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Apresentando uma Síndrome - Editado por Claudette H.

Gonzalez

Presenting a Syndrome

Síndrome de Noonan

Noonan Syndrome

Chong Ae Kim1
Claudette H. Gonzalez2

Resumo

Os autoresapresentam a Síndrome de Noonan


comentando as manifestações clínicas, o diagnóstico,
o diagnóstico diferencial e os aspectos
genéticos.

A primeira descriçãoda Síndrome de Noonan


foi feita por Kobylinski em 1883. Noonan &
Ehmke, em 1963, baseados em 9 pacientes de
ambos os sexos, definiram uma nova condição,
distinta de Síndrome de Turner,que mais tarde
veio a receber o epônimo Síndrome de Noonan.
Sua incidência foi estimada entre 1:1000 a
1:2500 nascidos vivos. Caracteriza-se por baixa
estatura, defeito cardíaco, pescoço curto ou alado,
deformidade torácica,facies característico
com hipertelorismo e retardo mental em alguns

casos.

Características clínicas
(figuras 1 e 2)

As características craniofaciais nos afetados pela


Síndrome de Noonan modificam-se com a idade.
No período neonatal, os achados principais são:

o hipertelorismo com inclinação palpebral antimongolóide


(95%), filtrum com sulcos «evidentes
(95%), orelhas com implantação baixa ou pos-
Instituto da Criança "Prof. Pedro de Alcantara" do Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Unidade de Genética Clínica.

1 Mestre em Pediatria pela FMUSP. Chefe da Unidade


2 Professora Associada do Departamento de Ortopedia e

Traumatología da FMUSP.

teriorizada (90%), excesso de pele e baixa


implantação de cabelo na região posterior do
pescoço (55%), palato alto (45%)e micrognatia
(25%).

No lactente, a cabeça é relativamente grande com


turricefalia. O hipertelorismo, a presença de
olhos proeminentes e ptose palpebral uni ou bilateral
são característicos. O nariz é bulboso, com
a ponte nasal achatada e a base alargada. Posteriormente,
no escolar, a face parece grotesca
ou miopática e o contorno facial torna-se
triangular. Durante a adolescência e no adulto
jovem os olhos tornam-se menos proeminentes
e o nariz mais fino, com a ponte nasal mais alta.O
pescoço é alado ou com os trapézios
proeminentes.

Na fase adulta, as pregas nasolabiais são


proeminentes, a implantação de cabelo na fronte
é alta e a pele torna-se enrugada e transparente.

Ao nascimento, o comprimento médio é de 47


cm e o peso é em geral normal em 40% dos
afetados pela Síndrome de Noonan, podendo ser
elevado em alguns afetados devido à presença de
edema subcutáneo. Durante a infância, o
crescimento estatural tende a ser paralelo ao
terceiro percentil em 60% dos casos è a
velocidade de crescimento normal. Na
puberdade o estirão de crescimento pode estar
ausente ou reduzido. A idade óssea está atrasada
em mais de 20% dos casos. Os níveis de
hormônio de crescimento encontram-se
normais com leve aumento de somatomedina. A
estatura final média no homen é 162,5 cm e na
mulher é 152 cm.

Defeitos cardíacos são encontrados em 2/3 dos


paciente com Síndrome de Noonan. As
anomalias mais comuns são: estenose pulmonar
(50%), comunicação interauricular (10%), hipertrofia
septal assimétrica 910%), comunicação interventricular
(5%) e persistência do canal
arterial (3%).
Outras cardiopatias como o prolapso da valva
mutral, a anomalia de Ebstein,o ventrículo único
e a estenose do ramo da artéria pulmonar tem
sido descritas também nos afetados.

O eletrocardiograma revela tipicamente desvio


axial para a esquerda em 33% dos casos a despeito
do fato de que as principais anomalias
cardíacas envolvem o lado direito do coração.

