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MECÂNICA DOS SOLOS - APOSTILA DE LABORATÓRIO - IME

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE

1. Introdução

A água desempenha papel importante no comportamento dos solos, especialmen-


te nos de granulação fina. Assim, a quantidade de água pode provocar modificações nas
propriedades dos solos, como por exemplo:
 plasticidade das argilas
 diminuição da resistência ao cisalhamento, por saturação
 contração, por secagem
 facilidade de compactação

Convencionou-se denominar “teor de umidade” a relação, expressa em percenta-


gem, entre o peso da água existente numa certa massa de solo e o peso das partículas
sólidas.

Pa
Teor de umidade  h 100%
PS

A principal dificuldade na determinação prática da umidade reside na definição do


peso seco, pois a presença da água nos solos pode acontecer sob várias modalidades:

 Água livre ou orientada, existente nos vazios do solo


A água livre representa a maior parcela da água existente nos solos podendo, em
alguns casos, exceder o peso das partículas sólidas.
Nos solos argilosos, as partículas de argila mineral, química e eletricamente ativas,
interagem com as moléculas da água nos vazios, cuja estrutura molecular se comporta
como um dipolo elétrico. Assim, existem moléculas de água orientadas, cuja quantidade
depende da superfície específica das partículas do solo, tipo do mineral e da presença ou
ausência de íons na água dos vazios.

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Nos solos arenosos (areias, pedregulhos, etc) os processos padronizados para a


determinação do teor de umidade, removem toda a água livre sem afetar a estrurura indi-
vidual das partículas. Entretanto, nos solos coesivos (argilas) e solos orgânicos, as partí-
culas individuais podem ser afetadas pela secagem em estufa.
 Água de hidratação
Trata-se da água presente nas unidades da estrutura cristalina das argilas. Exceto
para alguns tipos de argilas, a secagem em estufa à temperatura de 110º C não remove a
água de hidratação.

 Água adsorvida
As moléculas de água, próximas à superfície, ficam fortemente orientadas, pois
são fortemente atraídas à superfície do cristal de argila, pelas altas forças elétricas super-
ficiais. Essa camada de água é denominada água adsorvida.
A camada de água adsorvida possui carac-
terísticas diferentes da água livre, apresentando-se
com maior peso específico e viscosidade, compor-
tando-se mais como um sólido do que como líqui-
do. Várias propriedades dos solos, como plastici-
dade, movimento da água e ligação das partículas,
são influenciadas pela camada de água adsorvida.
Somente temperaturas muito elevadas (>700º C) podem remover a água adsorvida.
A questão foi resolvida na Mecânica dos Solos, convencionando-se que o peso se-
co é o que se obtém, secando-se o material em estufa, com temperaturas de 105º C a
110º C, durante um período suficiente, para chegar-se a um peso constante. Em geral,
são necessárias 15 a 16h de estufa para obter-se uma amostra seca. Na realidade, a es-
colha da temperatura é arbitrária, pois o solo continua com a película de água adsorvida.
Considera-se que a 105-110º C a água remanescente já faz parte da estrutura sólida.

2. Métodos de determinação do teor de umidade

O teor de umidade pode ser determinado pelos seguintes métodos:

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- Método de laboratório
- Método da secagem em estufa

- Métodos expeditos (normatizados)


- Método expedito do “Speedy”
- Método expedito do álcool

- Método expedito (não normatizado)


- Método do banho de areia (ou da frigideira)

2.1 Método da secagem em estufa

Este é o método mais preciso para a determinação do teor de umidade e, sem dú-
vida, é o ensaio mais executado em laboratório, sendo parte integrante dos ensaios que
objetivam a determinação de outros parâmetros do solo, tais como os limites de consis-
tência e o ensaio de compactação.
O ensaio é realizado obedecendo à norma:
DNER - ME 213-94 Solos - determinação do teor de umidade

2.1.1 Material empregado

Estufa elétrica, controlada au-


tomaticamente por termostato,
capaz de manter a temperatu-
ra entre 110º C ± 5º C.

