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RESUMO DA AULA MINISTRADA NO
CENTRO DE FORMAÇÃO PASTORAL FREI GALVÃO
Região Episcopal Santana
Arquidiocese de São Paulo
Curso para Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão
Matéria: A EUCARISTIA E A IGREJA
Professor: NELSON VELLOSO
e‐mail‐ nelsonvelloso@ajato.com.br
tel. 11 2979.7177
O que é ENCÍCLICA: termo grego que significa circular. É um
documento endereçado pelo papa a todos os membros da Igreja ou a um grupo
específico da Igreja ou a todos os homens e mulheres de boa vontade. O assunto da
Encíclica pode ser doutrinal, moral, pastoral ou disciplinar, de profunda importância
para o mundo inteiro. Para os católicos, os ensinamentos das encíclicas pertencem ao
magistério ordinário (oficial) da Igreja.
ECCLESIA DE EUCHARISTIA
INTRODUÇÃO:
Na quinta‐feira Santa, 17 de abril, do ano de 2003, 25° ano do
Pontificado do Papa João Paulo II e ano do Rosário, foi por ele publicada uma Carta
Encíclica, denominada Ecclesia de Eucharistia, propondo à Igreja, a renovação da
centralidade da Eucaristia na Igreja. (Eucaristia = Ação de Graças em grego)
A proposta do Sumo Pontífice é despertar em nós, fiéis,
sentimentos de enlevo (encanto, êxtase, deleite) eucarístico, para contemplarmos,
junto com Maria, o rosto de Cristo, isto é, saber reconhecê‐lo, em todas as suas
manifestações, nas suas presenças, mas principalmente na Eucaristia, sacramento vivo
do seu corpo e do seu sangue.
A Igreja vive da Eucaristia; isso é uma verdade de fé, pois ela é o
próprio núcleo (centro) do mistério da Igreja. O sacrifício eucarístico é a fonte e o
centro de toda a vida cristã 1 . Na Santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro
espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo. É por isso que a Igreja volta‐se
continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do altar.
O sacramento da Eucaristia foi instituído por Jesus Cristo, no
Cenáculo de Jerusalém 2 .
João Paulo II pergunta “será que os Apóstolos, que participaram
daquela ceia, teriam entendido plenamente o significado daquelas palavras?”. Talvez
não. Provavelmente só foram entendê‐las, no fim dos acontecimentos (Triduum
Sacro), período que vai da tarde da quinta feira Santa até a manhã do domingo da
Páscoa: ai está contido o mistério pascal e o mistério eucarístico. Da Eucaristia, do
mistério pascal, nasce a Igreja, por isso, ela, a Eucaristia, está colocada no centro da
vida eclesial. Podemos conferir isso em Atos 2,42. A instituição da Eucaristia antecipou
os acontecimentos que vieram logo depois: o sangue que Cristo tinha entregado à
Igreja, como vinho de salvação, no sacramento da Eucaristia, é derramado na cruz,
tornando‐se o instrumento de nossa salvação (redenção), da salvação do mundo.
Quando a Igreja anuncia a morte e proclama a ressurreição de
Jesus Cristo, revela também o seu próprio mistério: Igreja de Eucaristia. A Igreja vive
1
Vaticano II
2
Lc 22, 19‐20; Mt 26.26‐28; Mc 14, 22‐24
do Jesus eucarístico e por Ele é alimentada. Sempre que participamos da celebração
eucarística, vivemos a experiência dos discípulos de Emaús: “nossos olhos abrem‐se e
nós o reconhecemos" 3 .
O Santo Papa afirma: “a Eucaristia é o que de mais precioso
pode ter a Igreja ao longo da história. É o verdadeiro mistério da fé, em que o mundo
saído das mãos de Deus criador, volta a ele redimido por Cristo”.
Capitulo 1°: MISTÉRIO DA FÉ
O Senhor Jesus; na noite em que foi entregue 4 instituiu o
sacramento da Eucaristia, isto é, o sacrifício eucarístico do seu corpo e do seu sangue.
