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Curso: Direito

Disciplina: Antropologia e Sociologia


Jurídica Professor: Pedro Neto
Data: 02/12/20
Aluno: LIDIANE DAS GRAÇAS VIANA BORGES
Semestre: 1° - 122 - Direito

ATIVIDADE AVALIATIVA VI

ATIVIDADE AVALIATIVA PARA COMPOSIÇÃO DA NOTA OFICIAL DO 2º BIMESTRE


ORIENTAÇÃO

- Trata-se de atividade individual para auxiliar no desenvolvimento e compreensão do


conteúdo, que podem ser feitas de forma manuscrita ou digitada.

- A data da entrega desta atividade é até a data de 05/12/20.

- Cada acadêmico deverá postar a atividade no portal do aluno para correção.

QUESTÕES
Utilizando como base a obra MANUAL DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA, responda:

1. Qual é o OBJETIVO e o OBJETO DE ESTUDO da Antropologia Jurídica.


O objetivo da Antropologia Jurídica é o estudo das categorias que definem o saber
juridico, e buscam entender os seus mecanismos de produção, consumo, abrangendo desde a
descrição das normas, elaboração das leis, análises dos sistemas juridicos, pesquisas do
desvio das normas legais, perícia, mediação e resolução de conflitos além da correção e
readaptação dos desviantes dos parâmetros normativos aceitos pela sociedade. Já o objeto é
identificar, classificar e analisar as formas de como se organiza o "campo" jurídico. Se ocupa
das regras executáveis, assim, o aspecto legal ou normativo das sociedades, abrangendo
também a questão da justiça, como elementos que interagem na organização social e cultura.

Utilizando como base a obra MANUAL DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA, discorra sobre:

2. TEORIA PURA DO DIREITO DE HANS KELSEN

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Hans Kelsen é conhecido como um dos maiores juristas conhecidos do século XX.
Produziu muitas obras, porem a principal e mais discutida até hoje é a Teoria Pura do Direito,
publicada pela primeira vez em 1934, com idéias revolucionarias e muito questionadas. Hans
Kelsen dedicou uma grande parte de sua vida a discussão da Teoria Pura do Direito. O
normativismo jurídico Kelsiano consiste basicamente na defesa da construção de parâmetros
metodológicos próprios para a ciência do Direito, expressos na denominada Teoria Pura do
Direito, que não fossem mera importação das ciências sociais e humanas do século XIX,
tampouco a reprodução dos paradigmas teóricos próprios das ciências naturais e exatas.

Kelsen priorizava o aspecto estrutural do ordenamento jurídico e a correlação entre


suas normas, independentemente de concepções ideológicas e de regimes políticos. Pregava
a pureza metodológica de uma ciência Pura do direito.

Na ciência Pura do direito a análise do direito leva em consideração apenas os seus


aspectos normativos, descontaminando-o em relação aos aspectos políticos, sociológicos,
histórico que eram a base do pensamento das escolas factualistas do final do século XIX, início
do século XX.

O pensamento jurídico de Hans Kelsen representou um marco importantíssimo na


Teoria Pura do Direito, à medida que ele foi capaz de conceber uma metodologia própria para
a ciência do direito, centrada, sobretudo, na montagem de uma estrutura de ordenamento
jurídico aplicável a diferentes sistemas jurídicos sendo difícil pensar na organização das
normas jurídicas do Estado sem fazer referência ao pensamento de Kelsen.

3. SISTEMA DE NORMAS.

A norma fundamental é algo hipotético, é uma norma suposta. Apenas uma ficção que
sustenta o fundamento de validade da ordem jurídica, evitando uma regressão ao infinito ou
a discussão política sobre a legitimidade do poder originário.

A norma é válida se for editada por autoridade competente e possuir um mínimo de


eficácia, possibilitando ao jurista organizar o sistema dinâmico de normas relacionando-as a
partir de regras de competência reguladoras da produção normativa. Portanto uma norma
sempre se baseia em outra que lhe é superior. Nessa estrutura uma norma é válida porque
está em conformidade com uma norma superior na qual se ela se fundamenta.

