro ponto interessante relacionado ao
financiamento à importação: a contratação de hedge ou proteção contra a
variação cambial dever ser contratada pelo importador?

CONTEXTUALIZANDO
Devermos, como profissionais do Comércio Exterior, identificar os
possíveis “erros” que podem ocorrer na condução de um financiamento, desde
a negociação entre importador e exportador até a liberação dos recursos para o
exportador. E o que uma empresa brasileira deve fazer para obter um
financiamento à importação?
Primeiro, deve saber se tem condições para obtenção de financiamento à
importação junto a seu banco de relacionamento, tendo ciência de sua situação
cadastral, sabendo, ainda, se tem limite de crédito disponível, se poderá dar as
garantias solicitadas pelo banco e se o prazo de financiamento é o suficiente
para atender à sua necessidade. Deve, também, ter argumentos para negociar
com seu banco de relacionamento; neste momento, é necessário conhecer a
legislação e as práticas de mercado.
Ainda, o importador deverá orientar o exportador sobre como devem ser
apresentados os documentos representativos da negociação comercial, de
acordo com a modalidade de pagamento definida entre as partes.
Por fim, deve-se acompanhar a condução do financiamento, do início ao
fim, inclusive sabendo da variação cambial, que poderá ser favorável ou não ao
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importador, além de ter conhecimento de quais os instrumentos disponíveis no
mercado para proteger-se do risco cambial.

TEMA 1 - A LEGISLAÇÃO QUE AMPARA OS FINANCIAMENTOS À


IMPORTAÇÃO
É quase cultural que as empresas brasileiras utilizem capitais de terceiros
para manter suas atividades comerciais ou industriais. Há, para aquelas que
atuam somente no mercado interno, várias opções de empréstimos e de
financiamentos sujeitos às legislações próprias; estas são as tradicionais para o
mercado bancário. Os custos para essas linhas estão balizadas pela taxa de
juros do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), que as tornam caras.
Esta é a realidade do mercado financeiro brasileiro.
O mercado oferece, também para as empresas que atuam no mercado
internacional, empresas exportadoras ou importadoras, linhas específicas para
o financiamento à exportação e à importação.
O financiamento à importação consiste em recursos disponibilizados pelas
instituições financeiras em reais ou em moedas estrangeiras, a fim de que as
empresas adquiriram produtos no exterior. Os financiamentos em reais seguem
as legislações vigentes do mercado interno; por outro lado, os financiamentos
em moeda estrangeira – em regra geral, dólares americanos, euros, libras
esterlinas e iene japonês – seguem as legislações para os financiamentos do
mercado interno e, além disso, por haver a necessidade de troca de moeda
(câmbio), estão sujeitos também à legislação cambial, destacando-se a Circular
Bacen número 3.691, de 13 de dezembro de 2013, que trata das disposições
normativas e dos procedimentos relativos ao mercado de câmbio.
As instituições financeiras brasileiras estão autorizadas pelo Banco Central
do Brasil a captar (emprestar) recursos no exterior. A captação de recursos é em
moeda estrangeira, e a base dos juros praticados é a London Interbank Offered
Rate (Libor). A Libor é uma taxa de referência, calculada com base nas taxas de
juros praticadas nas grandes operações de empréstimos e financiamentos entre
os bancos internacionais que operam em Londres.
Somente para conhecimento, é interessante saber como diferenciar o custo
da taxa de juros brasileira (Selic) da taxa de juros praticada no mercado
internacional (Libor). Ambas podem variar de acordo com a política monetária de

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seus respectivos países, mas a variação não é expressiva. Para uma noção da
diferença entre as duas taxas de juros, podemos observar que, no dia 12 de
setembro de 2016, a Selic estava a 14,25% a.a.; a Libor, a 1,55676% a.a. O
custo da captação dos recursos é a principal vantagem que os bancos podem
ofertar a seus clientes. O custo do financiamento à importação com recursos
captados no exterior é bem menor se comparado com qualquer financiamento
praticado no mercado interno que tenha a Selic como taxa de referência.
O prazo de financiamento à importação, normalmente, está atrelado à
atividade da empresa importadora ou à finalidade para qual o produto será
importado – para revenda ou para compor ativo imobilizado da empresa. Se o
produto importado for para revenda, o prazo admitido será aquele que permite
ao importador pagar o financiamento com recursos da venda do produto
importado no mercado interno; se for para compor o ativo imobilizado da
empresa – máquinas e equipamentos, por exemplo –, o prazo pode ser
estendido conforme a linha de crédito de importação disponível e a capacidade
de pagamento do importador.
Para o Banco Central, os prazos são considerados:

