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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - SSN

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL NITERÓI


Disciplina: Direito e Legislação Social
Docente: Gustavo Gomes
Discentes: Jonathan Coelho e Wendel Rodrigues.

O trabalho tem como objetivo apresentar reflexões sobre as especificidades da proteção social
oferecida pelo Sistema Único De Assistência Social (SUAS), e os desafios para a garantia do direito à
assistência em tempos de crise sanitária e econômica da pandemia do Coronavírus (COVID-19). A
problematização de fragmentos do vasto tema não pretende resumir a totalidade da realidade social
nesse texto, mas é necessário pensar os processos históricos de lutas por melhores condições de vida
das classes trabalhadoras. Principalmente as condições materiais e subjetivas das populações em
situação de vulnerabilidade social.
A pandemia do novo coronavírus revelou as condições históricas do capitalismo, de forma
que a mercadorização de diversas áreas da vida resultou na expansão da crise. Esse fato foi
impulsionado pelo modelo neoliberal que proporcionou o aumento da fragilização das políticas
sociais. A condução dessas políticas conquistadas através das lutas dos movimentos sociais, e
contraditoriamente, para a manutenção da força de trabalho ativa e excedente, passou por diversas
regressões nos mandatos presidenciais ligados aos interesses do capital, mas também no processo de
aumento do conservadorismo e de um movimento “pós-verdade” que resultou no governo Bolsonaro.
De acordo com Alysson Mascaro:
"Até o presente momento, Bolsonaro age em termos de propiciar o aumento do
quadro pandêmico, sem políticas de maior vulto para o socorro à população. Trata-se de um
governo sem quadros capazes, manietado por um direto controle tanto militar quanto do
capital financeiro, dinamizado por milícias de internet, sem oposição forte nem controle
institucional pelos poderes Legislativo e Judiciário." (MASCARO, 2020, p. 12)
Ocorre nesse contexto, a constante troca de ministros que não apresentaram perspectivas de
combate à pandemia e que deixaram de cumprir com as expectativas do presidente, que se posiciona
diante do contexto de crise sanitária e social de forma negacionista e irresponsável, ao se apresentar
de maneira que rejeita a necessidade das medidas de combate ao novo coronavírus. Mascaro comenta
sobre os impactos econômicos e políticos e as respostas aos impactos da pandemia, "A crise do capital
em face do coronavírus acelera também a crise do direito: as ferramentas jurídicas neoliberais são
rapidamente abandonadas em favor dos instrumentos jurídicos intervencionistas." (MASCARO, 2020,
p. 10)
Dessa forma, é possível perceber o alargamento da desigualdade social, ao passo que certos
setores da economia se expandem para a lucratividade da burguesia do capitalismo financeiro, e
aumentam os números de famílias que estão em situação de insegurança alimentar. Um estudo da
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN),
realizado entre outubro e dezembro de 2020, mostra que 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome
e 55,2% das famílias sofreram algum grau de insegurança alimentar durante esse período.
O apelo da Organização Mundial da Saúde nas campanhas "fique em casa" não reflete a
realidade das pessoas que não possuem condições materiais básicas necessárias para isso, quando se
trata da realidade de certas regiões do Brasil falta até mesmo saneamento básico. A partir dessa
perspectiva é necessário entender como se organiza o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
para posteriormente refletir sobre as mudanças para atendimento das demandas durante a pandemia.
Para compreender a implementação de uma política pública, é importante entender o Estado,
não como um ator único, mas dentro das políticas que movem e interagem para atender essas
demandas. A descentralização, a participação popular e o caráter intersetorial do SUAS, são
características que possibilitam a prestação de serviços e a execução de programas e projetos de forma
democrática. Para que os usuários da rede de proteção social possam ter suas demandas atendidas, a
proteção social é dividida entre proteção básica e proteção especial.
A proteção básica é de caráter preventivo, pois mesmo em situação de vulnerabilidade social,
as famílias, membros e indivíduos atendidos, ainda não tiveram seus direitos violados. Pretende
prevenir situações de risco, com o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Os usuários nesse contexto podem se direcionar aos Centros de Referência de Assistência
Social - CRAS; que organizam, coordenam e executam os serviços de proteção social básica da
política assistencial da Proteção e Atendimento Integral à família - PAIF. O serviço possibilita a
inclusão e atualização de famílias de baixa renda no Cadastro Único, para que possam ter acesso a
programas como o Bolsa Família.
A proteção especial é dividida em média e alta complexidade. Em casos de média
complexidade os direitos já foram violados mas os vínculos familiares permanecem mantidos. Em
casos de alta complexidade além da violação de direitos, os vínculos familiares foram rompidos,
exigindo a retirada do usuário da vida familiar. Como por exemplo programas de combate a
exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes.
A proteção social de média complexidade é prestada nos Centros de Referência
Especializados de Assistência Social - CREAS, por isso requerem maior estruturação
técnico-operacional e atenção especializada e mais individualizada, com acompanhamento sistemático
e monitorado. Já nos casos de alta complexidade não existem centros de referência, pois é necessária a
proteção integral através de serviços de abrigo e de família substituta.
A demanda dos usuários por serviços da proteção básica e da proteção especial cresceram
exponencialmente durante o período de pandemia. Por isso as três esferas do governo publicaram
decretos, portarias e normas técnicas para auxiliar as instituições e órgãos públicos no enfrentamento à
pandemia. A Assistência Social foi considerada como serviço essencial pelo Decreto Federal nº

