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A escravidão em Aristóteles no livro Política

Aristóteles, um dos maiores pensadores da humanidade, viveu na idade clássica


grega. Seus ensinamentos e escritos contribuíram com a formação do pensamento
ocidental, resultando em um arcabouço de teorias e ideias que inspiram, até hoje,
grande parte do mundo conhecido.

Esse grande professor dos professores - não somente de Alexandre, o Grande, mas
de grande parte da humanidade – legou-nos, dentre ensinamentos e escritos,
definições sobre metafísica, discorrendo, especialmente, sobres as quatro causas
(formal, material, eficiente e final) no que tange às estruturas da substancia, a física,
a matemática, a psicologia (principalmente quando desdobra o problema da alma e
sua tripartição em vegetativa, sensitiva e intelectiva), assim como as ciências
práticas, a saber: ética e política, onde expõe, de forma compreensível e reveladora
a um só tempo, a sua teoria do justo meio entre os extremos, o meio termo
aristotélico. Acrescente-se, na presente síntese, seus ensinamentos sobre lógica,
retórica e poética, os quais forma dignos das análises de inúmeros estudiosos ao
longo da história.

Contudo, como muito bem ilustrado em seu livro Política (muitos consideram ser a
base da Filosofia Política), foi na questão da cidade e dos cidadãos que Aristóteles
nos proporcionou longas reflexões e grandes princípios práticos, estabelecendo, em
função dessa cidade, a ampliação da dimensão do privado para a dimensão do
social, ou seja, concebendo o próprio individuo em função da cidade. Desta forma,
chega ao seu festejado conceito de “animal político”, portanto, um animal que vive
em uma sociedade politicamente organizada.

E por conta da estrutura dessas cidades, Aristóteles não considera cidadãos todos
aqueles que vivem em uma cidade e sem os quais a cidade não poderia existir. Eis
que para ser cidadão, é preciso participar da administração da coisa pública, assim
sendo, fazer parte das assembleias que legislam e governam a cidade e
administram a Justiça.

O colono bem como o membro de uma cidade conquistada não podiam ser cidadãos
segundo escritos contidos na Política. Os cidadãos revelam-se de número muito
limitado na Grécia clássica, ao passo que todos os outros acabam, de alguma forma,
sendo os meios que servem para satisfazer as necessidades dos cidadãos.

Desta forma, Aristóteles, em seu livro a Política, passa a conceituar a escravidão.


Para ele, o escravo é como que um instrumento que precede e condiciona os outros
instrumentos, servindo para a produção de objetos e bens de uso, além dos
serviços.

Uma família completamente organizada compõe-se de escravos e de pessoas livres.


Os escravos e animais domésticos, são utilizados para os serviços necessários ao
corpo. Mas todo homem (senhor e escravo) tem corpo e alma, no entanto o senhor
faz o perfeito uso da razão e o escravo por natureza não, agindo esse mais por
instintos e percebendo claramente o uso da razão pelos senhores. Chegou a sugerir
a mesma utilidade entre escravos e animais, embora os animais só obedecessem às
sensações.

Outrossim, é escravo por natureza quem pertence à alguém e participa da razão


apenas naquilo que diz respeito à sensibilidade imediata, sem possuí-la
propriamente, ao passo que os outros animais não possuem nem mesmo o grau de
razão que compete à sensibilidade.

Aristóteles considerava despotismo o poder do senhor sobre o escravo; marital o do


marido sobre a mulher e paternal o dos pais sobre os filhos. Do que nos interessa,
esse escravo, homem de labor, é uma espécie de instrumento animado, ou seja,
aquele que realiza um efeito. Eis que “O homem que, por natureza, não pertence a
si mesmo, mas a um outro, é escravo por natureza: é uma posse e um instrumento
para agir separadamente e sob as ordens de seu senhor. ” (Aristóteles, Política).

Ao questionar a utilidade e justiça ou não da escravidão, Aristóteles entendia que os


seres são marcados pela natureza, sendo que uns são para comandar e outros para
obedecer, sendo que é melhor comandar homens do que animais.

Além da servidão natural, existe a convencional, ou seja, aquela estabelecida pela


lei ou convenção geral que estabelece que a presa de guerra pertence ao vencedor.
Nessa questão, os jurisconsultos e até mesmo pensadores da época não chegavam
a um acordo se era ou não justo escravizar derrotado em uma guerra.
Alguns entendia que a coragem determinava esse grau de dominação, e que a
vitória sempre representava uma espécie de mérito, sendo que seria da essência do
próprio direito que alguns comandassem. Contudo, para o próprio Aristóteles, a
superioridade da coragem não seria uma razão para sujeitar os outros, sendo que,
para ele só são escravos os que foram destinados à servidão pela natureza.

“O que convém ao todo convém também à parte; o que


convém à alma convém igualmente ao corpo. Ora, o escravo
faz, por assim dizer, parte de seu senhor: embora separado
na existência, é como um membro anexado a seu corpo.
Ambos têm o mesmo interesse e nada impede que estejam
ligados pelo sentimento da amizade, quando foi a
conveniência natural que os reuniu. As coisas são diferentes
quando eles só estão reunidos pelo rigor da lei ou pela
violência dos homens. ” (Aristóteles, Política)

Apesar de ser um grande pensador e ter grandes escritos na área da ética e da


política, Aristóteles era um homem do seu próprio tempo, integrante da sociedade
clássica grega. Poder-se-ia dizer, em torno do polêmico problema da escravidão em
sua Política, o que o próprio Aristóteles preconizava em sua obra Metafísica: “ o ser
se diz de vários modos”.

Desta forma, na questão da escravidão, vê-se o um certo conceito acerca da


condição de certos homens considerados escravos pelos helênicos que Aristóteles,
de certa forma, reafirmava, validando, talvez, através de sistemática argumentação,
a cultura e o modo de viver de sua época, o que, inclusive, poderia estar indo de
encontro a alguns princípios de seu pensamento, sobretudo em no campo da ética e
da própria política.

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