Agradecimentos
Arte de capa:
Marcelo Damm
instagram.com/marcelodamm
2
Sumário
Introdução ................................................. 4
1. Luz ........................................................... 9
2. Quantum: Planck e Einstein .................... 27
3. Quantum: Rutherford e Bohr .................. 51
4. Mecânica Quântica ................................. 75
5. Relatividade Especial ............................. 105
6. Relatividade Geral ................................. 140
7. Dirac e Lattes ......................................... 166
8. Quarks e léptons ..................................... 190
9. Modelo Padrão ........................................ 216
10. A conexão cósmica ............................. 231
11. Detecção .............................................. 258
12. Enigmas ............................................... 293
13. O lado escuro da força .......................... 316
Epílogo .................................................. 334
Bibliografia comentada ......................... 336
3
Introdução
4
da ordem de 0,000.000.000.2 m, cerca de duas vezes o tamanho
dos átomos. Entre os átomos da rede cristalina, há o espaço vazio.
5
pequeno livro é contar um pouco da aventura vivida pela Ciência
nos últimos 120 anos, partindo dos fatos que geraram uma crise
sem precedentes na Física, e que culminaram na revolução
científica do início do século XX. É muito importante saber como
o conhecimento é adquirido, como é a dinâmica entre experimentos
e teorias, muitas vezes temperada pelo acaso.
6
o conhecimento se transforme em inovação tecnológica e no
aumento do bem-estar coletivo. Em países com tantos problemas
estruturais e com imensas desigualdades como o Brasil, muitos
consideram o gasto com Ciência um luxo desnecessário. Segundo
essa visão, o Estado deveria, no máximo, financiar pesquisas sobre
os problemas práticos que afligem a nossa sociedade.
7
Por isso, podemos afirmar que a massificação do ensino da Ciência
é revolucionária. Diante de tantas manifestações de negacionismo
a que assistimos durante a pandemia do coronavírus, em especial
no Brasil, fica claro que ainda há um longo caminho a percorrer.
8
1
Luz
Elementar
A natureza ama esconder-se. A frase é atribuída ao filósofo grego
Heráclito, nascido na cidade de Éfeso, na Jônia (atual Turquia), em
540 antes da nossa era. Heráclito foi um dos filósofos pré-
Socráticos. A frase a ele atribuída mostra que a curiosidade sobre
leis que regem os fenômenos naturais tem pelo menos 2500 anos.
9
A ideia de os átomos serem as partículas elementares, constituintes
fundamentais de toda a matéria, que não podem ser divididos,
percorreu um longo caminho até ser aceita pela maioria dos físicos,
no crepúsculo do século XIX. Em 1873, o grande físico escocês
James Clerk Maxwell escreveu: “Um átomo é um corpo que não
pode ser cortado em dois. [...] Átomos existem, ou a matéria é
infinitamente divisível? Discussões sobre questões desse tipo
ocorrem desde que o homem começou a pensar.”
Nessa época já se sabia que cada tipo de átomo tem uma massa
diferente, e que todos contêm cargas elétricas positivas e negativas
em iguais proporções. Mas não havia ainda nenhuma indicação de
como as cargas são distribuídas no interior dos átomos, nem dos
mecanismos garantem a sua estabilidade. Entender a estrutura
interna dos átomos foi o grande desafio da Física no início do
século XX. Desse desafio nasceu a Mecânica Quântica (daqui em
diante, vou me referir à Mecânica Quântica pelas iniciais MQ).
10
No imaginário popular, os átomos são uma espécie de sistema
Solar em miniatura, com elétrons orbitando em torno do núcleo
atômico. Essa é uma imagem que aparece com muita frequência.
Está presente até mesmo no logotipo do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas. Mas os átomos, na verdade, são bem mais
complexos.
11
É importante fazer uma ressalva: no mundo microscópico,
“dimensão” é um conceito que não tem uma definição muito
precisa, é antes uma ordem de grandeza, uma aproximação.
Prótons, nêutrons e elétrons não são minúsculas esferas com uma
superfície bem definida que delimita o seu interior.
No final dos anos 1960 o mundo ocidental foi sacudido por uma
onda de rebeldia. A Física não passou incólume. Experimentos
realizados na Califórnia, em 1968, revelaram uma nova camada na
estrutura da matéria: prótons e nêutrons não são elementares, e sim
formados por partículas ainda menores, os quarks, elementares
como o elétron, até onde sabemos, mas com propriedades muito
diferentes. A descoberta dos quarks foi um dos eventos que
marcaram o início da Física de Partículas contemporânea.
12
Pelo que sabemos hoje, os quarks e os elétrons são os constituintes
mais elementares de toda a matéria. Olhamos para o Cosmo, em
qualquer direção e em qualquer profundidade, e vemos sempre a
mesma coisa: galáxias, nebulosas, estrelas e planetas, todos feitos
dos mesmos elementos químicos que encontramos aqui na Terra.
Todos os elementos químicos são compostos por elétrons, prótons
e nêutrons, e estes, por sua vez, são compostos por quarks.
Podemos então dizer que toda a matéria que vemos no Universo,
em toda a sua diversidade, é feita de quarks e elétrons.
Radiação eletromagnética
A luz é uma forma de radiação eletromagnética, uma onda que
pode se propagar no vácuo e que transporta energia. Há vários
conceitos importantes nessa frase. Por isso, antes de seguirmos é
preciso definir o significado de “radiação” e “eletromagnetismo”,
bem como o que é uma onda.
13
Quando um músico toca, o número de nós (pontos na corda em que
não há oscilação) depende da posição em que os dedos fixam cada
corda ao longo do braço do violão. As possíveis ondas
estacionárias formadas são os harmônicos. Uma onda em que todos
os pontos vibram, é o harmônico fundamental. Se a onda tem um
nó na metade do comprimento da corda, temos o segundo
harmônico, com dois nós, o terceiro harmônico, e assim por diante.
Uma pedra lançada nas águas calmas de num lago em um dia sem
vento provoca a formação de ondas circulares, que se propagam
radialmente. Uma antena de telecomunicações, por sua vez, produz
ondas esféricas, que se propagam em todas as direções. Na
Natureza há muitos tipos de ondas, mas com um aspecto
fascinante: todos os fenômenos ondulatórios são regidos pelas
mesmas leis, obedecem a equações de um mesmo tipo.
14
As ondas são caracterizadas pela frequência – quantas vezes o
mesmo padrão se repete por unidade de tempo. Quando a unidade
de tempo é o segundo, a unidade de frequência é o Hertz, em
homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz, que demonstrou pela
primeira vez a existência das ondas eletromagnéticas, em 1888.
15
que distingue uma marola de um vagalhão. A energia transportada
pela onda depende da sua amplitude. Ondas com alta intensidade
têm grandes amplitudes e transportam muita energia.
16
O conceito de campo é um dos mais fundamentais da Física.
Apesar de serem um tanto abstratos, os campos têm uma realidade
física concreta. O exemplo mais familiar é o do campo magnético.
Aproximando dois ímãs, podemos sentir com as mãos a força que
um exerce sobre o outro sem que haja contato entre eles. Nas
experiências demonstrativas comuns nas escolas, limalhas
(pedaços muito pequenos) de ferro são espalhadas sobre uma folha
de papel. Um ímã colocado sob a folha faz com que as limalhas se
alinhem com a direção do campo magnético do ímã. Da mesma
maneira, uma carga elétrica exerce – e também sofre – uma força
sobre uma outra carga elétrica em sua vizinhança.
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=88524982
17
O significado mais profundo da ideia de campo torna-se aparente
quando as fontes estão em movimento. No exemplo acima, se a
primeira carga sofre uma mudança brusca de posição, o campo
elétrico na posição da segunda carga se altera. Mas a segunda carga
não sente a alteração instantaneamente, não percebe imediatamente
a variação na posição da primeira. Nenhuma informação se
propaga com velocidade infinita.
18
origem a um campo magnético, que também oscila com a mesma
frequência.
19
O espectro eletromagnético. O termo espectro designa uma
distribuição de alguma grandeza, como massa, frequência,
intensidade luminosa, etc. A ilustração mostra a distribuição de
comprimentos de onda. O espectro visível – a luz – é uma pequena
parte do espectro eletromagnético. A luz, os raios g, as micro-
ondas e as ondas de rádio têm a mesma natureza.
Fonte: https://www.ictp-saifr.org/
20
Durante a era de ouro, o mundo islâmico foi o centro intelectual.
Muitas inovações tecnológicas foram introduzidas nessa época, em
que havia intensa atividade criativa na filosofia, literatura,
astronomia, matemática, física, medicina, entre outras áreas. Esse
florescimento cultural foi iniciado pela tradução para o árabe de
muitos livros da Antiguidade, que de outra forma talvez fossem
perdidos.
21
O experimento de Thomas Young, em 1801. Um feixe luminoso
incide sobre uma placa com dois orifícios. A luz incidente tem
comprimento de onda maior que o diâmetro dos orifícios. As linhas
representam os picos das ondas. Ao passar pelos orifícios as ondas
incidentes sofrem difração. As ondas circulares resultantes
interferem ao se cruzar: suas amplitudes se somam ou subtraem,
gerando áreas claras e escuras na placa fotográfica P. Nos
laboratórios dos cursos de Física esse experimento é repetido
usando tanques de água em vez de luz.
Fonte: https://www.elmundo.es/ciencia/2015/09/16/55f678c3ca4741ce708b4570.html
22
No vácuo a luz se propaga sempre com a mesma velocidade, mas
isso não acontece quando a luz atravessa um meio transparente
qualquer. Nesse caso, a velocidade da luz varia de acordo com a
frequência (ou com o comprimento de onda).
23
Pela primeira vez foi feita a conexão entre o mundo microscópico
e o Cosmo.
Espectros
24
arco-íris, o espectro de emissão é discreto: uma coleção de linhas
bem definidas e separadas, sobre um fundo preto. A cada linha
corresponde uma onda eletromagnética com uma frequência
específica. Isso significa que os átomos só emitem radiação em um
conjunto discreto de frequências. Cada elemento químico tem
possui um espectro de emissão diferente, que funciona como uma
espécie de “impressão digital” do elemento.
25
Espectro de absorção do hidrogênio (esquerda), comparado com
o espectro de emissão (direita). As linhas escuras no primeiro
correspondem aos mesmos comprimentos de onda das linhas
coloridas no segundo. As frequências que faltam no espectro de
absorção são as mesmas que aparecem no espectro de emissão.
Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aula_espec.htm
26
2
Corpo Negro
27
A menor temperatura que pode ser atingida é -273,15 0C, o zero
absoluto, o menor nível de energia possível. Mas mesmo no estado
de menor energia, os átomos têm um movimento vibracional
residual. Nunca ficam completamente imóveis, e isso é uma
consequência de os átomos serem sistemas quânticos.
28
após um pequeno intervalo de tempo, e os corpos voltam à
temperatura inicial.
14
5000 K
12
Intensidade (Unidades Arbitrárias)
4000 K
4
2
3000 K
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Comprimento de Onda (μm)
A Terra reflete boa parte da luz do Sol, por isso podemos vê-la do
espaço (uma visão maravilhosa). Mas uma grande quantidade de
energia é absorvida pela superfície da Terra. Essa energia é
reemitida principalmente como ondas EM com frequências na
faixa do infravermelho. O carbono presente na atmosfera impede
29
que a maior parte da radiação reemitida pela superfície da Terra
escape para o espaço sideral. É o chamado efeito estufa. Graças a
ele a vida é possível, mas está demonstrado que o excesso de
carbono na atmosfera causa o aumento da temperatura na
superfície da Terra.
30
O espectro de frequências da radiação térmica do corpo negro era
um mistério. Ninguém conseguia explicá-lo usando a Física
Clássica do século XIX. Todas as tentativas fracassaram.
31
Max Karl Ernst Ludwig Planck foi um dos maiores cientistas
alemães. Seus trabalhos abriram as portas do mundo quântico. Nos
dias de hoje, há na Alemanha uma rede de 84 instituições de
pesquisa em várias áreas do conhecimento, os Max Planck
Institutes, nomeados em sua homenagem.
32
Planck, como seus antecessores, utilizou uma cavidade. Segundo o
princípio da continuidade, as moléculas da cavidade poderiam
vibrar com qualquer frequência. Isso significa que qualquer
quantidade de energia, por menor que fosse, poderia ser absorvida
pelas paredes e reemitida em seguida. No entanto, todos os cálculos
baseados nessa premissa estavam em evidente desacordo com os
dados.
Planck era um homem religioso, e talvez por isso tenha sido tão
atraído pela ideia do absoluto. Havia no enigma do corpo negro um
aspecto universal que lhe interessava particularmente: o espectro
de frequências da radiação térmica é o mesmo para todos os corpos,
independente de sua composição, forma ou volume. Em sua
autobiografia científica, Planck afirma:” O mundo externo é algo
independente do homem, algo absoluto, e a procura pelas leis que
se aplicam a esse absoluto parece-me o mais sublime objetivo
científico da vida.”
33
Os osciladores harmônicos são muito importantes, e aparecem em
muitas áreas da Física. Sem atrito, ou outra força externa, as
esferas executam indefinidamente um movimento de vai-e-vem, que
pode ser caracterizado pela frequência (número de oscilações
complexa por segundo).
