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A verdade é que entao na borda estava Do vale desse abismo doloroso, Donde brado de infindos ais troava, Tio escuro, profundo e nebuloso Era, que a vista the inquirindo 0 fundo, Néo distinguia no antro temeroso, “Por tal defeito — os mais nos ndo mancharam — Perdemo-nos; a pena é desesp'ranca, Desejos, que pra sempre se frustraram”, Ouviclo, em dor o coragéo me langa, Pois muitos conhect de alta yalia, A quem do Limbo a suspensao alcanca. A Divina Comédia Dante Alighieri INTRODUGAO. Tomarei como tema de investigagdo neste trabalho uma vi lorosq.a qual denominei de NUCLEO DE-MAGOA( TICA , como expresso de uma ‘“fenda” ou sucessivas “fen- ‘tas ‘constituidas no inicio da formacdo.do ego. * Balint usa o termo “falha bésica” ¢ certos analistas junguianos, © “sitio de mégoa critica”. A nomeagio destas vivencias depres- sivas de NUCLEO DE MAGOA CRITICA seria no sentido de ‘a palavra NOCLEO tentar significar estes ocos deexperigncias. u, fei Q, que permaneceram como um conglome- dos, subterraneamente em ativacd0. SOA, como uma palavra significando que estes estados nio_digeri Levanto a hipotese de que tais “fendas” teriam sido e- truturadas nos_pamd “desenvolvimento emocional _miticas €,, “onde” deveria existir o primeiro esboco de um objeto psfquico ¢ seus atributos 2 uma conseailente iden- head priméria_que levaria a im desenvolvimento ema. “Clonal, existiriam estas lacunas lor0s0_e desestruturante, proporcionando estad Di ico, morte ¢ sensacdes de vazio interior, sem a minima es- eranca de amparo, _ pe ~ Gostaria de enfatizar que o uso de termos comofenda” e “onde™)ndo significa a concretizagao ou localzageaee afetos, os quais bloqueariam a captacdo do dinamismo dos estados psiquicos, mas seria_uma tentafiva de nomear 6x: / perigncias atetivas ow estados mentais/ Outro aspecto que. | gostaria de enfatizar seria a discriminagao destas vivencias |, depressivas singulares, as quai is vi 01h Gcilimento de desvalimerita total diante da sensacgo de || ik aniquilamento_¢ perda de vida, diferenciando-as das viven- he y vindos Iues_20 objeto ¢ 20 ego, caracteristicos da | posicfo esquizoparandide de Mel i ee Como defesa a forga de atracao exercida por estas expe- riéncias traumiticas primitivas, as mais poderosas e criativas defesas sao eleitas pela mente humana, inclusive o delirio, a alucinagao e os estados autistas., Atingit_ou_bordejar oievfver destas_experiéncias_na transferéncia analitica tornar-se-ia menos remoto, mais pelo fato de se conseguir na dupla analsta-analeanto‘om etalo> n le mente capaz. de tolerar a dor e comparlilhé-la juntos, do we_propriai fede se dar uma interpre- taco bem elaborada, pois a nomeagio destes estados alel vos, para tais analisandos, seria sempre ameagada pelos seus primeiros fracassos ocorridos em relago a palavra, como primeiro continente delimitador de or sMletivos int- tensos. alli Be aoe | /5A9/* transferéncia analitica daria a estes analisandos oportuni- vn 'Y auge ue sua violencia in dice r “ade de_uma transformagéo e “onde” teria havidors nto eu isolamento autista e das ee Salsaigcfo de um objeto ou “onde” existiriam estas lecunas,~ | , jamais estd protegido desta an. e” atas Tacun | Bistia. Qualquer vineulo a possibili de Oct trojegao ou Oo esbogo, ol it rs que se esboce no horizont E es peee ce noorter a intojegzo ou asDOROT TS | cher imoulss tn consttuem ameagas para este “ena “yidlinv® Horio” mal alinhavado, para estaimago corporal ot mal co- intro} ‘Ge um bom objeto psiquico primério. Sam y ordenada. Nada o faz sentirs > aA CONSIDERAGOES TEORICAS \ Tadao faz sents OTe mae we fo mundo,” enko observado que, no trabalho com analisandos que BARGE apretentam esta peculiaridade estrutural t20 falha, bor es ae na experiéncia de andlise aspectos edipianos oc p ; : 5p yu fant A vivencia analitica com.algumas personalidades border. relativas a nivel ial evoluties one a da mente seria semelhante lines e psic6ticas faz-me pensar na hipOtese da existéncia de r gem, onde eles véern ima- certas peculiaridades na constituicgo do seu frdgil_ego. epson eles vem como se_houvesse fendas ou lacunas no mesmo, parecen- a an oa. em wma lingua- do-me que, como conseqiiéncia, as estruturas postenores Podem, inclusive, aprender 2 eee ose doseu desenvolvinenta tersetars coneelidade de ummodo- | tizaremna, empolgacem se, adeno lt, mime yoto e mal alinhavado. Tais analisandos, diante de qualquer andlise, os quasfeiam pailaide ae ot experiéncia de impacto com a violéncia intema ouextema, dleovaziode dor oculto, inacessivel, expressao dis fe So qualquer reacao a um estimulo doloroso 6u frustrante ou ; traumiticas no ego, defendido pelas defesas psicdticas O que dem mesmo ainda qualquer possibilidade de experienciarem algo © que demandatiam tais analisandos de nos, analistas? movo, reagem como se_estivessem vivendo sempre ameaga: Seriam as teorias psicanaliticas de Edipo ou do narci- dos por uma experiéncia de_panico ¢ morte iminentes. sismo liteis a tais pessoas que, em sua mais profunda verda. eee etereserecatentas tance tetera fefesas encontradas diante de tais angustas de mor } de, 0 incognosefvel, o“O” de BION, transitam emum estado 5 mental ainda distante’ de tais niveis do d: te, tenho observado, em um primeiro movimento, estados aoe Mentais de fragmentacdo_e¢ dispersdo, onde nogdes como | 0S quais se estruturam de um modo rot6rinal een roc $a do que como evolueo em suas personalidades? tempo, espaco, identidade_ps{quica € fisica parecem mo- Mentaneamente atacadas, esfacelando-se. e perdendo-se.. Referindo-me a este Edipo particular, o pequeno Edipo Sentem-se de stibito aterroriz: de serem tragados por ul de pés inchados, 0 que teria sido mais trégico para ele: a i * nficleo depressivo sem fim, que teria uma forca de atragio_ sua curiosidade, que 0 levou a descoberta do partictdio e do semelhante a um ima, fazendo-os sentirem-se a beira de um i incesto, ou_mais profundamente a percepeo do infant. “abismo. Suas mentes, em um segundo movimento, devido | cidio, mesmo antes de naseer, na mente © no_desejo dos ‘constroem a0 proprio desejo de sobrevivéncia | contactos com a realidade interna e extema — “deriamos chamar de criativos =; ponto ‘mais trégico do seu drama: 0 preenchimento da Ii. cuna‘'do primeiro objeto psiquico no infcio dos seus “alucinagao. Engodos criados para si mesmos, num desejo de cios, 0 que talvez tenha ocorrido somente com sua morte, itinuidade 4 vida, mesmo que sejam mascarados pelo em uma unido simbélica com a mée-terra, ou propriamente med rOpria vida/ Morrer psiquicamente para © Sei cfime incéstuoso e o crime da sua curiosidaule i See. civel, gerado pela sua arrogancia? Referindo-me a “este Narciso”, por que ele nfo podia | | pholidade na evolugao da e Narciso”, : capacidad afastarse