Em relação ao sistema genitourinario nos indivíduos


afetado pela síndrome, observa-se no
sexo masculino um desenvolvimento puberal
com virilização e subsequente fertilidade em
cerca de 40% dos casos. A criptorquidia,
comumente bilateral, que ocorre em 60% dos
meninos, pode causar espermatogênese deficiente
e esta levar tá eserilidade. No sexo
feminino observa-se que a maioria das afetadas
são férteis, a puberdade pode ser normal ou
atrasada e em geral, os níveis de gonadotrofinas
são normais.

Deformidade torácica compectus carinatum


superior tpectus excavatum inferior é
encontrada em 70% dos pacientes com Síndrome
de Noonan. O tórax é largo, em forma de
pirâmide invertida. Na infância, o tórax parece
curto e os mamilos baixo-implantados. Nas axilas
há uma prega cutânea que persiste até a fase
adulta. Outras anomalias esqueléticas incluem:
cubitus valgus(%%), má oclusão dentária
(35%), clinobraquidactilia e alargamento da
ponta dos dedos (30%) e anomalias vertebro/
esternais (25%).

As manifestações cutâneas na Síndrome de


Noonan incluem: nevus pigmentar (25%),
manchas "café-au-lait" (10%), lentiginosas (2%)
e queratose/tí/íré atrophicans facial.

Defeitos de sangramentocomo deficiência de


fator XI, doenças de Von Willebrand e disfunção
plaquetária são observados em 20% dos afetados
pela Síndrome de Noonan. A hipoplasia medular
e a anemia hipoplásica congênita foram relatadas
em raras ocasiões, Problemas relacionados ao
sistema linfático como a displasia congênita, a
hipoplasia ou a aplasia da cadeia linfática
observados em 20% dos casos podem levar ao
linfedema geral ou periférico. Descreveram-se
também linfangiectasia pulmonar, linfangiectasia
intestinal, hidropsia fetal e higroma
cístico na síndrome. Raramente na Síndrome
de Noonan podem estar associados: tireoidite

autoimune, feocromocitoma, ganglioneuroma,


schwanoma maligno, contraturas congênitas,
malformação de Ghiari, xantomas orais e
cutâneos, queratose odontogênica, hipertermia
maligna, polidactilia e vasculite.

As principais alterações observadas quanto ao


desenvolvimento na Síndrome de Noonan são:
déficit de desenvolvimento na infância (40%),
atraso motor (26%), dificuldade no aprendizado

(15%), atraso na linguagem (20%) e surdez


(12%).

Observa-se que o QI dos afetados varia de 64 a


127 com média de 102. Nora & cois. (1974)
observaram quocientes de inteligência dos
afetados em média 10 pontos inferiores aos dos
dos membros normais da família. O retardo
moderado é encontrado em mais de 35% dos
casos.

Diagnóstico diferencial

Inclui a Síndrome de Turner, a Síndrome de


Aarskog, a Seqüência de Klippel-Feil, a síndrome
de alcoolização fetal e a embriopatia por
primidona.

A Síndrome de Turner e a Síndrome de Noonan


têm em comum várias características tais como:
baixa estatura, epicanto, hipertelorismo, pescoço
alado, deformidade torácica e malformação
cardíaca.

Na Síndrome de Turner, que sempre se associa


ao fenotipo feminino, há disgenesia ovariana
com hipoplasia ou agenesia de elementos
germinativos. O cariótipo é anornal, podendo
haver apenas monossomia (45X), deleções ou
outras alterações em um dos cromossomos X.

Na Síndrome de Noonan ambos os sexos são


afetados e o cariótipo é normal.

Etiologia

A maioria dos casos descritos inicialmente foram


de ocorrência esporádica. Trabalhos recentes indicam
que há a transmissão familiar em 30 a 75%
dos casos. Trata-se de herança autossômica
dominante com expressão muito variável. O

fenotipo, particularmente em adultos, pode ser


extremamente sutil. O exame cuidadoso dos
familiares e a revisão de fatografias são necessários
para detecção do afetado. O
eletrocardiograma e o ecocardiograma devem
ser solicitados sempre que o exame físico for
duvidoso. Observa-se a transmissão do gene por
via materna três vezes mais freqüente que a transmissão
por via paterna. Isto deve estar relacionado
à criptorquidia e consequentemente
infertilidade masculina.