34
as paredes internas da cavidade. Naquele tempo, a Mecânica
Estatística era uma disciplina relativamente nova e ainda em
desenvolvimento. Planck e Einstein, entre outros, deram
contribuições importantes.
35
átomos poderem absorver e emitir apenas quantidades de energia
que sejam múltiplos inteiros de um valor mínimo, um quantum de
energia.
n=4
Energia
n=3
h⌫
n=2
n=1
36
A cada modo de vibração corresponde um valor bem determinado
de energia da molécula. A molécula pode passar de um modo de
vibração a outro absorvendo energia e dando um “salto quântico”.
Para que isso ocorra, no entanto, é necessário que a quantidade de
energia fornecida à molécula tenha um valor muito preciso: a exata
diferença entre os valores das energias do estado inicial e final. Se
a radiação incidente sobre a molécula tiver energia diferente,
mesmo que por uma pequena quantidade, ela simplesmente não
será absorvida.
37
Para muitos, o trabalho de Planck poderia ser considerado mais um
estudo para “preencher algumas lacunas”, como classificaria o seu
orientador acadêmico. O próprio Planck não se deu conta
imediatamente de que sua descoberta marcava o fim do longo
reinado da Física de Newton e Maxwell, e o início de uma nova
era. Como ele mesmo confessou anos depois, “a quantização da
energia foi uma hipótese puramente formal, e eu não lhe dei muita
importância”.
38
Berlim era a capital científica do mundo nas primeiras décadas
do século XX. Era também a capital do jovem Império Alemão, o
estado-nação formado em 1871 pela unificação dos Estados
Germânicos, sob a liderança do kaiser Wilhelm Hohenzollern. A
Alemanha era um país novo, mas que trazia consigo a monumental
tradição científica e cultural germânica. Ali nasceram Mozart,
Bach e Beethoven, Gauss, Riemman e Leibnitz, Kant, Hegel, Marx
e Nietzsche, Röntigen, Planck e, posteriormente, Einstein e
Heisenberg, além de muitos outros brilhantes cientistas da
Química, Física e da Matemática. Os Prêmios Nobel em Física e
em Química começaram a ser concedidos em 1901. Nos primeiros
20 anos, 16 químicos e físicos alemães foram laureados.
39
mais prestigiosas da Europa. E havia também os Kaiser Wilhelm
Institutes, na periferia de Berlim, institutos de pesquisa custeados
pela elite econômica alemã.
40
E então, em 1905, sua vida mudou radicalmente. Nesse ano,
Einstein publicou uma série de trabalhos que fundaram a Física
moderna. O ano de 1905 é considerado o seu “annus mirabilis”, o
ano milagroso, cujo centenário foi celebrado recentemente em todo
o mundo.
41
sequência de vagalhões. Não há dúvidas que a sequência de
vagalhões transporta mais energia. Assim, por que razão uma
maior intensidade da luz não implica elétrons com mais energia?
Até 1905, não havia resposta para essa pergunta.
42
físicos acreditavam que não houvesse mais nada a ser descoberto,
como o orientador acadêmico de Max Planck. As leis da Natureza
estavam estabelecidas, e a Física oferecia a visão de um mundo
perfeito e ordenado.
43
velocidade e nunca podem ser observados em repouso. O efeito
fotoelétrico ocorre pela colisão dos fótons com os elétrons da
superfície do metal. A luz se comportando como corpúsculos.
44
Feixes de alta intensidade contêm muitos fótons, e assim muitos
elétrons são ejetados, mas todos têm a mesma energia. Em feixes
com frequências mais altas, os fótons são mais energéticos, e por
isso transferem mais energia aos elétrons, mesmo que a intensidade
do feixe seja baixa. A teoria de Einstein explicou perfeitamente os
resultados experimentais de Lenard.
45
A Mecânica Quântica transformou praticamente todas as áreas da
Física. A teoria envolve conceitos muito diferentes de tudo o que
havia na Física. Ainda hoje, quase cem anos depois da sua criação,
ainda se discute a interpretação da Mecânica Quântica. O mais
importante, no entanto, é que, independente de interpretações,
sabemos operar muito bem com ela, e com isso podemos construir
coisas maravilhosas.
46
Uma propriedade fundamental do calor específico dos sólidos,
segundo a Termodinâmica Clássica, é que seu valor não depende
da temperatura do corpo. A quantidade de energia necessária para
aumentar a temperatura de um corpo em 1 oC é sempre a mesma,
esteja ele inicialmente a uma temperatura de -100, 0 ou 100 oC.
47
em outras áreas da teoria do calor, contradições que podem ser
resolvidas seguindo o mesmo caminho”.
48
Solvay, um milionário belga que fez grande fortuna na indústria
química. Solvay era um filantropo e tinha grande interesse pela
Física. Promoveu uma série de encontros, sempre reunindo os
físicos de maior prestígio. A primeira conferência foi realizada em
Bruxelas, em junho de 1911. O tema da conferência, como não
poderia deixar de ser, foi a crise da Física teórica provocada pela
nova teoria quântica.
49
radiação). Ambas descrevem o funcionamento do mundo
microscópico, mas se tornam as teorias de Newton e Maxwell a
escala aumenta e se torna macroscópica.
50
3
Revolução
51
formados por umas poucas dezenas de pessoas, espalhados pela
vastidão do mundo.
52
totalmente os conceitos de espaço, tempo, matéria e energia. Uma
nova linguagem substituiu as da Mecânica Newtoniana e do
Eletromagnetismo de Maxwell, os dois pilares da Física Clássica.
53
descobertas fundamentais na astronomia. O personagem principal
foi o astrônomo estadunidense Edwin Hubble.
54
Leavitt estabeleceu um método que ainda hoje é utilizado para
medição de distâncias em astronomia. A ideia é simples: pegue
uma vela e meça o seu brilho quando ela está próxima a você. Em
seguida, afaste a vela até uma certa distância e meça novamente o
brilho, que, obviamente, será menor. Conhecendo o brilho
intrínseco (vela próxima) e o brilho aparente (vela distante), é
possível determinar a distância.
55
Alguns anos depois, em 1929, Hubble fez outra descoberta ainda
mais espetacular: o Universo está em expansão. As galáxias estão
em movimento, se afastando constantemente umas das outras. Se
afastam com uma velocidade que é tão maior quanto maior for a
distância entre elas. Mas esse é um assunto ao qual voltaremos mais
à frente.
Modelo atômico
56
O Modelo Atômico começou a tomar forma em 1911, quando a
estrutura interna dos átomos foi revelada. O personagem principal
dessa descoberta foi o físico neozelandês Ernest Rutherford.
Rutherford
57
Inglaterra, onde fez seu doutorado, terminando também como o
primeiro aluno. Em 1898, logo após concluir o doutorado, mudou-
se para o Canadá, assumindo um cargo de professor na
universidade McGill, em Montreal.
58
uma indicação clara de que os átomos tinham uma estrutura interna
complexa, ao contrário do que se imaginava.
59
A ideia de Geiger, no entanto, não deu muito certo. Havia colisões
inesperadas, em que as partículas a sofriam grandes desvios nas
suas trajetórias sem provocar ionização. Esse era um efeito muito
intrigante, e motivou Rutherford e sua pequena equipe a elaborar o
experimento que viria a ser o protótipo de quase todos os
experimentos modernos em Física de Partículas.
60
uma carga elétrica positiva homogeneamente distribuída, salpicada
de elétrons. Esse arranjo só poderia ser mecanicamente estável se
os elétrons permanecessem em repouso. O modelo de Thomson se
tornou conhecido como “pudim de ameixas”.
61
No modelo de Thomson, a massa do átomo se devia aos elétrons,
exclusivamente. A substância de que a carga positiva seria feita não
contribuiria para a massa. Como os elétrons são muito leves, cada
átomo deveria conter milhares deles. Alguns anos depois, dispondo
de novos dados experimentais, Thomson refinou seu modelo,
admitindo que o número de elétrons deveria ser da mesma ordem
que o número atômico, o que deixava sem resposta a questão da
origem da massa do átomo.
62
atômica do alvo, mais partículas a sofriam grandes desvios. O
modelo de Thomson estava definitivamente descartado.
63
Em resumo, o átomo que Rutherford revelou ao mundo consiste em
um núcleo com carga elétrica positiva onde praticamente toda a
matéria está concentrada (prótons são cerca de 2.000 mais pesados
que elétrons). Envolvendo esse minúsculo núcleo, de carga elétrica
positiva, há uma nuvem de elétrons, com carga negativa em igual
quantidade, formando um sistema neutro.
64
A descoberta de Rutherford, Geiger e Marsden, reduziu
drasticamente o número de constituintes elementares: em vez de
várias dezenas de átomos “elementares”, haveria apenas prótons,
elétrons e, claro, as partículas a. Essa descoberta revolucionou a
Física. O esforço para entender como os elétrons se distribuem ao
redor do núcleo passou a ser o principal problema da Física, e
culminou à criação da Mecânica Quântica.
65
Além do problema da estabilidade do átomo, havia também o
problema dos isótopos, cuja natureza era um mistério. Os
elementos químicos se distinguem pelo número de prótons no
núcleo (Z), que é igual ao número de elétrons. Em 1911, já eram
conhecidas variantes de um mesmo elemento: átomos com o
mesmo número de prótons, mas com massas diferentes. A
existência de isótopos intrigava os físicos e químicos, sugerindo
que haveria algo a mais no núcleo além das cargas positivas.
66
Vale a pena fazer uma última observação a respeito da perda de
energia de partículas carregadas quando sofrem aceleração. O
princípio de funcionamento dos laboratórios de luz síncroton,
como o Sirius, em São Paulo, está baseado nesse fenômeno. Os
laboratórios de luz síncroton são aceleradores circulares de
elétrons. Os elétrons se movem dentro de um tubo circular, onde
há um alto vácuo, e são mantidos na órbita por campos magnéticos
poderosos gerados por diferentes tipos de ímãs.
67
Fotografia aérea do Laboratório Nacional de Luz Síncroton –
LNLS. No interior encontra-se o acelerador Sirius, onde um feixe
de elétrons é mantido em uma órbita circular. A radiação
síncroton é emitida na direção tangente à trajetória dos elétrons e
tem comprimento de onda na faixa dos raios-X. À direita vemos
seis “linhas de luz”, onde feixes de raios-X são focalizados nos
materiais em estudo.
Bohr
68
Manchester não foram levados muito a sério inicialmente. O
próprio Rutherford permaneceu cauteloso e discreto. Na primeira
conferência de Solvay, realizada poucos meses depois que
publicou seus resultados, Rutherford não se pronunciou sobre o
assunto, que, de resto, não entrou na pauta das discussões. Um ano
depois, quando Rutherford recebeu a visita de um jovem físico
dinamarquês, essa situação mudou radicalmente.
69
artigos que entraram para a história e o tornaram mundialmente
famoso, aos 28 anos.
70
Um disco gira no sentido horário com um ponto marcado na sua
borda. As sucessivas posições do ponto são ilustradas com
bolinhas cheias. Em cada posição, projeta-se a sombra do ponto
sobre a linha que passa pelo centro do círculo (bolinhas vazias). À
medida que o disco gira, a projeção do ponto na linha horizontal
oscila em um movimento harmônico entre os pontos A e B, cuja
frequência é a mesma com que o disco gira.
71
Einstein: E1 = 1/2 hn1. Novamente, a constante h de Planck aparece
multiplicando uma frequência fundamental, n1. A energia das
demais órbitas seriam En = n/2 hn1, com n = 2, 3, 4, ....
72
artigos científicos, e o primeiro deles foi aos 60 anos de idade.
Nesse artigo, que o imortalizou, Balmer apresentou a fórmula
empírica para as linhas espectrais do hidrogênio, que se tornou
conhecida com a fórmula de Balmer.
73
passo decisivo em direção ao modelo atômico definitivo, baseado
na MQ. Pelos seus trabalhos de 1913, Bohr foi laureado com o
Prêmio Nobel em 1922.
74
4
Mecânica Quântica
75
A TR foi obra de um único gênio, Einstein. Partindo de um fato
que era conhecido há mais de 200 anos e usando apenas o
raciocínio lógico, Einstein revolucionou o conceito de espaço e
tempo. Mas com a MQ foi diferente. Ela foi uma criação coletiva,
gestada durante 25 anos. A MQ nasceu de uma crise aguda na
Física, causada pela a descoberta de fenômenos que não podiam
ser explicados pelas teorias de Newton e Maxwell.
“Ondas de matéria”
76
O 7º duque de de Broglie, Louis-Victor-Pierre-Raymond, físico
francês mais conhecido como Louis de Broglie, obteve o título de
doutor, em 1924, defendendo uma tese para lá de audaciosa: as
partículas subatômicas massivas também poderiam se comportar
como ondas. Era uma tese tão exótica, que o seu orientador, Paul
Langevin, enviou uma cópia a Einstein, solicitando um parecer.
Einstein ficou entusiasmado com as conclusões do trabalho,
conclusões a que ele mesmo havia chegado alguns meses antes.
77
se anular, se estiverem defasadas por um comprimento de onda. O
resultado é um padrão de claros e escuros: a difração de Bragg.
78
Essa demonstração permitiu que os resultados dos experimentos
com feixes de elétrons fossem interpretados corretamente.
