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Resumo:
O objetivo deste artigo é analisar a administração pública gerencial demonstrando seu
potencial de contribuição para a construção democrática brasileira. Após discutir as
influências do movimento gerencialista internacional na reforma e administração pública
gerencial, descrevemos suas características e salientamos os quatro principais argumentos
utilizados pelo ex-ministro Bresser Pereira para sustentar que este modelo administrativo
contribui com a construção democrática: (1) a adaptação crítica do modelo ao Brasil; (2) a
utilização de múltiplos controles sociais; (3) a opção pelo modelo pós-burocrático de gestão e
(4) a constituição de uma esfera pública não-estatal. Em seguida, analisamos estes argumentos
à luz da teoria crítica das organizações e das contribuições de alguns pesquisadores
brasileiros, revelando que a administração pública gerencial se distancia de sua própria
concepção de democracia, além de pactuar com uma noção de participação social que não
reflete a complexidade da esfera pública brasileira. Finalmente, realizamos algumas
recomendações para futuras pesquisas, destacando a importância de investigar outras
concepções de democracia e argumentando que a administração pública, assim como a
construção democrática, estará sempre sujeita à uma constante reinvenção.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a produção acadêmica brasileira sobre administração pública se
desenvolveu significativamente. A questão da dicotomia entre técnica e política foi trazida
para o centro do debate, ressaltando a importância de se realizar análises dos aspectos
técnicos-administrativos sob a perspectiva da ciência política. No entanto, uma vez que a
administração e a ciência política apresentam suas histórias e peculiaridades, as tentativas de
fazer análises integradas vêm revelando enormes dificuldades.
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Desta forma, atualmente a sobrevivência corporativa está diretamente relacionada à uma
administração responsável.
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O segundo se encontra em desenvolvimento e tem como principal referencial a vertente ético-
política. Manifesta-se nas experiências alternativas de gestão pública, como os Conselhos
Gestores e o Orçamento Participativo e tem suas raízes no ideário dos herdeiros políticos das
mobilizações populares contra a ditadura e pela redemocratização do país, com destaque para
os movimentos sociais, os partidos políticos, as organizações não-governamentais e alguns
líderes políticos nacionais do campo da esquerda.
Na terceira parte, analisaremos estes quatro argumentos à luz da teoria crítica das
organizações e das contribuições de alguns pesquisadores brasileiros, destacando ainda a
concepção de democracia partilhada pelo projeto político que se agrega em torno da
administração gerencial. Demostraremos então que a administração pública gerencial não
realiza a contribuição imaginada para a construção da democracia brasileira, pois em muitos
aspectos se distancia de sua própria concepção de democracia.
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das novas demandas impostas pela reestruturação produtiva e pela mundialização da
economia. Como resultado, assistimos à um movimento internacional de reforma do aparelho
do Estado, que teve início na Europa e nos Estados Unidos, atingindo também a América
Latina.
Uma análise da história dos países em que este movimento teve origem revela que o mesmo
está estreitamente relacionado com o gerencialismo, ideário que floresceu durante a década de
80 principalmente na Inglaterra, sob o governo de Margareth Thatcher e nos Estados Unidos,
na era Reagan. Um exame aprofundado deste ideário demonstra que ele se identifica tanto
com a hegemonia do privado em detrimento do público, como com a ênfase no liberalismo
econômico e político que caracterizaram as últimas duas décadas.
Paralelamente, nos Estados Unidos se desenvolveu o culto à excelência (Gay, 1991) que
como a entreprise culture promove entre as pessoas uma imagem de auto-determinação no
trabalho e as convida a se tornarem seus próprios chefes, além de empreendedoras de si
mesmas. Este ideário se tornou um grande sucesso e alimentou o ufanismo da era Reagan,
pois captou a essência do american dream, uma vez que fixa no imaginário social fantasias
de oportunidade de progresso e crescimento baseados na iniciativa individual.