 de curto prazo – quando as operações (financiamentos à importação)


não ultrapassam 360 dias para pagamentos, começados a contar, em
regra geral, da data do embarque (data de emissão do Conhecimento
de Embarque) da mercadoria no exterior. Nesse caso, a negociação é
livre entre o importador e o financiador, que pode ser o próprio
exportador ou uma instituição financeira. Para o Bacen, quanto aos
aspectos cambiais, essas operações são consideradas comerciais e
utilizam-se do contrato de câmbio de venda;

 de longo prazo – quando o financiamento à importação for superior a


360 dias. Para as operações com esse prazo, há a necessidade de
registrá-las no Bacen na forma de uma regulamentação específica.
Normalmente, quem financia o importador é uma instituição. Para o
Bacen, quanto aos aspectos cambiais, essas operações são
consideradas financeiras e utilizam-se do contrato de câmbio de venda.

Para as operações de financiamento à importação realizadas pelos bancos


e seus clientes com prazos inferiores e superiores a 360 dias, há incidência de

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juros sobre prazo financiado. Os juros devem ser pagos pelo financiado na data
acordada entre as partes e através da formalização de um contrato de câmbio
específico, separado do valor do pagamento do principal.
Pode-se considerar como características do financiamento à importação,
com a possibilidade de variações de banco para banco, de acordo com seus
critérios e interesses:
 Financiamento em moeda estrangeira;
 Financiamento de até 100% do valor da importação;
 Financiamento de curto e longo prazo;
 Financiamento de bens para comercialização e ativo fixo da empresa;
 Custo do financiamento tem como referência a taxa Libor;
 Existe o risco da variação cambial;
 O financiado precisa dar garantias ao financiador;
 Financia qualquer modalidade de pagamento.

Saiba mais
Para saber mais sobre financiamento de importação leia:

https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/conheca-os-
financiamentos-concedidos-por-bancos-
externos,462e438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD

TEMA 2 - FLUXO NEGOCIAL DO FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO


No financiamento à importação, entre a empresa brasileira (importador) e
o seu banco de relacionamento, este não se envolve na negociação entre o
importador brasileiro e o exportador estrangeiro, pois a mesma é livre, de acordo
com os interesses das partes. Na prática, o exportador não precisa ter o
conhecimento de que o importador está lidando com questões de solicitação de
financiamento. O exportador apenas quer receber na data acordada entre as
partes. Porém, o importador, pretendendo utilizar essa linha de financiamento,
terá de conhecer, ao menos basicamente, o fluxo da operação, para que possa
negociar com o exportador e cumprir os prazos e condições acordadas.
Para não incorrer em nenhum erro – ou pelo menos diminuir essa
possibilidade –, a empresa brasileira que queira comprar um produto no exterior,
financiando este pagamento, deverá saber (antes da negociação com o
exportador):

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 se seu cadastro e limite de crédito para operar com essa linha de
financiamento estão em ordem com seu banco de relacionamento;
 a garantia que vai oferecer ao banco;
 os valores mínimo e máximo do financiamento;
 os prazos mínimo e máximo do financiamento;
 o prazo para a liberação dos recursos (para o exportador);
 os documentos necessários que devem apresentados ao banco;
 o custo final do financiamento;
 a tributação incidente;
 se haverá o risco cambial.

Em resumo, o importador deve procurar todas as informações sobre o


financiamento à importação antes de negociar com o exportador. Dessa
maneira, realizará uma operação mais segura, com menor risco de se indispor
com o exportador. Mais à frente, serão apresentados alguns erros que ocorrem
no financiamento à importação, em decorrência da não observância das
situações expostas aqui.
A seguir, confira o fluxo de um financiamento à importação.

Financiamento à importação
1 – Negociação entre importador e exportador
Nesta etapa, definem-se as principais condições da negociação, como
quantidade, preço, prazo de entrega e de embarque, incoterm e a modalidade
de pagamento, que pode ser: pagamento antecipado, remessa sem saque,
cobrança documentária ou carta de crédito.
Como citado anteriormente, essa é uma negociação entre o importador e o
exportador. O banco financiador não se envolve. Contudo, no momento de
financiar o importador, serão realizados os procedimentos de acordo com a
modalidade de pagamento definida entre as partes.