Desta maneira, o direito, é uma ordem coativa, um sistema de normas que


prescrevem sanções.

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4. NORMA E PROPOSIÇÃO.

A norma jurídica é o produto da autoridade, do legislador, que põe o direito. Essa


norma jurídica é sempre prescritiva, podendo ser um comando, uma atribuição ou até uma
permissão concedida para tal conduta, posta pela autoridade competente. A norma jurídica
sempre determina como uma conduta deve ser, e pode definir um é para expor que “quem
cometer tal ato (ou seja, ter uma conduta que é X), deve ser penalizado de tal maneira”. A
esfera da norma é sempre um dever-ser prescritivo.

Por outro lado, uma proposição jurídica é um juízo hipotético que não é posto, mas
sim produção do conhecimento do direito, seu objeto de estudo. A proposição jurídica é
determinada pela ciência jurídica, que estuda para conhecer as normas jurídicas positivas e
então descrevê-las em enunciados (também podem ser “tradução” da norma). Um enunciado
pode ser normativo, uma vez que descreve uma norma jurídica que institui um dever-ser,
porém jamais prescritivo, que é uma característica apenas da norma jurídica.

A razão lógica da ordem jurídica implica enxergar o direito como sistema unitário e
hierárquico de normas, provocando algumas separações exigindo que o jurista parta do
pressuposto segundo o qual as normas originam-se de um legislador racional, possuem vida
própria e são capazes de condicionar comportamentos sem serem condicionadas por eles.

5. NORMA E INTERPRETAÇÃO.

A teoria pura entende que de uma mesma norma podem-se extrair diversos
significados. A interpretação da norma jurídica gera sempre uma margem de indeterminação
pois são genéricas, não circunscrevem exatamente os objetos a que se referem permitindo
que surjam interpretações divergentes. Diante disto as normas estão expressas em linguagem
natural provocando variações de significados, distingue-se a interpretação como autentica e
não autentica: autêntica, aquela que é interpretada pelo órgão com competência para aplicá-
la e não autêntica, a interpretação é realizada por pessoas estranhas ao órgão jurídico, quais
sejam as pessoas em geral e a ciência jurídica. Nesse sentido a sentença passa a integrar o
conjunto de normas jurídicas que constituem o objeto da ciência jurídica, onde incide o
princípio da pureza implicando neutralidade do cientista.

O cientista do direito, aquele que tem o conhecimento, deve ser neutro, pois a norma
não pode ser qualificada.

Portanto no entendimento da teoria pura, o jurista cuida de proposições normativas e


não de fatos. A correlação entre fato e norma permite entender o direito como sistema
aberto, que depende de outros que o incluam e compreendem.
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6. MODELO TEÓRICO EMERGENTE.

O saber jurídico influenciado pelo positivismo se tornou um saber dogmático. As


normas são mantidas como dogmas irrefutáveis, assumidas como insubstituíveis e
inquestionáveis. Assim constitui uma espécie de limitação, uma prisão que tolhe a liberdade
do jurista no trato com a experiência normativa. Logo conduz exageros, motivo pelo qual há
quem faça do estudo do direito um estudo voltado para um conhecimento cego para a
realidade. Com resultado a grande parte das faculdades de direito passam a formar
profissionais que não questionam o início, e com isso, as normas são consideradas
convenientes, adequadas justas e irrepreensíveis.

7. ZETÉTICA JURÍDICA.

A zetética jurídica tem como ponto principal a investigação dos problemas jurídicos
tendo como ponto de partida uma preocupação cognitiva, objetivando a construção de um
conhecimento novo. A dogmática nos fornece os conceitos e a zetética nos convida a
pensar o Direito a partir desses conceitos, tais conceitos cooperam na construção de uma
abordagem funcionalista do Direito.