Summary

The authorspresente theNoonan Syndrome emphatizing


its clinical manifestations, the
diagnosis, the differential diagnosis and the
genetic aspects.

Referências

1. ALLANSON, J.E. - Noonan Syndrome. J.Med.Genet.


24:9,1987.
2. BUYSE, MI. - Birth Defects Encyclopedia. Center for
Birth Defects Information Services, Inc. Dover, MA,
1990, p. 1257.
3. NORAJJ.; NORA A.H.; SINHA A.K.; SPANGLER R.D. &
LUBS HA - The Ullrich - Noonan Syndrome (Turner
phenotype). Am J,Dis. Child. 127:48,1974.
4. SMITH, D.W. & JONES, K.L. - Smith's Recognizables
Patterns of Human Malformation. 4th ed. Philadelphia,
Saunders, 1988. p.1257.
Aceito para publicação em
16 de abril de 1993.
Endereço para correspondência
Dra. Chong Ae Kim
Instituto da Criança
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 647
São Paulo - SP
05403.900

SINDROME DE MOEBIUS
O que é

A Seqüência de Möebius é uma doença caracterizada por uma paralisia facial, ou


seja, há perda de movimentos do rosto. Essa paralisia pode ser total (quando a pessoa
não consegue realizar nenhum movimento com os músculos da face) ou parcial (quando
a pessoa consegue realizar alguns movimentos, porém reduzidos). São afetados os
movimentos dos olhos e os movimentos da face que expressam emoções.

O que é - Causa

A causa da doença ainda não está esclarecida. Algumas pesquisas apontam


que há deficiência na formação do nervo motor que inerva os músculos da
face. Já outras indicam que há ausência de tecido muscular para a
realização dos movimentos. Alguns pesquisadores defendem a teoria de que
a doença seja hereditária (transmitida dos pais aos filhos através dos
genes), já outros acreditam que a causa seja teratogênica (malformação
originada durante a gravidez e causada por agentes químicos ou físicos,
como alguns remédios ingeridos pela mãe).

Apesar de não se ter muitas certezas quanto às causas da doença, uma


pesquisa realizada em 1996 sugere fortemente que pode estar ligada ao
uso de misoprostol: 49% das crianças portadoras da Síndrome de Moebius
estudadas nasceram após tentativas frustradas de aborto com o uso de
misoprostol. O misoprostol, medicamento vendido com o nome de Citotec
usado para o tratamento de úlcera gástrica, é usado de forma clandestina
para provocar abortos. Quando o aborto não ocorre o desenvolvimento do
embrião é prejudicado e ele pode nascer com a Síndrome de Moebius.
O que é - Manifestações

Os nervos afetados na doença são o abducente e o facial, porém, muitas


vezes há anomalias de outros pares de nervos cranianos, principalmente o
glossofaríngeo e o hipoglosso. Como cada nervo é responsável por uma região
da face, de acordo com os nervos afetados em cada caso há um conjunto de
manifestações.

As manifestações mais frequentes estão listadas abaixo:


 face em máscara ou falta de expressão facial;
 inabilidade para sorrir;
 estrabismo convergente;
 ausência de movimentação lateral dos olhos e do piscar;
 fissura palpebral;
 dificuldade para fechar os olhos seguidos de ressecamento da córnea;
 fraqueza muscular na parte superior do corpo;
 hipoplasia de mandíbula e de maxila;
 baba;
 palato alto e estreito;
 língua pequena ou mal formada;
 alterações de dentes;
 alterações na fala;
 problemas auditivos;
 malformações de extremidades;
 polidactilia (dedo extra numerário) e sindactilia (dedos unidos);
 miopatia primária;
 retardo mental;
 hérnia umbilical;
 pés tortos congênitos;

 contratura flexora de joelhos e tornozelos;


Em alguns casos a maioria das manifestações citadas está presente, porém
pode acontecer de apenas algumas se manifestarem.

