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ESCRITO - Já nos idos do século VI a V a.C, o pensador grego Hipócrates
estudou possíveis transtornos mentais que se originavam no próprio organismo
do ser humano. Foi o pioneiro a tratar da hoje chamada ''teoria dos quatro
humores corporais (considerando tais humores - que se subdividiam em bílis
negra, bílis amarela, fleuma e sangue ou linfa - os elementos que
determinavam os comportamentos pessoais. A bílis amarela, por exemplo, era
característico dos sujeitos dominadores e violentos). (GARRIDO, Francisco
José Sánchez. Fisionomia de la psicopatia. Concepto, origem, causas y
tratamento legal. 3ª Época. n.2. Madrid: Revista de Derecho Penal y
Ciminologia, 2009, p. 90).
ESCRITO - Definição usada pelo DSM-5.
ESCRITO - Alguns profissionais utilizam o termo sociopata para nomear esse
problema, no lugar de psicopatia. Essa denominação era muito empregada em
torno de 1960 e 1970, pois pretendia-se destacar a origem social da situação.
A partir de 1968, a Sociedade Americana de Psiquiatria adotou o conceito de
''personalidade antissocial'' para definir a psicopatia dentro dos transtornos de
personalidade. Nas edições posteriores do Manual de Diagnóstico e Estatística
das Perturbações Mentais (DSM, 1980, 1987 e 1994), tratado ao qual recorrem
profissionais de todo o mundo, para diagnosticar transtornos psíquicos e
comportamentais, o termo psicopatia foi substituído por ''transtorno de
personalidade antissocial''.
ESCRITO - O conceito de psicopatia e o próprio uso da nomenclatura só se
estabeleceram de fato a partir do trabalho de 1941 de Hervey Cleckley,
chamado The Mask of Sanity (A Máscara da Sanidade). A literatura aponta
essa obra como decisiva na definição do conceito (Vaugh & Howard, 2005;
Vien & Beech, 2006). Cleckley forneceu um retrato clínico sistemático do
quadro da psicopatia, apresentando uma lista célebre de 16 características
para caracterizar um indivíduo psicopata (Vaugh & Howard, 2005). Cabe
ressaltar, entretanto, que o autor não estabeleceu como necessária a presença
de todas as características descritas para a caracterização de um psicopata.
De qualquer forma, o grau de objetividade e clareza alcançado com essa obra
é de fundamental importância, uma vez que estabeleceu alguns critérios que
possibilitaram tornar o construto mais operacional (Cleckley, H. (1988). The
mask of sanity: An attempt to clarify some issues about the so-called
psychopathic personality (5º Ed.). Augusta, Georgia: E. S. Cleckley)
ESCRITO - Outro aspecto importante da obra de Cleckley sobre a psicopatia
foi conceber o quadro em termos de traços de personalidade, enfatizando os
aspectos interpessoais e afetivos. Embora as descrições típicas de psicopatia
tenham sido feitas principalmente a partir de estudos de caso com criminosos,
o trabalho de Cleckley buscou desvincular o conceito de psicopatia do crime
em si, destacando as características de personalidade e os comportamentos
atípicos dos indivíduos tidos como psicopatas (Wilkowski & Robinson, 2008).
As características da psicopatia listadas por Cleckley (1941/1976) foram as
seguintes: 1) Charme superficial e boa inteligência; 2) Ausência de delírios e
outros sinais de pensamento irracional; 3) Ausência de nervosismo e
manifestações psiconeuróticas; 4) Não-confiabilidade; 5) Tendência à mentira e
insinceridade; 6) Falta de remorso ou vergonha; 7) Comportamento anti-social
inadequadamente motivado; 8) Juízo empobrecido e falha em aprender com a
experiência; 9) Egocentrismo patológico e incapacidade para amar; 10)
Pobreza generalizada em termos de reações afetivas; 11) Perda específica de
insight; 12) Falta de reciprocidade nas relações interpessoais; 13)
Comportamento fantasioso e não convidativo sob influência de álcool e às
vezes sem tal influência; 14) Ameaças de suicídio raramente levadas a cabo;
15) Vida sexual impessoal, trivial e pobremente integrada; 16) Falha em seguir
um plano de vida.
ESCRITO - No início do século XIX, o médico francês Philippe Pinel (1745-
1826), considerado o fundador da Psiquiatria, descreveu assim o seu
entendimento sobre os psicopatas: ''Não foi nenhuma surpresa encontrar
muitos maníacos que em nenhum momento deram qualquer evidência de dano
à sua capacidade de compreensão, mas que estavam sob o controle de uma
fúria instintiva e abstrata, como se fossem apenas as faculdades de afeto que
foi danificado''. (PRITCHAED, 1835 apud GENOVÉS, Vicente Garrido. Cara a
cara com el psicopata. Barcelona: Ariel, 2004, p.16).
ESCRITO - O filósofo e psicólogo americano David Livingstone Smith afirma
que a mentira ''branca'' é normal e até necessária. Em seu livro ''Por que
Mentimos'', Smith descreve que todos nós mentimos de forma consciente ou
inconsciente, verbal ou não-verbal, declarada ou não-declarada.
