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Atividade Individual - Dissertativa

Tema: Nacionalismos no Século XIX


Bimestre I - 2020

- Instruções:

 Essa atividade é dissertativa e individual. Vocês podem e devem usar todo o


material que dispomos para consulta: anotações de aulas (presenciais e por
videoconferência), livro didático, textos complementares.

 A proposta de atividade que vocês estão recebendo contém textos e questões.

 Elaborar essa atividade em Docs e enviá-la pelo Classroom. Não envie pelo
email.

 Cada resposta deve ocupar no máximo 25 linhas. Deverá ser escrita em Arial,
12, com espaçamento 1,5, justificada, margem padrão normal.

 O prazo máximo para elaboração e postagem será às 8h da manhã do dia 17 de


abril.

 Lembrem-se que estarei num plantão no dia 07 de abril, às 18h, no Hangouts


Meet para tirar dúvidas sobre o trabalho em grupo e essa atividade individual.
Caso ainda precisem de orientações me procurem pelo email, pelo mural do
Classroom ou através das representantes de salas.

 Suas capacidades de interpretação, objetividade e clareza também estão sendo


avaliadas. Comecem por levantar as teses dos autores. Depois selecionem os
países e respondam livremente, sem se preocuparem com o tamanho do texto.
Por último, voltem ao resultado, releiam, corrijam e adéquem ao número de
linhas e formato solicitados.

 Ao se referirem aos autores sempre citem seu sobrenome ou nome completo


(nunca só o primeiro nome). Se acaso usarem algum trecho do texto, explicitem
isso e usem aspas para o que foi reproduzido.

 Desafiem-se.

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- Proposta de Atividade:

A seguir vocês encontrarão dois textos de dois autores diferentes que se dedicaram a
estudar o nosso tempo buscando suas raízes no século XIX. Ambos imaginavam que para
entender as guerras mundiais que convulsionaram o mundo, obrigando-nos a rever vários
paradigmas, a rediscutir o que era civilização e o que era barbárie, era necessário
mergulhar no passado.
Dois historiadores: o primeiro francês, morreu em 2007. O outro morreu na Inglaterra em
2012, egípcio de nascimento numa época em que o Egito era área dominada pela
metrópole britânica.
Foi a partir dessa Europa do final do século XX e início do XXI que eles olharam a questão
dos Nacionalismos, o tema que elegemos para nossa avaliação.

Faça uma leitura inicial dos textos. Interprete a tese do autor. Retire seus argumentos
centrais.

Nós estudamos nesse primeiro bimestre a formação das principais potências que
disputarão a hegemonia mundial no XX: Inglaterra, França, Itália, Alemanha, EUA e Japão.

Selecione duas dessas nações para dialogar com o primeiro texto e depois outras duas
para dialogar com o texto seguinte. Ao final, você terá usado quatro casos diferentes para
discutir as teses.

Na elaboração de suas respostas, separem:

- Texto 01:
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________............

- Texto 02:
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________............

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Texto 1 – Movimento das Nacionalidades

Esse fenômeno, formado de elementos tão diversos, tira sua unidade do fato nacional. A
Europa justapõe grupos linguísticos, étnicos, históricos, portanto, de natureza e origem
dessemelhantes, que se consideram nações. Assim como o movimento operário europeu
nasceu ao mesmo tempo de uma condição social, que constitui o dado objetivo do
problema, e de uma tomada de consciência dessa condição pelos interessados, o
movimento das nacionalidades supõe ao mesmo tempo a existência de nacionalidades e o
despertar do sentimento de que se faz parte dessas nacionalidades. O fenômeno, portanto,
não conta como força, não se torna um fator de mudança senão a partir do momento em
que passa a se integrar no modo de pensar, de sentir, em que passa a ser percebido como
um fato de consciência, um fato de cultura.

