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DEUS)
Teólogos e acadêmicos buscam
decifrar os mistérios da
espiritualidade à luz da ciência
Darlene Menconi
Colaborou Luciana Sgarbi
Quanto mais a ciência se aprofunda nos mistérios do Universo, com telescópios que esquadrinham os confins
do espaço e microscópios que vasculham o íntimo da matéria, menos lugar para as teorias religiosas imagina-
se existir nos corações e mentes humanas. Em pleno século da tecnologia, porém, o que se vê é o contrário.
As mesmas ferramentas inventadas para saciar nossa curiosidade aumentaram o desconhecimento. E Deus
nunca esteve tão presente.
No último século, a ciência validou a noção de que vemos apenas uma pequena porção do que existe. Não
enxergamos os elétrons, mas sabemos que são eles e seus campos elétricos que evitam que os objetos se
desintegrem. Também não podemos ver a energia escura, mas sabemos que esse tapete cósmico onde ficam
100 mil galáxias e mais de um bilhão de estrelas ocupa quase 90% do Universo. E aí residem milhões de
possibilidades.
“Quanto mais a ciência avança ao propor novas formas de explicação para o Universo, mais o mistério se
aprofunda e abre caminho para interpretações”, resume Mário Sérgio Cortella, professor titular de teologia e
ciências da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Há 500 anos, ele diz, os conceitos eram
fixos e confortáveis: a Terra estava no centro do Universo, o homem no centro da Terra, a alma no centro do
homem e Deus no centro da alma. Tudo em harmonia.
Nesse processo de investigação, a neurociência demonstra que a religiosidade está sediada no cérebro.
Estudos feitos com monges e freiras em clausura mostram que houve mudanças na química do sangue e nas
ondas cerebrais quando eles oravam ou meditavam. “A dicotomia entre espírito e ciência sempre marcou a
humanidade. Hoje se juntam a isso modelos biológicos. Se é verdade ou não, não se sabe”, diz o neurologista
Getúlio Daré Rabello, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Não se pode reduzir todos esses sentimentos a reações neurológicas. Somos limitados, mas é dentro dos
limites e condicionamentos que se opera a nossa liberdade”, argumenta Márcio Fabri dos Anjos, ex-
presidente da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião. Para o teólogo, a razão mexeu nos
mitos que eram atribuídos aos deuses, e as novas teorias são tentativas de responder aos problemas do dia-
a-dia. “A fé é uma condição humana, temos sede de Deus e nos ressentimos de um significado diante da
idéia de finitude. A ciência também é falha e tem a postura arrogante, de quem entende tudo.”
Uma nova corrente de interpretação agora une dois extremos: a genética, que guarda o código hereditário dos
seres vivos, e os mecanismos bioquímicos, que liberam substâncias no cérebro e alteram a percepção. O
exemplo outra vez está nos monges budistas, que, ao meditar, têm a sensação de transcendência, o estado
de envolvimento em que perdem a noção de si, de tempo e espaço.
Religião e saúde – Essa teoria abre as portas para dois tipos de interpretação. Se há essa tendência natural
para a espiritualidade, nada mais coerente do que supor que uma força superior criou a humanidade para que
ela buscasse o conforto da alma. Já os céticos enxergam ali um argumento inconteste para concluir que tudo
isso, inclusive Deus, são apenas experiências controladas pelo cérebro.
A função dos genes divinos, segundo Hamer, é biológica. Proporciona um senso de otimismo que nos dá
vontade de continuar vivendo, apesar de a morte ser inevitável, o que ajudaria a perpetuar a espécie. Além, é
claro, de nos ajudar a enfrentar nossa insignificância diante do mundo. Outra constatação está na fronteira da
saúde. “As práticas religiosas com músicas e rituais promovem um relaxamento que interfere nas ondas
cerebrais, trazendo paz e equilíbrio hormonal, o que reduz o stress e aumenta a resposta imunológica do
organismo”, diz o psicoterapeuta João Figueiró, da Faculdade de Medicina do Hospital das Clínicas de São
Paulo. “Quem tem fé tem melhores condições de enfrentar a dor e a doença.”
Estudos feitos pela Universidade de Duke, nos EUA, foram além. Notaram que
americanos com fé viveram sete anos a mais do que os não-religiosos. “A
questão é saber como e quais mecanismos estão associados com esses
desfechos positivos na saúde”, diz Alexander Moreira de Almeida, fundador do
Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do Instituto de
Psiquiatria Paulista.