ESCRITO - Existem ao menos nove tipos bem definidos de personalidades
psicopáticas: mitomaníaca, histérica, epileptóide, paranóica, esquizóide,
ciclotímica, hiperemotiva, astênica e perversa. Normalmente, apenas a última
descamba para atos ilícitos de grande monta, como homicídios, estupros,
roubos etc.; os outros oito tipos causam estrago na vida das pessoas que os
rodeiam, pois são pessoas que mentem de forma crônica, enganam
habilmente, etc.
ESCRITO - O transtorno da personalidade antissocial tem um curso crônico,
mas pode se tornar menos evidente ou apresentar remissão conforme o
indivíduo envelhece, em particular por volta da quarta década de vida. Embora
essa remissão tenda a ser especialmente evidente quanto a envolvimento em
comportamento criminoso, é possível que haja diminuição no espectro total de
comportamentos antissociais e uso de substância. Por definição, a
personalidade antissocial não pode ser diagnosticada antes dos 18 anos de
idade.
ESCRITO - De acordo com Renato M. E. Sabbatini, neurocientista,
especialista em Informática Biomédica, doutor pela Universidade de São Paulo
e pós-doutorado no Instituto de Psiquiatria Max Planck em Munique, na
Alemanha, afirma que entre 1 e 4% da população é psicopata em maior ou
menor escala. De qualquer sorte, a maioria das pessoas com DPA não é
criminosa e é capaz de controlar-se dentro dos limites da tolerabilidade social.
São consideradas somente como ''socialmente perniciosas'' ou têm
personalidade odiosa. Aponta o estudioso que somente 47% daqueles que
eram caracterizados como tendo DPA tinha uma história de processo criminal
significativo. Além disso, ele afirma que aproximadamente 25% dos
encarcerados no nosso país demonstram características de um psicopata.
(SABBATINI, Renato Marcos Endrizzi. O Cérebro do psicopata. Cérebro &
Mente: Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Neurociência, n. 7,
set./nov. 1998. Disponível em:
https://cerebromente.org.br/n07/doencas/index_p.html)
2.2
- 1° Falar da diferença do cérebro em geral e do teste BEM;
- 2° Falar do meio que pode influenciar nas atitudes de um psicopata;
- 3° Falar da Neurobiologia e do caso fictício de Elliot.
(https://elpais.com/elpais/2018/12/13/ciencia/1544726930_213001.html)
(https://www.cambridge.org/core/journals/psychological-
medicine/article/abs/contribution-of-brain-imaging-to-the-understanding-of-
psychopathy/9838ADEE28AA45347BD8EF7F40CE7E6F)
2.3
- 1° Falar sobre o teste de Rorschach e caso Suzana;
- 2° Falar sobre a escala Hare;
- 3° Falar sobre a possibilidade de aplicação conjunta dos dois testes.
3.1
- ''Ted pode ser descrito como o filho perfeito, o estudante perfeito, o
escoteiro que virou adulto, um gênio, belo como um ídolo de cinema, uma luz
brilhante para o futuro do partido Republicano, um sensível assistente social
psiquiátrico, um precoce advogado, um amigo de confiança, um jovem com um
futuro de sucesso. Ele era tudo isso, e nada disso. Ted Bundy não tinha um
padrão; você não poderia olhar seu perfil e dizer “viu, era inevitável que ele iria
acabar assim'' (RULE, Ann. The Stranger beside me - prefácio. Nova Iorque:
W. W. Norton and Company, 1981, p.15).
- https://segredosdomundo.r7.com/ted-bundy/
3.2
- A partir do infortúnio de Phineas Gage, relatos de caso e estudos retrospectivos de
veteranos de guerra vêm mostrando a associação entre lesões pré-frontais - mais
especificamente lesões nas porções ventromediais do córtex frontal - e a observação
clínica de comportamento impulsivo, agressividade, jocosidade e inadequação social
(Brower e Price, 2001). (BROWER, M.C.; PRICE, B.H. - Neuropsychiatry of frontal lobe
dysfunction in violent and criminal behaviour:a critical review. J Neurol Neurosurg
Psychiatry 71(6):720-6, 2001)
- https://www.scielo.br/j/rpc/a/jJYXhCwb7MtTzrGvfHFwHJb/?lang=pt#
3.3
- https://noticias.r7.com/prisma/arquivo-vivo/quarenta-anos-depois-chico-
picadinho-deixa-a-prisao-22012019
- Colocar a Constituição Federal como referência.
4.1
ESCRITO - José Frederico Marques assim define o Direito Penal: o conjunto
de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência, e
disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a
aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em
face do poder de punir do Estado (MARQUES, José Frederico. Curso de
Direito Penal. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 1964, p.11).
- O sujeito deve implicar-se subjetivamente em seu ato (estabelecer um
debate consigo mesmo e com a lei). Quando um sujeito pratica um fato, não se
pode esquecer a sua subjetividade (condições psíquicas e espirituais). Só é
possível vincular o sujeito do ato com o ato criminal se a culpabilidade
acompanha-se de responsabilidade, isto é, se o sujeito tem a possibilidade
(mental) de subjetivar a culpa e atribuir uma significação ao seu ato.