Neste contexto, justifica-se o grande sucesso do livro de Peters & Waterman (1982), The
search of excellence entre o público estadunidense, pois este representa um movimento para
posturas proativas, um deslocamento do estilo burocrático para o estilo gerencial e para novas
formas de trabalho baseadas na identidade dos trabalhadores, que estabelece conexões e
simetrias entre “o meio de governar os outros e o meio de governar a si mesmo.” (Gay, 1991)
Neste país, cerca de uma década mais tarde, um fenômeno análogo ocorreu no campo da
gestão pública com o livro de David Osborne e Ted Gaebler (1994 [1992]): Reinventando o
Governo. Como o espírito empreendendedor está transformando o setor público. Não por
acaso, os autores, que revolucionaram o setor público norte-americano, atribuem seus acertos
ao pioneirismo de alguns autores famosos no mundo do management como Peter Ducker,
bem como à idéias de excelência de Tom Peters & Robert Walterman.
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transformação social. Esta cultura é um reflexo do capitalismo flexível e se consolidou nas
últimas décadas através da criação de um código de valores e condutas que orienta a
organização das atividades de forma a garantir controle, eficiência e competitividade
máximos (Harvey, 1992).
Importante notar que apesar de ter se desenvolvido no contexto cultural da Inglaterra e dos
Estados Unidos, o gerencialismo, bem como seu modelo de gestão administrativa e reforma
do Estado, se espalhou pela Europa e América Latina. Como há uma estreita conexão entre os
valores e ações de cunho gerencialista e as prerrogativas pós-fordistas da reestruturação
produtiva da economia mundializada (Baggulley, 1991), o gerencialismo passou a representar
as necessidades das mais diversas empresas e governos, transcendendo, portanto, as matrizes
histórico-culturais locais.
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A Reforma Gerencial foi um desdobramento do ajuste estrutural da economia brasileira, que
teve início com a adesão do governo Collor às recomendações do Consenso de Washington
para a crise latino-americana. Em um primeiro momento, o discurso reformista incorporou as
recomendações neoliberais, propondo uma redução do tamanho do Estado brasileiro e outras
medidas de restrição da atuação estatal.
No entanto, nos anos 90, após algumas experiências concretas de ajuste estrutural, cresceram
críticas ao movimento neoliberal, que apontavam principalmente para sua tendência de
realizar um desmonte indiscriminado do Estado, atingindo inclusive as políticas sociais. Em
conseqüência, a partir do primeiro mandato do atual presidente Fernando Henrique Cardoso,
no discurso político do governo abandonou-se as palavras “redução do Estado” e
“transferência de suas funções” em favor da expressão “reforma dos institutos legais e
estatais”, reforma esta que teria como objetivo tornar o Estado mais “administrável” pelos
burocratas.
Como observou Santos (1998), o recente movimento de reforma do Estado nos países semi-
periféricos teve duas fases: um período de “terapia de choque”, quando ocorreu o auge do
pensamento neoliberal e um período mais complexo do ponto de vista político e social, no
qual as forças progressistas e conservadoras se reorganizaram e passaram a disputar suas
visões da reforma. Ao nosso ver, neste fértil terreno de embates políticos destacam-se
principalmente a vertente ético-política, herdeira do campo movimentalista de 70 e 80, que
busca alternativas de reforma e gestão pública e a vertente gerencial, que alcançou o poder
nos anos 90 implementando a reforma e administração pública gerencial.
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gerenciais, com o objetivo oferecer um serviço público de melhor qualidade e de menor custo
ao “cidadão-cliente”.
Para alcançar estes objetivos, o novo modelo de gestão, que é uma referência para os três
níveis governamentais – federal, estadual e municipal - deve apresentar as seguintes
características: administração profissional, autônoma e organizada em carreiras; indicadores
de desempenho transparentes; maior controle dos resultados; disciplina e parcimônia no uso
dos recursos; descentralização administrativa; maior competição entre as unidades
administrativas e ênfase no uso de práticas de gestão originadas no setor privado.
Uma vez que o caráter neoliberal do gerencialismo já foi exaustivamente discutido pelos
críticos na literatura recente, gerando diversas respostas defensivas do autor, optamos por não
enfatizar a questão do neoliberalismo, para privilegiar a questão da democracia, tentando
responder à seguinte pergunta: a administração pública gerencial está contribuindo para a
construção democrática brasileira?