Na imagem abaixo pode-se observar a face de um portador de Síndrome de


Moebius.

O que é - Tratamento e Cura

Esta doença NÂO TEM CURA.

O que se pode fazer é minimizar os efeitos da doença através de


tratamentos cirúrgicos ou através de terapias que visem a melhora
das condições musculares.

Através do menu ao lado veja as possibilidades de tratamento e terapias


que melhoram a qualidade de vida.

Síndrome de Laurence-Moon Bardet-Biedl


(LMBB)
 
 
Na verdade, trata-se de duas síndromes semelhantes e fáceis de serem
confundidas num diagnostico clínico. A LMBB é uma doença complexa, que
afeta várias partes do corpo, incluindo a retina. Ela aparece na infância,
quando a retinose pigmentar é diagnosticada. Outros sintomas ajudam a
definir essa síndrome: polidactilia (dedos extras nas mãos ou nos pés),
obesidade, problemas renais. Cerca da metade dos que são afetados por
essa síndrome tem dificuldades de aprendizado e de desenvolvimento
emocional, podendo apresentar em alguns casos, traços de atraso mental.
 
Os afetados pela síndrome de Laurence Moon apresentam problemas
neurológicos e raramente apresentam polidactilia. Os casos de LM são
extremamente raros.  Mais comuns são os casos de Bardet Biedl, onde a
polidactilia é um traço definidor da síndrome.
 
A síndrome LMBB tem um padrão de herança do tipo autossômico recessivo. 
Ambos os pais nesse caso são portadores do gen da LMBB ao lado de um
gen normal, o que faz com que a doença não se manifeste nos pais, mas seja
transmitida aos filhos.  Em cada gestação, os pais portadores do gen LMBB
terão 25% de chances de terem um filho com LMBB.  Para isso é necessário
que os gens da LMBB dos pais se combinem na criança formando um par de
gens com mutações anormais.

Síndrome de Bardet-Biedl - Relato de dois casos


Bardet-Biedl syndrome - Two case reports

Jacó Lavinsky
Raquel Goldhardt
Samara Keli Ariente
Cláudia G. Domingues
Fábio Lavinsky

RESUMO
A síndrome de Bardet-Biedl é doença de herança autossômica recessiva
caracterizada por distrofia retiniana, polidactilia, obesidade, retardo mental e
hipogenitalismo. Um ou mais dos achados acima que caracterizam a síndrome
podem estar ausentes, mas a distrofia retiniana é achado consistente. Esta se
manifesta clinicamente na infância com progressiva perda visual, causando grave
dificuldade visual na adolescência. Os autores descrevem dois casos de síndrome
de Bardet-Biedl, os resultados da acuidade visual, biomicroscopia, oftalmoscopia,
angiografia, campo visual e eletrorretinograma. Foi realizada revisão bibliográfica
com ênfase na identificação dos sinais sistêmicos, envolvimento ocular, testes
eletrofisiológicos e avaliação genética.