Compreender o caráter ilícito do fato, para a psicanálise, consiste no fato de o
sujeito dar alguma significação a esse ilícito, envolver-se ética e moralmente
em seu ato, ou seja, reconhecer-se como responsável. Esse envolvimento
subjetivo é necessário, pois, de outro modo, a pena carecerá de efeitos
subjetivos. É exatamente isso que falta ao psicopata; assim, entende-se que
merece como sanção a medida de segurança (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Há três tipos de conceitos clássicos para o crime: a) formal, b)
material e c) analítico. Formalmente, o crime é ''todo fato humano proibido pela
lei penal''. Sob o aspecto material, significa ''todo fato humano lesivo de um
interesse capaz de comprometer as condições de existência, de conservação e
de desenvolvimento da sociedade''. (BETTIOL, Giuseppe. Direito Penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, v. 1, p. 209).
ESCRITO - Como se pode depreender, o conceito formal e o material, por si
sós, não expressam convenientemente o que vem a ser o crime, pois ambos
apresentam algumas falhas. De acordo com o conceito formal, apesar de haver
uma lei penal proibindo determinada conduta e ainda que uma pessoa pratique
a conduta proibida, poderá não haver crime, caso, por exemplo, essa pessoa
tenha agido sob o abrigo de uma causa de exclusão da ilicitude, também
chamada de exclusão da antijuridicidade (leia-se: legítima defesa, estado de
necessidade, exercício regular de direito, estrito cumprimento do dever legal).
Por outro lado, mesmo que uma conduta seja extremamente lesiva a um bem
jurídico muito relevante para a sociedade, se não existir uma norma jurídica
penal protegendo esse bem (princípio da reserva legal: nullum crimen, nulla
poena sine praevia lege - art. 5°, XXXIX, da CF e art. 1° do CP), do mesmo
modo, não se pode falar em crime (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Nesse passo, cabe ao conceito analítico (assim denominado
porque, realmente, analisa os elementos que compõem o crime) expressar o
que se entende por infração penal, ou seja: crime é um fato típico, antijurídico
(ilícito) e culpável (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Eugenio Raúl Zaffaroni assim explica tal conceito: ''delito é uma
conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela
sua proibição (fato típico), que por não estar permitida por nenhum preceito
jurídico (causa de justificação - legítima defesa, estado de necessidade, estrito
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito) é contrária ao
ordenamento jurídico (antijurídico) e que, por ser exigível do autor que atuasse
de outra maneira nessa circunstância, lhe é reprovável (culpável) -
(ZAFFARONI, Eugeniio Raúl. Manual de Derecho Penal. Buenos Aires: Editar,
1996, p. 324).
ESCRITO - Dentro da Teoria do Crime, a culpabilidade fomentou duas
correntes de pensamento distintas: a corrente tripartida (fato típico, antijurídico
(ilícito) e culpável) e a bipartida (fato típico e antijurídico) (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Argumentos da corrente tripartida: a) não só a culpabilidade é
pressuposto para a aplicação da pena, mas também a tipicidade e a
antijuridicidade (ilicitude), pois constituem elementos antecedentes necessários
à aplicação da pena; b) o juízo de reprovação, essência do conceito de
culpabilidade, recai não somente sobre o agente, mas inclusive e
necessariamente sobre a ação, que liga o autor ao fato; c) o juízo de
reprovabilidade tem como destinatário o agente, mas constrói-se a partir do
fato concreto. Assim, o fato é o suporte que exprime uma contradição entre a
vontade do sujeito e a vontade da norma (BRUNO, Aníbal. Direito Penal. São
Paulo: Forense, 1978, p. 34).
ESCRITO - Os argumentos da corrente bipartida são, em suma: a) quando o
Código Penal trata de causa excludente da antijuridicidade, diz ''não há crime''
e, quando aborda a exclusão da culpabilidade, diz ''é isento de pena'' (art. 21,
caput, segunda parte); b) a culpabilidade não é elemento do crime, uma vez
que trata de um juízo de reprovabilidade sobre o autor de uma infração, logo
não pode estar dentro do crime (como seu elemento) e, ao mesmo tempo, fora
dele (como juízo externo de valor do agente). Para censurar a conduta do
agente, a culpabilidade deve estar fora do conceito de crime (RODRIGUES,
2019).
ESCRITO - A corrente de pensamento bipartida está em franco desuso. Na
Europa, a quase totalidade dos países utiliza a teoria tripartida. Hans Welzel já
afirmava que a culpabilidade é uma qualidade negativa da ação do agente e
não está localizada na cabeça das pessoas que julgam a ação (WELZEL,
1964).