do mirar-se nas aguas, temeroso de perder 0 seu primério para o secundério, do pee oe ; , -que-é.mas-nio-é”, teflexo, necessitando fundir-se a ele? 4 do prinefpio do prazer para o princfpio da realidade, 1 le, tor * \\ na-se’ quase que insuportavel, mt Nh ca Spee apes +eaginda eles aos mesmos Penso que, na experiéncia analitica, patecem oscilar entre dois movimentos. Em um primeiro, tentam mergu. vez exprimisse o desejo de ter um lugar, ser reconhecido ‘como sujeito no-mar do desejo ou do oligr do ouiro,-cim. “thar, na vivéncia transferencial, em uma fuséo mortifé uma tentativa de introjetar alum objeto psiquico no lugar S" vivida através do mundo das sensacbes e do pensar con. Sano PO edeneesPrnicu sia jena: or; ial é creto, em uma tentativa de introjetar o objeto, mes: ie eee dea Tome neste momento da teoria Meiniana, a qual indiscriminadamente. Atemorizados diante desta expetiens cia.de “emaranhamento”, recriam em um segundo movi. mento a distancia, através de movimentos agressivos, es- truturando assim em tomo de si uma muralha narcfsica, enfatiza a introjecao do primeiro objeto psiquico bom, co- mdaticleo>m tomo do qual vai se desenvolver.o.eg¢ en ~ Vidar na relagao transferencial com “este Narciso” seria depararmo-nos com os primeiros estégios do desenvolvi- mento do ser, caracteristicos da mente primitiva, onde a matemética emocional em uma relagdo jamais seria 1 + = 2,esim1+1 = 1. A buscada alucinagdo desta fusdo seria mais uma tentativa para preencher a lacuna da cisao” - ‘Griginal, corpo do bebé-corpo da mie, e a fatha na coms | 4 / pt ‘A ados de perder o préprio reffexo, buscando sempre um art Y/"1,,, teparo para.a propria sombra, Desejos, afetos e dependéncia tituicdo do segundo elemento da soma, corpo-mente da j er mie, seja por barreiras da mae as identificagoes projetivas | “inno Negados nos momentos em que se enclausuram as mu- do_bebé, seja por algum fator_constitucional do mesmo, talhas narcisicas. Controle, estados de espelhamento e auto- éstruturando assim as fendas originais ou o “Nucleo de Ma- | i matizagdo do objeto sdo vividos no anseio fusional. Como GEeUiiieg Tees cunts ca mali peetacsio | HD anda mul tates dos pclemis eipens co importante no inicio do desenvolvimento nfo se.configute,—| mo evolucZo mental, a falha destas defesas, € experien- o anseio insaciével 1 ciada ao nivel da castragao priméria, da angistia da disper- juase uma questao de s ive: so e do terror em mergulhar no vazio pela perda tanto do mente ocorreram falhas tao objeto como do ego. Porém, 0 contato fusional a que tanto mesmo, que oindiv: anseiam propicia-thes angistias mais terrfveis do que pro- mesmo, que oindividuo busca-o como uma questo de vida ¢ : @ morte, mesmo que seja através do proprio seflexo. priamente a dimensdo de serem esvaziados ou de esvazia- ‘A quebra deste sistema alucinat6rio pode ocasionar, nes- tem 0 objeto. Como a estruturagao_da “pele psfquica” 6 _ tes analisandos, experiéncias de cane Sotolei fies cere io interi iéncias de terror ao separa- aparee Pee gatichieto|exemo ‘com o qual mantém a “ig ndo encontrar 0 “outro, desporeer no vo ater cinagao fusional, pois carecem da capacidade de simboli- : fader : zagio. Para tais analisandos, que carregam em seu amago essa fragilidade peculiar, o transito livre e pleno de mobi- H | 25 ae sendo entao qualquer contato. vivido como invasor, frus, iho. tante © doloroso, Parecem nfo tera expesiencia de uma re- wi 1260 com algum objeto extemo confivel e a conseaiien. fo" te introjecio do mesmo, sentindose entZo constante. 4,0 __mente ameagados pelo seu pr6prio vazio intesiog atemori- Ww zados d fle; ca, quando ocorrem movimentos de aproximagio, «: analisandos exigem uma resposta sintOnica aos seus dese- jos, COMO se_o analista fosse o seu proprio prolongamento, mdo esta experiéncia impossivel, quando ocorrem movi-| mentos de nfo-compreensio e nfo-comunicagio empitica, estes Sa0 vividos como ameagas as suas necessidades vitais, gerando um desamparo brutal. O analista, que deveria re- presentar um objeto primério que deve saber tudo, é trans- formado rapidamente em um objeto de édio, pois 0 objeto tefletor e contensor ¢ algo t¥o indispensdvel, que perdé-lo significaria perderem-se a si mesmos. e Conjecturando sobre uma das dificuldades mais graves existentes na configuracZo mental desses analisandos, pen- so que esta esteja ligada a uma falha em representarem:se a si_mesmos e 20 objeto, ou representarem psiquicamente uma falta, uma ausencia, Parecem carecer do nivel de Te: v presentacao e talvez este carecer se estruture também em diferentes formas, Entre elas pode ocorrer ou a interiori- | zaco de objetos intemos destruidos ¢ fragmentados, ou | uma incapacidade em interiorizar objetos ou pessoas. B Michel Fain, em sua pesquisa sobre a vida fantasmética de certas criangas psicéticas ou psicossométicas, concluiu que estas parecem traduzir que, onde houve um esboso de um objeto pstquico primdrio, ocorreu um branco. Seria sobre este aspecto que gostaria de pensar, pois a i introi imbolizacao, ocorrendo conco- mitantemente com o anseio fusional, Jeva estes analisandos q.estabelecerem, na expeciéncia analitica, nivels muito re- gressivos de contatp-ende a vivéncia de separacio do ana. a val transferéncia tora-se muito dolorosa pata ambos, e na auséncia da presenca concreta 0 do paciente. A i diferentes ciente. Despertam no analista sentimentos de outras eas ‘com um eu mais s6lido, tentando trans- mitir que as suas defesas, sentidas como fortalezas (alguns de meus analisandos a nomeiam como "casca» Bi ats a éenicas defensivas para sobreviverem a ain is ‘ransmitem um senti- L 3 eestor ne Gevemoster atengdo, cuidado e sensibilida- aie ré-simbélico) Bion aborda a possibilidade da na Parte vital do analisando como sestéuo de uaa introjegao de um objeto experiénci; le, pel: ie ter as angistas de morte does. 48 #2 em con- Pesquisando sobre adificuldade de introjecao, vinculo-aen\ processo de investigagdo ao que denominei de “NUt denor le DE_MAGOA CRITICA”, que, seria a.expr nas ou fendas trauméticas estruturadas no a see Seu desenvolvimento, Tais lacunas significariam a impos. sibilidade de ter ocorido a i e jes_entre © bebé ¢ a mae como conting levando a_um Bloqueio na evolucto do processo de pensa mento ¢ na possibilidade de simbolizacSo, ocorre, zl fixagdo a0 pensar concreto e 20 processo primar, 7 _ Continuando a investigar sobre a dificuldade de introw- $40, intrigou-me uma outra espécie de fendmeno Sa observado na transferéncia analitica: seria uma especie processo de desmoronamento ou de fragmentaco da pst que dos meus analisandos, atingindo fungdes como aon, 0, meméria, capacidade de relacionar eventos ou capaci. dade de pensamento. Este “‘desmoronamento” passava-se muitas vezes de uma forma silenciosa, através