Para a Zetética nada é estático, tudo fica na dúvida, mesmo os conceitos e os


princípios ou proposições podem ser submetidas a questionamentos. Assim, cada
afirmativa constitui a base de novas pesquisas. Nesse sentido a Zetética tem uma função
especulativa ou investigadora, a exemplo da Filosofia, da Sociologia ou da Metodologia.

A investigação zetética não exerce um papel tranquilizador, ela fornece as respostas


porem ela mais problematiza, assim ocorre com os problemas enunciados de forma mais
genérica, e também com temas ou problemas enunciados de forma especifica, porque
referentes a um conjunto de situações aparentemente menos abrangentes e complexas.

8. ZETÉTICA E DOGMÁTICA.

Para dogmática, as normas são carregadas de valores e são formuladas para agir como
ponto de partida, contudo, essas normas tem o caráter ambígua, e necessitam de
interpretação, e ainda, para poder interpretar essas normas existem regras que por sua vez
também produz um ambiente, de certa forma, algo que não é concreto, assim, produzindo
uma situação que possui um alto grau de generalização.

Entretanto, para interpretar uma norma, o jurista busca soluções uniformizada,


racional e universal, considerando que é possível obter mais de uma interpretação de uma
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norma, dependendo do princípio da inegabilidade dos pontos de partida. Diante disso, a
decisão ou resposta a essa norma obtém caráter mais abrangente, e nesse sentido, a
dogmática jurídica é a interpretação vinculativa da norma, que amplia o ato interpretativo.

Observa-se, que do ponto de vista de que a norma deva ser interpretada de forma
certa, o jurista, assim a faz através de incertezas. E essas incertezas são as mesmas que a
sociedade já a tem uma interpretação, como por exemplo, se é possível o reconhecimento da
união estável entre pessoas do mesmo sexo, e o Poder Judiciário, de reconhecer o direito do
parceiro sobrevivente de participar do espólio do parceiro falecido, e cabe ao analista que a
sociedade já possui a incerteza da situação e o mesmo deve se questionar sobre o que é
família? O que é união estável? Se há a possibilidade de união estável entre pessoas do
mesmo sexo? E dentre outros aspectos. Assim o jurista tem que optar em interpretar a norma
de maneira pacificadora e de modo que a torne decidíveis e resolva conflitos. Para a Zetética,
esses temas anteriormente eram considerados como fatos ou problemas, os
questionamentos eram sobre as experiências culturais e históricas. Diante disso podemos
dizer que um fato constitui do ponto de partida de uma construção com posto de vista de um
conflito, já na zetética o ponto de vista é a noção do conflito de uma verdade objetiva.

Diante da complexidade do mundo contemporâneo, mesmo um jurista com todo


saber das questões dogmáticas ou das questões zetética, é obvio que para o estudo do direito
não basta apenas ser especialista nessas questões, mas também nos aspectos,
antropológicos, econômicos, sociólogos, políticos, filosóficos, éticos, históricos, etc.

9. ESTRUTURALISMO.

9.1. Introdução.

Como o nome já sugere, o estruturalismo significa estrutura de um sistema, ou seja,


um processo de pesquisa ou metodologia. No século XX que surgiu essa concepção de
linguagem que gerou bases conceituais. A ideia surgiu desde o estruturalismo antropológico,
e difundiu com outras áreas das ciências humanas e sociais, incluindo o direito. Assim,
estruturalismo são regras de disposição sistemático de elementos.

9.1.1. Estrutura: significado restrito.

Na forma restrita, é a utilização do termo na linguagem comum, assim a estrutura é


um sistema organizado, com atividades ou de órgãos que mantém a organização e lhe
permite realizar seus objetivos, por exemplo uma organização de uma sociedade empresária
com os seus órgãos de poder hierarquicamente ordenados.

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9.1.2. Estrutura: significado genérico.

Na forma genérico, a estrutura tem a forma de generalíssimo, equivalente a uma


forma geral, ampla, não específica, no sentido de que exista mais de uma relação para uma
única estrutura, e essa estrutura vale para ambas.