2 – Importador solicita financiamento à importação no seu banco


Após a negociação com o exportador, o importador solicita o financiamento
à importação a seu banco de relacionamento. Nesta etapa, fica definido o valor
do financiamento, o prazo, a garantia a ser oferecida, os documentos

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necessários, de acordo com a modalidade de pagamento negociada entre as
partes, e o custo do financiamento.

3 – Banco do importador formaliza a operação de financiamento à


importação
Após a concordância do importador sobre realizar o financiamento, o banco
inicia a formalização do contrato de financiamento à importação, no qual
constará, em diversas cláusulas, as condições negociadas.

4 – Assinatura do contrato de financiamento à importação


As partes, banco e importador, assinam o contrato de financiamento à
importação.

5 – Liberação dos recursos do financiamento à importação


Após a assinatura do contrato de financiamento à importação pelo
importador, o banco financiador libera os recursos (valor do financiamento) para
o exportador no exterior. A transferência se dá através de mensagem swift, na
qual consta o domicílio bancário do exportador (nome do banco, agência e
número de conta corrente). A data da disponibilidade dos recursos no banco do
exportador, também conhecida como “data do desembolso”, é o início da
contagem do prazo de financiamento.

6 - Pagamento das obrigações


Na data acordada entre as partes, o importador efetua o pagamento ao
banco financiador através da contratação de câmbio – referente a pagamento de
principal e juros.
Um dos fatores que devem ser observados pelo importador com maior
destaque no fluxo negocial de um financiamento à importação é o custo pago
pelo financiamento. Caso não seja bem negociado – o que se considera um erro,
decorrente do não conhecimento da engrenagem do mercado, ou seja, de como
o mercado trabalha –, o importador pode ter gastos mais expressivos.
É interessante que o importador conheça como se forma o custo de um
financiamento, pois, desta forma, poderá negociar com mais propriedade diante
de seu banco de relacionamento. Alguns fatores que influenciam a formação do
custo do financiamento são:
 custo da captação dos recursos no exterior;

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 prazo do financiamento;
 avaliação da empresa importadora (classificação de risco);
 spread;
 risco cambial.

Curiosidade: consulte um banco e verifique quais são os critérios para a


contratação de um financiamento à importação

TEMA 3 - FLUXO OPERACIONAL NO FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO


Entende-se com “fluxo operacional” as etapas necessárias para formalizar
uma operação de financiamento à importação. São os procedimentos e
exigências que o banco financiador faz a seu cliente, o importador.
É justamente nessas etapas que comumente ocorrem problemas na
operação de financiamento, acarretando consequências como atrasos, prejuízos
ou até cancelamento da operação comercial entre importador e exportador.
Previamente à formalização de um financiamento à importação, assim
como em qualquer outra operação de crédito, o banco financiador realizará uma
análise cadastral, a fim de avaliar o risco de seu cliente. Vários são os pontos
analisados sobre a empresa. Entre eles:
 tempo de atividade;
 faturamento;
 endividamento no mercado financeiro;
 segmento de atuação;
 capacidade de pagamento;
 garantias;
 performance de importação.

Uma das etapas consiste na apresentação da proposta de financiamento à


importação. Esse documento, que não é padronizado pelos bancos, conta com
o critério de cada um deles para determinar as informações de que precisam
para formalizar o financiamento. Em regra geral, as informações a seguir são
necessárias:
 Identificação do importador;
 Identificação do exportador;
 País do exportador;

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 Identificação do(s) documento(s) comerciais;
 Valor da importação;
 NCM e descrição da mercadoria;
 Modalidade de pagamento para o exportador;
 Mercadoria embarcada: ( ) sim ( ) não;
 Valor do financiamento;
 Prazo total do financiamento;
 Prazo de pagamento do financiamento;
 Data prevista do desembolso (pagamento ao exportador);
 Domicílio bancário do exportador.

Este documento deve ser apresentado pelo importador em papel timbrado


e assinado pelo responsável da empresa. Com base nas informações contidas
na proposta, o banco financiador poderá solicitar os documentos que
representam a operação comercial de acordo com a modalidade de pagamento
ao exportador.