Como tal, ele interessa a todo ser, ele se endereça a todas as faculdades do indivíduo, a
começar pela inteligência. O movimento das nacionalidades no século XIX foi em parte
obra de intelectuais, graças aos escritores que contribuem para o renascer do sentimento
nacional; graças aos linguistas, filólogos e gramáticos, que reconstituem as línguas
nacionais, apuram-nas, conferem-lhes suas cartas de nobreza; graças aos historiadores,
que procuram encontrar o passado esquecido da nacionalidade; graças aos filósofos
políticos (a ideia de nação constituía o centro de alguns sistemas políticos). O movimento
toca também a sensibilidade, talvez mais ainda do que a inteligência, e é como tal que ele
se transforma numa força irresistível, que ele provoca um impulso.

Enfim, ele faz com que intervenham interesses e nele encontramos as duas abordagens, a
ideológica e a sociológica, conjugadas. Com efeito, os interesses entram em ação quando,
por exemplo, o desenvolvimento da economia apela para o excesso de particularismos,
para a realização da unidade. É assim que devemos encarar o lugar do Zollverein na
unificação alemã. Na Itália, é a burguesia comerciante ou industrial que deseja a unificação
do país, pois vê nessa ideia a possibilidade de um mercado maior e de um nível de vida
mais elevado.

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Desse modo, na origem desse movimento das nacionalidades, confluem a reflexão, a força
dos sentimentos e o papel dos interesses. Política e economia interferem estreitamente, e
é justamente essa interação que constitui a força de atração da ideia nacional, pois,
dirigindo-se ao homem em sua integridade, ela pode mobilizar todas as suas faculdades a
serviço de uma grande obra a ser realizada, de um projeto capaz de despertar energias e
de inflamar os espíritos (...).

Enquanto o domínio do liberalismo fica por muito tempo limitado à Europa Ocidental, todos
os países – ou quase todos – conheceram crises ligadas ao fato nacional, mesmo aqueles
nos quais a unidade era resultado de uma história várias vezes secular. Quase todos se
encontram às voltas com problemas de nacionalidade: a Grã-Bretanha, com o problema da
Irlanda, 118 História Contemporânea I que se torna cada vez mais grave, transformando-
se num problema interno dramático; a França, com a perda da Alsácia-Lorena em 1871,
conserva até a guerra de 1914 a nostalgia das províncias perdidas; a Espanha, onde o
regionalismo basco, o particularismo catalão entra em luta com a vontade unificadora e
centralizadora da monarquia.

Se isso acontece no que respeita aos países da Europa ocidental, onde a unidade nacional
é antiga, ocorre com muito mais razão quando nos deslocamos para o leste, onde as
fronteiras ainda são instáveis, onde a geografia política ainda não tomou forma definitiva,
onde as nacionalidades estão à procura de si mesmas e em busca de expressão política. A
Itália e a Alemanha, para as quais o século XIX é o século de sua futura unidade, a
Áustria-Hungria, os Balcãs, o Império Russo, com as províncias alógenas que resistem à
russificação, têm problemas de nacionalidade. Mesmo os países aparentemente mais
pacíficos estão às voltas com problemas de nacionalidade, como a Dinamarca, com a
guerra dos ducados em 1862, a Suécia, que se desmembra em 1905, a Noruega, com sua
luta pela secessão. Fora da Europa, podemos mencionar o nacionalismo dos Estados
Unidos; os movimentos da América Latina; o Japão, onde o sentimento nacional inspira o
esforço de modernização; a China, onde a revolta dos boxers, em 1900, constitui um
fenômeno nacionalista.

O fato nacional, portanto, aparece em escala mundial e não constitui sua menor
singularidade o fato de esse movimento, que representa a afirmação da particularidade,
constituir-se talvez no fato mais universal da história. Ele está presente na maioria das
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guerras do século XIX. Trata-se de uma característica que diferencia as relações
internacionais anteriores e posteriores a 1789. Na Europa do Antigo Regime, as ambições
dos soberanos eram o ponto de origem dos conflitos. No século XIX, o sentimento
dinástico deu lugar ao sentimento nacional, paralelamente à mudança da soberania da
pessoa do monarca para a coletividade nacional. As guerras da unidade italiana, da
unidade alemã, a questão do Oriente, tudo isso procede da reivindicação nacional (...).