Marilena Chauí (1980: VI), diz que possa ser visto a estrutura nas relações biológicas e
matemáticas, onde, no sentido biológico significa um conjunto de elementos manifestam
solidariamente entre si e dependência mutua, já na matemática, é um sistema de relações
que descrevam o funcionamento de um fenômeno representado por um modelo. Entretanto
somente esses dois termos não são suficientes para determinar um conceito.

9.2. Influência de Saussure.

Para Saussure a língua é um sistema cujas partes todas devem ser consideradas em
sua solidariedade de sincrônica. De acordo com Chauí (1980): a linguagem é constituída pela
distinção entre língua e fala; a língua é totalmente dotada de sentido na qual o todo confere
sentido ás partes; a língua é um sistema convencional, cujas partes podem e devem ser
consideradas em sua solidariedade sincrônica; a língua é inconsciente, e as pessoas falam sem
ter consciência da sua estrutura.

Assim, considerando um termo simplesmente como a união de certo som com certo
conceito, e defini-lo assim seria isolá-lo do sistema de que faz parte, e seria crer que se pode
começar pelos termos e construir o sistema somando-os.

Estabelecidas as bases conceituais, a exigência geral, o estruturalismo não só tende a


interpretar um campo específico de indagação em termos de sistema, como também a
mostrar que os diversos sistemas específicos, verificados em diferentes campos.

9.3. Lévis-Strauss e o Estruturalismo.

Para Levís-Strauss, estrutura é um sistema de elementos tal que uma modificação


qualquer de um elemento implica uma modificação de todos os outros, considerando-a como
um modelo conceitual que deve dar conta dos fatos observados e permitir que se preveja de
que modo reagirá o conjunto no caso da modificação de um dos elementos. Porém, separa-se
do formalismo em virtude das atitudes muitos diferentes que as duas escolas adotam em
relação ao concreto.

Chuí (1980: X), diz que esses termos, quando isolados da estrutura alimentar que os
determina, aparentemente, referem-se à mesma realidade; o mesmo, contudo, não ocorre
quando são considerados no interior das distintas estruturas.
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9.3.1. Estrutura e consciência.

A noção de estrutura social, para Lévi-Strauss, não se refere propriamente á realidade


empírica, mas aos modelos construídos segundo essa realidade. Os modelos podem ser
conscientes ou inconscientes. Assim, a análise estrutural se choca com uma situação
paradoxal, bem conhecida pelo linguista: quanto mais nítida a estrutura aparente, mais difícil
torna-se a aprender a estrutura profunda.

Entretanto, observando as sociedades simples, e sem reduzir a sociedade ou a cultura


a língua, é possível estabelecer formas de comunicação, que são, ao mesmo tempo, formas
de trocas matrimoniais, econômicas e linguísticas, entre as quais existem relações manifestas.

9.3.2. Sistemas de culturas.

A raça não determina a cultura porque não existem aptidões raciais inatas, tendo em
vista que há muito mais culturas humanas do que raças humanas. A denominação de cultura
é todo conjunto etnográfico que, do ponto de vista da investigação, apresenta, com relação a
outros afastamentos significativos.

9.3.3. Organização dualista.

A divisão do grupo social (tribo, clâ ou aldeia), em duas metades cujos membros
mantêm, uns com os outros, relações que podem ir da colaboração mais íntima á hostilidade
latente, e associando geralmente ambos os tipos de comportamento. De um lado, que as
funções atribuídas a organização dualista não coincidem, e por outro lado, que a história de
cada grupo social mostra que a divisão em metades procede das origens mais diversas.

Leví-Strauss (2003:29), na maioria dos povos primitivos, mesmo quando se encontram


interpretações, estas têm sempre o caráter de racionalizações ou elaborações secundárias. As
razões inconscientes pelas quais se pratica um costume ou uma crença estão bastante
afastadas das razões que se invoca para justifica-lo. Assim, a atividade inconsciente do
espírito consiste em impor forma a um conteúdo, e se as formas são fundamentalmente as
mesmas para todos os espíritos, antigos e modernos, primitivos e civilizados.