A Igreja recebe a Eucaristia de Cristo, não como um dom, entre
muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom dele mesmo, da sua
pessoa, como obra da salvação. Este sacrifício é tão importante, tão decisivo para a
salvação da humanidade que Jesus Cristo realizou‐o e só voltou ao Pai, depois de nos
ter deixado o meio para dele participarmos, como se tivéssemos estado presentes;
assim cada fiel pode tomar parte dele, alimentando‐se dos seus frutos inesgotáveis 5 .
É esta a verdade que o Sumo Pontífice que recordar‐nos,
colocando‐se conosco em adoração diante desse mistério.
A Santa Missa é, portanto, ao mesmo tempo e inseparavelmente
o memorial do sacrifício e o banquete sagrado da comunhão do corpo e do sangue do
Senhor. São um único sacrifício. Pela participação na Missa (no sacrifício eucarístico),
os fiéis se oferecem a Deus, juntamente com Cristo, a vítima divina e proclamam a sua
ressurreição (mistério da ressurreição).
São Cirilo de Alexandria, citado por João Paulo II, dizia a respeito
da participação nos santos mistérios: “É uma verdadeira confissão e recordação de que
o Senhor morreu e voltou à vida por nós e em nosso favor”.
Reafirma‐se assim, a doutrina firmada pelo Concílio de Trento 6 ,
que estabeleceu a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia: “Pela consagração do
pão e do vinho, opera‐se a conversão da substância do pão e do vinho, na substância
do corpo e do sangue de Jesus Cristo” 7 . Ou seja, é o verdadeiro mistério da fé
(mysterium fidei), mistério que supera nossos pensamentos e só pode ser aceito pela
nossa fé. A eficácia salvifica do sacrifício realiza‐se plenamente na comunhão, ao
recebermos o corpo e o sangue do Senhor.
O próprio cristo nos disse: “Assim como o Pai, que vive, me
enviou e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que de mim se alimenta, viverá por
3
Lc 24,31 (Cléofas)
4
1 Cor 11,23
5
Jo 13, 1
6
Concílio Tridentino, convocado pelo Papa Paulo III, iniciado em 1545 e terminado em 1563
7
O que a Igreja Católica chama de transubstanciação
mim” 8 . A Eucaristia é verdadeiro banquete, onde Cristo se oferece como alimento.
Não é alimento em sentido figurado (metafísico), mas verdadeiramente uma comida e
verdadeiramente uma bebida 9 .
Capítulo 2°: A EUCARISTIA EDIFICA A IGREJA
O Concílio Vaticano II recorda que a celebração eucarística está
no centro do processo de crescimento da Igreja. Os evangelistas especificam que
foram doze os Apóstolos que se reuniram com Jesus na última ceia 10 . Detalhe
interessante e importante: Tendo aceitado o convite de Jesus, entraram pela 1ª vez em
comunhão sacramental com Ele. Os Apóstolos foram a semente do novo povo de Deus
e a origem da sagrada hierarquia: a Igreja. Desde então, a Igreja edifica‐se, através da
comunhão sacramental com o filho de Deus: “Fazei isto em minha memória” 11 , e a sua
missão está em continuidade com a de Cristo: “Assim como o Pai me enviou, também
eu vos envio a vós” 12 . A nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada um, faz
com que, nele, sejamos também parte do seu corpo total que é a Igreja. A força
geradora da unidade do corpo de Cristo contrapõe‐se aos germes da desagregação da
humanidade por causa do pecado.
Capítulo 3°: A APOSTOLICIDADE DA EUCARISTIA E DA IGREJA
Se a Eucaristia constrói a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia e
dizemos que a Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica, também podemos afirmar
que a Eucaristia é Una, Santa, Católica, Apostólica e além de tudo Santa, porque é o
próprio Santíssimo Sacramento. E porque a Eucaristia é apostólica? Porque os
Apóstolos estão na sua base; porque ela é celebrada na fé dos apóstolos e porque os
fiéis concorrem para a oblação 13 da eucaristia, em virtude do seu sacerdócio real (não
ministerial). Só o sacerdote ordenado pode celebrar o mistério eucarístico “in persona
Christi” 14 , conforme determinou o Concílio Ecumênico Lateranense IV, em 1215.