10.282, de 20 de março de 2020. As demais publicações tiveram como finalidade aumentar a


capacidade de resposta do SUAS frente às necessidades de mudanças no orçamento e atendimento, de
maneira que respondesse às demandas básicas para a sobrevivência da população.
Algumas publicações importantes referentes a verba destinada à política de assistência, foram
a Medida Provisória nº 953 de 15 de 04 de 2020 e a Portaria MC nº 369, de 29 de Abril de 2020,
publicadas respectivamente para abertura de crédito extraordinário para o Ministério da Cidadania e
repasse financeiro federal para o SUAS.
Os profissionais que atuam na linha de frente da assistência, não se sentiram preparados para
trabalhar durante a pandemia do novo coronavírus. Um estudo publicado em junho de 2020 pela FGV
(Fundação Getúlio Vargas), mostra que a maior parte dos assistentes sociais, psicólogos e
profissionais da área sentem medo. A pesquisa, feita a partir de um questionário respondido por 1.019
pessoas, apontou que as condições de trabalho, consideradas ruins, impedem os profissionais de se
proteger adequadamente. 80% dos profissionais que responderam a pesquisa afirmaram que não
receberam treinamento e apenas 38,5% haviam recebido equipamentos de proteção individual (EPIs).
As publicações que tratam da adoção de medidas para a segurança dos usuários e dos
profissionais da rede SUAS foram a Portaria MC nº 337, de 24 de março de 2020 e a Portaria
SNAS/SEDS/MC nº 54/2020, de 01 de abril de 2020, que falam principalmente sobre a adoção de
medidas como o atendimento remoto e a suspensão de atividades coletivas. Além de publicações
sobre a aprovação de recomendações de atendimentos a pessoas em situação de rua, mulheres e
vítimas de violência e sobre o funcionamento da proteção básica e especial.
A política de assistência está intrinsecamente relacionada ao desemprego e ao trabalho
precarizado, pois é principalmente devido à situação de vulnerabilidade social que as famílias
recorrem aos serviços. O fechamento de diversos setores da economia, intensificou através da
pandemia do coronavírus (COVID-19), a expressão da desigualdade estrutural provocada pelo modo
de produção capitalista. Principalmente devido ao aumento de pessoas em situação de pobreza, e até
mesmo de exclusão social. A inauguração do benefício chamado de auxílio emergencial, instituído
pela Lei nº 13.982, de 2020, foi diferente de outras políticas, usado de forma universalista e de seguro
social, como meio de proteção sanitária, devido a sua abrangência, por contemplar trabalhadores
informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos, e, também, desempregados,
beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) e inscritos Cadastro Único para programas sociais do
Governo Federal (CadÚnico).
A problemática quando a pandemia chega ao Brasil, o país estava com discrepância em termo
de desigualdade social, previamente a pandemia, portanto, a economia patinava insistentemente, o que
sustentou a encarniçada destruição da previdência pública, como estratégia de transferência antes
nunca vista de fundo público para o capital, especialmente o financeiro. A taxa de desemprego era de
11%, um país pós reforma trabalhista, onde a terceirização e o trabalho informal se tornaram comuns