Balança com sensibilidade de


0,01 g

Recipientes com tampa, constituídos de material capaz de ser submeti-


do a ciclos de aquecimento e resfriamento, sem apresentar alterações.
Cada recipiente deve ser pesado, com tampa, determinando-se seu pe-
so ou a tara do recipiente P.

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2.1.2 Preparação da amostra

A amostra deve ser representativa do material do qual se deseja determinar o teor


de umidade. A quantidade deve ser a prescrita pelo método de ensaio que se estiver exe-
cutando.
Não havendo outras indicações, é recomendável fazer-se duas ou três determina-
ções do teor de umidade de uma mesma amostra e tomar-se a média das determinações
como o valor final.
Quando se tratar de grandes amostras ou havendo a presença de material graúdo,
deve-se adotar as massas mínimas de amostras de material úmido, constante da
Tabela 1.

Tabela 1 - Massas mínimas de amostras de material úmido, em função do tamanho


máximo das partículas

Tipo de solo Tamanho máximo das partícu- Massa mínima da amostra


las mm (peneira) úmida ( g )
Pedregulho 50 1000
25 500
12,5 300
Areia 4,8 ( nº 4 ) 100
0,42 ( nº 40 ) 10
Silte / argila 0,075 ( nº 200) 10

2.1.3 Execução do ensaio

Colocar a amostra úmida no recipiente e tampar. Pesar o conjunto, imediatamente,


anotando o peso P1.

Remover a tampa e colocar o conjunto na estufa elétrica, mantendo-o na estufa


até que seu peso se torne constante, controlado com várias pesagens consecuti-
vas.
Retirar o conjunto da estufa, tampar e deixar resfriar, até a temperatura ambiente,
antes da pesagem.

Pesar o conjunto após o resfriamento, anotando o peso P2

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2.1.4 Cálculo do ensaio:

Determinações diretas Valores calculados

Peso da cápsula metálica vazia = P

Peso da cápsula + solo úmido = P1 Peso da água P a = P1 - P2


Peso da cápsula + solo seco = P2 Peso do solo seco Ps = P 2 -P

Pa 100
Determinação do teor de umidade: h %
PS

 Métodos expeditos de campo para determinação do teor de umidade

Quando numa construção o comportamento esperado para um material está ligado


ao seu teor de umidade, impõe-se, como controle de qualidade, a determinação, no cam-
po, desse parâmetro. Enquadram-se nessa situação, as construções de aterros compac-
tados para fins rodoviários, ferroviários, diques, barragens de terra, etc.
Quando não se dispõe de estufa no canteiro, ou, principalmente, quando se ne-
cessita de resultados imediatos, são utilizados os ensaios expeditos de campo, podendo-
se, entretanto, prejudicar a acurácia dos resultados.

2.2 Método expedito “Speedy”

O ensaio é realizado obedecendo à norma:

DNER - ME 052-94 Solos e agregados miúdos - determinação da umidade com


emprego do “Speedy”

Neste método, a umidade é determinada pela pressão do gás resultante da ação


da água contida na amostra de solo sobre o carbureto de cálcio que se introduz no apare-
lho específico do ensaio.

CaC2  2 H 2O  C2 H 2  Ca(OH )2
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2.2.1 Material empregado

A aparelhagem principal é o conjunto


grampos para prender “Speedy” constituído do recipiente de me-
a tampa
tálico com tampa, dotada de um manôme-
tro e duas esferas de aço para quebra da
ampola.
.
São ainda necessários:
 ampolas com o reagente carbure-
tampa to de cálcio (CaC2) finamente pul-
verizado
esferas de aço para  balança com sensibilidade de
quebra da ampola
0,01 g

