Você está na página 1de 59
Bioética em perspectiva gues desafios ito — uma introdugio W. Esteves Piero eA, M. Machado Soares A biottica € de me fe uA, novo conceito. A camino do consensey Distanssia — até quando prolongar avidat LE, Pessing fica eadmi Bima B.C. amdament H, Tristram 1 hospicalar IntredugSo geral a bioética Guy Durand ‘Manual de bfogtica I fiendamentos ¢& E, Sgreccia. ‘Manual de binética TE: aspectos médico-sociis EB Sgreccla biomédica ‘Princfpios de ética biomédica ip ¢Jasnes . Childress ‘Wlemas moras medicine —cur pico Palmer ” sgstasbo fet Guy Durand INTRODUCAO GERAL A BIOETICA Histéria, conceitos e instrumentos ‘Tradugio: Nicolas Nyinsi Campandrio SS 2 SSE sleses topsia inxo oucmo: , Ia ts dine Agradecimentos 8 1999 by Editions Fides Petes por cots es ons ie ‘A Usa EQUPE de colaboradores proximos que fizeram pesquisas e discutiram ccomnigo ao longe de todo o trabalho: — Sonya Auéy, consultosa em ética da pesquisa, advogadas allege Marie-de-Prances ‘ollege de Rosemont. A colegas de diversos meios que leram o manuscrito e que me ajudarar muito seus comentarios: Botte, socidlogo efildsofo, Centro de Btica Médica, conselheira em ética no Bricae oe ide sci arp) _ fe de servigo, Maison médicale Jeanne Gar- jyne Saint-Arnaud, filésofa, Faculdade de Enfermaria, Universidade de real © EDITORA DO CENTRO UNIVERSITARIO SAO CANELO- — Gilles Voyer, médico ¢ especialista em ét ‘© EDIQOES LOYOLA, Sta rate, Brasil, 200 ‘ria de PBstrie, Universidade de Sherbroo! 10 Universitario de Geria- 18 Inwroducio Geral Bioeica ‘As teorias éticascldssicas da filosofia ocupam um lugar pertinente? A bioética é ‘uma simples pragmatica ow tem interesse ema legitimar suas intengSee? Questo teérica mas que fem uma incidéncia pritice importante Capitulo 7:"Praticas" Quais so as préticas em ago? Ou, melhor, nas praticas bioéticas, 0 que esté em acaot Trataremos de int discussio, de métodos e de de concorrentes, Trata-se rmentos, tomados das ciénci Capitulo 8; “Institucionalizagio”, Apresentago dos diversos lugares em que pessoas se ocupatn de bioStica, ao informagéesfactuais sobre a paisager global ido original, os omits de ica soja diferente: no primeito caso histories, nest itimo atval, Ele esté no final por- que ¢ de ordem orgenizacional, mas também: porque, de algum modo, este ivro «quer claramente deixar sentir que se pods fa mesmo que no se faca parte de um comité, de um cen io que tenkam esse nome. ‘Uma breve conclusto, por a sintese da obra com ume ‘isto praspectiva, Ela ganhar das formas: uma comiparagto das abordagens amne- sfeana ¢ francesa que tezminard com 2 evoeagS0 de questao de multiculiuralismo des bioéticas nacionais; depois serdfeto um resuino ds visio pessoal do autor ue falaré sobre o future da bioética, Um EMERGENCIA E SITUAGAO DA BIOETICA ‘TRAGAR A historia da bioética ndo é age ‘ecimento fundador tnico. Como todo aparecimento ¢ seu desenvol res, Certos autores restamem & culturat que surgiu de uma dupia revolugio: Virios autores, entretante,estéo de acordo quando apontam um certo mix 10s dosencadeadores — a expresso “elemento desencadeador™ palavra ‘causa’, precisa demais, Mas nao ha meio de conhecer 0 nascimento e a histéria da bioética sem se recolocar em um horizonte cultural anais amplo, Daf as segdes seguintes deste capitulo. B impossivel determinar um acon- weno social ox corrente de idsias, seu igados 2 intimeros elementos e fato- ica & umn fendmeno Plano = Apelor = Oroneecadantes — Qeonensto ger! Os ftores externas mediates = 05 