- O que ocorre é uma grande confusão entre os significados da expressão
''juízo de censura'' e da ''censura'' propriamente dita. Censurável é a conduta
do agente (característica negativa intrínseca à conduta do agente). Juízo de
censura é a avaliação que se faz da conduta do agente, que poderá ser tida
como censurável ou não. Essa é a avaliação que é realizada pelo aplicador da
lei (assim, está localizada na cabeça da sociedade, aqui representada pelo
Estado-juiz). Logo, a censura está dentro do conceito de crime também, assim
como a tipicidade e a antijuridicidade, pois a ação é reprovável em si mesma,
apenas o seu juízo é que se desloca, como ocorre também nos juízos de
antijuridicidade e tipicidade (BITENCOURT, 2006).
ESCRITO - De qualquer sorte, quer se adote uma corrente doutrinária, quer
se adote a outra, a consequência processual é a mesma: a sentença
absolutória tem fundamento nos artigos 386 e 411 do CPP, que se referem às
expressões ''circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena''
(art. 386, V e art. 411). Logo, presente a causa que exclui a culpabilidade ou a
ilicitude, a consequência é a mesma - a absolvição do réu -, gerando também
os mesmos efeitos - não lançamento do nome no rol dos culpados, inexistência
de reincidência, etc (RODRIGUES, 2019). (Código de Processo Penal. decreto lei nº
3.689, de 03 de outubro de 1941. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em: 22 jan
2011, 16:25:00.)
ESCRITO - A conduta humana pode subdividir-se em ação e omissão. Para
Welzel, o pai do finalismo, a ação humana é o proceder de uma atividade final.
O homem, por obra e graça de seu saber causal, pode prever, obviamente
dentro de certos limites, as consequências possíveis de seus atos. Pode,
assim, direcionar a sua atuação no sentido de atingir o objetivo final que deseja
(WELZEL, Hans. El nuevo sistema del Derecho Penal. Barcelona: Ariel, 1964,
p. 35.).
- Essa doutrina finalística de Welzel reforça aquilo que mais adiante se vai
desenvolver no presente trabalho e que tem a ver com a questão da semi-
imputabilidade e da psicopatia. Explica-se: a direção final de uma ação realiza-
se em duas fases: uma primeira fase subjetiva (que se desenvolve no íntimo da
esfera intelectiva do agente) e uma segunda, objetiva (desenrola-se no mundo
real), que corresponde à execução da ação real. A primeira fase, subjetiva,
compreende: a) antecipação do fim que o agente tem por objetivo alcançar
(objetivo almejado); b) seleção dos meios adequados para atingir o fim
pretendido (meios de produção); c) consideração dos efeitos ou das
consequências que estão relacionadas com a utilização dos meios em
consonância com o fim a ser atingido (consequências da relação meio e fim). O
agente põe em movimento, segundo o plano estabelecido, o processo causal,
com o fito de alcançar o objetivo proposto. Assim, segundo a concepção
finalística, a vontade de realização apenas ocorre quando todas as etapas
acima estão cumpridas. O psicopata, quase sempre considerado como
imputável ou semi-imputável, segue basicamente todos os passos que Welzel
previu em sua teoria; entretanto, quando ele passa da fase subjetiva para a
objetiva, ocorre um desencontro de vontades, o resultado não segue mais o
plano inicial, justamente por conta da anomalia neuropsicológica de que
padece o agente. Nesse passo, o psicopata que pretende agir de uma forma
lícita formula toda a fase psicológica subjetiva, com o desiderato de atingir o fim
procurado legitimamente, mas, quando passa da fase intelectiva para a ação
(execução), ele falha, e sua mente leva-o a desencadear o objetivo contrário ao
direito. (RODRIGUES, 2019).
4.2
ESCRITO - Definição de Criminologia: A ciência empírica e interdisciplinar
que tem por objetivo o estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do
controle social do comportamento delitivo; também se ocupa de fornecer uma
informação válida sobre a gênese, a dinâmica e as variáveis principais do crime
(tido como problema individual e social) e de estabelecer programas de
prevenção ao ilícito, além de buscar desenvolver técnicas de intervenção
positiva no comportamento do delinquente, aprimorando os sistemas de
resposta ao delito (MOLINA, Antonio García-Pablos de. Criminologia. São
Paulo: RT, 2002, p. 39).
ESCRITO - Há uma grande diferença entre a Criminologia e o Direito Penal:
a primeira é uma ciência do ''ser'', empírica, enquanto o Direito é uma ciência
cultural (''deve ser''), normativa. Assim, a Criminologia utiliza o método indutivo,
baseado na análise e na observação da realidade; já o Direito utiliza o método
lógico, abstrato e dedutivo (MOLINA, Antonio García-Pablos de. Criminologia.
São Paulo: RT, 2002, p. 44).