de um distan. clamento infinito no contato, mas que transmitia amimsen colorido depressivo intenso preenchido por uma dor pun- gente _e muda. As vezes, surpreendia-me como se eslivesse tentando ler, ouvir, tocar ou sentir alguna estéria es em um papiro muito antigo, mas que, 20 exporse a a tempo e do espago atual, fragmentavase, deixando-me dian: te do nada, impregnando a vivéncia transferencial com 0 -Adordo tempo e da morte. y Penso que talvez a captago de tal vivéncia pelo sot tivesse algum elo de ligacdo com algum estado mental do analisando, 0 qual se expressava pelos momentos de desor- izagdo e desmoronamento de sua mente, atingindo tanto os elo “‘sumir-se” pelo “‘branco psi- exercida por algum niicleo depressivo arcaico, Como hipétese de trabalho proponho conjecturar: a — como se teriam dado as primitivas relagdes obje- tais destes meus analisandos e suas primeiras ten- tativas de apreensio do objeto; b — como teriam sido ocasionadas estas fendas ou fe- ridas 20 profundas e que teriam como conseqiién- cia a impossibilidade ou 0 terror da possibilidade de introjegdo de um bom objeto psiquico primé- on Ber ee daa esto proceso de desmoronamento do ego, do objeto e de todo o aparelho mental des- tes analisandos e como esta defesa do desmorona- mento se repetia constantemente na est6ria das suas vidas mentais, diante de qualquer experiéncia frustradora e principalmente diante da separaga0 de um elacional fusional e estético, tni- co contato que sabiam estabelecer; ivéncias_depressivas = mente, por_que essas vivéncias Sao yea de atsaciio semelhante lo qualquer movimento a_um({mé,/impossibilitand fo_mental, funcionando uicas como se eles vivessem s (Serem tragados por este sorvedouro depressiy' i ji lho com outros Jacionarei estas conjecturas de trabal ae ¢ teorias psicanaliticas surgidas na evolugfo da répria investigaga em Psicandlise, a8 quais disporei em aes nao me atendo ao tempo cronoldgico em que foram pensadas e elaboradas. _Investigando clinicamente avidade Telagao objetal ¢ am- Pliando as postulagoes de Freud em relagao ao instinto de Morte, destaca a importancia dos ataques fantsticos de natureza sddica do bebé em telagao ao seio. Ela parte do Pressuposto da existéncia de um Ego rudimentar desde o hascimento e que este, tentando lidar com'a ameaga de ani. quilamento, projeta a agressividade no objeto primério. Esta movimentagdo de projecao e introjegdo caracterfstica da po- sigdo esquizoparandide possibilitaria a introje¢zo do seio bom, do qual dependeria a estruturagao e desenvolvimento do Ego: Considera que certos fatores da personalidade do bebé, como uma excessiva voracidade e uma excessiva in. veja priméria, intensificariam a ansiedade parandide ¢ ro- moveriam um aumento dos ataques dirigidos ao objeto. Es. tes fatores tenderiam a impedir a introjecao do seio bom e determinariam uma perda destrutiva e continua do ob- jeto bom, estimulando os mecanismos de cisio associados & identificagdo projetiva. O Ego, ao invés de se desenvolver, manter-se-ia cada vez mais frégil e cada vez mais sujeito aos Processos desintegrativos, empobrecendo e esvaziando a Possibilidade de estruturarse um mundo intemo e a possi- bilidade de ocorrer um desenvolvimento mental, Por- tanto, destaca como dificuldades a introjegao do objeto psi. quico primério bom e ao desenvolvimento mental, as se- guintes caracteristicas; on a — inveja primiria excessiva como mola propulsora da { fragmentagio_violenta do objeto bom e da imp _ \ sibilidade da introjecio do mesmo; b — infOlerancia a Tats ‘Fo _que, i Fy \ gula excessiva, exige cada vez mais do objeto em \ Uma asia insacitvel, dificultando a perce) B B—DONALD MELTZER Dirigindo um grupo de psicanalistas de osientagito Klei- niana, os quais estudaram o funcionamento mental de 29 Weel” a espaco e do tempo. - te trabalho de Meltzer confirma as idéias de Bick em primitivas de objetos. A desmentalizacdo psiquica ia um estado mental onde a mente cai passivamente_em “pedagos, Sia ere sgt 1 Segunda topica Feed tamblm é considerada como desmantelads gundo Meltzer, isto quer dizer que os acont contatos com objetos_externos sio_considerados eventos is jortanto, i descontinuos, incapazes de Tigrem.se e, portanto, inc qrecordago ou memorizagao. A crianga seria incapaz, ree Te captat Thuy contatos como experién iss, Esta capacidade de suspender a atengo permitiria aos sentidos vagarem, cada um dirigindo-se ao objeto mais atra- tivo do momento, produzindo ento uma espécie de disper- so dos sentidos. Q “esparramar-se” dos sentidos parece | trazer, como conseqiléncia, uma incapacidade para a int produzindo entao o desmant > \\jeeao estivel do objeto, de desmentalizagao 5 Meltzer, seria para “mento da estrutura mental € 0 estado de ta retirada autistica do mundo, diz ria p evitar a dor psiquica, a ansiedade persecut6ria e o desesp 70, ja que nao se exerceria violéncia nem contra o Bgo,nem. | contra 0 objeto. Segundo ele, o estado autista correspon- deriaa um estado donarcisismo primério, que se colocaria an- terior s relagGes de objeto e a ansiedade persecutéria, ca- ; f e a oe ae racteristicas da posig40 esquizoparandide descrita por lein. Meltzer é claro em explicitar que no estado de ‘desmentalizacdo no hé e stquico interno. " Sa Te ee OMG TEND, COMO 0) faque osel0 materno, como objeto de uma ‘atragdo sensual, tinha a funcdo de unir o “self” des- ) ataque autista terminaria ao reunir-se as par- alid permitiriam a crianga continuar a | suspensa temporariamente. A os mentais, considerada como uma perturbagdo no desenvolvimento, teria uma relagdo com a intensidade do vinculo com o seio. uando a mae uma _perturbacdo mental (esquiz: - Quando a mie soffe al- finuindo-Ihe sua capacida versacdo e sua sensualidade para com o bebé, o “celf” de mantelado-deste tende a Se i 10d cnanca teria uma xelacdo direta com o tempo vital em ido. que passou flutuando nes eStados desmenta izados- 2 Se ee * Sunda Malate nae conte objetos den en-) tro damente sepeene ie ad ionada com a falta de um espa- Go palquico feo, Condo TRISTE | THEO ObyeTS _puIqUico come ‘objeto _psiquico contensor aa oe uma conse. GiEnte mow entTiCao pamine Cone ‘omo defesa, a mente aferrar-se-ia_a Outro tipo de identificacao, que ele chamou de ‘identificacdo_adesiva, produzindo uma extraordinaria dependéncia a0 objeto externo, nao $6 aos seus culdadoe como também as suas Tungoes mentais. Sera expressao de uma peculiar relagao objetal, onde a mente do sujeito atua. ria como uma extensfo da mente do objeto adesivo para executar suas fungoes de ego, ficando como que colado, aderentea@elesers:-. (iu apt aa age experiéncia que vivenci cau = ae Soutide gerard a experiéncia de ser um continente capaz de conter. Esta experiéncia d. : vivéncia de um espago psiquico interno. ‘A movimentagdo da ar e sair do obj , A objeto, isto 6, toda a mobilidade psiquica da projeca0 eintrojegao, caracteristicas da posi¢go esquizoparandide, tetiam signi ficado_preponderante também na construcia da vivend do tempo psiquico. senda C—JOSE BLEGER Em seu livro: Simbiosis » Ambiguedade (1967), propoe a possibilidade da existéncia de uma estrutura de’personali- dade: que ele denomina de ambigua e insiste que esta se estruturou. em um perfodo de desenvolvimento anterior 2 quizoparandide, PropSe ainda que esta estrutura a fstrutura narcisica, explicita que tal esta tia re. ce de uma vivéncia psiquica de interioridade, duzir as tensbes a0 nivel zero, 5 que significaria a procu, TE ee en ahaa ee p fquica, Ao apagar-se a Tepresentagao do objeto no mundo intemo ¢ todo o investimento ibj- dinal do mesmo, o individuo seria tomado Por um estado # Meuinlacae, como Se tivesse havido um desabamento smo dentr vil i- tay eenroente le um movimento que Green denomi. de um modo especial. Bleger denomina este perfodo do desenvolvimento extremamente primitivo ¢_paralisante ie perfodo gliscocdrio. Ele nfo fala da identificagao ade- -siva de Meltzer, mas a descrigdo deste estado mental é mui- F —JUDITH S, T, DE CARVALHO ANDREUCC| ima a descricZo, feita por Meltzer, da estrutura ade- ipde to proxima ga _Em Contribuigdo para o Estudo de Situagdes Arcaicas siva. Vivenciadas na Situagao Analitica (1968-1969), investiga situagOes arcaicas vivenciadas no processo analftico, nas D—HERBERT ROSENFELD quais prevalecem a inorganizacao, a falta de titmo, a angis- Pedal eas se . tia ante a perspectiva do * O pacie i dentificacio projetiva, abor: Pants a pempectiva da “noser” O paciente usaria como ae static seu sobre ider HAOIB s enrencn efesa a imobilidade ante tal estado de deswalimento to. uma espécie de selago do objeto parasitéria o tal. dente a um estado de identificaeao projetiva particulare que ier ee ~ ionada a existéncia de uma estrutura narcisista 50 Oo DT yo towimento, a forma de mo- estaria relacionada a HWerse € a propria imobilidade, sendo que estas iro cons- onipotente. Porém a situa Sent Se peer tituir_melos nfo-verbais de comunicagao de conteidos de de, onde operariam a 1 an — peau uintcicea miasiado angustiantes. Cita que ora o aceleramento estéril, sas esquiz6ides. Esta relacao on siedades intolerdveis ora @ Tetraga0, Ora a imobilidade seriam meios usados pe- _de proteger o ego rudimentar de ansit los pacientes para preservarem algo bésico, frdgil, continua. surgidas ante aansiedade de separagao, mente ameagado pela relago dinémica com o analista, A expresso desta relacdo seria um comp\ nte passivo, Para a autora, a selego de movimentos seriam conitinen- analisando na transferéncia analitica extremamente passivo,_ tes peculiares de defesas, fantasias e ansiedades, estarido re- lacionados a vivéneias arcaicas em que a ago muscular se- silencioso ¢ distante. Seria como se ele se sentisse ao lo e inerte, tomado de seus aspectos mort panes ia a reagdo fundamental 3 estimulacao, Neste campo muito fa onda do anal como wma one devi sie primitivo, onde os movimentos tert a fungao te weese Nos casos de parasitismos severos, 0 Odio ao p aos est{mulos de qualquer natureza, caracteristica dos se- tes vivos, do mais primitivo ao mais evoluido, os movimen- er a vida fora dele dominaria a gperro-anaiti e impe- ¢ ) \ v 3 n diria o paciente de receber a ajuda do analista. tos seriam difusos, sem organizagio, diregao ou ritmo. Tais : pee movimentos promoveriam situagbes de indefini¢ao, ameagas de desfazimento ou aniquilagdo total, acompanhados de ter- rfvel ansiedade, da qual o paciente tentalivrarse, projetan- do-a em um continente adequado. a8 NORE GREEN” tado mental que ele denomina mata auma estrutura subjacente Ocorreria quando o continente, gravemeite in- dada- O continente pode serum bom seio exter O con Mo capaz sr op dese agen Pia poate ee s 8s : ; i Hgéncia. Q resultado seria ahi- © mov passatia’a corresponder a um pe. érbole, ists apaz de tolerar_a falh 1 EO-tO Em lacdo implacavel, diante do qual o paciente sen- nase cada vez. mais exagerada para astegu aan ef0, Sen desvalimento total, que ela denominou de de- fo evacuaa cada vez com mais fore oo : “Em Cesura sugere que, as vezes, quando estamos em um i consult6rio com um homem ou uma mulher adulta, podem Ocorrer sentimentos como inveja, amor, édio ou sexo, mas . que parecem ter um cardter intenso e informe. __Em Transformagdes, Bion aborda a dificuldade em anali- Sugere ainda, no mesmo artigo, que existem dificuldades jar determinados pacientes que nao conseguem trabalhar rq andlogas Aquelas associadas com a cesura do nascimento. sem a presenca concreta de objetos sobre os quais o traba. fy" Porém, diznos, como penetrar este obstdculo, esta cesura Tho teria que ser feito. Supoe que tais pacientes carregam__" do nascimento? Existiria algum método de comunicacgo falhas no sistema de /NOTACAO e REGISTRO, 708 quais suficientemente “penetrante” para atravessar aquela cesura, Serna ios na ausencla dos em direg# 20 pensamento consciente pés-natal de volts Acct estoneeetcae para o pré-natal, noqual pensamentos e idéias tém contra- parte em “tempos” ou niveis de mente onde eles ndo sfo \\ pensamentos ou idéias?_ Bae Prope que o analista, em sua interpretagao, teria que ser ~ capaz de veshalizar uma afirmago dos seus sentidos, suas. \ ‘tuighes ¢ suas reapSes_primitias 20-que-a-pasiente diy sendo que esta afirmacao tetia-que-sertao_eficaz coma um ato fisico efica : terfsticas associadasiao comportamento psicdtico. Assinala que tais pacientes, 20 invés de pensar algo, agem como se tivessem que esperar o aparecimento daquela coisa na rea- wt ow. lidade externa. Eles também parecem ser incapazes de pen- sar ou imaginar uma situagao, mas eles tém que atud-la. Q > ensamento no sentido de pensar ou manipular palavras ou 7 vensamentos xa asncia.do objeto parece ser ums Tune da qual carecem. “ais pacientes, diz Bion, nfo tem MEMORIA, mas fatos He _nd0 digeridos. Conhecem o passado no sentido de sua cons. IGMUND FREUD ciéncia representar um estado alucinatoriamente ativo, no Em 1921, destacou com énfase a identificacdo priméria. qual o individuo é consciente de estar em um passado. que Esta corresponderia a um estado de narcisismo primério no substitui e exclui o presente. Da mesma forma consciente qual ndo existiria discrimina¢do entre o Ego e o mundo ob- no representa um estar a par do futuro, ou de eventos que jetal. Enfatizou ainda que; sem esta identificagao priméria, ocorrerfo no futuro. Significa‘uma substituicao e exclusdo cue no poderia emergir do estado de narcisismo primé- do pr i i i seja . : OO ocencinas reomom. alipaaree, 24 O coneeito de identificaggo havia entrado devagar no _ * ‘Ainda em Transformagdes, enfatiza que o esclarecimento pensar de Freud, .Apés seus trabalhos sobre Nareisismo imitiya depende de ser contida por um (1914), Luto e Melancolia (1917) e Psicologia de Grupos e Andlise do Ego (1921), deixou clara a importancia da rela- go objetal com a mae desde o comeco da vida. . 