ftoresiternas — Ocesenvoiimerco — Gonans cere A stuogbe att APALAVRA O terme *bioética” apareceu cas 1870 em um artigo do cancerologista americano ‘Van Rensselaer Potter inttulado "Bioethics, the Science of Survival eretomado em seu livie de $971, Bioethics: Bridge ro the Future. O autor reivindica sua paternidade', 1. Van Rensselaer POTTER, “Bioethics the Science of Survival, Perspectives in Biology cand Aadieine, 14 (1870), 127-183; Kern, Bioethics: Bridge ro ihe Future, Englewood Cliff, 0 Introdugto Geral & Bodtice ‘A palavea foi retomada e consagrada em uma conferéncia dada no ano seguinte ‘na Academia de Gitncias de Nova York sb a responsabilidad social dos cientists®, Tspantedo com o desenvalvimento exponencial doconhecimento cientifico (es- ppecialmente na biologia) e com o atraso da reflexto necesséria 2 sua utlizagio, Van ‘Rensselaer Potter pede a criagio de uma nova ciéncia —uma ciéncia da sobrevivén- ‘ia — que se bascia na alianga do saber biokbgico {bio} com os valores humanos . Sea gerago atusl é marcada pela preocupagio com a sobrevivencia, expica cle,é por causa da separagao existent entre nossas duas cultucss, acura cientifica a cultura clissica (as humanidades). As duas se desesvolveram separadamenie, sem se influenciar. E urgenveestabelecer ume alianga extre elas (bio-ética). Q saber desea alia serd da ordem da sabedoria, econstituiré uma ponte rumo a0 futuro. reivindicava entio para abioétics um vasto cainpo de ie enylobava o controle da populacio, a paz, a pobreza, bern-estar da humanidade e, por cons ina ex do planeta como ur todo, Essa no discip interindividual para levar o debate a0 plano da responsabilidade soc umia abordagem sistémica, até mesmo cibernética ido em 1987*e republicado em seu livre de inha entdo 77 anos}, ele retoma seu discuss0 contexto de idéias mais atuais, sem, contudo, abandonat 0 obj ética plabal para a sobs ‘Apesar dessa a Andzé Hellegers, que lizard essa palavta no sentido mais reszito que Ihe atribuimos gerel- mente agora, Serd ele também que langaré realmente a bioétics como campo de ‘estudo universitério € couno movimento social, em wy tempo no qual, ids, os es+ [New Jersey, Prentice-Hall Inc, 1971, 205 pp, (preficio e cap. i, "Bioethics the Science of Surv invza"biodtiea"¢reconhecida por todos. Par exemple: nos -Bstdos Unidos, Engelhardt, Fox onsen, Reich; na Europe, karmhert, Boxe, Fagot-Largeaul; no Québec, Bourgesult, Ssint-Arnaad, Doucet, Roy, Wiliams, Masa gra da palavea do autor ea data do primeiro emprego dela normaimente so relatides com inexatidbes.O ‘pensamento de Potter (e ua heranza} é bem aprt ite ia Bioéshique. Léthique biamedicate asc Etae-Uh Dor et Fides, 1896, pp. 36-42. 2.Van Rers tudo por Fubert DOUCET in Au pays Le champ &higue,29),Gendvey a rk Academy of Cancer Rese 43. Van Rensselaer Porter, “Aldo Leopold's Land Bthic Revisited: Twro Kinds of Bioethics’, Perspective n Biology card Meeicine, 3077 (inverao de 1987), 157-168. 4.Van Rensselaer POTTER, Giobal Bioethics: Building othe Leopold Legacy, East Lansing, ‘Michigan State University Press, 1988, Enmergéna © Stuagio da Boga a Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics, e uma de suss tite e Center for Bioethics. Essa redusio, lamenteda por Van prtinencia da ética ambiental eda ética animal, que esta- ios da ética. 