Retomando a gênese do debate, segundo Bresser (1998a, p.206), a reforma gerencial foi
democrática porque debatida durante três anos no Congresso Nacional. Além disso, apesar da
opinião pública ter uma “...noção vaga do que é a reforma gerencial.. apoiou a mudança de
forma inequívoca...” manifestando “...seu desejo de ter um Estado mais moderno, ou mais
concretamente, ver os serviços por ele prestados serem realizados de forma mais eficiente.”
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Na interpretação do autor, a administração pública gerencial, derivada da reforma, também é
democrática, uma vez que rompeu com o modelo burocrático de organização e tornou a
gestão do aparelho do Estado mais transparente, eficiente e controlável, além de criar novas
oportunidades de participação social. Na sua argumentação, a administração pública gerencial
está contribuindo para a construção da democracia brasileira devido principalmente à quatro
motivos: (1) a adaptação crítica da administração pública gerencial à necessidades nacionais;
(2) a utilização de múltiplos controles sociais para gerenciar as ações dos burocratas públicos;
(3) a opção pelo modelo pós-burocrático de gestão, que em tese é mais participativo e (4) a
constituição de uma esfera pública não-estatal que através de dispositivos constitucionais e
das organizações sociais viabiliza a participação popular na gestão pública.
Para Bresser Pereira, apesar do modelo ter se originado em outros países como a Inglaterra e
os Estados Unidos, ele teria sido criticamente adaptado ao Brasil, pois há três orientações
possíveis para a administração pública gerencial - a técnica, a econômica e a política ou
democrática – e a reforma foi realizada tendo em vista as necessidades de transformação
cultural do setor público brasileiro no processo de construção democrática.
Além disso, a orientação política ou democrática teria humanizado a escolha racional, pois
neste contexto os administradores públicos não seriam motivados por interesses egoístas, mas
interesses públicos. Entre os fatores que assegurariam o interesse público, o ex-ministro
aponta a coexistência de diversos tipos de controles democráticos das ações dos burocratas,
que garantiriam uma cooperação desinteressada do agentes. Entre os controles citados
destacam-se: o controle do processo (participação dos cidadãos na tomada de decisões); o
controle dos resultados; o controle dos políticos sobre os burocratas; os controles
procedimentais (auditoria e conselhos de administração), além do autocontrole (valores
profissionais do administrador público).
Para Bresser Pereira (1998a), a administração pública gerencial, tal como a moderna gestão
empresarial, baseia-se na teoria administrativa das organizações, deixando a teoria econômica
das organizações, representada por Taylor e Fayol, em segundo plano. Para o autor, a partir de
Elton Mayo, a teoria das organizações passou a ter matriz teórica-sociológica ao invés de
econômica, descartando perspectivas engenherísticas ou economicistas, que reforçam o
caráter autoritário e optando por abordagens mais humanísticas e participativas.
Finalmente, a constituição da esfera pública não-estatal (Bresser & Grau, 1999) viabilizaria a
participação representativa e direta dos cidadãos nos assuntos públicos através das
organizações sociais e do uso de dispositivos constitucionais de democracia direta como o
referendo, a iniciativa popular e a revogação de mandato. As organizações sociais garantiriam
a representação social em processos de formação ou controle de políticas e decisões públicas.
Além disso, elas fariam parte da alocação orçamentária do Estado, que com a recuperação
financeira promovida pela reforma econômica, permitiria maiores investimentos nos serviços
sociais. Ademais o caráter microorganizativo das organizações sociais também facilitaria a
adoção do modelo pós-burocrático de gestão, tornando-as mais permeáveis às demandas e à
participação social.