A assembléia que se reúne para a celebração da Eucaristia, para
poder ser verdadeira assembléia eucarística, necessita absolutamente de um
sacerdote ordenado para presidi‐la 15 .
Capítulo 4°: A EUCARISTIA E A COMUNHÃO ECLESIAL
8
Jo 6,57
9
Jo 6.55
10
Mt 26,20
11
Lc 22,19
12
Jo 20,21
13
Oferenda a Deus ou aos Santos.
14
Em nome de; nas vezes de, Cristo
15
Ef 2,20; Mt 9,38.
A Igreja é chamada a promover e conservar a comunhão entre os
fiéis e destes com a Trindade divina, tendo como instrumentos a Palavra e os
Sacramentos, principalmente a Eucaristia, que alias, também recebe o nome de
Comunhão. Daí se conclui que a eucaristia é o sacramento culminante para levar os
fiéis à perfeição à comunhão com Deus Pai, pelo seu Filho Unigênito, por obra do
Espírito Santo. Por ele (sacramento) alcançamos Deus e Deus une‐se a nós.
Sua Santidade, João Paulo II, lembra muito bem, que a Eucaristia
não pode ser ponto de partida da comunhão. Ela pressupõe a sua existência e visa sua
consolidação e perfeição. Somente neste contexto tem lugar a celebração legítima da
Eucaristia e a autêntica participação nela. São Paulo Apóstolo, na 1Cor 11,28, advertia:
“examine‐se cada qual a si mesmo e, então, coma desse pão e beba desse cálice” 16 .
Não é possível dar a comunhão a uma pessoa que não esteja
batizada ou que rejeite a verdade da fé sobre o mistério eucarístico. Participar na
Missa é uma obrigação dos fiéis, a não ser que tenham um impedimento grave. A
eucaristia dominical é o lugar privilegiado onde a comunhão é anunciada e
incentivada.
Capítulo 5°: O DECORO DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
Já vimos que Jesus Cristo instituiu a eucaristia na noite da última
ceia. Chama a atenção a simplicidade e a dignidade do gesto: apenas uma grande sala,
arrumada com almofadas no chão (cenáculo). Ao longo dos séculos, a Igreja sentiu‐se
impelida a celebrar a Eucaristia num ambiente digno desse grande mistério. Daí nasce
à liturgia cristã 17 .
O banquete eucarístico é verdadeiramente banquete sagrado,
onde na simplicidade dos sinais se esconde a santidade de Deus. Compreende‐se,
assim, como através dos tempos, a fé da Igreja no mistério eucarístico, exprimi‐se
através de expressões exteriores e atitudes interiores de devoção, o que vai levar à
criação de um estatuto especial de regulamentação da liturgia eucarística (Lecionário,
Missal, etc.), bem como no desenvolvimento de um rico patrimônio de arte
(arquitetura, escultura, pintura, música, etc.).
As formas dos altares, dos sacrários, a música sacra, os
esplendores das arquiteturas e dos mosaicos, a construção e o adorno dos edifícios
sacros; o tesouro é demasiado grande e precioso para se correr o risco de o
empobrecer ou prejudicar com experimentações ou praticas introduzidas sem uma
cuidadosa verificação pelas competentes autoridades eclesiásticas, em estreita relação
com a Santa Sé.
16
Buscar primeiro o sacramento da Reconciliação – c/c 1385; 2Cor 5,20b; Jo 14,6.
17
Culto público e oficial instituído pela Igreja Católica para a Missa, cujo rito sofreu alterações a partir
do Concílio Vaticano II – 1962/1965.