Modalidades de pagamento
- Pagamento antecipado
Em regra geral, o banco financiador solicita a fatura proforma emitida pelo
exportador, contendo as condições da negociação entre as partes,
principalmente:
 modalidade de pagamento (pagamento antecipado);
 data prevista de embarque.
Vale ressaltar que outras informações negociais se encontram na fatura
proforma; nesse caso, ainda não houve o embarque da mercadoria no exterior.

- Pagamento à vista
No caso de um pagamento à vista ao exportador, considera-se que a
mercadoria já foi embarcada, porém, não nacionalizada. Os documentos que
deverão ser apresentados ao banco financiador serão:
 fatura comercial (invoice);
 Conhecimento de Embarque (BL, AWB ou CRT).

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Caso a modalidade de pagamento seja uma remessa sem saque à vista, o
exportador, provavelmente, liberará os documentos originais ao importador após
receber o pagamento, efetuado, neste caso, pelo banco financiador.

- Pagamento a prazo
No pagamento a prazo, o exportador concede, inicialmente, um prazo de
pagamento ao importador brasileiro. Na data acordada, em lugar de o importador
utilizar recursos próprios para pagar a importação, utiliza um financiamento com
seu banco de relacionamento, que paga o exportador na data prevista e alonga
o prazo de pagamento para o importador. Nesse caso, como a mercadoria já foi
nacionalizada, o banco financiador solicita os seguintes documentos do
importador:
 fatura comercial (invoice);
 Conhecimento de Embarque (BL, AWB ou CRT);
 Declaração de Importação (DI).

Em qualquer uma das situações descritas, o banco, ao realizar um


financiamento à importação, paga sempre o exportador ou beneficiário da
operação comercial.
As operações de financiamento à importação envolvem a transferência de
moeda estrangeira no momento em que o banco financiador faz o desembolso
(paga) ao exportador no exterior, e também na contratação de câmbio por parte
do importador no vencimento da operação. Dessa maneira, essas operações
estão sujeitas às legislações cambiais, devendo ser observados os princípios
básicos do mercado cambial:
 Fundamentação econômica;
 Legalidade da operação;
 Comprovação documental.

Os bancos autorizados a operar com câmbio e, consequentemente, a


financiar as importações brasileiras podem, a seu critério, dispensar a
apresentação de documentos que comprovem a operação comercial (fatura
proforma, invoice, conhecimento de embarque e declaração de importação)
relacionados aos financiamentos à importação.

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Leitura obrigatória:

Circular Bacen número 3.691, de 16/12/2013. Disponível em:

https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/circ/2013/pdf/circ_3691_v1_O.pdf

TEMA 4 - ERROS MAIS COMUNS NA NEGOCIAÇÃO E CONDUÇÃO DO


FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO
O financiamento à importação é destinado a todo tipo de empresas
(micros, pequenas, médias e grandes; comerciais, industriais ou
prestadoras de serviços).
Não se pode deixar de dizer que o financiamento é uma forma de incentivo
à importação, seja para importar produtos para revenda (consumo) ou bens de
capital (máquinas e equipamentos), pois as vantagens são excelentes:
alongamento do prazo para pagamento, custos a taxas internacionais e não-
utilização de capital próprio para pagar a dívida.
Seria ótimo se todos os procedimentos necessários para fazer um
financiamento à importação ocorressem sem nenhum transtorno, porém, na
prática, é bem diferente. Os problemas são ocasionados, normalmente, porque
o importador solicita o financiamento a seu banco de relacionamento após a
negociação com o exportador. Outros erros acontecem porque os documentos
apresentados estão em descordo com o pedido de financiamento.
A seguir, alguns exemplos de erros nas operações de financiamentos à
importação:

Exemplo 1
Um importador brasileiro negocia com um exportador chinês a compra de um
determinado produto no valor de USD 100.000,00, nas seguintes condições: -
forma de pagamento:
 30% antecipado;
 pagamento até 20 dias da data da negociação;
 70% à vista, modalidade FOB.

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Situação 1: com essas informações e a fatura proforma, o importador solicita o
financiamento à importação a seu banco;
Erro 1: na fatura proforma, não constam as condições de pagamento e a data
prevista para embarque da mercadoria;
Correção 1: o importador deve solicitar para o exportador a correção da fatura
proforma incluindo as informações necessárias;
Consequência 1: poderá haver um atraso no pagamento dos 30% ao
exportador.