A ideia nacional, por sua necessidade de se associar a outras ideias políticas, de se


amalgamar com certas filosofias, pode entrar, por isso, em combinações diversas, que não
são predeterminadas. A ideia nacional pode se dar bem, indiferentemente, com uma
filosofia de esquerda ou uma ideologia de direita. Aliás, entre 1815 e 1914, o nacionalismo
contraiu aliança com a ideia liberal, com a corrente democrática, muito pouco com o
socialismo, na medida em que este se define como internacionalista, embora, entre as
duas guerras, delineiem-se acordos imprevistos entre a ideia socialista e a ideia
nacionalista. Essa espécie de indeterminação do fato nacional, essa possibilidade de
celebrar alianças de intercâmbio, explicam as variações de que a história nos oferece mais
de um exemplo. Elas explicam, notadamente, que existiam dois tipos de nacionalismo, um
de direita e outro de esquerda; um mais aristocrático, outro mais popular: o primeiro, de
tendências conservadoras e tradicionalistas, escolhe seus dirigentes e seus quadros entre
os notáveis tradicionais: o segundo visa à democratização da sociedade e recruta seu
pessoal nas camadas populares”.

Rémond, René. O Século XIX – 1815-1914. São Paulo, Cultrix, 1976.

Texto 2 – A ideia de Progresso

(...)Pois a Europa, deixando de lado o resto do mundo, estava dividida evidentemente em


"nações" cujas aspirações em fundar estados não deixava, pelo certo ou pelo errado,
nenhuma dúvida, e em "nações" acerca das quais havia uma boa dose de incerteza quanto
a aspirações semelhantes. O melhor guia para o primeiro tipo era o fato político, a história

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institucional ou a história cultural das tradições. A França, Inglaterra, Espanha e Rússia
eram inegavelmente "nações" porque possuíam estados identificados com os franceses,
ingleses, etc. (...)

A Alemanha era uma nação por força de que seus numerosos principados (apesar de
nunca unidos em um único estado territorial) terem constituído outrora o então chamado
"Sagrado Império Romano da Nação Germânica" e formado por outro lado a Federação
Germânica, mas também porque todos os alemães de educação elevada partilhavam a
mesma língua escrita e literatura. A Itália, apesar de nunca ter sido uma entidade política
enquanto tal, possuía talvez a mais antiga das literaturas comuns à sua própria elite. (...)

O critério "histórico" de nacionalidade implicava, portanto, a importância decisiva das


instituições e da cultura das classes dominantes ou elites de educação elevada, supondo-
as identificadas, ou pelo menos não muito obviamente incompatíveis, com o povo comum.
Mas o argumento ideológico para o nacionalismo era bem diferente e muito mais radical,
democrático e revolucionário. Apoiava-se no fato de que, o que fosse que a história ou a
cultura pudessem dizer, os irlandeses eram irlandeses e não ingleses, os tchecos eram
tchecos e não alemães, os finlandeses não eram russos e nenhum povo deveria ser
explorado ou dirigido por outro. (...)

(...) O ponto significativo aqui é que a típica nação "a histórica" ou "semi-histórica" era
também uma pequena nação, e isto colocava o nacionalismo do século XIX diante de um
dilema que tem sido raramente reconhecido. Pois os grandes defensores da "nação-
estado" entendiam-se não apenas como nacional, mas também como "progressista", isto
é, capaz de uma economia, tecnologia, organização de estado e força militar viáveis, ou
em outras palavras, que precisava ser territorialmente grande. Terminava por ser, na
realidade, a unidade "natural" do desenvolvimento da sociedade burguesa, moderna,
liberal e progressista. "Unificação", assim como "independência", era o princípio básico, e
onde argumentos históricos para unificação não existissem – como era o caso da
Alemanha e Itália – esta era, quando possível, formulada como um programa.(...)