Neste capítulo, o Papa lamenta que, a partir da reforma litúrgica
pós conciliar, não faltaram abusos que levaram alguns a considerarem não
obrigatórias as “formas” escolhidas pela grande tradição litúrgica da Igreja e do seu
magistério e introduziram inovações não autorizadas e muitas vezes completamente
impróprias. Por isso ele faz um apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas
com grande fidelidade, na celebração eucarística, pois a liturgia não é propriedade
privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os
santos mistérios. Por isso ele pediu aos dicastérios 18 competentes da Cúria Romana, a
preparação de um documento específico sobre este tema, inclusive com referências de
caráter jurídico 19 .
Capítulo 6°: NA ESCOLA DE MARIA, MULHER “EUCARÍSTICA”
No último capítulo desta carta‐encíclica, João Paulo II, como
grande devoto de Maria, não podia deixar de relacioná‐la com a Igreja e a Eucaristia.
Maria como mãe e modelo da Igreja, pode guiar‐nos para o Santíssimo Sacramento,
porque tem íntima e profunda relação com ele. Todas as vezes que repetimos os
gestos de Cristo na última ceia, estamos também, aceitando o convite de Maria: “Fazei
o que ele vos disser” 20 .
Maria ao oferecer o seu ventre virginal para a encarnação do
Verbo de Deus, por obra do espírito Santo, praticou a fé eucarística, antes da
instituição da Eucaristia, antecipando nela, a realidade física do corpo e do sangue,
que se realiza sacramentalmente quando recebemos a comunhão. Ela torna‐se o
primeiro “sacrário” da história 21 .
Maria vive uma eucaristia antecipada, uma comunhão espiritual
de desejo na união com seu filho e que se manifesta após a ressurreição, na celebração
eucarística presidida pelos Apóstolos. Ela recebe agora, nas espécies sacramentais,
aquele mesmo corpo concebido e gerado no seu ventre.
CONCLUSÃO:
O Sumo Pontífice conclui falando da graça de poder oferecer à
Igreja, no 25° ano do seu pontificado petrino, esta encíclica sobre a Eucaristia. Ele nos
deixa o seu testemunho de fé na Eucaristia e nos diz: “os nossos sentidos falham, mas
basta‐nos simplesmente a fé, radicada na palavra de Cristo, que nos foi deixada pelos
Apóstolos como nos fala Pedro em Jo 6.68 – Senhor, para quem havemos de ir? Tu
tens palavras de vida eterna”.
18
Departamento da Igreja Católica que compõe a cúria romana; congregações, tribunais eclesiásticos,
conselhos, ofícios, comissões, etc.
19
1Cor 11,17,34.
20
Jo 2,5 – At 1,14
21
Lc 1,30‐35
Cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão
da Igreja, cada aplicação de planos pastorais, dever extrair a força de que necessita do
mistério eucarístico e orientar‐se para ele como seu ponto culminante.
O mistério eucarístico deve ser vivido na sua integridade, assim
a Igreja fica solidamente edificada e exprime o que ela é verdadeiramente: una, santa,
católica e apostólica; povo, templo e família de Deus; corpo e esposa de Cristo;
animada pelo Espírito Santo; sacramento universal de salvação e comunhão
hierarquicamente organizada. Podemos ouvir como se dirigidas a nós, as palavras de
Javé ao profeta Elias: “levanta‐te e come, porque ainda tens um caminho longo a
percorrer” 22 .
E terminando, como nos pedia João Paulo II, façamos nossos, os
sentimentos de Santo Tomás de Aquino:
“Bom Pastor, pão da verdade, Aos Mortais dando comida
Tende, piedade, de nós, Dais também o pão da vida:
Conservai‐nos na unidade, Que a família assim nutrida
Extingui nossa orfandade Seja um dia reunida
E conduzi‐nos ao Pai Aos convivas lá do céu”.
Bibliografia:
Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia – Paulinas – 5ª edição – 2003.
Bíblia de Jerusalém – Paulus – 2ª impressão – 2003.
Livro do Catequista – Fé, Vida, Comunidade – Paulus – 17ª edição – 2002.
22
1Rs 19,7