79
A difração é um fenômeno típico de ondas. A imagem à direita
registra a difração de Bragg, produzida por um feixe de raios-X
incidindo sobre uma folha de alumínio. À esquerda, vemos o que
ocorre quando o feixe de raios-X é substituído por um feixe de
elétrons.
Fonte: http://courses.washington.edu/phys431/electron_diffraction/
80
Para descrever o mundo microscópico é necessário um novo
conceito de localização. É impossível determinar a trajetória exata
de uma partícula, ou seja, determinar sua posição e sua velocidade
com precisão ilimitada. Não se trata de uma questão tecnológica: é
uma limitação intrínseca e insuperável.
81
Thomas Young, em 1801 (capítulo 1), demonstrou a interferência
entre raios luminosos que passam por um anteparo com duas
fendas. O experimento da dupla fenda, como ficou conhecido, pode
ser repetido substituindo o feixe de luz por um feixe de elétrons. É
bastante útil para ilustrar a ideia da dualidade onda-corpúsculo,
assim como a natureza das ondas de probabilidade.
82
No mundo microscópico, a forma como uma medida é realizada
afeta diretamente o seu resultado. Em escalas macroscópicas
(esquerda), as partículas passam pelas fendas A e B sem serem
desviadas. Assim como as “partículas clássicas”, os elétrons
(direita) atingirão o detector passando por uma das fendas.
Quando não é possível determinar por qual fenda o elétron passou,
no detector veremos um padrão de interferência semelhante ao que
é observado com a luz. Mas se detectores adicionais forem
instalados em cada fenda, determinando o percurso do elétron, a
interferência desaparece.
Há diferentes interpretações para esse fato, mas o que está por trás
é um novo conceito de “realidade” no mundo microscópico. Não
sabemos ao certo o que acontece com os elétrons entre o momento
em que são emitidos pela fonte e o momento em que são detectados
83
após o anteparo. Na MQ, só podemos dizer algo sobre um sistema
realizando algum tipo de medida sobre ele. E “medida” significa a
interação entre o sistema (um elétron ou um fóton, por exemplo)
com algo que sirva como detector. As partículas têm uma realidade
concreta no momento em que interagem.
“Ondas de probabilidade”
84
Schrödinger foi uma figura singular muito pouco convencional,
mesmo para os padrões atuais. Sua vida foi bastante atribulada. Nos
anos 1920, foi acometido por tuberculose. Por conta da doença,
passou algumas temporadas em um sanatório nas montanhas da
Suíça. Em uma dessas temporadas, Schrödinger escreveu seu
trabalho mais importante, pelo qual recebeu o Prêmio Nobel de
1933: a teoria ondulatória da MQ.
85
As ondas de probabilidade descrevem como todas as partículas
se propagam, sejam prótons elétrons, ou fótons. A amplitude das
ondas está associada à probabilidade de encontrar a partícula em
determinada região do espaço e em determinado intervalo de
tempo, e a frequência está associada à energia da partícula.
86
Mas se o comprimento de onda for suficientemente pequeno, os
fótons terão mais energia, penetrarão no átomo e “enxergarão” os
elétrons em seu interior. Interagirão com eles individualmente,
comportando-se como se fossem corpúsculos. Nesse caso, teremos
o efeito fotoelétrico.
87
O comportamento dos fótons e das partículas subatômicas com
massa quando interagem com outros sistemas depende da
frequência dos seus “pacotes de onda”. Ondas com alta frequência
têm maior poder de resolução: são capazes de interagir com
objetos menores.
88
Incerteza
89
diferentes. Dirac, que havia desenvolvido sua própria versão da
mecânica matricial, deu os contornos finais à MQ.
90
Um radar envia sinais (ondas EM na frequência do radio) cobrindo
uma região do céu. Em um dado momento, o radar detecta o eco
dos sinais que foram emitidos em uma determinada direção, o que
indica a presença de um avião. O tempo transcorrido entre a
emissão do sinal e recepção do seu eco determina a distância do
objeto. A distância e a direção especificam de forma precisa a
posição do avião. O impacto do sinal do radar não altera em nada
a trajetória dos aviões, que são objetos muito pesados, de forma
que os aviões podem ser continuamente monitorados pelos radares.
91
nada saberíamos sobre sua velocidade, nem poderíamos prever em
que direção e com que rapidez ele se desloca.
spin
É difícil fazer analogias com alguma coisa que não existe no mundo
macroscópico, mas algumas ideias, ainda que imprecisas, ajudam
a compreender o que é o spin. O momento linear, ou quantidade
de movimento, é o produto da massa pela velocidade de um corpo.
Um caminhão carregado de areia descendo uma ladeira tem
momento linear muito maior do que uma bicicleta, e por isso é
muito mais difícil freá-lo. O momento linear é uma grandeza física
associada aos movimentos de translação.
92
O momento angular é um pouco mais complicado que o linear. A
Terra possui um momento angular devido ao movimento de
rotação em torno do Sol. Mas possui também um momento angular
intrínseco, originado do movimento de rotação em torno do próprio
eixo. O momento angular total da Terra é a soma desses dois
efeitos. Se a Terra fosse mais pesada, ou se girasse mais
rapidamente em torno do Sol ou de si mesma, seu momento angular
seria maior.
93
Elétrons são minúsculos ímãs, e como qualquer ímã, sofrem e
exercem forças magnéticas sobre outras partículas com spin e
carga elétrica. A seta indica a orientação dos polos norte e sul do
ímã.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=37984749
94
Stern e Gerlach usaram um feixe de átomos de prata emitidos por
um forno especial. A prata foi utilizada por ser um material
ferromagnético. Cada átomo de prata pode ser visto como um
minúsculo ímã. O forno foi utilizado para fazer com que a
orientação espacial dos spins dos átomos do feixe fosse aleatória,
ou seja, ao sair do forno, suas “setas” poderiam estar apontadas
para qualquer direção.
95
Esquema do experimento de Stern e Gerlach. À direita, o forno
produz feixes de átomos de prata, que são colimados e entram na
região onde há um campo magnético com uma velocidade na
direção horizontal. A força magnética desvia os átomos de acordo
com a orientação espacial dos seus momentos magnéticos. O
experimento mostrou que essa orientação não pode ser qualquer.
O spin dos átomos de prata só pode existir em dois estados
quânticos.
Adaptado de https://pt.wikipedia.org/wiki/experimento_de_Stern-Gerlach#/media
Niels Bohr disse certa vez que “Quem nunca se chocou com a
teoria quântica, nunca entendeu uma palavra sobre ela”.
Schrödinger disse, a respeito da teoria quântica, que “Eu não gosto
dela, e lamento ter tido alguma coisa a ver com ela”. E Einstein,
em uma carta a Bohr, disse que “se tudo isso for verdade, será o
96
fim da Física”. Assim, cara leitora, caro leitor, se os conceitos da
MQ lhe causaram muita estranheza e algum desconforto, não
desanime, você está em ótima companhia.
Pauli
97
Nas camadas mais externas dos átomos, os elétrons estão mais
longe do núcleo e têm mais energia. Nas camadas mais internas, os
elétrons estão mais fortemente ligados ao núcleo e têm menos
energia. Uma pergunta para a qual não havia ainda uma resposta:
por que todos os elétrons não se agrupam numa mesma camada, a
mais próxima do núcleo, onde têm menor energia? E qual seria o
papel do spin na organização interna dos átomos?
98
No início dos anos 1930, depois do seu trabalho sobre o decaimento
b, Pauli viveu uma profunda crise pessoal. Divorciou-se de sua
primeira mulher e, logo em seguida, houve o suicídio da sua mãe.
Muito abalado, Pauli foi tratado pelo famoso psicanalista Carl
Jung. Mais dificuldades o aguardavam. Por sua origem judaica,
Pauli enfrentou sérios problemas após 1938, quando a Alemanha
nazista anexou a Áustria. Isso o obrigou a emigrar para os EUA em
1940.
99
Em átomos com muitos elétrons, as camadas mais internas são
preenchidas em primeiro lugar. Só há elétrons em uma determinada
camada quando todos os orbitais da camada inferior foram
preenchidos. A combinação dos quatro números quânticos e o
princípio de exclusão explicam a distribuição dos elétrons nas
diversas camadas. O número de elétrons na última camada
determina as propriedades químicas dos elementos.
100
Os saltos quânticos dos elétrons entre as diferentes camadas são a
origem das linhas espectrais. No espectro de absorção, as linhas
pretas correspondem às frequências dos fótons que podem ser
absorvidos pelos átomos. Da mesma forma, nos espectros de
emissão, as linhas claras sobre o fundo preto correspondem às
frequências dos fótons que podem ser emitidos pela desexcitação
dos átomos.
Orbitais atômicos
101
estacionárias. Assim como nas cordas do violão, os modos de
vibração (número de nós) possíveis são discretos. No estado
fundamental da partícula, em que ela tem a menor energia, a sua
função de onda corresponde ao harmônico fundamental (nenhum
nó), o primeiro estado excitado corresponde ao segundo harmônico
(um nó), e assim sucessivamente.
102
arqueologia. Conhecer o átomo tornou possível a eletrônica, base
do mundo digital moderno.
103
Representação artística de alguns orbitais atômicos do átomo de
hidrogênio, delimitando as regiões onde o elétron pode ser
encontrado. Dentro do orbital, o elétron pode estar em qualquer
posição. É impossível acompanhar seu movimento. Nas figuras, o
núcleo atômico encontra-se na origem do sistema de coordenadas
(a interseção dos três eixos).
Adaptado de:
https://chem.libretexts.org/Courses/Howard_University/General_Chemistry%3A_An_A
toms_First_Approach/Unit_1%3A__Atomic_Structure/Chapter_2%3A_Atomic_Structu
re/Chapter_2.5%3A_Atomic_Orbitals_and_Their_Energies
104
5
Relatividade Especial
Prelúdio
105
princípio fundamental que deve ser seguido por toda e qualquer
teoria física.
106
Medirão o mesmo tempo de vôo entre dois pontos quaisquer no
céu?
107
Voltando ao exemplo do trem, imagine que o observador no vagão
deixa cair uma pedrinha da janela no exato momento em que o trem
passa pela plataforma. Ignorando a resistência do ar, o movimento
da pedrinha é uma queda livre. O observador do trem vê a pedrinha
percorrer uma trajetória retilínea, na vertical, pois em relação a ele
a pedrinha estava inicialmente em repouso.
108
eventos também são simultâneos em qualquer outro referencial. O
tempo é universal, um único para todos.
109
sempre o mesmo resultado, é impossível, usando apenas as leis de
Newton, determinar o movimento de cada observador em relação
ao suposto referencial absoluto.
110
O éter luminífero seria uma substância com propriedades quase
mágicas: um meio imaterial, intangível, transparente, ao mesmo
tempo elástico e não detectável quimicamente. Essa substância
preencheria todo o Universo. Os corpos celestes se moveriam
através dessa espécie de fluido perfeito sem que ele oferecesse
qualquer resistência, sem nenhuma viscosidade.
Michelson e Morley
111
de comprovação seria medir algum efeito causado pelo movimento
da Terra em relação ao éter. O princípio de relatividade da MC, no
entanto, estabelece que é impossível determinar o estado de
movimento de um sistema inercial usando apenas as leis de
Newton. A MC, portanto, não serviria para a detecção do éter.
112
A cada seis meses, a Terra se move em direções opostas ao longo
da sua órbita em torno do Sol.
113
refletiriam cada componente e estas chegariam ao detector
exatamente no mesmo momento, depois de terem percorrido a
mesma distância.
114
Esse resultado mostrou claramente que a regra de adição de
velocidades de Galileu estava errada. As equações de Maxwell são
válidas em qualquer sistema inercial, e o princípio de relatividade
de Newton deveria ser substituído por outro mais geral, que
incluísse tanto a Mecânica como o Eletromagnetismo. A regra que
traduz as coordenadas de dois sistemas de referência distintos
precisava ser modificada.
Simultaneidade
115
voltas e meia ao redor da Terra. O tempo de propagação da luz é
tão pequeno que se torna irrelevante em praticamente todas as
situações do cotidiano. No nosso dia a dia, lidamos com
velocidades muito pequenas comparadas à da luz, e por isso não
percebemos os efeitos relativísticos, assim como na escala humana
macroscópica não percebemos os efeitos quânticos. No regime de
velocidades em que estamos acostumados, a Relatividade de
Einstein se torna idêntica à de Newton.
116
Simultaneidade é, aparentemente, uma ideia trivial: dois eventos
são simultâneos quando acontecem no mesmo momento. Mas se
examinarmos com um pouquinho mais de detalhes, veremos que a
noção de simultaneidade não é assim tão simples. Na verdade,
quando levamos em consideração o fato de a velocidade de
propagação da luz ser finita, é necessário sermos bastante precisos
quanto ao que significa “medir”.
117
proveniente do clarão vindo de A chegar ao detector no mesmo
instante que a do clarão vindo de B, poderíamos assegurar que a
queda dos raios foi, de fato, simultânea.
118
Lorentz
119
é medida. Trata-se de um efeito relativístico, hoje conhecido como
a contração de Lorentz-FitzGerald, comprovado rotineiramente
nos laboratórios ao redor do mundo.
120
Ao analisar esse problema, Lorentz se deu conta de que apenas a
contração do comprimento seria insuficiente para garantir que as
equações de Maxwell tivessem a mesma forma em qualquer
referencial. Seria necessário definir também um “tempo local”,
ligado a cada referencial particular. Ou seja, não apenas as
coordenadas das cargas se transformam na passagem de um
referencial a outro, mas também o próprio tempo deve se
transformar!