ESCRITO - Isso implica dizer que o campo de estudo da Criminologia está
inserido dentro da realidade, ou seja, dentro do mundo que pode ser palpável,
mensurável. Quando ao Direito, seu campo de estudo encontra-se no mundo
dos valores. Logo, a Criminologia baseia-se em fatos e na observação,
analisando dados reais e induzindo suas conclusões, ao passo que o Direito
Penal, como genuíno ramo da Ciência Jurídica, parte de premissas tidas como
verdadeiras para deduzir as consequências válidas para seu campo de
atuação. Assim, realiza a valoração da realidade (critério axiológico) sempre
tendo por base a norma jurídica, que deve ser interpretada e aplicada ao caso
concreto, com base em um sistema de valores e princípios fundamentais
delimitados pela Ciência Jurídica (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Conforme anteriormente mencionado, a Criminologia possui um
caráter interdisciplinar, uma vez que reúne o conhecimento de várias ciências
distintas para consolidar sua técnica de estudo e seu objeto próprio. Dessa
forma, ela utiliza conceitos da Biologia Criminal, da Psicologia Criminal, da
Sociologia Criminal, etc. Esse caráter interdisciplinar leva alguns autores a
negar a autonomia científica da Criminologia, apenas afirmando ser ela uma
reunião de várias ciências em apartado (RODRIGUES, 2019).
ESCRITO - Tal pensamento é combatido hodiernamente, pois a Criminologia
dispõe de técnicas de investigação do fenômeno criminológico próprias, como
exploração, entrevista, observação, quantificação e análise globalizada de
dados, métodos longitudinais (estudos de casos e biografias criminais), estudos
de ''seguimento'' ou follow-up (examinam a evolução de um indivíduo durante
um período de tempo - acompanhamento de carreiras criminais), etc. Além
disso, como visto, possui objeto de estudo (delito, delinquente, vítima e controle
social) e propósito a ser alcançado totalmente distintos das ciências que a
auxiliam (RODRIGUES, 2019).
4.3
- ABREU, Michele Oliveira de. Da Imputabilidade do Psicopata. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2013. p. 163.
- ROSSETTO, Enio Luiz. Teoria e aplicação da pena. São Paulo: Atlas, 2014.
p. 115
- SANTOS, Juarez Cirino dos. Teoria da pena: fundamentos políticos e
aplicação judicial. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2005. p. 60.
- BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm . Acesso
em: 7 set. 2016.
- ANDRADE, Haroldo da Costa. Das medidas de segurança. Rio de Janeiro:
América Jurídica, 2004. p. XXI.
4.4
ESCRITO - Temos então que “sempre que o agente for imputável, será
penalmente responsável, em certa medida; e se for responsável, deverá
prestar contas pelo fatocrime a que der causa, sofrendo, na proporção direta de
sua culpabilidade, as consequências jurídico-penais previstas em lei.”
(TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. São Paulo:
Saraiva, 2000. p. 314.)
ESCRITO - A imputabilidade penal está prevista nos artigos 26 a 28 do CP.
Eles dispõem que o agente, para ser imputável, deve possuir ao tempo da ação
ou omissão, mentalidade psíquica para compreender o ilícito e orientar-se de
acordo com essa compreensão, e seja maior de dezoito anos.
-
- Entre abril e junho de 2015 foi aberta uma inspeção nos Manicômios
Judiciários, hospitais de custódia e outros relacionados, por parte do Conselho
Federal de Psicologia (CFP) coligado à Ordem de Advogados do Brasil (OAB),
bem como à Associação Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde
(AMPASA). Dezoito conselhos regionais realizaram inspeções em 17 estados
do país e no Distrito Federal, onde foram encontradas inúmeras
irregularidades. (CFP, 2015). (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
Inspeções aos manicômios. 1ª Edição. Brasília: CFP, 2015. Disponível em
Acessado em 22 de novembro de 2018).
ESCRITO - Nossa lei penal, para definir se uma pessoa é ou não alienada
mental, adota o sistema da escola francesa, segundo a qual a alienação
fundamenta-se no critério intelectual (autoconsciência - a pessoa não entende
o caráter ilícito do fato ou não pode determinar-se, segundo esse
entendimento). Existem muitos enfermos mentais que apresentam graves
transtornos afetivos e volitivos, mas conservam a sua capacidade intelectual,
inclusive sabem que estão doentes e demandam um tratamento médico
psiquiátrico. Segundo esse entendimento, os neuróticos, os psicopatas, os pós-
encefalíticos, 50% dos epiléticos, os histéricos, os esquizofrênicos, os
toxicômanos e os alcóolicos crônicos, os afásicos e os pré-senis, que padecem
de graves alterações afetivas e volitivas, não são reconhecidos como
alienados, mas, normalmente, são enquadrados como semi-imputáveis
(CABELLO, 2005).
- ''Enfermidade mental é o resultado de um processo cerebral, orgânico ou
funcional, que se manifesta mediante sintomas previstos e típicos, de baixo de
uma etiologia reconhecida ou postulada, em cuja virtude se produz uma
alteração da personalidade que impossibilita adotar uma conduta acorde com
os valores sociais vigentes, em uma determinada sociedade'' (Cabello, 2005, p.
142).
- Para Legrain, o termo semi-imputabilidade é tão vago como impreciso: ''não
[é] outra coisa senão uma maneira cômoda de disfarçar nossa ignorância (que
é uma terminologia de mera convenção, demonstrando a falta de conhecimento
mais exato das verdades e causas e dos verdadeiros efeitos) e conciliar as
exigências da defesa de certos anormais com as exigências da lei.'' (LEGRAIN
apud CABELLO, 2005, p. 152).