2.2.2 Preparo da amostra

Deve-se fazer uma previsão do teor de umidade da amostra a ser ensaiada e com
esse valor obtém-se o peso da amostra a ser introduzida no recipiente, conforme a Tabe-
la 2.
Tabela 2
Umidade estimada (%) Peso da amostra (g)

5 20
10 10
20 5
30 ou mais 3

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2.2.3 Execução do ensaio

Obedecendo a seqüência abaixo, são inseri-


dos no recipiente de pressão:
 a amostra de solo já pesada
 as esferas de aço
 uma ampola de carbureto de cálcio, a qual
deve deslizar, cuidadosamente, pelas pa-
redes da câmara, a fim de evitar que se
quebre.

Nesta seqüência, o aparelho é levado à posição


horizontal e recolocada a tampa, selando-se o
conjunto.
A seguir, o conjunto, já na posição verti-
cal, é agitado vigorosamente, várias vezes, para
quebrar-se a ampola.
Cerca de um a três minutos são neces-
sários para a completa reação do carbureto de
cálcio com a água livre da amostra. A pressão
dos gases liberados na reação (eteno - C2 H2),
será indicada no manômetro. Quando essa in-
dicação permanecer constante, toda a água
presente já reagiu com o carbureto e a pressão
do manômetro (pm) é anotada

Se a leitura manométrica for menor do que 0,2 kg/cm 2, o ensaio deve ser repetido
com o peso de amostra imediatamente superior ao empregado, conforme a Tabela 2. Se
a leitura for maior do que 1,5 kg/cm 2, repete-se o ensaio com um peso imediatamente in-
ferior.

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2.2.4 Cálculo do ensaio

Cada equipamento Speedy vem acompanhado de uma


tabela de aferição, onde os elementos de entrada são a pressão
lida no manômetro (pm) e o peso da amostra, obtendo-se a umi-
dade do solo.

Tabela de aferição

Em alguns aparelhos, a tabela fornece o teor de umidade (h1), em relação ao peso


da amostra total (úmida). Para determinar a umidade em relação ao peso seco da amos-
tra, utiliza-se a fórmula:

h1
h%  100 onde:
100  h1 h - teor de umidade em relação ao peso seco do material
h1 - umidade obtida pelo aparelho Speedy, em relação à amostra
total úmida

OBSERVAÇÂO IMPORTANTE: o emprego do Speedy requer alguns cuidados, para se


evitar erros nos valores obtidos no ensaio. Dentre esses cuidados, destacam-se:

o A calibração fornecida pelo fabricante deve ser aferida periodicamente, pois,


com o uso, o valor da pressão lida no manômetro pode não mais corres-
ponder ao valor da umidade constante da tabela, face à alteração, com o
tempo, das constantes de calibração fornecidas pelo fabricante.

o O recipiente de pressão deve estar completamente vedado durante o en-


saio, para não haver escapamento do gás, o que poderá ocorrer se a borra-
cha usada na vedação não estiver em perfeito estado.

o Só deverá ser usado carbureto de cálcio fornecido em ampola e nunca a


granel, pois tratando-se substância altamente higroscópica, a reação de hi-
dratação teria início antes do fechamento do recipiente, reduzindo a pressão
no interior no recipiente.

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2.3 Método expedito do álcool

O ensaio é realizado de acordo com a norma:

DNER - ME 088 / 94 Solos - determinação da umidade pelo método expedito do álcool

Neste método, a água do solo é eliminada pela queima do álcool etílico que é
lançado no solo. Trata-se, portanto, de um processo precário da determinação da umida-
de e só deve ser utilizado com a autorização da fiscalização da obra.
Por outro lado, a norma estabelece que o material a ser ensaiado deva ser previ-
amente passado na peneira de abertura 2,0 mm, o que não recomenda seu emprego na
determinação da umidade, num trabalho de controle de compactação.
Assim, o processo adequa-se melhor à determinação da umidade higroscópica de
amostras secas ao ar.