Dilatação do tempo
121
marcarem o tempo de forma diferente, apenas por estarem em
movimento relativo?
122
determinar a vida-média contando o número de decaimentos que
ocorrem por segundo.
123
durante o restante do voo? A resposta é não! O observador da Terra
vê o tempo no referencial da nave fluir mais lentamente, tão mais
lentamente quanto maior for a velocidade da nave.
124
que a distância entre a Terra e Marte, medida no referencial da
nave, seja menor do que quando é medida no referencial da Terra.
Assim, em vez dos 200 segundos marcados no relógio da Terra, o
relógio da nave marcará um pouco mais de 130 segundos.
Note, cara leitora, caro leitor, que não usei a expressão “distância
real” para me referir à distância entre a Terra e Marte medida no
referencial da Terra. Não existem referenciais privilegiados. Se são
todos equivalentes, cada um com seu tempo e espaço, não tem
sentido falar em distância “real”.
125
Os múons são o sinal de que houve uma colisão. Em Mendoza, no
sul da Argentina (terra de ótimos vinhos) foi construído o
observatório Pierre Auger, um arranjo de detectores ocupando uma
área de 3.000 km2. O observatório foi construído por uma
colaboração internacional, com grande participação do Brasil, e
tem como objetivo estudar os raios cósmicos.
126
de múons em repouso (esse é um dos experimentos feitos nas
Escolas de Física Experimental do CBPF).
Annus Mirabilis
127
Estamos tão habituados à internet, à propagação quase instantânea
da informação, que é difícil imaginar o mundo sem ela. Em Berna,
Einstein vivia à margem do mundo acadêmico, e por isso
desconhecia os trabalhos que Lorentz havia publicado alguns anos
antes. Nesses trabalhos, Lorentz apresentou as fórmulas que
relacionam as coordenadas (x, y, z, t) de um evento às coordenadas
(x’,y’,z’,t’) do mesmo evento descrito em outro sistema de
referência.
128
O primeiro princípio é conhecido como Princípio de Relatividade
Especial de Einstein. O adjetivo “especial”, como vimos, se deve
ao fato de o princípio se aplicar apenas a referenciais inerciais. O
novo princípio de relatividade estende a todas as leis físicas a
invariância que o princípio de Galileu assegurava apenas à
Mecânica: as leis que governam os fenômenos naturais são
independentes do observador. Esse princípio seria generalizado a
todos os referenciais, inerciais ou não, pela Teoria da Relatividade
Geral, em 1915.
129
E = mc2
130
Imagine um jogo de bilhar. Cada bola possuiu, entre as suas
propriedades, uma a que chamamos massa. Não podemos
confundir massa com quantidade de matéria. A massa é uma
medida da inércia, a resistência que os corpos opõem à ação de
alguma força. Forças de mesma intensidade aplicadas a corpos com
massas diferentes causarão acelerações diferentes. O corpo de
menor massa tem inércia menor, e assim ganhará mais velocidade.
Na MC, a massa do corpo é sempre a mesma, estando parado ou
em movimento.
131
Na MC, a massa é uma propriedade intrínseca dos corpos, e seu
valor é o mesmo em qualquer referencial. Na RE, essa propriedade
intrínseca é uma medida da energia armazenada no corpo quando
ele está em repouso. Por isso, frequentemente adicionamos um
complemento ao termo: massa de repouso.
132
ignorados. Mas quando v se aproxima de c, o fator g passa a ter
valores muito altos. No limite, quando v = c, o fator g torna-se
infinito. Isso significa que se um corpo pudesse ser acelerado até
atingir uma velocidade igual à da luz, sua massa seria infinita. Dito
de outra forma, seria necessária uma quantidade de energia
infinitamente grande para acelerar um corpo até ele atingir a
velocidade da luz. Viajar à velocidade da luz é fisicamente
impossível.
Minkowski
133
posteriormente possibilitou a Einstein lidar com a complexidade
matemática da RG.
134
Imagine dois eventos que ocorram tanto em dois pontos distintos
do espaço como em momentos diferentes. Um observador mede as
diferenças entre as coordenadas espaciais de cada evento, assim
como o intervalo de tempo transcorrido entre eles. Obtém os
valores Dx, Dy, Dz e Dt. Os mesmos dois eventos são analisados por
um segundo observador que se move em ralação ao primeiro. Este
segundo observador mede valores diferentes, Dx’, Dy’, Dz’ e Dt’.
Minkowski descobriu que a quantidade Ds2 = Dx2 + Dy2 + Dz2 – c2Dt2
tem o mesmo valor que Ds’2 = Dx’2 + Dy’2 + Dz’2 – c2Dt’2.
135
sequência de passos infinitamente pequenos, passos que são dados
em intervalos de tempo tão pequenos quanto queiramos.
136
Lembremo-nos que todos os referenciais são absolutamente
equivalentes. Com as transformações de Lorentz, podemos
relacionar o andamento do tempo e o comprimento das réguas
vistos por observadores diferentes.
137
A interpretação das transformações de Lorentz como uma rotação
no espaço-tempo ajuda a entender o significado do entrelaçamento
entre tempo e espaço. Isso pode ser ilustrado pelo seguinte
exemplo. O norte magnético da Terra está deslocado em relação ao
norte geográfico. A diferença é de cerca de 23º. Se pensarmos nos
pontos cardeais e na orientação do campo magnético como dois
sistemas de coordenadas distintos, o norte magnético seria uma
combinação do norte e do oeste geográficos, Nmag = aNgeo + bOgeo
(a e b são números que dependem do ângulo de inclinação do norte
magnético).
138
O espaço-tempo de Minkowski é plano. A geometria é a de
Euclides: duas retas paralelas jamais se encontram, a menor
distância entre dois pontos é uma linha reta e a soma dos ângulos
internos de um triângulo é 180º.
139
6
Relatividade Geral
140
sentida e exercida por todos os corpos celestes instantaneamente,
independente de quão longe eles estejam.
141
Voltemos a 1907. Einstein escreveu um longo artigo de revisão
sobre a RE, onde discutia novos desdobramentos da teoria. Foi
nesse artigo que Einstein tratou pela primeira vez do problema da
gravitação. O ponto de partida de Einstein foi explorar a relação
entre massa inercial e massa gravitacional. A massa inercial mede
a resistência de um corpo à aceleração causada pela ação de uma
força. A massa gravitacional é uma propriedade dos corpos quando
estão sujeitos à ação da gravidade.
142
no espaço sideral. Poderiam fazer experimentos sobre a queda
livre, por exemplo, e encontrariam os mesmos resultados que
seriam obtidos na Terra.
143
exercida pela Terra. Seguiriam em linha reta, numa trajetória que
seria tangente às suas órbitas.
144
energia absorvida produz também um efeito gravitacional. A luz
tem peso!
145
Podemos adaptar mais um dos experimentos mentais de Einstein
para ilustrar o efeito da gravidade sobre a luz. Imagine uma nave
espacial em uma região remota do espaço, afastada de qualquer
campo gravitacional, viajando sem aceleração. Um dispositivo fixo
do lado externo da nave emite um feixe luminoso que passa pela
janela da cabine e segue paralelo ao chão. Na parede oposta da
cabine há um detector de fótons. A janela e o detector estão
localizados exatamente à mesma altura em relação ao piso da
cabine. Nessas condições, o feixe emitido atinge o detector e o
astronauta vê a luz se propagar em linha reta.
146
aproximação válida quando os efeitos da gravidade são
insignificantes. Isso significa que as transformações de Lorentz só
são corretas localmente, ou seja, em pequenas regiões do espaço e
pequenos intervalos de tempo, onde a gravidade não tenha
nenhuma influência perceptível. Apenas nesse referencial local a
luz se propaga em linha reta e com velocidade constante.
147
uma ferramenta matemática que Einstein não dominava: a
geometria diferencial Riemanniana. Apesar do desafio, Einstein
estava diante de um caminho sem volta. Depois de uma temporada
em Praga, Einstein voltou a Zurique em 1912, onde então contou
com o valioso auxílio de seu grande amigo e matemático Marcel
Grossman.
148
relação a A e B, e assim, mais lento será o andamento do seu
relógio quando visto por esses observadores.
149
Analisemos agora o paradoxo da RE mencionado acima, usando o
mesmo “experimento mental”. Com o disco em repouso, vamos
medir a circunferência usando um número muito grande de
pequenas réguas idênticas, dispostas uma após a outra ao longo da
borda. As réguas têm um tamanho muito pequeno comparado com
o raio do disco, de forma que o comprimento da circunferência
pode ser medido pelo número de réguas alinhadas na borda do
disco.
150
borda sim. Elas ficam menores devido à contração de Lorentz. No
referencial em rotação, a relação de Euclides entre circunferência
e diâmetro não mais se aplica: em vez de C/d = p, teríamos C/d <
p! Esse aparente paradoxo mostra que o espaço em um referencial
não inercial não é Euclidiano. A gravidade distorce não apenas o
tempo, mas também o espaço!
151
bicicleta, mas a circunferência é menor. Teremos C/d < p, pois na
superfície curva da Terra a geometria Euclidiana não é válida.
152
poderíamos nos mover apenas sobre a superfície da bancada. Se
desenhássemos duas retas paralelas em uma pequena parte da
bancada, poderíamos estendê-las indefinidamente e elas
continuariam sendo retas paralelas. A menor distância entre dois
pontos seria uma linha reta, a soma dos ângulos internos de
qualquer triângulo seria 180º, e a razão entre o diâmetro e a
circunferência de um círculo qualquer seria sempre p. O espaço
seria plano, e a geometria, Euclidiana.
153
Em superfícies curvas, como uma esfera, a geometria de Euclides
não é válida. A soma dos ângulos internos de um triângulo não é
180º, e linhas paralelas só existem localmente.
154
mesmo ETH. Juntos, Einstein e Grossman desbravaram a
complexa matemática envolvida na geometria diferencial.
155
eletromagnetismo, ou as forças nucleares forte e fraca, mas apenas
um efeito da geometria do espaço-tempo.
156
No dia 25 de novembro de 1915, Einstein saiu de seu pequeno
apartamento em Berlim. Seu destino era a Academia Prussiana de
Ciências, onde apresentou a versão final da RG. Nesse dia, o longo
reinado de 228 anos da gravitação Newtoniana chegou ao fim, e
teve início o reinado do Universo de Einstein.
https://thedemiscientist.wordpress.com/2017/02/13/black-holes-for-high-school-students/
157
Desde então, todos os efeitos previstos pela RG foram
comprovados por medições cada vez mais precisas, medições que
são realizadas ainda nos dias de hoje. Mas o grande sucesso, que
tornou Einstein uma celebridade mundial, foi a comprovação de
que a luz é desviada pelo campo gravitacional do Sol. Sobre isso
falarei daqui a pouco.
158
Schwarzschild mostrou que se a massa da estrela fosse concentrada
em uma esfera de raio muito pequeno, produziria uma atração
gravitacional tão intensa que nem mesmo a luz conseguiria escapar.
No limite, quando o raio da esfera tendesse a zero, a gravidade seria
infinita. No jargão dos físicos, teríamos uma singularidade. Em
1939, Oppenheimer e Snyder mostraram que a singularidade é
inevitável se a massa da estrela for maior do que três vezes a massa
do Sol. Nesse caso, o colapso da estrela levaria invariavelmente “às
bestas do apocalipse cósmico”: os buracos negros. Mas essa é uma
longa história, que foge muito dos objetivos desse livro.
Sobral, CE
159
Einstein propõe, em 1912, uma forma de verificar as previsões da
RG. Comparando as posições observadas de uma estrela à noite e
durante o dia (só possível durante um eclipse total do Sol), seria
possível medir o desvio na trajetória da luz ao passar perto de um
objeto muito massivo.
160
Morize, preparou um relatório detalhado em que apontava a cidade
cearense de Sobral como o melhor lugar para a observação do
eclipse, que duraria cerca de cinco minutos.
161
distorcidas do eclipse. Felizmente, com o telescópio reserva, boas
imagens foram obtidas.
162
Terra. As previsões da RG foram confirmadas com uma incerteza
de 20 partes em um milhão.
163
A população de Sobral reunida momentos antes do eclipse
164
Cortesia NASA/JPL-Caltech
165
7
166
A TR introduziu o princípio de relatividade: as leis da Física são
sempre as mesmas para qualquer observador, independente do seu
movimento. O princípio de relatividade implica a invariância das
equações: para que descrevam os fenômenos físicos, elas devem
ser idênticas em qualquer sistema de referência. Devem ter sempre
a mesma forma, conter sempre os mesmos termos. E aqui a MQ
enfrentou um grande problema.
Como vimos nos capítulos anteriores, Dirac fez parte de uma das
gerações mais brilhantes de toda a história da Física: num intervalo
de menos de cinco anos nasceram Wolfgang Pauli, Werner
Heisenberg, Louis de Broglie, Carl Anderson, entre outros, cerca
de quinze anos depois do nascimento de Bohr, Einstein,
Schrödinger e Rutherford. Junto com Planck, são os personagens
principais da maior revolução científica da História.