- O ser individual constitui uma estrutura indivisa, não se podendo fragmentar
em setores independentes; o que afeta uma parte afeta o todo, não se
concebem hemiplegias psicológicas. Se a tese da semi-imputabilidade
pretende estabelecer que a pena atua sobre um setor da personalidade e a
medida curativa, sobre outro, comete um dos maiores erros de que se tem
notícia na psicologia jurídica. Na prática, é o que ocorre, pois a lei permite ao
juiz, inclusive, aplicar a pena e depois substituí-la por medida de segurança,
como se o indivíduo possuísse uma parte que deveria ser apenada e outra,
tratada (Rodrigues, 2019).
- É difícil entender como dois institutos jurídicos diversos, que apresentam
objetivos distintos, podem ser substituídos um pelo outro. A pena tem a
natureza de retribuição, prevenção e, para alguns, ressocialização. A medida
de segurança visa apenas à prevenção individual (nem alcança a geral) e ao
tratamento (Rodrigues, 2019).
- A semi-imputabilidade deriva do conceito de imputabilidade ou de
inimputabilidade, que pressupõe uma alteração mental. Se a pessoa é
imputável, entende-se que é mentalmente sã, merecendo a pena. Caso já não
esteja totalmente saudável mentalmente, já não é imputável, é inimputável,
pois o ser é um todo indiviso, não existe meio doente (meio grávida, meio
diabético), ''meio louco''. O que existem são graus de enfermidade: leve, grave
ou gravíssimo, mas isso não altera a natureza mórbida inicial (Rodrigues,
2019).
- Fontán Balestra segue esse mesmo raciocínio, afirmando que as fórmulas
propostas de semi-imputabilidade ou de imputabilidade diminuída não são
aceitáveis, nem lógicas, porque, no enfoque psicológico, a imputabilidade não
pode dividir-se (FONTÁN BALESTRA, Carlos. Manual de Derecho Penal. p.
184, apud CABELLO, 2005, p. 165).
- Para Vicente Cabello, a verdade é que a concepção personalista do
homem, entendido como um todo indivisível, não permite que se lhe parta a
personalidade, castigando-se um setor e curando-se outro, o que seria uma
aberração psicológica. Para o autor, é um absurdo conciliar a culpabilidade
como pressuposto da obrigação e da pena com as medidas curativas
destinadas exclusivamente aos enfermos mentais. Vai mais longe, declarando
que os sistemas promíscuos, duais ou pluralistas, solapam a doutrina da
culpabilidade, sem a qual não há delito, nem Direito Penal (CABELLO, 2005, p.
166).
- Se o acúmulo de circunstâncias clínicas e criminológicas aponta na direção
da natureza mórbida do caso, deve-se decidir pela inimputabilidade. Na
Psiquiatria, também se aplica o mesmo preceito jurídico de in dubio pro reo;
nesse caso, será in dubio pro morbo. Se há dúvida, o indivíduo deve ser
declarado inimputável, e não semi-imputável. A semi-imputabilidade é, na
verdade, um grande recipiente onde se depositam todas as dúvidas
psiquiátricas e de diagnósticos, onde se abrigam a comodidade e a fácil
solução jurídica. Assim, convém afastá-la em prol da boa justiça e da
segurança jurídica do sistema penal.
5
- FRANÇA: No dia 15 de agosto de 2007, a criança Enis, de apenas cinco
anos de idade, foi violentada por um pedófilo de sessenta e um anos de idade,
que já era reincidente nesse tipo de crime. O agressor, Francis Evrard, com um
importante passado de violência sexual, deixou a prisão no dia dois de julho do
corrente ano, após passar dezoito anos preso, por abuso sexual. Na verdade, o
condenado havia sido apenado com vinte e sete anos de prisão, mas foi
beneficiado com uma redução de pena que o deixou cumprir apenas dezoito
anos. Como visto, mesmo após cumprir dezoito anos de cadeia, o agressor
psicopata não se reeducou e, logo em seguida a sua liberação, já voltou a
praticar o mesmo ilícito que antes praticara. Por isso, o presidente Sarkozy
anunciou a criação de hospitais em regime fechado para pedófilos
considerados perigosos, sem a possibilidade de redução de pena. Esse tipo de
violador só sairia do hospital-prisão quando uma equipe médica atestasse que
sua periculosidade desapareceu (o que seria similar a nossa medida de
segurança). Sarkozy defendeu, ainda, a castração química dos agressores
sexuais reincidentes.
- Em termos de direitos fundamentais, o direito à liberdade e à dignidade do
psicopata reclama que ele não seja considerado semi-imputável ou inserido no
sistema carcerário normal, pois o seu problema não requer a pena como
sanção. Primeiro, porque ele é realmente um enfermo mental. Segundo, pelo
fato de que a pena não responde às suas necessidades enquanto doente. Em
relação à sociedade, há o direito, não menos importante, de ver o indivíduo
pernicioso ao meio social devidamente julgado, sendo-lhe aplicada a medida
sancionatória mais apropriada ao caso, qual seja a medida de segurança,
porque a pena somente potencializa a violência latente nesse indivíduo, além
de libertá-lo, ao fim de um determinado tempo, sem nenhum tipo de tratamento
ou acompanhamento, o que põe em risco claramente a paz social, a
estabilidade do sistema e, por fim, a credibilidade da própria justiça.