Situação 2: o importador solicita um financiamento de 100% do valor da


importação na modalidade antecipada;
Erro 2: a fatura proforma prevê somente a antecipação de 30%;
Correção 2: o importador deve solicitar para o exportador a correção da fatura
proforma, alterando a modalidade de pagamento para 100% antecipado;
Consequência 2: poderá haver um atraso na liberação do financiamento.

Situação 3: o importador tem alguma restrição com o seu banco de


relacionamento;
Erro 3: o importador deveria consultar previamente o seu banco de
relacionamento para checar sua situação cadastral ou de limite de crédito;
Correção 3: o importador deverá regularizar a situação cadastral;
Consequência 3: a regularização da restrição poderá demorar alguns dias e
inviabilizar o financiamento.

Exemplo 2
Um importador brasileiro negocia a compra de uma máquina de um
exportador italiano no valor de EUR 300.000,00, nas seguintes condições:
- 50% à vista;
- 50% a 180 dias da data do embarque.

Situação 1: o importador quer financiar os 100% do valor da importação, mas


quer pagar o exportador nas condições negociadas entre eles. Nesse caso, o
importador solicita o financiamento, primeiramente, para os 50% à vista;
Erro 1: Como é uma operação à vista, o banco solicita o comprovante de
embarque da mercadoria (Conhecimento de Embarque) para liberar o

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pagamento ao exportador. Muitas vezes, o importador tem dificuldade de ter
esse documento; o exportador envia um draft do Conhecimento de Embarque
(documento sem valor comercial). O draft pode não servir para a liberação do
pagamento por parte do banco;
Correção 1: o importador deve entrar em contato com o exportador e solicitar o
Conhecimento de Embarque, que pode ser até uma cópia;
Consequência 1: o exportador pode demorar para receber o conhecimento de
embarque assinado pelo transportador; consequentemente, pode demorar para
repassá-lo ao importador. Nesta situação, o importador já deveria ter informado
o exportador de que precisaria do Conhecimento de Embarque assinado pelo
transportador.
Os principais erros que ocorrem no financiamento à importação estão
relacionados aos documentos que representam a operação comercial que, em
regra geral, estão em desacordo com a operação de financiamento.
Também acontecem erros por falta de planejamento por parte do
importador, com relação ao fluxo de caixa da empresa, à variação cambial e aos
prazos envolvidos em toda a importação.
Para as empresas que queiram financiar suas importações, principalmente
as iniciantes, é fundamental que, antes de negociar com o exportador, elas
tenham o conhecimento das práticas utilizadas no mercado, garantindo maior
segurança na contratação de um financiamento à importação.

TEMA 5 - RISCO CAMBIAL AINDA DESCONHECIDO PELO IMPORTADOR


É comum que a maioria das empresas brasileiras, ao contratar um
financiamento à importação, não se preocupem com a proteção contra o risco
da variação cambial.

“Isso é um erro?”

A resposta estará na continuidade ou não de cada empresa que atua no


mercado internacional.
Culturalmente, os importadores não utilizam os mecanismos existentes
para fazer o hedge cambial por falta de conhecimento, ou por “considerar” que a
taxa de câmbio utilizada para pagar o compromisso no vencimento da operação
será mais favorável.

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Sim, a taxa de câmbio pode ser mais favorável e, assim, a empresa terá
uma vantagem financeira. Por outro lado, se a taxa de câmbio não for favorável,
a empresa terá um prejuízo.
Nesse caso, seria melhor definir (fixar) a taxa de câmbio a ser utilizada no
vencimento da operação. Dessa maneira, a empresa poderia formar todo o custo
da importação em reais, determinando sua margem de rentabilidade. A empresa
limitaria sua margem de lucro, porém, sairia do risco cambial.
O risco cambial está diretamente ligado à valorização ou à desvalorização
da moeda nacional em relação à moeda estrangeira. Portanto, é certo que uma
empresa, ao tomar um financiamento em moeda estrangeira, estará sujeita à
variação cambial.
No mercado cambial brasileiro, a desvalorização ou valorização cambial é
muito visível, devido aos diversos fatores que influenciam a economia. O Brasil
tem problemas políticos não resolvidos, inflação fora do patamar previsto pelo
Banco Central, taxa de juros elevada e, ainda, problemas externos, os quais
influenciam diretamente nossa economia.
A tabela a seguir apresenta o valor da taxa de câmbio do dólar americano
comercial de venda no final de cada semestre.