167
econômica e desemprego alto. Sem perspectiva de conseguir um
emprego, Dirac resolveu seguir estudando. Com uma bolsa da
Universidade de Bristol, graduou-se em matemática em 1923. Nos
dois cursos se destacou como o primeiro aluno, e por isso ganhou
uma bolsa de estudos para fazer o doutorado em Cambridge.
168
entrar em muitos detalhes: números complexos são definidos por
dois algarismos. Podem ser representados de duas formas básicas:
como partes real e imaginária, ou então como módulo e fase, que
é o ângulo com o eixo real. No desenho abaixo, a parte real e a
imaginária são as duas componentes cartesianas no plano (x,y).
Alternativamente usa-se o módulo r e o ângulo q (a fase) com o
eixo real, (r,q). O eixo real, como o nome indica, é o que contém
os números reais. O módulo do número nada mais é que o
comprimento da seta, r2 = x2 + y2.
169
A equação de Dirac é uma equação matricial, e por essa razão, a
equação admite quatro soluções, quatro tipos diferentes de matrizes
1x4 diferentes. Em outras palavras, os quatro espinores
representam os quatro estados quânticos possíveis do elétron. Mas
o que são esses diferentes estados quânticos, o que eles
representam?
170
com o tempo. A equação de Dirac é uma equação relativística. Na
RE, a energia de uma partícula é a soma da energia de movimento
e da energia contida na massa de repouso. A relação entre essas
quantidades é E2 = p2c2 + m2c4, (p é o momento linear da partícula)
o que significa que a energia da partícula pode ser tanto positiva
como negativa:
<latexit sha1_base64="kZhicaxff4o8RplJzpMbHrsc2rI=">AAACLXicdVDLSgMxFM34rPVVdVkXQRHE6jAzFR8LpaCCSwVbhU5bMmnahiYzY5IRytAv8Q/c+BeuRXChiFu/wZ2ZVsFHPRA4nHMuN/d4IaNSWdaTMTQ8Mjo2nppIT05Nz8xm5uZLMogEJkUcsEBceEgSRn1SVFQxchEKgrjHyLnXPkj88ysiJA38M9UJSYWjpk8bFCOlpVrm8AjuwZwrL4WKw6qDqw7MQZ6Qze6625JtGkIzjzlMchuDc+laZtkynd0dK78L/xLbtHpYLixev9+tZd2TWubBrQc44sRXmCEpy7YVqkqMhKKYkW7ajSQJEW6jJilr6iNOZCXuXduFK1qpw0Yg9PMV7KnfJ2LEpexwTyc5Ui3520vEQV45Uo2dSkz9MFLEx/1FjYhBFcCkOlingmDFOpogLKj+K8QtJBBWuuCkhK9L4f+k5Jj2lpk/1W3sgz5SIAuWwCqwwTYogGNwAooAgxtwD57As3FrPBovxms/OmR8ziyAHzDePgDKqqfh</latexit>
p p
E=+ p2 c 2 + m2 c4 , E= p2 c2 + m2 c4
171
colaborações internacionais financiadas com recursos públicos. Os
governos só investem em projetos que sejam sustentados por uma
sólida base teórica. O caso típico são os grandes experimentos do
LHC, no CERN, montados para comprovar a existência do bóson
de Higgs e procurar indícios de novas partículas previstas por
teorias.
Carl Anderson
172
bombardeiam continuamente. Anderson estava filiado ao
California Institute of Technology, mais conhecido como Caltech.
Seu propósito era descobrir a composição e estudar o espectro de
energia da radiação cósmica. Mas acabou fazendo uma descoberta
sensacional.
173
condensação que os aviões de carreira deixam na atmosfera quando
voam em grandes altitudes).
174
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=103444960
175
Carl Anderson operando a câmara de nuvens, instalada dentro da
bobina. Fotografia pertencente aos arquivos do Caltech.
Anderson, Carl D. (1933). "The Positive Electron". Physical Review 43 (6): 491–494
176
A foto acima contém muito mais informação do que pode parecer
à primeira vista. O raio de curvatura da trajetória depende da
energia da partícula. Quanto mais energia ela tiver, menor será o
desvio na sua trajetória. Ao atravessar a placa de chumbo, a
partícula perde parte a sua energia. Assim, Anderson concluiu que
a partícula registrada atravessou a câmara entrando pela parte
inferior, onde a curvatura era menor e, portanto, a energia da
partícula era maior. Mas isso não é tudo o que se pode saber.
177
Anderson, no entanto, não foi o primeiro a observar uma
antipartícula. Em 1929, o físico russo Dmitri Skobeltsyn havia feito
um registro semelhante. No mesmo ano, o físico chinês Chung-Yao
Chao, também no Caltech, obteve indícios da existência dos
pósitrons. Mas tanto Chao como Skobeltsyn acharam seus
resultados inconclusivos e os guardaram para si. Alguns meses
antes do anúncio feito por Anderson, os físicos Patrick Blackett e
Giuseppe Ochialini haviam observado o mesmo efeito, mas por um
excesso de cautela, também resolveram aguardar por mais dados.
178
Chadwick
179
esse segundo alvo. Para isso, instalaram uma câmara de nuvens
após o segundo alvo.
180
nova radiação. Suas conclusões foram apresentadas em um breve
artigo publicado na revista Nature, intitulado “Possível existência
do nêutron”. Chadwick recebeu o Prêmio Nobel de 1935. Essa foi
a última grande descoberta feita com o uso da radiatividade
(partículas a) como fonte de partículas energéticas.
Essa era uma das principais questões da Física nos anos 1930. Com
a dinâmica do átomo bem entendida, o núcleo atômico tornou-se a
nova fronteira do conhecimento. Todos os olhos agora se voltavam
para essa camada mais interna da estrutura da matéria.
Yukawa
181
intensidade superasse a imensa força de repulsão elétrica. Foi o que
propôs o físico japonês Hideki Yukawa.
182
A interação entre dois elétrons, por exemplo, tem uma duração
brevíssima, durante a qual eles trocam fótons “mensageiros” entre
si. Yukawa imaginou um esquema semelhante para as forças
nucleares. Prótons e nêutrons permaneceriam unidos no núcleo
atômico por trocarem constantemente partículas “mensageiras”
entre si.
183
Na interação entre dois prótons, ou entre dois nêutrons, cada
partícula mantém sua identidade após a colisão. Essa interação
seria intermediada por um méson sem carga elétrica. Já na
interação entre prótons e nêutrons, a identidade de cada um poderia
ser trocada, ou seja, um méson de carga positiva carrega a carga do
próton, transferindo-a para o nêutron. Nessa reação, o próton se
transforma em um nêutron e o nêutron em um próton. A troca de
um méson negativo, por sua vez, faria com que o nêutron virasse
um próton, e o próton se tornasse um nêutron. Em qualquer caso, a
carga elétrica total, antes ou depois da interação, permanece a
mesma.
Lattes
184
utilizada na descoberta do pósitron, observaram uma nova partícula
carregada com massa intermediária entre a do elétron e a do próton.
Essa nova partícula, pela sua massa, foi log identificada como a
partícula de Yukawa. Mas logo se percebeu que ela não possuía as
propriedades necessárias. O múon (µ), como é conhecido hoje, não
é um méson, apesar da sua massa ser intermediária entre a do
elétron e a do próton. É um lépton, um outro tipo de partícula
elementar sobre a qual falarei no próximo capítulo. O múon é uma
versão do elétron cerca de 200 vezes mais pesada.
185
Brasil, o clube paulista Palestra Itália virou Palmeiras). Por essa
razão, Occhialini se refugiou nas montanhas de Itatiaia. De tempos
em tempos, descia até a estrada que liga São Paulo ao Rio de
Janeiro para se informar sobre o andamento da guerra. Em 1945,
Hitler e Mussolini foram derrotados, e Occhialini resolveu voltar
para a Europa. Foi trabalhar com Cecil Powell em Bristol, na
Inglaterra.
186
Lattes teve a ideia de incluir o elemento químico boro em uma série
especial de emulsões encomendadas à Ilford, uma companhia
conhecida por produzir filmes fotográficos de ótima qualidade. No
final de 1946, Occhialini saiu férias. Foi esquiar nos Pireneus.
Lattes pediu-lhe que levasse algumas das emulsões especiais com
boro. Durante a sua estadia na altitude seria mais fácil detectar os
raios-cósmicos, pois haveria menos interferência da atmosfera.
187
Os píons decaem em um múon e um neutrino, com uma vida-média
de 10-8 s. Como os neutrinos não têm carga elétrica, suas trajetórias
não ficam registradas na emulsão.
188
Um ano antes, em 1948, Lattes partira para os Estados Unidos com
uma bolsa da Fundação Rockefeller. Lattes chegou a Berkeley para
trabalhar com Eugene Gardner. Seu objetivo: produzir píons no
novo acelerador de partículas, inaugurado dois anos antes. Até
então, o acelerador não havia produzido nenhuma dessas
partículas. Bastaram alguns dias de trabalho conjunto para que os
primeiros píons fossem produzidos. Esse feito teve enorme
repercussão mundial, sendo considerado pelo jornal New York
Times a principal descoberta científica de 1948. No Brasil, Lattes
tornou-se uma celebridade. Aos 25 anos, Lattes era o nosso “herói
nuclear”.
189
8
Quarks
Summer ‘68, da banda inglesa Pink Floyd, é uma das minhas
músicas favoritas. Ela sintetiza um pouco do espírito de rebeldia
do final dos anos 1960, um tempo de grandes transformações nos
costumes e de contestação política. Movimentos feministas,
pacifistas, anticolonialistas, contra a discriminação racial, entre
tantos outros, varreram o mundo ocidental como um tsunami.
190
de ouro, e algumas eram espalhadas a grandes ângulos. Rutherford
demonstrou que o espalhamento a grandes ângulos se devia à
colisão das partículas a com os minúsculos núcleos atômicos, que
concentram praticamente toda a massa dos átomos.
191
um átomo diferente para cada elemento químico, e o grande
número de elementos conhecidos sugeria que os átomos talvez não
fossem elementares, que pudessem ter uma estrutura interna
formada por um número menor de componentes.
192
tipo u e um antiquark tipo d, por exemplo (um p+). O quark e o
antiquark poderiam girar um em relação ao outro, e também vibrar.
Assim, além do tipo de quark e de antiquark, as combinações
levavam em conta o momento angular total, o spin e o momento
angular orbital (rotação).
193
Durante quarenta anos, mésons e bárions foram os únicos tipos de
hádrons conhecidos. Até que em 2003, numa das cada vez mais
raras descobertas acidentais, novas formas de os quarks se
combinarem foram descobertas. As novas partículas são formadas
por quatro, cinco ou seis quarks. Podem ser também “moléculas”
(estados ligados de dois mésons). De 2003 aos dias de hoje, várias
dezenas desses novos partículas foram descobertas: são os
(impropriamente) chamados “hádrons exóticos”.
194
encontradas nos experimentos do SLAC, um professor me disse
que os quarks não eram partículas reais.
195
passou então a se chamar “J/y”. Para ter uma noção da importância
da descoberta, ambos receberam o Prêmio Nobel de 1976.
Seis tipos de quarks são conhecidos, todos com o mesmo spin que
o elétron. Além dos quatro já mencionados, há o quark beauty (b),
descoberto em 1979, e top (t), descoberto em 1995, ambos no
Fermi National Accelerator Laboratory, o Fermilab.
196
Há uma razão objetiva para essa classificação. Os quarks mais
pesados decaem espontaneamente nos mais leves. A probabilidade
da transição entre quarks de uma mesma geração é sempre maior.
O quark top, o mais pesado (173 vezes mais pesado que o próton),
decai com muito mais frequência em um quark b do que em um
quark s ou d, que pertencem a outras famílias. Já o quark c decai
em um quark s com muito mais frequência do que em um quark d.
197
decaem nos mais leves, num processo em cascata que termina nos
quarks u e d.
198
O que chamamos de interação forte, ou força forte é a interação
entre quarks e antiquarks via troca de glúons. Esse é o processo
elementar, como conhecemos hoje. A teoria de Yukawa, formulada
quando ainda se achava que prótons e nêutrons fossem
elementares, é uma teoria efetiva, uma maneira aproximada de
representar um efeito que é mais complexo. Os píons trocados
pelos nucleons (prótons e nêutrons) no núcleo atômico são um
efeito coletivo, uma espécie de força forte residual, que “vaza” do
interior dos hádrons.
199
No desenho abaixo, dois elétrons colidem. A linha ondulada em
vermelho representa um fóton, a partícula mediadora de interação
eletromagnética, que é trocado entre os elétrons. Os círculos pretos
representam os “vértices”, pontos onde cada elétron interage com
o fóton. É uma representação que funciona incrivelmente bem.
200
O fato de estarem sempre aprisionados no interior dos hádrons é
uma característica que torna os quarks diferentes de todas as outras
partículas elementares. O confinamento, como essa propriedade é
conhecida, é um fenômeno que ainda é não totalmente
compreendido, mas sabemos que está relacionado a um outro
atributo exclusivo de quarks e glúons: essas partículas possuem um
novo tipo de carga, a carga de cor (mais uma licença poética, sem
nenhuma relação com as cores do dia a dia).
201
uma lei universal. Vamos considerar a interação entre dois quarks.
