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COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA CIVIL

SISTEMAS ESTRUTURAIS II (ESCADAS)


10º semestre / Engª Civil

Prof. Sérgio Carneiro

Sorocaba/SP
Agosto, 2017
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1 ESCADAS

São peças estruturais cuja função é interligar 2 (dois) ou mais níveis de uma estrutura; as
escadas mais simples, normalmente com projeção retangular em planta, podem ser classificadas
como sendo em laje ou em viga.

1.1 Classificação

1.1.1 Escadas em laje

1.1.1.A Escadas apoiadas sobre vigas transversais

1.1.1.B Escadas apoiadas sobre vigas longitudinais


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1.1.1.C Escadas apoiadas sobre 4 vigas

1.1.2 Escadas em viga

1.1.2.A Com viga central

1.1.2.B Em cascata
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Cabe observar que dentre os tipos de escadas citados, o mais comumente utilizado é a
escada em laje armada longitudinalmente, apoiada sobre duas vigas transversais. Utilizaremos
esse tipo, portanto, para ilustrar as etapas de dimensionamento de uma escada.

1.2 Parâmetros Geométricos

Da planta e do corte apresentados, temos os seguintes elementos geométricos:


 𝑑 = desenvolvimento horizontal (ou extensão da escada)
 ℎ = altura ou desnível
 𝑙𝑝 = extensão do patamar intermediário
 𝑙 = largura da escada
 𝑎 = piso ou passo
 𝑏 = espelho
 𝑒 = espessura estrutural (ou resistente) da laje da escada e deverá ser (𝑒 ≥ 7𝑐𝑚)
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Para estes elementos temos as seguintes considerações:
𝑎) 𝑞𝑑𝑜. ℎá 𝑚𝑢𝑑𝑎𝑛ç𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑟𝑒çã𝑜 𝑛𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣. 𝑑𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑑𝑎 (𝑒𝑠𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑒𝑚 “𝐿”, “𝑈”)
𝑰) 𝑙𝑝 ≠ 0 {
𝑏) ℎ ≥ 2,90 𝑚

𝑰𝑰) 𝑙𝑝 ≥ 𝑙

0,90 𝑚 (𝑢𝑠𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜, 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎, 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠)


𝑰𝑰𝑰) 𝑙𝑚í𝑛 ≥ {1,20 𝑚 (𝑢𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜, 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎, 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠, 𝑒𝑥𝑐𝑒𝑡𝑜 ℎ𝑜𝑠𝑝𝑖𝑡𝑎𝑖𝑠)
1,50 𝑚 (𝑝𝑎𝑟𝑎 ℎ𝑜𝑠𝑝𝑖𝑡𝑎𝑖𝑠)

25 𝑐𝑚 (𝑢𝑠𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜)
𝑰𝑽) 𝑎 ≥ {
27 𝑐𝑚 (𝑢𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜, 𝑖𝑛𝑐𝑙𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜 ℎ𝑜𝑠𝑝𝑖𝑡𝑎𝑖𝑠)

19 𝑐𝑚 (𝑢𝑠𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑣𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜)
𝑽) 𝑏 ≤ {
18 𝑐𝑚 (𝑑𝑒𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑢𝑠𝑜𝑠)

Com respeito às dimensões a e b (passo e espelho, respectivamente), seus valores devem


satisfazer à relação 63 < (𝑎 + 2 · 𝑏) < 64 (em cm); tal relação é chamada de fórmula de Blondel,
arquiteto francês do século XVII que preocupou-se com o conforto no uso de escadas.
Assim sendo, conhecido o valor de h (desnível a vencer) e uma vez adotados valores para
𝑙𝑝, 𝑙, 𝑎, 𝑏 e 𝑒 , podemos calcular o número de degraus e o desenvolvimento da escada, da forma
seguinte:

1.2.1 Número de degraus (n)


𝑛=𝑏 (1.1)

Frequentemente, o resultado desta divisão não é número inteiro, o que seria um


contrassenso. Desta forma, “arredonda-se” o mesmo “para cima” e opera-se a conta inversa, qual
seja:


𝑏=𝑛 (1.2)

Claro está que, procedendo assim, o valor de b é que ficará “quebrado” (e ligeiramente menor
que o inicialmente adotado).

1.2.2 Desenvolvimento (ou extensão) da escada


 Se houver patamar intermediário:

𝑑 = (𝑛 − 2). 𝑎 + 𝑙𝑝 (1.3)
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 Em caso contrário:

𝑑 = (𝑛 − 1). 𝑎 (1.4)

É fácil constatar que a segunda expressão de cálculo de d é obtida a partir da primeira,


quando se impõe que 𝑙𝑝 = 𝑎, ou seja, quando se “converte” o patamar intermediário em um degrau
comum.