O argumento mais simples daqueles que identificavam nações-estados com o progresso


era negar o caráter de "nações reais" aos povos pequenos e atrasados, ou então
argumentar que o progresso iria reduzi-los a meras idiossincrasias dentro das grandes
"nações reais", ou mesmo levá-los a um desaparecimento de facto por assimilação a

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algum Kulturvolk. Isso não parecia fora da realidade. Depois de tudo, a participação como
membro na Alemanha não impedia os mecken-burgueses de falar em seu dialeto, que era
mais próximo do holandês que do alto-alemão e que nenhum bávaro conseguia entender,
como também não evitava que os eslavos lusatianos não aceitassem (como ainda
discutem) um estado basicamente alemão. A existência dos breves, e uma parte dos
bascos, catalães e flamengos, para não mencionar aqueles que se comunicam em
provençal ou na Langue d'oc parecia perfeitamente compatível com a nação francesa da
qual faziam parte, e os alsacianos criaram um problema apenas porque uma outra grande
nação-estado – a Alemanha – disputava-os. Além disso, havia exemplos de pequenos
grupos linguísticos, cujas elites de instrução elevada olhavam para frente sem remorsos
em relação ao desaparecimento de seus próprios idiomas. Muitos gauleses em meados do
século XIX estavam resignados a isto, e alguns viam mesmo com prazer este processo, na
medida em que facilitasse a penetração do progresso numa região atrasada.

Havia um forte elemento de diferenciação e talvez um mais forte de patrocínio especial em


tais argumentos. Algumas nações – as maiores, as "avançadas", as estabelecidas,
incluindo certamente a própria nação do ideólogo – estavam destinadas pela história a
prevalecer ou (se o ideólogo preferisse uma conceituação darwinista) a serem vitoriosas na
luta pela existência; e outras não. Todavia isso não deve ser entendido como
simplesmente uma conspiração de parte de algumas nações para oprimir outras, embora
porta-vozes das nações desprezadas não devessem ser repreendidos por pensar assim.
Pois o argumento era dirigido não apenas contra as línguas e culturas regionais das
nações como também contra intrusos; também não pretendia seu desaparecimento, mas
apenas seu "rebaixamento" da qualidade de "língua" para a de "dialeto". Cavour não negou
aos habitantes da Savóia o direito de falar sua própria língua (mais próxima do francês do
que do italiano), numa Itália unificada: ele mesmo falava por razões domésticas. Ele e
outros italianos nacionalistas apenas insistiam em que deveria haver somente uma língua
e um meio de instrução oficiais, em outras palavras o italiano, e que as outras deveriam
sumir evaporar-se da melhor forma que pudessem. Da maneira como as coisas seguiam,
nem os sicilianos nem os sardenhos insistiram na sua nacionalidade separada, portanto
seus problemas poderiam ser redefinidos, na melhor das hipóteses, como "regionalismo".
Este fenômeno apenas se tornou politicamente significativo uma vez que um pequeno
povo reclamou pela sua nacionalidade, como os tchecos fizeram em 1848, quando seus
porta-vozes recusaram o convite dos liberais alemães para tomar parte no parlamento de

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Frankfurt. Os alemães, não negaram que eles fossem tchecos. Apenas entenderam, o que
era correto, que todos os tchecos de boa cultura liam e escreviam alemão, partilhavam da
alta cultura alemã e que, portanto (incorretamente) eram alemães. O fato de que a elite
tcheca também falasse tcheco e partilhasse da cultura do povo simples local parecia ser
politicamente irrelevante, como as atitudes do povo simples em geral e do campesinato em
particular.

Hobsbawn, Eric J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.

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