INTRODUÇÃO

Em 1866, Laurence e Moon descreveram uma condição genética na qual os


pacientes exibiam retardo mental, baixa estatura, hipogenitalismo, ataxia,
paraplegia espástica e nistagmo(1). Alguns apresentavam retinose pigmentar,
enquanto outros, tinham atrofia coroidiana. Mais tarde, Bardet e Biedl
descreveram, independentemente, uma síndrome que consistia em obesidade,
polidactilia, retinose pigmentar, retardo mental e atresia anal(2-3). Pouco tempo
depois, Solis-Cohen e Weiss relataram a Síndrome de Laurence-Moon-Biedl
acreditando que esta seria uma desordem única com achados semelhantes aos
descritos pelos outros autores(4).
Mais recentemente sugeriu-se que as síndromes de Laurence-Moon e Bardet-Biedl
são entidades clínicas diferentes (Tabela 1), com alguns achados em comum,
incluindo retardo mental, hipogenitalismo, obesidade, retinopatia e herança
autossômica recessiva(5-6). Polidactilia e obesidade são achados raros na síndrome
de Laurence-Moon, entretanto, são encontradas com alta freqüência na síndrome
de Bardet-Biedl. Na síndrome de Laurence-Moon há envolvimento neurológico
progressivo, caracterizado principalmente por ataxia e paraplegia espástica.
Complicações neurológicas são extremamente incomuns na síndrome de Bardet-
Biedl. Os achados fundoscópicos também diferem. Na síndrome de Laurence-Moon
há extensa atrofia coroidiana, semelhante à coroideremia. Todavia, na síndrome de
Bardet-Biedl a retinopatia assemelha-se com a retinose pigmentar, havendo atrofia
coriocapilar somente nos casos avançados(6-8). Os critérios diagnósticos da
síndrome de Bardet-Biedl incluem distrofia retiniana, obesidade, polidactilia, retardo
mental e hipogenitalismo. Stigglebout considera que quatro destes achados são
necessários para se firmar o diagnóstico(9). Esta síndrome é absolutamente rara,
com uma prevalência que varia de 1:17.500 a 1:160.000.

No presente trabalho descrevem-se dois casos com achados compatíveis com o


diagnóstico de síndrome de Bardet-Biedl.

RELATO DE CASOS

Caso 1: JES, 12 anos, masculino, branco, estudante, natural de Porto Alegre/RS e


procedente de Esteio. Foi encaminhado ao Serviço de Oftalmologia do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre pelo Serviço de Genética Médica do mesmo hospital.
Apresentava história de baixa acuidade visual em ambos os olhos, observada
primeiramente aos 2 anos de idade pelo pediatra. Nesta época lhe foram prescritos
óculos; entretanto, a perda visual foi progressiva. O paciente apresentava ainda
polidactilia, que foi corrigida cirurgicamente com 1 ano de idade, retardo mental e
hipogonadismo. A história mórbida pregressa relata nascimento com 7 meses,
pesando 1.800 g. Bolsa rota por 4 dias, infecção intraparto. Paciente ficou 1 mês no
berçário. Sem outras alterações sistêmicas durante seu desenvolvimento. A história
familiar mostrava pais não consangüíneos, 3 primas paternas com retardo mental e
uma prima materna falecida por problema cardíaco.

Ao exame físico, pressão arterial normal, obesidade e hipogonadismo. Ao exame


oftalmológico constatou-se acuidade visual de contar dedos a 1 metro com correção
para miopia (OD -6,25 esf » -1,00 cil a 45º e OE -5,50 esf » -0,75 cil a 270º) em
ambos os olhos. A pressão intra-ocular, a motilidade ocular e a biomicroscopia
eram normais. À fundoscopia, observou-se palidez de papila, alteração do epitélio
pigmentar retiniano e redução do calibre vascular (Figuras 1 e 2) de ambos os
olhos (AO).

O estudo angiofluoresceínico mostrou diminuição do diâmetro vascular e alterações


pigmentares sugestivas de retinose pigmentar (Figuras 3, 4 e 5) em AO. O campo
visual mostrou-se tubular em AO e o eletrorretinograma evidenciou ausência de
registro de atividade bilateral.

As provas de função renal, sódio e potássio séricos, glicemia, testosterona,


hormônio folículos-estimulantes (FSH) e luteinizante (LH), apresentaram todos
resultados normais.

Caso 2: MES, 36 anos, feminino, branca, natural e procedente de Viamão/RS.