35 y ante a primeira questo, posso ressaltar que es- inados-a supor que uma unidade compardvel 20 e existir no individuo desde o comego da vida; le ser desenvolvido. Os instintos auto-erdticos, se encontram desde o infcio, sendo portanto que algo seja adicionado ao auto-erotismo, uma Go pstquica, a fim de provocar o narcisismo” .(Nar- 0, 1914). Penso que este algo a ser acrescentado esta- lacionado ao_contato que o bebé estabelece comamae— . et Zo a de mobilidade ide difusamer r tetido, como o Como aproximacdo 4 questo anterior, remeto-me entdo a Freud em seu Projeto de 1895. Quando abordou a cogni- G0 e o pensamento reprodutivo, enfatizou que as catexias do objeto nZo so tnicas, e que se conhece o objeto pela coisa + atributo da coisa. A coisa seria a parte eae do com- .0 perveptivo, 0 niicleo do ego, e 0 atributo seria as par- Lane Meet sectioyinvocado pela dissemelhanga entre a catexia do desejo da lembrana do objeto de forma moderada e a catexia com que se investe 0 objeto no real. ‘A coincidéncia entre as duas catexias poria em uso 0 pro- cesso de descarga, tendo a mente, neste momento, uma funedo muscular. Porém, no pensar freudiano, ocorreria a existéncia das facilitag6es fixas (a parte constante do com- plexo perceptivo) e a luta entre estas facilitagbes fixas e as catexias flutuantes (atributos), que incluiriam toda uma ‘mobilidade pstquica, caracterizaria 0 proceso secundério do pensamento reprodutivo, como conseqiiéncia do pro- cesso primério ov como seqiiéncia primdria das associagoes. da prineipalmente em Freud tento explicitar me- a idéia, tomando como infcio do modelo para 1, como célula germinativa do pensamento, a pré-con- Jo do seio. Supondo-a como a parte constante ou né- Jo complexo perceptivo posterior seio, jé existiria todo nto libidinal no nucleo nas primeiras tentati- a e apreensao do objeto externo, ainda de forma 5, que comecaria a evoluir no seu processo de Thor rele ena Sconces ee OIE na ta Hizagdes primeisas sensagpes peers ores Paimeiras rea: aes puimeiras 'sOes-percepcdes de auséncia, man- teria investida libidinalmente a Parte constante do comple- X0 perceptivo, enquanto buscaria os atributos bons (calor, alimento, textura ou conforto psfquico) e também, on- Quanto nesta migragao, iria enfrentando os atributos maus (a inadequagdo afetiva as suas necessidades ou o ndo-estar No espago € no tempo). Tais atributos, sentidos como mans, fenderiam a ser evacuados no continente extemo, com maior ou menor intensidade de 6dio, e maior ou menor ve- locidade, de acordo com o grau de toleréncia a frustragao do bebé. A mente teria, neste momento, também uma fin. so muscular. Porém, o significativo seria que ele néo per deria, em sua mente, o investimento libidinal no “cleo”, na parte constante do complexo perceptivo seio. Tal fato © levaria a manter a expectativa de reencontrar uma nova” Tealizagao, a qual 0” 0 processo de descarga. Em um ter @ fé na possibilidade da evocacdo de uma realizagao, mesmo durante o perfodo de ausénia do objeto ou da sua inadequaedo e as frustragdes geradas pelas mesmas. a “Segundo. Freud, a manutencao da expectativa durante a busca do objeto exigiriaumacerta inibieao por parte do €g0, © que ocasionaria um estado de atencio voltado tanto para a realidade externa quanto para a interna; a mente, neste momento, ndo atuaria muscularmente em um proces. so evacuativo da tensdo. Conjecturarei agora sobre a possibilidade de, neste pro- cesso migratério associativo em busca do objeto, o investi mento libidinal da parte constante do complexo perceptivo, ~ quando vai vincularse ao atributo do mesmo, -poder. de. parar-se com uma experiéncia memorativa de extrema dor relacionada a este atributo, como, por exemplo, o seia, sentido como extremamente ausente ou como muito inva- sivo. Se o nticleo do complexo perceptivo se mantiver ca- texizado, 0 processo migratério continuard. A propria ex periéncia memorativa de dor servird de orientagao na pos- 4 sibilidade de discriminar no real o prazer do desprazer, 0 bom do mau, ndo bloqueando o reencontro da pré-concep- ¢0/realizacao. Explicando melhor, orientaria a busca do objeto bom na realidade extema e intema, estabelecendo um vineulo vital com o mesmo, diminuindo o sentimento de persegui¢do em relacdo ao objeto e a conseqiiente fuga da vinculago. ss Porém quando, neste proceso migratério associative em que se busca 0 atributo bom do objeto, ocorre a vinculagio com uma experiéncia memorativa traumética ou sucessivas experiéncias trauméticas excessivamente dolorosas para a mente suportar, quase toda a experiéncia emocional do mo- mento se paralisaria e seria precluida, juntamente com essas experiéncias memorativas dolorosas. Pela _propria-compul: sGo_ repetiedo, a3 experiéncias primitivas traumdticas oca- sionas de _vivéncias de extrema depressio se sobrepo iam as atuais, teriam uma forca de atracao semelhante a um_sorvedouro depressivo, ocasionando uma vivencia Ue caida no “buraco-oniginal”, uma vivencia dé “branco pst quico’ Considero que este “buraco original”, estes ocos de ex- periéncias afetivas de contato estariam relacionados a estas experiéncias trauméticas primitivas, constituindo as lacunas no ego, pois tais experiéncias teriam ultrapassado o limiar ao est{mulo doloroso daquela mente. Es Freud, em seu Projeto de 1895, apesar de uma aborda- gem energética e mecanicista, j4 nos alertava sobre o limiar ao est{mulo doloroso: a — a dor é o mais imperativo dos processos; nao hé obstéculos a sua condueao; b — como causas precipitadoras da dor, falam-nos nao 6 em um aumento na quantidade de estimulos (toda excitagdo sensfvel, mesmo a dos érgaos sen- soriais, tende a se transformar em dor), como tam- bém em uma diminuigdo na quantidade de estt- mulos (a dor também se manifesta quando a quan- tidade de estimulos ¢ minima, e nestes casos apa- rece sempre vinculada a uma interrupedo na con- tinuidade). (POM es, “rs We wibhion Penso, pois, que gStas vivéncias depressivas_singulares Qeasionadas por expesitnctas taumdticas primitivas ryote iolalmente pecans Tents es petigao efetua-se como uma situagao de susto ow de calés. trofe iminente, sendo que a mente, nestes momentos «2 apeparia_as_defesas_psicéticas. Entre elas estaria a Tepeti- go destas lacunas como foram no passado, através demo, mentos de fragmentacto e dispersdo das experiéncias atusie dolorosas ou frustradoras indiscriminadas das arcaicas,e a sua conseqiiente evacuagao, A fragmentagZo e a dispersdo atingiriam no $6 0 ego como também o objeto, na totaliddade do complexo perceptivo, niicleo e-atributos. fh