entre os brasileiros. Quando a pandemia chega ao Brasil, encontra um país com 12,6 milhões de
desempregados(as), e, ainda portanto encontrando uma medida para fechamentos de portas -
lockdown - para que possa ter um controle do vírus desconhecido que circulava, com isso,
trabalhadores informais que dependem do círculo de pessoas para gerar renda ficam sem ter uma
fonte, assim intensificando uma crise econômica no país, trazendo à tona o reflexo da Nova Reforma
Trabalhista, lei n° 13.467/17,promovendo mais de cem alterações na consolidação das leis de trabalho,
flexibilizando o recebimento de direitos.
A condição do trabalho no Brasil determina o acesso a duas das principais políticas sociais
que compõem a seguridade social e são as únicas que garantem acesso a benefícios monetários
mensais: a Previdência Social, vinculada ao trabalho formalizado ou a uma contribuição direta feita
mensalmente pelos(as) trabalhadores; e a assistência social, canalizada para pessoas pobres sem
condições de trabalhar por idade ou incapacidade por meio do Benefício de Prestação Continuada
(BPC) que atingia 4,7 milhões de idosos e pessoas com deficiência em 2019, ou para famílias
miseráveis sem trabalho, por meio do Bolsa Família, que alcançava 14,2 milhões de famílias neste ano
(aproximadamente um em cada cinco brasileiros[as])
É a imensa parcela da classe trabalhadora que constitui o que Marx (1867 2013) identificou
como a superpopulação flutuante e estagnada, necessária para a reprodução do capital, seja para
pressionar a redução do valor da força de trabalho, seja para manter o mercado consumidor. A
pandemia trouxe ao palco nacional e internacional o desmonte da seguridade social e dos direitos
trabalhistas, esses sucessivos ajustes fiscais deixaram o país em uma vulnerabilidade socioeconômica
frente ao desenfreado contágio que estava circulando pelo país o que fez emergir um universo de
trabalhadores e trabalhadoras (mais de 100 milhões de pessoas ou quase 50% da população) que se
viram, da noite para o dia, sem trabalho, sem nenhum tipo de remuneração, sem benefícios
assistenciais e sem condições de seguir buscando nas ruas algum tipo de atividade precarizada (as
atividades informais) que lhes assegura uma forma de rendimento e de sobrevivência.
Bibliografia:

SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 7a edição. São Paulo: Cortez, 2014.
MASCARO, Alysson Leandro. Crise e Pandemia. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2020.
Resultados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19
no Brasil, conduzido pela Rede PENSSAN, com apoio do Instituto Ibirapitanga e parceria de
ActionAid Brasil, FES-Brasil e Oxfam Brasil. Acesse: olheparaafome.com.br
Relatório, organizado pelos pesquisadores da FGV e do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB
FGV-EAESP), busca apresentar de forma sintética os dados extraídos de um survey online realizado
com 439 profissionais da assistência social de todas as regiões no Brasil. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/PesquisaFGV-rel03-social-covid-19-depoimentos-v2.pdf
Guia de Medidas de enfrentamento a Covid-19 no âmbito do SUAS:
https://www.gesuas.com.br/blog/guia-suas-na-pandemia/

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