No caso da organização dualista, esses elementos, seguem a exigência da regra, noção


de reciprocidade, e caráter sintético do dom, e sua finalidade é atingir, além da imagem
consciente e sempre diferente que os homens formam de seu devir, um inventário de
possibilidades inconscientes.

9.4.Estruturalismo e Direito.
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O enfoque estruturalista, porém, aparece mais associado ao positivismo jurídico, e o
repertório é o conjunto dos elementos do sistema jurídico, e a estrutura é o conjunto de
regras que demonstra as relações existente entre os elementos do sistema. O sistema jurídico
é um conjunto de normas jurídicas válidas, dispostas numa estrutura hierarquizada, e norma
jurídica válida é aquela emanada de uma autoridade que possui competência para editar
normas. O sentido de uma norma não está, portanto, somente nos termos que expressam sai
articulação sintática, mas também em sua relação com outras normas do ordenamento.

9.4.1. Estrutura e hierarquia.

A imagem da pirâmide ajuda a compreender essa concepção: no ápice da pirâmide


normativa estariam situadas as normas superiores, tidas como fundamento de validade das
normas superiores, tidas como fundamento de validade das normas imediatamente
inferiores, e assim sucessivamente até a base na qual estariam as normas mais inferiores.
Desse modo, a validade da norma só pode ser julgada por sua relação com outras normas, e
isto é, as normas jurídicas encontram sempre seu fundamento de validade em outras normas
que lhe são superiores.

10. CIÊNCIA JURÍDICA.

10.1. Modelo Teórico Dominante.

Para compreender os motivos desse afastamento, é necessário expor, ainda que de


forma abreviada, os contornos do positivismo jurídico na sua forma mais elaborada. Para isso
estabelece um princípio metodológico, o princípio da pureza, com o qual pretende reduzir a
complexidade do objeto do direito ao afastar da ciência jurídica as ingerências intrusas,
potencialmente perturbadoras, de ordem epistemológica e axiológica. No exercício da sua
atividade, o jurista deve afastar tanto as dimensões axiológicas, que implica proferir juízos de
valor a respeito das normas, como as dimensões epistemológicas, que implicam motivações
especificas de outras ciências, como a antropologia, a sociologia, a economia, a política, a
psicologia etc.

10.1.1. Sistema de Normas.

É uma norma suposta, vale dizer, não é editada por um ato de autoridade, não possui
um conteúdo, é uma exigência lógica, apenas uma ficção que sustenta fundamento de
validade da ordem jurídica, evitando uma regressão ao infinito ou a discussão política sobre a
legitimidade do poder originário. A validade da norma repousa na competência normativa de
seu editor, que é conferida por outra norma e assim, sucessivamente, numa série finita que
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culmina na norma fundamental. O estado se confunde com o direito porque nessa estrutura
ele nada mais é do que o conjunto das normas que estabelece competência e prescreve
sanções de forma organizada.

10.1.2. Sistema de Normas.

A conduta humana possui o significado jurídico que a norma lhe atribui, por esse
motivo, a ciência jurídica é fundamentalmente diferente das outras ciências. A norma é
prescritiva porque resulta de um ato de vontade, e nesse sentido, a norma é válida quando
emana de uma autoridade competente ou inválida em aso contrário. A alta complexidade
social exige das autoridades competentes uma produção contínua e ininterrupta de normas,
de modo que as normas mais parecem peças de uma gigantesco quebra-cabeça desmontado,
cujas peças espalhadas. Exigindo que o jurista parta do pressuposto segundo o qual as
normas advém de um legislador racional, possuem vida própria e são capazes de condicionar
comportamentos sem serem condicionadas por eles.