Neste sentido, a realidade externa e intema configura. Se-ia catastrofica; ndo haveria, nestes momentos, nenhum movimento em busca de uma realizaco, e a vivéncia de. pressiva seria de morte intema e extema wm toa sar sobre tais vivéncias e sobre a estruturagao das “fendas” no ego. at On eranca de amparo. J gt! Tomazei dois exemplos clinicos como modelos para pen yy? MATERIAL CLINICO | ee I. 6 uma paciente de 22 anos, magra, estatura média, um Pequeno Yosto onde brilham(ois olhos aflitos e delirantes. Casada hd dois anos, é 1asegunda: filha de Um casal com tres filhos, sendo a primeira adotiva. Em meu primeiro contato com ela, deparei-me com aquela figura franzina e empertigada, vestindo-se de um mo- do bizarro, com roupas transparentes, sentando-se em minha frente, exprimindo uma dnsi em“ olhgda”. Saida hé duas semanas de uma primeira interna- Mo, disse-me ter sido enviada por um psiquiatra em quem confiava, precisando de ajuda.. Havia anteriormente anilise “lacaniana”, estando com muito medo de iniciar uma nova andlise, apesar de ter peal vontade de se tratar. Contou-me que seus pais se separaram logo apés ela casar- se, e quando “pirou”, nem o pai e nem a mae a agiientaram. ae — Segundo ela, sua crise iniciou-se quando ela comegou ate i, N80 podendo, depois, controlar-se mais. Sentia possuit um poder de seduedo enorme, seduzindo quem que- tia, fiendo insegura quanto ao fato de a pessoa gostar dela ou nfo, Toda essa representacdo culminou com sua ida para © sanitério, sem saber 0 que estava fazendo, pesando 45 quilos, sem poder alimentarse, prisioneira de uma agitacZ0 que a fizia caminhar dia e noite sem parar. Nao dormia; es side omer: Eeutva tum cpa imensa ido 20 seu. der de destruicac Tesel apéis, tinha- ido, ndo sabendo mais quem era. ‘Um dis, 20 olhar-se, verificou que ndo tinha interior, eraum — ido; ent enlouqueceu. ‘yazio,sb superficie, sem conted Ficou em andlise Comigo durante um.ano e meio, tendo interrompido por motivo de transferéncia de seu marido para o exterior. Nos primeiros seis meses de andlise, a angistia de sentir- se sem contetdo diminuiu, parecendo ter ocorrido 0 esbo- 0 da introjecdo de partes cindidas do seu Ego, e 0 esbogo da itrojegao de um objeto psfquico. Porém, tinha enorme dificuldade em reté-lo, sendo muito_vulnerdvel a qualquer separa(f0, Era tomada entao de muita agitagio e yoléncia @, considerando-se extremamente rejeitada, buscava obje- tos substitutos, homens ou mulheres, algumas vezes em ati- tudes manfacas, com as quais desejava muito mais do que um contato sexual, um contato corpo-a-corpo. Queria “en- costar! 0 corpo”, dizia-me. Quando voltava a anilise, reto- mava suas queixes de vazio interior, relatando-me essas atuag6es, pois sentia-se tomada por uma dnsia insacifvel de Da sua est6ria de vida, soube que antes do seu nascimen- to sua mie havia adotadouma menina, e para a adotiva nao sentir citmes, udo.apegapa no_colo. Pequenina, j4 softia de angistia 4 noite, chorando horas interminavelmente, sendo 0 pai o Ginico que a acalmaya um pouco, embalan- do-a, Quando nasceu seu irmao mais novo, ela contava trés . - anos, sentiu que a mae se distanciou ainda mais dela. Para atrait a atengf0 dos pais, achando.se feia e desarticulada, esmerou-se em ser a melhor aluna da classe, Porém, no inf, cio de sua adolescéncia, ouvindo um comentério do pai de que cla era feia ¢ triste e ndo bonita como a amiga, seu mundo desmoronou; nose sentia amadae nem desejada, era fechada, quase nfo tinha amigos. Aos dezoito anos, a mie mandou-a aperfeigoar o inglés fora do pafs, e ela, disfarcan- do seu terror de separar-se de casa, mostrou wm compor- tamento independente. Porém, no pais distante, foi toma- da de uma angistia enorme, apegando-se a um rapaz do Brasil, vivendo com ele. Mesmo assim nfo suportou ficar 0 tempo todo do estégio, voltando. Aqui, a mae protestante © 1fgida obrigou-a a casar-se com ele. Viveu aquilo como “uma farsa”, disse-me ela. A medida que se aprofundava o vinculo transférencial, a vivencia de separagao da analista eralhe cada vez mais do- lorosa ¢ 0 contetido depressivo verbal e ndo-verbal da sua comunicagdo era pungente. Nele, pela m{mica, pela postura, pelo olhar, pelo choro, pelas suas associagSes verbais, ex- primia sua angistia, sua solidéo, sua ansia devoradora de contato. -Desejando estabelecer 0 contato fusional, gerava em si mesma uma angistia de separagZo equivalente a mor- te, pois perdia na mesma partes de si, 0 que a fazia sentir-se vazia, despedagada. Ao mesmo tempo ocorria um temor de esvaziar-me; nestes estados mentais, a separacdo seria equi- qe loateie mm oueido su eltooudo cbt Citarei dois fragmentos de sesses que parecem transmi- tir minhas conjecturas: Fragmento A ‘Apés um fim de semana, I. entrou na sua hora habitual de anilise, 0 corpo desconjuntado, parecendo-me sern for- gas, a voz sumida, Deitouse (0 que nao the é comum) sem me olhar e disse-me que sentia frio ali, em Sa Paulo. Lem- browse de um passado, onde havia sol ¢ calor, época em que se sentia muito bem. Foi o ano que mais gostou em sua at > objeto concretizado, o diva, sentindo-se tam- n vida. Atemorizada, tentou recuperar na fan- um outro estado vital, evocando a cida- eia de vida e calor. fragmento, ocomeu o movimento oposto. ela sentia-se s6 e vazia, sem idéias ou pen- indisériminada como estava da analista, sen- xado aqui sua capacidade para pensar. Fecuperd-la em um segundo momento, necessitan- preencher 0 vazio interior, e o fez através da sua associa. © com 0 telefonema do pai, como 0 fazia no passado, ido © pai a embalava e cantava, isto é, pelo som de sua fia sesso analitica, pela presenca, pela voz e pela ex- rncia de __ I. viveu a sua primeira experiéncia de férias analiticas com muita dificuldade, Disse-me que se encheu de ativida- des para n30 pensar; quando ficava muito angustiada, tinha um impulso que a fazia passar em frente ao meu consul- t6rio e isto a acalmava. B: a ‘olhar” para minha janela para sentir que no me hayia perdido, Outras vezes, contou-me que era tomada de tal angistia 4 noite, tal sensacao de estar em pedacos e de vdcuo interi- of, que precisava ow andar de um lado para o outro, ou ser alimentada e embalada pelo marido. Reiniciando seu trabalkto analitico, I. novamente ensaiou um inicio de introjecao de partes cindidas de seu ego e do objeto analitico. Nestes momentos, tornou-se de uma ma- neira impressionante uma pessoa intuitiva, capaz de pensar, ensaiando também seus primeiros pasos em diregdo a vida. Retomou o cuidado de sua casa, volfou a faculdade, arru- mou um emprego, tentou aproximar-se: do marido. A famf- lia parecia satisfeita, mas eu observawa, na experiéncia ana- litica, que caminhévamos em terreno: de areia movediga, pois penso que tinha havido muito: mais uma mimetizagao Miins ic roe rpia—ell—— mou-se