Inicialmente, um tem carga forte do tipo “verde” e o outro tem
carga “azul”. Na colisão, é possível que as cargas de cor dos quarks
sejam trocadas. O quark que inicialmente tinha carga verde, passa
a ter carga azul após a colisão, e vice-versa. A carga total é
conservada, mas para que isso aconteça é necessário que os glúons
trocados entre os quarks também tenham carga forte.
Glúons possuem carga de cor, e por isso podem interagir entre si.
Fótons, por sua vez, só interagem com partículas carregadas.
202
Há uma outra diferença importante entre as interações EM e fortes.
A intensidade da atração ou repulsão elétrica é grande quando duas
cargas estão muito próximas, e diminui quando elas se afastam. Na
interação forte ocorre exatamente o oposto. Quando dois quarks
estão muito próximos, a intensidade da interação forte entre eles é
pequena, mas aumenta brutalmente quando eles se afastam.
Bósons e férmions
203
As partículas podem ser classificadas de diferentes maneiras,
dependendo das propriedades que se considera. Uma dessas
maneiras leva em conta o spin da partícula. As partículas
mediadoras pertencem à classe dos bósons, partículas de spin
inteiro. Já as partículas elementares, como elétrons, múons ou
quarks são classificadas como férmions, partículas de spin semi-
inteiro.
Campos
204
princípio de continuidade. Os campos são contínuos e podem
vibrar com qualquer frequência. Nessas teorias, os campos não têm
uma existência independente. Só existem por causa das fontes, que
são as partículas carregadas e as correntes elétricas. Sem elas, não
haveria campos eletromagnéticos.
205
entanto, durante intervalos de tempo pequenos demais para serem
observados, a conservação da energia pode falhar. Esse fato está
diretamente ligado às propriedades do vácuo quântico. Mas se não
podemos observar o que acontece durante intervalos de tempo
pequenos demais, como podemos dizer alguma coisa sobre a
conservação da energia?
206
seguida. Os quarks e antiquarks virtuais estão sempre envolvidos
por nuvens de glúons, também virtuais.
207
levar em conta as partículas virtuais (quarks, antiquarks e glúons).
Há muitos outros efeitos indiretos das flutuações do vácuo, que
aparecerão na sequência do livro.
Força fraca
208
elétron emitido (o “raio” b) deveria ser exatamente igual à
diferença entre as massas dos dois núcleos. Os elétrons, portanto,
deveriam ter sempre a mesma e exata energia. Mas algo diferente
foi observado: a energia dos elétrons variava significativamente.
209
num processo envolvendo a interação fraca. Os neutrinos só seriam
observados em 1956.
210
pesado quark d. Uma partícula real jamais poderia decair emitindo
uma outra partícula real que fosse mais pesada! Seria como se de
um ovo de passarinho nascesse um elefante.
211
férmions não muda. Estas são as correntes neutras, e em vez do W,
é o bóson neutro Z que toma parte.
Léptons
212
eletromagnética. Os neutrinos não têm carga elétrica, e só podem
interagir através da força fraca.
213
qualquer partícula é necessário que ela interaja de alguma forma
com a matéria. Por isso é tão difícil detectar neutrinos.
214
Há também uma segunda lei de conservação relativa a cada
“família”. Imagine uma colisão entre dois prótons no LHC em que
um bóson W real seja produzido. Ele se propaga pelo detector até
decair em um elétron e um antineutrino do elétron, por exemplo. O
número leptônico do W é zero (o W não é um lépton), assim como
o do par elétron-antineutrino (+1 para o elétron, -1 para o
antineutrino). Mas o número leptônico do estado final também
seria zero se, em vez do antineutrino do elétron, fosse produzido o
antineutrino do múon, ou o antineutrino do tau. Só que isso nunca
acontece. O elétron será produzido sempre em conjunto com o
antineutrino do elétron (e o pósitron em conjunto com o neutrino
do elétron).
Essa lei vale para todas as famílias leptônicas. Temos assim três
números quânticos específicos: o número leptônico do elétron, o
número leptônico do múon e o do tau. Assim como o número
leptônico global, esses três outros números quânticos também são
conservados. Se um lépton surge no decaimento de um W, há de
surgir também um antilépton. Por isso o elétron sempre surge em
companhia de um antineutrino. E esse antineutrino é sempre o
antineutrino do elétron.
215
9
Modelo Padrão
216
Pode-se então dizer que o Modelo Padrão (MP) começou a ser
desenvolvido no início do século passado. Da radiatividade, no
apagar das luzes do século XIX, ao bóson de Higgs, pouco mais de
110 anos depois, uma série de descobertas experimentais e teóricas
pavimentou o longo caminho até chegarmos ao que sabemos hoje
sobre a estrutura da matéria na sua menor escala.
217
ainda muito grande, e que isso seria um indício de uma camada
mais profunda da estrutura da matéria, que estaria prestes a ser
descoberta.
As três forças são muito diferentes entre si. Cada uma tem
características particulares. Mesmo assim, as teorias que as
descrevem têm em comum um aspecto fundamental: todas têm a
mesma estrutura matemática. E essa estrutura matemática comum
está baseada em um princípio organizador: o conceito de simetria.
218
diferentes nos dois sistemas, mas o comprimento da barra será o
mesmo medido se for medido em A ou em B.
219
à transformação matemática sobre as ondas de probabilidade são
compensadas pelas alterações que aparecem quando modificamos
o campo EM.
220
e um terceiro que descreve a interação entre o elétron e o fóton.
Uma transformação de calibre feita apenas na função de onda do
elétron alteraria a forma da equação. Um quarto termo iria
aparecer.
221
Bóson de Higgs
O mecanismo de Higgs-Brout-Englert-Hagen-Guralnik-Kibble é
uma ideia bastante sofisticada e engenhosa para resolver um
problema complexo. Através desse mecanismo, os bósons
mediadores das interações fracas tornam-se partículas com massa,
enquanto fótons e glúons permanecem sem massa. O mecanismo
está baseado na hipótese de que um campo especial que existe
preenche todo o Universo, o campo de Higgs.
222
de 2000 vezes mais leve que o próton, o múon é apenas 10 vezes
mais leve, enquanto o tau é 1,7 vezes mais pesado.
223
Copyright CERN
224
fraca e a eletromagnética. Todas as partículas elementares
sofreriam a mesma ação da força eletrofraca, com a mesma
intensidade, sem qualquer distinção. Haveria quatro bósons
mediadores, diferentes dos que existem hoje. Nessa fase do
Universo, só haveria partículas sem massa e interagindo
indistintamente através dos quatro bósons, igualmente sem massa.
225
Subitamente, o estado caótico se torna novamente ordenado. A
interação entre os spins volta a ser dominante, e todos os
minúsculos ímãs se orientam em uma mesma direção. A simetria
esférica da amostra é perdida apenas pela diminuição da
temperatura, sem que haja ação de campos magnéticos externos.
Ou seja, há uma quebra espontânea da simetria de rotação.
226
Assim como no ferromagnetismo, o vácuo do campo de Higgs, o
estado de energia mais baixa, também é degenerado. Há infinitas
possibilidades para esse estado, todas com a mesma energia. Esse
é o ponto crucial do mecanismo de Higgs. Quando a temperatura
do Universo diminuiu, ocorre uma transição de fase como no
ferromagnetismo, e o campo de Higgs evoluiu para um de seus
estados fundamentais possíveis. Naquele momento, a interação
entre os bósons mediadores e o campo de Higgs deu origem três
bósons massivos, o W+, W- e Z, e a um bóson de massa nula, o
fóton. As interações fracas e eletromagnéticas se separaram
definitivamente.
227
matéria bariônica do Universo (a que é feita por prótons e
nêutrons). Os quarks leves, u e d, têm uma massa muito pequena
comparada à do próton. A soma das massas dos dois quarks u e do
quark d correspondem a menos de 1% da massa do próton. A maior
parte da massa do próton vem da energia que mantém os quarks
ligados.
Copyright CERN
Resumo
228
• Há apenas três “gerações” de quarks e três de léptons.
229
230
10
A conexão cósmica
231
medidos. Todas elas envolvem incertezas significativas. Não
vamos discuti-las, pois não é o nosso objetivo nesse livro, mas é
importante ter uma noção das distâncias astronômicas.
232
A teoria de Einstein foi confirmada espetacularmente na cidade
cearense de Sobral, em 1919, e por inúmeras observações
astronômicas desde então. A Relatividade Geral nos mostra que o
Universo é isotrópico (a mesma aparência em qualquer direção) e
homogêneo (o mesmo aspecto em qualquer profundidade). Para
desgosto de Einstein, no entanto, a sua teoria original prevê um
Universo dinâmico (lembrando que ao falar em “Universo”, me
refiro apenas à porção que podemos observar, sobre a qual
podemos dizer alguma coisa).
233
1925, aos 37 anos, sem saborear a espetacular confirmação dos
seus resultados.
234
Hubble, corretamente, interpretou o redshift como uma evidência
da expansão do Universo, conforme previsto pela solução de
Friedmann. A luz emitida por uma galáxia se torna mais
avermelhada quando ela se afasta da Terra. Quando se aproxima, a
sua luz, ao contrário, se torna mais azulada.
235
Para melhor compreender o que é o redshift, podemos recorrer a
uma outra analogia. Imagine uma faixa elástica, como as usadas
nas academias de ginástica. Desenhe sobre ela uma onda. Ao
distender a faixa, o desenho se estica, o comprimento de onda
aumenta. É mais ou menos o que ocorre com a luz viajando pelo
espaço sideral em direção aos nossos telescópios.
236
próximas. Levando essa ideia ao limite, poderíamos recuar
suficientemente no tempo até chegar ao momento em que todo o
Universo teria colapsado em um único ponto, que seria a origem
do tempo e do espaço. Os físicos se referem a esse ponto como uma
singularidade, quando o volume é zero e a densidade, infinita.
Nessas condições, a teoria da Relatividade Geral e a Mecânica
Quântica deixariam de ser válidas.
237
observadas em escalas muito grandes. São características que só
podem ser explicadas se nos seus primórdios, antes mesmo de as
galáxias se formarem, o Universo tenha passado por um estado de
equilíbrio termodinâmico, em que as mesmas propriedades fossem
observadas em todas as suas partes.
238
O modelo do Big Bang seguido da inflação é muito bem-sucedido.
Explica muitas observações astronômicas, mas ao mesmo tempo
levanta uma série questões fundamentais que talvez nunca sejam
respondidas. Uma consequência controversa do modelo
inflacionário é que ele leva quase que automaticamente à ideia de
que nosso Universo é apenas uma entre muitos possíveis.
Viveríamos dentro de uma “bolha” em um mar de “multiversos”.
239
caráter universal as teorias não teriam utilidade. Não poderíamos
fazer previsões sobre o futuro, ou explicar o que ocorreu no
passado, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar. Partindo dessa
premissa, podemos usar nosso conhecimento atual sobre as leis da
Natureza para explorar o Universo primordial.
240
Modelos teóricos de como teria sido o Universo primordial são
utilizados para fazer simulações numéricas. Partindo desses
modelos, computadores muito potentes são utilizados para simular
a evolução do Universo primordial até os dias de hoje. As
características “atuais” desse Universo simulado são então
comparadas com as observações astronômicas. Se o Universo
simulado tem características compatíveis com as observações, os
modelos estão na direção correta. Caso contrário, é preciso
modificá-los e refazer as simulações.
241
uma densidade extremamente elevada. Os fótons estão
aprisionados: interagem tão frequentemente com as partículas
carregadas que não conseguem se propagar livremente por longas
distâncias. O plasma é opaco, como um nevoeiro espesso.
242
assim, quanto maior for o volume, menor será a densidade de
energia, assim como a temperatura. Quando a temperatura atingiu
1011 oC, o plasma já era diluído o suficiente para que os quarks não
pudessem mais se mover livremente. O confinamento fez com que
eles se aglutinassem formando os prótons e nêutrons que vemos
hoje.
243
Os modelos de evolução do Universo são, obviamente, muito mais
complexos do que esse brevíssimo resumo: os fótons puderam se
propagar livremente a partir de 380.000 anos; nesse período o
Universo estava em equilíbrio térmico; e que a súbita transparência
ocorreu em todos os lugares mais ou menos ao mesmo tempo. Esse
é um momento chave na história do Universo. Desde então, a luz,
recém-libertada, percorreu uma longa viagem até nossos
telescópios, trazendo informações preciosas sobre o jovem
Universo.
Mesmo com uma antena especial, essa é uma medida muito difícil
de ser feita na superfície da Terra. Há muita interferência da
atmosfera e de transmissões de telecomunicações. Penzias e
Wilson observaram um ruído contínuo, que a princípio pensaram
ser o ruído inerente a todo e qualquer dispositivo eletrônico. Mas
era um ruído muito acima do normal, e que apesar de todos os
esforços não conseguiam eliminar.
244
Havia uma particularidade intrigante: o sinal tinha a mesma
frequência e intensidade, qualquer que fosse a direção para onde
apontassem a antena. Provinha de uma radiação com frequência na
faixa de micro-ondas (ondas eletromagnéticas com comprimento
de onda da ordem de alguns centímetros). Os dois astrônomos logo
se deram conta de que essa radiação de micro-ondas não era
originada da Via Láctea. Ela parecia vir de todas as direções, como
se preenchesse todo o Universo.