8 palevza teve sucesso, prova evidente de uma neces- mnamento diante de proble stionamento nova ante problemas antigos que se OS ANTECEDENTES: Apesar da novidade do termo e da disciplina, nem tudo & novo nesse setor. Du- ante 0s ¢nas 1955-1960, 0 munds de ssiidc ¢ da pesquisa biomédien tornou se seatro de uma profinda reflex étice, proveniente no entento de uma longa teadisio maltiforme. Desde os tempos mais antigos homens e mulheres inter= ‘rogam-se sobre o comportamento a ser mantido ¢ as devisdes a serem tonindas ddiante da sade, da doenga, das mas-formaydes, do sofrimento, da morte, Fxiss i «los eruclitos duas vezes milenares sobre o assunto. Em ‘Apeser da novidade do termo,a bieética possut ratzes mito an: ética moderna nfo é sendo, por assim dizer, oma teva etapa de -llenar.Entretanto, assim come a pritica de medicine foi profundanente mes 5.A paternidade respectiva de Potter ¢ ‘Warren T: RetcH,“How Bios 7.4m seu oxigo de 1987, 8 Paacsta socio, ispizo- me amplaien IM, DICKENS ¢ Jean-Lotis EAUDOUINy Lt Moatréa, 3 n Invroducto Geral 4 Bostes cada pelos desenvolvimentos cientiicos e tecnoldgicose pela evolucéo da socie- dude e desua economia, teve deestender o sea campo de reflexto de intervengse e abordar problemas que ninguiém poderia ter previsto Sem enlear-se no passed, sera tomé-lo como este, declart obioéticn quebe- quense David Roy, a bioetica ganhard ao conhecer essa heranga para, 60 mesmo tempo nelaabeborur-se dela defenders, Abiottica & portanto, um amélgama do antigo e do novo. Os trabalhos mais re- ‘eobre o assunto tender, als, pri .orarn ahistria privar-se, fa sabedoria das geragdes patsadas e se contienam, por outro, @ desconhecer a brigem profiunda das atitudes culturais da doensa, do sofrimento fede morte. Ora, seas atitudes tir: uma inlutncia as vezes muito suf sobre 0 debate e sobre 0 tratameata dessas diversas questies biogticis™ Esse diseurso vai ao encontzo de um eixo maior do pensemeato do filésofo francés Pav! Ricceur A reflexto ética, até mesmo flasfia, artic inovaggo: fidelidade a0 passedo ¢ aucicia da criagio. tradicto nto é um depésite maorto ¢ irmutivel mas um reco ‘mesgotivel cuja tiqueza £6 se revela de acordo com a capacidade de recepeso ¢ de einterprotagao das pessoas de hoje. Por outro lado, ninguém cria nada; aliberdade humana ainda ¢ uma iberdade regulada pel retomada do que nos fi transmitido”. Essa citacoes nos autorizam a identificartrés correntes de reflexdo ética que precederam a bioétien, que a prepararam e contintuama a influencid-la: — adtica médica ¢ de enformagers; — attica Blosoficas — a ftica teologica A ética médica e de enfermagem No Ocidente,o nome mais conitecido na ética médica ¢ iacontestavelmente © de HiipSerates, médico grego 4 “V a.C. Ele é geraimente considerado 0 tutor do faroso Jurnmento que leva seu nome e de memerasas tratados sobre a Pritica médica, Além do predmbulo « ds conclusio, que tem uma conotagso Zeligiosa invocagko dos deuses, prece), 0 Juramento contém duas partes: maa} Simone Weil-Paul 0 feta no coldquio intern yon, 2/3 (janeiro de pt. "h ovigem, 0 autora influtucia do Jurameto sto muito controverses entre 0 his: 84, ele proprio, um conjunto de lives repletos de contra: diferentes e emt epoca variadas, Emergénaa # Stacie da lostice 3 1 oengajamento corpor (0&0 engajamento formal mediante o qual Sea de tion coher a ses me € a obrigagto de transmitir com discernimento o conhecienento médica aéquirido; noms © cédigo de étics propriamente dito que, por um lado, prescreve que se trabae em favor Gos pacientes ee eve taco rule toda injustie spor coatro, ptofbe a adiministracio de venenos, a prétice do aborta, as rlacoes sexuais com pacientes ea divulgagio de detalhes sobre a vida