Apresentava baixa acuidade visual central e periférica percebida aos 6 anos. A
paciente também apresentava polidactilia nos membros inferiores, a qual foi
corrigida cirurgicamente aos dois anos de idade, bem como apêndices nas mãos, os
quais foram retirados cirurgicamente dois dias após o parto. Além desses achados,
foram constatados problemas digestivos, hipertensão, discreto retardo mental,
obesidade e ciclo menstrual normal. Na história obstétrica, consta gestação a termo
com parto natural. A história familiar registra pais não consangüíneos, irmão
falecido aos 14 anos com polidactilia, cardiopatia e estrabismo. Outros dois irmãos
normais. Sobrinho com imperfuração anal, sem esfíncter. Outros dois sobrinhos
normais.

Ao exame físico, apresentou hipertensão, obesidade e cicatrizes da correção da


hexadactilia de mãos e pés. Ao exame oftalmológico, constatou-se acuidade visual
de 20/400 no OD e de contar dedos a 1 metro no OE com correção para
astigmatismo misto (OD +0,50 » -2,00 a 5º e OE +0,50 » -1,50 a 175º) em ambos
os olhos. A pressão intra-ocular era normal. A motilidade ocular apresentou
rotações com hiperfunção de reto lateral esquerdo, e à biomicroscopia, catarata
sub-capsular posterior bilateral e câmara anterior de média profundidade. À
fundoscopia, observou-se palidez de papila, alteração do epitélio pigmentar
retiniano (Figuras 8 e 9), evidenciado na angiografia pelas rarefações e acúmulos
pigmentares, com hiperfluorescência nos locais de rarefação pigmentar e
hipofluorescência por bloqueio nos locais com acúmulos pigmentares e redução do
calibre vascular de ambos os olhos.

O estudo angiofluoresceinográfico mostrou ainda extensa alteração pigmentar no


pólo posterior e periferia, associada à vasoconstrição, sugestiva de distrofia
retiniana (Figuras 6 e 7). O campo visual mostrou-se tubular em AO, e o
eletrorretinograma ausência de registro de atividade bilateral.

DISCUSSÃO
A síndrome, uma herança autossômica recessiva, é heterogênea com pelo menos
quatro loci genéticos (BBS1-4) já mapeados até o momento(10), com formas de
apresentação completas muito raras(5). O caso 1 tem história familiar de três
primas paternas com retardo mental, e no caso 2, um irmão falecido aos 14 anos
com polidactilia, cardiopatia e estrabismo.

Outras características fundoscópicas descritas incluem palidez de disco óptico,


depósitos pigmentares esparsos e, mais raramente, pigmentos tipo “células ósseas”
(11), além do estreitamento arteriolar. Hipopigmentação macular com atrofia do
epitélio pigmentar freqüentemente ocorre num padrão em alvo. Nos dois casos
descritos, observou-se palidez de papila, alteração do epitélio pigmentar retiniano e
redução do calibre vascular de ambos os olhos. A angiografia fluoresceínica
demonstra bem as alterações fundoscópicas descritas. O estudo fluoresceinográfico
no caso 1 apresentava alterações pigmentares sugestivas de retinose pigmentar, e
no caso 2, extensa alteração pigmentar no pólo posterior e periferia associada à
atenuação vascular sugestiva de distrofia retiniana. O envolvimento fundoscópico
mais característico da síndrome é uma distrofia retiniana pigmentar atípica com
envolvimento macular precoce, podendo-se observar em casos severos membrana
neovascular pré-retiniana formada a partir de estímulos angiogênicos pela má
perfusão capilar, com exsudação a partir de capilares paramaculares.

Na maioria dos casos, a eletrorretinografia (ERG) é anormal, sendo o principal


exame diagnóstico na retinopatia da síndrome de Bardet-Biedl. Numa série de
casos acompanhados na Noruega, 36 pacientes foram submetidos a ERG que foi
anormal em todos os indivíduos(12). Na presença de um ERG alterado, mesmo com
exame fundoscópico normal, pode-se firmar o diagnóstico de síndrome de Bardet-
Biedl em casos suspeitos(13). A falta de correlação entre a máxima resposta do
ERG e as áreas residuais do campo visual, diferente do que acontece com a
retinose pigmentar em pacientes não-sindrômicos, pode estar relacionada tanto
com a baixa confiabilidade do teste de campo visual dos pacientes com a síndrome,
como com o mecanismo de degeneração retiniana progressiva, que é diferente da
retinose pigmentar pura(14). Nos dois casos estudados não houve registro de
atividade bilateral.