Tabela 1: Variação da taxa de câmbio do dólar americano comercial


Data Taxa de câmbio (USD)
30/06/2014 2,2025
30/12/2014 2,6562
30/06/2015 3,1026
30/12/2015 3,9042
30/06/2016 3,2092
Fonte: Elaboração do autor

Como o importador brasileiro pode se programar ou esquematizar seu


planejamento a médio e a longo prazo com uma variação cambial demonstrada
na tabela anterior?
Podemos exemplificar: temos uma empresa com endividamento de USD
300.000,00, decorrente de um financiamento à importação com vencimento em
três parcelas semestrais: 30/06/2015, 30/12/2015 e 30/06/2016. O valor em
reais desembolsado pela empresa para pagar cada uma destas parcelas foi,
respectivamente, de: R$ 310.260,00, R$ 390.420,00 e R$ 320.920,00. Se a

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empresa tivesse realizado uma operação para se proteger da variação cambial
quando fez o financiamento à importação, o valor desembolsado em reais seria
o mesmo? Repito a pergunta feita anteriormente:

“Não contratar a operação de hedge para um financiamento à importação


é um erro?”

Acompanhe os dois exemplos a seguir, em que pode haver risco cambial.


No primeiro, um importador contrai uma dívida em moeda estrangeira, e a taxa
de câmbio se desvaloriza; no segundo, a taxa de câmbio se valoriza.
Um importador brasileiro financia com seu banco o valor de USD
100.000,00 (cem mil dólares dos Estados Unidos) para a compra de uma
máquina de um exportador canadense. O prazo do financiamento é de 1 ano,
com o pagamento do principal e dos juros em uma única parcela, no final. A
dívida contraída pelo importador é em moeda estrangeira. Consideremos que a
taxa de câmbio na data do financiamento estava a USD 1,00 = R$ 3,25.
O importador contrata um hedge cambial, o Non Deliverable Forward
(NDF), que é um derivativo ou venda a termo de moeda, fixando a taxa de câmbio
para uma data futura.
Vamos considerar que a taxa contratada a termo para o vencimento do
financiamento foi de USD 1,00=R$ 3,70.

Exemplo 1 – considerando a desvalorização da taxa de câmbio no


vencimento da operação
Vamos considerar que a taxa de câmbio na data do vencimento estivesse
a USD1,00 = R$ 3,90. Nesse caso, o importador pagaria seu financiamento à
importação de USD 100.000,00 a uma taxa de câmbio de R$ 3,90 = R$
390.000,00. Por outro lado, devido à operação de hedge contratada a uma taxa
de R$ 3,70, o importador receberia um crédito na sua conta de R$ 20.000,00
(ajuste positivo):

Desembolso do importador = Pagamento do financiamento – ajuste positivo


Desembolso do importador = pagamento do financiamento – ajuste positivo
(-)(-)R$
R$370.000,00
370.000,00= =(-)(-)R$
R$390.000,00
390.000,00(+)
(+)R$
R$20.000,00
20.000,00

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No final, o importador pagou pelo financiamento o valor de R$ 370.000,00,
importância por ele conhecida desde a data da contratação do hedge (NDF).
Obs.: não foi considerada a tributação de Imposto de Renda incidente na
operação quando o ajuste é positivo para o importador.

Exemplo 2 – considerando a valorização da taxa de câmbio no vencimento


da operação
Vamos considerar que a taxa de câmbio na data do vencimento estivesse
a USD1,00 = R$ 3,40. Nesse caso, o importador pagaria o seu financiamento à
importação de USD 100.000,00 a uma taxa de câmbio de R$ 3,40 = R$
340.000,00. Por outro lado, devido à operação de hedge contratada a uma taxa
de R$ 3,70, o importador pagaria ao banco o valor de R$ 30.000,00 (ajuste
negativo).

Desembolso do importador = Pagamento do financiamento + ajuste negativo


Desembolso do importador = Pagamento do financiamento + ajuste negativo
(-) R$ 370.000,00 = (-) R$ 340.000,00 (-) R$ 30.000,00
(-) R$ 370.000,00 = (-) R$ 340.000,00 (-) R$ 30.000,00

No final, o importador pagou, por seu financiamento, o valor de R$


370.000,00, importância por ele conhecida desde a data da contratação do
hedge (NDF).
Portanto, uma grande variação da taxa cambial pode comprometer o
endividamento de uma empresa que está financiada em moeda estrangeira.
Nesse caso, o importador deve analisar o risco cambial, principalmente para
operações de longo prazo, antes de fazer um financiamento em moeda
estrangeira.