real. Sentia-se extremamente vulner4vel e aterrori- zada, ameagada como estava por duas perdas. Deixei-a com uma retaguarda psiquiétrica, porém nem ela e nem a fami lia a procurou. Relatarei_ sua pentiltima sessio antes das férias, onde penso que I. entrou em contacto consigo mesma através de um sonho, traduzindo para mim que, diante da viven. cia de abandono, seria tomada pelo sentimento de desmoro~ namento tanto do ego como do objeto, pela sensacao de cair para sempre, pressentindo seu surto psicbtico posterior. Esta sesso decorreu em um clima emocional de muita dor © percebi que, através das interpretagdes e da busca de uma retaguarda, tentava estabelecer um contomo, uma conti- néncia Aquela experiéncia tao ca6tica, Fragmento C I. entrou, sentou-se, olhoume com muita intensidade, tragando com avidez o seu cigarro. Comunicou-me estar atemorizada com meu afastamento. Tinha muito medo de ter “aquilo” que tiyera no infcio do ano, antes de iniciar a andlise e ter que ser intemada nova: mente. Nao sabia como ela ia se arranjar sozinha, nao sabia se iria ter que sair por af, atuando. Fieava pensando com quem ela iria falar, e 0 que ela iria fazer com X., aquele seu cofega que queria ter um caso com ela, Sabia que ele ngo era um seio ideal e ela um bebezinho. Mas ela se sentia como um bebé em total desamparo. Queria ter alguém a quem pudesse recorrer, porque no queria atrapalharme, principalmente depois do sonho que teve. Contou-me o:sonho. Ew estava emt minha casa, no apartamento que jd esté um pouco arrumado, organizado, De repente recebi'o avis: de que o prédio ia desmoronar. Peguei minha malér;,pus 0 que pude e eu e-rtew marido saimos. Corri, procuret outro’ prédio para me abrigar e quando ia entrar, ele tambémides: moronou. Busquei awtros lugares e sempre os prédios des- moronavam. De repente estava no Rio de Janeiro, dentro: de um prédio que também se desmanchava, bem préximo: 0 £40 de Aguiar. Tentei, ¥ one; occ ela janela, pegar o bonde para guia alcangar e tanto o bonde com _reciam também desmoronar. Acord que vou ser internada de novo? Eu me faz falta, e_jus Gpartamento, vai acontecer isto. Mas talvez eu nao fique ir, para chegar até Id. Mas eu ndo conse- 10 0 Pao de Agitcar pa- unbén lei apavorada. Pensei, seré que vou ficar to apovorada com suas férias preciso de vacé, vocé uco_meu internada, pois no inicio do ano eu nao tinha nada, era tudo um nada, Nao tinha casa nem em Campinas, nem em Sao Paulo. Tudo estava desorganizado. Depois veio a fase emi que coloquei todo o bom em Campinas ¢ 0 ruim en Sao Paulo. Agora ja consigo ver algumas vezes que 0 bom esta dentro de mim, e me sinto com muito medo de perdé-lo. Além do contetido yerbal da sua comunicagio exprimin- do muito medo e dor, a sua maneira de expressé-lo, através da tonalidade da voz, da expressdo corporal e da expressdo do olhar, comunicava-me toda a sua anguistia e 0 seu terror da morte fisica e mental. Interpretei que ela se sentia muito assustada, desampara- da, pela sua propria violéncia que ameagava todo 0 aspec- to amoroso que sentia por mim, toda sua capacidade de pensar sobre ela e sobre mim, “o bom” de dentro dela. Ela reagia como se fosse um bebezinho cheio de ddio ¢ deses- pero quando a mde ou o seio se afastavam, imaginando que seu 6dio desmoronaria, mataria o seio ¢ a mae dentro ¢ fora dela. Ficava aterrorizada, porque pensava que 0 que ela so- nhava e o que ela imaginava seria verdade. Observacdo T. pereceu sentir, no primeiro movimento deste frag- mento, 0 seu limiar A dor e A frustragao ameacado pela du- pla perda, analista e marido. Perder 0 marido e perder tem- porariamente a jeto extero, de, ‘analista significava para ela a perda do ob- ainda concretizado, e qualquer esperanga ‘um vinculo com o mesmo. Em um_primeiro momento, tentou ainda pensar que n4o ira, perder-me para sempre, ? na seriam apenas as minhas férias, tentou pensar buscando um objeto substituto, mas logo o terror e 0 panico a invadiram. Talvez “aquilo” significasse, para ela, a vinculacao da experiéncia presente com alguma experiéncia pas _Presente_com_alguma experiéncia passada_e-a experiencia presente, sendo inundada pela passada, leva- iia a tonit quela Wvéacla de depmseoe mone ance “Wareas que estruturaram o seu nicleo de Mégoa Critica, o seu micleo depressivo original’. Ela disse-me que sabia conscientemente que 0 amigo é o amigo, a analista é a analista, ambos ndo eram aquele seio ideal e ela aquele bebezinho fundido ao seio que se tomnou de repente ausen- te e frustrador. Sabia conscientemente que eu ndo a aban- donaria, mas sentia diferente. Sentia-se em total desamparo, sujeita A morte ¢ a inani¢fo, deprimida e sem mente. Pe- dia-me Socorro, alguém a quem pudesse recorrer e que a aju- dasse a se discriminar no tempo ¢ no espace. ‘Penso porém que a compulsdo 4 repeticao estimulada pela frustragdo presente tomouse mais forte ¢ sua mente foi to inundada por essas experiéncias arcaicas, que ela sentiu ser realmente um bebé em desamparo, ameacado pela perda tanto do objeto como do Ego. 0 sonho tornou- ‘se o prentincio de um fato que ocorreu depois. Ela intuiu que essas experiéncias ultrapassariam 0 seu limiar a0 esti- Fnulo doloroso; pois, como nos disse Freud, a dor € o mais imperativo dos processos, nfo hé obstéculos 4 sua condu- ¢fo, ela rompe qualquer bareira. Estimulada pela dupla . Emeaga de separagio, ela exprimiu, através de seu sonho, gin um primeiro movimento, uma tentativa de ndo-frag: mentago. Mas 0 processo migratério associativo, no qual buscou 0 atributo bom do nticleo perceptivo, o bom pré- dio ou o Pio de Agitcar, significando o “seio-bom", este fol vinculado a uma experiéncia memorativa traumiticn excessivamente dolorosa para sua mente suportar. O movi mento a aterrorizou, 0 objeto se desmantelou, nao houve 1 Tal nficleo estaria sempre na possibilidate de emertin, permane= condo subterraneamente em a4ivag%0. ‘Continéncia no mesmo para a sua OU OS Sucessivos prédios desmoro bém 0 seio Pao de Acticar, ‘da experigneia emocional c violencia e dor. O prédio maram, assim como tam- Apareceu o prentincio da perda eriéncia om a analis meat ‘temo, indiscriminada des eae r i as-experiéncias dolorosas © ar- pects que teriam uma forga de atragao semelhante a um i ocasionando a Sragmentacao tanto do objeto como do €g0, ocasionando a vivencia do “branco psiquico”, do vazio ou da loucura. Expressou também no sonho que a frag- pe ve cence pits indiscriminadas do passado ; s do complexs perceptive como também o seu nicleo. Falhou, como conseqiiéncia, a es- peranga da busca de uma realizagao, ela néo “alcangou” 0 seio Pao-de-Agticar e a vivéncia depressiva de morte in- tema e externa foi tao intensa que I. acordou aterrorizada. Na filtima semana de minhas férias, I. realmente entrou em surto, 0 sonho