Ao contrário da retinose pigmentar típica, a retinopatia da síndrome de Bardet-Biedl


afeta a acuidade visual (AV) precocemente(6,8). A diminuição da AV aparece
durante a segunda e terceira décadas de vida(9,15). Cegueira noturna, em geral,
está usualmente presente. Uma baixa acuidade visual pode ser devida à má
performance por déficit cognitivo. Leys et al. sugerem que os testes de adaptação
ao escuro são mais sensíveis do que a medição da AV e, que o exame
eletrorretinográfico é mais sensível do que o teste de adaptação ao escuro na
avaliação de danos progressivos à função retiniana(16). Nos dois casos os
pacientes apresentavam cegueira legal (AV £ 20/400).

O campo visual começa a apresentar alterações por volta dos 10 anos de idade, e
aos 24 anos, certamente, não resta mais que uma ilha de visão central. Nos dois
casos a campimetria mostrou campo tubular. Já no que diz respeito à diminuição da
acuidade visual, não foi estabelecida uma relação direta com a idade(17).

Também foram descritos na literatura casos de nistagmo, catarata, atrofia de íris e


coloboma de íris(6). No caso 2 foi observada catarata subcapsular posterior
bilateral e a motilidade ocular apresentou rotações com hiperfunção de reto lateral
esquerdo.

Não há dúvidas de que a função dos bastonetes como a dos cones são afetadas na
síndrome de Bardet-Biedl. Contudo, não se determinou qual o tipo de disfunção é
mais precoce (distrofia dos bastonetes, distrofia dos cones ou ambas). Jacobson et
al. sugerem que há maior perda da sensibilidade dos bastonetes para uma certa
perda da sensibilidade dos cones(17).

Obesidade está presente em grau moderado em cerca de 90% dos pacientes.


Ambos os casos estudados eram obesos.

Sindactilia e braquidactilia são achados considerados equivalentes à polidactilia.


Dismorfias de extremidades ocorrem em mais de 90% dos afetados(15,18). Estes
achados podem passar despercebidos em casos já corrigidos cirurgicamente e cujas
cicatrizes não são aparentes. As alterações do esqueleto são as únicas detectáveis
desde o nascimento(13). Os dois casos apresentaram hexadactilia de mãos e pés.

O hipogenitalismo é freqüentemente presente em homens(5,15,18). Não existem


evidências laboratoriais de hipofunção hipotalâmica-hipofisária, sendo o
hipogenitalismo masculino, provavelmente, um distúrbio primário da síndrome
genética. O caso 1 apresentou hipogenitalismo. Até o presente momento, não há
referência de um homem com síndrome de Bardet-Biedl ter gerado prole(18-19).
Todavia, o hipogenitalismo é usualmente menos aparente nas mulheres do que nos
homens. As mulheres, entretanto, freqüentemente apresentam evidências
endócrinas de disfunção reprodutiva, sendo algumas férteis(18).

A baixa prevalência de lesões renais na síndrome de Bardet-Biedl encontrada em


estudos clínicos(9,15) contrasta com a alta incidência de doença urogenital
detectada nas necropsias(20). A uremia e/ou complicações hipertensivas podem ser
uma das causas de morte precoce na síndrome de Bardet-Biedl. O tratamento
cirúrgico precoce associado ao controle vigoroso da hipertensão pode melhorar o
prognóstico(21).

Anormalidades do metabolismo da glicose como intolerância aos carboidratos e


diabete mellitus dos tipo I e II, têm sido descritas entre os afetados(4,22-24).
Portanto, pacientes portadores de síndrome de Bardet-Biedl devem ser rastreados
para detectar a presença de alterações no metabolismo da glicose.