245
Arno Penzias (à frente) e Robert Wilson (ao fundo), e a antena
utilizada na descoberta da radiação cósmica de fundo. A antena
gira em relação à vertical e à horizontal, possibilitando a
cobertura de todos os ângulos. Com esse dispositivo, apenas uma
limitada faixa de frequência podia ser detectada. Os instrumentos
modernos, instalados em satélites, permitem detectar a radiação
de fundo em uma faixa de frequências mais ampla.
246
respectivas intensidades) muito característico, que depende apenas
da temperatura. A relação entre a temperatura do corpo negro e a
forma do seu espectro de frequências segue uma lei universal, e
essa foi a grande descoberta de Planck, que abriu as portas do
mundo quântico. Assim, podemos determinar a temperatura do
corpo medindo a frequência para a qual a intensidade da radiação
térmica é máxima.
247
ponto de fusão do gelo é o zero na escala Celsius; na escala Kelvin
é o zero absoluto, -273,15 oC).
248
centrada na Terra. Nas cartas celestes também se utiliza com muita
frequência a projeção de Mollweide. Nesse caso, é a superfície
interna da “esfera celeste” que é projetada (não é possível observar
o Universo como se estivéssemos fora dele).
249
O mapa da radiação de fundo representa o quão remotamente
podemos observar o Universo usando a radiação eletromagnética.
É a nossa imagem mais antiga. Talvez a astronomia utilizando
neutrinos e ondas gravitacionais nos permitam ir além.
250
reais se aniquilam, mas a energia de ambas não desaparece, ela se
transforma em fótons ou em outras partículas. Fenômenos físicos
envolvem transferência de energia de um sistema a outro,
transformação de uma forma de energia em outra, conversão de
matéria em energia ou vice-versa. Mas em todos, a energia é
sempre conservada.
251
assim como as colisões entre partículas, seguem leis empíricas de
conservação, sendo duas delas particularmente importantes.
252
Imagine um átomo de hidrogênio primordial. Durante bilhões de
anos, a lenta ação da gravidade aproximou esse átomo de outros
iguais, todos formados na mesma época. Assim uma nuvem surgiu
lentamente, e foi se tornando cada vez mais densa com o passar do
tempo.
253
Um grande meteoro caiu na atual costa do México, exterminando
os dinossauros e quase toda a vida há cerca de 65 milhões de anos.
Mas a matéria orgânica não desapareceu, passou a fazer parte do
solo onde, milhões de anos depois, um agricultor plantou trigo.
Após algumas colheitas, encontramos o nosso átomo em uma das
espigas. Quando minha mãe estava grávida, comeu pão feito com
esse trigo e o nosso átomo passou a fazer parte do seu corpo.
Durante a minha gestação, o nosso átomo, contido agora em uma
célula sanguínea, atravessou o cordão umbilical e passou a fazer
parte do meu corpo.
254
É fantástico pensar que, apesar da complexidade crescente, tudo à
nossa volta é feito de apenas de cinco elementos: os quarks u e d,
que formam prótons e nêutrons; os elétrons; os glúons, que mantêm
os quarks unidos dentro dos prótons e nêutrons; e os fótons, sem os
quais não haveria átomos, luz e graça.
255
As escalas de tempo e distâncias cósmicas são muito difíceis de
conceber. Nesse quadro, a história do Universo observável tem a
duração de um ano. Os fogos de artifício da noite de Ano Novo são
256
os fótons que hoje detectamos na radiação cósmica de fundo. As
primeiras estrelas e galáxias foram formadas a partir do início da
segunda semana de janeiro. A Via Láctea foi formada em maio,
mas apenas em setembro o Sistema Solar surgiu. A vida na Terra
apareceu algumas semanas depois, mas só no início de dezembro
vemos seres multicelulares. O longo domínio dos dinossauros
durou três semanas. No último dia do ano, quando os dinossauros
estão extintos, os mamíferos passam a dominar o cenário. Pouco
depois das nove horas da noite, surgem os primeiros humanos.
Faltando alguns minutos para a meia-noite, o homem
anatomicamente moderno inicia o êxodo, deixando a África para
conquistar o mundo. No último minuto do ano, a cultura emerge,
com as primeiras manifestações artísticas conhecidas. Os
primeiros assentamentos surgem faltando 30 segundos para o fim
do ano. Apenas 1,2 segundos separam o presente da chegada dos
europeus à América. Essa escala de tempo foi popularizada pelo
astrofísico estadunidense Carl Sagan, autor da histórica série
“Cosmos” e de vários livros, como “Os Dragões do Éden”.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18385338
257
11
Detecção
258
observatórios de raios cósmicos na Argentina, Antártida, EUA,
China, Japão e Itália.
259
CERN & LHC
260
anéis de colisão foi utilizado: dois aceleradores circulares e
paralelos, com 300 m de diâmetro, acelerando feixes de prótons em
sentidos opostos. Os detectores para os experimentos foram
instalados onde os dois anéis se cruzam.
261
Ainda com o ISR em funcionamento, o CERN iniciou um projeto
extremamente audacioso: um colisor de elétrons e pósitrons, o LEP
(Large Electron-Positron collider), com 27 km de extensão. O
novo acelerador deveria ser tão extenso porque elétrons são muito
leves e perdem muita energia quando percorrem trajetórias
circulares. Para que os feixes do LEP atingissem a energia
necessária, seria preciso construir um anel com uma curvatura
muito suave. A primeira colisão elétron-pósitron ocorreu em 1989.
O LHC
262
solo, o que implica uma variação de 1 mm na circunferência do
acelerador, o suficiente para alterar a energia do feixe.
263
E, provavelmente, é também o lugar mais vazio. O vácuo no
interior do acelerador é maior que no espaço sideral.
264
As cavidades ressonantes são estruturas metálicas ocas, que
funcionam no regime de supercondutividade. No interior há um
campo elétrico que acelera os prótons. Esse campo oscila como
uma onda, que é sincronizada com a passagem das nuvens. Quando
os prótons passam pela cavidade, sempre recebem um impulso que
aumenta sua energia, como um surfista pegando uma onda.
265
É uma prática comum nos grandes laboratórios, como o CERN e o
Fermilab, ter dois experimentos diferentes com o mesmo objetivo.
Caso um deles faça uma descoberta, ela deve ser feita no outro
também. Foi assim com o Higgs, cuja descoberta ocorreu em 2012,
feita e anunciada com pompa pelos dois experimentos, em uma
sessão pública histórica.
266
O quarto experimento é o LHCb, do qual tenho orgulho de
participar. Dos quatro experimentos do LHC, o LHCb é o que
concentra a maior participação de grupos brasileiros. O “b” do
LHCb representa o quark b. Os objetivos principais do experimento
são estudar a origem da assimetria entre matéria e antimatéria no
Universo, assim como procurar evidências de uma Física além do
MP, assuntos do próximo capítulo. Isso é feito analisando
decaimentos de hádrons contendo os quarks b e c.
267
O LHCb opera no regime de alta intensidade: a taxa de produção
dos quarks b e c é muito elevada, mesmo cobrindo apenas metade
das colisões. Ao produzir muitos hádrons com quarks b e c,
processos raros, que são os mais promissores, têm maior chance de
serem observados. Ao longo do tempo, no entanto, o LHCb se
mostrou um experimento tão versátil que diversos outros aspectos
da Física de Partículas podem ser estudados.
Detectores
268
volume contendo alguma substância, sólida, líquida ou gasosa,
com que a partícula interage. O corpo do detector é acoplado a um
mecanismo que capta o que é produzido nessa interação. Em geral,
o resultado da interação se traduz, direta ou indiretamente em
correntes elétricas.
Ionização
Os experimentos modernos utilizam uma combinação de
diferentes tipos de detectores, específicos para cada tipo de medida,
assim como para cada tipo de partícula. O funcionamento da
269
maioria dos detectores é baseado na interação eletromagnética
entre fótons ou partículas com carga elétrica e a substância ativa de
que é feito o detector.
270
interações, mas sempre com um elétron atômico de cada vez.
Fótons são trocados entre a partícula e os elétrons atômicos.
Dependendo da energia que recebem, os elétrons podem ser
ejetados dos átomos (ionização) ou simplesmente pular de uma
órbita para outra com maior energia (excitação atômica).
271
Conceitualmente, não há muita diferença entre o primeiro
contador Geiger, do início do século passado, e o mais moderno
detector de estado sólido usado nos experimentos do LHC. Ambos
contêm um volume com uma substância com que a partícula
incidente vai interagir, provocando ionização. O volume pode ser
preenchido com um gás, ou pode ser um pixel feito de um material
semicondutor.
272
interação primária entre os feixes, ou entre o feixe e o alvo. Nessas
regiões, as trajetórias são muito próximas uma das outras, e um
distingui-las torna-se um desafio.
273
que permite uma separação até 100 vezes menor. Por isso os
detectores de silício têm uma resolução espacial muito melhor.
274
Como medir intervalos de tempo
275
uma sequência de placas metálicas ligadas à alta voltagem, gerando
uma cascata de elétrons secundários.
276
de um segundo detector, como na ilustração abaixo. A distância L
entre os dois detectores pode ser medida com alta precisão. Com o
intervalo de tempo medido pela TDC, podemos determinar a
velocidade da partícula.
trajetórias e momento
277
Embora a ideia seja simples, na prática não é bem assim. Em uma
colisão entre dois prótons no LHC, centenas de partículas podem
ser criadas. A maioria são partículas carregadas, e todas vão deixar
registro nos detectores de posição. Em cada módulo há muitos
registros, o que pode tornar a tarefa de “ligar os pontos” bastante
complexa. A reconstituição das trajetórias a partir desses registros
requer algoritmos sofisticados.
278
Outra grandeza fundamental é o momento linear (produto da massa
da partícula pela sua velocidade), ou simplesmente momento.
Campos magnéticos são usados para medir o momento das
partículas carregadas. A trajetória das partículas é desviada pela
força magnética. Medindo o ângulo de desvio é possível determinar
o momento linear. Os experimentos usam eletroímãs para gerar
campos magnéticos, e dois conjuntos de detectores de posição, um
imediatamente antes e outro imediatamente depois do eletroímã,
possibilitam a medida do ângulo de desvio da trajetória.
279
convencionais. Esse é o tipo de eletroímã utilizado no experimento
LHCb.
280
um campo magnético uniforme (intensidade e direção constantes)
em todo o miolo dos detectores. A direção do campo magnético é
a mesma do feixe, e isso faz com que as trajetórias sejam curvas
em forma de hélice. Medindo a curvatura das trajetórias,
determina-se o momento das partículas.
281
técnica bastante comum utiliza a radiação Čerenkov. Esse
fenômeno foi descoberto em 1934 pelo russo Pavel Čerenkov, mas
a explicação teórica só viria três anos depois, dada por dois colegas
de Čerenkov, Igor Tamm e Ilya Frank. Os três dividiram o Prêmio
Nobel de 1958.
282
A radiação Čerenkov é uma luz de coloração azulada. Sua origem
é a reação coletiva dos átomos do meio à passagem de partículas
carregadas que se propagam mais rapidamente que a luz naquele
meio. É comum observá-la nos reatores nucleares que são
refrigerados a água.
283
Copyright CERN.
284
Como medir energia
285
Os calorímetros eletromagnéticos são empregados para medir a
energia de fótons e elétrons. Os hadrônicos são usados para os
demais tipos de partículas (exceto múons e neutrinos). Os
calorímetros eletromagnéticos são menores que os hadrônicos, pois
fótons e elétrons são absorvidos mais facilmente do que píons e
prótons. Quando atravessam os calorímetros eletromagnéticos, os
hádrons depositam apenas uma pequena parte da sua energia. Por
isso os calorímetros eletromagnéticos são posicionados sempre
antes dos hadrônicos.
Aquisição de dados
286
Essa é uma forma artesanal de coletar dados, claramente ineficiente
para selecionar os eventos interessantes. Nos experimentos
modernos, um sistema como o empregado por Anderson seria
impraticável. Nos detectores do LHC, por exemplo, os dois feixes
se cruzam 40 milhões de vezes a cada segundo. A probabilidade de
um próton de um dos feixes colidir com um próton do outro feixe
é muito pequena, mas como o número de prótons em cada nuvem
é gigantesco (aproximadamente 1011), ocorrem cerca de um bilhão
de colisões por segundo. A capacidade de armazenar dados, no
entanto, é limitada: “apenas” alguns milhões de colisões podem ser
registrados a cada segundo nos computadores dos experimentos.
287
Uma vez ligados, os detectores nunca deixam de produzir sinais.
Sempre que uma partícula atravessa um detector de posição, por
exemplo, ela vai causar ionização e isso resultará em um sinal, ou
seja uma pequena corrente elétrica que precisa ser tratada pela
eletrônica. Mas se os dispositivos eletrônicos acoplados aos
detectores estiverem com a porta fechada, os sinais simplesmente
se perdem. O que o trigger faz é habilitar ou desabilitar o sistema
eletrônico que recebe, faz o tratamento e envia os sinais de cada
detector aos computadores, onde as informações sobre cada colisão
são gravadas.
288
Em uma colisão típica, mais de 100 partículas são produzidas. Elas
atravessam os diversos módulos e sempre deixam os sinais de sua
passagem. Se o trigger decide que o evento é promissor, as
informações dos diversos módulos são enviadas ao sistema de
aquisição de dados.
289
Copyright CERN, adaptado com permissão do trabalho de David Barney.
290
Copyright CERN
291
Copyright CERN
292
12
Enigmas
293
quente, ocorreu há 13,8 bilhões de anos, segundo as estimativas
mais recentes.