transformou-se em um fato. No comia, nao dormia. Agitada, andava de um lado para outro, tentan- do expulsar sua angiistia avassaladora através de uma ati- yidade motora desordenada, inundando com ela a familia. Nem ela e nem a familia procuraram a retaguarda indicada, pois os parentes estavam tao acéfalos como ela. Isto acon- teceu ap6s a minha volta, quando I. foi medicada, Ocorreu, porém, um movimento diferente da primeira intemagdo, uervislumbre de esperanga. um vishimbre de dntiojecdo, Diferente da sua queixa de vazio, era capaz de, no sanat6rio, apesar de pouco visitada pelos pais, os quais no nomeava, repetir e soletrar o nome da analista ¢ depois do marido, tentando retélos em sua mente delirante, querendo saber se eles estavam vivos ou mortos. Voltou a andlise e interrompeu-a somente quando 0 marido foi transferido para o estrangeiro, um ano depois. Fragmento D I. entrou, sentou-se, olhou-me com afetuosidade e come- ou a falar. Disse-me que tinha trabalhado muito, dividindo suas coisas para sua mudanga de pafs: uma parte ficaria em arm casa da mae do marido e outra na casa da mie dela. Levin- tou-se, pegou um cinzeiro e disse-me: “E por pouco tempo’ Olhou-me de um modo triste e comentou como estava difi- cil para ela deixar o Brasil. Falou-me da mie e disse-me que, apesar de sentir que esta tinha dificuldades com ela, iria sentir sua falta, como também a do pai e do inmAo, pois gostava deles, Sentiase mais sossegada em relacdo 4 irma mais yelha, pois ela estava bem, inclusive iria ter um bebé. Fez siléncio e continuou dizendo-me que deixar o pais era algo dificil, porque é neste que tem rafzes, pode-se falar a mesma lingua. Lembra-se da viagem anterior para a Inglaterra, onde foi euforica, toda de “jeans”. Agora pensa- va comprar roupas mais leves. Refere entdo que teria ido a uma festa de despedida em sua homenagem e do marido, ficando espantada por observar que gostavam dela. Um ami- go disse-lhe que parecia triste com essa viagem, tendo o ar de uma condenada. Disse-lhe que ela podia conversar comigo mais seria- mente sobre 0 que sentia. Observei-lhe como estava preocu- pada com essa viagem, temerosa em separar-se de mim, nZo escondendo o medo que sentia. I. respondeu-me que comigo podia falar a verdade, que tinha medo, um grande medo, mas estava fazendo muito esforgo. Imaginava Nova York imensa, tudo novo, tinha medo de ter uma crise de depressio e eu estar tZ0 longe. Lembrou-se da noite anterior, quando conversou com 0 irmao do marido; ele havialhe mostrado um retrato do Cen- tral Park, onde nevava. Usava roupas grossas para se prote- ger do ftio... Penso que me falava do seu temor @ depressdo; mas tam- bém me falava da esperanga de poder utilizar seus proprios recursos para tomar conta de si propria, abrigar-se ou bus- car ajuda, defendendose da nevada, do frio ou da depres: sto. Talvez. tivesse estabelecido uma ligagio com i jue se enralZo ASU — ‘atetiv: aD jou, recomendei um colega, cso cla desejasse con- tinuar o trabalho de andlise. Fs ieee 98 pés, distante, apesar de ser uma jovem le boa presenea. Ultima filha de u: Neen oe mM casal com quatro fi- ‘filho, exa_adita em drogas, fe desconhecido da familia, eee No deconer de sua andlise, soube por ela que havia so- frido Tecentemente um desastre de automével enquanto. guiava alcoolizada. Conjecturei que poderia até ser uma ut suic: © esta minha idéia veio a confirmar-se mais tarde, devido 3s intensas_atuacbes contra ela mesm Havia abandonado suas atividades universitdrias © sua Uni ca companhia, além do grupo com o qual se drogava, era uum rapaz de sua idade, também adito em drogas, com quem mantinha uma atividade sexual compulsiva, Contou-me ainda que, quando estava muito angustiada, fechava-se em seu quarto para imaginar, ndo sabendo dis- criminar muitas vezes se era imaginacdo ou yerdade. Ao per- guntar a ela 0 que ela imaginava, disse-me ficar horas e ho- ras pensando sobre como reger um conjunto musical mui- to importante, sentirse poderosa, 0 {dolo da juventude ¢ ganhando muito dinheiro. Ao perguntar o que ela faria com esse dinheiro, respondeu-me que montaria um orfana- to. Falou-me que enquanto seu corpo ficava inerte, sua ca~ bega andava nestas horas em alta voltagem. Apés ter inter- tompido sua relag#o com o namorado por té-lo visto em ati- tudes sexuais com uma amiga, seu estado agravouse. Na experiéncia analitica, sentia-me caminhar com esta analisanda beira de um abismo. Ela dizia possuir uma agressividade que a deixava aterrorizada, atingindo-a com tal intensidade que precisava movimentar-se com muita tapidez ou entio paralisar-se. Penso que; nestes momentos, ela tentava expulséla através de uma atividade motora desordenada, extremamente perigosa para a sua propria vida, ou entao imobiliz4-la, Rota sua capacidade para pensar a © possufda por uma angGstia muito intensa, ora corria com _ carro ou com a moto em alta velocidade, ora drogava-se. Deixava-me como continente da sua agressividade e da sua mente que poderia sentir o perigo, do seu desejo de preser- var-se, do seu medo da percepcao do seu corpo maltratado, Safa muitas vezes altaneira da sala de andlise, alucinatoria. mente imune, invulnerével como uma deusa de pedra, pos- sufda pelo seu aspecto onipotente e destrutivo, seu “self” louco e volétil. Durante a sessdo analitica, ficava horas alheia, furman- do, ou melhor, devorando seus cigarros, um ap6s 0 outro, quase no falando. Quando se referia a alguém de sua familia, mencionava mais o pai; a mde era uma figura au- sente. Dela falou-me somente mais de um ano ap6s iniciar sua andlise, sentindo-a ora como uma pessoa muito vio- lenta, ora como uma pessoa deprimida ¢ ausente. Segun- do ela, quando nasceu, sua mae jé havia dado o melhor dela as irmas mais velhas, sendo que para ela havia sobrado so- mente uma mae deprimida e gasta, com dois seios murchos.2 Pareceu-me entdo que ela recriou, de uma forma alucinada e onipotente, dois “seios-droga” os quais controlava ¢ mani- pulava 4 yontade. Expressava esta fantasia através da sua maneira de fumar na andlise, semelhante ao fumar da ma- conha, dispensando qualquer conversa ou contato mais real comigo. Em relagio 4 mée invasiva, contou-me uma “me- méria” sua: quando ela era pequena, em certa ocasifo,-a mae havia jogado em sua cabeca uma mamadeira com Ieite, havendo-a marcado para sempre. Rarecia-me que seu “ser go mundo” era ameacado pelo fantasma da invasZo. Observei que, na experiéncia analitica, oscilava entre dois movimentos: axa qvora.um-distandamento aliaasian, e,encapsulado, expresso através do seu silencio, das suras ise ite, ora ocora o desyo de atrav ligagdo. com o “seio-cigarro™. met ia_a_ansia de absorver-me, tentan yeTecer a_unidade desejada. Porém, temerosa de confundirse co- By

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