É verdade, como já se argumentou, que os “delírios humanistas” de Fanon não se
concretizaram, e a violência, implícita tanto ao colonialismo como às movimentações
sociais que o contrapunham, foi levada - sob o protesto de Fanon - a caminhos infrutíferos46. Também é verdade, como o próprio autor já havia alertado, que estrutura econômica da colônia dificultava uma saída verdadeiramente independente. Com uma economia historicamente organizada para atender os interesses da metrópole e uma burguesia débil que se limitava a ser intermediária dos antigos colonos, a luta anticolonial regrediu, tal como previsto pelo autor, às novas formas de colonização e de exploração. Aliás, dos caminhos teocráticos da Argélia pós-independência ao genocídio em Ruanda; da guerra civil em Angola ao surgimento do Boko Haran; da manutenção das iniquidades raciais no pós-apartheid sulafricano ao neocolonialismo francês no Mali e adjacências... Os alertas de Les damnés de la terre foram lamentavelmente certeiros.
46 Ver, nesse caso, o capítulo 2: “Grandeza e fraquezas da espontaneidade”, de CT, no
qual Fanon alerta para os limites e contradições implícitos à violência e às noções reificadas de identidade, propostas pelo nacionalismo anticolonial (FANON, 2010).