- A pena tem por finalidade a retribuição, a prevenção e a ressocialização.
Não parece lógico aplicar uma pena ao psicopata, pois a repressão não surte
efeito: ele não internaliza o sentido criminoso do fato, uma vez que não sente
remorso ou dor.
- As características da pena relativas à prevenção geral negativa (prevenir
para que o agente não volte a ferir a sociedade) e à prevenção individual
também negativa (o indivíduo, sentindo a dor do encarceramento, deixará de
praticar atos danosos) nada representam para o psicopata. Por sua vez, a
medida de segurança apresenta a característica da prevenção positiva
(reafirmar a confiança da sociedade no sistema e eliminar a sensação de
impunidade e insegurança) e da prevenção individual positiva (garantir, não o
simples encarceramento para inocuização - que seria o efeito negativo -, mas
sobretudo o tratamento, para tornar a pessoa um ser melhor e apto a adotar
atitudes positivas, buscando agir em sociedade de forma construtiva).
- Propõe-se uma nova forma para abordar o problema, tentando-se
compreendê-lo e tratá-lo, dentro das possibilidades que a ciência médica
oferece neste momento. A Psiquiatria e a Psicanálise também podem ajudar,
com tratamentos em grupo e mudança nas interligações sociais das pessoas
afetadas. Somente com uma reconstrução de ligações sociais e do controle por
meio de medicamentos, é possível minimizar o problema. No cárcere,
cumprindo pena, não há essa possibilidade, pelo simples ambiente deletério
que representa.
- As enfermidades psíquicas devem receber a sanção de medida de
segurança, que não tem, como a pena, caráter de retribuição. Nesse caso, não
importa tanto o bem lesionado, a preocupação maior é em relação ao agente,
prepondera o ser sobre o ato. Esse instituto não admite prazo determinado,
pois sua duração depende do efeito curativo que tenha exercido sobre o
indivíduo.
- No esquema ortodoxo atual, o psicopata é tratado como não enfermo, não
alienado, perigoso, imputável, incurável e incorrigível. A consequência jurídica
é o encarceramento do indivíduo em uma penitenciária comum e a orfandade
em termos de tratamento e acompanhamento terapêutico. A maneira moderna
e mais adequada para acompanhar o problema é tratar o psicopata como
alienado, inimputável, perigoso e potencialmente curável; por isso, deve ser
encaminhado a um hospital de tratamento e custódia, com aplicação de medida
de segurança.
- O ambiente sociocultural em que o indivíduo vive influi, fortemente, na
inibição ou na estimulação das manifestações psicopáticas. O psicopata não
pertence ao âmbito carcerário, pertence antes ao âmbito da medicina; a pena é
inapropriada, pois ele é refratário á persuasão, ao castigo e à ameaça penal,
sendo a pena inútil e inapropriada, impondo-se a medida de segurança. Por
outro lado, a semi-imputabilidade parte do princípio de que a personalidade é
bipartida, o que não corresponde à realidade, pois a personalidade é unitária e
indivisível.
- Ivone Rodrigues Lisboa Patrão, psicóloga clínica, neuropsicóloga e pós-
graduada em administração hospitalar, no prefácio à edição brasileira do livro
de Vicente Garrido O psicopata, um camaleão na sociedade atual, afirma que
observa com tristeza a situação de muitos psicopatas que estão encarcerados
em penitenciárias, quando o lugar mais apropriado para eles seria um
manicômio judiciário. Mas lembra que, atualmente, com os avanços científicos,
pode-se esperar a descoberta de tratamentos capazes de, em um futuro
próximo, não só cuidar dos portadores da doença, como também amenizar o
sofrimento de quem vive junto deles.
- Não se deve esquecer que a execução da pena tem por finalidade fazer
com que o condenado tenha a capacidade de compreender e de respeitar as
normas sociais que estão postas como limites jurídicos. Ele precisa, portanto,
introjetar uma mensagem que lhe permita viver em sociedade. Existe uma
relação entre o inconsciente e a lei. O psiquismo oblitera, em primeira
instância, as condutas desvirtuadas, mas, se o mecanismo interno fracassa,
entra em ação o elemento externo, que é a lei (no caso a sanção penal - pena
ou medida de segurança), que permite que de algum modo o sujeito
restabeleça uma relação com o grupo social e com a realidade. O sujeito deve
ser capaz de apreender a conduta correta e de modificar a sua conduta
(entender o caráter ilícito do fato e determinar-se segundo esse entendimento).
Assim a liberdade espiritual (interior) é um pressuposto do direito penal e da
culpabilidade. Aos que não tiverem essa capacidade, resta a medida de
segurança. É o que se preconiza para o psicopata.