10.1.3. Norma e interpretação.

A primeira norma posta não determina de modo exaustivo todas as situações, de modo
que sempre resta uma margem de indeterminação. Além disso, as normas são genéricas
(textura aberta), não circunscrevem exatamente os objetos a que se referem e por isso
permitem interpretações divergentes. A autêntica (jurisprudência) é a realizada pelo órgão
jurisdicional, que, no exercício da competência jurídica, decide conflito com base em um ato
de vontade, que pode estar ou não em conformidade com um dos significados oferecidos
pela doutrina.
O cientista do direito (sujeito do conheci- mento) deve ser neutro, porque a norma
(objeto a ser conhecido), em- bora seja tida como um produto da vontade humana, não pode
ser valorada ou qualificada. Na medida em que isso se coloca como problema para o jurista,
surge a necessidade de esclarecer as relações entre fato e norma. A correlação entre fato e
norma permite entender o direito como sistema aberto, dependente de outros que o
abrangem e circunscrevem.

10.2. Modelo Teórico Emergente.

As normas são mantidas como dogmas inatacáveis, são assumi- das como
insubstituíveis e inquestionáveis. O sistema de normas constitui uma espécie de limitação,
uma prisão que tolhe a liberdade do jurista no trato com a experiência normativa. Essas
instituições de ensino passam a formar profissionais que não questionam os pontos de partida,
e, com isso, as normas são consideradas convenientes, adequadas, justas e irrepreensíveis.

10.2.1. Zetética jurídica.


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O enfoque dogmático ou o enfoque zetética. Os dois enfoques não se excluem, estão
correlacionados, mas o predomínio de um deles revela consequências diferentes. O enfoque
dogmático, como visto, não questiona os dogmas (normas). As normas servem, de um lado,
para delimitar o horizonte dos problemas a serem tematizados e decididos, mas, ao mesmo
tempo, ampliam esses horizontes. Nessa perspectiva o investigador preocupa-se em ampliar
as dimensões do fenômeno, sem se limitar aos problemas relativos às decisões dos conflitos.
Mais do que fornecer uma resposta para determinado tema, cuida mais da tarefa de
problematizá-lo. Assim ocorre com os temas ou problemas enunciados de forma mais
genérica, por exemplo, a questão da justiça, da liberdade, da igualdade, do ambiente, da
função social da propriedade, dos direitos humanos e sociais.

10.2.2. Zetética Dogmática.

As normas são um produto abstrato e as regras de interpretação (dogmas que dizem


como devem ser entendidas as normas) são também produtos abstratos. Tem-se, desse modo,
uma dupla abstração, que consiste em isolar normas e regras de seus condicionamentos
zetéticos. O ato interpretativo que acompanha a resposta ou decisão dificilmente reproduz o
sentido imediato da norma; geralmente lhe confere um sentido mais abrangente ou adverso.
A decisão ou resposta, embora possa parecer, não se enclausura totalmente nas normas.

Essas incertezas são justamente aquelas que, na sociedade, foram aparentemente


eliminadas (ou inicialmente delimitadas) pelos dogmas. Por exemplo, diante da incerteza a
respeito de se é possível a união estável entre pessoas do mesmo sexo, e o Poder Judiciário
edita uma decisão reconhecendo o direito do parceiro sobrevivente de participar do espólio
do parceiro falecido, cabe ao saber dogmático retomar a incerteza primitiva, indagando.
podem-se apontar as relações do tema da união homoafetiva (do preconceito, da mudança de
sexo, da institucionalização da tortura, do aborto, da pena de morte etc.) com o direito à vida,
à propriedade, à liberdade de escolha, à igualdade de oportunidades, às condições de inserção
no campo profissional, à dignidade do ser humano etc. Para a zetética, os temas antes anotados,
implicam a questão anterior de como, em nossa sociedade, esses temas antes se constituíram
como fatos ou problemas, ou seja, surgem perguntas sobre as experiências culturais e
históricas que permitiram o surgimento dos próprios temas.

É óbvio que o estudo do direito não se reduz a esse saber. Assim, embora o jurista seja
um especialista em questões dogmáticas, é também, em certa medida, um especialista em
questões zetética, visto que, diante da alta complexidade que o mundo contemporâneo
imprimiu aos problemas jurídicos.

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