Leia mais
https://www.cetip.com.br/modalidades-de-derivativos/ndf-%28non-deliverable-
forward%29

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TROCANDO IDEIAS
Pesquise com empresas importadoras tomadoras de crédito
(financiamento à importação) qual a maior dificuldade na contratação de um
financiamento à importação e o que pode ser feito para minimizar essa situação.
Troquem as informações coletadas em ambientes como o chat.

NA PRÁTICA

1 – Leitura do caso
Abordamos, aqui, os conteúdos relacionados a uma operação de
financiamento à importação e o risco cambial nela envolvida.
Um erro que normalmente o importador comete ao contratar um
financiamento à importação é o de não estabelecer o custo final ou o custo em
moeda nacional no vencimento do compromisso. Dessa maneira, a dívida do
importador no vencimento poderá ser maior ou menor, conforme a variação
cambial. Um dos instrumentos que permite ao importador se proteger da
variação cambial para uma data futura é o hedge cambial. Vamos ver, na prática,
como ficaria a dívida de um financiamento à importação para uma empresa que
utilize o NDF (derivativo), em um cenário futuro de valorização ou/e de
desvalorização do dólar frente ao real. Vamos praticar analisando a situação
proposta a seguir.

2 – Identificação do que deve ser feito


Uma empresa contrata um financiamento à importação com seu banco de
relacionamento no valor de USD 500.000,00 por um prazo de 270 dias. A taxa
de juros para o financiamento é de 5% a.a.

“A operação está sujeita ao risco cambial”

Informações sobre a operação


 Data da contratação do financiamento à importação: data 0 (zero) dias
 Data do vencimento do financiamento à importação: data 270 dias
 Taxa de câmbio na data 0 (zero) = USD 1,00 = R$ 3,2350
 Taxa de câmbio na data 270 (vencimento) = desconhecida

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 Taxa de trava (NDF) na data 270 dias (vencimento) = USD 1,00 = R$
3,5350

a) Calcule o valor do ajuste na conta do importador e o valor que o importador


pagará em um cenário de desvalorização da taxa de câmbio no vencimento do
financiamento. Considere uma taxa de câmbio de USD 1,00 = R$ 3,7000;
b) Calcule o valor do ajuste na conta do importador e o valor que o importador
pagará em um cenário de valorização da taxa de câmbio no vencimento do
financiamento. Considere uma taxa de câmbio de USD 1,00 = R$ 3,4000.

3 - Identificação da teoria/conteúdo que resolve o problema


Leia: http://www.cambiosemsegredos.com.br/ndf.php

4 – Indicação de leitura complementar


Leia:
http://www.portaldoinvestidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/derivativos/Derivati
vos_introducao.html

5 – Apresentação da solução
Posteriormente vamos discutir e apresentar a resolução.

SÍNTESE
O financiamento à importação é um instrumento importantíssimo para
pagamento das importações com recursos de terceiros e a uma taxa de juros
considerada baixa, se comparada com as praticadas no mercado interno. Por
esses motivos, cabe ao importador brasileiro buscar as informações necessárias
para conhecer procedimentos e práticas utilizados no mercado bancário para
essa linha de crédito. Dessa maneira, o importador poderá negociar com o
exportador estrangeiro, evitando possíveis erros que trarão desgaste na relação
comercial entre as partes.
Solicitar a documentação correta para o exportador de acordo com o
financiamento pretendido é fundamental para que a operação tenha um fluxo
normal. Outro ponto importante é a necessidade da contratação de um hedge
cambial – proteção contra a variação cambial a que estão sujeitos os
financiamentos à importação. Em resumo, o conhecimento dos procedimentos e
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práticas sobre como realizar uma operação de financiamento não devem ser
desconsiderados pelo importador.

REFERÊNCIAS
BORGES, Joni Tadeu. Financiamento ao Comércio Exterior. Curitiba: Ibpex,
2002.

RATTI, Bruno. Comércio internacional e câmbio. São Paulo: Aduaneiras,


2004.

BACEN – Banco Central. Circular Bacen número 3.691, de 16/12/2013.


Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/Rex/LegCE/Port/Circular3691.asp?idpai=CAMBIOREG
ULA>. Acesso em: 27 set. 2016.

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