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No que se refere ao controle social da burocracia pública, tanto o controle quanto a própria
burocracia pública são excessivamente idealizados no contexto da vertente. Em primeiro
lugar, porque há um expectativa de constituir um quadro burocrático que seja sintonizado com
o ideário gerencialista e ao mesmo tempo voltada para o interesse público. Isto de certa forma
é paradoxal, pois como vimos anteriormente, a cultura do empreendedorismo valoriza a auto-
determinação, a flexibilidade e a inovação que são necessárias a um processo de
transformação, mas todas as energias de mudança são identificadas na iniciativa dos
indivíduos e não dos grupos sociais. Considerando que no âmbito acadêmico se refletiu muito
pouco sobre o distanciamento moral deste ideário em relação à formação de um espírito
público e democrático, grandes são os riscos desta operação privilegiar interesses privados.
Por outro lado, temos que reconhecer que estamos ainda muito longe de alcançar um controle
social equilibrado que seja em si mesmo suficiente para garantir o interesse público (ver
Carvalho, 1999). Para citar um exemplo, o controle popular do processo decisório e o auto-
controle dos burocratas sofrem de limitações que comprometem a legitimidade do controle a
posteriori, que fica sujeito à possíveis arbitrariedades.
Neste ponto, é importante destacar que a expectativa de constituir uma burocracia pública que
seja capaz de representar o interesse público, captar as demandas sociais e utilizar os
instrumentos técnicos adequados para atendê-las, revela a existência de uma concepção bem
específica de democracia no âmbito da vertente gerencial: um regime gerido pela burocracia
pública e regulado pelo controle social, bem como por mecanismos representativos e diretos
de participação.
O confronto entre a idealização e a realidade, no entanto, demonstra que, além de ser estar
fortemente impregnada de idealismo, a concepção de democracia associada à administração
pública gerencial pactua de uma visão de participação onde a influência popular é bastante
difusa e os burocratas públicos continuam tendo a palavra final. Isto porque, citando apenas
um exemplo, o núcleo estratégico do Estado tem total autonomia para decidir sobre a
formulação das políticas públicas e a elaboração de novas técnicas gerenciais, enquanto que a
autonomia decisória das organizações sociais se restringe às questões operacionais e internas.
Entre os teóricos das organizações prevaleceu durante um tempo significativo a noção de que
o modelo burocrático de organização (centralizador, hierárquico, autoritário e baseado em
regras, disciplina e divisão do trabalho) estava sendo substituído por um modelo
organizacional que muitos acreditavam ser a tradução da pós-burocracia, mas que foi
adequadamente denominado por Clegg & Hardy (1996) como modelo pós-moderno, cujas
principais características são a descentralização, a estruturação em rede conectada pela
tecnologias de informação, bem como a liderança facilitadora e solucionadora de conflitos e
problemas, baseada na abertura, participação, confiança e comprometimento.
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Mais recentemente esta noção começou a ser questionada (Reed, 1996), criando a necessidade
de novas interpretações para fenômeno, que talvez possam ser realizadas através de reeleituras
das teorias organizacionais que se desenvolveram durante o século XX. Ao nosso ver, por
exemplo, Bresser Pereira (1998a) está certo ao afirmar que as teorias organizacionais a partir
de Elton Mayo são baseadas em matrizes sociológicas, mas não revela como Tragtenberg
(1974; 1980) que estas sofrem de um viés positivista e instrumental que acaba por esvaziar o
suposto caráter participativo de seus modelos gerenciais. Por outro lado, boa parte da
literatura do campo organizacional está contaminada de leituras equivocadas do pensamento
weberiano.
Entre estes equívocos o mais comum é utilizar o tipo ideal como parâmetro para caracterizar a
burocracia, ignorando a advertência weberiana de que mais do que uma estrutura, ela é um
tipo de dominação. Com isto propaga-se o “engodo da organização pós-burocrática” (Motta,
1993), pois o que vem ocorrendo não é a desburocratização, mas uma adaptação da burocracia
ao novo contexto histórico.
Dessa forma, o modelo organizacional pós-moderno que serviu como fonte de inspiração para
a administração pública gerencial, inclusive alimentando a perspectiva de se alcançar uma
administração pública pós-burocrática (ver Abrucio, 1997), não rompe com o modelo
burocrático de organização. Ao contrário, continua perpetuando a dominação burocrática
através de parâmetros flexíveis de gestão, sendo esta uma dominação mais eficiente que a
rígida, pois baseia-se no controle subjetivo e consentido dos dominados.