- Aplicar uma pena de prisão ao psicopata é ineficaz, pois sua periculosidade
é latente. Não há tempo pré-estabelecido para que ele venha a cessar. Citem-
se os casos de ''Chico Picadinho'' e do menor ''Champinha'': mesmo após
cumprirem seu tempo de encarceramento, necessitaram permanecer sob a
custódia do Estado, com uma medida de segurança inominada ou sofrendo a
interdição civil (um arranjo jurídico, que permite ao Estado manter-lhe a
custódia). Quando as instituições fracassam em preservar o cumprimento da
eficácia simbólica da lei, resta um simulacro de lei, e esse simulacro deixa
outro: um simulacro de sujeito (aí o sujeito ataca, por achar-se fragilizado, sem
garantias).
- Para os psicopatas, as sessões terapêuticas podem muni-los de recursos
preciosos que os aperfeiçoam na arte de manipular e trapacear os outros.
Embora eles continuem incapazes de sentir boas emoções, nas terapias os
psicopatas aprendem ''racionalmente'' o que isso pode significar e não poupam
esse conhecimento para usá-lo na primeira oportunidade. Além disso, eles
acabam obtendo mais subsídios para justificar seus atos transgressores,
alegando que estes são frutos de uma infância desestruturada.
- Para que se tenha a imputabilidade penal, deve-se levar em conta também
essa qualidade do sujeito, ou seja, sua capacidade emocional. Assim, o
psicopata deve ser tido como um inimputável e tratado dessa forma, pois não é
atingido pelos objetivos da pena - repressão, prevenção e ressocialização. A
medida de segurança, por sua vez, visa apenas o tratamento (prevenção
individual positiva) e a prevenção individual negativa - esta última para evitar
que o sujeito pratique novos atos danosos. Também busca a prevenção geral
positiva (aquela que reforça na sociedade a confiança no sistema e restabelece
o equilíbrio e o sentimento de justiça), mas sem buscar a prevenção geral
negativa (intimidação), muito menos a retribuição (por não sentir o psicopata a
intimidação e não aprender com o castigo), como na pena.
- Encarcerar o psicopata para que cumpra a pena não é a solução.
Rapidamente ele manipula os outros presos, torna-se líder de rebeliões e
elemento desestruturador da ordem. Para conseguir progredir de regime, atua
como um ator e forja suas atuações, demonstrando que está apto a ganhar
benefício. A melhor solução seria coloca-lo em medida de segurança, em
estabelecimento próprio, para respaldar seus direitos individuais, inclusive a
dignidade. Em um estabelecimento apropriado, ele seria acompanhado por
psicólogos e psiquiatras, podendo fazer uso de medicação para controlar seus
impulsos (já que não existe remédio para a cura). Além disso, seria possível
modular o ambiente, visto que o ambiente é fator de transformação do
comportamento do psicopata. Trabalhos em grupo, com a demonstração de
comportamentos normais e atitudes positivas para com os outros, podem, a
longo prazo, trazer benefícios para modular um comportamento mais amistoso
e ordeiro para aquele cidadão.
- Em uma abordagem eminentemente psicológica, também se pode verificar
que a melhor resposta para o problema não é a aplicação da pena diminuída
ou a pena normal. Como leciona Marta Gerez-Ambertín, somente há sentido
em apenar o agente quando a culpabilidade é acompanhada da
responsabilidade (possibilidade de reconhecer-se como culpado, tomar
consciência de sua falta). Sem a responsabilidade, o sujeito não atribui
significado (assentimento subjetivo) à pena que lhe é aplicada. Quando não há
esse significado, o criminoso tende a repetir o ato criminoso. É o caso do
psicopata. Sempre que lhe perguntam qual o motivo de seu ato, ele não sabe
dizer, pois, na verdade, não há motivo; por deficiência na capacidade de sentir
e ser influenciado pelas consequências de seus atos e de suas decisões
anteriores (sobretudo na infância e adolescência), o psicopata age
desconectado da realidade. É como se chupasse um bombom de morango e
sentisse o gosto de chocolate. Ele não possui parâmetros de comportamento,
não possui empatia, pois não consegue colocar-se no lugar dos outros, age,
portanto, como um computador cujo processador funciona normalmente, mas
cujo software (programa) está com um erro de programação, que leva o
indivíduo a realizar a tarefa desejada de forma totalmente distorcida. (GEREZ-
AMBERTÍN, Marta (Comp.). Culpa, responsabilidade y castigo, en el discurso
jurídico y psicoanalítico. Buenos Aires: Letra Viva, 2004, p.39).
- A pena visa, principalmente, a retribuição, a prevenção e a ressocialização.
A medida de segurança visa a prevenção geral e o tratamento, que, ao nosso
ver, são mais condizentes com o psicopata e podem surtir efeito melhor em
relação a ele.
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REFERÊNCIAS
CITAÇÃO 1: (PRITCHAED, 1835 apud GARRIDO GENOVÉS, Vicente. Cara a cara com el
psicopata. Barcelona: Ariel, 2004, p.16)
CITAÇÃO 2: (HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 92. A listagem de tais características também
pode ser encontrada nas páginas 338-364 do livro “The Mask of insanity”)
https://www.rorschachonline.com/pt/history.aspx