2.3.1 Material empregado

A aparelhagem específica para a realização deste ensaio


compõe-se de uma cápsula metálica, com diâmetro de 6,0 cm
e fundo perfurado, dotada de um suporte.
Utiliza-se ainda: balança com capacidade de 200 g, sen-
sível a 0,01 g, peneira de abertura 2,0 mm e álcool etílico.

2.2.2 Preparo da amostra

A amostra terá cerca de 50g de material passando na peneira de 2,0mm.

2.3.3 Execução do ensaio

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álcool etílico

 Pesa-se a cápsula e o suporte (P1)


 A amostra é colocada na cápsula metálica, sendo cuidadosamente espalhada em
toda superfície, determinando-se o peso do conjunto, inclusive o suporte (P2)
 Despeja-se uma certa quantidade de álcool etílico na amostra, revolvendo-a com a
espátula e inflamando-se a seguir o álcool; esta operação é repetida três vezes.
 Pesa-se a cápsula com o solo seco, inclusive o suporte ( P3 )

2.4 Método expedito do banho de areia (ou da frigideira)

Apesar de não normatizado, este procedimento é conceitualmente semelhante ao


método da estufa, sendo muito empregado no controle de umidade de compactação
de aterros em obras de pequeno vulto. A falta de controle da temperatura desacon-
selha se uso com solos orgânicos ou com argilas que se perceba serem sensíveis à
altas temperaturas.

APARELHAGEM:

a) Frigideira (ou outro recipiente) com cama-


frigideira
da de areia de espessura de, pelo menos, 3 cm;
b) Fonte de calor para aquecer o recipiente
fonte térmica
mencionado em (a). A fonte de calor pode ser um
bico de gás ou um fogareiro. Daí o nome do ensaio.
cápsulas
c) Cápsulas metálicas com tampa;
d) Pinças para manipular as cápsulas à quente.
e) Balança com capacidade 200g e resolução 0,01g.

PROCEDIMENTO:
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1) Pesar as cápsulas com tampa e anotar seus números e massas (M 3);


2) Colocar a amostra (~1/3 da cápsula) na cápsula, pesar e anotar (M1);
3) Apoiar a cápsula sobre a camada de areia quente até que pareça estar
completamente seca. Tampar a cápsula e esperar atingir a temperatura ambiente.
Pesar e anotar;
4) Repetir o processo três vezes, ou até constância de massa; anotar (M2).
OBSERVAÇÃO:

A secagem do solo dura entre vinte minutos e uma hora. Quando se trabalha com
um mesmo tipo de solo (obras longas usando uma mesma jazida), sem matéria orgânica,
a longa prática com aquele solo permite que, às vezes, a constância de peso seja substi-
tuída por um período fixo de tempo de aquecimento.

3. Planilha de Cálculo

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TEOR DE UMIDADE

OBRA: Laboratorista:
LOCAL:
AMOSTRA: Data:

MÉTODO DA ESTUFA
Ensaio Peso da Cápsula + Cápsula + Solo Teor de
Água (g)
Nº Cápsula (g) Solo Úmido (g) Solo Seco (g) Seco (g) Umidade (%)
1 55,00 106,30 104,14 2,16 49,14 4,4

MÉTODO EXPEDITO DO ÁLCOOL


Ensaio Cápsula + Cápsula+Suporte Cápsula+Suporte Amostra Amostra Teor de
Nº Suporte (g) Solo Úmido (g) + Solo Seco (g) Úmida (g) Seca (g) Umidade (%)
1 114,23 164,43 162,17 50,20 47,94 4,7

MÉTODO EXPEDITO DO SPEEDY


Ensaio Umidade Peso Pressão Manométrica Teor de umidade
Nº Estimada(%) (g) (kg/cm²) (%)
1 5,0 20,0 0,90 4,7

Umidade Peso da
Estimada (%) Amostra (g)
5 20
10 10
20 5

30 OU MAIS 3

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