privace dos pacientes”, indo na origem uma espécie de cédigo deontoldgico ou de ideal aser Bourgeois ne século XII; Lei do Reino das Dus Silas, 1240), ¢ quando a profis- sio médica se organizou como corporagio. Apesar da antiguidade dos cuidados dispensados 20s doentes, sob todas a8 formas, desde 2 dedicaczo familar e 0 voluntariado religioso até a organizacko complexa de convents ¢ as ages des autoridadescivis em favor da saiide publics, aprofissio de enfermeira demorou pars se organizar. A primeica escola de forma ‘oem execmiagem foi fundada em Londres no século XIX por Florence Ni Iugares do mundo. Influenciadas in'- igiose), as enfermeiras foram tetido desse juramento pode ser dividido em das partes: 1, ocompromisso dese dedicar ao bem-estar do doente, de nfo the fezer mal, de respeitar sua privacidad; 2, oconpromiss de prtegro patio profs ede sjudar 0 méicoem sua tarefa, ___Essesjuramentos virias veres modificados ao longo das épocas,e professades ainda hoje por médicos e enfermeiras no inicio de sua prética profissional, cons- 5; Liv tomo VI, pp, 72-75; Ludwig Bosra, hers, 1973, 4 ‘sary and Trendsej Profesional Nursing Ted, St. Lows, The CV Mosby Cie, 1973, p61 4 Introdugan Gera a Biodica tituem a base da ética médica eda enfermagens Esta, evidentemente, conhece de- profissiona. In To XVIT- Joh Gregory, para o qual abenefcenca esté no mago do agir médica, ‘Medical Erhies tere uma inluéncia cons tologia 62 American Medica! Assacati "Na Franca, além da reflexto ética de Claude Bernard no sécuio XIX, devemos assinalar as conferéncias de Louis Portes, durante mutto tempo presidente da Ordem dos Médicos na pri- rcira meiade do século XX', eos cangressos internacionais de ética médica ocor- ridos em Paris em 1955 e 1966”, assim como os exctitos de medicos humanistas excepcionais coma Jean Rober! Debray, jean Bernard, Jean Hamburger", Mas no que diz zespeito a0 conjunte,afora certas obras notaveis,a refiexao € a publiceao tm ética médica ede enfermagem sio sobrotude produto de tedlogos ou ao menos idas seguro uma perspectiva estreitamente associada a uma religizo, iro ebdigo de deo A ética floséfica interesse de filosofiepelas questoes gem rermonta muito lange no tempo, Muitos Duigdo de Arist para a obtengdo da felicidade, & estratarada om torno das virtudes ¢ ‘mente da viriude da prucléeneia, que preside 2 reflexdo ea tomada de decisao a tadas. Contudo, esse concepcfo oi jcas da pratica médica e da enferma- ores gostam de lembrar a Quando, na época moderna, filosofis adquiriu cia, 08 ldsofos se intevessaram menos pela prt 42 andlise de conceitos faneame' sressantes. Stephen Toulmin sustent Erergénaa ¢ Siuasio de Bodtin 2s ceitos, que 08 iésofos tinham acabado por perder toda 0 contato com as ques~ ela pritica € recente; ele se manifestou nos Estatlos Unidos antes que na Evrope, especialmente sob os temas de éica uplicada © de morai de stuasdo, ~Eniretanto, todas as teores éticas elaborades ao longo das epocas tiveram sepercussbes sobre a reflexto em élica médica ¢ da enfermagem. Lembremas 0 home de Immanuel Kant, filésofo alemgo do século XVIII que tove ama iniluén- msiderével ne filosofia moral ¢ qual alguns apelardo abundantemente na ce em razso de sus concepgio dos deverese obrigacbes. Lemabreraos tam- fiaista que enuncia que a moralidade deuma bye as mentalidades, A ética religiosa O livzo da Biblia, que est na o gids, fixa 0 sem espitito ‘Ble ensina que tudo neste mundo, inclusive @ side, a doenga, a morte, etd nas mmilos de Deus. A oragio ea