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Ao alcançar o setor público, este modelo torna o aparelho do Estado ainda mais impermeável
à democratização e às demandas sociais, pois confina a burocracia pública à uma ilusão
participativa e empreendedora que ajuda a legitimar suas decisões como democráticas. E a
própria estrutura organizacional pós-reforma reforça ainda mais este risco, pois restringe as
decisões estratégicas no campo das políticas públicas ao domínio dos burocratas e confia o
interesse público a um controle social que ainda é bastante ineficaz.
Além disso, uma questão que não tem sido muito considerada é que a organização burocrática
flexível incentiva a participação e o engajamento da própria burocracia pública ou dos
quadros das organizações sociais, mas não da sociedade civil. Aqui há dois fatores que ainda
precisam ser mais discutidos: 1) ainda que o modelo se inspire em uma abordagem
participativa, os novos mecanismos de controle dos funcionários são muito mais sofisticados
e subjetivos do que antes, de modo que a participação é bastante “administrada” e 2) há uma
diferença fundamental entre democratizar uma organização pública e viabilizar a participação
popular.
De acordo com lei número 9637 de 15 de maio de 1998, através de um contrato de gestão, as
organizações sociais recebem dotação orçamentária pública total ou parcial para
responsabilizar-se pela prestação de serviços contratualmente pactuada. Nestas organizações,
a participação popular ocorre através da participação de representantes da comunidade nos
órgãos colegiados de deliberação superior (ver Barreto, 1999).
Uma análise do funcionamento destas organizações tendo como pano de fundo o aparelho do
Estado revela importantes limitações no seu potencial democratizador. Em primeiro lugar, a
relação com a sociedade ocorre somente no nível da organização social, onde a
representatividade já é insuficiente pois dificilmente cobre a multiplicidade de demandas e
interesses sociais presentes na esfera pública (ver GRUPO DE ESTUDOS SOBRE A
CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA, 1999), que muito mais que um mero conjunto de
instituições, é uma intricada teia de relações sociais e interações discursivas.
Por outro lado, seguindo a cadeia de relações, a expectativa é que em um segundo nível, as
organizações sociais mediariam as demandas populares junto ao núcleo estratégico do Estado,
que é responsável pela formulação das políticas públicas. No entanto, não é isto que acontece,
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pois contratualmente estas são apenas prestadoras de serviços e não têm nenhuma posição
representativa no núcleo do Estado, que como já constatamos anteriormente, é totalmente
autônomo em relação às outras unidades descentralizadas e monopoliza as decisões de
formulação de políticas, considerada exclusivas do Estado. Desse modo, ainda está colocado
o desafio de se elaborar arranjos institucionais mais precisos no que se refere à
representatividade e participação direta da população na gestão pública.
Todas estas questões ainda necessitam de maior discussão e demandam uma análise detalhada
das concepções de democracia e administração pública da vertente ético-política, o que é um
desafio para futuras pesquisas. Entre as possibilidades de abordagem temos um exame dos
Conselhos Gestores e das experiências de Orçamento Participativo focalizando as formas de
controle, organização e canais de participação utilizados, atentando para a potencialidade de
reinvenção institucional e técnico-política presentes nestas arenas de discussão.
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Apesar das inúmeras dificuldades identificadas na democratização do Estado brasileiro e das
lacunas a serem preenchidas no campo da pesquisa, considerando que a construção
democrática é um processo sempre incessante e inacabado, podemos dizer que estamos
avançando. Analisando a história da administração pública brasileira, o momento revela
esperanças de transformação, pois é primeira vez que não há uma visão unívoca de gestão
pública, o que nos deixa muito próximos de desfazer o mito de inovação gerencial que
perdura há quase uma década.
Não existe um modelo gerencial que represente a nova administração pública, pois ela
sempre estará sujeita à uma contínua reinvenção. Fenômeno dinâmico e cambiante, tal como
a democracia, a administração pública é uma construção social que resulta cotidianamente de
uma efervescente “disputa de significados políticos” (ver Dagnino, 2000) recriadora da
gestão, das técnicas e da própria política.
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