1.3 Tomada de Cargas

1.3.1 Cargas permanentes

1.3.1.A Peso próprio

Será obtido da mesma forma que para uma outra peça estrutural qualquer (uma viga, por
exemplo), ou seja, multiplicando-se a seção transversal pelo peso específico do concreto, como
esquematizado:

Temos que o peso próprio, por metro de extensão longitudinal da escada, fica expresso por:

𝑔𝑘𝑙 = (0,5. 𝑏 + 𝑒). 𝛾𝑐 (1.5)

Onde:
 𝐶 = 2,5 𝑡𝑓/𝑚3 = 25 𝑘𝑁/𝑚³ (peso específico do concreto armado)

1.3.1.B Revestimento

Dependerá do tipo a ser empregado, bem como de sua espessura.


O valor desta carga, por metro de extensão, será dado por:


𝑔𝑘2 = 𝑔𝑘2 . 𝑒𝑟


Onde: 𝑔𝑘2 é o peso específico do material do revestimento (que pode ser obtido na NBR 6120 –
“Cargas para o cálculo de estruturas”) e 𝑒𝑟 é sua espessura
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1.3.2 Carga acidental
Sobrecarga acidental de utilização – esta dependerá uma vez mais do tipo de utilização da
escada, de acordo com a NBR 6120 – (“Cargas para o cálculo de estruturas”):

 Sem acesso ao público (residências): 𝑞𝑘′ = 250 𝑘𝑔𝑓/𝑚2 (2,5 𝑘𝑁/𝑚²)


 Com acesso ao público (demais usos): 𝑞𝑘′ = 300 𝑘𝑔𝑓/𝑚2 (3,0 𝑘𝑁/𝑚²)

Para qualquer dos casos, é claro que este carregamento, expresso por unidade de extensão,
fica sendo:

𝑞𝑘 = 𝑞𝑘′ (1.6)

Assim é que, para a região da escada onde há degraus, o carregamento total p fica sendo:

𝑝 = 𝑔𝑘1 + 𝑔𝑘2 + 𝑞𝑘 (1.7)

1.4 Esquema Estático e Diagramas de Esforços Solicitantes

Naturalmente:

𝑝𝑟𝑒𝑑 = 𝑔𝑘1𝑟𝑒𝑑 + 𝑔𝑘2 + 𝑞𝑘 (1.8)


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Onde:
 𝑔𝑘1𝑟𝑒𝑑 = 𝑒. 𝛾𝑐 (peso próprio reduzido, característico do patamar, devido à ausência de
degraus).

Convém observar que adotamos o modelo teórico mais simples possível, que consiste em
uma viga horizontal bi-apoiada. Existiriam possibilidades outras, como a adoção de pórtico
constituído de duas barras inclinadas e uma barra horizontal, por exemplo, o que tornaria a
obtenção dos esforços solicitantes de maneira mais exata.

Para o modelo teórico adotado, teremos os diagramas de esforços solicitantes apresentados


a seguir:

 𝑀𝑘𝑚𝑎𝑥 será efetivamente utilizado para o dimensionamento da escada.


 𝑉𝑘1 e 𝑉𝑘2 serão usados no dimensionamento das vigas de apoio da escada.

1.5 Dimensionamento de Armaduras

𝑀k = 𝑀𝑘𝑚a𝑥 (1.9)

𝑏·𝑑2
𝑘𝑐 = (1.10)
𝑀𝑑

Onde:
 𝑑 = (𝑒 − 2,5) (cm), onde: 𝑒 = 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎 𝑙𝑎𝑗𝑒 𝑑𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑑𝑎
 𝑏 = 100𝑐𝑚 (adota-se uma faixa de 1,0 metro de largura)

Para obtenção de d, “descontamos” 2,5cm a partir de e, considerando cobrimento de 2 cm


para classe I de agressividade ambiental (ambiente pouco agressivo), conforme a tabela 7.2 da
NBR 6118 – “Projeto de estruturas de concreto” e considerando 0,5 cm devido à metade do
diâmetro de barras de 10 mm.
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Para classes de agressividade mais altas, deveremos considerar cobrimento maior; se as
barras da armadura assim calculada forem de diâmetro superior a 10 mm, também deveremos
aumentar o desconto total.
Com os valores de 𝑘𝐶 , 𝑓𝑐𝑘 e 𝑓𝑦𝑘, utilizamos a tabela de dimensionamento à flexão normal
simples e determinamos o valor de 𝑘𝑠 para obter a área de aço da armadura principal longitudinal,
como segue:

𝑘𝑠 .𝑀𝑑
𝐴𝑠 = (1.11)
𝑑

Este valor (As) corresponde à área da armadura longitudinal de tração (principal) e ainda
deve ser maior que a armadura mínima As,mín de 0,15% da área da seção de concreto da escada.
𝐴𝑠,𝑚í𝑛 ≥ 0,0015 × 𝑏𝑤 × 𝑒
Transversalmente a esta armadura, teremos uma armadura de distribuição (armadura
secundária), cuja área é determinada por:

𝐴𝑠
𝐴𝑠2 ≥ { 5 (1.12)
0,9 𝑐𝑚²/𝑚
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1.6 Exemplo de Dimensionamento

Dimensionar e detalhar uma escada linear de uso coletivo para vencer desnível de 3,00 m.
Considerar revestimento pesando 150 kgf / m²; concreto fck = 25 MPa; aço CA 50 A e classe de
agressividade ambiental II (cobrimento = 25mm).

Resolução:

1) Geometria

h = 3,00 m > 2,90 m  patamar intermediário obrigatório

l  1,20 m 
 
Uso coletivo  a  27 cm (adotaremos l = 1,20 m, a = 0,28 m e b ~ 0,18 m.
 b  18cm 
 

h 3,00
N de degraus: n    16,7  n  17 deg raus
b 0,18

h 3,00
Dimensão do espelho: b    17,65cm
n 17

Essas dimensões de a e b satisfazem à fórmula de Blondel.

Extensão do patamar: l p  l  1,20m ; adotaremos 𝑙𝑝 = 1,20 𝑚

Desenvolvimento horizontal da escada:

d  n  2 a  l p  (17  2)  0,28  1,20  5,40m

Espessura da laje da escada : adotaremos 𝑒 = 12𝑐𝑚

Assim, temos a geometria da escada pré-definida:


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2) Tomada de cargas

Peso próprio na região dos degraus:

0,1765
g k1  (0,12  ) x1,0 x2,50  0,52tf / m
2

Peso próprio na região do patamar intermediário

0,1765
g k1red  0,52  x1,0 x2,50  0,30tf / m
2

Peso do revestimento, para degraus e patamar

g k 2  150 x1,0  150 kgf / m  0,15tf / m

Sobrecarga de utilização, ao longo de toda a escada

qk  300 x1,0  300 kgf / m  0,30tf / m

3) Esforços solicitantes
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4) Armaduras

A) Principal

M k max  3,224tfm  3.224 kN  cm

b  d 2 100  9,52
kc    1,99
M d 1,4  3224

 k c  1,99 
 
 fck  25 MPa  k s  0,029
 açoCA50 A 
 

O valor de 𝑘𝑐 obtido acima é determinado na tabela de dimensionamento à flexão normal simples


e permite o cálculo da área de aço da armadura principal. Esta área é calculada conforme
explicitado a seguir:

k s  M d 0,029 1,4  3224


As    13,8cm2 / m  12,5mm c / 9cm
d 9,5

Estas barras (da armadura principal) serão dispostas longitudinalmente, visto que a escada do
presente exercício foi assim imaginada. Sua disposição dentro da escada será vista logo adiante.

B) Secundária

 A / 5  (13,8) / 5  2,76cm2 / m
As 2   s
 0,9cm2 / m

Tomando o maior dos valores (2,76 cm² / m), podemos adotar barras de 6,3 mm de diâmetro
espaçadas de 11 cm.
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5) Detalhamento das armaduras
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Considerando-se o cálculo mencionado (escada simplesmente apoiada), deve-se tomar
muito cuidado no detalhamento da armadura positiva. A armadura mostrada na Figura (a) tenderá
a se retificar, saltando para fora da massa de concreto que, nessa região, tem apenas a espessura
do cobrimento. Para que isso não aconteça, tem-se o detalhamento correto ilustrado na Figura (b)
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Exercícios Propostos
1) Para a escada abaixo, representada em corte longitudinal, cuja largura é de 1,00 m e de uso
residencial unifamiliar, inicialmente revestida de carpete, pergunta-se: (A) Sua armadura
longitudinal está adequada?; (B) Podemos revesti-la (somente em seus pisos) com placas de 3
cm de mármore? Dados: 𝛾 = 2,8 𝑡𝑓/𝑚3 (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑜 𝑚á𝑟𝑚𝑜𝑟𝑒); 𝑓𝑐𝑘 =
25 𝑀𝑃𝑎; 𝑎ç𝑜 𝐶𝐴 50𝐴.

2) Dimensionar e detalhar a escada do projeto arquitetônico revestida de granito com


espessura de 3,0cm. Dados: 𝛾 = 2,8 𝑡𝑓/𝑚3 (𝑔𝑟𝑎𝑛𝑖𝑡𝑜); 𝑓𝑐𝑘 = 25 𝑀𝑃𝑎; 𝑎ç𝑜 𝐶𝐴 50𝐴.
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Tabelas:
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