confianga em Deus, tanto entre pacientes como entre aqueles que tratam, S40 elementos importantes do traiamenta dispensado aos fo das peasozs que teatatn também é essencial. Eis por tanto pelasquest&estebrieas como pela p ‘mo dev nascimento,ao menos no igre catlica,a toda uma abordagem centtads ra anilise de caso: 2 easuttia. Essa abordagem se desemvolveu sobretudo para aunilfar padres que deviam determinar, nas confissbes, se esta ou aquela ago era boa om ms, Porco a pouco, “como procuravan conselhos para determinar a moralidade de diversos atos médicos, a casuistica desempe- 18, Stephen Touuaainy"How Medicine Save the Life of Ethics’ erpective in Bilagy Isreak, Depois cr Denis MULLER, “Situation er sarer de Sthique médicale’ Top ch pa. ry Intvodugto Geral Biodtes thou um papel erncial na elaboracio d2 ética médica catélica™", De qualquer modo, essa moral era frequlentemente reduzida a uma aplicaglo de receitas fornccidas por outros, no quadro geret de um sistema de pensamento fechado, ‘Mais recentemente, « moral de situagio manifesta entre 08 te6logos cristaos ura outro esforga de se considerar @ diversidade das situagdes e das conviccdes ‘por oposigio 20s prinefpios mais ou menos considerados immutaveis, O desenvolvimento da casuistica © da mora! de situagio sempre enfrentou & desconfienga das au ede certosreblogos que lembravam cons- tantemente os grandes principios morais que deviam ser respeitados em todas as situagbes. ‘No horizonte que lhes era préprio, pensadores (tedlogos, pastores,rabinos) cleboraram unna ética prépria para medicinae para os teatamentos dos doentes. © papa Pio XL, grande erucito e pastor preacupado com os problemas de sua io ica medi ed nfermagem de isp ‘maior parte dos a rabinos®, Podemos destacar cinco nomes que jé pertencem 3 geragS0 bi twélogos protestantes joseph Fletcher e Pau! Ramsey" ¢ 0s tedlogos c chard McCormick, Bernard Hiring e Patrick Verspferen®®, Deve-s2 dir als, a étice religiasa com a doutrina oficial de uma relgito ou ragbes das autoridades; correntes de 0 eqiientemente ma prospectivas se desenvolvems inspirando-se na mesma tradigio, Stica anédica ¢ ea enletmagem, pois rica, paisagem multiforme. Nias antes essa de maansra independente, sem comunicagao com o exterior Foo quc a revolue Ho sociocultural e tecaocienifica velo a transformar, 21 Mem, ibidern,p. 10. 22. Os principas tex iederne et deus, ndiquemos Emmeanu akoboy Srald Kell, 1988; Thornas O'Doas ot sina les Pugin 1955 entre os protestantes, joseph Fletcher, 1954, Boston, Bescon Press, 1954, 243 pp; Paul Vedic Ethics, New Heven, Yale Universicy of Mannion, ne adie Behar Contra aud Gent Nes Yk The Seb 1975, Richard McConoatck & conhecido sobretuda por shes erénicas de zeologia Pr ‘moral reuridas sob o itulo Nowes on Moral Theology: 1965 trough 1980, Washington D. C,, University Press of America, 1961, 892 pp. Palzick VERSPIEKBN publicou muito nos Cahers Laenec, na revista Brudes etc. | Ermergincia © Stuagio da Bsuen a © CONTEXTO GERAL Em um artic interessante, Guy Rocher, socidlogo quebequense, descreveo contesto social « cultural em mutagao durante as décadas que se seguiram a Se- sgandz Guerra Mundial, contexto que faz compreender a emengincia da biostica, ‘Quatro fatos parecer-Ihe reveladorest: = octescimento da classe média com a instauragte de uma nova mentalidade, ‘marcada pelo individualismo, pelo utilitarismo e pelo gosto pelo consumo; —— adesencantamento do mando e da histéria consecutivo ao recuo e 20 decli- rio dos mitos,religides ¢ ideologias, desencantamento que esteve nz origem ‘de uma mentalidade racional ¢ pritico-p — amutagio das relagdes socias devida ao ferninismo, a imigragao ¢ 20 msmen= to da populagto de terceira idade, mutarao que ckacerbou os conilites de interesse grupals — a fragrmentacio das esferas da vida ¢ da cultura marcede pela auarcia das insttuigbes (direto, moral, religizo, politica, sistema judicidrio, familia, e5co- )e pela especificacio das ocupagbes ¢ profssies,fragmentacio que instau- 1ou um universo fracionado, pouco coerente, ‘A cssestragos podiemos arescentar um guinto:o crescimento econdanico do pos. guerra, que aumenta 9 otistismo das populagdes ¢ reforge a crenea no valor do desenvolvimento tecnocien ‘© manda, pelo menos 0 ocidemiah € sacuido, no meio do séeulo XX, por tama profunds motagio cultural. £ nese horizonte que podem ser encoatrados explicar de modo mais im nos), outros provenientes de escéndalos ou de choques ocorrides no proprio ‘mundo da saide (fntores internos} OS FATORES EXTERNOS IMEDIATOS Hi diversas maneizas de indicer e explicitar 0s diversos fatores que estto na cri- geen do surgimento da bioética, Retenhamos quatro: 0 desenvolvimento tecno- ientifico, a emergéncia dos direitos individuais, a modificacio da relagdo médi- ‘co-paciente,o pluralismo social. 26, Guy ROCHER, “Le dei Unique das un conteste social et colturel en mt 26 ‘ant, “Révolution biologique ou rEvel hig 1s, 84. du CNRS, 1986, 12-13 Piolegie, Cahiers STS, 2» Introcuelo Gers a Boétea © desenvolvimento tecnocientifico Commo diz 2 fldsofa Anne Fagot-Largeaull instituigée cientiica & préspera durante os anos 1960, Depois da Segunda Guerra Mundial, os orgamentos dap ‘quise sumentaram constantemente. Os setores de ponta, como a pesqu a informatica, conhecem desenval iva que era, a ciéncia se tornow operator #0 com a tecnologia ao pont de ser praticamente insepard descobertas centifcas, particularmente as do dovninio biomedico aplicadas ts intervengdes sobre os humanos, prolongar e manter @ vida de urn modo que jarnsis havia side mente. No entanto, ao mesmo tempo em que provocsram fascinagao e px trovérsies entre o pitblico ealgumas vezes na props nidadecientffca. Tem-se receio das ebusos, de desmedida, da anomi escoberta emm 1963, a técnica da hemodidlise foia primeira a despestar pro- Dlemas que causaram fortes reagtes por parte do pilblice, Com eeito, a hemodialise representava para perto de 15 mil deentes dos Estados Unidos ‘eno qual uabalhava o dowtor 3. Scribner, no pod en rial e de pessoal qualficado responder 8 dos doentes que seriam escofhidos para nove pessoas, entre 2s quais somente dois m 19 scio da comumidade ¢ o bom comportamento, Aqueles euja eandidaturs ‘ra rejeitada em fungio desss critérios eram, por esse fato,condenados & miorte, A opinizo publica crticard fortermente o emprego de citérios sacais para decises {Wo cruciais como as que implicam a vida ea morte de seres humanos", 26, Anne PaGoT-LAROEAULT, Paris, Maloine, 1985, Aes ec Emergis © Situacio de Brostica » ‘Como observa Albert R, Jonsen, essa situago suscitou algumas das questbes que depois se tornariam centrais na bioética,«justica na alocagio dos recursos ¢ as tomadas de decisoes que tenharn como conseqienciaa vida ou # morte de um ou varios individaos. Ele coloca assim essas questbes, sempre atuais: Wito Should Live? Who Should Die? Who Should Decide? (Quem deve vives? Quem deve mor- rer? Quem Essas questdes também sfo colocadas a respetto dos transplantes. As téenicas se aperfeicoavam cada