294
À medida que o Universo se expandia, a temperatura diminuía e as
colisões se tornavam menos frequentes e menos energéticas. Em
um dado momento, os quarks se combinaram para formar prótons
e nêutrons, estes se combinaram para formar núcleos, que, por sua
vez, se combinaram com elétrons para formar átomos. Quando os
átomos se formaram, a luz pôde se propagar livremente e o
Universo se tornou transparente. A partir de então, a dinâmica do
Universo passou a ser regida pela gravidade.
295
e antimatéria se aniquilariam ao longo dessas fronteiras, e isso
deixaria um sinal muito característico (fótons de alta energia). Tal
sinal nunca foi observado. Apesar de a matéria e a antimatéria
serem criadas aos pares, podemos afirmar com segurança que
vivemos num Universo constituído apenas por matéria. E isso leva
a um outro grande enigma da Física: o que aconteceu com a
antimatéria?
Essa fração muito pequena nos diz que bastaria apenas um pequeno
excesso de quarks sobre antiquarks no Universo primordial para
gerar o Universo atual constituído apenas por matéria. É bom
lembrar que quando falo sobre o “início” do Universo, o BigB,
estou me referindo ao momento em que a temperatura era 1015 oC.
Não temos certeza sobre o que se passou antes disso, já que ainda
não temos meios de testar as diferentes teorias a respeito.
296
Poderíamos explicar o fato de que vivemos em um mundo
dominado pela matéria e não pela antimatéria admitindo que já no
BigB haveria um pequeno excesso de quarks sobre antiquarks. Não
saberíamos explicar como teria surgido esse suposto excesso, mas
essa seria uma condição inicial muito especial. A maioria dos
físicos suspeita dessa hipótese. A principal razão é que seria
necessário um ajuste muito fino dessa condição inicial. O excesso
de quarks sobre antiquarks no BigB deveria ser um número
caprichosamente escolhido pela Natureza. Isso seria muito pouco
provável, embora não possa ser descartado.
297
Violação de CP
298
Outra transformação discreta é a paridade, P. É uma transformação
que inverte as coordenadas espaciais. Ela pode ser feita em duas
etapas: uma reflexão no espelho, seguida de uma rotação de 180º.
299
depois o quark charm seria descoberto, James Cronin e Val Fitch
estudavam decaimentos de mésons K0, também chamados káons
neutros. Por ser uma partícula neutra, o méson K0 não causa
ionização, e por isso não deixa rastro nos detectores de posição.
Mas após percorrer uma certa distância, o káon decai em dois píons
carregados, e estes sim são detectados. Combinando as trajetórias
dos píons, podemos determinar a posição onde houve o decaimento
do K0.
300
No feixe, seja ele inicialmente composto por K0 ou por anti-K0, a
oscilação K0/anti-K0 ocorre de duas maneiras. Dito de outra forma,
as partículas do feixe se propagam em estados quânticos distintos,
duas combinações K0/anti-K0 possíveis, e elas têm propriedades
bem diferentes. As partículas que estão em um dos estados decaem
muito mais rápido do que as do outro estado. O estado quântico
com tempo de vida maior é chamado de KL (“L” de longo) e o
outro, KS (“S” do inglês short). O feixe de káons neutros pode ser
visto tanto como uma mistura K0/anti-K0 como uma mistura de
KL/KS. Ambas são equivalentes.
301
na nossa própria existência. Cronin e Fitch receberam o Prêmio
Nobel em 1980 por essa descoberta.
302
caso, podemos ter estados finais sem bárions. No entanto, se em
uma colisão no Tevatron um bárion for produzido, certamente
haverá um antibárion dentre as demais partículas.
303
E aqui retornamos à descoberta de Cronin e Fitch. Sua importância
fica mais clara agora: nossa própria existência depende do
fenômeno da violação de CP.
304
certeza, outros tipos de interação ainda desconhecidos, em que a
violação de CP ocorra com muito mais intensidade.
305
muito raras, e por isso essa estratégia requer quantidades absurdas
de dados. Essa é a abordagem do experimento LHCb.
306
partículas. Em ambos os casos, a estratégia é confrontar os
resultados obtidos com as previsões feitas pelo MP.
307
novas partículas sejam tão raros que precisemos acumular ainda
mais dados para que observá-los.
Anomalias
308
um par elétron-pósitron seria produzido nessa reação com
exatamente a mesma probabilidade de um par múon-antimúon.
309
fosse muito grande, os valores de RK medidos formariam uma
distribuição normal, mais conhecida como Gaussiana.
310
for maior que cinco desvios padrão, o resultado é referido como
“descoberta”. O “limiar 5s” significa uma probabilidade de
99,997% de um resultado experimental ser diferente do previsto,
ou três chances em 100.000 tentativas.
g–2
311
tentativas de construir uma teoria em que o elétron é considerado
uma minúscula esfera carregada que gira furiosamente sobre seu
eixo. Mas ainda assim, a analogia é útil e ajuda a entender a Física
envolvida.
312
O fator g para elétrons é medido com grande precisão:
2,002.319.304.362.56(35). O número entre parêntesis é a incerteza
no valor das duas últimas casas decimais, ou seja, 35 partes em 10
trilhões. Equivale a medir o comprimento de um campo de futebol
com uma incerteza inferior a um fio de cabelo.
313
pequena, 0,000.000.002.51, ou 251 partes em 10 bilhões. Não
deixa de ser assombroso que se possa realizar uma medida tão
precisa, e que um cálculo teórico chegue tão perto do resultado
experimental. Mas a diferença, apesar de pequena, é significativa:
um efeito de 4,2s, bem perto do limiar 5s. Mais dados estão sendo
analisados no momento e em breve esperamos que a incerteza no
valor experimental se reduza ainda mais. Então saberemos ao certo
se estaremos diante da primeira falha comprovada do MP.
Reidar Hahn/Fermilab
314
partículas teriam uma massa muito grande, o que produziria um
efeito tão sutil.
315
13
316
fotográficas aos telescópios, no final do século XIX, foram
observadas áreas escuras no céu, vizinhas a áreas com grande
densidade de estrelas. Iniciou-se então um debate sobre a origem
dessas áreas escuras. Seria simplesmente espaço vazio, ou haveria
no caminho até nós algum tipo de matéria que absorveria a luz das
estrelas? Não poderia haver estrelas extintas ou com brilho muito
fraco para serem observadas?
317
cinética dos gases, Kelvin estimou como seria a distribuição de
velocidades das estrelas visíveis. A presença de objetos invisíveis
alteraria a distribuição de velocidades das estrelas. A grande
dificuldade era a estimativa da massa da Via Láctea, mas em
princípio, desvios grandes dessa previsão indicariam a existência
de objetos escuros.
318
De acordo com a Mecânica Newtoniana, a maior parte da massa de
uma galáxia espiral, como a Via Láctea, estaria concentrada na
região central, e a velocidade orbital das estrelas e do gás
interestelar deveria diminuir à medida que a distância ao centro
galáctico aumenta. Estudando a galáxia de Andrômeda, Rubin e
Ford observaram algo bem diferente: ao contrário do esperado, a
velocidade de rotação aumenta nas bordas da galáxia.
319
permite estimar a proporção de matéria escura no Universo, mesmo
sem saber quase nada sobre a sua natureza. O aspecto do mapa só
é reproduzido quando a quantidade correta de matéria escura é
incluída nas simulações.
A matéria escura pode, em princípio, ser composta não por um, mas
por diversos componentes. No momento, sabemos o que a matéria
escura não é, e assim vamos eliminando as possibilidades. Por ser
invisível, e até o momento detectável apenas pela gravidade,
sabemos que ela não é feita de prótons e nêutrons. Isso não elimina
completamente a hipótese de que estrelas anãs e outros objetos que
320
não emitem luz façam parte da matéria escura, mas seriam uma
fração muito pequena.
321
Neutrinos
Os neutrinos são partículas fascinantes. São como fantasmas,
quase indetectáveis. Não têm carga elétrica e só muito raramente
interagem com outras partículas. Como todas as demais, sofrem
também o efeito da gravidade. Existem neutrinos em abundância
no Universo, tanto os primordiais, que viajaram ilesos desde o
início dos tempos, como também os que são produzidos em
profusão no interior das estrelas.
322
macroscópica: as oscilações de sabor. É um efeito muito sutil, e
por isso a sua observação foi um grande feito. Segundo o MP, as
oscilações de sabor não deveriam existir.
323
termos de massa. Estados de sabor e estados de massa são formas
diferentes de tratar as mesmas partículas: os neutrinos.
324
Na Física de partículas, usamos “mão direita” e “mão esquerda”
para diferenciar os dois estados de quiralidade. Não há muito como
fazer analogias. É uma propriedade que afeta a interação entre as
partículas elementares, produzindo efeitos diferentes para os
estados de “mão direita” e de “mão esquerda”.
325
Se os neutrinos são partículas com quiralidade “mão esquerda”, os
antineutrinos são partículas de “mão direita”. Mas a descoberta da
massa dos neutrinos leva imediatamente a novas perguntas. Que
mecanismo(s) gera a massa dos neutrinos? Se eles têm massa, não
deveria haver também neutrinos de “mão direita”? O que, de fato,
diferencia neutrinos de antineutrinos? São mesmo partículas
diferentes? São perguntas importantes para as quais ainda não
temos respostas, mas sabemos que elas nos levarão a novos
fenômenos, não previstos pelo MP.
Energia escura
326
um momento em que as reações nucleares desaceleram, a estrela
esfria e o equilíbrio se rompe.
O destino de uma estrela cuja massa fosse pelo menos três vezes
maior que a do Sol seria bem diferente. Nesse caso, pressão da
gravidade seria tão grande que o superaria o efeito quântico que
impede as anãs brancas de implodir. Sem resistência para deter o
colapso, a estrela desabaria sobre si mesma. Durante o colapso, a
temperatura aumentaria tanto e tão rapidamente que provocaria
uma explosão cataclísmica: uma supernova. A energia expelida
para o espaço seria tanta que a supernova brilharia tanto quanto a
327
própria galáxia. Ela apareceria no céu com um brilho inicialmente
muito intenso, que duraria algumas semanas, e depois diminuiria
gradativamente ao longo de alguns meses.
328
velocidades de afastamento pequenas. A lei de Hubble pode então
ser escrita como uma relação entre o valor de z, representando a
velocidade de afastamento, e a distância.
329
A gravidade governa a dinâmica do Universo. A gravidade é um
efeito atrativo, e isso deveria reduzir a velocidade de expansão do
Universo de tal forma que, a partir de determinado momento, a
expansão se reverteria e o Universo passaria a se contrair. O
redshift de galáxias muito distantes indicaria uma diminuição da
velocidade de afastamento.
330
A descoberta da aceleração da expansão do Universo pode ser
representada por esse gráfico. A lei de Hubble estabelece a
relação linear entre a velocidade de afastamento de uma galáxia e
sua distância em relação à Terra. Essa é a linha reta em azul. Cada
círculo representa uma galáxia observada. Até recentemente as
observações astronômicas se limitavam a galáxias relativamente
próximas. A supernovas 1a possibilitaram estudar a relação entre
distância e velocidade em escalas maiores. O resultado mostra que
a lei de Hubble é válida em escalas menores, mas em escalas
maiores a velocidade de expansão do Universo cresce (linha
vermelha). O que se esperava é uma diminuição da velocidade
devida à ação da gravidade (linha verde).
É possível que a RG, apesar de ser tão bem testada e tão bem-
sucedida, não descreva corretamente a gravidade em escalas
cosmológicas. Não seria a primeira vez que uma teoria sólida se
revela uma aproximação quando o nosso poder de observação
aumenta.
331
antipartículas são continuamente criados e destruídos. No vácuo
quântico, os diversos campos que preenchem o Universo vibram
no seu estado fundamental, o de menor energia (que não é nula!).
332
Fotografia do Telescópio Espacial Hubble, visto da Estação
Espacial Internacional.
333
Epílogo
Ao longo dos últimos 120 anos aprendemos muito sobre o
microcosmo, sobre o Universo, a origem da vida, e sobre nós
mesmos e nossas origens. Desvendamos sucessivas camadas na
estrutura da matéria. Sabemos hoje que toda a matéria visível no
Universo é feita dos mesmos constituintes presentes aqui na Terra.
Sem termos ido além do entorno do nosso planeta, descobrimos o
nosso lugar na vastidão do Universo.
334
Newton e Maxwell: a radiatividade, o corpo negro, o efeito
fotoelétrico, os espectros atômicos, entre outros. Foram necessários
25 anos para que as novas ideias, introduzidas para explicar esses
fenômenos, se amalgamassem e fossem sintetizadas em uma teoria
matemática, cujos desdobramentos são explorados até os dias de
hoje.
335
Bibliografia comentada
336
Stephen Hawking é um renomado autor de vários livros sobre a
Relatividade, Cosmologia, Gravitação Quântica e buracos negros.
Em particular:
337
o “The mystery of the missing antimatter”, de Hellen Quinn e
Yossi Nir (Princeton).
https://www.sprace.org.br/AventuraDasParticulas/
https://en.wikipedia.org/wiki
https://www.nasa.gov/
https://www.esa.int/
https://home.cern/
https://www.fnal.gov/
https://www.quantamagazine.org/
338