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O trabalho tem como objetivo apresentar reflexões sobre as especificidades da proteção social
oferecida pelo Sistema Único De Assistência Social (SUAS), e os desafios para a garantia do direito à
assistência em tempos de crise sanitária e econômica da pandemia do Coronavírus (COVID-19). A
problematização de fragmentos do vasto tema não pretende resumir a totalidade da realidade social
nesse texto, mas é necessário pensar os processos históricos de lutas por melhores condições de vida
das classes trabalhadoras. Principalmente as condições materiais e subjetivas das populações em
situação de vulnerabilidade social.
A pandemia do novo coronavírus revelou as condições históricas do capitalismo, de forma
que a mercadorização de diversas áreas da vida resultou na expansão da crise. Esse fato foi
impulsionado pelo modelo neoliberal que proporcionou o aumento da fragilização das políticas
sociais. A condução dessas políticas conquistadas através das lutas dos movimentos sociais, e
contraditoriamente, para a manutenção da força de trabalho ativa e excedente, passou por diversas
regressões nos mandatos presidenciais ligados aos interesses do capital, mas também no processo de
aumento do conservadorismo e de um movimento “pós-verdade” que resultou no governo Bolsonaro.
De acordo com Alysson Mascaro:
"Até o presente momento, Bolsonaro age em termos de propiciar o aumento do
quadro pandêmico, sem políticas de maior vulto para o socorro à população. Trata-se de um
governo sem quadros capazes, manietado por um direto controle tanto militar quanto do
capital financeiro, dinamizado por milícias de internet, sem oposição forte nem controle
institucional pelos poderes Legislativo e Judiciário." (MASCARO, 2020, p. 12)
Ocorre nesse contexto, a constante troca de ministros que não apresentaram perspectivas de
combate à pandemia e que deixaram de cumprir com as expectativas do presidente, que se posiciona
diante do contexto de crise sanitária e social de forma negacionista e irresponsável, ao se apresentar
de maneira que rejeita a necessidade das medidas de combate ao novo coronavírus. Mascaro comenta
sobre os impactos econômicos e políticos e as respostas aos impactos da pandemia, "A crise do capital
em face do coronavírus acelera também a crise do direito: as ferramentas jurídicas neoliberais são
rapidamente abandonadas em favor dos instrumentos jurídicos intervencionistas." (MASCARO, 2020,
p. 10)
Dessa forma, é possível perceber o alargamento da desigualdade social, ao passo que certos
setores da economia se expandem para a lucratividade da burguesia do capitalismo financeiro, e
aumentam os números de famílias que estão em situação de insegurança alimentar. Um estudo da
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN),
realizado entre outubro e dezembro de 2020, mostra que 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome
e 55,2% das famílias sofreram algum grau de insegurança alimentar durante esse período.
O apelo da Organização Mundial da Saúde nas campanhas "fique em casa" não reflete a
realidade das pessoas que não possuem condições materiais básicas necessárias para isso, quando se
trata da realidade de certas regiões do Brasil falta até mesmo saneamento básico. A partir dessa
perspectiva é necessário entender como se organiza o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
para posteriormente refletir sobre as mudanças para atendimento das demandas durante a pandemia.
Para compreender a implementação de uma política pública, é importante entender o Estado,
não como um ator único, mas dentro das políticas que movem e interagem para atender essas
demandas. A descentralização, a participação popular e o caráter intersetorial do SUAS, são
características que possibilitam a prestação de serviços e a execução de programas e projetos de forma
democrática. Para que os usuários da rede de proteção social possam ter suas demandas atendidas, a
proteção social é dividida entre proteção básica e proteção especial.
A proteção básica é de caráter preventivo, pois mesmo em situação de vulnerabilidade social,
as famílias, membros e indivíduos atendidos, ainda não tiveram seus direitos violados. Pretende
prevenir situações de risco, com o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Os usuários nesse contexto podem se direcionar aos Centros de Referência de Assistência
Social - CRAS; que organizam, coordenam e executam os serviços de proteção social básica da
política assistencial da Proteção e Atendimento Integral à família - PAIF. O serviço possibilita a
inclusão e atualização de famílias de baixa renda no Cadastro Único, para que possam ter acesso a
programas como o Bolsa Família.
A proteção especial é dividida em média e alta complexidade. Em casos de média
complexidade os direitos já foram violados mas os vínculos familiares permanecem mantidos. Em
casos de alta complexidade além da violação de direitos, os vínculos familiares foram rompidos,
exigindo a retirada do usuário da vida familiar. Como por exemplo programas de combate a
exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes.
A proteção social de média complexidade é prestada nos Centros de Referência
Especializados de Assistência Social - CREAS, por isso requerem maior estruturação
técnico-operacional e atenção especializada e mais individualizada, com acompanhamento sistemático
e monitorado. Já nos casos de alta complexidade não existem centros de referência, pois é necessária a
proteção integral através de serviços de abrigo e de família substituta.
A demanda dos usuários por serviços da proteção básica e da proteção especial cresceram
exponencialmente durante o período de pandemia. Por isso as três esferas do governo publicaram
decretos, portarias e normas técnicas para auxiliar as instituições e órgãos públicos no enfrentamento à
pandemia. A Assistência Social foi considerada como serviço essencial pelo Decreto Federal nº
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 7a edição. São Paulo: Cortez, 2014.
MASCARO, Alysson Leandro. Crise e Pandemia. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2020.
Resultados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19
no Brasil, conduzido pela Rede PENSSAN, com apoio do Instituto Ibirapitanga e parceria de
ActionAid Brasil, FES-Brasil e Oxfam Brasil. Acesse: olheparaafome.com.br
Relatório, organizado pelos pesquisadores da FGV e do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB
FGV-EAESP), busca apresentar de forma sintética os dados extraídos de um survey online realizado
com 439 profissionais da assistência social de todas as regiões no Brasil. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/PesquisaFGV-rel03-social-covid-19-depoimentos-v2.pdf
Guia de Medidas de enfrentamento a Covid-19 no âmbito do SUAS:
https://www.gesuas.com.br/blog/guia-suas-na-pandemia/