vez mais ¢ a demanda dos doentes aumentava, Os cirur- 80es, porém, nao posliam responder & demanda, pois oferta de drgfos era insu ficiente, O primeiro transplante cardiaco foi feito na Africa do Sul em 1967, sob a coordenacao do doutor Christian Barnard. Ainda que tenbamn suscitado um entasiasino no inicioostransplantes conheceram er seguic sucessos mito bran- dos, que. taxa de sobtevivencia dos trensplantados era muita baba. Essa sitiax ‘ evou os médicos, em 19 anos 1980 depois da descaber imunossupressora que revolucionaria os transplantes. Oxt ceurant desenvolver implantes atificais que visa asistir ou substi 1969 nos Estados Unidos. to dos transplants suscitow outro questionamento de en- trios de determinago da morte, Como diz David J. “2 eticeda de Grgios, imediatamente ap6s a dbito, exigia uma nova definicto de critérios de determinacio ds morte. A morte sendo definida como a parada com- pleta da respirasio ¢ da circulacéo sanginea, eza preciso portanto esperar um certo tempo antes de constater 0 dbito, ainda Gue os drgios destinados a0 trans- plante fregtientemente nao fossem mais de qual tidade no momento da retirada”™. A partir de 1968, um comtité da Bscola de Medicine de Harvard editon novos ctitérios de determinago da morte, a saber, a morte cerebral, Esses crité- rigs foram rapidamente adotados pelos mncos cicaliico¢ juridico. Notemos aco- municagdo de Robert M., Veatch que declara que os trabalhas do comité constitul- tam o primeiro exercicio de bioética visando dlstinguir os /atos dos valores. Colo- couse entdo a quesifo de saber se 2 morte era um fato biolbgico ou um julga- 'Apesar de sua actitago pelos meias cientfico e juridico, 0s foi um dos primeieos, se nfo prime intva de ceu dzetor na poca, Dr, Paul Da 08 wansplantes 32. David |. Roy tal, op. Life Support to Aid-in-Dying’ Special "History of Medical Ethics: The, "The United Stauss in the Trertieta Century’ in Bneyelepadia of Bloctics, 24 ed, 1998, vol. 3,p.1623, 30 Iraracungo Geral a Binética Descobertas em 1952 na Dinamarca, as técnicas de reanimagio pot tespira~ ¢4o artificial conbecem, elas também, progressos espetaculares. Contudo, embora soa técnica tenba permitido o salvamento de vidas, certas pessoas petmaneciam indefinidamene em um estado en vda amerte,Poin-se caries retiaro wcular 6 apareci- nino Haid, preocapado com essas questoes, para pedir-the ajuda diante das questdes colocadas pela possive retirada do respi- rador. Ele se perguntava se tal decisto podia ser tomada e, em caso afirmtativo, por ‘quem, O papa respondeu-lhe reconhecendo a grande dificuldade das questoes colocadas e 2dmitindo sua impoténcia para responder a elas claramente, Na opi- pido de Stanley Reiser, este acontecimento em gue o médico eo papa reconhecians, “ambos, que um problema os wltrapassava talver sea um momento ta bom coro qualquer outro para fixar 0 comeo do movimento bioét ‘A eugenharia genética, naquele moraento em seus ‘bémn veio pdr numerosas quest6es:"A bialogin eclipsa a Largeaulk,“os avancos de pesquisa biologics superama hhaviam previsto"™, Assiste-se em alguns anos @ descoberta da estrutura d or Watson ¢ Crick (1953), 8 decndificagio do cédigo genético ¢ ao desenvelvi- mento da téenics do DNA recombinado. Os proprios cientistas fiaram preocv- pados com seus novos poderes de intervengao sobre a vida. Em 1974, a National ‘Academy of Sciences solicita que o bistogo Paul Berge ovtros dex pesquissdores de rerome se reGnam em abril do mesmo ano para debater esse tema. A reunito levou & publicasio, em trés revista cientficas importantes, de uma carta aberta tendo por objeto a suspensio de pesaai- ipulacdes genéticas até a relizacio de una grande con- feverciro de 1975, a moratbria desembocaré na canfe- réncia de Asilomar, nos Estedas Unidos, em que muitos membros da comunidad 35, Stanley |. Rese, "View the Third’ Special Supplement. Hastings Center Report 2316 também H. DOUG, Au pay de ta othe op inp 18, 208 28. Haid can respesta ds as 8s ergunas, 0 evoca tal impotéreca 60 pontifical (ssa resposta As rs perguntas)€. pelo comtritio, muito preciso € ‘ralhado, ainda que complexe e nvangado. O que quer que se dign da veracidade do fato ‘eatade por Reiser, sua deducao sabre o nascimnento da biodtica permancce significative 36. Anne Facor-LANGEAULT, op city pL. 37, jean-No¥) Missa e Marie-Geneviewe Prisaat, "Gente géndt Unvoenbulaire encylopediqus.org, Gilbert HOTTONe Mi les, De Boeck-Wsmac, 1993, pp. 246-247. spesnenaanengaiaie aa iar Ererginae e Stuagéc da Bities 3 cientifica debaterara 05 rscos das manipuagbes genéticas ¢ dos meios para con- js. Inciada com debates agitados, a conferdncie encerrou-se com duuas de shes: a suspensio da moratéria ea instauracio de regras de seguranga que inspi- zaram posteriormente vétios organismos ¢ gover Por outro lado, como observa ofilbsofo Marcel Mélangon,a genética condu- iv “a ehaboragio de testes de investigagao genética eA instauracao de prograirias de deteceao de males genéticos em populagdes de risco tais como a anemia faleiforme entre os negros,a doenca de Tiy-Sachs entre os judeus asquenazes ou a fenilcetomtria. sses programas de investigacio fizeram surgie problemas éticos Iigedos & discrimsinagio étnica ow racial,A violagio do sigilo eve", Essassituagdes originaram a organizagao de numerosos foras de discussao 2a er0sos centcos de reflex3o, Mencionemos Kerne ics and the Life Sciences, agora chamado to de Nova York, pelo fildsofo Daniel Callahan e pelo psiquiatra Willard Gaylin: sua incumbéneia dria respeito a pes- quise nos dominios da étice e das ciéncias, Em 1976, em Montreal, por iniciativa do douior Jacques Gonest 0 Institut de recherches clinigues crin seu Centro de Bioética, soba direyao de David J. Roy. ‘Na Franca, nos anos 1970-1975, dois assuntes ganham destaque: 0 aborto ou 1VG (Interruption Volontaire de Grossesse — Interrupcda Voluntéria da Gravider) easteenologiasde reproducio.A técnica de preservacso de esperma humano (crio preservagio] inquiets. E verdade, contuco, que sev uso chama mais atencio do publico do gue propriantente os progressostécnicos™. Em 1980,a inseminagio de trés jovens mutheres americanas com espera de gerhadores do prémio Nobel Aignidade do individuo™. versal dos Direites Huumaics S80, 20 dos pelas eigncias ¢ ‘momento em que hé uma retoinada foi ume ¢poca de nume- mma profimda renovegEo". nédica. A agitagéo era selagdo & experitentacio huntana, ave, fi sap icatorios des anos uma ver que a maior parte cas “cobaias” das experitneias provinha de era pos minoritérigs,0u seja, negros, pobres, pessoas portadoras de deficiéncias men- tals e pessoas presis™ ‘Unn das retvindicagbes de maior influéacia, contudo, fi a relacionada sos ovimentos de defesa de seus direitos estabelecidos pelos consumiores. Suas sarie-Helane PARIZEAL, op. ci 52 ide p83. 33. Dasiel Cattatian,"Bioethice’ in Eaqrlopedia of netics, 2 od» 1995,v.1p.248, | ROTEDAYE opi p 10Ver vara Albert R JONSEN @ AndteW FAMETON, eal sain ergtnaa e Stuagio da Bioétice renga & Stuaga

Você também pode gostar