Existem outras síndromes, além da de Bardet-Biedl, que apresentam combinações


de achados como defeitos oculares, retardo mental, hipoplasia genital, obesidade e
anomalias digitais. Embora menos freqüentes, as síndromes de Laurence-Moon,
Alstrom e Biemond II devem ser incluídas no diagnóstico diferencial da síndrome de
Bardet-Biedl(6).

A Síndrome de Apert

Por Débora Figueiredo.

Esta síndrome foi descrita por E. Apert (MD) em 1906. Está entre as quase 6000 síndromes
genéticas conhecidas, classificada como uma anomalia craniofacial chamada de
Acrocefalosindactilia Tipo I.

A síndrome ocorre por uma alteração genética no período da gestação nos fatores de
crescimento dos fibroblastos (FGFR2), que se produz durante o processo de formação dos
gametas. Esta ocorrência é esporádica e extremamente rara. A freqüência é estimada em 1 a
cada 160.000 nascidos vivos. Não existe uma causa específica. Pode ser herdada de um dos
pais (50% em sua descendência), transmissão do tipo autossômico dominante ou uma mutação
nova, espontânea, desconhecendo-se as causas que geram esta mutação. Diz-se também que a
freqüência da mutação em pais não afetados aumenta a medida que aumenta a idade do pai,
sobretudo à partir dos 35 anos.

A síndrome de apert, como mencionado anteriormente, é uma forma rara de


acrocefalosindactilia e tem como características principais:

-     Craniosinostose: (Fusão precoce das suturas intracranianas, ocorrendo mais


freqüentemente na sutura coronária). O cérebro do recém-nascido precisa de espaço
para se desenvolver e as suturas abertas permitem a adaptação normal do crescimento
do cérebro à calota craniana. Um tratamento cirúrgico, realizado precocemente, é
imprescindível para o desenvolvimento normal do cérebro, pois impede o aumento da
pressão intracraniana que pode gerar deficiência mental, cegueira, perda de audição
por otites de repetição e problemas cardio-respiratórios. O tratamento cirúrgico
também permite uma remodelagem do crânio para dar a criança uma aparência menos
característica  (www.craniofacialcenter.com).

-     Recuo do terço médio da face: Entre a órbita dos olhos e o maxilar superior. Devido
a retração desta parte, poderá causar dificuldades respiratórias. A cavidade orbitária é
pequena, de maneira que os olhos ficam saltados (exoftálmicos). Deve-se intervir
cirurgicamente para melhorar a função respiratória fazendo-se um avanço naso-
orbitário para não gerar atrofia óptica e até cegueira.

-     Sindactilia de mãos e pés: É a fusão dos dedos das mãos e dos pés. Pode ocorrer
também polidactilia. A fusão ocorre tanto em partes moles como fusão óssea. Existem
classificações diferenciadas das mãos podendo haver fusão óssea de 2 ou mais dedos.
Geralmente o polegar é separado. A cirurgia das mãos também deve ocorrer
precocemente para mais rápido obter o mais alto grau de funcionabilidade, melhorar a
pinça, podendo resultar ou não em 5 dedos, dependendo do grau de classificação. É
importante a rapidez da cirurgia, pois não atrapalha o crescimento natural de cada
dedo individualmente e não corre o risco das articulações interfalangianas se
calcificarem. Para os pés, recomenda-se cirurgia em casos que prejudiquem o
desenvolvimento da marcha.

Outras características que podem ser encontradas em alguns casos:

- fenda palatal;

- alterações cardíacas;

- atresia pulmonar;

- fístula traqueoesofageal;

- estenose pilórica;

- rins policísticos;

- útero bicornado;

- hidrocefalia;

- otites de repetição;

- apnéa do sono;
- acne severa;

- palato ogival;

- problemas oculares;

- macroglossia

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